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As duas faces de um crime – 

Resenha

      A resenha de hoje é sobre o filme de suspense ‘As duas faces de um crime’ (com
título original ‘Primal Fear’), de 1996, dirigido por Gregory Hoblit que apresenta em
seu elenco Richard Gere, Edward Norton e Laura Linney. O enfoque da resenha será os
direitos humanos e sua Declaração Universal (Declaração Universal de direitos
humanos – DHDU). Filme super indicado para entusiastas e estudantes da psicologia e
do direito, apaixonados por filmes de suspense, analíticos, curiosos e para todos que
adoram uma boa trama psicológica-investigativa nos cinemas.

Sinopse geral do filme As duas faces de um crime


        O filme tem como protagonista o advogado Martin Vail (Richard Gere) um
profissional bem-sucedido e com ego inflado que está sempre envolvido em casos de
grande repercussão midiática e pública, o que o mantém sempre nas manchetes. O
acontecimento principal do filme é o assassinato de um arcebispo famoso e querido na
cidade de Chicago, morto com 78 facadas, sendo Aaron Stampler, de 19 anos, coroinha
do arcebispo, detido como principal suspeito.

O desenvolvimento da trama
      O advogado Martin se envolve com o caso e se oferece ao jovem para defendê-
lo pro bono. Independentemente de qual era a verdade envolvida, Martin desejava
vencer o caso e para isso precisava colher evidências para inocentar seu cliente, que a
princípio, parecia inocente já que os relatos dele corroboravam para tal conclusão. No
desenrolar das investigações do advogado são descobertas novas evidências não
relatadas por Stampler, como um namoro com uma garota e envolvimento de um
outro jovem coroinha do arcebispo.      

       Martin resolve envolver uma médica psiquiatra para analisar Aaron Stampler. Ela
logo percebe, no jovem, características de transtorno dissociativo com manifestação
de dupla personalidade. Martin encontra, de forma ilegal, uma prova do envolvimento
do arcebispo com abuso sexual: uma fita VHS com os coroinhas sendo instruídos pelo
arcebispo a fazer sexo com a garota que Stampler afirmava ser sua namorada. Como
não poderia utilizar as provas conseguidas ilegalmente, Martin faz com que a advogada
de acusação a utilizasse e apresentasse no tribunal.

O desfecho do filme
      Martin planejava, desde que ‘descobrira’ o transtorno do jovem, alegar insanidade
como fator de desqualificação da pena de morte, então fez com que o jovem
manifestasse, diante da corte, tais características atribuídas àquela segunda
personalidade, apresentando comportamento violento e atacando a advogada de
acusação, quando esteve sob forte pressão devido as perguntas incisivas dela. Martin
conseguiu o que queria, a pena de seu cliente foi transformada em medidas de
reclusão e tratamento em clínica específica. Porém, para a surpresa de Martin, seu
cliente esteve fingindo o transtorno dissociativo o tempo todo para se livrar da pena
de morte.

Visão psicológica e sob o pilar dos Direitos Humanos


      Cabem várias reflexões no contexto desse filme, a primeira delas é em relação à
ética profissional. A conduta do advogado de escolher casos para se promover, de
conseguir provas de forma ilícita e de manipular pessoas para que dessem ao processo
exatamente o tom que lhe convinha para vencer, foge aos desígnios do advogado
perante a lei e a ética profissional e pessoal. Ou seja, a conduta do advogado infringe
regras constitucionais e possivelmente torna tendencioso o processo de julgamento de
culpa desrespeitando o princípio da imparcialidade proposto no artigo 10 da DUDH, já
que o ‘showman’ consegue que os vereditos sejam sempre favoráveis aos seus
próprios interesses.

     Outra reflexão a ser feita é em relação à validade do processo de julgamento de


culpa quando são apresentadas evidências de insanidade mental. Muitos advogados
alegam que seus clientes possuem distúrbios mentais para que sua pena seja
abrandada. Quando o psicodiagnóstico não é feito corretamente, principalmente
diante de um caso de homicídio, corre-se o risco de ver uma sentença injusta ser
proferida, deixando impune um crime que atenta contra o princípio que é um dos
pilares da DUDH: o direito à vida.

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