Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO

DISCIPLINA: ABORDAGENS HUMANISTAS I


Profa. Rose Carvalho

CARL ROGERS E A ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

Carl Rogers criou uma abordagem popular conhecida inicialmente como não
diretiva, ou centrada no cliente e, mais tarde como terapia centrada na pessoa.

A teoria de personalidade de Rogers, assim como a de Maslow, tem suas raízes


na psicologia humanista, que Rogers usou como sua estrutura para a relação
cliente-terapeuta.

Rogers desenvolveu sua teoria não a partir de pesquisa experimental de


laboratório, mas a partir de sua experiência no trabalho com os clientes. Assim, suas
formulações sobre estrutura e a dinâmica da personalidade originam-se em sua
abordagem terapêutica.

A visão de Rogers sobre a situação terapêutica diz muito sobre a sua visão de
natureza humana. Considere a frase terapia centrada na pessoa. Sugere que o dom
de mudar ou aperfeiçoar a personalidade é centrado no interior da pessoa. Em
outras palavras, é a pessoa, e não o terapeuta, quem determina tal mudança. O
papel do terapeuta é assistir ou facilitar a mudança.

Rogers acreditava que somos seres racionais governados por uma percepção
consciente de nós mesmos e de nosso mundo experiencial.

Embora tivesse reconhecido que as experiências da infância afetam o modo


como percebemos nosso ambiente e nós mesmos, insistia em afirmar que os
sentimentos e emoções presentes tem maior impacto maior sobre a personalidade.

Devido a essa ênfase na consciência e no presente, sugeriu que a


personalidade poderia ser entendida apenas a partir do nosso próprio ponto de vista,
ou seja, baseada em nossas experiências subjetivas.

Rogers, teve o seu trabalho pautado no valor do indivíduo desde o início.


Trabalhou com um conceito semelhante ao da auto realização de Maslow: a

1
existência de uma única motivação avassaladora que se configura na tendência
inata que cada pessoa tem de atualizar as capacidades e potenciais do eu, a
tendência atualizante.

Rogers acreditava que as pessoas são motivadas por uma tendência inata de
realizar, manter e aprimorar o self. Essa tendência abrange todas as necessidades
fisiológicas e psicológicas.

O processo em direção ao desenvolvimento humano pleno não é automático


nem passivo. Para Rogers, o processo envolvia luta e dor. Por exemplo: ao darem
os primeiros passos, as crianças podem cair e se machucar. Embora fosse menos
doloroso permanecer no estágio de engatinhar, a maioria delas persiste.

Pode ser que venham novamente a cair e a chorar, mas apesar da dor, são
perseverantes, pois a tendência atualizante é mais forte que o ímpeto de regredir,
simplesmente pelo fato de o processo de crescimento ser difícil.

PROCESSO DE AVALIAÇÃO ORGANÍSMICA:

O processo governante ao longo da vida (processo de avaliação organísmica),


por meio da qual avaliamos todas as experiências da vida no sentido de quão bem
elas trabalham em prol da tendência atualizante.

O MUNDO EXPERENCIAL:

Rogers ponderou o impacto do mundo experiencial , o ambiente ou situação em


que atuamos diariamente. É aquilo que fornece um quadro de referência ou contexto
que influencia nosso crescimento. Estamos expostos a inúmeras fontes de
estimulação, algumas triviais, outras importantes, algumas ameaçadoras e outras
recompensadoras.

A realidade que temos do nosso ambiente depende da percepção que temos


dele, nem sempre pode coincidir com a realidade. Podemos reagir a uma
experiência de modo muito diferente de como outros o fazem.

A noção de a percepção ser subjetiva é antiga e não é exclusiva de Rogers.


Essa ideia, chamada de fenomenologia, argumenta que a única realidade da qual
podemos estar seguros é o nosso próprio mundo de experiências, nossa percepção
interna de realidade. A abordagem fenomenológica em filosofia refere-se à uma

2
descrição imparcial de nossa percepção consciente do mundo, exatamente como ela
ocorre, sem nenhuma tentativa de nossa parte de interpretação ou análise.

Na visão de Rogers, o ponto mais importante sobre o nosso mundo experiencial


é que ele é particular e, dessa forma, pode ser completamente conhecido somente
por nós.

O DESENVOLVIMENTO DO SELF SEGUNDO ROGERS:

Essa parte separada definida pelas palavras “eu”, “me” e “mim”, é o self ou o
autoconceito, cuja formação envolve a distinção entre o que é direta e
imediatamente parte do self e o que são as pessoas, objetos e eventos externos à
própria pessoa. O autoconceito é também nossa imagem do que somos, do que
deveríamos ser e do que gostaríamos de ser.

Em condições ideais, o self é um padrão consistente, um todo organizado.


Todos os seus aspectos buscam a coerência. Por exemplo, pessoas que ficam
perturbadas por possuir sentimentos agressivos e preferem ignorá-los não ousam
expressar nenhum comportamento agressivo evidente.

Proceder assim significaria assumir a responsabilidade por ações que são


incoerentes com o seu autoconceito, que elas creem que deveria ser desprovido de
agressividade.

PESSOAS DE PLENO FUNCIONAMENTO:

Segundo Rogers, as pessoas de pleno funcionamento vivem de forma


construtiva e adaptativa conforme as condições ambientais mudam. Aliada à
criatividade está a espontaneidade. As pessoas de pleno funcionamento são
flexíveis e buscam novas experiências e desafios.

Pessoas de pleno funcionamento podem enfrentar dificuldades, mas seus


recursos internos envolve testar, crescer, esforçar-se e usar todo o potencial
continuamente, um modo de vida que traz complexidade e desafio.

Rogers não descreveu as pessoas de pleno funcionamento como alegres,


felizes ou contentes, embora elas possam sê-lo.

Sua personalidade pode ser descrita, de forma apropriada, como enriquecedora,


excitante e significativa.

3
Rogers usou a palavra “atualizante” , não “atualizada” para caracterizar a
pessoa de pleno funcionamento. O último termo implica uma personalidade acabada
e estática. O desenvolvimento do self se dá continuamente.

CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS DE PLENO FUNCIONAMENTO:

 Consciência de toda a experiência, aberta a sentimentos tanto positivos como


negativos;

 Vigor de apreciação a todas as experiências;

 Confiança em seu próprio comportamento e sentimentos;

 Liberdade de escolha, sem inibições;

 Criatividade e espontaneidade;

 Necessidade constante de desenvolvimento, de busca da maximização do


próprio potencial.

A AVALIAÇÃO TERAPÊUTICA NA TEORIA DE ROGERS:

Para Rogers, o único modo de avaliar a personalidade é em termos das


experiências subjetivas, os eventos na vida da pessoa conforme ela os percebe e
aceita como reais.

Ele sustentava que seus clientes tinham a capacidade de examinar as raízes de


seus problemas e de redirecionar o desenvolvimento da personalidade que havia
sido impedido por alguma incongruência entre o seu autoconceito e as suas
experiências.

Rogers opunha-se a técnicas de avaliação- como livre associação, análise de


sonhos e histórias de caso- por acreditar que elas tornavam os clientes dependentes
do terapeuta, que assumia, então, uma aura de especialista e autoridade. Tais
técnicas removiam a responsabilidade dos pacientes por dar-lhes a impressão de
que o terapeuta conhecia tudo sobre eles.

Os clientes poderiam concluir que o terapeuta resolveria seus problemas e que


tudo que eles precisavam era cruzar os braços e seguir as instruções do
especialista.

4
Rogers não usava testes psicológicos para avaliar a personalidade nem
desenvolveu nenhum teste. Contudo, outros psicólogos os desenvolveram coo
auxílio para avaliar a abertura ou a receptividade às experiências, uma característica
da pessoa de pleno funcionamento O Inventário de Experiências (Coan, 1972).

A escala experiencial (Gendlin e Tomlinson, 1967), verificava o nível de


confiança em nós mesmos. A escala experiencial tem sido utilizada com a terapia
centrada na pessoa.

ADAPTAÇÃO EMOCIONAL:

Muitos estudos fornecem sustentação à sugestão de Rogers de que a


incongruência entre self percebido e o self ideal indica adaptação emocional
deficiente.

Os pesquisadores concluíram que quanto maior a discrepância, maiores serão a


ansiedade, a insegurança, a auto incerteza, a depressão, o desajuste social e outros
distúrbios psicológicos.

Rogers acreditava que o fracasso em realizar nossa tendência atualizante inata


pode levar ao desajuste.

As suas ideias tiveram um impacto significativo sobre as definições teóricas e


empíricas do self em psicologia.

Condições para mudança terapêutica de personalidade:

1. duas pessoas estejam em contato;

2. o cliente, se encontre num estado de descordo interno, de vulnerabilidade ou de


ansiedade;

3. o terapeuta experimente sentimentos de consideração positiva incondicional a


respeito do indivíduo;

4. o terapeuta experimente uma compreensão empática do ponto de referência


interno do cliente;

5. o terapeuta se encontre num estado de acordo interno, pelo menos durante o


decorrer da entrevista e no que se relaciona ao objeto de sua relação com o cliente;

5
6. o cliente perceba, mesmo que numa proporção mínima, a presença da
consideração positiva incondicional e da compreensão empática que o terapeuta lhe
testemunha.

De acordo com ideias preconizadas por Rogers, o terapeuta que ao invés de


provocar no cliente a formação de projeções ou fantasias, acarretar respeito ou
admiração ou, ainda, servir de modelo para uma escala de valores ou um estilo de
vida, será visto pelo cliente essencialmente como alguém real que o compreende, o
respeita, e o aceita tal como ele próprio se percebe e conceitua.

Referências

J. Fadiman, R. Frager- Teorias da Personalidade.

Schultz, Duane P., Schultz, S.E- Teorias da Personalidade

Você também pode gostar