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NA PSICOLOGIA
CIENTÍFICA
DECIFRANDO O MUNDO
Inércia Social
Curiosidade:O Moteda Ciência
FONTES DE CONHECIMENTO
Estabelecimentode Crenças
A NATUREZA DA EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA
O que É uma Teoria?
Indução e Dedução
Da Teoria à Hipótese
Avaliação das Teorias
Variáveis Intervenientes
Raposas e Porcos-Espinhos Transitando
pela Teoria Psicológica
A CIÊNCIA PSICOLÓGICA
A Psicologia e o Mundo Real
RESUMO
TERMOS-CHAVE
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
KANTOWITZ,
ROEDIGER
III E ELMES Capítulo 1 Explicaçãona Psicologia Científica 3
Pergunte a qualquer cientista como concebe o método científico e ele reagirá com uma
expvvssñoao Inestno tennpo solene e evasiva; solene porque julga que precisa ter uma
opinião; (Aasivaporque está pensando em como ocultar o fato dc que não possui opinião
a respeito para emitir. Caso escarnecessem dele, provavelmente murmuraria algo corno
"lndnçño"e "Estabelecimento das Leis da Natureza",mas se alguém que trabalhasse
conneçar a pensar já ter pus.sadoa ocasião de ele pedir uma licença. (P. B.
No entanto, o cientista profissional possui um forte desejo de levar adiante uma observação
até que exista uma explicação ou que um problema seja resolvido. Isso não ocorre tanto pelo
fato de os cientistasserem mais curiosos do que as demais pessoas, mas por eles estarem
dispostosa fazer muito mais para satisfazer sua curiosidade do que os que não são cientistas.
A relutância em tolerar questões não-resolvidas e problemas não-solucionados fez com que a
ciência desenvolvesse diversas técnicas para satisfazer a curiosidade, É a aplicação cuidadosa
dessas técnicas que distingue a curiosidade científica da curiosidade casual.
O ceticismo é o denominador comum de muitas dessas técnicas científicas. Ceticismo
é a crença filosóficade que a verdade de todo conhecimento é questionável.Portanto, toda
investigaçãoprecisa ser acompanhada por um questionamento pertinente. Nenhum fato
científicopode ser conhecido com 100%de certeza. Por exemplo, a engenharia de construção
de pontes é uma disciplinaprática originária de uma base científica em áreas como a física e a
metalurgia. A maioria das pessoas, quando atravessa uma ponte em um carro, não considera
efetivamenteque a ponte possa mir. É um fato conhecidoque as pontes com boa manu-
tenção são seguras. No entanto, uma ponte (GallopingGertie) em Tacoma, no estado de
Washington,miu de modo trágico por causa da oscilaçãoprovocada pelo vento. Esse aconte-
cimento gerou pesquisas adicionais sobre os efeitos de ventos fortes em pontes, o que resultou
a
na construção de pontes mais seguras. Muitas das ferramentas discutidas neste livro, como
estatística,permitem ao cientista cético avaliar a pertinência de seu questionamento.
Qual a utilidade da curiosidade científica? Qual a sua finalidade? Dissemos que os
psicólogostentam determinar por que as pessoas pensam e agem de uma certa maneira.
Vamos examinar com mais detalhes o que isso significa.
obteve dados antes de formar uma opinião, Por definição, o método da tenacidade recusa
considerar os dados, como faz o método a priori, Os fatos considerados nessas outras manei-
ras de estabelecer crenças normalmente não são obtidos por procedimentos sistemáticos.
por exemplo, a observação casual foi o "método" que conduziu à idéia de que o mundo era
plano e de que as rãs nasciam por geração espontânea na lama a cada primavera, conforme
Aristóteles acreditava.
A segunda vantagem da ciência é oferecer procedimentos para estabelecer a superio-
ridade de uma crença em relação a outra. Pessoas que possuem crenças diferentes encontra-
vãodificuldade para conciliar suas opiniões. A ciência suplanta esse problema. Em princípio,
toda pessoa pode fazer uma observação empírica, significando que os dados científicos
podem ser públicos e obtidos repetidamente. Por meio de observações públicas, novas cren-
ças são comparadas a crenças antigas, e estas são desprezadas, caso não se enquadrem nos
fatos empíricos. Isso não significaque todo cientista ponha imediatamente de lado conheci-
mentos ultrapassados e privilegie novas opiniões. Mudar crenças científicas geralmente é um
processo lento, porém, no final, as idéias incorretas são eliminadas. Observações empíricas
e públicas constituem a pedra angular do método científico porque fazem da ciência uma
iniciativaque se autocorrige.
que o valor de uma gorjeta deixadaem uma mesa de restaurante era inversamente
observou estavam à mesa. De modo similar, um núm
proporcional ao número de pessoas que a acreditar em Cristo nas cmzaclas ero
de pessoas passava
poporcionalmente maior
menorvs de Billy Graham do que nas maiores. Finalmente, os trabalhos de utané
sas detalhes neste livro, mostram que a disposição
Darley (1970),posteriormente discutidosem
encontra-se inversamente relacionada ao número de
das pessoas em ajudar em uma crise
de resultados pode ser incluído sob a noção
outras pessoas presentes. O padrão completo
que as pessoas sentem menor
de difusãode responsabilidade,a qual afirma
do que quando estão sozinhase, portanto
por suas própfias ações quando estão em um grupo emergência, de dar uma gorjeta maior
demonstram menor probabilidadede ajudar em uma uma certa precisão
e
preüsões com a respeito
assim por diante. A teoria de Latané também realiza
indivíduo. De fato, uma versãodes
do impacto da presença de outras pessoas nas ações de um
em termos de equações matemáticas.
teoria (Latané, 1981) apresenta suas pñncipais suposições
fatos em um padrão coerente
As teorias são elaboradas para organizar conceitos e
da teoria —organizaçãoe
e prever observaçõesadicionais.Algumasvezes, as duas funções
Infelizmente, a for_
previsão —são denominadas descrição e explicação, respectivamente,
mulação das atribuições da teoria dessa maneira leva, muitas vezes, a um questionamento
indutivas da ciência —uma
a respeito da superioridade relativa de abordagens dedutivas ou
discussão que a seção a seguir conclui ser infrutífera. De acordo com o cientista dedutivo,
indutivo defende-se
o cientista indutivo preocupa-se somente com a descrição. O cientista
dessa acusação contrapondo que descñção é explicação—se um psicólogo pudesse prevere
controlar corretamente todo comportamento baseando-se em conjuntos de resultadosorga-
nizados adequadamente, então ele também estaria explicando o comportamento. O argu-
mento é fútil porque ambas as visões estão corretas. Se todos os dados necessários estivessem
organizados de maneira adequada, previsões poderiam ser feitas sem o apoio de um conjunto
formal de proposições teóricas. Em virtude de todos os dados ainda não estarem adequada-
mente organizados, e talvez nunca estejam, as teorias são necessárias para suplantar a brecha
existente entre conhecimentoe ignorância.Lembre-se, contudo, de que as teoriasnunca
serão completas, porque todos os dados nunca estarão disponíveis. Portanto, simplesmente
reformulamos a discussão entre as visões indutiva e dedutiva a respeito de qual método con-
duzirá à verdade de modo mais rápido e seguro. Em última instância, descrição e explicação
podem ser equivalentes. Os dois termos descrevem o caminho seguido mais do que o resul-
tado teórico final. Para evitar essa armadilha, iremos nos referir às duas principais funções
da teoria como organização e previsão, em vez de descrição e explicação.
Indução e Dedução
Certos elementos básicos são partilhados por todas as abordagens da ciência. Os mais impor- -
tantes são os dados (observações empíricas) e a teoria (organização de conceitos que per
mitem a previsão de dados). A ciência necessita dos dados e da teoria e os utiliza, e a nossa
breve descrição das pesquisas sobre inércia social indica que ambos podem estar interligados
de um modo complexo. No entanto, na história da ciência, cientistas têm divergido a respeito
do que é mais importante e do que surge primeiro, Tentar decidir isso é um pouco como
tentar decidir se foi a galinha ou o ovo que surgiu primeiro. A ciência tenta compreender por
que os fenômenos operam do modo como o fazem e, conforme argumentaremos, a compre-
ensão envolve dados e teoria.
Embora Bacon reconhecesse a importância dos dados e da teoria, ele acreditavano
primado das observações empíricas; os cientistas modernos também enfatizam os dadose
encaram o progresso na ciência ocorrendo como a utilização de dados para obter uma teoria•
ROEDIGER
KANTOWITZ, III E ELMES Capítulo f Explicação na Psicologia Científica 9
TEORIA
Indução Dedução
DADOS
> FIGURA 1.1
ser
Uma teoria organiza e prevê dados. Por meio da dedução, observações específicas (dados) podem
previstas. Por meio da indução, os dados indicam princípios de organização (teorias).Esse relacionamento
circular indica que as teorias são esboços preliminaresde como os dados são organizados.
para
Tal método é um exemplo de indução, em que o raciocínio segue dos dados específicos
a teoria geral. O método inverso, que enfatiza a teoria que prevê os dados, é denominado
dedução; nesse caso, o raciocínio segue de uma teoria geral para os dados específicos (Figura
1.1). Em virtude de muitos cientistas e filósofos da ciência terem defendido o primado
de uma forma de raciocínio sobre a outra, examinaremos a indução e a dedução pormeno-
rizadamente. Como as observações empíricas distinguem a ciência dos outros modos de
estabelecer crenças, muitos têm argumentado que a indução deve ser a maneira pela qual a
ciência deveria operar. Conforme Harré (1983) afirma, "as observações e os resultados dos
experimentos são considerados 'dados' que proporcionam uma base segura e sólida para
a construção do frágil edifício do pensamento científico" (p. 6). No caso da inércia social, a
discussãoseria em torno de os fatos da inércia social originários da experimentação deter-
minarem a teoria da difusão de responsabilidade,
Um problema relacionado ao método puramente indutivo tem a ver com a finalidade
das observações empíricas. As observações científicas estão \inculadas às circunstâncias sob
as quais são feitas, significando que as leis ou teorias induzidas a partir delas também são
limitadas em escopo. Ex'perimentos subseqüentes em contextos diferentes podem sugerir
uma outra teoria ou modificações em uma existente e, portanto, nossas teorias induzidas na
base de observações específicas podem mudar (e geralmente mudam) quando outras obser-
vações são feitas. Isso, evidentemente, torna-se um problema somente se alguém adotar uma
visão autoritária das idéias e acreditar no apego persistente a uma teoria específica. Portanto,
as teorias induzidas das observações são idéias preliminares, não verdades finais, e as alte-
rações teóricas que ocorrem como resultado do trabalho empírico contínuo exemplificam a
natureza autocorretiva da ciência,
De acordo com a visão dedutiva, que enfatiza o primado da teoria, o aspecto científico
importante da pesquisa sobre inércia social é a orientação empfrica proporcionada pela teo-
ria formal da inércia social. Além disso, a teoria mais geral, a de difusão de responsabilidade,
oferece uma compreensão da inércia social, O método dedutivo tem muita consideração
por teorias bem-desenvolvidas. Observações casuais, teorias informais e dados ocupam uma
posição secundária em relação às teorias abrangentes que descrevem e prevêem um grande
número de observações.
10 Psicologia Experimental
Da Teoria à Hipótese
As teorias não podem ser testadas diretamente. Não existe um único experimento mágico
que provará se uma teoria é correta ou incorreta. Como alternativa, os cientistas conduzem
experimentos para testar hipóteses que procedem de uma teoria. Porém, o que são exata-
mente hipóteses científicas e de onde se originam?
12 Psicologia Experimental
Teoria
Generaiização
Generalização
Hipótese Hipótese
Experiência Diária
FIGURA 1.2
Variáveis Intervenientes
As teorias muitas vezes usam conceitos
que resumem os efeitos de diversas variáveis. As
veis serão discutidasem mais detalhes
noCapítulo 3. No momento, descreveremos resumi-
damente dois tipos diferentes de
variáveis. Variáveis independentes
são as manipuladas pelo
ROEDIGER
KANTOWITZ, III E ELMES Capítulo f Explicação na Psicologia Científica 15
FIGURA 1.3
Um conjunto de variáveis.
experimentador. Por exemplo, não permitir que os ratos bebam água durante várias horas
criaria uma variável independente denominada horas de privação. Variáveis dependentes
são as observadas pelo experimentador. Por exemplo, ele poderia observar quanta água um
rato bebe.
A ciência tenta explicar o mundo relacionando variáveis independentes e dependen-
tes. Variáveisintervenientes são conceitos abstratos que unem variáveis independentes às
variáveisdependentes. A gravidade é um conceito familiar que atinge essa meta, Ela pode
relacionaruma variávelindependente, os metros de altura de que um objeto é lançado, a
uma variável dependente, a velocidade do objeto quando atinge o solo. A gravidade também
resume os efeitos da altitude para todos os tipos de objetos. Ela explica as maçãs que caem,
bem como as bolas que caem no jogo de beisebol. A ciência progride quando um único con-
ceito, como o da gravidade, explica resultados em muitos ambientes distintos.
Miller (1959) explicou como uma única variável interveniente, a sede, organiza efi-
cientemente os resultados experimentais. A Figura 1.3 mostra um modo direto e indireto
para relacionar uma variável independente, as horas de privação, a uma variável dependente,
a taxa de pressões à barra. A variáveldependente é obtida colocando-seum rato em uma
pequena câmara, onde ele pode pressionaruma barra para obter água. O experimentador
observa a taxa (quantas pressões ocorrem por minuto) em que o rato pressiona a barra para
obter água. A relação direta usa somente uma seta para unir as horas de privação à taxa de
pressões à barra. Após realizar um experimento, poderíamos criar uma fórmula matemática
que relacione diretamente as horas de privação à taxa de pressões à barra. O método indire-
to na Figura 1.3 usa duas setas. A primeira seta relaciona as horas de privação à sede, uma
variávelinterveniente.A segunda seta relaciona a variávelinterveniente,a sede, à taxa de
pressõesà barra. Em virtude de o método indireto ser mais complexo,exigindouma seta
adicional, você poderia esperar que o cientista preferisse o método direto de explicação. De
fato, se a única meta científica fosse relacionar horas de privação à taxa de pressões à barra,
você estaria correto, porque a ciência prefere explicações simples a explicações complexas.
No entanto, conforme explicaremos, a meta científica é mais geral.
A Figura 1.4 relaciona duas variáveis independentes, as horas de privação e a dispo-
nibilidadede alimento seco, a duas variáveisdependentes, à taxa de pressões à barra e ao
volume de água ingerido. Na Figura 1.4, as explicações diretas e indiretas são igualmente
complexas.Cada uma requer quatro setas distintas.
A Figura 1.5 relaciona três vañáveis independentes, horas de privação, disponibilidade
de alimento seco e injeção salina (dar água ao rato por meio de um tubo inserido em seu
estômago), a três variáveis dependentes, taxa de pressões à barra, volume de água ingerido e
quantidade de quinino necessária para que o rato deixe de beber. Novamente são mostra-
das as explicaçõesdireta e indireta. Torna-se óbvio agora que o método indireto é menos
complicado.Ele requer seis setas distintas, ao passo que o método direto requer nove setas.
Experimental
'a
psicologi
16
Variáveis Dependentes
Interveniente
Variável Taxa de pressões à barra
Independentes
Variáwis
privaçao
Horas de
Volume de água ingerido
seco
de alimento Taxa de pressões à barra
Disponibilidade
privação sede
Horas de
Volume de água ingerido
de alimentoseco
Disponibilidade
FIGURA 1.4
de variáveis.
Dois conjuntos
Variáveis Dependentes
Interveniente
Variável
Independentes Taxa de pressões à barra
Variáveis
Horas de privação
beber
Quinino para parar de
Injeçáo salina
FIGURA 1.5
variáveis indep
Portanto, à medida que a ciênciatenta relacionar um número maior de
dentes e dependentes, as variáveisintervenientes tornam-se mais eficientes.
indepen
Existe ainda uma outra vantagem das variáveis intervenientes. A sede, I
variáveis depende
temente de como surge, deve exercer o mesmo efeito sobre todas as
KANTOWTTZ,
ROEDIGEA
III E ELMES Capítulo f Explicação na Psicologia Científica 17
A Psicologia e o MundoReal
possuem muitas razões para praticar
Os cientistas, em geral, e os psicólogos,em particular,
provar que a pesquisa em psicologa
sua profissão. Embora consideremos um tanto fácil
ressaltar que não consideramosessaa
efetivamente ajuda a humanidade, gostaríamos de
uma carreira de psicólogopesqui_
única, ou necessariamente a principal, justificativa para
simplesmente porque os consideram
sador. Muitos cientistas investigamcertos problemas
poderia afirmar que estuda
interessantes. Demonstramos toda a simpatia pelo colega que
É
gerbilos apenas porque esses animais provocam sua curiosidade. verdade que certos
estudos são feitos em animais por ser antiético ou impossível fazê-los em seres humanos
—por exemplo, estudos longitudinaisenvolvendo multidões, punição, drogas e assimpor
diante —,mas é igualmente verdadeiro que o comportamento dos animais é interessante
por si só.
A pesquisa científicafreqüentemente é divididaem duas categorias: básica e aplicada
A pesquisa aplicada tem por finalidade resolver um problema específico —por exemplo,
como curar o problema de urinar na cama —,ao passo que a pesquisa básica não possui
p
um alvo prático imediato. A pesquisa básica estabelece um conjunto de dados, explicações
teóricas e conceitos que podem ser utilizadospelo pesquisador que se dedica à ciênciaapli-
cada. Sem essa fonte, a pesquisa aplicadalogo se esgotaria e chegaria a ser interrompida,
a não ser que esses pesquisadorestivessemnecessidadede dedicar-se à pesquisabásica.
Decorre muito tempo para que um conceito desenvolvido pela pesquisa básica encontre
alguma aplicação útil na sociedade. Adams (1972) acompanhou cinco produtos socialmente
importantes para descobrir o impacto, caso houvesse, da pesquisa básica. Embora a pesquisa
básica representasse 70% dos eventos significativos, a pesquisa ocorreu 20 a 30 anos antesdo
uso final do produto. Esse grande intervalo de tempo obscurece o papel crucial da pesquisa
básica, fazendo com que muitas pessoas acreditem incorretamente que ela não é muitoútil
para a sociedade. É muito difícil afirmar qual pesquisa básica feita atualmente terá impacto
daqui a 30 anos. Porém, essa inabilidade para prever dificilmente significa que deveríamos
descontinuar a pesquisa básica.
Embora a maioria dos psicólogos experimentais fique satisfeita com um modelo
cientista-praticante,no qual a pesquisa aplicada baseia-se nos resultados da pesquisa
básica, tem ocorrido, mais recentemente, um impulso em direção a um sistema de duas
ROEDtGER
KANTOWTTZ, III E ELMES Capítulo 1 Explicação na Psicologia Científica 19
vias (Fishman e Neigher, 1982', Howell, 1994) quando a pesquisa básica e a aplicada
divergem. Sob uma perspectiva histórica (Bevan, 1980), essas duas abordagens da ciência
remontam a René Descartes e Francis Bacon. No modelo cartesiano, a ciência é um ente
básico cuja finalidade consiste em compreender a natureza. O modelo de Bacon promove
o objetivo da ciência como sendo o de melhorar o bem-estar humano, considerando que
os resultados úteis precedem a ampliação do conhecimento. No entanto, alguns pesqui-
sadores argumentam que a dicotomia pesquisa básica/aplicadatem sido simplificada em
excesso ou representa uma diferença falsa (Pedhazur e Pedhazur Schmelkin, 1991). Por
exemplo, as definições de pesquisa básica e aplicada diferem consideravelmenteentre
os pesquisadores. Além disso, toda pesquisa científica é conduzida com a meta de obter
conhecimento. Nesse sentido, toda pesquisa pode ser considerada básica até certo grau.
De modo análogo, a maior parte das pesquisas possui algum valor prático. Portanto, a
distinção básica/aplicada pode ser mais bem considerada em termos menos discretos ou
como um continuum.
A redução das verbas oficiais para pesquisa, a qual teve início durante a administração
do presidente Reagan (Fishman e Neigher, 1982), e o corte mais recente dos fundos para
a pesquisa industrial (Yeager, 1996) sugerem que a sociedade americana voltou-se para o
modelo de Bacon. Os cientistas, que evidentemente se beneficiam com as verbas para pes-
quisa, têm tentado explicar as vantagens da pesquisa nos setores governamental e privado.
Por uma questão de necessidade, cientistas comportamentais têm se tornado mais ativos na
promoção da pesquisa oficial (National Advisory Mental Health Council Behavioral Science
Task Force, 1995). Yeager (1996) argumentou que, no setor privado, embora a indústria
possa calcular facilmente os custos da pesquisa a curto prazo, ainda não avaliou plenamente
os benefícios a longo prazo. Deixar de realizar a pesquisa industrial pode arruinar as prin-
cipais indústlias. Exemplos bem conhecidos são o declínio das indústrias automobilística
e de aço dos Estados Unidos por causa da inabilidade demonstrada para concorrer com a
avançada tecnologia japonesa nos anos 1980.
Fatores humanos (ver Capítulo 15) são uma área aplicada que tem crescido rapi-
damente. A maioria dos membros da Human Factors and Ergonomics Society formou-se
em psicologia. No entanto, um ex-editor da publicação da sociedade (Human Factors),
ele mesmo um psicólogo, julga que a disciplina de fatores humanos dentro de dez anos
será
mais uma profissão e menos uma ciência, particularmente uma ciência psico-
lógica Ela continuará a produzir pesquisas,porém de uma natureza cada vez
mais voltada a problemas específicos. O que continua a preocupar-me, no
entanto, é como uma disciplina cada cez mais profissional irá transpor a ponte
entre ciência e prática à medida que a abrangência da ciência tornar-se mais
ampla e o número de cientistas verdadeiros na disciplinaficar menor. (Howell,
1994, p. 5)
Devemos não só nos preocupar com os processos psicológicos que podem ser genera-
lizadosdo laboratólio para uma situação de aplicação, mas também ter consciência de duas
importantes razões para realizar pesquisas, cuja finalidade (ao menos inicialmente) pode não
estar diretamente relacionada a assuntos práticos (Mook, 1983). Uma razão pela qual a pes-
quisa básica ajuda a compreensão é que ela muitas vezes demonstra o que pode acontecer.
Desse modo, sob condições controladas, os cientistas podem determinar se efetivamente
ocorre a inércia social. Além disso, o laboratório permite uma oportunidade para determinar
as característicasda inércia social mais claramente do que o local de trabalho, onde alguns
fatoresincontroláveis, como salário e segurança de emprego, poderiam mascarar ou alterar
os efeitos da inércia social (ver Capítulo 3).
Uma segunda razão para o valor da pesquisa básica é que as descobertas feitas em
um ambiente de laboratório controlado podem ter mais peso do que descobertas similares
feitas em um contexto da vida real. Mostrar que o operador humano pode estar sobrecarre-
gado em uma tarefa de laboratório relativamente não-estressante sugere que os fatores da
atenção são cruciais para o desempenho; sob as condições estressantes de pilotar grandes
aviões de passageiros em espaços aéreos congestionados, as pessoas deveriam ficar ainda
mais sobrecarregadas.
Evidentemente, se um pesquisador deseja testar uma previsão teórica ou aplicar um
serão
resultado obtido no laboratório em um contexto aplicado, então os testes apropriados
reduzir
necessários.Conceber uma maneira para avaliar o desempenho indMdual, a fim de
primeiro testar sua
a inércia social em uma situação industrial envolvendoum grupo, sem
aplicabilidade nesse ambiente, seria imprudente. A conclusão,então, é que o pesquisador
pesquisador ou o avaliador de
precisa se preocupar com o objetivo de seus experimentos, O
nesse objetivo.
uma determinada pesquisa deveria prestar muita atenção
ser
Nem a prática nem a utilização da ciência são fáceis. Os benefícios que podem
dependem de cidadãos e cientistas
obtidos do conhecimento e da compreensão científicos
com a família e com temas
críticose bem-informados. Seu envolvimento com uma carreira,
científicas. Você precisa estar em
sociaisserá determinado parcialmente pelas descobeftas
e aceitar as que parecem mais con-
uma posição para avaliar precisamente essas descobertas
da sociedade de algum outro
fiáveise válidas. A não ser que planeje hibernar ou afastar-se
Como cidadão, você será um beneficiá-
modo, você será afetado pela pesquisa em psicologia.
esperamos que os assuntos discutidos neste
rio dos resultados da pesquisa em psicologia e
livro ajudem-no a torná-lo um consumidor inteligente,
alguns
Esperamos que alguns de vocês se tornem cientistas. Também esperamos que
pensam e agem de
cientistaspotenciais entre vocês focalizem o motivo pelo qual as pessoas
carreira científica será
determinada maneira. Desejamos boa sorte aos futuros cientistas. Sua
positivamente pelos
excitantee esperamos que seus empreendimentos sejam influenciados
princípiosda pesquisa em psicologia aqui apresentados.
22 Psicologia Experimental
RESUMO
3. Os cientistas usam os raciocínios
1. A psicologia científica preocupa-se com
e dedutivo para obter explicaçõesindutivo
os métodos e as técnicas usados para do
samento e da ação. pens
compmender por que as pessoas pensam
e agem de determinada maneira. Essa 4. Conjuntos de generalizações
produzcm
curiosidadepode ser satisfeitapela pes- um grande número de hipóteses.
quisa básica ou aplicada, que usualmente 5. Uma teoria organiza conjuntos de
operam juntas para proporcionar com- preüsões para
dadose
gem novas situações
preensão. nas
os dados ainda não foram obtidos.
2. Nossos conhecimentos muitas vezes são teoria é parcimoniosa e precisa, Uma%uas
pode
estabelecidos pelo método da autorida- testada e se ajusta aos dados que
de, pelo método da tenacidade ou pelo explica
6. A pesquisa em laboratório se
método a priori. O método científico ofe- com os processos que regempreocupa
recevantagens sobre esses outros métodos o com-
portamento e com a demonstração
por se apoiar na obsewação sistemática e das
condições sob as quais certos
ser autocon•etivo. proces-
sos psicológicos podem ser
observados.
> TERMOS-CHAVE
autocorretivo método da autoridade
dados
método da tenacidade
dedução
método empírico
descrição
observação
determinismo
organização
difusão de responsabilidade
parcimônia
experimentação
pesquisa aplicada
explicação
pesquisa básica
generalização
precisão
hipótese
previsão
indução
teoria
inércia social
testabilidade
método a priori
variáveisintewenientes
método científico
visão de falseabilidade