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Direitos Sociais - Direitos Fundamentais

Constituição Federal 1988 – Artigo 5

O Título II da CF/88 é dedicado à proteção dos Direitos e Garantias


Fundamentais e seu Capítulo I é dedicado aos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos.
Art. 5º, CF/88: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
Direitos-raízes: os cinco direitos mencionados no caput são considerados os
direitos individuais básicos – vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade.

Rol não-taxativo: como já visto, o conjunto de direitos fundamentais pode ser


ampliado, mas as proteções não podem ser abolidas.

Direitos fundamentais explícitos: estão textualmente declarados na CF/88 (mesmo


que não estejam no rol do art. 5º, como é o caso das proteções relativas à
aplicação dos princípios da anualidade e legalidade tributárias).
Direitos fundamentais implícitos: seu reconhecimento deriva da interpretação da
Constituição.

Direito à vida:
deve ser entendido de modo amplo, pois inclui tanto o direito de
ser protegido contra uma morte não-natural quanto o direito a uma vida digna.
- Apesar do disposto no art. 2º do Código Civil (“a personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do nascituro”), há que se entender que a proteção da vida começa com o
início da gestação (veja a ADI n. 3510).
Ex: O pré-embrião (gerado por reprodução assistida extracorpórea), antes da implantação, não
é protegido por este dispositivo e pode ser utilizado nas pesquisas com células-tronco
embrionárias (art. 5º da Lei n. 11.105/05)

Observação: inviolabilidade não significa irrenunciabilidade; a autolesão não é punida e a


pessoa pode renunciar ao seu direito à vida.

Acepção negativa do direito à vida: é assegurado a todo ser humano o direito de permanecer
vivo. Direito de não-intervenção, tanto por parte do Estado, quanto por parte de outras
pessoas.
Acepção positiva do direito à vida: direito a uma vida digna. Devem ser assegurados ao
indivíduo o acesso a bens e utilidades indispensáveis a uma vida condizente com a ideia de
dignidade humana (Novelino).
Novelino explica que, nesta perspectiva positiva, o direito à vida impõe ao poder público o
dever de adotar determinadas medidas voltadas para a proteção da vida (como, por exemplo,
recusando um pedido de extradição), garantia de amparo material e criação de normas
protetivas e incriminadoras de condutas (como as leis de proteção às testemunhas e às
mulheres e a tipificação penal do homicídio).

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Ponderações ao direito à vida: como já mencionado anteriormente, raros são os direitos que
podem ser considerados absolutos – e o direito à vida não é um deles. - Pena de morte: apesar
de ser expressamente vedada em tempos de paz (veja o inc. XLVII), a pena de morte pode vir a
ser aplicada a determinados crimes militares se praticados em tempos de guerra declarada.

Direito à Liberdade

Liberdade: pode ser entendida como a possibilidade de escolher entre fazer ou não fazer algo,
podendo-se escolher entre duas ou mais opções.
Art. 5º, II, CF/88: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”.
Particulares: podem fazer tudo aquilo que não é proibido por lei;
Administração e seus agentes: só podem fazer o que é permitido por lei.

Princípio da legalidade: seu objetivo é limitar o poder do Estado, impedindo arbitrariedades.


Há um duplo significado: protege o particular contra abusos do Executivo e do Judiciário e
representa “o marco avançado do Estado de Direito, procurando conformar os
comportamentos às normas jurídicas das quais as leis são a suprema expressão” (Bastos).
Princípio da legalidade: elaboração de leis, em sentido estrito (criadas pelo Parlamento); em
alguns casos, a CF/88 admite a regulamentação por leis em “sentido amplo”, desde que
respeitados os limites materiais e formais de cada uma das espécies normativas indicadas no
art. 59.
Restrições excepcionais ao princípio da legalidade (Novelino): medidas provisórias (art. 62) e
estados de legalidade extraordinária (art. 136 e 137 da CF/88).

Princípio da reserva legal: enquanto o princípio da legalidade consiste na “submissão a todas


as espécies normativas elaboradas em conformidade com o processo legislativo constitucional
(leis em sentido amplo), o princípio da reserva legal incide apenas sobre campos materiais
específicos (temas), submetidos exclusivamente ao tratamento do Poder Legislativo (leis em
sentido estrito)” (Novelino). - Nesse caso, apenas a lei (propriamente dita) pode regulamentar
o tema.

O que é Reserva legal? (copilot)

No direito constitucional, reserva legal é um princípio que estabelece que determinadas


matérias devem ser reguladas exclusivamente por lei em sentido estrito, ou seja, por normas
criadas pelo Poder Legislativo, seguindo o devido processo legislativo. A reserva legal visa
garantir a segurança jurídica, a democracia e os direitos fundamentais dos cidadãos.

Reserva legal absoluta: o tema deve ser regulamentado integralmente por lei em sentido
formal
Reserva legal relativa: a CF/88 permite que a lei, em sentido formal, fixe os parâmetros de
atuação e que um ato infralegal complemente a regulamentação.
Reserva legal simples: a CF/88 autoriza a criação da lei regulamentadora, sem estabelecer
limites de conteúdo ou finalidade.
Reserva legal qualificada: a CF, além de indicar a criação de lei regulamentadora, indica os
limites (finalidades a serem atingidas e meios que podem ser utilizados).

Liberdade positiva: pode ser entendida como a “situação na qual um sujeito tem a
possibilidade de orientar seu próprio querer no sentido de uma finalidade sem ser
determinado pelo querer dos outros” (liberdade política, liberdade dos antigos, liberdade de
querer).

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Liberdade negativa: “situação na qual um sujeito tem a possibilidade de agir sem ser impedido,
ou de não agir sem ser obrigado por outros” (liberdade civil, liberdade dos modernos,
liberdade de agir - Novelino).

Além de um direito geral de liberdade de ação – a possibilidade de fazer tudo aquilo que não é
vedado por lei – a CF/88 protege várias liberdades específicas: exteriorização do pensamento,
consciência, expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, crença,
culto, exercício profissional, locomoção, reunião e associação.

Liberdade de ação: desde que a conduta não seja expressamente proibida ou obrigatória por
lei, as pessoas têm ampla liberdade para decidir sobre suas ações.
Resistência à opressão: ainda que não esteja expresso, pode ser entendido como o direito de
se opor a restrições indevidas à liberdade, bem como o direito de não ser indevidamente
constrangido.
Habeas corpus e mandado de segurança. (remédios).

Art. 5º, IV, CF/88: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
Pluralismo político: a liberdade de manifestação do pensamento impede a censura de opiniões
ou de posicionamentos políticos não endossados pelo governo, desde que não sejam feitas de
modo abusivo.
Liberdade de manifestação do pensamento: o pensar é livre, a tutela constitucional incide a
partir do momento em que ele é exteriorizado; sua manifestação não pode ocorrer de modo
descontrolado ou abusivo (Pinho).
Liberdade de exteriorização do pensamento: a manifestação do pensamento, a criação, a
expressão e a informação não sofrerão restrições (salvo o disposto na CF/88 – veja o art. 220)

Liberdade de opinião: direito de emitir juízo de valor sobre fatos. –


Limitações: só são consideradas legítimas quando o discurso tiver a intenção e o potencial de
instigar ações ilícitas (Novelino). – Discurso de ódio
Caso Ellwanger: “o preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o ‘direito à
incitação ao racismo’, dado que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de
condutas ilícitas” (HC n. 82.424).

“Marcha da Maconha”: “Manifestação legítima, por cidadãos da República, de duas liberdades


individuais revestidas de caráter fundamental: o direito de reunião (liberdade-meio) e o direito
à livre expressão do pensamento (liberdade-fim). [...] Debate que não se confunde com
incitação à prática de delito nem se identifica com apologia de fato criminoso. [...]
Inadmissibilidade da ‘proibição estatal do dissenso’. Necessário respeito ao discurso antagônico
no contexto da sociedade civil [...]” (ADPF n. 187)

Vedação do anonimato: o exercício do direito de manifestação do pensamento traz como


consequência a necessidade de que as pessoas assumam a responsabilidade pela expressão de
suas opiniões. O exercício pode violar direitos de outras pessoas e pode resultar na
responsabilização de quem se manifestou desta forma.
Finalidades: preventiva (desestimula o abuso) e repressiva (permite o direito de resposta e a
responsabilização civil ou penal).
Ex: Denúncia anônima: “(a) os escritos anônimos não podem justificar, só por si, [...], a
imediata instauração da persecutio criminis, eis que peças apócrifas não podem ser
incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quando tais documentos forem produzidos pelo
acusado, ou, ainda, quando constituírem, eles próprios, o corpo de delito [...]; (b) nada impede,
contudo, que o Poder Público provocado por delação anônima (“disque-denúncia”, p. ex.),
adote medidas informais destinadas a apurar, [...], “com prudência e discrição”, a possível

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ocorrência de eventual... situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de
conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, [...] mantendose, assim, completa
desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas; e (c) o Ministério
Público [...] também pode formar a sua opinio delicti com apoio em outros elementos de
convicção que evidenciem a materialidade do fato delituoso e a existência de indícios
suficientes de sua autoria, desde [...] não tenham, como único fundamento causal,
documentos ou escritos anônimos.” (Inq. n. 1.957).

Art. 5º, IX, CF/88: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Preocupação significativa em assegurar os meios para a livre expressão do pensamento. -
Abrange a liberdade de culto, de cátedra (art. 206, II, CF/88 – aprender, ensinar, pesquisar e
divulgar o pensamento, a arte e o saber), de informação jornalística (art. 220, CF/88), científica
e artística.
Nos termos do art. 220, CF/88: “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição”. - “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social” (art. 220, §1º, CF/88 – respeitados os limites do art. 5º).
ADPF n. 130: a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) (Ditadura) foi considerada incompatível com a
atual ordem constitucional (não-recepção).
Vedação da censura: a censura pode ser entendida como a verificação de compatibilidade
entre aquilo que se pretende expressar e determinados posicionamentos políticos, ideológicos
ou artísticos.
Inexigibilidade de licença: é desnecessária a obtenção de autorização de um agente ou órgão
para a expressão de um pensamento.
Materiais impressos (jornais, revistas, etc.): não precisam de autorização para entrar em
circulação.
Biografias não-autorizadas: “Autorização prévia para biografia constitui censura prévia
particular. [...] ADI julgada procedente para declarar inexigível autorização da pessoa
biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também
desnecessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes” (ADI n. 4.815).
Classificação indicativa: é mera informação aos pais/responsáveis. Aviso aos usuários acerca do
conteúdo da programação.
Não pode ser vista como uma imposição do Estado ou um meio de censurar previamente os
conteúdos veiculados em rádio e televisão, pois o instituto tem caráter pedagógico e
complementar ao auxiliar os pais a definir o que seus filhos podem ou não assistir.
ADI n. 2.404: considerou inconstitucional o art. 254 da Lei n. 8.069/90, que tipificava como
infração administrativa, punida com pena de multa e suspensão da programação da emissora
por até dois dias (no caso de reincidência), a transmissão, via rádio ou televisão, de programa
em horário diverso do autorizado na classificação indicativa.

Art. 5º, XIV, CF/88: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
Liberdade de informação. – Direito de informar, se informar e ser informado.
Direito de informar: direito de transmitir uma informação (liberdade de informação jornalística
e liberdade de imprensa) para formação de opinião pública; não se confunde com a liberdade
de manifestação do pensamento.
Direito de se informar: liberdade de buscar informações sem ser embaraçado por restrições
que não sejam constitucionalmente fundamentadas.
Direito de ser informado: faculdade de receber as informações de interesse particular, coletivo
ou geral (Novelino).

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Proteção do sigilo da fonte: evita coações contra profissionais da imprensa.

Art. 5º, V, CF/88: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem”.
Os direitos à liberdade de expressão e manifestação do pensamento devem ser exercidos de
modo responsável.
Em caso de abuso, a CF/88 assegura um direito de defesa, que é a resposta (retificando ou
replicando) proporcional ao agravo, e as indenizações cabíveis.
Indenizações: por dano moral, material ou à imagem, cumuláveis e dependendo do caso
concreto.
Súmula n. 221, STJ: “são civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de
publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de
divulgação”.

Art. 5º, VI, CF/88: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias”.
Permite a realização do pluralismo religioso e impõe a neutralidade do Estado.
Liberdade de consciência: diz respeito à adoção de determinados valores, religiosos ou não.
Faculdade de formar juízos sobre si mesmo e sobre os outros e o meio em que vive.
Liberdade de crença: contida na liberdade de consciência, diz respeito à possibilidade de seguir
(ou não) determinada religião ou conjunto de valores.
Liberdade de culto: exteriorização da liberdade de crença, honrando a divindade de escolha,
celebrando as cerimônias e rituais (Pinho). Pode ser exercida em locais abertos ou em templos.
Liberdade de escolha e adesão à religião, liberdade de mudar de religião, não aderir a
nenhuma e liberdade de descrença (Silva).
Laicidade do Estado: implica na absoluta neutralidade do Estado quanto às religiões; todas as
religiões devem ser igualmente respeitadas, mas o exercício destes direitos deve ser
ponderado – veja, no STF, as manifestações nos pedidos de Suspensão de Tutela Antecipada n.
389 e na ADI n. 3.714, que tratam da guarda sabática.
Relação entre Estado e Igrejas: o art. 19 da CF/88 veda à União, Estados, DF e Municípios o
estabelecimento de cultos religiosos ou igrejas, a subvenção, o embaraço do funcionamento ou
a manutenção de relações de dependências ou alianças com elas ou seus representantes salvo,
na forma da lei, as colaborações de interesse público. - É vedada, também, a instituição de
impostos sobre templos de qualquer culto (art. 150, VI, CF/88).

Art. 5º, VII, CF/88: “é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas
entidades civis e militares de internação coletiva”.
Direito a uma prestação estatal. O Estado não pode impor o atendimento aos serviços
religiosos, mas deve disponibilizá-los (e criar os meios para) quem os desejar. Diz o STF: “o
dever de neutralidade não se confunde com a indiferença estatal” (STA n. 389).
Entidades civis e militares de internação coletiva: o art. 1º da Lei n. 9.982/00 assegura aos
religiosos de todas as confissões o acesso aos hospitais da rede pública ou privada, bem como
aos estabelecimentos prisionais civis ou militares, para dar atendimento religioso aos
internados, desde que em comum acordo com estes, ou com seus familiares no caso de
doentes que já não mais estejam no gozo de suas faculdades mentais.
Lei n. 7.210/84: prevê que a assistência religiosa será prestada aos presos e internados, sendo-
lhes permitida a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal e a posse de
livros religiosos. - Nos estabelecimentos prisionais deverá haver local apropriado para a prática
dos cultos e nenhum preso poderá ser obrigado a comparecer (art. 24).

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Art. 5º, VIII, CF/88: “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos
imposta e recusarse a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.
Objeção ou escusa de consciência: se o Estado reconhece a liberdade de consciência, deve
admitir que o indivíduo aja de acordo com suas convicções (e que não seja punido por isso).
É “a recusa em realizar um comportamento prescrito, por força de convicções seriamente
arraigadas no indivíduo, de tal sorte que, se este atendesse ao comando normativo, sofreria
grave tormento moral” (Branco).
Apesar de estar tradicionalmente ligada às questões militares, existem outras possibilidades de
escusa de consciência; nestas situações, nasce a pretensão de isenção de cumprimento de um
dever geral.
Note que, nos termos do inciso VIII, só será imposta a medida de privação de direitos (no caso,
a perda de direitos políticos, prevista no art. 15, IV da CF/88) se a pessoa se recusar ao
cumprimento da obrigação imposta a todos e também se recusar ao cumprimento da
prestação alternativa. - Exemplos: Lei n. 8.239/91 (recusa ao serviço militar obrigatório) e art.
438 do Código de Processo Penal (recusa ao serviço do júri).

Art. 5º, XV, CF/88: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”.
Ir, vir ou permanecer onde se está. As restrições à liberdade de locomoção somente podem ser
feitas em tempos de guerra e, em tempos de paz, qualquer estrangeiro poderá entrar,
permanecer e sair do Brasil, nos termos do Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80).

Art. 5º, XIII, CF/88: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer”.
A liberdade de ação profissional diz respeito à escolha do trabalho que se pretende exercer,
considerando as preferências e habilidades individuais. - “Inexistindo lei regulamentando o
exercício da atividade profissional, é livre o seu exercício” (STF - MI n. 6.113 AgR).
STF: “nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de
condições legais para o seu exercício. A regra é a liberdade. Apenas quando houver potencial
lesivo na atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. A
atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística protegida
pela liberdade de expressão” (RE n. 414.426).
Jornalista: esta é uma profissão que está diretamente ligada ao pleno exercício das liberdades
de informação e expressão. Assim, para o STF, “no campo da profissão de jornalista, não há
espaço para a regulamentação estatal quanto às qualificações profissionais. O art. 5º, IV, IX, XIV
e o art. 220 da CF/88 não autorizam o controle, por parte do Estado, quanto ao acesso e
exercício da profissão de jornalista [...] O exercício do poder de polícia do Estado é vedado
nesse campo” (RE n. 511.961)
Advogados e Exame da Ordem: em sendo o inc. XIII uma norma de eficácia contida, pode ser
restringido pela legislação infraconstitucional. (no caso, a Lei n. 8.906/94 - Estatuto da
Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil).
O exercício da atividade de advocacia é privativo dos inscritos na OAB e o STF já entendeu que
o Exame da Ordem é uma exigência condizente com os dispositivos constitucionais (RE n.
603.583).

Art. 5º, XVI, CF/88: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente”.

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Direito individual de exercício coletivo. É um direito instrumental (assegura a livre expressão de
ideias) e inclui o direito de convocar, preparar, organizar uma manifestação e protestar
pacificamente (Novelino).
Estando dentro dos limites constitucionais, o Estado não deve interferir no exercício deste
direito (dimensão negativa); além disso, compreende o dever do Estado de “proteger os
manifestantes, assegurando os meios necessários para que o direito à reunião seja fruído
regularmente. Essa proteção deve ser exercida também em face de grupos opositores ao que
se reúne, para prevenir que perturbem a manifestação” (Branco).

Reunião: agrupamento de pessoas (elemento subjetivo), com um mínimo de coordenação


(elemento formal), com vistas a alcançar determinado objetivo (elemento teleológico), é um
fenômeno transitório (elemento temporal) e deve ser pacífica e sem armas (elemento
objetivo). Há, também, um elemento espacial, pois a reunião se dá em local determinado, em
uma área específica (Branco).

Limites do direito de reunião: Deve ser pacífica: não pode colocar em risco pessoas ou bens
alheios. No caso, a conduta abusiva deve ser dolosa, visando o confronto físico e a ruptura da
paz social (Branco).
Não pode frustrar outra reunião previamente agendada para o mesmo local: vale o critério de
precedência na convocação, constatado pelo momento do aviso à autoridade competente.
Prévio aviso à autoridade competente: note que não se trata de pedido de autorização, mas de
comunicação para fins de organização e para evitar eventual conflito de agendamentos.
O prévio aviso (e não prévia autorização) só é exigido quando a reunião está marcada para
ocorrer em espaço aberto ao público. - Visa permitir que a Administração adote as medidas
necessárias para que a reunião possa transcorrer tranquilamente.

“Marcha da Maconha”: “manifestação legítima, por cidadãos da república, de duas liberdades


individuais revestidas de caráter fundamental: o direito de reunião (liberdade-meio) e o direito
à livre expressão do pensamento (liberdade-fim). A liberdade de reunião como pré-condição
necessária à ativa participação dos cidadãos no processo político e no de tomada de decisões
no âmbito do aparelho de Estado. Consequente legitimidade, sob perspectiva estritamente
constitucional, de assembleias, reuniões, marchas, passeatas ou encontros coletivos realizados
em espaços públicos (ou privados) com o objetivo de obter apoio para oferecimento de
projetos de lei, de iniciativa popular, de criticar modelos normativos em vigor, de exercer o
direito de petição e de promover atos de proselitismo em favor das posições sustentadas pelos
manifestantes e participantes da reunião. (ADFP n. 187).

Art. 5º, XVII, CF/88: “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar”.
Em um sentido amplo, as associações podem ser entendidas como coligações de pessoas
físicas, de caráter estável, sob uma direção comum e que visam a obtenção de fins lícitos
(Branco). - Direito individual de exercício coletivo.
Base constitutiva: pluralidade de pessoas (não há número mínimo) e ato de vontade.
Finalidade: alcançar um objetivo lícito, de caráter comercial ou não. Note que também são
considerados ilícitos os fins que contrariam o direito em sentido amplo, e não só aqueles que
são expressamente ilegais (Branco). –
Distinção: reuniões são transitórias, associações têm estabilidade.

Vedação do caráter paramilitar: tem relação com o modo pelo qual a associação desenvolve
suas atividades, desafiando o monopólio estatal da força. “É típico da associação paramilitar a
adoção de estrutura interna similar às das forças militares regulares – apresentando hierarquia

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bem definida e adotando o princípio da obediência” (Moraes). - Não é imprescindível o uso de
armas para o reconhecimento do caráter paramilitar.

Art. 5º, XVIII, CF/88: “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas


independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento”.
Cooperativas: definidas pela Lei n. 5.764/71, são “sociedades de pessoas, com forma e
natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar
serviços aos associados [...]” (art. 4º).

A liberdade de associação compreende os direitos:


a. de criar associações e cooperativas, independentemente de autorização estatal;
b. de aderir a qualquer associação, sem ser obrigado a isso;
c. de desligar-se da associação, sem ser obrigado a permanecer nela;
d. de dissolver a associação espontaneamente, se se entender conveniente (Silva).

Art. 5º, XIX, CF/88: “as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado”.

Art. 5º, XX, CF/88: “ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado”.

“A liberdade de associação tem uma dimensão positiva, pois assegura a qualquer pessoa (física
ou jurídica) o direito de associar-se e de formar associações, possui uma dimensão negativa,
pois garante a qualquer pessoa o direito de não se associar, nem de ser compelida a filiar-se ou
a desfiliar-se de determinada entidade e [...] uma função inibitória, projetando-se sobre
Estado, na medida em que se veda a possibilidade de interferir na intimidade das associações e
de dissolvê-las compulsoriamente, a não ser mediante processo judicial” (ADI n. 3.045).

Duas garantias coletivas são asseguradas pela Constituição:


a. veda-se a interferência estatal no funcionamento das associações e cooperativas (estas
podem ser fiscalizadas pelo Poder Público, nos termos da lei);
b. estas entidades só podem ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial (no primeiro caso, exige-se o trânsito em julgado), quando
desaparecerem os requisitos de sua constituição (prática de atividades ilícitas, por exemplo).

Liberdade de escolha de associados: a associação pode recusar o ingresso de algum


interessado? - Via de regra, o Estado não pode impor o ingresso de alguém em uma
associação; no entanto, “quem pretende assumir a condição de porta voz ante as instâncias
públicas e nas relações sociais dos interesses de uma certa coletividade de pessoas deve
permitir [...] todas as correntes de opinião que se formam no conjunto das pessoas que dizem
representar” (Salvador, Munch e Ferre i Rocha).

Assim, as associações podem ser classificadas em:


a. expressivas: sociedades de cunho espiritual, religioso ou ideológico. Nestes casos, como não
se visa a representação de interesses de classe, não é necessário admitir o dissenso.
b. não-expressivas: associações de cunho profissional ou comercial, aquelas que viabilizam
certas atividades essenciais aos associados, ou ainda as que exercem uma função social ou
econômica relevante na sociedade.

As associações não-expressivas não podem, a princípio, recusar o ingresso de um interessado


ou expulsá-lo, pois as entidades que visam a “representação de interesses não poderiam

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recusar o ingresso nelas de todos os abrangidos pela atividade ou grupo que dizem
representar” (Branco).
Nas associações em que há fins econômicos, eventual expulsão pode ser revisada, em razão do
dano patrimonial que se pode provocar àquele que foi excluído (Branco).

Direito de defesa: considerando a eficácia dos direitos fundamentais no âmbito das associações
particulares, o STF entende que o direito de ampla defesa deve ser assegurado, a fim de se
evitar as expulsões arbitrárias.
“Diante de uma associação com finalidades de defesa de interesses econômicos, a expulsão de
associado não pode prescindir da observância de garantias constitucionais” (RE n. 201.819).

Art. 5º, XXI, CF/88: “as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente”.
Distinção entre os institutos da representação e da substituição processual.
Representação processual: a entidade está em juízo no lugar do autor ou do réu, não como
parte, mas como seu representante (defesa de direito alheio em nome alheio).

Substituição processual: a entidade ocupa um dos polos da demanda, como autora ou ré.
Defende, em nome próprio, direito alheio e ocorre em situações previstas em lei.
Associações: podem representar seus associados e podem agir como substitutas processuais
(mandado de segurança coletivo, por exemplo). A diferença é que, na representação, a
autorização deve ser expressa e, na substituição, a autorização é pressuposta, em razão da
previsão legal.

STF: ainda que a representação exija a expressa autorização dos associados, “esta pode surgir
de deliberação dos associados, cumprido o quórum regimental, o do estatuto, em assembleia”
(RE n. 192.305-9).
Quando se tratar de substituição processual, a autorização genérica, contida nos estatutos,
será suficiente – não é necessário obter a autorização expressa.

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Direito à Igualdade

Art. 5º, CF/88: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”

Art. 5º, I, CF/88: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição”.
A ideia de igualdade é um dos valores mais importantes do ordenamento jurídico brasileiro e
está diretamente ligada à dignidade humana.
No preâmbulo da CF/88, a igualdade surge como um dos “valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social”, está, de modo implícito,
entre os objetivos fundamentais, é princípio regente da ação da RFB em suas relações
internacionais e é mencionada em diversos artigos ao longo do texto.

Princípio da isonomia: função precípua de obstar discriminações e extinguir privilégios (STF –


MI n. 58). Duplo aspecto:
a. igualdade na lei: dever de atenção à igualdade no momento da criação da lei; atua em uma
fase de generalidade puramente abstrata;
b. igualdade perante a lei: dever de igualdade na aplicação da lei elaborada; vincula a
Administração Pública e o Poder Judiciário, que não podem agir de modo seletivo ou
discriminatório

Vertentes da igualdade: a concepção deste valor compreende três perspectivas:


a. Igualdade formal: “todos são iguais perante a lei”. É fundamental para a abolição de
privilégios e para a consolidação da democracia (a cada cidadão, um voto);
b. Igualdade material: orientada pelo critério socioeconômico, corresponde ao ideal de justiça
social e distributiva;
c. Igualdade material: igualdade orientada pelos critérios de gênero, orientação sexual, idade,
raça, etnia e outros. Corresponde ao ideal de justiça como reconhecimento de identidades
(Piovesan).

A realização do ideal de igualdade exige, simultaneamente, a redistribuição e o


reconhecimento de identidades, além do fim do tratamento privilegiado para determinados
grupos hegemônicos.
A realização dos objetivos do art. 3º da CF/88, especialmente a “criação de uma sociedade
livre, justa e solidária”, demanda medidas de implementação tanto da igualdade formal quanto
da igualdade material.

Igualdade formal x igualdade material (copilot)

A igualdade formal é a igualdade perante a lei, que significa que todos devem ser tratados de
forma idêntica, sem distinção de qualquer natureza. A igualdade formal está prevista no artigo
5º da Constituição Federal de 19881.

A igualdade material é a igualdade na prática, que significa que o Estado deve tratar os iguais
de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida das suas desigualdades. A
igualdade material visa corrigir as desigualdades sociais, econômicas e culturais, por meio de
políticas públicas que garantam oportunidades e direitos para os grupos mais vulneráveis ou
discriminados2.

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Portanto, a diferença entre igualdade formal e igualdade material é que a primeira se refere ao
plano jurídico, enquanto a segunda se refere ao plano fático. A igualdade formal é necessária,
mas não suficiente, para a realização da igualdade material, que é o objetivo maior da justiça
social.

“Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser
diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que
reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as
desigualdades” (Santos).
“~Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”:
declaração de igualdade formal, assegura a todos (e não só aos brasileiros) o mesmo status de
proteção da dignidade humana.

Art. 5º, XLI, CF/88: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais”.
A regra geral é a aplicação da igualdade formal e qualquer tratamento diferenciado deve ser
justificado especificamente.
“Mais que uma regra que impõe uma igualdade absoluta e em todos os planos, o princípio da
igualdade pode ser compreendido como um ‘regulador das diferenças’, cuja função é muito
mais auxiliar a discernir entre desigualações aceitáveis e desejáveis e aquelas que são
profundamente injustas e inaceitáveis” (Novelino).
Em linhas gerais, se não houver uma justificativa válida para o tratamento diferenciado, o
tratamento igualitário é obrigatório.
“A concreção do princípio da igualdade reclama a prévia determinação de quais sejam os iguais
e quais os desiguais. O direito deve distinguir pessoas e situações distintas entre si, a fim de
conferir tratamentos normativos diversos a pessoas e a situações que não sejam iguais. Os atos
normativos podem, sem violação do princípio da igualdade, distinguir situações a fim de
conferir a uma tratamento diverso do que atribui a outra. É necessário que a discriminação
guarde compatibilidade com o conteúdo do princípio” (ADI n. 3.305).

Proibição do arbítrio: é vedado o tratamento diferenciado entre aqueles que são


essencialmente iguais. No entanto, em existindo diferenças essenciais, a arbitrariedade estaria
justamente na imposição do tratamento igualitário.
“Ao impedir a instituição de distinções sem causa concreta ou razão legítima, a igualdade
corresponde à noção de razoabilidade, enquanto exigência de uma relação congruente entre o
critério de diferenciação escolhido e a medida adotada” (Novelino).

Além das discriminações diretas e (i)legais, também são vedadas:


a. discriminações de fato: ocorrem quando a aplicação de uma determinada norma jurídica
válida se dá de modo sistematicamente anti-isonômico, em prejuízo de determinado grupo.
b. discriminações indiretas: geram um impacto desproporcional. A medida é aparentemente
neutra, mas a aplicação resulta, de modo concreto, em prejuízo manifesto para determinados
grupos vulneráveis (Sarmento).

Além do direito geral de igualdade (art. 5º, caput), a CF/88 tem diversos dispositivos relativos à
igualdade formal:
Igualdade entre homens e mulheres, inclusive na sociedade conjugal;
Igualdade entre trabalhadores urbanos e rurais, independentemente de idade, sexo, cor,
estado civil ou tipo de trabalho;

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Igualdade entre brasileiros natos e naturalizados (exceções previstas na própria CF/88);
Igualdade na participação política (todos os votos tem o mesmo peso nas eleições
majoritárias);
Igualdade no acesso a cargos, empregos e funções públicas;
Igualdade no tratamento dos contribuintes que estão em situação equivalente;
Igualdade no acesso às ações e serviços de saúde, de acesso e permanência na escola e entre
os filhos (Novelino)

Ações afirmativas: são políticas públicas ou programas privados de proteção ou favorecimento


de grupos que necessitam de tutela especial. Geralmente, estas medidas tem duração
temporária e devem ser mantidas enquanto persistir a desigualdade material entre o grupo
que se pretende empoderar e o grupo hegemônico.
São medidas recomendadas por tratados internacionais ratificados pelo Brasil e que vem
sendo, aos poucos, incorporadas ao ordenamento.

Exemplos já analisados pelo STF:


ProUni: programa que se operacionaliza mediante concessão de bolsas a alunos de baixa renda
e diminuto grau de patrimonialização (ADI n. 3.330);
Reserva de percentual de cargos e empregos públicos para pessoas portadoras de deficiência:
mecanismos compensatórios destinados a corrigir as profundas desvantagens sociais (RMS n.
32.732 AgR)
Cotas baseadas no critério étnico-racial para acesso em instituições públicas de ensino
superior: “não contraria - ao contrário, prestigia – o princípio da igualdade material [...] a
possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de cunho universalista, [...], mediante
ações de natureza estrutural [...] que atingem grupos sociais determinados, de maneira
pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a permitir-lhes
a superação de desigualdades decorrentes de situações históricas particulares” (ADPF n. 186).

Temporariedade: na ADPF n. 186, o acórdão explica que “as políticas de ação afirmativa
fundadas na discriminação reversa apenas são legítimas se a sua manutenção estiver
condicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu origem”.
Corrigida a discrepância, a manutenção da ação afirmativa perde a sua justificativa.

Uniões homoafetivas: o reconhecimento e a qualificação das uniões homoafetivas como


entidades familiares foi discutido pelo STF na ADPF n. 132.
Princípios e direitos invocados: dignidade da pessoa humana, liberdade, autodeterminação,
igualdade, pluralismo, intimidade, não discriminação e busca da felicidade. Houve o
reconhecimento da plena legitimidade ético-jurídica da união homoafetiva como entidade
familiar.

“A extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo regime jurídico aplicável à união estável entre
pessoas de gênero distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidência [...] dos princípios
constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurança jurídica e do postulado
constitucional implícito que consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, [...]
fundamentos autônomos e suficientes [...] a conferir suporte legitimador à qualificação das
conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar” (RE n. 477.554 AgR).

Resolução n. 175/2013/CNJ: veda às autoridades competentes a recusa de habilitação,


celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas
do mesmo sexo.
Interpretação conforme do art. 1.723 do CC/02: “para excluir qualquer significado que impeça
o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como

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família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas
consequências da união estável heteroafetiva”. (ADI 4.277 e ADPF 132).
Direitos sucessórios de cônjuges e companheiros:
o STF entendeu (RE n. 878.694) que é inconstitucional o estabelecimento de regimes
sucessórios diferentes entre cônjuges e companheiros, nos termos que eram estabelecidos
pelo art. 1.790 do Código Civil.

Justificativas para se implementar uma norma de discriminação: para se estabelecer um


tratamento diferenciado entre indivíduos – e para que a distinção seja constitucionalmente
aceitável – é preciso respeitar o princípio da proporcionalidade.
Assim, a discriminação deve ser justificada e razoável, não atingindo outros direitos
fundamentais.
Critérios:
a. deve-se considerar se a medida é apropriada, tendo em vista a obtenção de uma finalidade
constitucionalmente válida;
b. é necessária, tanto no sentido de não haver outra forma de se obter o mesmo resultado com
menos sacrifício quanto em relação à capacidade de atingir o objetivo pretendido;
c. deve ser feito um exame da proporcionalidade em sentido estrito, que determina se o
tratamento diferenciado não sacrifica valores constitucionais mais importantes que os que
serão protegidos com a medida em questão (Corte Constitucional).

Fixação de critérios de admissão para ingresso na Administração Pública: o STF tem


considerado as exigências legítimas desde sejam atendidos dois requisitos: previsão legal
(requisito formal) e justificativa da exigência decorrente da natureza das atribuições do cargo a
ser preenchido (requisito material – Novelino)
RE n. 523.737: “o STF entende que a restrição da admissão a cargos públicos a partir da idade
somente se justifica se previsto em lei e quando situações concretas exigem um limite razoável,
tendo em conta o grau de esforço a ser desenvolvido pelo ocupante do cargo ou função”.
RE n. 140.889: “Razoabilidade da exigência de altura mínima para ingresso na carreira de
delegado de polícia, dada a natureza do cargo a ser exercido. Violação ao princípio da
isonomia. Inexistência”.

Tatuagem: questão muito comum em editais de concurso, o tema foi decidido pelo STF
recentemente.
RE n. 898.450: “é inconstitucional a proibição de tatuagens a candidatos a cargo público
estabelecida em leis e editais de concurso público”. - Foi reconhecida a repercussão geral e, no
caso, se discutia a exclusão de um candidato a soldado da Polícia Militar de São Paulo, que
tinha uma tatuagem tribal na perna.
Destacou-se que “a criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a
cargos públicos fere os princípios constitucionais da isonomia e razoabilidade”.
Para o relator, qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente
ao exercício das funções, como é o caso da altura mínima ou idade máxima para determinados
cargos.

Porém, algumas tatuagens podem simbolizar ideias inaceitáveis, por contrárias a uma ótica
plural e republicana e, eventualmente, podem ser consideradas suficientes para impossibilitar
o desempenho de uma determinada função pública.
O acórdão menciona especificamente as tatuagens obscenas, que fazem referência a
organizações e condutas criminosas ou que denotem condutas inaceitáveis sob o prisma da
dignidade humana.

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“A máxima de que cada um é feliz à sua maneira deve ser preservada e incentivada em grau
máximo pelo Estado, sendo de destaque o papel que incumbe ao Poder Judiciário nessa
missão. Por outro lado, a tatuagem reveladora de um simbolismo ilícito e incompatível com o
desempenho da função pública pode mostrar-se inaceitável” (RE n. 898.450).

Direito à privacidade

Art. 5º, X, CF/88: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”.
O direito à privacidade dá à pessoa o direito de conduzir a sua vida do jeito que lhe for mais
conveniente, protegido da intromissão e da curiosidade alheia.

“A privacidade é regida pelo princípio da exclusividade, cujos atributos principais são a solidão
(o estar-só), o segredo (donde a exigência de sigilo) e a autonomia (donde a liberdade de
decidir sobre si mesmo como centro emanador de informações). Na intimidade protege-se
sobretudo o estar-só; na vida privada, o segredo; em relação à imagem e à honra, a
autonomia” (Ferraz Jr.).

Intimidade: âmbito do exclusivo que alguém reserva para si, sem nenhuma repercussão social.
Vida privada: como se vive entre outros, aqui se protege as formas exclusivas de convivência,
com o afastamento de terceiros que não fazem parte desta relação.
Honra e imagem: sentido comunicacional, envolvem terceiros e dizem respeito a situações
“perante os outros” (Ferraz Jr.).

Teoria das esferas: permite estabelecer uma variação do grau de proteção à privacidade de
acordo com a área da personalidade afetada. Quanto mais próxima das experiências
definidoras da identidade do indivíduo maior deverá ser a proteção dada à esfera (Novelino).

Esfera da publicidade: atos praticados em local público, com o desejo de torna-los públicos.
Além de praticado em local não reservado, há de haver a renúncia (expressa ou tácita,
casuística e temporária) da intimidade.
A esfera da publicidade compreende, também, fatos de domínio público e informações que
podem ser obtidas licitamente.
Esfera privada: abrange as relações do indivíduo com o meio social onde não há interesse
público na divulgação.
Esfera íntima: diz respeito ao modo de ser de cada pessoa e sentimentos identitários próprios
(sexualidade, por exemplo). Informações confidenciais e segredos pessoais (Novelino)

Prosser indica quatro meios básicos de afronta à privacidade:


a. Intromissão na reclusão ou na solidão do indivíduo;
b. Exposição pública de fatos privados;
c. Exposição do indivíduo a uma falsa percepção do público;
d. Apropriação do nome e da imagem da pessoa, sobretudo para fins comerciais (Branco).

Todas as pessoas tem direito à proteção da privacidade, mesmo as muito famosas. Novelino
lembra que a diferença entre estas e as pessoas comuns é o peso a ser atribuído ao princípio
da privacidade, em um eventual exercício de ponderação.

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STF: “A conduta do réu, embora reprovável, destinou-se a pessoa pública, que está sujeita a
críticas relacionadas à sua função, o que atenua o grau de reprovabilidade da conduta” (AO n.
1.390).

Biografias não-autorizadas: não é necessária a autorização do biografado, mas há que se


ponderar o direito às liberdades e a inviolabilidade da intimidade, privacidade, honra e imagem
das pessoas retratadas. Eventuais abusos devem ser corrigidos “segundo o direito, não se
coartando liberdades conquistadas. A reparação de danos e o direito de resposta devem ser
exercidos nos termos da lei” (ADI n. 4.815).

Limites à privacidade: o direito individual à privacidade pode ser relativizado pelo interesse
público, a depender das circunstâncias do caso concreto. Há que se considerar o modo como a
informação veio a público (se pela vontade do titular do direito ou à sua revelia) qual a
finalidade a ser alcançada com a exposição do fato, o modo como a notícia foi coletada e, em
parte, como vive o indivíduo, pois, em se tratando de celebridades, a proteção pode ser
reduzida (Branco).

Distinção entre interesse público e interesse do público: o “interesse público” diz respeito a
fatos ou acontecimentos que são relevantes para as decisões do indivíduo em sociedade; o
“interesse do público”, por sua vez, aponta para questões de mera curiosidade, sem maior
relevância a não ser instigar o consumidor.
A ponderação entre o interesse público e a privacidade tende a privilegiar o primeiro, quando o
envolvido depende de crédito público (Branco).

Direito ao esquecimento: matéria pendente de julgamento no STF (ARE 833.248), relativa à


pretensão de indenização pela veiculação, em programa televisivo, de crime ocorrido há várias
décadas, o que provocou supostos danos morais à família da vítima.
Branco entende que “se a pessoa deixou de atrair notoriedade, desaparecendo interesse
público em torno dela, merece ser deixada de lado, como desejar”.

Indenização por dano material, moral ou à imagem: o STF admite a cumulação de


indenizações, mas estas não podem chegar ao ponto de inviabilizar o exercício da liberdade de
informação jornalística.
“A relação de proporcionalidade entre o dano moral ou material sofrido por alguém e a
indenização que lhe caiba receber (quanto maior o dano maior a indenização) opera é no
âmbito interno da potencialidade da ofensa e da concreta situação do ofendido” (ADPF n. 130).

Reclamação n. 2.040-1/DF: no caso, foi feita a ponderação entre o direito à privacidade e a


moralidade administrativa e segurança pública, bem como a honra e a imagem de policiais
federais, pois a extraditanda engravidou durante o período em que estava presa. O STF
privilegiou o interesse público e autorizou a coleta de DNA da placenta, após o nascimento do
bebê, para a investigação de paternidade.

HC n. 71.373: neste caso, o STF entendeu que a condução do réu “sob vara” ao laboratório para
a realização de exame de DNA configurava uma grave discrepância das garantias
constitucionais de preservação da dignidade humana, intimidade, intangibilidade do corpo
humano e outros.
Vale lembrar que, nos termos da Lei n. 12.004/09 (que altera a Lei n. 8.560/92), a recusa do
suposto pai em submeter-se ao exame de DNA gera a presunção de paternidade, a ser
apreciada em conjunto com o restante do contexto probatório.

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Art. 235, CPM: “Pederastia ou outro ato de libidinagem: praticar, ou permitir o militar que com
ele se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar”.
ADPF n. 291: questiona a constitucionalidade do dispositivo. O STF entendeu que o tipo penal
(art. 235 do CPM) deve ser mantido, com a invalidação das expressões “pederastia ou outro” e
“homossexual ou não”, em razão do caráter discriminatório.

Art. 5º, XII, CF/88: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal”.

Inviolabilidade das comunicações pessoais. Protege tanto a liberdade de manifestação do


pensamento (escolha do interlocutor) quanto a intimidade e o sigilo.

Há dois blocos de proteção:


“O que se regula é a comunicação por correspondência e telegrafia, comunicação de dados e
telefonia. O que fere a liberdade de omitir pensamento é, pois, entrar na comunicação alheia,
fazendo com o que deveria ficar entre sujeitos que se comunicam privadamente passe
ilegitimamente ao domínio de um terceiro” (Ferraz Jr.).

Sigilo: conteúdo estrutural do direito, diz respeito à faculdade de agir, resistindo ao


devassamento da informação.
Note que, além de assegurar aos particulares a liberdade de negar acesso às suas informações
particulares (sigilo como proteção da privacidade), a CF/88 também dá ao Estado e à sociedade
esta faculdade (sigilo para a proteção da segurança coletiva), limitando o acesso à informação
(art. 5º, XXXIII), mas, nesse caso, o direito protegido é outro.

Observe que a inviolabilidade diz respeito à interceptação – isso não impede a obtenção
posterior de provas com base nos vestígios deixados, com a apreensão da carta, o testemunho
de quem leu os nomes do destinatário e remetente ou viu a destruição do documento (Ferraz
Jr.).

Sigilo de correspondência e comunicações telegráficas: são invioláveis, como regra geral, com
as exceções previstas nos arts. 136, §1º e 139 da CF/88 (estado de sítio e estado de defesa).

Porém, o STF já entendeu que “a administração penitenciária, com fundamento em razões de


segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre
excepcionalmente [...] proceder à interceptação de correspondência remetida pelos
sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade epistolar não pode constituir
instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas” (HC n. 70.814-5).

Sigilo de dados: a inviolabilidade do sigilo de dados é correlata à privacidade, pois a pessoa tem
o direito de excluir do conhecimento de terceiros as informações que lhe são pertinentes, em
relação à sua vida privada.
Dados: tecnicamente, não são o objeto da comunicação, mas uma modalidade tecnológica de
comunicação (Bastos e Gandra). A proteção diz respeito não aos dados em si, mas à sua
comunicação restrita.

STF: “o inciso XII não está tornando inviolável o dado da correspondência, da comunicação, do
telegrama. Ele está proibindo a interceptação da comunicação dos dados, não dos resultados”
(RE n. 219.780).

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É possível a busca e apreensão de documentos e HDs, pois não há, no caso, “quebra de sigilo
das comunicações de dados, mas sim apreensão de base física na qual se encontravam os
dados, mediante prévia e fundamentada decisão judicial” (RE n. 418.416-8).

Quebra de sigilo de dados: acesso a informações particulares relativas a movimentações


bancárias (dados bancários), declarações feitas à Receita Federal (dados fiscais), constantes nos
registros das operadoras de telefonia (dados telefônicos) ou contidas em arquivos eletrônicos
(dados informáticos).
Requisitos: justificativa constitucional e competência da autoridade responsável pela adoção
da medida (Novelino).

Autoridade competente (pressuposto formal): autoridade judicial competente ou Comissões


Parlamentares de Inquérito (estaduais ou federais). Membros de Tribunais de Contas e do
Ministério Público não têm esse poder (Novelino).
Exceção: o STF entendeu legítima a requisição direta de dados bancários pelo Ministério
Público no caso de transações subsidiadas com dinheiro do erário público.

“Não cabe ao Banco do Brasil negar ao Ministério Público informações sobre nomes de
beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição, com recursos subsidiados pelo erário
federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de requisição de informações e
documentos para instruir procedimento administrativo instaurado em defesa do patrimônio
público. Princípio da publicidade”. (MS n. 21.729).

Receita Federal: a Lei Complementar n. 105/01 permite à Receita receber dados bancários de
contribuintes fornecidos diretamente pelos bancos, sem prévia autorização judicial.
O STF entendeu que o dispositivo não resulta em quebra de sigilo bancário, mas sim em
transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal, sendo ambas protegidas contra o acesso
de terceiros. (ADI n. 2.859).

“A LC possibilita o acesso de dados bancários pelo Fisco, para identificação, [...], por meio de
legítima atividade fiscalizatória, do patrimônio, dos rendimentos e das atividades econômicas
do contribuinte. Não permitiria, contudo, a divulgação dessas informações, resguardando-se a
intimidade e a vida íntima do correntista. [...] Além de consistir em medida fiscalizatória sigilosa
e pontual, o acesso amplo a dados bancários pelo Fisco exigiria a existência de processo
administrativo — ou procedimento fiscal”. (Informativo n. 815).

Sigilo profissional: dados obtidos no exercício profissional - neste aspecto, está ligado à
proteção da privacidade, pois o sigilo impede que informações, mesmo ilegais, sejam
devassadas, desde que lhe tenham sido confiadas em razão da profissão exercida.
Nem todo ofício tem esta proteção, apenas os que, por sua natureza, “exigem a confidência
ampla no interesse de quem confidencia” (Ferraz Jr.) e, mesmo nestes casos, pode haver uma
restrição legal.

Exemplo: art. 245, Lei n. 8.069/90: “deixar o médico, professor ou responsável por
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de
comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo
suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente. Pena: multa de três a
vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência”.

Comunicações telefônicas: diferentemente das outras formas de comunicação, esta é


instantânea e não deixa vestígios.

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É a única modalidade em que se admite a interceptação, na forma da lei – e apenas para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal. - Afinal, após o término da conversa, só
é possível a obtenção de dados telefônicos, e não do conteúdo da conversa em si.

A interceptação das comunicações telefônicas é regulamentada pela Lei n. 9.296/96. -


Finalidade: prova em investigação criminal e em instrução processual penal. - Pode ser
determinada pelo juiz (reserva constitucional de jurisdição), de ofício ou a requerimento da
autoridade policial e do representante do Ministério Público.

Art. 2º: “Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer
qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação
em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato
investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo
único: Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação,
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta,
devidamente justificada”.

Interceptação telefônica ou interceptação em sentido estrito: captação da comunicação


telefônica alheia por um terceiro, sem o conhecimento de nenhum dos comunicadores. Só é
lícita nos termos da lei.
Escuta telefônica: captação de comunicação telefônica por terceiro, com o conhecimento de
um dos interlocutores e desconhecimento do outro.
Gravação telefônica: é feita por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro.

Interceptação ambiental: captação de uma comunicação no próprio ambiente, por um terceiro,


sem a ciência dos comunicadores (Lei n. 12.850/13).
Escuta ambiental: captação de uma comunicação no próprio ambiente, realizada por terceiro e
com o conhecimento de um dos comunicadores (Gomes). - Geralmente são admitidas como
meios de prova – veja o RE n. 212.081.

Art. 5º, LX, CF/88: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”.

Regra geral: princípio da publicidade. Porém, em determinadas situações, o interesse individual


(proteção da intimidade) ou o interesse social (proteção da comunidade) demandam a
restrição da informação.

Exemplos: Art. 189, CPC: “Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de
justiça os processos: I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre
casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e
guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito
constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem [...] desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo”.

Exemplos: Art. 792, CPP: ”As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos
[...]. §1º: Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar
escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal,
câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público,
determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que
possam estar presentes”.

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Art. 5º, XI, CF/88: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

O conceito de “casa” abrange qualquer espaço habitado, aposento ocupado de habitação


coletiva e, em determinados casos, locais onde são exercidas atividades profissionais com a
exclusão de terceiros (compartimento não aberto ao público, onde se exerce profissão).

A proteção inclui escritórios, consultórios, estabelecimentos comerciais e industriais em áreas


de acesso restrito ao público ou após o encerramento das atividades (HC n. 93.050).

Atenção: “Escritório de advocacia. Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para


instalação de equipamento. Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de domicílio.
Não caracterização.” (Inq n. 2.424).

Requisitos:
a. Exigência de consentimento do morador (ou de um deles).
b. Se for para prestar socorro, em caso de desastre ou flagrante delito, a entrada pode ser feita
a qualquer hora, independentemente do consentimento.
c. Contra a vontade do morador: é necessário o mandado judicial e este só pode ser executado
durante o dia.

Os mandados devem ser específicos:


“De que vale declarar a Constituição que ‘a casa é asilo inviolável do indivíduo’(art. 5º, XI) se
moradias são invadidas por policiais munidos de mandados que consubstanciem verdadeiras
cartas brancas, mandados com poderes de a tudo devassar, só porque o habitante é suspeito
de um crime? Mandados expedidos sem justa causa, isto é, sem especificar o que se deve
buscar e sem que a decisão que determina sua expedição seja precedida de perquirição quanto
à possibilidade de adoção de meio menos gravoso para chegar-se ao mesmo fim. A polícia é
autorizada, largamente, a apreender tudo quanto possa vir a consubstanciar prova de qualquer
crime, objeto ou não da investigação. Eis aí o que se pode chamar de autêntica “devassa”. Esses
mandados ordinariamente autorizam a apreensão de computadores, nos quais fica
indelevelmente gravado tudo quanto respeite à intimidade das pessoas e possa vir a ser,
quando e se oportuno, no futuro, usado contra quem se pretenda atingir” (HC 95.009).

Direito à honra

Previsões ligadas ao direito à honra na Constituição de 1988:


“Art. 5ºIV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”

Inviolabilidade da honra e da imagem: honra pode ser entendida como a reputação do


indivíduo perante o meio social em que vive (honra objetiva) ou na estima que possui de si
próprio (honra subjetiva).
Pessoas jurídicas: tem o direito à proteção de sua honra objetiva, que está ligada ao seu bom
nome e tradição no mercado. É possível a indenização por danos morais, pois a violação da
honra, neste caso, resulta em repercussão econômica, ainda que indireta (Venosa).

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Direito à proteção da imagem: este direito é entendido sob duas perspectivas: por um lado, a
imagem é um “retrato-físico” da pessoa e, por outro, é um “retrato social” (imagem-atributo).

A imagem-retrato é a representação gráfica (fotos, vídeos, desenhos) da pessoa, e resulta no


direito de não ter a sua imagem reproduzida por meios de comunicação sem a devida
autorização; a imagem atributo é a forma como a pessoa é vista nos meios sociais que
frequenta (Pinho).

Conflito entre a liberdade de informação jornalística e direito à imagem, em caso de


veiculação, por meio de comunicação, de imagem não-autorizada:
“Para verificação da gravidade do dano sofrido pela pessoa cuja imagem é utilizada sem
autorização prévia, devem ser analisados: (i) o grau de consciência do retratado em relação à
possibilidade de captação da sua imagem no contexto da imagem do qual foi extraída; (ii) o
grau de identificação do retratado na imagem veiculada; (iii) a amplitude da exposição do
retratado; e (iv) a natureza e o grau de repercussão do meio pelo qual se dá a divulgação. De
outra parte, o direito de informar deve ser garantido, observando os seguintes parâmetros: (i)
o grau de utilidade para o público do fato informado por meio da imagem; (ii) o grau de
atualidade da imagem; (iii) o grau de necessidade da veiculação da imagem para informar o
fato; e (iv) o grau de preservação do contexto originário do qual a imagem foi colhida”
(Informativo 493/STJ).

Crimes contra a honra: (previstos nos arts. 138 e seguintes do Código Penal)

a. Calúnia: é uma falsa acusação de prática de fato definido como crime, atingindo a
credibilidade de uma pessoa em seu meio social. Atinge a honra objetiva; para Nucci, pode
vitimar tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica (crimes ambientais, por exemplo), mas o
STF entende que pessoa jurídica só pode ser vítima de difamação (Inq. n. 800).
b. Difamação: desacreditar publicamente uma pessoa, manchando sua reputação. Imputa-se a
alguém um algo que seja desonroso (independentemente de ser verdadeiro ou não),
ofendendo a sua reputação. Também atinge a honra objetiva e as vítimas podem ser pessoas
físicas ou jurídicas.
c. Injúria: insultar alguém, atribuindo-lhe qualidade negativa à sua dignidade ou decoro. É uma
manifestação de desrespeito em relação à vitima e atinge a sua honra subjetiva.
d. Injúria racial: insultar alguém utilizando elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou
origem.

Crime de racismo: atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a


integralidade de um grupo racial. É inafiançável e imprescritível. Previsto na Lei n. 7.716/89.
Caso Ellwanger: “escrever, editar, divulgar e comerciar livros ‘fazendo apologia de ideias
preconceituosas e discriminatórias’ contra a comunidade judaica constitui crime de racismo
sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade” (HC n. 82.424)

Exceção da verdade: quando deduzida nos crimes contra a honra que autorizam a sua oposição
(calúnia e difamação – esta, em relação a funcionários públicos e se a ofensa for relativa ao
exercício de suas funções), deve ser admitida, processada e julgada, ordinariamente, pelo juízo
competente para apreciar a ação penal condenatória (AP n. 602).

Crime contra a honra praticado por advogado no exercício das funções:


“Intangibilidade profissional do advogado. Caráter relativo. (...) Exercício legítimo, na espécie,
do direito de crítica, que assiste aos advogados em geral. (...) A proclamação constitucional da
inviolabilidade do advogado, por seus atos e manifestações no exercício da profissão, traduz

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significativa garantia do exercício pleno dos relevantes encargos cometidos, pela ordem
jurídica, a esse indispensável operador do direito”. (RHC n. 81.750)

Inviolabilidade dos parlamentares: o art. 53 da CF/88 assegura aos deputados e senadores a


inviolabilidade civil e penal, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

Vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos apenas na circunscrição do seu
município.

Limites à imunidade parlamentar:


O STF aceitou a denúncia contra deputado federal por incitação ao crime de estupro e queixa-
crime pela prática do crime de injúria contra outra deputada federal (Inq. n. 3.932 e Pet. n.
5.243).
Por maioria, os ministros entenderam que as declarações do deputado não guardam relação
com o seu mandato e, por isso, não incidiria, no caso, a imunidade prevista na Constituição.

Direito à propriedade

Art. 5º, XXII, CF/88: “é garantido o direito de propriedade”.

Art. 5º, XXIII, CF/88: “a propriedade atenderá a sua função social”.

Este direito diz respeito não só à possibilidade de apropriação de bens comuns, como à
possibilidade de se ter a propriedade dos meios de produção. –

Costumava-se definir a propriedade como um direito absoluto, exclusivo e perpétuo sobre


determinado bem, mas isso é muito relativo

Não é absoluto: o proprietário deve respeitar a função social do bem que possui.
Pode não ser exclusivo: a exclusividade é relativizada pelas servidões e pelas requisições civis e
militares;
Pode não ser perpétuo: a propriedade pode ser perdida pela desapropriação, confisco e
usucapião.

Art. 1.228, CC/02: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”.
Utilizar o bem de acordo com a sua vontade, com a exclusão de terceiros, colher os frutos,
explorá-lo economicamente, vender ou doar. Abrange qualquer direito de conteúdo
patrimonial, econômico, tudo que se possa converter em dinheiro, créditos e direitos pessoais
(Pinho).

Função social da propriedade: conveniência social na utilização do bem e adequação do uso e


desfrute que o proprietário pode fazer.
A CF/88 indica que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor (ar. 182, §2º), que
é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana (é obrigatório para
as cidades de mais de 20.000 habitantes).

Propriedade rural: o art. 186 da CF/88 indica que a função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: “I - aproveitamento racional e adequado; II -

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utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III -
observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça
o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores”.

A falta de atenção à função social da propriedade pode levar à imposição de determinadas


sanções, como a desapropriação. No entanto, há que se observar as duas garantias do direito
de propriedade – a de conservação (ninguém pode ser privado de seus bens fora das hipóteses
previstas na Constituição) e a de compensação (se vier a ser privado de seus bens, o
proprietário tem o direito a ser indenizado, em valor equivalente aos prejuízos sofridos – há
exceções) (Pinho).

Art. 5º, XXIV, CF/88: “a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”.
Transferência compulsória da propriedade particular por determinação do Poder Público, em
casos de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social (Novelino).

“É forma originária de aquisição da propriedade, porque não provém de nenhum título


anterior e, por isso, o bem desapropriado torna-se insuscetível de reivindicação e libera-se de
quaisquer ônus que sobre ele incidissem precedentemente, ficando os eventuais credores
subrogados no preço.” (Meirelles).
Reserva legal qualificada: A CF/88 indicou que o assunto deve ser regulamentado por lei
federal, fixando a forma de indenização e os fins que autorizam a desapropriação (Novelino)

Desapropriação por interesse social: é conveniente para o progresso social, para o


desenvolvimento da sociedade, em razão da justa distribuição da propriedade ou da
adequação à sua função social (Pinho).

Lei n. 4.132/62: regulamenta esta modalidade de desapropriação e define, em seu art. 2º, o
que é considerado interesse social. Exemplos:
a. o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho
agrícola;
b. o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem correspondência com as
necessidades de habitação, trabalho e consumo dos centros de população a que deve ou possa
suprir por seu destino econômico;
c. a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância expressa ou tácita
do proprietário, tenham construído sua habilitação, formando núcleos residenciais de mais de
10 (dez) famílias.

Desapropriação por utilidade pública: apesar de não ser imprescindível, a desapropriação é


conveniente para a realização de uma atividade estatal (Pinho). –
Desapropriação por necessidade pública: nesse caso, a Administração tem que lidar com uma
situação emergencial e a desapropriação é indispensável para a realização de uma atividade
essencial do Estado (Pinho).

Decreto-Lei n. 3.365/41: regulamenta as duas modalidades de desapropriação (necessidade e


utilidade pública). O art. 5º indica as possibilidades e a distinção entre um caso e outro é feito
com base na urgência da medida.
Pode ser feita por qualquer dos entes federativos, em imóveis urbanos ou rurais.

Exemplos: a segurança nacional, a defesa do Estado, a salubridade pública, socorro público em


caso de calamidade, o aproveitamento industrial de minas e jazidas minerais, etc.

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Nos casos de desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social,
como regra geral, a indenização deve ser prévia, justa e em dinheiro. Mas há exceções, que são
as chamadas “desapropriação-sanção”.
Nestas situações, o não-atendimento à função social da propriedade justifica a desapropriação
por interesse social e a diferença é que as indenizações não serão pagos em dinheiro, mas em
títulos.

Em se tratando de imóveis rurais, a competência para esta desapropriação-sanção, por


interesse social e para fins de reforma agrária é exclusiva da União. A previsão está no art. 184
da CF/88.

Art. 184, CF/88: “compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei”.

Observe os detalhes da desapropriação prevista no art. 185 da CF/88:


a. A indenização, neste caso, será feita em títulos da dívida agrária. Apesar de a indenização ser
prévia e justa (e tendo cláusula de preservação do valor real), os títulos são resgatáveis em até
vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão.
b. Há um procedimento contraditório especial de rito sumário, regulamentado pela Lei
Complementar n. 76/93.
c. O STF já entendeu que, se este período se esvair sem o pagamento completo, o restante será
feito por precatórios (RE n. 595.168).
d. Taxa de juros compensatórios: 12% ao ano (Súmula n. 618, STF).
e. As benfeitorias úteis e necessárias são indenizadas em dinheiro. É feito o depósito em
espécie, relativo à indenização das benfeitorias e o depósito em título da dívida agrária para a
terra nua.
f. As operações de transferências de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária são
isentas de impostos.
g. O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária,
autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
h. O orçamento fixará, anualmente, o volume total de títulos da dívida agrária e o montante de
recursos para atender ao programa de reforma agrária neste exercício.

Art. 185, CF/88: “São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a
pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não
possua outra; II - a propriedade produtiva”.

A definição da “pequena ou média” propriedade rural é feita pela Lei n. 8.629/93 (art. 4º);
imóvel rural é aquele que se destina à exploração agrícola, pecuária, extrativista vegetal,
florestal ou agroindustrial.
Estas propriedades só não serão desapropriadas (neste caso e para este fim) se seus
proprietários não possuírem outra.
A propriedade produtiva nunca será desapropriada para esta finalidade – mas isso não significa
dizer que não poderá ser desapropriada por outros motivos.

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Em se tratando de imóveis urbanos, como regra geral, as indenizações das desapropriações
serão feitas em dinheiro, de forma prévia e justa.
Porém, o art. 182, §4º da CF/88 prevê que “é facultado ao Poder Público municipal, mediante
lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos
da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais”. - Também é uma forma de desapropriação-sanção.

Confisco: é a expropriação de um imóvel pelo Estado, sem contraprestação pecuniária, em


situações excepcionais. - Alguns autores falam em “desapropriação confiscatória”, mas a
expressão não é adequada, pois não há nenhuma indenização pela perda da propriedade –
trata-se da aplicação de uma sanção. - Além do imóvel em si, todo e qualquer bem de valor
econômico apreendido será confiscado e reverterá a fundo especial específico.

Art. 243, CF/88: “As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na
forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação
popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º”.

Bens suscetíveis de desapropriação: apesar de mais associado a imóveis, quaisquer direitos de


conteúdo patrimonial (bens móveis, corpóreos ou incorpóreos) podem ser desapropriados. A
exceção são os bens de caráter personalíssimo e a moeda, que é o próprio meio de pagamento
da indenização (Pinho).
A União pode desapropriar bens dos Estados e dos Municípios e os Estados podem
desapropriar bens municipais.

Desapropriação indireta: é uma intervenção do Estado na propriedade privada que acaba


retirando o proprietário de seu bem; a restrição do exercício do direito de propriedade é tão
intensa que, na prática, há uma desapropriação, ainda que ela não tenha sido formalmente
reconhecida.
Pode acontecer no caso de estabelecimento de servidões (por exemplo) e tem-se reconhecido
ao proprietário o direito à indenização, como em uma desapropriação regular (ADI n. 2.260
MC).

Art. 5º, XXVI, CF/88: “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes
de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento”.
O objetivo é resguardar o meio econômico de sobrevivência familiar; nos termos da Lei n.
8.629/96, a pequena propriedade rural é o imóvel cuja área compreenda até 4 módulos fiscais.

Usucapião constitucional: o art. 183 da CF/88 prevê, tendo em vista a função social da
propriedade, que “aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta
metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural”.

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Este direito não será reconhecido mais de uma vez à mesma pessoa e não vale contra imóveis
públicos.

Art. 5º, XXV, CF/88: “no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá
usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano”.

Requisição administrativa. É a ocupação ou uso temporário de bens em caso de necessidades


transitórias da comunidade.
Note que, como regra geral, esta ocupação não é indenizada.
Caso a propriedade particular venha a sofrer danos, a indenização será calculada
posteriormente, sem teto máximo.
É uma opção válida em momentos de calamidade pública, a fim de preservar outros direitos
considerados mais relevantes que a propriedade, como a vida ou a saúde (Pinho).

Art. 5º, XXVII, CF/88: “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”.

Direitos do autor, regulamentados pela Lei n. 9.610/98.


A criação de determinada obra gera, para o seu autor, direitos morais e patrimoniais.

Direitos morais: dizem respeito à “paternidade” da obra e são inalienáveis e irrenunciáveis.


Nos termos do art. 24 da Lei n. 9.610/98, incluem o direito de reivindicar a autoria da obra, ter
seu nome (ou pseudônimo ou sinal convencionado) indicado na utilização de suas obras,
conservar a obra inédita, assegurar sua integridade, modificá-la, retirá-la de circulação e de ter
acesso a exemplares únicos e raros.

Direitos patrimoniais do autor: são transmissíveis, renunciáveis e tem duração limitada a 70


anos, contados de 1º de janeiro do ano subsequente ao do falecimento do autor (art. 41, Lei n.
9.610/98).
Faculdade de usar, fruir e gozar da propriedade destes direitos e transmiti-los a terceiros.
Para todos os efeitos, os direitos autorais são considerados bens móveis e transmitem-se aos
seus autores, nos termos da lei.

Art. 5º, XXVIII, CF/88: “são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações
individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas
atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras
que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas
representações sindicais e associativas”.

Direitos conexos ao do autor.


Por este inciso, estão protegidos os direitos dos que contribuem para uma maior divulgação de
obras intelectuais.
Proteção dos artistas, intérpretes, produtores e outros.
Súmula n. 386, STF: “pela execução de obra musical por artistas remunerados é devido direito
autoral, não exigível quando a orquestra for de amadores”

ECAD: Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos autorais. É uma entidade


privada, composta por diversas associações que funcionam como sindicatos e que fiscalizam a
arrecadação de direitos relativos à execução ou exibição pública de obras e fonogramas.
A sua atuação também é regulamentada pela Lei n. 9.610/98.

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Art. 5º, XXIX, CF/88: “a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País”.
Proteção da propriedade industrial, regulamentada pela Lei n. 9.279/96

A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial se dá pela concessão de patentes de


invenção e de modelo de utilidade, concessão de registro de desenho industrial, concessão de
registro de marca, repressão às falsas indicações geográficas e repressão à concorrência desleal
(art. 2º, Lei n 9.279/96).
Vigência: nos termos do art. 40, a patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 anos e a de
modelo de utilidade, por 15 anos, contados da data do depósito no INPI.

Invenção: criação de algo até então inexistente.


Descoberta: revelação de algo que já existia na natureza, mas era desconhecido.
Modelo de utilidade: toda disposição ou forma nova obtida ou introduzida em objetos
conhecidos, desde que se prestem a um trabalho ou uso prático (Requião).

“Quebra de patente”: trata-se da licença compulsória prevista na Lei de Propriedade Industrial


(art. 68) e é uma forma de realização da função social da propriedade, pois é aplicável quando
o titular da patente exerce os direitos dela decorrentes de forma abusiva – ou, ainda, se por
meio da patente, praticar atos de abuso de poder econômico.
A comprovação das práticas abusivas é feita nos termos da lei e a licença compulsória se dá por
decisão judicial ou administrativa.

Art. 5º, XXX, CF/88: “é garantido o direito de herança”;


Art. 5º, XXXI, CF/88: “a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela
lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do ‘de cujus”

O direito de herança é decorrente do direito de propriedade e, no caso, diz respeito à


transmissão de um patrimônio por causa mortis.
Herança é a universalidade das relações jurídicas deixadas pelo falecido, enquanto não
incorporadas ao acervo dos sucessores.
O momento da abertura da sucessão coincide com o momento do falecimento.

Nos termos do art. 1.784 do Código Civil, “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”, ou seja, com o falecimento do autor, a
propriedade e a posse dos bens são imediatamente transmitidos, independentemente da
abertura do inventário (princípio da saisine).

Herdeiros necessários: descendentes, ascendentes e o cônjuge. –


Havendo herdeiros necessários, se a pessoa resolver fazer um testamento, só poderá dispor da
metade de seus bens (“legítima”).
Herdeiros necessários só são afastados da herança em caso de deserdação (art. 1.814, 1.962 e
1.963 do Código Civil).

RE n. 878.694: o STF entendeu que o art. 1.790 do Código Civil é inconstitucional, pois prevê
um tratamento diferenciado para cônjuges e companheiros, em casos de sucessão.
A CF/88 equiparou a união estável ao casamento e entendeu-se que não é aceitável o
tratamento diferenciado em termos de regimes sucessórios.

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Inventário: é o processo pelo qual se faz a arrecadação e descrição dos bens da herança, lavra-
se o título de herdeiro, liquida-se o passivo, paga-se os impostos e, por fim, partilha-se os bens
restantes entre os herdeiros.
Partilha: divisão dos bens da herança pelos herdeiros. Declara os direitos de cada um,
adquiridos no momento da sucessão.

Atenção: a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens podem ser


executadas contra os sucessores, mas deve-se respeitar o limite do patrimônio herdado, pois
“nenhuma pena passará da pessoa do condenado”.

Como regra geral, a sucessão por morte ou por ausência obedece às leis do país em que era
domiciliado o autor da herança, independentemente da natureza ou da situação dos bens
(veja, a propósito, o art. 10, LINDB).
Porém, a CF/88 é pragmática: a sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil é regulada
pela lei brasileira (independentemente do domicílio do autor) em benefício do cônjuge ou
filhos brasileiros – a não ser que a lei pessoal do de cujus lhes seja mais favorável.

Art. 5º, XXXII, CF/88: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. - Lei n.
8.078/90.
STF: “o princípio da defesa do consumidor se aplica a todo capítulo constitucional da atividade
econômica” (RE n. 351.750).
STF: “as instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas
veiculadas pelo CDC” (ADI n. 2.591 ED).

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