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MARINA GUIMARÃES DE LIMA

CARGA IMEDIATA SOBRE IMPLANTE UNITÁRIO:


REVISÃO DE LITERATURA E RELATO DE CASO

UBERLÂNDIA
2023

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MARINA GUIMARÃES DE LIMA

CARGA IMEDIATA SOBRE IMPLANTE UNITÁRIO:


REVISÃO DE LITERATURA E RELATO DE CASO

Monografia apresentada ao Grupo Avançado de


Prótese e Implantodontia - GAPI, como requisito
parcial para conclusão do Curso de Especialização
em Prótese Dentária.
Orientadora: Fernanda Victor

UBERLÂNDIA

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2023

FOLHA DE APROVAÇÃO

Grupo Avançado de Prótese e Implantodontia - GAPI

Monografia intitulada “Carga imediata sobre implante unitário: revisão de


literatura e relato de caso” de autoria de Marina Guimarães de Lima, aprovada
pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

__________________________________________
Prof. Fernanda Victor (Orientador)

__________________________________________
Prof. Dr. Bruno Haddad Paraventi

3
Uberlândia, 12 de Janeiro de 2023.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Fernando e Fátima, grandes apoiadores
da minha jornada na Odontologia e, principalmente, incansáveis na luta em me fazer
chegar à melhor versão de mim mesma.

E à Vovó Geni. A senhora está em meus pensamentos todos os dias.

Para sempre, te amo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, que lutam pela minha felicidade todos os dias. À
minha irmã Camila, por me sugerir seguir nesta área e me ajudar a encontrar meu
propósito na profissão. Aos meus avós, por me inspirarem a cuidar com carinho de
todos que passam pelas minhas mãos.

Agradeço ao Noyuke, pelo apoio incondicional e cuidado diário. Gratidão por


sempre estar ao meu lado, e por ajudar a construir um futuro em que eu possa me
orgulhar de quem eu sou e do trabalho que faço.

Agradeço aos professores GAPI, pelos ensinamentos e por ajudarem a


construir profissionais de excelência. Ao IQO e seus colaboradores, pela ajuda e
prestatividade no dia a dia da clínica. Em especial, gostaria de agradecer aos
professores Giovani Dacoreggio e Bruno Paraventi, que me inspiraram ao longo do
processo a ser uma dentista que vai além do óbvio, sendo eterna aprendiz em todas
as situações e através das pessoas que encontro ao longo do caminho.

Gratidão por confiarem nas minhas escolhas, e por me ajudarem a seguir


superando as expectativas.

“A grandeza do grão é a que me cabe.

A potência discreta e calada,


insuspeitada até, de uma colheita generosa.

A paciência e a resistência à adversidade,


guardando o segredo e a magia da vida.

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Aos Deuses e aos Mestres, peço que
semeiem nessa terra fértil, que é meu coração,
o poder da humildade, que constitui,
precisamente, a grandeza do grão.”

Lucia Helena Galvão

RESUMO

Por muito tempo, foi difundida a ideia de que o melhor procedimento aplicado
em reabilitações sobre implantes seria o de carga tardia, aguardando de 4 a 6
meses para instalação de próteses. Apesar de ainda ser amplamente utilizado,
atualmente temos recursos confiáveis para utilização da carga imediata em casos
específicos, principalmente em áreas estéticas, visando simplificar o procedimento,
reduzir o tempo de tratamento e o período de reparação. Inúmeras pesquisas e
descrições de técnicas visam aprimorar, cada vez mais, o resultado final das
próteses imediatas, aumentando a satisfação dos pacientes e otimizando o trabalho
dos profissionais da área. O presente artigo tem como objetivo apresentar uma
revisão de literatura e um caso clínico onde foi realizada carga imediata em
elemento unitário, mostrando sua aplicação e eficácia.

Palavras-chaves: Carga imediata em Implante; Implantes Dentários; Implante


Unitário; Prótese dentária.

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ABSTRACT

For a long time, the main idea was that the best procedure applied in
rehabilitations on implants would be the late loading procedure, waiting 4 to 6 months
for the installation of prostheses. Although it is still widely used, we currently have
reliable resources to use immediate loading in specific cases, mainly in aesthetic
areas, aiming to simplify the procedure, reduce treatment time and repair period.
Numerous surveys and descriptions of techniques aim to increasingly improve the
final result of immediate prostheses, increasing patient satisfaction and optimizing
the work of professionals in the area. This article aims to present a literature review
and a clinical case where immediate loading was performed on a single element,
showing its application and effectiveness.

Keywords: Immediate implant loading; Dental implants; Single Implant; Dental


prosthesis.

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SUMÁRIO

1. Introdução ___________________________________________ 09
2. Revisão de Literatura ___________________________________ 11
3. Materiais e Métodos ____________________________________ 21
4. Relato de Caso ________________________________________ 22
5. Discussão ____________________________________________ 25
6. Conclusão ____________________________________________ 28
7. Referências Bibliográficas________________________________ 29

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1 INTRODUÇÃO

A implantodontia se popularizou como uma nova alternativa para reabilitações


em áreas desdentadas, uma opção mais estética e funcional para os pacientes,
fazendo com que, ao sofrerem a perda de um dente, eles desejem sua restauração
de forma rápida e segura. A prática como vemos atualmente, com reabilitações de
arcos edentados totais inferiores, iniciou-se na década de 70 por Bränemark
(Bränemark et al., 1977) mostrando o sucesso da osseointegração. Porém, o ser
humano se preocupa em substituir os dentes perdidos desde muito antes, como
apresentado por estudos arqueológicos, que indicaram evidências de transplantes
entre indivíduos no período Medieval (1001 d.C. a 1800) até o período
Contemporâneo (1931 aos dias atuais), chegando em nas técnicas utilizadas hoje
em dia.

Para alta taxa de previsibilidade em osseointegração são necessários dois


fatores fundamentais, estabilidade primária e ausência de micro movimentação
(Albrektsson et al., 1981). Para garantir esse processo, o protocolo de Bränemark
envolvia duas etapas cirúrgicas: instalação dos implantes em um primeiro momento,
e após o período de 3 a 6 meses seria realizada a reabertura e instalação da
prótese. Durante anos, foi seguido esse protocolo cirúrgico, que preconizava a
manutenção do implante sem carga por um período, para que a osseointegração
fosse alcançada sem micromovimentos causados por forças funcionais em torno da
interface osso-implante, durante o período de cicatrização, que causariam a

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formação de tecido fibroso não desejado, interferindo no processo de
osseointegração que levaria à perda do implante. Mas, em 1990, Schnitman
publicou o primeiro estudo clínico sugerindo o possível sucesso de carregamento
imediato ou precoce dos implantes. Desde então, várias técnicas são
constantemente pesquisadas para evitar uma perda precoce dos implantes e
diminuir o tempo de cicatrização de ossseointegração.

Alguns dos critérios e limitações para a realização do implante de carga


imediata baseiam-se na qualidade do tecido ósseo, propriedades macroscópicas e
microscópicas do implante, estabilização biocortical, distribuição dos implantes e uso
cauteloso do cantiléver, componentes cirúrgicos e protéticos, próteses provisórias
sem contato oclusal em máxima intercuspidação funcional e sem contatos em
movimentos excursivos e confeccionadas em acrílico, próteses bem adaptadas aos
componentes protéticos, conexão rígida entre implantes através das infraestruturas
metálicas rígidas e bem resistentes e boa estabilidade oclusal para que os dentes
adjacentes recebam carga oclusal maior que o dente implantado. Já os pacientes
devem apresentar as características: não possuir risco sistêmico como defeito da
homeostase, doenças descontroladas, problemas psicológicos e/ou álcool ou de
abuso da nicotina, pacientes que sofreram diferentes tipos de enxertos ósseos, além
de outros fatores como a diabetes não controlada, dependência de vitamina D,
osteoporose, apresentar hábitos como bruxismo, má qualidade do tecido ósseo ou
quando o volume é insuficiente.

Novos protocolos vêm sido aplicados com o objetivo de encurtar o tempo de


tratamento, reduzir o número de intervenções e desconforto causado ao paciente em
ter de utilizar próteses provisórias, diminuindo o impacto psicológico sobre o
paciente e manutenção dos tecidos moles. Atualmente, micro movimentos de
pequena amplitude (menores que 150μm) vêm sendo considerados aceitáveis. O
carregamento imediato de implantes odontológicos tem sido definido como situação
na qual a prótese dentária é conectada ao implante, no mais tardar, 72 horas após a
cirurgia.

Diante da crescente busca por parte dos pesquisadores e pelos cirurgiões-


dentistas pela validação da carga imediata em implantes unitários como
procedimento padrão, o presente artigo tem como objetivo, por meio de uma revisão

10
atual de literatura, analisar as indicações para o uso da carga imediata sobre os
implantes dentário, sob uma perspectiva protética, funcional e estética.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Conforme o primeiro artigo publicado encontrado na pesquisa, de Gomes et al


(1998), os autores analisaram os aspectos clínicos do carregamento imediato de um
único implante revestimento de hidroxiapatita de raiz rosqueada. Este caso
descreveu um novo conceito cirúrgico e uma técnica para confecção de coroas
provisórias parafusadas para carga imediata de implantes unitários independentes.
Os autores concluíram que mais estudos clínicos e histológicos seriam necessários
para embasar a técnica e sua utilização na rotina clínica.
O artigo de Maiorana et al (2009) pesquisou cerca de 16 artigos
disponíveis para acesso integral com o objetivo embasar um caso clínico de
carregamento imediato de um implante dentário único, analisando estética e função
do procedimento. O caso de sucesso apresentava uma paciente, mulher,
caucasiana, com perda do dente anterior lateral, sendo realizada cirurgia de
instalação de implante e coroa provisória imediatamente após a cirurgia. A paciente
retornou após 5 meses de cicatrização, sem recessão de papilas ou tecidos moles
evidentes. Após avaliação, a coroa definitiva foi cimentada sobre o implante. A
paciente retornou para controle de 18 meses, apresentando leve recessão das
papilas medial e distal. A revisão destaca claramente que o uso de carga imediata
em implantes está bem documentado, e que as taxas de sobrevivência e sucesso

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são satisfatórias. No entanto, a maioria desses estudos não inclui os diferentes
parâmetros que podem influenciar o sucesso a longo prazo, como direção e força
oclusal, fixação do pilar, propriedades e condições ósseas nem sempre são
analisados.

O relato de caso de Youssef et al (2009) nos mostra caso de carga imediata em


dente posterior. O caso refere-se a um paciente do gênero masculino, 35 anos de
idade, com histórico de fratura do elemento 36. As raízes foram removidas e foi
realizado enxerto no alvéolo e espera de 6 meses. Depois do tempo recomendado,
foi feita instalação de um implante (4,3mm x 11 mm) e torque de 45 N.cm, seguido
por uma coroa temporária imediatamente. O sucesso da carga imediata pode estar
ligado à ausência de micromovimentações do implante recém colocado, à correta
seleção do paciente, ao planejamento, ao desenho do implante e ao torque final.

Jassé et al (2010) apresentou um estudo de revisão não sistemática da


literatura, no período entre 1981 a 2010, pesquisando tópicos relacionados a
implantes de carga imediata, sua função estética, comparações com a carga tardia,
o índice de sucesso da técnica e tratamento de superfície nos implantes. Chegou-se
à conclusão que, durante anos, foi seguido um protocolo cirúrgico que preconizava a
manutenção do implante sem carga por um determinado período para favorecer a
osseointegração. Porém, estudos recentes da época mostravam que a carga
imediata em implantes também promove formação de tecido ósseo peri-implantar ao
longo do tempo, assim como na carga convencional. Portanto, o estudo concluiu que
a técnica de carga imediata em implantes unitários se apresentou como uma
excelente alternativa de tratamento, restabelecendo a função estética imediata com
preservação de altura dos tecidos moles, e boa previsibilidade e altas taxas de
sucesso quando comparados com protocolo convencional.

Em revisão de literatura, Barros et al (2010) buscou estudos em carga imediata,


abordando as possibilidades de se restaurar imediatamente um implante unitário,
analisando os critérios para indicações, limitações, contraindicações, assim como os
aspectos estéticos e oclusais desta técnica. Concluiu que o sucesso da carga
imediata implantossuportada está relacionado com a satisfação do paciente devido à
diminuição do número de intervenções cirúrgicas, como também do tempo entre a
instalação do implante e a restauração protética final. Entretanto, este sucesso

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depende de alguns pré-requisitos que devem ser criteriosamente seguidos,
constatando a qualidade e quantidade óssea que permitam a estabilidade primária.
Este procedimento não deve ser considerado como substituto da técnica
convencional, mas a alternativa de tratamento para os casos em que os seus
princípios estejam bem indicados.

Bispo et al (2011) destaca em estudos na literatura que partir das décadas de 80 e


90, publicou-se casos clínicos e artigos referenciando à ativação imediata,
procurando diminuir o tempo de tratamento e proporcionar maior conforto aos
pacientes, atendendo à uma demanda de tempo além de suas expectativas.
Entretanto, os trabalhos iniciais realizavam fixações em desdentados totais, com
união dos implantes, procurando distribuir equitativamente as cargas oclusais. Com
o aumento do número de implantes e sua união, propunha-se minimizar as
micromovimentações sucessivas e aumento do risco de comprometer a interface
próxima ao titânio. Há discordância entre os autores quanto ao limite de
micromovimentação suscetível à formação de fibrose, tendo em vista que para uns,
a movimentação seria benéfica em sua função de estimular a microcirculação local,
com consequente neoformação e remodelação ósseas. Contudo, para outros, a
menor movimentação possível seria requerida, como forma de proteger a interface
de danos que prejudicassem a osseointegração.

Trento et al (2012) publicou um relato de caso também de um dente lateral


que apresentava fratura lateral com prognóstico bastante favorável, uma vez que a
prótese de coroa total já posicionada no dente não tinha sinais de sobrecontorno, e
que o nível de reabsorção óssea aparentemente não havia afetado o volume dos
tecidos, mostrando bom contorno gengival e presença de papilas bem posicionadas.
O volume ósseo vestibular também foi considerado, pois é ele o responsável pela
retenção de coágulo e suporte para tecido mole. Após a cirurgia de implante,
instalou-se a coroa provisória que ficou bem adaptada, mantendo a anatomia e o
contorno gengival anteriores à extração, dispensando o uso de suturas que
pudessem levar a retrações gengivais indesejáveis. Transcorridos 90 dias, o
paciente relatou estar satisfeito quanto a estética e função, e exames clínicos e
tomográficos indicaram a possibilidade de se instalar a prótese definitiva.

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O estudo de Pereira et al (2012) trouxe uma revisão completa da porção
cirúrgica necessária para a utilização da técnica de carregamento imediato,
abordando questões biológicas do processo de colocação do implante, conceitos
como a osteointegração e estabilidade primária, indicações, vantagens e
desvantagens do procedimento, objetivando analisar a viabilidade para os pacientes.
A autora afirma que a formação de uma interface osso-implante previsível é o
objetivo consistente em Implantodontia e estabelece através da pesquisa que a
carga imediata por si só não é uma contraindicação para que se obtenha uma
osteointegração bem sucedida, mas que é a micromovimentação do implante que
leva ao encapsulamento fibroso com ausência de osteointegração. Seus estudos
dizem que manter a estabilidade primária do implante é um pré-requisito essencial
para o sucesso clínico da carga imediata, o que inclui limitar os micromovimentos
entre o implante e os tecidos circundantes até 150µm e ter um valor entre 30-50N de
torque durante a inserção do implante. São fatores influenciadores as características
do paciente (saúde do paciente e as suas condições orais), técnica cirúrgica sendo a
mais atraumática possível, características da zona implantar (qualidade e
quantidade óssea), características do implante (tamanho, forma, material e
superfície do implante), e fatores relacionados com a oclusão.

Reafirmando os critérios e limitações da técnica, Bressan et al (2012) analisa


casos clínicos até aquele momento, concluindo que o sucesso da técnica está
relacionado com a diminuição do número de intervenções cirúrgicas, bem como o
atendimento de alguns pré-requisitos por parte do paciente. Nos casos estudados,
que vão de 1997 a 2009, os autores apresentam alta taxa de sucesso em um
número significativo de pacientes. Observou-se que a modalidade é altamente
viável, porém devem ser analisados critérios como: contatos oclusais mínimos ou
nenhum contato, eliminando movimentos cêntricos e excursivos; espera de seis
meses antes da fabricação da prótese definitiva; tamanho dos implantes instalados,
de preferência longos, com diâmetro mínimo de 4,1 mm e comprimento mínimo de
10 mm; padrão de oclusão que permitisse estabilidade bilateral; torque elevado;
local cirúrgico livre de infecção; quantidade óssea satisfatória. Em todos os trabalhos
analisados o sucesso da carga imediata foi significativo, contudo, fica claro que a
técnica exige cautela como a seleção criteriosa do caso clínico e planejamento
minucioso.
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Cavichioni et al (2012) também fez um levantamento bibliográfico com
objetivo de analisar as indicações e contraindicações da carga imediata em
implantes dentários unitários, bem como as vantagens que esta técnica pode
proporcionar. Foi possível comparar as taxas de sucesso alcançadas e fazer uma
analogia entre esta mesma taxa de sucesso e a respectiva região dos maxilares
onde o implante foi instalado. Foi dada ênfase no valor de torque mínimo ideal ao
qual o implante deve ser submetido na carga imediata e os valores de
remodelamento ósseo obtidos após a osteointegração. Observou que foi indicado
um torque mínimo de pelo menos 35 N cm na maioria dos estudos, variando em
poucos casos entre 25 e 27 N cm. Ressaltou também que estes estudos
apresentavam não só pacientes com perdas unitárias, mas também com perdas
parciais, e nestes casos o efeito benéfico da esplintagem deve ser considerado,
possibilitando talvez uma boa estabilização dos implantes mesmo em casos com
travamento inicial menor. Por fim, destacou que o paciente precisa mostrar-se
motivado e principalmente colaborador com o tratamento, sendo cuidadoso nos
meses seguintes até a prótese definitiva poder ser instalada com sucesso.

Em Nunes et al (2014), no Paraná, apresenta-se o caso de um paciente do


gênero masculino, 30 anos de idade, procurando tratamento odontológico para
tratamento do elemento 21. Observa-se que a utilização desse protocolo imediato é
majoritariamente aplicada em dentes anteriores que exigem máxima estética. Após
análise e constatação de viabilidade, optou-se pela técnica. Foram observados
alguns fatores essenciais para o sucesso do tratamento, dentre os quais a
manutenção da crista óssea proximal, fator essencial na determinação da futura
papila interproximal dos implantes. O volume ósseo vestibular também foi
considerado. Outra característica analisada foi a quantidade de mucosa
ceratinizada, que foi considerada satisfatória. Por fim, também foi feita uma
avaliação da linha de sorriso, da condição periodontal, papilas e mucosa adjacentes
aos dentes vizinhos. Foi escolhido implante 5.0 x 16mmm, acima do mínimo
recomendado.

Berberi et al (2014) publicou um estudo de vinte implantes que foram


colocados em 20 pacientes (8 homens e 12 mulheres), realizado em Beirute, no
Líbano. Após a extração não-cirúrgica atraumática do dente, todos os pacientes
receberam implantes imediatamente, e os pilares pré-fabricados definitivos
15
prontamente colocados. A posição do implante foi transferida para a unidade de
digitalização do sistema CAD/CAM usando os respectivos guias cirúrgicos. Coroas
provisórias foram imediatamente confeccionadas e parafusadas. Oito semanas
depois, as coroas definitivas foram cimentadas. Avaliações foram realizadas para
análise de preservação do implante e nível de osso marginal com 8 semanas, 1 e 3
anos após o carregamento. Todos os implantes colocados osseointegraram com
sucesso após 3 anos de carga funcional. A perda óssea marginal média foi de 0,16
mm em 8 semanas, 0,275 mm em 1 ano e 0,265 mm em 3 anos. Quatro dos 20
implantes não apresentaram perda óssea. Concluiu-se que colocar o pilar final no
mesmo dia da colocação do implante parece reduzir a perda de osso marginal,
permitindo uma melhor integração dos tecidos moles e aumentando resultados
estéticos.

Já no relato de Matiello et al (2015), feito no Rio Grande do Sul, uma paciente


do gênero feminino, 19 anos de idade, bom estado geral de saúde, apresentava
escurecimento e mobilidade no dente 21, devido ao trauma sofrido na região, em
2007. Em 2012, foi planejada a exodontia desse elemento, com instalação de
implante dentário com carga imediata, buscando a manutenção da saúde e estética
dos tecidos periodontais, além da função mastigatória e conforto da paciente. Os
resultados clínicos foram favoráveis e condizentes com a técnica utilizada. A altura
óssea e gengival foi preservada, resultando em estética favorável da prótese fixa
definitiva. Foi feito enxerto ósseo liofilizado na área da exodontia devido à amplitude
do alvéolo, sendo instalado implante do tipo Cone Morse com torque de 50 Newtons
e altura de 13.0 mm, quesitos indispensáveis para o prognóstico favorável. A prótese
definitiva foi instalada sete meses depois.

No caso apresentado por Ferreira et al (2016), onde a paciente tinha exigência


estética alta, optou-se pela indicação da técnica imediata, realizando exodontia do
remanescente radicular do elemento 15, juntamente com instalação de implante
imediato e confecção de provisório. O implante de escolha foi o cônico HE com
diâmetro 4,3mm e comprimento de 11,5mm e o travamento foi realizado com torque
de 40 Ncm, com boa estabilidade primária. O provisório teve o perfil de emergência
baseado na linha marginal gengival, e foi feito em infra oclusão evitando esforços
prematuros no implante. A paciente retornou com três meses após a cirurgia,

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quando foi avaliado o ótimo condicionamento gengival e possibilidade de iniciar a
moldagem para prótese definitiva.

Em Lisboa, Portugal, o estudo de Stanley et al (2017) nos mostra uma


pesquisa com 34 pacientes, em que 43 elementos receberam implantes e carga
imediata. Foram recrutados pacientes com espaços de um a quatro dentes nas
áreas anteriores da maxila (incisivos, caninos e primeiros e segundos pré-molares),
com bom estado de saúde sistêmica, boa higiene oral, maiores de 18 anos, com
dentição na arcada oposta e que poderiam participar do estudo de
acompanhamento, comparecimento todos os exames/controles periódicos anuais.
Os implantes utilizados tinham diferentes comprimentos (7,0, 8,5, 10,0, 11,5, 13,0 e
15,0 mm) e diâmetros (3,5, 4,0, 4,5, 5,0, 5,5 e 6,0 mm). Todos os pacientes foram
chamados de volta em 1 semana, para controle e retirada das suturas (se presente).
As coroas provisórias permaneceram em boca por um período de 3 a 4 meses,
depois disso eles foram substituídos pelo próteses definitivas de cerâmica (cerâmica
de zircônia) que foram cimentadas. Todos os pacientes foram então acompanhados,
com visitas a cada 4 meses, durante 1 ano após a entrega das coroas definitivas. No
final, apenas dois implantes (2/43: 4,6%) não apresentaram fixação primária e,
portanto, foram considerados falhos para o carregamento imediato. Eles
permaneceram com os pilares de cicatrização em posição, por um período de 3
meses; após esse período, foram carregados com sucesso com uma restauração
provisória. Ambos estes implantes eram pré-molares, colocados nos alvéolos de
extração de dois pacientes adultos diferentes (mulheres de 49 e 67 anos). Por outro
lado, 41 implantes (41/43: 95,4%) foram satisfatórios na colocação e, portanto, foram
carregados imediatamente. Um ano após a colocação das coroas definitivas,
nenhum implante falhou, para um total taxa de sobrevivência de 100% (43/43
implantes, 41/41 imediatamente implantes carregados em funções). Nenhuma
complicação biológica foi relatada. Houve a perda óssea marginal <1,5 mm em todos
os implantes. Ao longo do tempo, dois pilares protéticos (2/41: 4,8%) se soltaram,
em dois pré-molares. O afrouxamento do parafuso do pilar foi registrado com
complicação protética (mecânica), pois foi uma complicação que afetou os
componentes do implante. Os parafusos do pilar foram apertados novamente e
nenhuma outra complicação foi detectada.

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Raes et al (2018) estudou um grupo de seis centros clínicos na Itália,
resultando em uma coleta de quarenta e seis pacientes - 23 homens e 23 mulheres,
entre 18 e 73 anos – e 57 implantes instalados. Entre os critérios de inclusão estava
o de ter osso alveolar suficiente para inserir um implante com comprimento mínimo
de 10,0 mm e um diâmetro mínimo de 3,5 mm. A grande maioria dos implantes
(47/57, 82,5%) foram colocados em espaços cicatrizados, enquanto apenas 10
implantes (10/57, 17,5%) foram inseridos em alvéolos pós-extração. Os cirurgiões
não precisaram realizar procedimentos de regeneração óssea na maioria dos casos,
pois em apenas 15 implantes (26,3%) foi necessário cobrir áreas expostas e/ou
enxertar as áreas interproximais/bucais com um biomaterial devido à deficiência de
tecido duro. As próteses finais foram de metalocerâmica (52 casos, 91,2%) ou
zircônia-cerâmica (5 casos, 8,8%) coroas. Ao todo, cinco pacientes não puderam
comparecer ao programa de 4 anos visita de controle. Durante o primeiro período de
cicatrização, apenas um implante foi perdido, na maxila posterior (segundo pré-
molar, local cicatrizado) de uma mulher fumante de 48 anos. O implante que falhou
tinha 3,5 mm de diâmetro e 10,0 mm de comprimento e foi instalado em osso tipo III.
Isso aconteceu exatamente dois meses após a inserção e carga funcional imediata,
pois perdeu estabilidade, na ausência de infecção. Após 4 anos de carga funcional,
apenas um implante foi perdido; portanto, altas taxas de sobrevida (97,6% com base
no paciente; 98,1% baseados em implantes) foram relatados.

Em São Paulo, Silva et al (2018) relatou o caso com carga imediata anterior
central. Foi utilizado um implante de 3,75mm de diâmetro x 13mm de altura, com
travamento de 40Ncm. A coroa provisória apresentou boa adaptação,
permanecendo em infraoclusão e mantendo a anatomia e o contorno gengival
prévios. Após 90 dias, realizou-se a moldagem para confecção da coroa definitiva.
Uma radiografia periapical 90 dias após a instalação do implante foi realizada,
observando-se uma osteointegração satisfatória e ausência de patologia peri-
implantar.

Queiroz et al (2018) fez um levantamento sobre o comportamento dos tecidos


peri-implantares quando utilizada carga imediata em implantes unitários na região
anterior de maxila, avaliando os parâmetros de altura da crista óssea, altura da
papila interdental e recessão gengival vestibular. Foi observado que existe uma
ligeira perda de papilas, recessão margem gengival e perda de osso independente
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da utilização de carga imediata e inerentes ao tempo, demonstrando que a imediata
é uma ótima alternativa para reabilitação em áreas estéticas anteriores quando
comparada a carga tardia, mas acompanhamentos a longos prazos são necessários
para verificar a influências destas duas alternativas no comportamento dos tecidos
peri-implantares. Em relação à técnica cirúrgica (com ou sem retalho) e o tipo de
fixação (cimentado ou de rosca), os artigos não apresentaram informações ou
avaliações que poderia ser utilizado para associar ou avaliar qualquer influência
sobre o comportamento de tecidos.

O estudo de Naciff et al (2018) trouxe a análise de que estabilidade primária


muitas vezes é influenciada pelo desenho e forma do implante. Os implantes quando
expostos, a uma força de cisalhamento podem estar sujeitos à fratura, que muitas
vezes não podem ser evitadas. A estabilidade primária do implante pode estar
diretamente ligada ao desenho e formato das roscas do implante e o consequente
sucesso da osseointegração. Os diferentes tipos do macro desenho dos implantes,
podem ser: cônico, cilíndrico ou trapezoidal e as roscas, que variam em: número,
profundidade, espessura e ângulo, aumentam a área de retenção e ajudam a
balancear a distribuição de carga biomecânica. Também foi constatado que são
fatores de risco que podem afetar a probabilidade dos resultados estéticos: linha do
sorriso alta, o que resulta em maior exposição de tecido gengival; biótipo gengival,
quantidade e qualidade de tecido ósseo, altura da crista óssea. Concluiu-se que a
utilização de implante com carga imediata mostra-se ser uma opção de reabilitação
bem promissora.

Em casos mais recentes de reabilitação oral com carregamento imediato,


vemos o caso apresentado por Veríssimo et al (2021), em Natal/RN, com paciente
com necessidade de intervenção cirúrgica elementos 14, 15 e 25. No planejamento
do elemento 14, que tinha um remanescente radicular, foi observado que havia
manutenção da crista óssea, volume ósseo vestibular, avaliação da linha do sorriso,
condição periodontal, papilas e mucosas adjacentes. Foi sugerido confecção de
provisório imediato em caso de torque do implante igual ou maior que 32N. Neste
caso, foi panejado e confeccionado um guia cirúrgico por prototipagem em
impressora 3D. Foi instalado implante Cone Morse de 3,5 mm x 10 mm com um
torque de 45N, e a realização do provisório imediato sobre munhão universal.
Posteriormente, uma resina bisacrílica foi inserida no molde de silicone e o conjunto
19
molde e resina levado em posição intraoral. Após a polimerização inicial da resina
bisacrílica, os excessos foram removidos com auxílio de uma sonda exploradora e
aguardou-se um total de 5 minutos para que se completasse a polimerização da
resina bisacrílica. No provisório foi adicionado resina composta Flow nas áreas com
bolhas para ajustes estéticos, seguida da remoção dos excessos, e do acabamento
e polimento utilizando maxicut e borrachas de polimento em peça reta. Por fim, foi
realizada cimentação provisória sem eugenol. Finalizando com o ajuste oclusal,
obtendo-se um resultado funcional e estético. Este estudo sugere a necessidade de
técnica de cirurgia guiada, e que a técnica de carga imediata anteriormente descrita
apresenta vantagens significativas.

Em recente estudo de revisão bibliográfica, feito por Rodrigues et al (2021),


com cerca de 30 publicações literárias sobre implantes dentários e carga imediata,
mais uma vez as questões levantadas durante este estudo foram esmiuçadas e
analisadas exaustivamente. Em sua grande maioria, comprovou-se o alto índice de
sucesso do procedimento, dadas as circunstâncias favoráveis para implementá-lo. A
constante prevalente nos trabalhos foi a constatação da necessidade de avaliação
rigorosa do caso, o planejamento integral de cada etapa do processo, execução
cirúrgica correta, o que resulta em prognósticos de excelência, preenchendo os
requisitos estéticos, funcionais e biológicos. Percebe-se que os implantes imediatos
nem sempre poderão ser executados, mas que são alternativas cabíveis em áreas
estéticas, proporcionando bem-estar psicológico, representando uma solução
reabilitadora para a perda de dente unitário anterior. Sendo a estética é um fator
importante, os implantes imediatos promovem a diminuição do período de
cicatrização e os tecidos duros e moles que os circundam, sendo importante
observar o biótipo gengival. O mais fino é mais susceptível à recessão gengival,
deiscência e fenestrações.

20
3 MATERIAIS E MÉTODOS

Tratou-se de uma revisão de literatura com relato de caso, com busca por
publicações científicas realizada entre novembro e dezembro de 2022, utilizando-se
as seguintes bases de dados: Scielo, Pubmed e Google Acadêmico. Foram
utilizados os termos “implantes dentários” e “carga imediata” isoladas ou
combinadas através de conectores “e” e “com”, sem período de publicação definido.

21
Foram estabelecidos como critérios de inclusão: artigos científicos, dissertações e
trabalhos de conclusão de curso publicados nos idiomas português e inglês,
disponíveis em formato completo. Foram critérios de exclusão estudos duplicados,
que não apresentassem relação com o tema. Inicialmente analisou-se os resumos e
posteriormente leitura do texto completo para seleção dos estudos. Ao final foram
incluídas 21 publicações para a leitura criteriosa, entre revisões de literatura e
relatos de caso.

O relato de caso foi realizado na clínica do Grupo Avançado de Prótese e


Implante (GAPI) em Uberlândia/MG, após avaliação minuciosa do caso e dos
exames complementares, com indicação e planejamento do procedimento de
instalação de implante unitário com provisionalização com carga imediata.

4 RELATO DE CASO

Paciente V.P.L., gênero masculino, 43 anos, compareceu a clínica do Grupo


Avançado de Prótese e Implante (GAPI) em Uberlândia/MG em busca de uma
reabilitação do dente 11 implanto-suportada. Durante a anamnese, nenhum
problema sistêmico foi notificado.

A área a ser trabalhada apresentava boas dimensões ósseas de largura e


altura, sendo planejada a cirurgia de instalação de implante e, eventualmente, a
22
carga imediata de prótese sobre implante, por ser uma área estética e com bom
prognóstico para utilização da técnica.

Após a antissepsia com clorexidina a 0,2% e posicionamento dos campos


operatórios, foram realizados bloqueios do nervo alveolar direito e do nervo incisivo
na região de trabalho. Em seguida, foi realizada a incisão intra-sulcular seguida do
descolamento muco-periosteal minimamente necessário para instalação do implante
sem prejudicar o contorno periodontal.

A região já tinha ausência dentária, portanto foi dado prosseguimento aos


protocolos de implantodontia. Foram realizadas as fresagens para instalação do
implante, sempre atentando para o correto posicionamento mésio-distal e vestíbulo-
lingual durante essa etapa. Foi utilizado implante Titaniumfix 4.1 de 11,5 mm, com
torque de 60 Ncm.

23
Para a confecção da restauração provisória, foi escolhido um componente
UCLA metálica adaptada à dente de estoque, permitindo que a estética pudesse ser
devolvida a paciente.
24
A prótese provisória apresentou boa adaptação, permanecendo em
infraoclusão e mantendo a anatomia e o contorno gengival naturais e

25
correspondentes aos dentes da arcada. Será realizada confecção de prótese sobre
implante definitiva em um período de 4 a 6 meses após o procedimento cirúrgico.

5 DISCUSSÃO

A presente revisão destaca que o uso de carga odontológica imediata em


implantes está bem documentado na literatura, seja através de estudo bibliográfico,
ou por relatos clínicos que mostram as taxas de sobrevivência e sucesso são
satisfatórias. No entanto, a maioria desses estudos não apresentam
acompanhamento longo posterior ao tratamento, ou são estudos mais recentes.
Diferentes fatores e parâmetros ainda devem ser estudados de forma aprofundada e
extensiva, sendo publicados em larga escala para melhor difusão e segurança da
técnica.

26
Quanto aos critérios de eleição do procedimento, o principal é a estabilidade
primária. Implantes com estabilidade inicial elevada parecem sobreviver melhor em
cargas imediatas. Vários estudos priorizaram o torque de no mínimo 32 Ncm. No
artigo de Pereira et al (2012) a medida preconizada foi de 30 a 50 Ncm de torque,
enquanto Cavichioni et al (2012) encontrou 35 Ncm na maioria dos estudos,
variando em poucos casos entre 25 e 27 Ncm. Os casos encontrados apresentaram
boa estabilidade primária, com Ferreira et al (2016) e Silva et al (2018) com 40 Ncm
de torque, Youssef et al (2009) e Veríssimo et al (2021) com 45 Ncm, e Matiello et al
(2015) com 50 Ncm, todos dentro da margem de segurança apresentada nas
pesquisas. Podemos dizer que para maior previsibilidade, é importante realizar
procedimentos que apresentem torque alto.

Outro ponto importante a ser considerado para o sucesso da carga imediata


são as dimensões do implante a ser usado. Youssef et al (2009) e Veríssimo et al
(2021) utilizaram implante de 11 mm de altura; Bressan et al (2012) deu prioridade a
implantes longos, com diâmetro mínimo de 4,1 mm e comprimento mínimo de 10
mm; Nunes et al (2014) recorreu a um elemento de 5mm x 16mmm; Matiello et al
(2015) e Silva et al (2018) usaram um de altura de 13.0 mm; Ferreira et al (2016)
escolheu uma peça de diâmetro 4,3mm e comprimento de 11,5mm. O estudo de
Stanley et al (2017) utiliza implantes de diferentes comprimentos (7,0, 8,5, 10,0,
11,5, 13,0 e 15,0 mm) e diâmetros (3,5, 4,0, 4,5, 5,0, 5,5 e 6,0 mm), mostrando que
há a possibilidade de uso de alturas menores, porém Naciff et al (2018) trouxe a
análise de que estabilidade primária muitas vezes é influenciada pelo desenho e
forma do implante. Os diferentes tipos de estruturas dos implantes, podem aumentar
a área de retenção e ajudar a balancear a distribuição de carga biomecânica.
Podemos dizer então que, para conferir maior previsibilidade ao resultado, seria
recomendado optar por implantes mais longos, com altura mínima de 10 mm.

Uma observação essencial a ser considerada é que o paciente deve estar


com boas condições de saúde geral e bucal, e com ausência de qualquer situação
sistêmica, tais como doenças sanguíneas, imunossupressoras, diabetes
descompensada, patologias ósseas crônicas e uso constante de drogas, que possa
inviabilizar tanto o procedimento cirúrgico como o processo de cicatrização. O
estudo de Raes et al (2018) teve falhas apenas em reabilitações de dentes pré-

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molares, que foram perdidos por fatores externos e não relacionados à cirurgia,
como foi o caso de uma paciente fumante.

Observa-se também que a técnica é bem difundida em casos de perdas


dentárias anteriores, pela sua grande exigência estética e funcional, sendo pouco
comum em elementos posteriores. Alguns autores constataram que intercorrências
aconteceram em dentes que recebem grande força oclusal. Deve-se ficar atento
aos contatos oclusais e deixá-los preferencialmente infraoclusais, para melhor
osteointegração. Os autores foram insistentes na necessidade de análise criteriosa
dos casos, sempre avaliando se há quantidade óssea necessária, boa saúde
periodontal, ausência de parafunções e lesões a nível radicular, estabilidade oclusal,
e condições ideais para o sucesso do procedimento. Considera-se que
micromovimentações são aceitáveis se estiverem abaixo de 150µm, mas que devem
receber o mínimo de forças oclusais possível. É possível que a pouca utilização da
técnica em dentes posteriores seja pelo fato de serem regiões de grande força
mastigatória e de oclusão, apesar de ainda ser uma hipótese pouco explorada pelas
pesquisas.

Quanto à gengiva e suas particularidades, pouco se estudou os efeitos do


procedimento no tecido periodontal. Trento et al (2012) constatou bom contorno
gengival e presença de papilas bem posicionadas no pós operatório. Ferreira et al
(2016) fez a prótese provisória com perfil de emergência baseado na linha marginal
gengival, que resultou em um sucesso após 3 meses, com ótimo condicionamento
gengival. Queiroz et al (2018) fez um levantamento bem mais abrangente sobre
tecidos peri-implantares em caso de carga imediata, avaliando os parâmetros de
altura da crista óssea, altura da papila interdental e recessão gengival vestibular.
Observou-se que há uma pequena perda de papilas, presença de recessão margem
gengival e perda de osso em qualquer modalidade de atuação, sendo imediata ou
tardia, o que nos mostra a viabilidade da técnica. Apesar de não se saber muito
sobra a interferência ou não da confecção de retalhos no processo cirúrgico, é feita
a opção de pouco ou nenhum uso de suturas que possam levar a retrações
gengivais indesejáveis, sendo utilizados em casos necessários como o do relato
apresentado neste estudo. Rodrigues et al (2021) diz que como a estética é um fator
importante, os implantes imediatos promovem a diminuição do período de

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cicatrização e os tecidos duros e moles que os cercam, sendo importante observar o
biótipo gengival. O mais fino é mais susceptível à recessão gengival.

A maioria dos estudos que compararam carga imediata com a carga tardia
não encontrou diferença estatisticamente significativa em relação a osteointegração
e sucesso da técnica. Perdas ósseas marginais foram relatadas em alguns casos,
mas que foram consideradas dentro da normalidade e não progrediram
consideravelmente ao longo do tempo.

Por fim, é preciso salientar que a prótese que é instalada imediatamente após
a cirurgia não é a definitiva. É preciso que haja um período de tempo para
cicatrização, com todos os elementos já discutidos (microvimentações mínimas,
confecção infraoclusal, pouco ou nenhum contato), aguardando de 3 a 6 meses para
a entrega da prótese permanente. A provisionalização age como auxiliar no
processo de adaptação da gengiva, além de conferir a estética que ficaria ausente,
afetando minimamente o cotidiano dos pacientes.

A reabilitação oral imediata apresenta a possibilidade de uma solução mais


rápida, diminuindo o tempo clínico, mantendo a estética gengival e dental dos
pacientes que são elegíveis em recebê-la. Com o avanço de novas técnicas, novos
materiais, e a experiência dos profissionais que as executam, acompanharemos a
evolução dessa alternativa e poderemos ver ela mais difundida em estudos e dia a
dia clínico.

6 CONCLUSÃO

Mesmo com as limitações deste estudo, a introdução de um protocolo de


carga imediata com a colocação imediata do implante eliminou algumas etapas do
29
processo, além de auxiliar na rápida solução do problema de ausência dentária
presente na carga tardia, principalmente em áreas de alta exigência estética. Instalar
a prótese provisória imediatamente após o procedimento cirúrgico, se bem
recomendado, auxilia em aspectos de perda óssea, contorno gengival e, como
resultado importante, na perspectiva de psicológico e conforto do paciente, que é
parte fundamental do tratamento a ser executado.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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32
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