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VEJA – Um governo com uma visão humanista não seria, então, mais poderoso que
uma psicologia humanista?
ROGERS – Para mim, isso é um sonho, mas seria bom esquematizar uma utopia
com um governo humanista. Quanto mais um governo acredita num ponto de vista
humanista possibilidades existirão de promover um clima no qual os cidadãos
possam crescer e trabalhar junto mais harmoniosamente, e no qual haverá mais
compreensão, ou respostas, as suas necessidades. Mas não vejo nenhuma
possibilidade do que eu chamaria de um governo humanista.
VEJA – O que o senhor pensa da psicologia acadêmica?
ROGERS – Nos Estados Unidos, a psicologia Acadêmica poderia dar excelente
aconselhamento e ajuda a governos ditatoriais. Acho que, se qualquer autoridade
diz “queremos que as pessoas sejam mudadas desta forma”, a psicologia
acadêmica sabe muito bem como mudar as pessoas, gradualmente, no sentido que
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se quiser. E vejo isso como um grande perigo. A psicologia humanista seria uma
valiosa conselheira a uma forma de governo democrático, pois ela o ajudaria a ser
cada vez mais democráticos, a compreender as capacidades, os direitos e a
habilidade do cidadão de ser responsável.
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ROGERS – Porque o termo “líder” implica que uma pessoa sabe para onde o grupo
irá se dirigir e o orientará nessa direção. Então eu prefiro chamá-lo de “facilitador”,
porque minha ideia de seu propósito no grupo é a de que ele deve permitir que as
pessoas se expressem sem saber onde isso as levará. Ele facilita essas expressões
do grupo mas não controla sua direção. O facilitador pode saber alguma coisa sobre
o processo de grupos e o mesmo é verdadeiro para a terapia. O tipo de terapeuta
que eu gosto é o que age como um facilitador, pois não tem noção do que surgirá na
terapia, ou que direções a pessoa escolherá para si mesma.
VEJA – E, se ocorrer uma crise dramática dentro do grupo, o facilitador deve então
fazer o papel de líder?
ROGERS – Não, não! O facilitador inexperiente pode se sentir tentado a fazê-lo,
mas o experiente procurará acreditar no grupo. Lembro-me do que aconteceu com
um membro de nossa equipe quando um homem sofreu uma terrível crise psicótica,
numa sessão de grupo de encontro. As pessoas entraram em pânico e exigiram que
o facilitador fizesse alguma coisa, mas ele se manteve calmo e fez com que o grupo
discutisse sobre que atitude tomar. Algumas pessoas que se sentiram mais
próximas ao homem tentaram conversar com ele, mas o grupo ainda achava que ele
deveria ser internado. Pediram-lhe então que voltasse ao grupo, discutiram seus
sentimentos e suas preocupações com ele. No fim, tudo foi resolvido e mais tarde
ele fez terapia, sem hospitalização. O ponto é que o grupo, como um todo, é capaz
de agir muito mais sabiamente do que uma pessoa sozinha.
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ROGERS – A razão mais profunda foi nunca ter sentido que as pessoas que me
procuram eram “pacientes”. Não eram doentes, e sim pessoas em dificuldade.
Então, qual o termo mais apropriado? Em inglês, “cliente” é aquele que vem buscar
o seu serviço. Mas ele ainda é responsável por si mesmo.
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ROGERS – Sim, a liberdade e a responsabilidade sempre caminham juntas, e isso é
valido tanto para a educação quanto para outros aspectos da vida. A pessoa tem
que viver com as consequências do que aprende. Se não pode perceber as
mudanças, então será enganada pelos outros. E, quando isso torna claro, mais ela
será responsável – ao contrário de alguém que teve liberdade mas não reconheceu
suas consequências.
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comportamento que tornam a vida excitante. É o que leva as pessoas a um
desenvolvimento mais completo.