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Gabriel Armando

Generosa Manuel

Licenciatura em Psicologia Clínica

A TEORIA DE HARRY STARK SULLIVAN

UNIVERSIDADE ALBERTO CHIPANDE

Maputo, Fevereiro de 2023


Gabriel Armando
Generosa Manuel

A TEORIA DE HARRY STARK SULLIVAN

O presente trabalho é apresentado à


Universidade Alberto Chipande como
exigência de avaliação da disciplina de
Teorias Dinamicas I, ministrada pelo
MSC Daniel A. Inguane

Docente: MSC Daniel A. Inguane

UNIVERSIDADE ALBERTO CHIPANDE

Maputo, Fevereiro de 2023


ÍNDICE

1. CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.......................................................................................4

1.1. Contextualização..........................................................................................................4

1.2. Objectivos.....................................................................................................................4

1.2.1. Objectivo geral......................................................................................................4

1.2.2. Objectivos específicos..........................................................................................4

1.3. Metodologia.................................................................................................................4

2. CAPÍTULO II: A TEORIA DE HARRY STARK SULLIVAN...................................5

2.1. A vida de Harry Stark Sullivan....................................................................................5

2.2. A TEORIA INTERPESSOAL DE SULLIVAN......................................................5

2.3. Estrutura da personalidade...........................................................................................7

2.3.1. Os Dinamismos.....................................................................................................7

2.3.2. As Personificações................................................................................................8

2.3.3. Os Processos Cognitivos.......................................................................................9

2.4. Estágios do desenvolvimento na teoria interpessoal....................................................9

2.5. Transtornos psicológicos............................................................................................10

2.6. Psicoterapia................................................................................................................11

2.7. Relevância da Teoria Interpessoal para estudo das teorias dinâmicas.......................12

2.8. Crítica da teoria interpessoal de Sullivan...................................................................12

3. CAPÍTULO III: CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................14

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................15
1. CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização

O presente trabalho realiza-se no âmbito da cadeira de Teorias Dinamicas I e subordina-se ao


tema: A Teoria de Harry Stark Sullivan, onde apresentamos a vida de Harry Stack Sullivan,
sua teoria da interpessoal, a proposta de Sullivan que é baseada em conceitos, também
apresentaremos a experiência que segundo este autor é apresentada nos estágios de
desenvolvimento humano na infância de acordo com Sullivan.

Harry Stack Sullivan (1892 - 1949) foi um psiquiatra americano cujo trabalho em psicanálise
foi baseado, em contraste com as observações mais abstratas do inconsciente de Sigmund
Freud e seus discípulos, em observações diretas e verificáveis de seus pacientes. Portanto,
embora Sullivan tivesse uma infância solitária e isolada, ele desenvolveu uma teoria da
personalidade que enfatizava a importância das relações interpessoais. Harry Stack Sullivan
tem várias obras publicadas, dentre as quais podemos destacar as seguintes: The interpersonal
theory of psychiatry (1953); Conceptions of modern psychiatry (1953); e Psychiatric
interview (1970).

1.2. Objectivos
1.2.1. Objectivo geral
 Analisar o posicionamento da Harry Stack Sullivan no contexto das Teorias
Dinamicas.

1.2.2. Objectivos específicos


 Descrever a Biografia e os principais conceitos de Sullivan;
 Compreender a essência da Teoria Interpessoal de Sullivan;
 Destacar de forma sucinta os estágios do desenvolvimento na teoria interpessoal;
 Apresentar á critica á Crítica da teoria interpessoal.

1.3. Metodologia

Nesta abordagem usou-se consulta bibliográfica em várias obras que serviram como fonte de
inspiração na elaboração deste trabalho sobre a Teoria de Personalidade de Harry Stack
Sullivan. Todavia, esta consulta fez com que releva-se mais qualidade de informação no
desenvolvimento do trabalho, e de uma forma minuciosa foram analisados os dados
encontrados sobre o tema em discussão e apuradas as melhores informações como produto
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final que resultou nesse trabalho, e usou se a internet para fazer uma reflexão condigna das
várias informações.

2. CAPÍTULO II: A TEORIA DE HARRY STARK SULLIVAN

2.1. A vida de Harry Stark Sullivan

Harry Stark Sullivan, nasceu em 21 de fevereiro de 1892, Norwich, Nova York. Ele era o
único filho de uma família de imigrantes irlandeses. Ele foi o primeiro americano a
desenvolver uma teoria abrangente da personalidade, nascida em uma pequena comunidade
agrícola na parte superior do Estado de Nova York em 1892. Uma criança socialmente
imatura e isolada, no entanto, Sullivan formou um relacionamento interpessoal próximo com
uma criança de 5 anos mais velho que ele. Em sua teoria interpessoal, Sullivan acreditava que
essa relação tem o poder de transformar um pré-adolescente imaturo em um indivíduo
psicologicamente saudável (Coutinho 2019).

No entanto, Sullivan fez sua reputação com base em sua sala de tratamento experimental para
esquizofrênicos no hospital Shepard-Pratt, entre 1925-1929. Ele contratou atendentes
especialmente treinados da área para trabalhar com os pacientes, a fim de fornecer-lhes
relacionamentos com colegas que ele acreditava terem perdido, durante o período de latência
do desenvolvimento.

Enfim, Sullivan ensinou psiquiatria nas escolas de medicina das universidades de Maryland e
Georgetown, dirigiu a Fundação William Alanson White 1934-1943 e da Escola de
Psiquiatria em Washington, de 1936 a 1947. Em 1949, aos 56 anos, morreu enquanto ele
estava sozinho em um quarto de hotel em Paris.

2.2. A TEORIA INTERPESSOAL DE SULLIVAN

Segundo Sullivan (1953) citado por Hansenne (2003), a personalidade é constituída pela
configuração duradoura das situações interpessoais recorrentes que caracterizam uma vida
humana. O conjunto destas relações a “dois” começa com a relação com a mãe e termina com
a escolha do parceiro.

Na compreensão de Chapman (1978), o pensamento de Sullivan foi voltado para o


desenvolvimento de uma terapia efetiva, e não para um sistema teórico de alta ordem de
abstração. Para ele o “eu” não é um fato, mas um ato. A pessoa é o resultado de um processo
social decorrente da experiência com outras pessoas, desde o nascimento até a morte.
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Significa que a Psiquiatria ou a psicologia não pode estudar o ser humano isoladamente, e sim
inserido em suas experiências interpessoais, tendo como foco o desenvolvimento da pessoa e
a satisfação da necessidade de segurança. Resumindo, a definição de pessoa só é possível em
face de outra pessoa. Segundo Sullivan (1953), o comportamento e a personalidade de um
indivíduo são o resultado directo das relações interpessoais.

Todavia, importa lembrar que antes de desenvolver seu próprio arcabouço teórico, Sullivan
aderia aos conceitos de Freud. Posteriormente ele passou o foco de seu trabalho da
perspectiva intrapessoal de Freud para uma perspectiva de conotação mais interpessoal, em
que o comportamento humano podia ser observado em interações sociais com outras pessoas.
Suas idéias, que não eram universalmente aceitas em sua época, só foram integradas à prática
da psiquiatria pela publicação depois de sua morte, em 1949 (Hansenne, 2003). Portanto, os
principais conceitos de Sullivan incluem:

 Ansiedade é um sentimento de desconforto emocional, para o alívio ou a prevenção


do qual se dirige todo o comportamento. Sullivan achava que a ansiedade é a
“principal força desorganizadora nas relações interpessoais e o principal fator na
ocorrência de dificuldades graves na vida”. Ela se origina da incapacidade do
indivíduo em satisfazer necessidades ou obter segurança interpessoal.
 Satisfação das necessidades é a satisfação de todos os requisitos associados ao
ambiente físico-químico de um indivíduo. Sullivan identificou exemplos desses
requisitos como oxigênio, alimento, água, calor, ternura, repouso, atividade, expressão
sexual praticamente toda e qualquer coisa que, quando ausente, produz desconforto no
indivíduo.
 Segurança interpessoal é o sentimento associado ao alívio da ansiedade. Quando
todas as necessidades foram satisfeitas, experimenta-se um sentimento de bem- estar
total, que Sullivan denominou segurança interpessoal. Ele achava que os indivíduos
têm uma necessidade inata de segurança interpessoal.

De acordo com Bernaud (1998), no pensamento de Sullivan, o sistema do eu é uma coleção


de experiências, ou medidas de segurança, adotadas pelo indivíduo pra se proteger da
ansiedade. Sullivan identificou três componentes do sistema do eu, que se baseiam em
experiências interpessoais ao início da vida:

 O “bom eu” é a parte da personalidade que se desenvolve em resposta ao feedback


positivo dos responsáveis pelo cuidado primário do indivíduo. São vivenciados
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sentimentos de prazer, contentamento e gratificação. A criança aprende quais os
comportamentos que evocam esta resposta positiva quando esta é incorporada ao
sistema do eu.
 O “eu mau” é a parte da personalidade que se desenvolve em resposta ao feedback
negativo do responsável pelo cuidado primário. A ansiedade é vivenciada, suscitando
sentimentos de desconforto, desagrado e angústia. A criança aprende a evitar esses
sentimentos negativos alterando alguns comportamentos.
 O “não eu” é a parte da personalidade que se desenvolve em resposta a situações que
produzem uma ansiedade intensa na criança. Em resposta a essas situações são
vivenciados sentimentos de repulsa, medo, apreensão e ódio, levando a criança a negar
esses sentimentos na tentativa de aliviar a ansiedade. Este retraimento das emoções
tem implicações graves para distúrbios mentais na vida adulta.

2.3. Estrutura da personalidade

Sullivan insistia que a Personalidade é uma entidade puramente hipotética, ou seja, uma ilusão
que não pode ser observada ou estudada à parte de situações interpessoais. A Personalidade só
se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a um ou mais indivíduos.
Sullivan (1953), afirma que a Personalidade é um centro dinâmico de vários processos que
ocorrem em uma série de campos interpessoais.

Portanto, no âmbito da estrutura da personalidade podemos no concentrar nos seguintes


conceitos principais: os Dinamismos, as Personificações e os Processos Cognitivos.

2.3.1. Os Dinamismos

Sullivan usou o termo dinamismo para se referir a um padrão típico de comportamento.


Dinamismos podem se referir a áreas específicas do corpo ou tensões.

 Malevolência – trata-se de um dinamismo disjuntivo do mal e do ódio chamado mal,


definido por Sullivan como um sentimento de vida dos inimigos. As crianças que se
tornam malignas têm grande dificuldade em dar e receber ternura ou ter intimidade
com outras pessoas.
 Intimidade – trata-se de um dinamismo conjuntivo que é caracterizado por uma
estreita relação pessoal entre duas pessoas da mesma condição, denominada

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intimidade. A intimidade facilita o desenvolvimento interpessoal enquanto diminui a
ansiedade e a solidão.
 Luxúria - em contraste com as duas malevolências e intimidades, a luxúria é uma
dinâmica de isolamento. Ou seja, a luxúria é uma necessidade egoísta que pode ser
satisfeita na ausência de um relacionamento interpessoal íntimo. Em outras palavras,
apesar da intimidade ou ternura pressupõe amor, a luxúria é baseada somente na
satisfação sexual e não requer outra pessoa para sua satisfação.
 Autoestima: O mais inclusivo de todos os dinamismos é o autoestima, ou padrão de
comportamento que nos protege contra a ansiedade interpessoal e mantém nossa
segurança. A autoestima é um dinamismo da conjuntivo, porque sua função principal é
proteger da ansiedade, que tende a sufocar a mudança de personalidade.

2.3.2. As Personificações

De acordo com Portugal (2017), Sullivan acredita que as pessoas adquirem certas imagens de
si e dos outros ao longo dos estágios de desenvolvimento, e se referem a essas percepções
subjetivas como personificações. Dentre tais personificações, destacam-se as seguintes:

 Mãe má, boa mãe - a personificação da mãe má nasce das experiências de bebês com
um mamilo que não satisfazem suas necessidades de fome. Todas as crianças
experimentam a personificação da mãe má, mesmo que sua verdadeira mãe seja
amorosa e carinhosa. Mais tarde, as crianças adquirem uma boa personificação da
mãe, já que elas são maduras o suficiente para reconhecer o comportamento liciatório
e cooperativo de sua mãe ser. Mais tarde, essas duas personificações se combinam
para formar uma imagem complexa e o contraste da mãe verdadeira.
 Minhas personificações: Durante a infância, as crianças adquirem três
personificações de “eu”: (1) o eu mau, que nasce das experiências de punição e
desaprovação; (2) o eu bom, que os resultados das experiências com o eu recompensa
e aprovação, e (3) o eu não, que permite a uma pessoa dissociar ou seletivamente não
participar de experiências relacionadas à ansiedade.
 Personificações eidéticas: Uma das observações mais interessantes de Sullivan foi
que as pessoas frequentemente criam características imaginárias que se projetam nos
outros. Incluídos nessas personificações eidéticas estão os amigos imaginários que
frequentam pré-escolares com frequência. Esses amigos imaginários permitem que as

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crianças tenham um relacionamento seguro com outra pessoa, mesmo que essa pessoa
seja imaginária.

2.3.3. Os Processos Cognitivos

Sullivan reconheceu três níveis de cognição, ou modos de perceber as coisas, são eles:
prototáxico, paratáxica e sintático.

 Nível prototáxico - Experiências que são impossíveis de colocar em palavras ou


comunicar a outras pessoas são chamadas de prototáxico. Os recém-nascidos
experimentam principalmente imagens em um nível prototáxico, mas os adultos
também, muitas vezes, têm experiências pré-verbais que são momentâneas e incapazes
de serem comunicadas.
 Nível Paratáxica - As experiências que são pré-lógicas e quase impossíveis de se
comunicar com precisão para os outros são chamadas de paratáxica. Incluídos nestes
são suposições errôneas sobre causa e efeito, o que Sullivan chama de distorções
paratáxicas.
 Nível sintático - As experiências que podem ser adequadamente comunicadas aos
outros são chamadas de sintáticas. As crianças são capazes de linguagem sintática em
cerca de 12 a 18 meses de envelhecer quando as palavras começam a ter o mesmo
significado que para elas o que fazem para os outros.

2.4. Estágios do desenvolvimento na teoria interpessoal

Segundo Sullivan (1953), o indivíduo é um centro de um conjunto de interações. Essas


interações são de alguma forma a pessoa, organismo em desenvolvimento, de necessidades
mutáveis, que passa por seis fases de crescimento ao longo de sua vida: Infância; Meninice;
Idade Juvenil; Pré-Adolescência; Adolescência Inicial; Adolescência Final. Sullivan viu o
desenvolvimento interpessoal ocorrer em seis estágios, desde a infância até a maturidade
adulta. As alterações de personalidade são mais prováveis durante as transições entre os
estágios.

 Infância - O período desde o nascimento até o aparecimento da linguagem sintática é


chamado de infância, uma época em que a criança recebe a ternura da mãe, uma vez
que aprende a ansiedade por meio de um vínculo de empatia com a mãe. A ansiedade

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pode aumentar até o ponto de terror, mas o terror é controlado pela proteção integrada
da apatia e da indiferença sonolenta que permite que o bebê durma. Durante a
infância, as crianças usam a linguagem autista, que ocorre em nível prototáxico ou
paratáxica.
 Meninice - A Meninice vai desde o início da linguagem utilizável e contínua até o
início da escola e, caracteriza-se pelo foco da criança sobre os pais. Este estágio dura
desde o início da linguagem sintática até a necessidade de pares do mesmo nível que é
chamado de Meninice. A relação da criança interpessoal primária permanece com a
mãe, que agora é diferenciada das outras pessoas que alimentam a criança.
 Idade Juvenil - O jovem começa com a necessidade de colegas na mesma categoria e
continua até que a criança desenvolva a necessidade de um relacionamento íntimo
com um amigo. Neste momento, as crianças devem aprender a competir,
comprometer-se e cooperar. Essas três capacidades, assim como uma orientação para a
vida, ajudam a criança a desenvolver a intimidade, o dinamismo geral do próximo
estágio de desenvolvimento.
 Pré-Adolescência - uma vez que os erros cometidos anteriormente podem ser
corrigidos durante a pré-adolescência, mas os erros cometidos durante a pré-
adolescência são quase impossíveis de serem superados mais tarde na vida. A pré-
adolescência estende o tempo da necessidade de um melhor amigo apenas até a
puberdade. Crianças que não aprendem intimidade durante a pré-adolescência
acrescentaram dificuldades relacionadas a possíveis parceiros sexuais durante os
estágios posteriores.
 Adolescência Inicial - Com a puberdade, vem o dinamismo da luxúria e o início do
início da adolescência. O desenvolvimento nesta fase é geralmente marcado pela
coexistência de intimidade com um único amigo do mesmo sexo e o interesse sexual
de muitas pessoas do sexo oposto. No entanto, se as crianças não têm a capacidade
existente de intimidade, elas podem confundir luxúria com amor e desenvolver
relações sexuais que carecem de verdadeira intimidade.
 Adolescência Final - Adolescência tardia Cronologicamente, a adolescência tardia
pode começar a qualquer momento após os 16 anos de idade, mas, psicologicamente,
ela começa quando uma pessoa é capaz de sentir intimidade e desejo em relação à
mesma pessoa. O final da adolescência é caracterizado por um padrão estável de

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atividade sexual e pelo crescimento da modalidade sintática, à medida que os jovens
aprendem a viver no mundo adulto.

2.5. Transtornos psicológicos

Sullivan considera que o comportamento desordenado tem uma origem interpessoal e só pode
ser entendido com referência ao ambiente social de uma pessoa. Ele desenvolveu uma teoria
psiquiátrica baseada nas relações interpessoais em que um ataque prolongado ao eu interno do
indivíduo (sistema do self), em situações de extrema agressão psicológica, poderia causar
esquizofrenia (Coutinho, 2019).

No entanto, Sullivan construiu as bases para entender o indivíduo com base na rede de
relacionamentos interpessoais em que ele se encontra. Nesta teoria, os males em estudo e
tratamento da psiquiatria são, em grande medida, o produto de forças culturais.

2.6. Psicoterapia

Na compreensão de Bruch (1974), o foco da terapia baseada na teoria de Sullivan é a


ansiedade, uma vez que esta tem papel preponderante no desenvolvimento da personalidade e
surge sempre que a satisfação das necessidades básicas é ameaçada. A ansiedade gera
desconforto e a pessoa tenta livrar-se dela ou evitá-la. Assim, quando surge em grau intenso,
dificulta o relacionamento interpessoal ou o uso de padrões habituais de comunicação, daí a
importância do terapeuta ouvir a descrição da experiência do paciente, como este a
experimenta e a sente.

No entanto, ao ouvir a descrição da experiência do paciente, o terapeuta esforça-se por


perceber os aspectos que provocam sua ansiedade e tenta compreendê-lo, o melhor possível,
pela validação consensual da experiência. O descrever da experiência leva o paciente a
perceber seus sentimentos em relação à situação descrita, o que a mesma significa para ele e
os eventos que a precederam.

Para Sullivan, isto facilita qualquer processo terapêutico, porque o paciente começa a
compreender o que está acontecendo com ele e torna-se capaz de encarar mais objetivamente
suas dificuldades, seus pensamentos e sentimentos, tais como os percebe; consegue, assim,
aliviar sua ansiedade e satisfazer sua necessidade de segurança (Coutinho, 2019).

Portanto, na terapia, deve-se prestar atenção às interações interpessoais em vez de interações


“intrapsíquicas”. Essa busca de satisfação através do encontro pessoal com os outros levou
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Sullivan a considerar a solidão como a mais dolorosa das experiências humanas. Ele levou a
psicoterapia para além dos limites da psicanálise freudiana, para o tratamento da
esquizofrenia.

Ademais, como Sullivan acredita que a doença mental é resultante de falha no processo
interpessoal ou de comunicação inadequada da pessoa com os outros, um aspecto relevante de
sua teoria é a sua crença no potencial do indivíduo para mudança e na adaptabilidade do ser
humano para responder a pessoas e à cultura; para ele, portanto, o comportamento anormal é
passível de observação, diagnóstico e tratamento por meio do relacionamento interpessoal.

2.7. Relevância da Teoria Interpessoal para estudo das teorias dinâmicas

A teoria interpessoal tem uma significativa relevância para o estudo das teorias dinâmicas. O
desenvolvimento de relações é um importante conceito desta teoria e o desenvolvimento de
relações é uma importante intervenção da Psicologia. Os psicólogas desenvolvem relações
terapêuticas com os pacientes numa tentativa de ajudá-los a generalizar esta capacidade de
maneira a interagir eficazmente com outras pessoas.

O conhecimento em relação aos comportamentos associados a todos os níveis de ansiedade e


os métodos para o alívio da ansiedade ajuda os psicólogos a auxiliar os clientes a obter a
segurança interpessoal e um sentimento de bem-estar. Os psicólogos usam os conceitos da
teoria de Sullivan para ajudar os pacientes a atingir um grau mais elevado de funcionamento
independente e interpessoal.

2.8. Crítica da teoria interpessoal de Sullivan

Na compreensão de Coutinho (2019), embora a teoria da personalidade de Sullivan seja muito


abrangente, ela não é tão popular entre os psicólogos teóricos quanto as teorias de Freud,
Adler, Jung ou Erich Erikson. Todavia, o maior valor de qualquer teoria não está em sua
popularidade, mas em alguns critérios, vejamos:

O primeiro critério de uma teoria útil é sua capacidade de produzir pesquisa. Hoje em dia,
poucos pesquisadores estão investigando hipóteses especificamente retiradas da teoria de
Sullivan. Uma possível explicação para essa deficiência é a ausência de popularidade de
Sullivan entre os pesquisadores mais aptos a conduzir pesquisas, os acadêmicos. Essa falta de
popularidade pode ser atribuída à íntima associação de Sullivan com a psiquiatria, ao seu

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isolamento de qualquer instituição universitária e à relativa falta de organização em seus
escritos e palestras.

Em segundo lugar, uma teoria útil deve ser refutável, ou seja, deve ser sufi cientemente
específica para sugerir pesquisas que possam apoiar ou rejeitar seus principais pressupostos.
Quanto a esse critério, a teoria de Sullivan recebe uma pontuação baixa. A noção de Sullivan
acerca da importância das relações interpessoais para a saúde psicológica tem recebido uma
quantidade moderada de apoio indireto. No entanto, são possíveis explicações alternativas
para a maior parte dessas descobertas.

Em terceiro lugar, até que ponto a teoria de Sullivan consegue oferecer, de modo adequado,
uma organização para tudo o que é conhecido acerca da personalidade humana? Apesar de
muitos de seus elaborados postulados, a teoria consegue receber apenas uma avaliação
moderada quanto à sua capacidade de organizar conhecimento. Além disso, a extrema
ênfase da teoria nas relações interpessoais diminui sua capacidade de organizar conhecimento,
uma vez que grande parte do que é conhecido hoje em dia sobre o comportamento humano
tem uma base biológica e não se encaixa facilmente em uma teoria restrita às relações
interpessoais.

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3. CAPÍTULO III: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após uma pesquisa sobre a teoria de Sullivan, pode-se constatar que a personalidade é um
conjunto de processos cognitivos e automáticos que nos fazem reagir sobre uma determinada
forma, tendo em conta os diversos contextos. No entanto, a personalidade deve ser entendida
como um misto de factores biológicos e ambientais, estando ambos intimamente relacionados.
De acordo com Sullivan (1953), a personalidade é um sistema energético com a energia, seja
como tensão (potencial de ação) existente ou como transformações de energia (ações em
tesouraria). Está dividido nas necessidades de tensões e ansiedade.

Portanto, por um lado as necessidades são específicas e podem ser atendidas. A ansiedade, por
outro lado, é geral e não pode ser satisfeita da mesma maneira. A segurança é o que nos
permite relaxar a ansiedade e você não pode obter segurança sem a ajuda do ambiente
externo. A satisfação, isto é, a satisfação das necessidades e a segurança, isto é, o alívio da
ansiedade são os dois principais objectivos dos seres humanos.

Enfim, uma pessoa adulta, com uma personalidade totalmente integrada, desenvolve formas
de comportamento que atendam às suas necessidades internas e às demandas externas da
sociedade. Ninguém pode buscar sua própria satisfação, sustenta Sullivan, sem considerar as
consequências de suas acções para os outros. Talvez essa seja uma de suas contribuições mais
valiosas para uma visão madura e equilibrada da vida individual e social.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNAUD, J. (1998). Métodos de avaliação da personalidade. Lisboa: Climepsi.

BRUCH, H. (1974). Teoria Interpessoal: Harry Stack Sullivan. Lisboa: Climepsi.

CHAPMAN, A. H. (1978). As técnicas de tratamento de Harry Stack Sullivan. Brunner/


Mazel, New York.

COUTINHO, M. (2019). Teorias da Personalidade I. Univas – Curso de Psicologia.

HANSENNE, M. (2003). Psicologia da Personalidade. Lisboa: Climepsi.

PORTUGAL, A. (2017). Apontamentos da Abordagem Psicodinamica.

SULLIVAN, H. S. (1953). The Interpersonal Theory of Psychiatry. W. W. Norton, New


York, 1953.

SULLIVAN, H. S. (1956). Clinical Studies in Psychiatry. W. W. Norton, New York.

SULLIVAN, H.S. (1953). The interpersonal theory of psychiatry. Ne w York, Norton.

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