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Rogers é um dos autores que chama a atenção para a construção do ser através de um
processo de escuta. Esse movimento de partilha que é praticado entre os membros de
AA é discutido no livro “Um Jeito de Ser”. Rogers afirma que uma pessoa que não é
ouvida, é comparado a alguém que está no calabouço, preso e agudamente reprimido.
Na esperança que alguém consiga compreendê-lo. Esse momento de ser ouvido e
compreendido significa para ROGERS o ínicio de sua libertação do calabouço.
O medo de ser julgado é o principal motivo que mantém as pessoas trancadas em seus
calabouços. Rogers afirma:
O objetivo, então, está em ter um ambiente que proteja os membros dos julgadores que
irão proporcionar mais repressão. O sucesso do grupo está na liberdade que a pessoa
encontra para se expressar, falar de si mesmo. Para isso é necessário toda honestidade
entre o que se vivencia, o que se pensa e o que se comunica. Esse tripé criado através da
coragem de ser honesto é o que Rogers chama de congruência.
Com isto quero dizer que quando o que estou vivenciando num determinado momento
está presente em minmha consciência e quando o que está presente em minha
consciência está presente em minha comunicação, então cada um desses três niveis
está emparelhado ou é congruente. Nesse momento, ,estou integrado ou inteiro, estou
inteiramente íntegro.
Para Rogers, ser congruente é o mesmo que ser autêntico, o que significa ser você
mesmo e não uma cópia de alguém. Ser autêntico só é possível em um ambiente que
permite que o outro seja independente. Em AA podemos ver essa estrutura de
permissão, através da prática do terceiro passo que diz: “ decidimos entregar nossa
vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós O
compreendíamos.
Novamente, quanto a isso, não podemos levar em consideração como foco, a questão da
divindade, e sim, da liberdade que o grupo oferece a seus membros de seguirem suas
próprias crenças. Cada companheiro de AA tem a permissão para conceber suas
próprias crenças e consciências. AA portanto, não é uma irmandade que interfere na
construção da autenticidade do outro através do uso do controle ou tentativas sutis de
moldar a pessoa a sua imagem e semelhança. Pelo contrário, contribui para seu
desenvolvimento permitindo que o outro se torne.
Tudo que acontece dentro das salas de AA, devem permanecer na sala. A nível pessoal,
o anonimato assegura a proteção de todos os membros de serem identificados como
alcoólicos, uma salvaguarda muitas vezes de importância especial para os recém-
chegados; A nível da imprensa, rádio, televisão, filmes e outros meios tecnológicos
como a Internet, o anonimato reforça a igualdade de todos os membros da comunidade,
refreando aqueles que, de outra forma, poderiam explorar a sua filiação em AA para
alcançarem reconhecimento, poder ou benefício pessoal.
Não é atoa que o anonimato é reconhecido como alicerce. Essa condição é a principal
facilitadora para as partilhas ocorrerem de forma congruente. Através da prática do
anonimato, têm-se um grupo protegido dos medos de julgamento e a comunicação pode
ocorrer de forma que a autenticidade de um encontre a autenticidade no outro, o que
Rogers chama de “relacão eu-tu”.
Quando consigo ser congruente e genuíno, quase sempre ajudo a outra pessoa. Quando
essa outra pessoa é cristalinamente autêntica e congruente, ela quase sempre me ajuda.
Nesses raros momentos, em que uma profunda autenticidade de um encontra uma
autenticidade no outro, ocorre uma “relação eu-tu”. Como diria Martin Buber. Um
encontro pessoal tão profundo e mútuo não acontece com muita frequência, mas estou
convencido de que somente quando ele tem possibilidade de ocorrer é que estamos
vivendo como seres humanos.
Fica óbvio diante de tais questões o sucesso terapêutico que AA proporciona aos seus
membros que se utilizam de um processo de partilha/escuta segundo idéias defendidas
por Rogers.