Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Direito à vida:
deve ser entendido de modo amplo, pois inclui tanto o direito de
ser protegido contra uma morte não-natural quanto o direito a uma vida digna.
- Apesar do disposto no art. 2º do Código Civil (“a personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do nascituro”), há que se entender que a proteção da vida começa com o
início da gestação (veja a ADI n. 3510).
Ex: O pré-embrião (gerado por reprodução assistida extracorpórea), antes da implantação, não
é protegido por este dispositivo e pode ser utilizado nas pesquisas com células-tronco
embrionárias (art. 5º da Lei n. 11.105/05)
Acepção negativa do direito à vida: é assegurado a todo ser humano o direito de permanecer
vivo. Direito de não-intervenção, tanto por parte do Estado, quanto por parte de outras
pessoas.
Acepção positiva do direito à vida: direito a uma vida digna. Devem ser assegurados ao
indivíduo o acesso a bens e utilidades indispensáveis a uma vida condizente com a ideia de
dignidade humana (Novelino).
Novelino explica que, nesta perspectiva positiva, o direito à vida impõe ao poder público o
dever de adotar determinadas medidas voltadas para a proteção da vida (como, por exemplo,
recusando um pedido de extradição), garantia de amparo material e criação de normas
protetivas e incriminadoras de condutas (como as leis de proteção às testemunhas e às
mulheres e a tipificação penal do homicídio).
1
Ponderações ao direito à vida: como já mencionado anteriormente, raros são os direitos que
podem ser considerados absolutos – e o direito à vida não é um deles. - Pena de morte: apesar
de ser expressamente vedada em tempos de paz (veja o inc. XLVII), a pena de morte pode vir a
ser aplicada a determinados crimes militares se praticados em tempos de guerra declarada.
Direito à Liberdade
Liberdade: pode ser entendida como a possibilidade de escolher entre fazer ou não fazer algo,
podendo-se escolher entre duas ou mais opções.
Art. 5º, II, CF/88: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”.
Particulares: podem fazer tudo aquilo que não é proibido por lei;
Administração e seus agentes: só podem fazer o que é permitido por lei.
Reserva legal absoluta: o tema deve ser regulamentado integralmente por lei em sentido
formal
Reserva legal relativa: a CF/88 permite que a lei, em sentido formal, fixe os parâmetros de
atuação e que um ato infralegal complemente a regulamentação.
Reserva legal simples: a CF/88 autoriza a criação da lei regulamentadora, sem estabelecer
limites de conteúdo ou finalidade.
Reserva legal qualificada: a CF, além de indicar a criação de lei regulamentadora, indica os
limites (finalidades a serem atingidas e meios que podem ser utilizados).
Liberdade positiva: pode ser entendida como a “situação na qual um sujeito tem a
possibilidade de orientar seu próprio querer no sentido de uma finalidade sem ser
determinado pelo querer dos outros” (liberdade política, liberdade dos antigos, liberdade de
querer).
2
Liberdade negativa: “situação na qual um sujeito tem a possibilidade de agir sem ser impedido,
ou de não agir sem ser obrigado por outros” (liberdade civil, liberdade dos modernos,
liberdade de agir - Novelino).
Além de um direito geral de liberdade de ação – a possibilidade de fazer tudo aquilo que não é
vedado por lei – a CF/88 protege várias liberdades específicas: exteriorização do pensamento,
consciência, expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, crença,
culto, exercício profissional, locomoção, reunião e associação.
Liberdade de ação: desde que a conduta não seja expressamente proibida ou obrigatória por
lei, as pessoas têm ampla liberdade para decidir sobre suas ações.
Resistência à opressão: ainda que não esteja expresso, pode ser entendido como o direito de
se opor a restrições indevidas à liberdade, bem como o direito de não ser indevidamente
constrangido.
Habeas corpus e mandado de segurança. (remédios).
Art. 5º, IV, CF/88: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
Pluralismo político: a liberdade de manifestação do pensamento impede a censura de opiniões
ou de posicionamentos políticos não endossados pelo governo, desde que não sejam feitas de
modo abusivo.
Liberdade de manifestação do pensamento: o pensar é livre, a tutela constitucional incide a
partir do momento em que ele é exteriorizado; sua manifestação não pode ocorrer de modo
descontrolado ou abusivo (Pinho).
Liberdade de exteriorização do pensamento: a manifestação do pensamento, a criação, a
expressão e a informação não sofrerão restrições (salvo o disposto na CF/88 – veja o art. 220)
3
ocorrência de eventual... situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de
conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, [...] mantendose, assim, completa
desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas; e (c) o Ministério
Público [...] também pode formar a sua opinio delicti com apoio em outros elementos de
convicção que evidenciem a materialidade do fato delituoso e a existência de indícios
suficientes de sua autoria, desde [...] não tenham, como único fundamento causal,
documentos ou escritos anônimos.” (Inq. n. 1.957).
Art. 5º, IX, CF/88: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Preocupação significativa em assegurar os meios para a livre expressão do pensamento. -
Abrange a liberdade de culto, de cátedra (art. 206, II, CF/88 – aprender, ensinar, pesquisar e
divulgar o pensamento, a arte e o saber), de informação jornalística (art. 220, CF/88), científica
e artística.
Nos termos do art. 220, CF/88: “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição”. - “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social” (art. 220, §1º, CF/88 – respeitados os limites do art. 5º).
ADPF n. 130: a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) (Ditadura) foi considerada incompatível com a
atual ordem constitucional (não-recepção).
Vedação da censura: a censura pode ser entendida como a verificação de compatibilidade
entre aquilo que se pretende expressar e determinados posicionamentos políticos, ideológicos
ou artísticos.
Inexigibilidade de licença: é desnecessária a obtenção de autorização de um agente ou órgão
para a expressão de um pensamento.
Materiais impressos (jornais, revistas, etc.): não precisam de autorização para entrar em
circulação.
Biografias não-autorizadas: “Autorização prévia para biografia constitui censura prévia
particular. [...] ADI julgada procedente para declarar inexigível autorização da pessoa
biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também
desnecessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes” (ADI n. 4.815).
Classificação indicativa: é mera informação aos pais/responsáveis. Aviso aos usuários acerca do
conteúdo da programação.
Não pode ser vista como uma imposição do Estado ou um meio de censurar previamente os
conteúdos veiculados em rádio e televisão, pois o instituto tem caráter pedagógico e
complementar ao auxiliar os pais a definir o que seus filhos podem ou não assistir.
ADI n. 2.404: considerou inconstitucional o art. 254 da Lei n. 8.069/90, que tipificava como
infração administrativa, punida com pena de multa e suspensão da programação da emissora
por até dois dias (no caso de reincidência), a transmissão, via rádio ou televisão, de programa
em horário diverso do autorizado na classificação indicativa.
Art. 5º, XIV, CF/88: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
Liberdade de informação. – Direito de informar, se informar e ser informado.
Direito de informar: direito de transmitir uma informação (liberdade de informação jornalística
e liberdade de imprensa) para formação de opinião pública; não se confunde com a liberdade
de manifestação do pensamento.
Direito de se informar: liberdade de buscar informações sem ser embaraçado por restrições
que não sejam constitucionalmente fundamentadas.
Direito de ser informado: faculdade de receber as informações de interesse particular, coletivo
ou geral (Novelino).
4
Proteção do sigilo da fonte: evita coações contra profissionais da imprensa.
Art. 5º, VI, CF/88: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias”.
Permite a realização do pluralismo religioso e impõe a neutralidade do Estado.
Liberdade de consciência: diz respeito à adoção de determinados valores, religiosos ou não.
Faculdade de formar juízos sobre si mesmo e sobre os outros e o meio em que vive.
Liberdade de crença: contida na liberdade de consciência, diz respeito à possibilidade de seguir
(ou não) determinada religião ou conjunto de valores.
Liberdade de culto: exteriorização da liberdade de crença, honrando a divindade de escolha,
celebrando as cerimônias e rituais (Pinho). Pode ser exercida em locais abertos ou em templos.
Liberdade de escolha e adesão à religião, liberdade de mudar de religião, não aderir a
nenhuma e liberdade de descrença (Silva).
Laicidade do Estado: implica na absoluta neutralidade do Estado quanto às religiões; todas as
religiões devem ser igualmente respeitadas, mas o exercício destes direitos deve ser
ponderado – veja, no STF, as manifestações nos pedidos de Suspensão de Tutela Antecipada n.
389 e na ADI n. 3.714, que tratam da guarda sabática.
Relação entre Estado e Igrejas: o art. 19 da CF/88 veda à União, Estados, DF e Municípios o
estabelecimento de cultos religiosos ou igrejas, a subvenção, o embaraço do funcionamento ou
a manutenção de relações de dependências ou alianças com elas ou seus representantes salvo,
na forma da lei, as colaborações de interesse público. - É vedada, também, a instituição de
impostos sobre templos de qualquer culto (art. 150, VI, CF/88).
Art. 5º, VII, CF/88: “é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas
entidades civis e militares de internação coletiva”.
Direito a uma prestação estatal. O Estado não pode impor o atendimento aos serviços
religiosos, mas deve disponibilizá-los (e criar os meios para) quem os desejar. Diz o STF: “o
dever de neutralidade não se confunde com a indiferença estatal” (STA n. 389).
Entidades civis e militares de internação coletiva: o art. 1º da Lei n. 9.982/00 assegura aos
religiosos de todas as confissões o acesso aos hospitais da rede pública ou privada, bem como
aos estabelecimentos prisionais civis ou militares, para dar atendimento religioso aos
internados, desde que em comum acordo com estes, ou com seus familiares no caso de
doentes que já não mais estejam no gozo de suas faculdades mentais.
Lei n. 7.210/84: prevê que a assistência religiosa será prestada aos presos e internados, sendo-
lhes permitida a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal e a posse de
livros religiosos. - Nos estabelecimentos prisionais deverá haver local apropriado para a prática
dos cultos e nenhum preso poderá ser obrigado a comparecer (art. 24).
5
Art. 5º, VIII, CF/88: “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos
imposta e recusarse a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.
Objeção ou escusa de consciência: se o Estado reconhece a liberdade de consciência, deve
admitir que o indivíduo aja de acordo com suas convicções (e que não seja punido por isso).
É “a recusa em realizar um comportamento prescrito, por força de convicções seriamente
arraigadas no indivíduo, de tal sorte que, se este atendesse ao comando normativo, sofreria
grave tormento moral” (Branco).
Apesar de estar tradicionalmente ligada às questões militares, existem outras possibilidades de
escusa de consciência; nestas situações, nasce a pretensão de isenção de cumprimento de um
dever geral.
Note que, nos termos do inciso VIII, só será imposta a medida de privação de direitos (no caso,
a perda de direitos políticos, prevista no art. 15, IV da CF/88) se a pessoa se recusar ao
cumprimento da obrigação imposta a todos e também se recusar ao cumprimento da
prestação alternativa. - Exemplos: Lei n. 8.239/91 (recusa ao serviço militar obrigatório) e art.
438 do Código de Processo Penal (recusa ao serviço do júri).
Art. 5º, XV, CF/88: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”.
Ir, vir ou permanecer onde se está. As restrições à liberdade de locomoção somente podem ser
feitas em tempos de guerra e, em tempos de paz, qualquer estrangeiro poderá entrar,
permanecer e sair do Brasil, nos termos do Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80).
Art. 5º, XIII, CF/88: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer”.
A liberdade de ação profissional diz respeito à escolha do trabalho que se pretende exercer,
considerando as preferências e habilidades individuais. - “Inexistindo lei regulamentando o
exercício da atividade profissional, é livre o seu exercício” (STF - MI n. 6.113 AgR).
STF: “nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de
condições legais para o seu exercício. A regra é a liberdade. Apenas quando houver potencial
lesivo na atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. A
atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística protegida
pela liberdade de expressão” (RE n. 414.426).
Jornalista: esta é uma profissão que está diretamente ligada ao pleno exercício das liberdades
de informação e expressão. Assim, para o STF, “no campo da profissão de jornalista, não há
espaço para a regulamentação estatal quanto às qualificações profissionais. O art. 5º, IV, IX, XIV
e o art. 220 da CF/88 não autorizam o controle, por parte do Estado, quanto ao acesso e
exercício da profissão de jornalista [...] O exercício do poder de polícia do Estado é vedado
nesse campo” (RE n. 511.961)
Advogados e Exame da Ordem: em sendo o inc. XIII uma norma de eficácia contida, pode ser
restringido pela legislação infraconstitucional. (no caso, a Lei n. 8.906/94 - Estatuto da
Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil).
O exercício da atividade de advocacia é privativo dos inscritos na OAB e o STF já entendeu que
o Exame da Ordem é uma exigência condizente com os dispositivos constitucionais (RE n.
603.583).
Art. 5º, XVI, CF/88: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente”.
6
Direito individual de exercício coletivo. É um direito instrumental (assegura a livre expressão de
ideias) e inclui o direito de convocar, preparar, organizar uma manifestação e protestar
pacificamente (Novelino).
Estando dentro dos limites constitucionais, o Estado não deve interferir no exercício deste
direito (dimensão negativa); além disso, compreende o dever do Estado de “proteger os
manifestantes, assegurando os meios necessários para que o direito à reunião seja fruído
regularmente. Essa proteção deve ser exercida também em face de grupos opositores ao que
se reúne, para prevenir que perturbem a manifestação” (Branco).
Limites do direito de reunião: Deve ser pacífica: não pode colocar em risco pessoas ou bens
alheios. No caso, a conduta abusiva deve ser dolosa, visando o confronto físico e a ruptura da
paz social (Branco).
Não pode frustrar outra reunião previamente agendada para o mesmo local: vale o critério de
precedência na convocação, constatado pelo momento do aviso à autoridade competente.
Prévio aviso à autoridade competente: note que não se trata de pedido de autorização, mas de
comunicação para fins de organização e para evitar eventual conflito de agendamentos.
O prévio aviso (e não prévia autorização) só é exigido quando a reunião está marcada para
ocorrer em espaço aberto ao público. - Visa permitir que a Administração adote as medidas
necessárias para que a reunião possa transcorrer tranquilamente.
Art. 5º, XVII, CF/88: “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar”.
Em um sentido amplo, as associações podem ser entendidas como coligações de pessoas
físicas, de caráter estável, sob uma direção comum e que visam a obtenção de fins lícitos
(Branco). - Direito individual de exercício coletivo.
Base constitutiva: pluralidade de pessoas (não há número mínimo) e ato de vontade.
Finalidade: alcançar um objetivo lícito, de caráter comercial ou não. Note que também são
considerados ilícitos os fins que contrariam o direito em sentido amplo, e não só aqueles que
são expressamente ilegais (Branco). –
Distinção: reuniões são transitórias, associações têm estabilidade.
Vedação do caráter paramilitar: tem relação com o modo pelo qual a associação desenvolve
suas atividades, desafiando o monopólio estatal da força. “É típico da associação paramilitar a
adoção de estrutura interna similar às das forças militares regulares – apresentando hierarquia
7
bem definida e adotando o princípio da obediência” (Moraes). - Não é imprescindível o uso de
armas para o reconhecimento do caráter paramilitar.
Art. 5º, XIX, CF/88: “as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado”.
Art. 5º, XX, CF/88: “ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado”.
“A liberdade de associação tem uma dimensão positiva, pois assegura a qualquer pessoa (física
ou jurídica) o direito de associar-se e de formar associações, possui uma dimensão negativa,
pois garante a qualquer pessoa o direito de não se associar, nem de ser compelida a filiar-se ou
a desfiliar-se de determinada entidade e [...] uma função inibitória, projetando-se sobre
Estado, na medida em que se veda a possibilidade de interferir na intimidade das associações e
de dissolvê-las compulsoriamente, a não ser mediante processo judicial” (ADI n. 3.045).
8
recusar o ingresso nelas de todos os abrangidos pela atividade ou grupo que dizem
representar” (Branco).
Nas associações em que há fins econômicos, eventual expulsão pode ser revisada, em razão do
dano patrimonial que se pode provocar àquele que foi excluído (Branco).
Direito de defesa: considerando a eficácia dos direitos fundamentais no âmbito das associações
particulares, o STF entende que o direito de ampla defesa deve ser assegurado, a fim de se
evitar as expulsões arbitrárias.
“Diante de uma associação com finalidades de defesa de interesses econômicos, a expulsão de
associado não pode prescindir da observância de garantias constitucionais” (RE n. 201.819).
Art. 5º, XXI, CF/88: “as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente”.
Distinção entre os institutos da representação e da substituição processual.
Representação processual: a entidade está em juízo no lugar do autor ou do réu, não como
parte, mas como seu representante (defesa de direito alheio em nome alheio).
Substituição processual: a entidade ocupa um dos polos da demanda, como autora ou ré.
Defende, em nome próprio, direito alheio e ocorre em situações previstas em lei.
Associações: podem representar seus associados e podem agir como substitutas processuais
(mandado de segurança coletivo, por exemplo). A diferença é que, na representação, a
autorização deve ser expressa e, na substituição, a autorização é pressuposta, em razão da
previsão legal.
STF: ainda que a representação exija a expressa autorização dos associados, “esta pode surgir
de deliberação dos associados, cumprido o quórum regimental, o do estatuto, em assembleia”
(RE n. 192.305-9).
Quando se tratar de substituição processual, a autorização genérica, contida nos estatutos,
será suficiente – não é necessário obter a autorização expressa.
9
Direito à Igualdade
Art. 5º, CF/88: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
Art. 5º, I, CF/88: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição”.
A ideia de igualdade é um dos valores mais importantes do ordenamento jurídico brasileiro e
está diretamente ligada à dignidade humana.
No preâmbulo da CF/88, a igualdade surge como um dos “valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social”, está, de modo implícito,
entre os objetivos fundamentais, é princípio regente da ação da RFB em suas relações
internacionais e é mencionada em diversos artigos ao longo do texto.
A igualdade formal é a igualdade perante a lei, que significa que todos devem ser tratados de
forma idêntica, sem distinção de qualquer natureza. A igualdade formal está prevista no artigo
5º da Constituição Federal de 19881.
A igualdade material é a igualdade na prática, que significa que o Estado deve tratar os iguais
de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida das suas desigualdades. A
igualdade material visa corrigir as desigualdades sociais, econômicas e culturais, por meio de
políticas públicas que garantam oportunidades e direitos para os grupos mais vulneráveis ou
discriminados2.
10
Portanto, a diferença entre igualdade formal e igualdade material é que a primeira se refere ao
plano jurídico, enquanto a segunda se refere ao plano fático. A igualdade formal é necessária,
mas não suficiente, para a realização da igualdade material, que é o objetivo maior da justiça
social.
“Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser
diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que
reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as
desigualdades” (Santos).
“~Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”:
declaração de igualdade formal, assegura a todos (e não só aos brasileiros) o mesmo status de
proteção da dignidade humana.
Art. 5º, XLI, CF/88: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais”.
A regra geral é a aplicação da igualdade formal e qualquer tratamento diferenciado deve ser
justificado especificamente.
“Mais que uma regra que impõe uma igualdade absoluta e em todos os planos, o princípio da
igualdade pode ser compreendido como um ‘regulador das diferenças’, cuja função é muito
mais auxiliar a discernir entre desigualações aceitáveis e desejáveis e aquelas que são
profundamente injustas e inaceitáveis” (Novelino).
Em linhas gerais, se não houver uma justificativa válida para o tratamento diferenciado, o
tratamento igualitário é obrigatório.
“A concreção do princípio da igualdade reclama a prévia determinação de quais sejam os iguais
e quais os desiguais. O direito deve distinguir pessoas e situações distintas entre si, a fim de
conferir tratamentos normativos diversos a pessoas e a situações que não sejam iguais. Os atos
normativos podem, sem violação do princípio da igualdade, distinguir situações a fim de
conferir a uma tratamento diverso do que atribui a outra. É necessário que a discriminação
guarde compatibilidade com o conteúdo do princípio” (ADI n. 3.305).
Além do direito geral de igualdade (art. 5º, caput), a CF/88 tem diversos dispositivos relativos à
igualdade formal:
Igualdade entre homens e mulheres, inclusive na sociedade conjugal;
Igualdade entre trabalhadores urbanos e rurais, independentemente de idade, sexo, cor,
estado civil ou tipo de trabalho;
11
Igualdade entre brasileiros natos e naturalizados (exceções previstas na própria CF/88);
Igualdade na participação política (todos os votos tem o mesmo peso nas eleições
majoritárias);
Igualdade no acesso a cargos, empregos e funções públicas;
Igualdade no tratamento dos contribuintes que estão em situação equivalente;
Igualdade no acesso às ações e serviços de saúde, de acesso e permanência na escola e entre
os filhos (Novelino)
Temporariedade: na ADPF n. 186, o acórdão explica que “as políticas de ação afirmativa
fundadas na discriminação reversa apenas são legítimas se a sua manutenção estiver
condicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu origem”.
Corrigida a discrepância, a manutenção da ação afirmativa perde a sua justificativa.
“A extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo regime jurídico aplicável à união estável entre
pessoas de gênero distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidência [...] dos princípios
constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurança jurídica e do postulado
constitucional implícito que consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, [...]
fundamentos autônomos e suficientes [...] a conferir suporte legitimador à qualificação das
conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar” (RE n. 477.554 AgR).
12
família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas
consequências da união estável heteroafetiva”. (ADI 4.277 e ADPF 132).
Direitos sucessórios de cônjuges e companheiros:
o STF entendeu (RE n. 878.694) que é inconstitucional o estabelecimento de regimes
sucessórios diferentes entre cônjuges e companheiros, nos termos que eram estabelecidos
pelo art. 1.790 do Código Civil.
Tatuagem: questão muito comum em editais de concurso, o tema foi decidido pelo STF
recentemente.
RE n. 898.450: “é inconstitucional a proibição de tatuagens a candidatos a cargo público
estabelecida em leis e editais de concurso público”. - Foi reconhecida a repercussão geral e, no
caso, se discutia a exclusão de um candidato a soldado da Polícia Militar de São Paulo, que
tinha uma tatuagem tribal na perna.
Destacou-se que “a criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a
cargos públicos fere os princípios constitucionais da isonomia e razoabilidade”.
Para o relator, qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente
ao exercício das funções, como é o caso da altura mínima ou idade máxima para determinados
cargos.
Porém, algumas tatuagens podem simbolizar ideias inaceitáveis, por contrárias a uma ótica
plural e republicana e, eventualmente, podem ser consideradas suficientes para impossibilitar
o desempenho de uma determinada função pública.
O acórdão menciona especificamente as tatuagens obscenas, que fazem referência a
organizações e condutas criminosas ou que denotem condutas inaceitáveis sob o prisma da
dignidade humana.
13
“A máxima de que cada um é feliz à sua maneira deve ser preservada e incentivada em grau
máximo pelo Estado, sendo de destaque o papel que incumbe ao Poder Judiciário nessa
missão. Por outro lado, a tatuagem reveladora de um simbolismo ilícito e incompatível com o
desempenho da função pública pode mostrar-se inaceitável” (RE n. 898.450).
Direito à privacidade
Art. 5º, X, CF/88: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”.
O direito à privacidade dá à pessoa o direito de conduzir a sua vida do jeito que lhe for mais
conveniente, protegido da intromissão e da curiosidade alheia.
“A privacidade é regida pelo princípio da exclusividade, cujos atributos principais são a solidão
(o estar-só), o segredo (donde a exigência de sigilo) e a autonomia (donde a liberdade de
decidir sobre si mesmo como centro emanador de informações). Na intimidade protege-se
sobretudo o estar-só; na vida privada, o segredo; em relação à imagem e à honra, a
autonomia” (Ferraz Jr.).
Intimidade: âmbito do exclusivo que alguém reserva para si, sem nenhuma repercussão social.
Vida privada: como se vive entre outros, aqui se protege as formas exclusivas de convivência,
com o afastamento de terceiros que não fazem parte desta relação.
Honra e imagem: sentido comunicacional, envolvem terceiros e dizem respeito a situações
“perante os outros” (Ferraz Jr.).
Teoria das esferas: permite estabelecer uma variação do grau de proteção à privacidade de
acordo com a área da personalidade afetada. Quanto mais próxima das experiências
definidoras da identidade do indivíduo maior deverá ser a proteção dada à esfera (Novelino).
Esfera da publicidade: atos praticados em local público, com o desejo de torna-los públicos.
Além de praticado em local não reservado, há de haver a renúncia (expressa ou tácita,
casuística e temporária) da intimidade.
A esfera da publicidade compreende, também, fatos de domínio público e informações que
podem ser obtidas licitamente.
Esfera privada: abrange as relações do indivíduo com o meio social onde não há interesse
público na divulgação.
Esfera íntima: diz respeito ao modo de ser de cada pessoa e sentimentos identitários próprios
(sexualidade, por exemplo). Informações confidenciais e segredos pessoais (Novelino)
Todas as pessoas tem direito à proteção da privacidade, mesmo as muito famosas. Novelino
lembra que a diferença entre estas e as pessoas comuns é o peso a ser atribuído ao princípio
da privacidade, em um eventual exercício de ponderação.
14
STF: “A conduta do réu, embora reprovável, destinou-se a pessoa pública, que está sujeita a
críticas relacionadas à sua função, o que atenua o grau de reprovabilidade da conduta” (AO n.
1.390).
Limites à privacidade: o direito individual à privacidade pode ser relativizado pelo interesse
público, a depender das circunstâncias do caso concreto. Há que se considerar o modo como a
informação veio a público (se pela vontade do titular do direito ou à sua revelia) qual a
finalidade a ser alcançada com a exposição do fato, o modo como a notícia foi coletada e, em
parte, como vive o indivíduo, pois, em se tratando de celebridades, a proteção pode ser
reduzida (Branco).
Distinção entre interesse público e interesse do público: o “interesse público” diz respeito a
fatos ou acontecimentos que são relevantes para as decisões do indivíduo em sociedade; o
“interesse do público”, por sua vez, aponta para questões de mera curiosidade, sem maior
relevância a não ser instigar o consumidor.
A ponderação entre o interesse público e a privacidade tende a privilegiar o primeiro, quando o
envolvido depende de crédito público (Branco).
HC n. 71.373: neste caso, o STF entendeu que a condução do réu “sob vara” ao laboratório para
a realização de exame de DNA configurava uma grave discrepância das garantias
constitucionais de preservação da dignidade humana, intimidade, intangibilidade do corpo
humano e outros.
Vale lembrar que, nos termos da Lei n. 12.004/09 (que altera a Lei n. 8.560/92), a recusa do
suposto pai em submeter-se ao exame de DNA gera a presunção de paternidade, a ser
apreciada em conjunto com o restante do contexto probatório.
15
Art. 235, CPM: “Pederastia ou outro ato de libidinagem: praticar, ou permitir o militar que com
ele se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar”.
ADPF n. 291: questiona a constitucionalidade do dispositivo. O STF entendeu que o tipo penal
(art. 235 do CPM) deve ser mantido, com a invalidação das expressões “pederastia ou outro” e
“homossexual ou não”, em razão do caráter discriminatório.
Art. 5º, XII, CF/88: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal”.
Observe que a inviolabilidade diz respeito à interceptação – isso não impede a obtenção
posterior de provas com base nos vestígios deixados, com a apreensão da carta, o testemunho
de quem leu os nomes do destinatário e remetente ou viu a destruição do documento (Ferraz
Jr.).
Sigilo de correspondência e comunicações telegráficas: são invioláveis, como regra geral, com
as exceções previstas nos arts. 136, §1º e 139 da CF/88 (estado de sítio e estado de defesa).
Sigilo de dados: a inviolabilidade do sigilo de dados é correlata à privacidade, pois a pessoa tem
o direito de excluir do conhecimento de terceiros as informações que lhe são pertinentes, em
relação à sua vida privada.
Dados: tecnicamente, não são o objeto da comunicação, mas uma modalidade tecnológica de
comunicação (Bastos e Gandra). A proteção diz respeito não aos dados em si, mas à sua
comunicação restrita.
STF: “o inciso XII não está tornando inviolável o dado da correspondência, da comunicação, do
telegrama. Ele está proibindo a interceptação da comunicação dos dados, não dos resultados”
(RE n. 219.780).
16
É possível a busca e apreensão de documentos e HDs, pois não há, no caso, “quebra de sigilo
das comunicações de dados, mas sim apreensão de base física na qual se encontravam os
dados, mediante prévia e fundamentada decisão judicial” (RE n. 418.416-8).
“Não cabe ao Banco do Brasil negar ao Ministério Público informações sobre nomes de
beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição, com recursos subsidiados pelo erário
federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de requisição de informações e
documentos para instruir procedimento administrativo instaurado em defesa do patrimônio
público. Princípio da publicidade”. (MS n. 21.729).
Receita Federal: a Lei Complementar n. 105/01 permite à Receita receber dados bancários de
contribuintes fornecidos diretamente pelos bancos, sem prévia autorização judicial.
O STF entendeu que o dispositivo não resulta em quebra de sigilo bancário, mas sim em
transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal, sendo ambas protegidas contra o acesso
de terceiros. (ADI n. 2.859).
“A LC possibilita o acesso de dados bancários pelo Fisco, para identificação, [...], por meio de
legítima atividade fiscalizatória, do patrimônio, dos rendimentos e das atividades econômicas
do contribuinte. Não permitiria, contudo, a divulgação dessas informações, resguardando-se a
intimidade e a vida íntima do correntista. [...] Além de consistir em medida fiscalizatória sigilosa
e pontual, o acesso amplo a dados bancários pelo Fisco exigiria a existência de processo
administrativo — ou procedimento fiscal”. (Informativo n. 815).
Sigilo profissional: dados obtidos no exercício profissional - neste aspecto, está ligado à
proteção da privacidade, pois o sigilo impede que informações, mesmo ilegais, sejam
devassadas, desde que lhe tenham sido confiadas em razão da profissão exercida.
Nem todo ofício tem esta proteção, apenas os que, por sua natureza, “exigem a confidência
ampla no interesse de quem confidencia” (Ferraz Jr.) e, mesmo nestes casos, pode haver uma
restrição legal.
Exemplo: art. 245, Lei n. 8.069/90: “deixar o médico, professor ou responsável por
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de
comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo
suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente. Pena: multa de três a
vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência”.
17
É a única modalidade em que se admite a interceptação, na forma da lei – e apenas para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal. - Afinal, após o término da conversa, só
é possível a obtenção de dados telefônicos, e não do conteúdo da conversa em si.
Art. 2º: “Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer
qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação
em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato
investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo
único: Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação,
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta,
devidamente justificada”.
Art. 5º, LX, CF/88: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”.
Exemplos: Art. 189, CPC: “Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de
justiça os processos: I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre
casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e
guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito
constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem [...] desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo”.
Exemplos: Art. 792, CPP: ”As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos
[...]. §1º: Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar
escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal,
câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público,
determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que
possam estar presentes”.
18
Art. 5º, XI, CF/88: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.
Requisitos:
a. Exigência de consentimento do morador (ou de um deles).
b. Se for para prestar socorro, em caso de desastre ou flagrante delito, a entrada pode ser feita
a qualquer hora, independentemente do consentimento.
c. Contra a vontade do morador: é necessário o mandado judicial e este só pode ser executado
durante o dia.
Direito à honra
19
Direito à proteção da imagem: este direito é entendido sob duas perspectivas: por um lado, a
imagem é um “retrato-físico” da pessoa e, por outro, é um “retrato social” (imagem-atributo).
Crimes contra a honra: (previstos nos arts. 138 e seguintes do Código Penal)
a. Calúnia: é uma falsa acusação de prática de fato definido como crime, atingindo a
credibilidade de uma pessoa em seu meio social. Atinge a honra objetiva; para Nucci, pode
vitimar tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica (crimes ambientais, por exemplo), mas o
STF entende que pessoa jurídica só pode ser vítima de difamação (Inq. n. 800).
b. Difamação: desacreditar publicamente uma pessoa, manchando sua reputação. Imputa-se a
alguém um algo que seja desonroso (independentemente de ser verdadeiro ou não),
ofendendo a sua reputação. Também atinge a honra objetiva e as vítimas podem ser pessoas
físicas ou jurídicas.
c. Injúria: insultar alguém, atribuindo-lhe qualidade negativa à sua dignidade ou decoro. É uma
manifestação de desrespeito em relação à vitima e atinge a sua honra subjetiva.
d. Injúria racial: insultar alguém utilizando elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou
origem.
Exceção da verdade: quando deduzida nos crimes contra a honra que autorizam a sua oposição
(calúnia e difamação – esta, em relação a funcionários públicos e se a ofensa for relativa ao
exercício de suas funções), deve ser admitida, processada e julgada, ordinariamente, pelo juízo
competente para apreciar a ação penal condenatória (AP n. 602).
20
significativa garantia do exercício pleno dos relevantes encargos cometidos, pela ordem
jurídica, a esse indispensável operador do direito”. (RHC n. 81.750)
Vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos apenas na circunscrição do seu
município.
Direito à propriedade
Este direito diz respeito não só à possibilidade de apropriação de bens comuns, como à
possibilidade de se ter a propriedade dos meios de produção. –
Não é absoluto: o proprietário deve respeitar a função social do bem que possui.
Pode não ser exclusivo: a exclusividade é relativizada pelas servidões e pelas requisições civis e
militares;
Pode não ser perpétuo: a propriedade pode ser perdida pela desapropriação, confisco e
usucapião.
Art. 1.228, CC/02: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”.
Utilizar o bem de acordo com a sua vontade, com a exclusão de terceiros, colher os frutos,
explorá-lo economicamente, vender ou doar. Abrange qualquer direito de conteúdo
patrimonial, econômico, tudo que se possa converter em dinheiro, créditos e direitos pessoais
(Pinho).
Propriedade rural: o art. 186 da CF/88 indica que a função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: “I - aproveitamento racional e adequado; II -
21
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III -
observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça
o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores”.
Art. 5º, XXIV, CF/88: “a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”.
Transferência compulsória da propriedade particular por determinação do Poder Público, em
casos de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social (Novelino).
Lei n. 4.132/62: regulamenta esta modalidade de desapropriação e define, em seu art. 2º, o
que é considerado interesse social. Exemplos:
a. o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho
agrícola;
b. o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem correspondência com as
necessidades de habitação, trabalho e consumo dos centros de população a que deve ou possa
suprir por seu destino econômico;
c. a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância expressa ou tácita
do proprietário, tenham construído sua habilitação, formando núcleos residenciais de mais de
10 (dez) famílias.
22
Nos casos de desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social,
como regra geral, a indenização deve ser prévia, justa e em dinheiro. Mas há exceções, que são
as chamadas “desapropriação-sanção”.
Nestas situações, o não-atendimento à função social da propriedade justifica a desapropriação
por interesse social e a diferença é que as indenizações não serão pagos em dinheiro, mas em
títulos.
Art. 184, CF/88: “compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei”.
Art. 185, CF/88: “São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a
pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não
possua outra; II - a propriedade produtiva”.
A definição da “pequena ou média” propriedade rural é feita pela Lei n. 8.629/93 (art. 4º);
imóvel rural é aquele que se destina à exploração agrícola, pecuária, extrativista vegetal,
florestal ou agroindustrial.
Estas propriedades só não serão desapropriadas (neste caso e para este fim) se seus
proprietários não possuírem outra.
A propriedade produtiva nunca será desapropriada para esta finalidade – mas isso não significa
dizer que não poderá ser desapropriada por outros motivos.
23
Em se tratando de imóveis urbanos, como regra geral, as indenizações das desapropriações
serão feitas em dinheiro, de forma prévia e justa.
Porém, o art. 182, §4º da CF/88 prevê que “é facultado ao Poder Público municipal, mediante
lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos
da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais”. - Também é uma forma de desapropriação-sanção.
Art. 243, CF/88: “As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na
forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação
popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º”.
Art. 5º, XXVI, CF/88: “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes
de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento”.
O objetivo é resguardar o meio econômico de sobrevivência familiar; nos termos da Lei n.
8.629/96, a pequena propriedade rural é o imóvel cuja área compreenda até 4 módulos fiscais.
Usucapião constitucional: o art. 183 da CF/88 prevê, tendo em vista a função social da
propriedade, que “aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta
metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural”.
24
Este direito não será reconhecido mais de uma vez à mesma pessoa e não vale contra imóveis
públicos.
Art. 5º, XXV, CF/88: “no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá
usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano”.
Art. 5º, XXVII, CF/88: “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”.
Art. 5º, XXVIII, CF/88: “são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações
individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas
atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras
que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas
representações sindicais e associativas”.
25
Art. 5º, XXIX, CF/88: “a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País”.
Proteção da propriedade industrial, regulamentada pela Lei n. 9.279/96
Nos termos do art. 1.784 do Código Civil, “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”, ou seja, com o falecimento do autor, a
propriedade e a posse dos bens são imediatamente transmitidos, independentemente da
abertura do inventário (princípio da saisine).
RE n. 878.694: o STF entendeu que o art. 1.790 do Código Civil é inconstitucional, pois prevê
um tratamento diferenciado para cônjuges e companheiros, em casos de sucessão.
A CF/88 equiparou a união estável ao casamento e entendeu-se que não é aceitável o
tratamento diferenciado em termos de regimes sucessórios.
26
Inventário: é o processo pelo qual se faz a arrecadação e descrição dos bens da herança, lavra-
se o título de herdeiro, liquida-se o passivo, paga-se os impostos e, por fim, partilha-se os bens
restantes entre os herdeiros.
Partilha: divisão dos bens da herança pelos herdeiros. Declara os direitos de cada um,
adquiridos no momento da sucessão.
Como regra geral, a sucessão por morte ou por ausência obedece às leis do país em que era
domiciliado o autor da herança, independentemente da natureza ou da situação dos bens
(veja, a propósito, o art. 10, LINDB).
Porém, a CF/88 é pragmática: a sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil é regulada
pela lei brasileira (independentemente do domicílio do autor) em benefício do cônjuge ou
filhos brasileiros – a não ser que a lei pessoal do de cujus lhes seja mais favorável.
Art. 5º, XXXII, CF/88: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. - Lei n.
8.078/90.
STF: “o princípio da defesa do consumidor se aplica a todo capítulo constitucional da atividade
econômica” (RE n. 351.750).
STF: “as instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas
veiculadas pelo CDC” (ADI n. 2.591 ED).
27