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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE — CAMPUS SÃO CRISTÓVÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, 2021.2


Disciplina: Introdução à Psicologia da Aprendizagem
Docente: Elza Francisca Correia Cunha
Discentes:
Fillipe Silva Santos
Mariana Xisto Lima

Dissertação: Teorias da Psicologia da Aprendizagem


O presente trabalho visa sumarizar as seguintes teorias: Gestaltismo,
Behaviorismo e Psicossexualidade, campo da Psicanálise fundado e desenvolvido
por Sigmund Freud.

Gestaltismo: a psicologia da forma

A psicologia Gestalt simboliza uma doutrina psicológica que tem como pilar a
compreensão da totalidade para assim entender as partes que a compõem, sendo
assim incluída em estudos que visam mapear a percepção da humanidade.
Sumariamente, Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, baseados
nos estudos antecessores psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção,
construíram as bases de uma teoria eminentemente psicológica. Os estudiosos
iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento, pois eles
estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos estão
envolvidos na ilusão de ótica, ou seja, quando o estímulo físico é percebido pelo
sujeito com uma forma diferente do que ele é na realidade. Desse modo, a
percepção é o ponto de partida e um dos temas centrais dessa teoria.
Seguidamente, os experimentos com a percepção levaram os gestaltistas ao
questionamento da psicologia associacionista. O Behaviorismo, dentro de sua
preocupação com a objetividade, estuda o comportamento através da relação
estímulo-resposta, procurando isolar um estímulo unitário que corresponderia à uma
dada resposta e desprezando os conteúdos da consciência, pela impossibilidade de
controlar cientificamente essas variáveis. Já a Gestalt entende que é de suma
importância a disposição em que são apresentados à percepção os elementos
unitários que compõem o todo. Apesar disso, a Gestalt acredita que a percepção de
um todo não é o resultado de um processo de simples adição das partes que o
compõem.
A partir desses fenômenos de percepção, a Gestalt procura explicar como
chegamos a compreender aquilo que percebemos. Se os elementos percebidos não
apresentarem equilíbrio, simetria, estabilidade, simplicidade e regularidade, não será
possível alcançar a boa-forma. O elemento que objetivamos compreender deve ser
apresentado em seus aspectos básicos, de tal maneira que a tendência à boa-forma
conduza ao entendimento. Essa formulação representa uma das consequências
pedagógicas do Gestaltismo.
A psicologia da Gestalt também entende a aprendizagem como uma
decorrência da forma como as partes estão organizadas no todo. As teorias
associacionistas entendem que a aprendizagem ocorre através da associação de
elementos que anteriormente estavam isolados e, assim, por um processo aditivo,
passa-se de um conhecimento simples a um complexo.
Os métodos de alfabetização podem nos auxiliar a pensar algumas questões
relativas a diferentes maneiras de conceber a aprendizagem. Os chamados métodos
sintéticos entendem que deve-se inicialmente ensinar a criança a nomear, grafar e
reproduzir o valor sonoro de todas as letras (elementos mais simples) e, depois
disso, ela estará apta a associar as letras entre si para formar sílabas. Na sequência
ela associará sílabas entre si para formar palavras e finalmente formará orações. Os
chamados métodos analíticos seguem um caminho exatamente oposto pois
primeiramente é apresentado o todo (palavra, frase ou texto), enquanto unidade de
significação, e somente após partem para o exame das partes e das relações que
elas mantêm entre si para formarem esse todo.
Quanto à questão do insight, podemos dizer que nem sempre as situações
vividas por nós apresentam-se de forma clara que permitam uma compreensão
imediata. Essas situações dificultam a aprendizagem porque não permitem uma
definição da figura fundo, impedindo a relação parte-todo. Acontece, às vezes, de
estarmos olhando uma figura ou estarmos pensando em algo que nos parece
bastante obscuro e, de repente, sem que tenhamos tido qualquer processo de
compreensão aditivo (somando as partes mais simples), a relação figura-fundo
elucida-se. A esse fenômeno é dado o nome de insight, que designa uma
compreensão imediata e súbita.
Por fim, Gestalt relaciona a inteligência e a percepção: a percepção é o
conhecimento que temos dos objetos ou movimentos por contato direto e atual. A
hipótese de uma relação estrita entre a percepção e a inteligência foi sustentada, em
todos os tempos, por alguns e rejeitada por outros. Somente no século passado os
autores iniciaram a buscar apoio experimental para suas teses, sendo que
anteriormente inúmeros filósofos refletiram sobre esta questão. A teoria da forma
renovou a posição de um grande número de problemas e sobretudo forneceu uma
teoria completa sobre a inteligência que permanecerá, mesmo para os seus
adversários, um modelo de interpretação psicológica coerente. A idéia central da
teoria da forma afirma que os sistemas mentais jamais se constituem pela síntese ou
pela associação de elementos, dados em estado isolado, antes de sua reunião, mas
consistem sempre em totalidades organizadas, desde o início, sob uma forma ou
estrutura de conjunto. Assim, uma percepção não é mais síntese das sensações
prévias: ela é regida em todos os níveis por um campo, cujos elementos são
interdependentes pelo mesmo fato de serem percebidos em conjunto.
Estas leis de organização que regem todas as relações de um campo são, na
hipótese gestaltista, apenas leis de equilíbrio, regendo, ao mesmo tempo, as
correntes nervosas, determinadas pelo contato psíquico com os objetos exteriores, e
pelos próprios objetos, reunidos num circuito total, abarcando, pois,
simultaneamente, o organismo e seu meio próximo. O que se deve notar, antes de
tudo, como essencial à teoria, é que as leis de organização são concebidas como
independentes do desenvolvimento, e, por conseguinte, comuns a qualquer nível.
Fácil é de perceber esta afirmação, se a limitarmos à organização funcional ou
equilíbrio sincrônico dos comportamentos, pois a necessidade desse último rege os
níveis em qualquer grau. Assim é que os psicólogos da Forma se esforçaram,
acumulando impressionante material, para mostrar que as estruturas perceptivas
são as mesmas na criança e no adulto e, sobretudo, nos vertebrados de qualquer
categoria.
Para Köhler, a inteligência aparece quando a percepção não se prolonga
diretamente em movimentos suscetíveis de assegurar a conquista do objetivo. Este
mesmo princípio explicativo encontramos em Wertheimer, na sua interpretação
gestaltista do silogismo. A premissa maior é uma forma comparável a uma estrutura
perceptiva. Todos os homens constituem um conjunto que se representa centrado no
interior do conjunto de mortais. A premissa menor procede do mesmo modo:
Sócrates é um indivíduo centrado no círculo de homens. A operação que tirará de
tais premissas a conclusão: portanto, Sócrates é mortal, vem, consequentemente,
apenas estruturar o conjunto, fazendo desaparecer o círculo intermediário (homens),
depois de tê-lo situado com seu conteúdo no grande círculo (os mortais). O
raciocínio é pois uma recentração: Sócrates é como descentrado da classe de
homens para se recentrar novamente na classe dos mortais. O silogismo depende
assim da organização geral das estruturas.

Behaviorismo: A psicologia do comportamento

O Behaviorismo é uma teoria psicológica que objetiva estudar a psicologia


através da observação do comportamento, embasado em metodologia objetiva e
científica fundamentada na comprovação experimental e não de conceitos subjetivos
da mente, tais quais sensação, percepção, emoção e sentimentos.
A nomenclatura Behaviorismo tem origem no termo inglês Behavior, que
significa comportamento, podendo ser traduzida na íntegra para
comportamentalismo. Os Behavioristas acreditam que todos os comportamentos são
resultados de experiência e condicionamentos.
Os estudos do Behaviorismo iniciaram-se no século 19, a partir de um
trabalho do psicólogo John B. Watson, intitulado “Psicologia como um
comportamentista a vê”. Esse estudo teve como referências as teorias dos filósofos
russos Vladimir Mikhailovich Bechterev e Ivan Petrovich Pavlov. Entre 1920 a 1950,
o Behaviorismo era a escola dominante da psicologia, estabelecendo-a como uma
ciência objetiva e mensurável. Os estudiosos e pesquisadores desta escola estavam
envolvidos em criar teorias que pudessem ser descritas e medidas de forma clara e
prática.
Hodiernamente, tem-se como principais tipos behavioristas o metodológico —
influenciado pelo trabalho de John B. Watson — e o radical — iniciado pelo
psicólogo Burrhus Frederic Skinner. De forma geral, os behavioristas acreditam que
os comportamentos podem ser aprendidos por meio do condicionamento, ou seja,
as condições do ambiente têm influência direta no comportamento do indivíduo ou
animal. O condicionamento clássico, por sua vez, está ligado à escola do
Behaviorismo metodológico ou clássico, enquanto o condicionamento operante faz
parte dos estudos do Behaviorismo radical.
Primeiramente, o Behaviorismo metodológico foi o ponto de partida dos
estudos de comportamento na psicologia, fundado por John B. Watson e
fundamentado nas teorias sobre condicionamento de Ivan Pavlov. Esses estudos se
opõem ao mentalismo e introspeccionismo, ou seja, descartam os estudos
relacionados à mente, pensamento e emoções. É baseado na observação e
experimentação, cuja abordagem defende que o comportamento pode ser previsível
e controlado a partir de estímulos. Na educação, essa teoria defende que o
comportamento do indivíduo pode ser moldado e ajustado, capaz de fazer com que
uma criança tivesse determinada formação de caráter ou exercesse qualquer
profissão que escolhessem para ela, por exemplo.
Outrossim, o condicionamento clássico pode ser explicado por meio da sua
experiência mais conhecida, chamada “Cão de Pavlov”, que foi realizada com um
cachorro que saliva ao ver comida, e também a qualquer sinal ou gesto que lembra
a chegada de sua refeição. Nessa experiência, Pavlov treinou cachorros para que
eles salivassem mesmo que a comida não estivesse por perto. Ele tocava um sino
toda vez que alimentava os cachorros e, com o passar do tempo, os cachorros
começaram a associar o barulho do sino à comida, ficando famintos a cada som
emitido, ainda que seus potes de comida estivessem vazios. Com isso, concluiu-se
que os seres vivos já nascem com certos reflexos, reagindo a partir de estímulos
específicos. Em outro experimento de John B. Watson, a mesma conclusão se
reverteu em eventos traumáticos: após expor um bebê de 9 meses a animais
peludos e notar que ele não se assustava com os mesmos, o bebê foi posto para
brincar com um rato enquanto Watson fazia um barulho alto com um martelo,
assustando-o e o fazendo chorar. Depois de várias repetições, o bebê começou a
sentir medo do rato antes mesmo de o som alto ser reproduzido. No final do
experimento, o bebê tinha aprendido a associar a sua resposta, o medo que sentia e
o choro, a um estímulo que anteriormente não lhe causava medo.
Por fim, o Behaviorismo radical se opunha ao metodológico por considerar
que os comportamentos observáveis eram manifestações externas de processos
mentais invisíveis, como o autocontrole e o pensamento. Considerava-se que as
emoções não dão origem à nossa conduta, por fazer parte do modo de agir, e por
isso o comportamento não é consequência do livre arbítrio, mas sim das
consequências dos seus atos. Por isso, era mais conveniente estudar os
comportamentos observáveis.
Skinner, seu fundador, criou também a tese do condicionamento operante,
estimulando o aprendizado com reforços positivos ou negativos e punições. O
objetivo é entender a relação entre os comportamentos de um animal ao seu
ambiente. Para Skinner, o comportamento é reforçado através das suas próprias
consequências. Essa teoria propõe que para um comportamento desejado ser
alcançado, ele deve ser incentivado através de uma recompensa ou desestimulado
por meio de uma punição, determinando a repetição desse comportamento.
Por fim, Skinner comprovou a sua teoria por meio da “caixa de Skinner”, onde
colocou um rato dentro de uma caixa fechada com uma alavanca. A depender do
comportamento do rato, a alavanca ativava um mecanismo que oferecia
recompensas como água, alimento ou luz e, em alguns modelos, choques. Foi
observado que, quando recompensado, o rato aumentava a frequência dos
movimentos que tinha a recompensa como resultado. Os movimentos que não
geravam recompensa, por sua vez, eram diminuídos.
Em suma, a principal diferença entre esses dois condicionamentos é que o
clássico destaca que o estímulo neutro (como o rato peludo) pode ser transformado
em um estímulo condicionado (como o barulho), produzindo uma resposta conforme
as condições que transformaram o estímulo neutro. Em contrapartida, o
condicionamento operante faz com que o indivíduo controle suas ações através das
consequências.

Sigmund Freud: A teoria da Psicossexualidade

Freud descreve a formação da personalidade dos seres humanos como um


processo entrelaçado aos estágios psicossexuais, e como a criança passou por
cada um deles. Trata-se da teoria do Desenvolvimento Psicossexual. Visto que o
sexo é tido como tabu em muitas comunidades, suas proposições foram alvo de
polêmicas e controvérsias, ainda que seus levantamentos tenham aberto portas para
muitas teorias e compreensões globais da psicanálise.
Primeiramente, Freud se apropria dos nomes de Eros e Thanatos para
exemplificar as teorias das pulsões, que explica a formação psíquica de todos os
indivíduos. Correspondem, consequentemente, ao desejo erótico e à atração pela
morte, coexistindo simultaneamente. A pulsão de vida equivale a toda a demanda
interna que nos leva a buscar o prazer, a criar e a realizar projetos enquanto a
pulsão de morte obedece à demanda que nos conduz à busca pelo isolamento, pela
estagnação e pelos atos de destruição e morte. Nessa perspectiva, o princípio do
prazer pode ser entendido como um motor para a pulsão de vida, e age atenuando
situações dolorosas, fazendo que o ser humano aja desde o princípio da vida. Em
contraste, os indivíduos melancólicos tendem a evocar repetidamente situações de
dor extrema, de modo que se para o indivíduo neurótico o princípio do prazer busca
amenizar ou zerar o desprazer, para o psicótico maníaco-depressivo, o princípio de
morte cumprirá a mesma função.
Outrossim, Freud divide o desenvolvimento psicossexual em fases. Passar
por todas de maneira natural e respeitosa contribuirá, segundo ele, para o
desenvolvimento de um adulto psicologicamente saudável. Na fase oral, que vai do
nascimento ao primeiro ano, a boca é representada como uma zona erógena, que
recebe muita atenção do bebê — pois o ato da sucção e de se alimentar traz prazer
para a criança e, logo, é essa a razão pela qual ela está constantemente buscando
estimulação oral. Por conta dos cuidados que possui nessa fase, o bebê também
descobre nela os sentimentos de conforto e proteção.
Na fase anal, que ocorre do primeiro ao terceiro ano, a estimulação passa da
boca para o ato de controlar necessidades fisiológicas na fase anal. No entanto,
apesar dessa nomenclatura, o ato de controlar a micção também causa estimulação.
Os sentimentos desenvolvidos são de independência, uma vez que a criança vai se
tornando capaz de obter controle sobre certos aspectos corporais pela primeira vez.
Dessarte, essa habilidade deve ser estimulada pelos pais, que precisam ter cuidado
para não reprimir os erros e focar nos acertos, reforçando positivamente a
experiência.
Na fase fálica, dos 3 aos 6 anos, as crianças começam a perceber as
diferenças entre homem e mulher. Também é esta a fase em que se observa um
outro aspecto da famosa teoria freudiana: o Complexo de Édipo.
Édipo Rei é um personagem da mitologia grega e tragédia escrita por volta de
427 a.C., pelo dramaturgo Sófocles (496-406 a.C.). Na lenda grega, Édipo, filho de
Laio e Jocasta, era o rei de Tebas, a cidade que fora assolada por uma peste. Ao
consultar o oráculo de Delfos, ele descobriu que foi amaldiçoado pelos deuses:
estava destinado a casa com sua mãe, com quem teve dois filhos e duas filhas, e
matar o próprio pai, o rei que governava a cidade antes dele.
Sua mãe-mulher se enforcou após saber a verdade e Édipo, envergonhado de
seus atos, perfurou os próprios olhos. No entanto, logo após o nascimento do filho,
Laio já havia sido avisado pelo oráculo desta mesma maldição. Depois que Édipo
nasce, ele se arrepende e pede para um de seus servos abandonar o bebê no
Monte Citerão com os pés amarrados em uma árvore. Entretanto, o menino fora
encontrado por um pastor e sobreviveu, sendo adotado pelo rei de Corinto Pólibo,
que o considerou seu próprio filho. Já adulto, Édipo abandona Corinto e vai a Tebas
consultar o oráculo, sendo avisado de sua maldição.
Desconsolado, segue em direção à cidade e, no meio de sua jornada, mata o
pai por uma discussão que tiveram numa encruzilhada e encontra a Esfinge — ser
mitológico metade leão e metade mulher — na porta da cidade de Tebas. A Esfinge,
que aterrorizava grande parte do povo tebano com seus enigmas, pois quem não
adivinhasse era devorado por ela. Todavia, Édipo acerta a pergunta feita por ela e,
por fim, acaba se matando. Foi assim que ele se tornou um herói e, por conseguinte,
foi eleito o novo Rei de Tebas.
Retomando a tese de Freud, ele descreve uma comparação com a história de
Édipo porque o menino começa a ter uma rivalidade com o pai nesta idade. Assim,
desejaria substituí-lo na relação com a mãe. Ao mesmo tempo, teme a punição no
caso de o pai descobrir que ele está querendo substituí-lo. No caso das meninas,
Freud diz que há uma inveja do pênis, tendo tida como contraditória. Nessa fase, as
meninas se sentiriam ressentidas por não terem um pênis. Assim sendo,
sentiriam-se “castradas” e ansiosas por não terem nascido como um homem.
Na fase de latência, que vai dos 6 anos à puberdade, o foco não são as zonas
erógenas, mas sim o desenvolvimento social, criação de laços e convivência em
sociedade. Assim, há uma repressão na energia sexual, que continua a existir,
porém deixa de ser um foco. Nesse contexto, ficar preso nessa fase pode fazer com
que o adulto não saiba se relacionar de forma satisfatória com outras pessoas.
Na fase genital, que vai da puberdade ao fim da vida, passa-se a ter a
vontade de se relacionar sexualmente com outras pessoas. Assim, se o indivíduo
passou por todas as fases de forma adequada, chegará na última sabendo ter
equilíbrio em diversas áreas da vida.
Além disso, na psicanálise, costuma-se associar os problemas, transtornos ou
dilemas das pessoas adultas a uma fase do desenvolvimento sexual infantil. Por
exemplo, um adulto que fuma/bebe em excesso poderia estar fixado na fase oral,
por ser uma fase do desenvolvimento em que a criança sente prazer na sucção. Da
mesma forma, um adulto muito controlador ou que tenha dificuldade em
desapegar-se estaria fixado na fase anal, por ser uma fase em que a criança
descobre que consegue reter as fezes e isso lhe possibilita prazer e descoberta de
controle sobre o tempo e o seu corpo. Pode ser que ocorra algum evento traumático
ou uma sequência de fatos turbulentos em uma fase e isso “fixe” uma pessoa a essa
fase. Porém, às vezes é complicado este apontamento, por serem memórias de uma
idade que é de difícil recuperação — ou seja, é fácil imaginar ou levar o analista a
interpretar de forma exagerada.
Por fim, nada impede uma pessoa de demonstrar traços relacionados a mais
de uma fase, por exemplo, uma pessoa pode ser fumante compulsiva e ser
controladora ao mesmo tempo. O analista pode trabalhar esses traços como
aspectos da personalidade e trabalhar isso durante as sessões, sem
necessariamente buscar um evento único ou uma série de eventos que se liguem a
determinada fase.

Referências Bibliográficas
BOCK, Ana Maria. Psicologias. Uma introdução ao estudo de psicologia. São
Paulo: Saraiva, 2004. Págs. 50-57.
Desenvolvimento psicossexual. Psicanálise Clínica. Disponível em:
https://www.psicanaliseclinica.com/desenvolvimento-psicossexual/#:~:text=Sigmund
%20Freud%2C%20o%20pai%20da,da%20teoria%20do%20Desenvolvimento%20Ps
icossexual. Acesso em 22 de março de 2022.
DIANA, Daniela. Édipo Rei. Toda Matéria. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/edipo-rei/ Acesso em 21 de março de 2022.
PIAGET, Jean. Psicologia da inteligência. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1958.
págs. 83-92.
PIMENTA, Tatiana. Behaviorismo: guia completo sobre a Psicologia
Comportamental. Vittude. Disponível em:
https://www.vittude.com/blog/behaviorismo/#:~:text=Behaviorismo%20%C3%A9%20
uma%20teoria%20psicol%C3%B3gica,%2C%20percep%C3%A7%C3%A3o%2C%2
0emo%C3%A7%C3%A3o%20e%20 sentimentos. Acesso em 23 de março de 2022.
SERPA, Flávia Valéria Salviano Serpa. Entre Eros e Thanatos. Letras & Ideias.
Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/letraseideias/article/view/48875
Acesso em 22 de março de 2022.
Universidade Federal de Sergipe
Centro de Educação em Ciências Humanas — CECH
Departamento de Psicologia

PSIC0094 - INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM

Revisão Bibliográfica: Depressão: complexidade, história e contexto


pós-pandêmico na Psicanálise.

Turma 19 - Período 2021.2

Fillipe Silva Santos


Mariana Xisto Lima

Profa. Dra. Elza Francisca Correa Cunha

São Cristóvão
Maio de 2022
1. Resumo
Alvo de estigmas e inferiorizada na sociedade, a depressão é um transtorno
psicológico que acomete não apenas a vítima, mas todos os entes queridos e
pessoas ao redor dela. Com o objetivo de discutir a história, visões psicanalíticas e
contexto pós-pandêmico desta doença, realizou-se uma revisão bibliográfica
analisando produções diversas sobre o tema. Os artigos mostraram que o fenômeno
da pandemia teve grande potencial no aumento de casos de depressão e
adoecimento psíquico generalizado da população, sobretudo por ressignificar a
relação da sociedade com as redes sociais. Os trabalhos corroboram, ainda, a
aplicação da Psicanálise na compreensão ampla desta patologia, suas causalidades
e tratamento. A revisão da literatura indica, enfim, que não apenas fatores
hereditários, mas ambientais, impactam no desenvolvimento e/ou agravamento da
depressão nos indivíduos. Conclui-se que é de suma importância compreender a
complexidade da depressão e analisar todo o histórico e dia a dia do paciente, a fim
de obter acurácia no diagnóstico e um tratamento mais humano, realista e eficaz.

2. Palavras-chave
Depressão, Psicanálise, COVID-19, Behaviorismo, Luto, Melancolia,
Contemporâneo, Sociedade, Ambiente.

3. Abstract
Depression is a psychological disorder that affects not only the victim, but all
the loved ones and people around them. In order to discuss the history,
psychoanalytic views, and post-pandemic context of this disease, a literature review
was carried out analyzing diverse productions on the subject. The articles showed
that the pandemic phenomenon had a great potential to increase the number of
cases of depression and generalized psychic illness in the population, mainly by
giving new meaning to society's relationship with social networks. The studies also
corroborate the application of Psychoanalysis in the broad understanding of this
pathology, its causes and treatment. The literature review indicates, finally, that not
only hereditary but also environmental factors have an impact on the development
and/or aggravation of depression in individuals. It is concluded that it is of utmost
importance to understand the complexity of depression and to analyze the patient's
entire history and daily life in order to obtain accuracy in the diagnosis and a more
human, realistic, and effective treatment.

4. Keywords
Depression, Psychoanalysis, COVID-19, Behaviorism, Grief, Melancholy,
Contemporary, Society, Environment.

5. Introdução
A depressão caracteriza-se pela perda ou diminuição de interesse e prazer
pela vida, gerando angústia e prostração, algumas vezes sem um motivo evidente.
Hodiernamente, é considerada a quarta principal causa de incapacitação, segundo a
Organização Mundial da Saúde.
Apesar de ser mais comum em mulheres, este transtorno psiquiátrico atinge
pessoas de qualquer idade, e exige não só avaliação profissional, como tratamento.
O desânimo sem fim é fruto de desequilíbrios na bioquímica cerebral como a
diminuição na oferta de neurotransmissores que regulam o humor, a exemplo da
serotonina, ligada à sensação de bem-estar.
Outrossim, sabe-se atualmente que a depressão não promove apenas uma
sensação de infelicidade crônica, mas incita alterações fisiológicas como baixas no
sistema imune e o aumento de processos inflamatórios. Por essas e outras
complicações, figura-se como um fator de risco para outras condições de saúde,
como as doenças cardiovasculares.
Alguns sinais e sintomas incluem: cansaço extremo, fraqueza, irritabilidade,
angústia, ansiedade exacerbada, baixa autoestima, insônia, falta de interesse por
atividades que costumavam ser prazerosas, pensamentos pessimistas e/ou suicidas,
comportamentos compulsivos, dificuldade para se concentrar, disfunções sexuais e
sensação de impotência ou incapacidade para os afazeres do dia a dia.
Ademais, os fatores de risco para o desenvolvimento da depressão são
histórico familiar, transtornos psiquiátricos correlatos, estresse crônico, ansiedade
crônica, disfunções hormonais, excesso de peso, sedentarismo e dieta desregrada,
vícios (cigarro, álcool e drogas ilícitas), uso excessivo de internet e redes sociais,
traumas físicos ou psicológicos, pancadas na cabeça, problemas cardíacos,
separação conjugal e enxaqueca crônica.
Aspectos históricos e contextuais da depressão
A humanidade caminha juntamente à tristeza, associada à efemeridade do ser
vivo no tempo. Dessarte, é um fenômeno psicossocial que peregrina com o homem
desde os tempos mais remotos, e não é exclusiva da sociedade contemporânea.
Carvalho e Assis (2016) afirmam que a tristeza é a própria dor do ser, sem
motivo ou acepção e sem probabilidade de compreensão. Uma dor que vem do
nada, simplesmente pelo fato de existir. Muitos especialistas já tentaram descrever e
até mesmo amenizar sua forma de ação no sujeito, dando-lhe outras definições,
como sombras sem fim, aperto no peito, tempestade e outras.
Vale destacar que, segundo Julien (2013), a sociedade contemporânea é
aversa a qualquer tipo de tristeza, pois tende-se a pensar que demonstra a fraqueza
do sujeito. Entretanto, na Grécia Antiga, a melancolia era vista como uma
característica de pessoas inteligentes que, por não suportarem os males da
sociedade da época, se afogavam em sentimentos tristes.

Já no período da Idade Média, quaisquer sentimentos ligados à tristeza,


como o sofrimento e o desespero, eram fortemente condenados pela Igreja
Católica, que pregava que os crentes deveriam ser felizes por saberem do
amor e da misericórdia divina. Se Deus amava os seus filhos e lhes
prometia o paraíso quando finda a vida, só havia espaço para tristeza se
esta fosse fruto de inspiração divina. (JULIEN, 2013, p. 60).

A esperança promovida pela fé traduzida pelos dogmas da Igreja trazia uma


espécie de conforto espiritual ao crente que, por sua vez, não podia fraquejar diante
das circunstâncias da vida, por mais angustiantes que fossem. Caso contrário, seria
um sinal de fraqueza ou dúvida de fé, conforme citado pela autora.
Entretanto, a partir do Renascimento, “a melancolia foi novamente pensada
como uma particularidade de pessoas cultas e reflexivas. Era tema das artes e da
literatura, comparecendo em peças de teatro, poesias, pinturas, romances, etc.”
(JULIEN, 2012, p. 61).
Assim, a tristeza deixou de ser um sentimento da moda entre os sujeitos da
elite pensante no início do século XVIII e voltou a ser combatida. Dessa vez, não foi
a crença e os dogmas da Igreja que travaram uma batalha com a tristeza. Pelo
contrário, coube ao racionalismo cartesiano pregar a promessa de felicidade
humana a partir da valorização da individualidade do sujeito.
Por fim, Julien (2013) corrobora que, no final do mesmo século, a tristeza
retornou ao protagonismo com o Romantismo, pois se tratava de um sentimento
norteador da beleza e, sobretudo, da nobreza do ser humano. Nesse período, a
melancolia passou a ser estudada pela categoria médica da psiquiatria, sendo
rebatizada pelos especialistas da época como depressão.
Apesar de não existir equivalência consensual dos termos na comunidade
psicanalítica, é importante destacar que a Psicanálise considera a depressão como
uma manifestação atenuada da melancolia, sendo a primeira uma patologia
presente nas estruturas neuróticas e a segunda uma patologia ligada às psicoses ou
neuroses narcísicas (JULIEN, 2013).
Na atualidade, uma causalidade descrita por Carvalho e Assis (2016) é o
individualismo associado ao culto à imagem e excesso de ações da
contemporaneidade, que impede que o sujeito vivencie suas experiências de
maneira tranquila e provoca um vazio existencial que contribui para o
desenvolvimento de transtornos depressivos. Desse modo, o sujeito se queixa cada
vez mais do vazio e sua existência parece não fazer sentido. Diante do vazio
existencial, o sujeito pode desenvolver patologias psiquiátricas, o que justifica que a
depressão tenha se tornado um dos maiores males da sociedade atual.

Atualmente, “não há mais tempo para refletir, relembrar, rememorar, assim


como também não há mais espaço para a dor, o sofrimento e a angústia. O
indivíduo é convidado o tempo todo a reagir rapidamente às experiências de
perda […]” (MENDES; VIANA; BARA, 2014, p. 427).

Portanto, para compreender a depressão a partir da perspectiva da


Psicanálise, é necessário discutir não apenas a sua história, mas a contextualização
dela nos dias atuais, considerando o aumento de diagnósticos e adoecimento
psíquico da sociedade: a depressão se tornou, indubitavelmente, o mal do século
XXI.

5.1 A pandemia e a frequência de sintomas depressivos em brasileiros


Em 2019, a descoberta da COVID-19, doença infecciosa causada por um
novo espécime de coronavírus, o SARS-CoV-2, causou uma reviravolta no modo de
vida da população não só no Brasil, mas no mundo inteiro.
Segundo Zheng Z., et al. (2020), a maioria das pessoas infectadas pelo novo
agente infeccioso experimentaria, hipoteticamente, uma doença respiratória leve a
moderada, recuperando-se sem a necessidade de tratamento especial. No entanto,
alguns grupos de risco como idosos e pessoas com problemas médicos subjacentes
— doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias crônicas e câncer —
eram mais propícios a desenvolver a forma mais grave da doença.
Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou
emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII), o nível mais alto
de alerta da organização, e em 11 de março de 2020 caracterizou essa nova doença
como uma pandemia, quando ela já estava presente em 114 países. No Brasil, o
primeiro caso registrado da nova doença aconteceu em 29 de fevereiro de 2020 e,
até 23 de maio de 2020, foram registradas 22.013 mortes e 347.398 casos
diagnosticados.
O medo e a ansiedade sobre uma doença podem causar emoções fortes em
adultos e crianças. Entre as pessoas que podem responder mais fortemente ao
estresse de uma crise estão incluídos grupos de idosos e pessoas com doenças
crônicas, que apresentam maior risco de agravamento da COVID-19.
Acrescentam-se crianças e adolescentes, pessoas que estão ajudando na resposta
à pandemia, como médicos e outros profissionais de saúde ou socorristas e pessoas
com problemas de saúde mental, incluindo problemas com o uso de substâncias.
Outros fatores que atingiram a população inteira incluem o isolamento social,
instabilidade econômica no mundo inteiro, aumento das taxas de desemprego,
políticas públicas ineficazes na gestão da pandemia, sobretudo no Brasil, morte de
conhecidos, amigos e familiares e sensação de impotência, além da impossibilidade
de manter o convívio social com entes queridos que não habitam o mesmo lar, por
questões sanitárias. Além disso, a carga de trabalho remoto, dificuldades no trabalho
e estudo à distância e diminuição de acesso ao lazer também são fatores que
atingem diretamente a saúde mental, agravando sintomas de transtornos
psiquiátricos.
O presente trabalho objetiva relacionar a depressão no pós-pandemia com a
conceituação psicanalítica dessa patologia, além de fatores importantes no ambiente
e na sintomatologia deste transtorno e seus impactos no tratamento e sociedade
contemporânea.
6. Revisão da literatura e Discussões

6.1 A depressão em diferentes óticas

Com o objetivo de oferecer um tratamento mais específico a cada indivíduo,


em vez de tratar todos a esmo, é preciso levar em consideração os diferentes níveis
de manifestação da depressão e as individualidades de cada um, analisando-o de
maneira multidisciplinar e em profundidade.
Na perspectiva da Psiquiatria, a depressão é categorizada pela APA
(American Psychiatric Association – APA) em seu Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-IV) em um item denominado Transtornos do Humor.
Ainda segundo esse tópico a depressão se subdivide em Transtornos Depressivos,
Episódios Depressivos, Transtorno Distímico,Transtorno Ciclotímico e Transtorno
Bipolar I e II. Ademais, sob o ponto de vista da medicina, a depressão é
caracterizada pelo CID-10 como:

[…] estados de rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da


atividade. A perda de interesse, a diminuição da capacidade de
concentração, fadiga mesmo após um esforço mínimo, problemas do sono e
diminuição do apetite são os sintomas principais dos Episódios Depressivos.
(QUINTELLA, 2010, p. 86).

A Psicologia ainda não apresenta um modelo explicativo definitivo a respeito


da depressão, como explicam Ferreira e Tourinho (2011, p. 22). Ainda assim, é
crucial que em quaisquer explicações analíticas sobre o comportamento depressivo
entenda-se que este é um fenômeno complexo, podendo envolver várias relações
comportamentais em diferentes níveis de complexidade.
Outrossim, um ponto comum entre as interpretações da problemática é que
não é possível atribuir uma única causa para a depressão. Logo, deve-se considerar
que a depressão não é consequência de um fator isolado, mas sim, está atada a
uma série de fatores como os biológicos, históricos, ambientais, culturais e
psicológicos.

6.2. A depressão segundo a ótica da psicanálise e a interferência do ambiente

Sumariamente, é importante destacar que a Análise do Comportamento


Behaviorista entende a depressão como um produto da interação do indivíduo com o
ambiente. Dessa forma, a concepção de doença é deixada de lado e volta-se para
as interações entre indivíduo/ambiente, tornando-se fundamental conhecer as
variáveis dos comportamentos observadas em indivíduos deprimidos (BUENO e
BRITTO, 2014).
Para a Análise do Comportamento, o mundo que tem função para o
comportamento é principalmente o mundo que é produto da ação humana, e as
funções das ações humanas realizam-se apenas no contexto das relações com o
ambiente. Assim, vale destacar que o homem não é um ser passivo para a Análise
do Comportamento. Contudo, as ações do homem não podem ser explicadas sem
conectá-las ao ambiente a sua volta (TOURINHO, 2006). Dessarte, a compreensão
da depressão, depende, conforme apontado pelos analistas do comportamento, de
fatores como a investigação das alterações comportamentais e a identificação de
suas variáveis antecedentes e consequentes. Sendo assim, só é possível entender a
depressão a partir do reconhecimento das contingências que se instalaram e que
mantêm aquele padrão de comportamento (BUENO e BRITTO, 2014).
Além disso, para começar a enxergar a depressão como um fenômeno
complexo e multifacetado é necessário deixar ideias estigmatizadas de lado, como a
atribuição de características pré-definidas e invariáveis, na medida em que pode
incluir uma ampla gama de relações de diferentes graus de complexidade
(FERREIRA e TOURINHO, 2011, p. 33).
Ao relacionar Psicanálise e depressão, é necessário ter em mente que para a
Psicanálise os sintomas não remetem simplesmente a doenças específicas, a julgar
que não revelam a verdade oculta por trás da enfermidade. Então, embora eles
representem, sim, uma verdade que está camuflada, ela se amplia muito além da
mera doença física e/ou orgânica, ou seja, é necessário descobrir o que a verdade
do inconsciente quer nos revelar.
Não obstante, mesmo que Freud tenha tentado descrever a depressão, é
válido recordar que a Psicanálise não traz uma teoria propriamente dita sobre tal
fenômeno. O autor simplesmente “reservou” o termo que hoje usamos como
depressão para uma manifestação neurótica, com caráter de defesa do sujeito,
enquanto a melancolia propriamente dita, Freud emprega para um quadro psicótico”
(MOHR, 2013, p. 189). Para Freud, a depressão revela-se como uma condição de
desamparo da qual tentamos nos proteger criando uma rede ampla de vínculos
sociais e ilusórios que damos o nome de sentido da vida, entretanto raramente se
sabe o que isso significa.

[…] a psicanálise … não reprova a depressão, como o conjunto atual de


nossa sociedade faz. A psicanálise concede, desde Freud, sua margem de
razão ao sujeito deprimido, na medida em que reconhece o valor de
verdade que seu sofrimento revela enquanto condição de desamparo que
nos é inerente. Afora isso, a experiência analítica produz invariavelmente,
sobre o paciente, o afeto de tristeza resultante do luto que ela provoca ao
fazer tombar os ideais em que ele se alienava (Teixeira, 2008, pág 28).

Freud desde sempre indicou em pacientes diagnosticados com quadros


depressivos que caracterizam a perda da vontade de viver, tais como abatimento,
apatia, desânimo, desesperança, desinteresse, indiferença, prostração e tristeza.
Parafraseando Fortes (2009, p. 1126): “onde há sofrimento psíquico há lugar para a
escuta do psicanalista”. Por conseguinte, a psicanálise segundo Cieluck (2016, p.
26-27) possibilita ressignificar o próprio sofrimento através da palavra, pois é através
da escuta de sua história de vida e da construção da sua subjetividade que se
possibilita o tratamento da depressão. O mundo contemporâneo preza por uma vida
regida por segurança e riscos mínimos buscando nos psicotrópicos a cura da
depressão.
Em suma, vale ainda ressaltar que na Psicanálise, a depressão tem
associação direta com a melancolia e com o luto. Em consonância com Mohr (2013),
a partir do momento que o sujeito perde um objeto, acontece por conseguinte um
desinteresse libidinal pelo mesmo. Dessa maneira, é preciso realizar um processo
de reinvestimento dessa libido perdida, porém, agora sem ligação com o objeto. é
notório ainda que os traços da melancolia são muito parecidos com o do luto o que
resulta numa confusão conceitual entre os fenômenos.

[…] Um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo


mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e
qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de autoestima a
ponto de encontrar expressão em auto recriminação e auto envilecimento,
culminando numa expectativa delirante de punição (FREUD, 1969, p. 250).
Ao contrário de uma pessoa com luto, o melancólico exibe uma extraordinária
diminuição da autoestima bem como de seu ego. No luto, o sentimento de vazio é
de acordo com o mundo externo e na melancolia, esse sentimento é refletido no
próprio ego (FREUD, 1969). Faz-se mister, termos consciência de que sofreremos
outros cortes indispensáveis e inevitáveis ao longo da vida (BION, 1977). Contudo,
Cassorla (1992) argumenta que alguns fatores socioculturais têm dificultado a
elaboração das perdas, tais como a negação da morte, o terror que ela inspira e a
falta de rituais que auxiliem na sua concepção. Ainda em consonância com Freud, o
luto é uma reação à perda, em vários sentidos, como a perda de um ente querido ou
até mesmo de sua liberdade.
Em adição, a situação pandêmica atuou privando os indivíduos de sua
liberdade em aspectos básicos, como a locomoção, convívio social, ida à escola ou
trabalho e participação física em espaços de convivência, o que representa um
grave problema que, aliado às redes sociais, tem impactos negativos na saúde
mental.
Outrossim, um dos maiores impactos da pandemia, sobretudo nos jovens, foi
o súbito e prolongado aumento da exposição às redes sociais. Sabe-se, por
exemplo, que já existem patologias associadas às redes, como o FOMO (Fear of
Missing Out), descrito como a constante exposição às redes por medo de, ao
ausentar-se, o indivíduo perca coisas importantes que acontecem no mundo, sua
comunidade, família ou amigos. Apesar de ser mais comum em adolescentes,
quanto maior a exposição, mais suscetível a pessoa se torna a desenvolver este
comportamento. Ademais, outros danos à saúde mental incluem comparação da
própria imagem às outras pessoas e consequente uso de ferramentas de alteração
de fotos, esgotamento emocional e físico devido à prolongada exposição às telas,
que desgastam não só os olhos, mas hiperestimulam o cérebro, e fadiga devido à
alta carga de informações disseminadas no mundo digital, que frequentemente
ultrapassam a nossa capacidade de processamento.
Silva e Silva (2017) afirmaram que o uso da internet todos os dias causa
conflitos familiares decorrentes da falta de diálogo, além disso, leva a relações
superficiais, dificuldades de aprendizagem, transtornos de ansiedade e déficit de
atenção.
“Na juventude, o uso da tecnologia pode tornar-se uma dependência, pois é
onde os pré julgamentos são realizados, onde os relacionamentos são
declarados e exibidos em público, diante de pessoas muitas vezes
desconhecidas. E sempre com o objetivo de alcançar o maior número de
“amigos” com status manipulados por outros indivíduos, buscando
incansavelmente obter o maior número de likes (curtidas) e comentários em
suas postagens nas redes sociais. Não obstante, muitas vezes, chegam a
excluir postagens por não alcançar um determinado público.” (SILVA, 2016)

O uso problemático de mídias sociais revela um ambiente onde jovens


chegam a agredir verbalmente pessoas com ideias e culturas diferentes das suas,
que posteriormente podem causar danos psicológicos a outrem. O bullying virtual, as
agressões verbais e as mensagens mal interpretadas podem influenciar em
mudanças de hábito, discórdias e até desestruturação de famílias que são alguns
dos fatores que aumentaram as taxas de quadros de depressão (LIN, 1973;
SAMPASA-KANYINGA; HAMILTON, 2015; BLACHNIO et al. 2015; RADOVIV et al.
2017).
Em síntese, é nítido que não só a alta exposição natural às telas, que ocorre
sobretudo nos pré-adolescentes e jovens, mas a migração das atividades para o
mundo digital, tem impactos fortemente relacionados ao desenvolvimento de
quadros clínicos psiquiátricos, com ênfase na depressão.

7. Considerações Finais
Em suma, é de importância inquestionável não só considerar, mas
compreender os fatores que permeiam transtornos psíquicos como a depressão. A
revisão da literatura aponta fatores hereditários e ambientais como principais pontos
a serem avaliados no diagnóstico e tratamento, ainda que se saiba que fatores
socioeconômicos e mundiais também oferecem perigo à integridade da saúde
mental. Por fim, conclui-se que é de suma importância compreender a depressão e
sua complexidade, a fim de analisar histórico, dia a dia e contexto do paciente para
que seja possível obter um diagnóstico preciso e fornecer um tratamento mais
humano e eficaz. Ainda, em consonância com a psicanálise, a depressão trata-se
de um estado de vazio, de ausência, correspondendo a um tempo parado expondo o
lugar e espaço, relacionada então ao luto e a uma grande melancolia. Infere-se,
portanto, que tudo isso atrelado à obrigação contemporânea reforçada pelas redes
sociais de ser feliz a qualquer custo priva o indivíduos do seu direito de lidar com as
perdas, as frustrações, os sofrimentos e as tristezas inerentes à vida humana além
de promoverem uma sensação falsa de felicidade.

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