Você está na página 1de 103

2

3
4
5
6
Apresentação

A CURA DO CEGO DE SILOÉ é um milagre ao qual o evangelista João dá uma importância


especial, dedicando-lhe um capítulo inteiro. João não narra tantos milagres como
Marcos; em vez disso, seleciona aqueles que lhe interessam e que têm um cenário
específico. São João os chama de sinais, porque o significado se sobrepõe ao fato – o
acontecimento serve de veículo para a mensagem salvífica.
O sinal em questão refere-se a um homem, cego de nascença, encontrado no fortuito
caminho de Jesus, que é perseguido por apropriar-se de atributos divinos. Em vez de
refugiar-se em Betânia ou fugir até Efraim (hoje Taybeh), o Mestre se expõe sem
necessidade; ou talvez, com toda a intenção, para enfrentar a última batalha em que seus
inimigos vão se achar vencedores – mas, no final, o “príncipe deste mundo”, com todos
seus cúmplices, cai por terra.
Este nazareno, acusado de crime grave, não só observa o rigoroso repouso sabático,
fazendo lodo, mas manda que o cego também percorra a distância de um “caminho
sabático” ao fazer um longo trajeto até a piscina de Siloé.
A cura deste cego não se reduz somente a seus olhos físicos, mas a toda a sua pessoa,
pois ele se levanta de sua prostração para se opor com sinceridade às autoridades às
quais já não se submete; pelo contrário, até os ironiza. É livre, porque a verdade o
libertou. No final, prostra-se diante de Jesus, num claro sinal de adoração que está
reservado apenas ao Deus três vezes Santo.
Preparemo-nos para acompanhar este afortunado homem canonizado em vida, já
que, segundo Jesus, nem ele, nem seus pais, tinham pecado. Ele se dirige até a piscina de
Siloé, nome que significa “enviado”, para ser curado não só da sua visão, mas
inteiramente, mesmo que tenha que violar o cerne da santa lei do Sinai.
Estamos diante de um verdadeiro dilema. A Jesus, ou se persegue para matá-Lo, ou
se segue para adorá-Lo; ou nos agarramos ao nosso sistema legalista e nos submetemos à
ortodoxia tradicional, decidindo matar o pregador da Galileia, ou, como o cego curado, O
reconhecemos “Senhor”, assinando um cheque em branco, mesmo diante daqueles que
querem apagar a Luz do mundo. Trata-se de uma escada pela qual se sobe para a fonte
da luz, ou pela qual se desce ao mundo das trevas.
Guadalajara, México
Londrina, Brasil
21 de outubro de 2014

7
8
9
1. Inicia o conflito

A DOUTRINA E A VIDA de Jesus de Nazaré eram um enigma indecifrável para as


autoridades de Jerusalém. No entanto, em vez de entrarem num acordo para pôr
fim ao conflito, aumentaram cada vez mais a oposição, até que chegaram ao
antagonismo mútuo. Os doutores da Lei e os fariseus tornaram-se intransigentes. O
Mestre, por sua vez, era radical, quando os confrontava:

Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem
vocês entram, nem deixam entrar aqueles que desejam. (Mt 23,13)
Fariseu cego! Limpe primeiro o copo por dentro, e assim o lado de fora também ficará limpo. Ai de
vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos,
mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Serpentes, raça de cobras venenosas! Como é
que vocês poderiam escapar da condenação do inferno? (Mt 23,26-27.33)

Desde o início, Ele se atreveu a anunciar a destruição do Santuário de Deus, porque


chegara a hora em que não havia lugares nem horários privilegiados para o culto divino.
O que realmente importa é a atitude, em espírito e em verdade (Cf. Jo 4,23).
Em seguida, afirma que a porta de entrada para o Reino não é o cumprimento da lei,
mas nascer de novo e crer (Cf. Jo 3,3; Mc 16,16). Ademais, assegura que é a porta e
ninguém vai ao Pai se não por Ele (Cf. Jo 14,6b). Ele afirma que não foi Moisés quem
deu o pão verdadeiro, mas que Ele é o pão vivo (Cf. Jo 6,32.35).
Além disso, em suas declarações se apresenta como superior ao legislador do Sinai,
quando diz seis vezes: “Tu já ouviste falar que (Moisés) disse, mas eu vos digo...” (Cf.
Mt 5,21-28). Ele afirma que o Pai e ele são um só (Cf. Jo 10,30). Para agravar o
conflito, parece que escolhe intencionalmente o sábado para realizar as curas.
No terceiro ano do ministério, já não há trégua, mas o fim chegará com um vencedor
e um derrotado. Em algumas batalhas, as sombras da morte parecem apagar a Luz que
havia sido enviada, “não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo”
(Cf. Jo 3,15-16).

10
Duas blasfêmias que se punem com pena severa
O Nazareno faz afirmações e tem atitudes cada vez mais ousadas, que são
insuportáveis para os defensores da teologia e da doutrina de seu tempo:

a) Eu sou a Luz do mundo


Eu sou a Luz do mundo; quem me segue, não andará nas trevas, mas terá luz. (Jo 8,12)

Não se trata de um poema ou uma comparação poética, mas de uma afirmação cheia
de significado bíblico. A chave para entendê-la enquadra-se no marco da criação, que
começa quando aparece a luz. Portanto, implicitamente, dá-se a entender que Nele e
com Ele se vai iniciar uma nova criação. As autoridades compreenderam o alcance desta
ousada declaração que atravessa a fronteira da ortodoxia. Então, decidem esperar, como
cobras venenosas, a melhor oportunidade para apagar o seu fulgor no firmamento
religioso.

b) Antes de Abraão, “Eu Sou”


O clima, naquele momento, estava muito caloroso, mas o Galileu, em vez de tomar
precauções, alimenta a fogueira da própria inquisição, quando declara que Abraão viu o
seu dia e se iluminou com isso (Cf. Jo 8,56). As autoridades discordam, utilizando de
lógica matemática: Ele não tem nem cinquenta anos e, assim, não poderia ter tido um
encontro com o patriarca. Mas, ainda com ênfase, Ele afirma:

Antes que Abraão nascesse, “Eu Sou”. (Jo 8,58)

Jesus não se limita apenas ao tempo, o que já seria muito questionável. A frase “Eu
Sou” tem uma conotação que o identifica com o Deus único de Israel, que “É o que é”
(Cf. Ex 3,14). “Eu Sou” enviou Moisés para libertar seu povo (Cf. Ex 3,10.1). E, para
sanar qualquer dúvida que ainda restasse, declara que quem vem a Ele, contempla o Pai
do céu e da terra (Cf. Jo 14,9). Por tudo isso, a expressão “Eu Sou”, pronunciada por
Jesus, é considerada uma blasfêmia que merece pena grave, sem clemência ou perdão.

c) Ademais, nem Ele, nem os seus discípulos guardam


o sábado
O carismático pregador da Galileia dos gentios não cumpre a tradição de lavar as
mãos antes de comer e também se deixa tocar por mulheres pecadoras. Não guarda o

11
sábado, pois realiza curas e caminha em dia de descanso, e até manda carregar a maca
de um homem que foi curado de uma paralisia. Seus discípulos debulham espigas no
sábado, contrariando o preceito divino.
Assim, o “processo penal” do Nazareno está selado e, a qualquer momento, deve
recair sobre Ele todo o rigor da lei.

12
Inicia a guerra com duas estratégias
Os fariseus argumentam que Deus deu sua lei para que seja cumprida e que, se não
for assim, ela não teria sentido (Cf. 2Rs 17,37). Não há negociação, atenuantes ou
exceções. Defendem que se deve castigar sem piedade os infratores, e não perdoar a
transgressão, por menor que seja, porque há que se conservar a pureza da religião de
Israel a qualquer preço.
As autoridades apresentam suas credenciais de descendentes de Abraão, mas Jesus os
acusa de serem “filhos do diabo”, que é homicida, mentiroso e que divide... Então,
acusam-no de “samaritano” e “possuído por um demônio” (Cf. Jo 8,48).
O Mestre, partindo da hermenêutica da lei e não da materialidade da letra, embasa-se
no princípio de que “a lei foi dada para que sejamos felizes” (Cf. Dt 10,12-13) e no de
que o sábado foi instituído para o homem, e não o homem para o serviço do sábado (Cf.
Mc 2,27). Assim, se uma tradição ou mandamento não o faz feliz, não provém de Deus,
e, portanto, não é uma obrigação.
As autoridades sustentam que “lei é lei”, e que toda transgressão deve ser punida a
fim de dar exemplo a possíveis violadores. De outra forma, se cairia no caos moral. Por
isso, não deixam de medir cada passo que dá o pregador de boas notícias, para cumprir
suas intenções de extinguir este sol que brilha no meio das trevas do ritualismo em que
tinha caído a religião.
Os legalistas estavam dispostos a acabar com o Nazareno; Ele, por sua vez, acusava
as autoridades religiosas de haver usurpado a cátedra de Moisés com terrorismo religioso,
pior que a opressão dos romanos, porque manipulavam as consciências.
Estamos diante de uma guerra fatal, em que apenas um dos dois pensamentos pode
prevalecer: ou se derruba o templo e já não há mais sacrifícios pelo pecado, ou o
insubordinado deve morrer e ser sepultado com suas “insolentes” doutrinas. É uma
grande aposta de “tudo ou nada”.

13
Túnel com ambas as saídas fechadas
O ousado pregador está num túnel em que ambas as saídas parecem estar fechadas:
se comprova suas asserções, provocará ira e perseguição. A sua sorte está lançada, e Ele
pode ser apedrejado fora da cidade. Jesus assume as implicações de suas ações, por
acreditar na libertação que o Pai lhe confiou.

14
Aplicação para a nossa vida
Também nós nos encontramos na mesma situação, diante dos mandamentos e
tradições humanas, revestidas com pele de ovelha.
Frente a este dilema, há que se tomar uma decisão, mas aceitando o custo das
consequências. Ambos os caminhos exigem pagamento de pedágio.

15
Conclusão
Jesus está decidido a cumprir sua missão de ser Luz do mundo, sem se importar com
a guerra que seja necessária enfrentar, nem com a oposição de seus inimigos, que estão
dispostos a extinguir a sua chama.

16
17
2. Um homem cego de nascença

C OLOCADO NESTA SITUAÇÃO TÃO delicada, o Rabbi que não estudou letras em
Jerusalém sai do templo e passa pela vereda de um mendigo para proteger-se de um
dilúvio de pedras (Cf. Jo 8,59).

18
Shabbat, dia de rigoroso descanso
O evangelista nos apresenta o cerne da questão, para que possamos entender o
intransponível muro que se está atravessando. Tudo isso acontece no Shabbat, dia de
rigoroso descanso, ordenado pelo mesmo Moisés e observado meticulosamente por
pessoas religiosas, que almejam ser fiéis à divina vontade.
É um mandamento dado pelo próprio Deus em diversas ocasiões:

Durante seis dias vós trabalhareis, mas o sétimo é dia de repouso completo, dia de assembleia sagrada,
no qual vós não fareis nenhum trabalho: é dia de descanso dedicado a Javé, onde quer que habiteis. (Lv
23,3)

Por isso, Ele lhes ordena com clareza:

Cada um fique onde está. Ninguém saia do seu lugar no sétimo dia. (Ex 16,29b)

O Shabbat não era mais um mandamento, mas chegou a ser o coração da lei, já que,
de alguma forma, resumiu a lei do Sinai. Por isso, a sua violação era castigada com a
pena de morte:

Observeis, portanto, o sábado, porque é uma coisa santa para vós. Quem o profanar, será réu de morte.
Quem realizar nele algum trabalho, será excluído do povo. (Ex 31,14)

Esta sentença não é apenas uma ameaça, visto que até mesmo Moisés a executou:

Enquanto os filhos de Israel estavam no deserto, surpreenderam um homem que recolhia lenha em dia
de sábado. E o levaram até Moisés, Aarão e toda a comunidade, mantendo-o preso enquanto se decidia o que
deveria ser feito com ele. Javé disse a Moisés: “Esse homem é réu de morte. Toda a comunidade deverá
apedrejá-lo fora do acampamento”. A comunidade o levou para fora do acampamento e o apedrejou. E o
homem morreu. (Nm 15,32-36a)

Assim, se vê o quão importante era o dia do repouso.

19
Ao passar, viu um homem cego de nascença
Perseguido e ameaçado, Jesus não se apressa. Apesar de correr perigo de morte, não
foge. Podia refugiar-se em Betânia ou ir até Efraim, mas decide permanecer no epicentro
do terremoto, porque vai enfrentar o Príncipe deste mundo e seus comparsas. Em vez de
negociar, provoca mais problemas com as autoridades, pois tem de mostrar que Ele é a
Luz que não se esconde debaixo da mesa. Não tem medo, porque a luz não teme as
trevas, mas sim se protege dos ventos traiçoeiros que tentam sufocar seu esplendor.

a) Vai, sem pressa, mas sem pausas


Καὶ παράγων [kaí parágon]: E passando... (Jo 9,1a)

João, o evangelista, que é um dos que acompanham seu Mestre, usa a conjunção
aditiva Καὶ [kaí]: “e”, acompanhando o particípio do verbo παράγω [parago], para nos
dar a entender que a perseguição e a cura do cego de nascença estão intimamente
ligadas, como um binômio indissolúvel.
Não está claro até onde Ele vai. Apenas supomos que sai do templo (Cf. Jo 8,59b),
onde o comércio religioso sente-se em perigo de extinção, pois o Nazareno não aceita
que a casa de seu Pai se transforme em covil de ladrões.
Ele anda com autoridade, como o mestre de cerimônias, que rege a batuta da História.
Afasta-se do átrio de Salomão, onde Ele mesmo não tomou as pedras que Moisés
mandava jogar contra uma mulher acusada de ter sido apanhada em flagrante adultério
(Cf. Jo 10,23;8,3-11).

b) Vê um homem: o enfermo, em vez da enfermidade


Em um espaço que poderia ser a entrada da Porta Tripla, um mendigo estava
encurvado com os olhos perdidos no infinito, estendendo a mão para o vazio, à espera de
uma dádiva dos piedosos passantes.
Possivelmente, seu velho cajado, de cabo desgastado, dava crédito da sua doença
crônica. Tratava-se de um cego de nascimento que, pelo passar da idade e de acordo
com as probabilidades matemáticas, estava condenado a morrer como nasceu, pois
nunca ninguém tinha sido curado de cegueira congênita (Cf. Jo 9,32).
Sua tragédia era bem conhecida por aqueles que o viram tantas vezes pedindo esmola
na passagem das procissões. Sua postura, que personifica o objetivo, já era parte daquele
panorama religioso. No limiar do templo de Deus, criador do céu e da terra, estava

20
recaído um homem que não podia ver as enormes pedras daquela impressionante e
ostentosa construção, que pretendia aprisionar em quatro paredes o Deus dos exércitos.
Este cego era a prova irrefutável do dogma dos fariseus: Deus pune quem não cumpre
a Sua divina vontade (Cf. Ex 20,5). Mas também se torna a grande oportunidade para
que Jesus manifeste que Ele é a Luz do mundo, que veio para iluminar os que vivem nas
sombras da morte.
É muito significativo que o texto grego não diga que Jesus viu um cego, como às
vezes se traduz, mas que εἶδεν ἄνθρωπον τυφλὸν ἐκ γενετῆς [eíden ántropon tyflón ek
guenetés]: “viu um homem cego...”. Ele vê o homem completo, a pessoa humana. Isso
é o essencial. Tudo começa com o olhar do Nazareno, como quando viu os pescadores
do lago, o jovem rico, em Mateus, contando o dinheiro, a Zaqueu, sentado no galho do
sicômoro ou a Simão Pedro, depois de suas negações.
Jesus olha para quem não pode vê-lo; Ele toma a iniciativa com este luminoso olhar
que, sem dúvida, o cego percebe de alguma forma.

21
Quadro clínico complexo
Por diferentes dados advindos da Bíblia, verificamos um quadro clínico muito
complexo nos campos espirituais e morais, físicos e mentais. A doença tem sempre
implicações físicas, psicológicas e até mesmo espirituais. Nunca se limita a um só aspecto
da pessoa, de modo que não basta focar apenas os sintomas, mas todo o enfermo. Aqui
está um primeiro diagnóstico.
Este mendigo não podia ver. Não saboreou o néctar da luz, das cores, das
proporções, das ostentosas túnicas, de uma paisagem, nem o crepúsculo que pinta de
vermelho as nuvens. Jamais havia visto os adornos de ouro dos fariseus, nem os lírios do
campo na primavera. Nem quando vão aparecendo as três primeiras estrelas que dão
início ao Shabbat.
Vivia pagando o preço de supostas falhas do passado, já que, segundo a mentalidade
daqueles tempos, sua cegueira era a prova irrefutável de que recaía um castigo celestial
por ser filho de pais pecadores, pois Deus paga a cada um segundo as suas obras (Cf. Sl
62,12) e pune as falhas nos filhos até a terceira e quarta geração (Cf. Ex 20,5).
Por sua lamentável situação sem cura, era lógico que não tivesse trabalho. Sentou-se
a pedir esmola, dependendo das outras pessoas, revestido de humilhação e contentando-
se com o que sobrava dos outros. Podia caminhar, mas preferiu acomodar-se junto à
estrada da vida.
Vivia prostrado diante de sua enfermidade, provocando a compaixão dos outros para
receber algumas moedas que lhe jogassem em seu prato de barro. Tudo indica que havia
sido preso no lago calmo da rotina, por tantas feridas que o complexo de culpa e a baixa
autoestima lhe haviam provocado.
Parece que quando regressa da piscina de Siloé, já curado, não se encaminha para a
casa dos pais, mas vai ao encontro de seus vizinhos, o que nos faz supor que havia certa
distância e até uma ruptura no seio familiar, pois seus pais o deixam sozinho quando
afirmam que ele tem idade suficiente para responder por si mesmo. Será que, no fundo,
ele acusava seus pais de ter lhe causado a doença, e acreditava que até os seus próprios
filhos e netos teriam que pagar essa fatura?
A sua vida transcorria oprimida pelo terrorismo religioso de seu tempo, que o excluiu
do templo e da sinagoga por ser pecador. Curvava-se diante dos poderosos e dependia
das autoridades. Jamais questionava a doutrina e a prática dos rigorosos fariseus,
pagando com o silêncio da cumplicidade o aluguel do lugar onde mendigava.
Tudo isso repercutia em sua relação com Deus, a quem considerava um carrasco
sádico que punia sem piedade os inocentes. Não entendia por que sua descendência teria
que pagar a conta de um pecado que ele não cometeu. Além disso, se sua cegueira de

22
nascença fosse devido à condenação por alguma falta que cometeria depois, isso o fazia
deduzir que Deus era cruel a ponto de sentenciá-lo antecipadamente.
Este quadro clínico contém um conjunto de elementos interdependentes. Por isso,
não podemos focar a lupa apenas em seus olhos, mas temos de considerar o ser humano
completo, porque o Bom Pastor não veio para curar enfermidades, mas enfermos. Jesus,
que conhece o interior de cada um, olha para o homem, com seus traumas e feridas, suas
âncoras do passado e seu presente, para então abrir o horizonte do futuro.
Por isso, ao longo destes capítulos, apresentaremos as sete diferentes curas que se
vão realizando em sua história, para perceber que se curou não apenas da cegueira, mas
que é uma pessoa sã e saudável, que oferece esperança para aqueles que vivem
estacionados na rotina, com complexos de culpa e sem horizontes.

23
Pergunta fechada sem terceira opção: Quem
pecou?
Ao passar diante do mendigo que estende a sua mão, um porta-voz dos discípulos faz
uma pergunta em nome de todos. A mentalidade religiosa da época sustentava que a
doença era um castigo divino pelos pecados. Para este grupo de seguidores de Jesus,
como para o senso comum da congregação de Israel, se partia do pressuposto –
transformado em dogma – de que alguém tinha que ter pecado. Sempre que se sofre, é
porque há uma dívida que se deve pagar e, quase sempre, com altos juros.

Mestre, quem foi que pecou, para que ele nascesse cego? Foi ele ou seus pais? (Jo 9,2)

O cego permanecia em silêncio. Talvez se envergonhasse, recolhesse sua mão e


abaixasse sua cabeça para remover a ferida de seu coração.
A pergunta em grego é uma fórmula fechada para que se responda A ou B, sem dar
lugar a outra saída. Parte-se de uma suposta falta que não se discute: alguém pecou. Só
estavam curiosos para saber quem era o culpado, se os pais ou o mesmo sujeito que está
diante deles. Continuavam com a visão farisaica do Deus que castiga a desobediência dos
pais até por cento e sessenta anos (Cf. Ex 20,5) e que faz com que os descendentes
sofram de problemas na boca, se seus pais comerem as uvas verdes (Cf. Jr 31,29).
A inércia dos conceitos religiosos que foram envelhecendo até se transformar em
dogmas é muito sólida para poder conceber algo diferente. Que difícil é mudar a
mentalidade legalista que oferece certa segurança aos que têm medo da liberdade, e
preferem voltar aos alhos da escravidão e às cebolas da obediência ao faraó, em vez de
caminhar para a terra que emana o leite da vida e o mel da alegria. Os paradigmas
religiosos são os mais difíceis de transformar.
Humanamente, não é possível; é necessária uma luz criadora que faça novas todas as
coisas. Por incrível que pareça, há pessoas que não se sentem com o direito de ser felizes
e fazem todo o possível para sofrer e tornar amarga a existência dos outros, impondo-
lhes pesadas cruzes.
Apesar de sua carga de culpa, esta questão é o detonador de uma cura que abrange
não só os olhos, mas a toda a pessoa. As perguntas abrem as oportunidades para que
Deus possa agir com todo o seu amor e poder, mesmo em dia de sábado.

24
Dupla resposta dogmática de Jesus
O Mestre, que caminhava sem pressa, não se deixa cair na pergunta capciosa de seus
próprios discípulos, que pretendem enquadrá-lo em um dogma preestabelecido. Como
sempre, Jesus encontra uma terceira opção, com uma dupla afirmação absoluta: nem
uma coisa, nem outra.

Οὔτε... οὔτε [hute... hute]: Nem ele pecou, nem seus pais. (Jo 9,3)

Passado: Jesus, que conhece o interior de cada homem (Cf. Jo 6,61) declara a
inocência tanto do cego, como de seus pais. O pecado não teve passaporte
para se alojar no cenário familiar. O cego, tão ultrajado por supostas faltas,
nunca cometeu pecado algum, nem seus pais. São inocentes, bons e santos;
jamais foram mordidos por serpentes de qualquer tipo de pecado.

Futuro: Abre-se o horizonte do futuro. Nele se manifestarão as obras de Deus.


Sua vida tem futuro. Não está condenado a viver sentado, pedindo esmola. A
resposta do Rabino é como um visto que permite entrar por fronteiras
fechadas e superar os muros intransponíveis. Os discípulos procuraram um
culpado, mas Jesus revela um propósito para o futuro.

Para que se manifestem as obras de Deus. (Jo 9,3)

A sua cegueira não é uma punição por um passado criminoso, nem guarda relação
com o cumprimento ou não da vontade divina, mas é para que Deus se manifeste; para
ser sujeito da salvação divina. Não se trata de procurar razões de cegueira congênita, mas
sim de descobrir os segredos do plano salvífico.
Jesus corrói o dogmatismo que pretende fazer com que Deus dependa da conduta dos
homens, ao converter-se, ou que puna cada um segundo as suas obras. O cego vai
ganhar na loteria, mas sem sequer ter comprado bilhete algum.
Este sinal é tão maravilhoso, que o evangelista lhe dedica um capítulo inteiro de seu
livro.

25
Jesus aproveita a ocasião do Shabbat
Recordemos que Jesus está sendo perseguido e cuidadosamente observado, a fim de
que se encontre uma razão evidente para justificar sua prisão e posterior julgamento,
com vistas à sua condenação e morte. Pessoalmente, suponho que Jesus percebe isso; é
por isso mesmo que seus gestos são públicos, para que os demais os vejam. Não faz nem
diz nada secretamente, mas de forma aberta, no templo e nas praças, para entrar em
franca luta contra o legalismo e a ortodoxia, que o examinam com lente de aumento.

Cuspiu em terra, fez lama com a saliva. (Jo 9,6)

O gesto de fazer lama no Shabbat estava estipulado no 39 Tejum ou Mejalot como


coisa proibida. Jesus não tem medo de provocar ventos para outra tempestade. O
Mestre, em vez de se esconder, publicamente ameaça romper o permitido às vésperas do
Shabbat. Ele entrou em terreno minado e pode explodir uma bomba de forma
imprevisível.
Jesus cospe na terra, faz barro na palma de sua mão e, com os dedos, o põe nos
olhos do doente que não enxergava. Jesus não pede permissão, nem pergunta, mas é
interessante que o doente tampouco reage. Então, como se nada tivesse acontecido,
ordena-lhe:

Vai, lava-te na piscina de Siloé... (Jo 9,7)

A ordem sem sentido do Mestre provoca perguntas de censura: Para que você lhe
suja o rosto, e depois o manda lavar? Que autoridade tem para fazer isso?
Por outro lado, não colocou condições: “Vá e caminhe se você acredita e me segue,
lave-se três vezes às três da tarde, com essa água, não com outra. Você vai se curar”.
Não, de maneira nenhuma, porque não é magia. Fazê-lo seria lhe colocar em outra prisão
de superstições religiosas para ganhar bênçãos. O certo é que estamos diante de um fato
que quebra o raciocínio dominante: Deus quer mais a misericórdia, a obediência e a fé,
do que a lei (Cf. Mt 23,23).
Por que este homem, que já é maior de idade, não reage de alguma forma, permite-se
ser enlameado e depois aceita as ordens de um desconhecido? Quando represento em
minha imaginação esta cena, sinto estar vendo um robô programado que simplesmente
acata as instruções sem replicar; que não tem respeito por si mesmo e não é capaz de
questionar aquele que suja seu rosto e depois ordena-lhe percorrer cerca de seiscentos
metros, mesmo quando suas pernas estão duras de tanto ficar sentado. Será que está

26
acostumado que os outros façam o que querem com ele? Ou será que há algo nessa voz
com sotaque galileu que torna impossível não obedecê-la?

27
Aplicação para a nossa vida
Jesus não se concentra em nossas enfermidades, mas olha para nós como pessoas
completas, porque lhe interessa o nosso ser por completo. Ele veio para que tenhamos
vida em abundância. O médico de almas e corpos, neste caso, não escava com uma pá
de psicanálise para descobrir a causa do sofrimento ou a doença, mas acende a luz da
esperança.
O Mestre não é um especialista para curar uma parte doente, mas que sabe que todo
sofrimento está interligado com outros aspectos da pessoa. Ele nos quer inteiramente
saudáveis. Já não indaguemos buscando culpados de uma fragilidade ou trauma, mas
vamos olhar para frente, vislumbrando que já amanhece um novo dia.

28
Conclusão
Jesus viu um homem enfermo e o atende como pessoa. Ele não veio para curar
doenças, mas para curar os doentes, inclusive no âmbito familiar e religioso. Não é um
novo legislador, mas um novo libertador. Tudo tem um propósito, e cada peça da cena
vai formar um maravilhoso mosaico ao final. Por isso, Ele o cura, abrindo as comportas
do futuro, quando revela o sentido de tal doença e de tal cura: para que se manifestem as
obras de Deus.

29
30
2. Caminho para Siloé

D EPOIS DE RESPONDER Acuriosa pergunta de seus discípulos e ferir a tradição religiosa


que proclama a equação diretamente proporcional entre as obras humanas, e o
prêmio ou castigo correspondente, Jesus põe lama no rosto do cego e o envia a lavar-se
na piscina de Siloé com tanta autoridade e segurança, que é tão surpreendente como
fascinante.

31
Inexplicável envio: caminhar até a piscina em
dia de sábado
Ele poderia enviar o cego a outro estanque mais próximo, como Betzatá, que
supostamente tinha poderes milagrosos, ou dispor da água pura que se utilizava nas
purificações do templo de Jerusalém.
O Rabbi confiou que aquele homem prostrado ao chão era capaz de levantar-se e
chegar a Siloé. Nem sequer pediu a um de seus discípulos que o guiasse ou o tomasse
pela mão. Não. Deixa-o só, mas lhe dá a confiança de que pode fazê-lo por si mesmo.
Parece que dificulta as coisas, mas não; é que o cego deve viver um processo lento para
ir até a raiz de sua situação e, assim, experimentar uma cura integral.
O homem poderia pensar que, por ser sábado, seria melhor esperar mais algumas
horas, mas empreende a marcha em dia de descanso, descendo pela estreita estrada no
meio do pedregoso caminho que serpenteia. Se todo homem deve ter cuidado, para um
cego é ainda mais arriscado andar por aquelas fronteiras, pois o caminho é áspero e
perigoso. Embora avance, não para. Seu rosto sujo causa surpresa e provocações. Mas
já não tem nada a perder. Nada pior pode acontecer. Tudo é lucro, pois quem o declarou
inocente, lhe prometeu que se manifestará a salvação de Deus em sua vida.
A cidade está silenciosa. As pessoas descansam, guardando o rigoroso repouso
prescrito por Moisés, e levado ao extremo pela religiosidade dos fariseus, que têm a sua
confiança na observância da lei. As crianças não brincam. Ninguém sai de casa. Apenas
alguns piedosos judeus se dirigem ao templo, enquanto os curiosos observam o solitário
peregrino que vai descendo a ladeira, com passos titubeantes e mãos que tateiam no
vazio.
Sendo cego – e, portanto, considerado incapaz de cuidar de si mesmo – resolve
sentar-se à beira do caminho; não tinha para onde ir, já que não contava com uma
bússola ou algo que o direcionasse. Preferiu depender do que os outros lhe dessem por
piedade ou compaixão. Como nunca se teve notícias de um cego de nascença que tivesse
recuperado a vista, vivia resignado.
Aquele homem, que vivia estacionado em seu próprio drama, precisava sair de si,
quebrar a rotina e ultrapassar fronteiras inéditas para se dar conta de que não podia
passar a vida inteira sofrendo as consequências de uma suposta culpabilidade.
Para isso, Jesus aplica uma terapia que tem funcionado ao longo da História da
Salvação – caminhar, ir, retornar, voltar; todos eles, verbos de movimento, que
contrastam com a letargia crônica de prostração deste cego:

32
A história se abre com um peregrino que deixa suas terras na fértil
Mesopotâmia para se aventurar por horizontes que não conhece.

Moisés conduz o seu povo rumo à terra que emana leite e mel, caminhando
durante quarenta anos; isto é, toda uma geração.

Quando o Mar Vermelho se interpôs aos escravos fugitivos, as águas não se


abriam antes de caminhar, mas quando iniciam a marcha, molham os pés.

Os dez leprosos não foram curados com uma imposição de mãos, mas
enquanto subiam a Jerusalém.

Os dois discípulos de Emaús foram curados de suas decepções e frustrações


quando o Mestre lhes explicava as Escrituras no caminho.

Os olhos de Bartimeu se abriram ao deixar seu manto junto à palmeira e, de


um salto, chegar até Jesus.

Pedro experimenta a salvação ao andar sobre as águas, e Paulo encontra a sua


missão no caminho de Damasco.

33
Primeira cura: do mendigo sentado a um homem
que caminha
O tratamento que Jesus lhe dá é maravilhoso. Ordena-lhe que se levante e vá até
Siloé, que não está por perto; que deixe de estar prostrado diante de sua tragédia, que
recobre a capacidade de andar por aí com um objetivo de vida e uma esperança como
motivação. Enquanto ele se levanta e começa a andar, percebe do que é capaz. Vence
obstáculos, enfrentando desafios, e sai na frente.
Jesus aponta com clareza o destino: a piscina de Siloé, que é inconfundível, mas não
lhe mostra um itinerário; descer pelo caminho que passa pelo hipódromo, ou caminhar
pela pedregosa torrente, junto à fonte de Gion, é uma livre decisão do cego que está
estreando na sua própria vontade.

34
Segunda cura: de acorrentado pelo passado, a
novos horizontes do futuro
Jesus aborda as doenças começando pelo aspecto interno, para depois desembocar na
deficiência visual. Quando chegar ao lago, já se terão curados os dois polos de sua
história:

a) Passado: nem eu pequei, nem meus pais pecaram


A declaração pública deste alegre mensageiro é que não há pecado algum naquela
história familiar, e que a sua enfermidade não se deve a isso, mas para que se
manifestem as obras de Deus em sua vida. Isso o libertou de qualquer condenação.
O cego sofria um complexo de culpa, já que sempre foi condenado pelas autoridades
que presumiam ser infalíveis. Além disso, estava oprimido por acreditar que Deus
castigava não só os pecadores, mas também seus descendentes (Cf. Ex 20,5).
Como consequência desta situação, vivia com medo, cheio de tristeza, paralisado pela
passividade, acorrentado à autocondenação, pessimismo e assaltado por escrúpulos, que
muitas vezes desencadeiam problemas digestivos e circulatórios que dificultam caminhar
na vida.
A partir deste encontro, em cada passo que dá, ressoa uma sinfonia em seu coração.
A sístole do seu pulsar repete: “Você não tem pecado...”, enquanto a aorta lhe responde:
“...nem seus pais”. Agora é livre, nada deve nem ninguém pode cobrar-lhe algo.
Também não pode culpar seus pais. Está curando o seu relacionamento com eles.
No entanto, isto é apenas o início de todo um conjunto de curas. Se um mal físico
afeta órgãos vizinhos, da mesma maneira as radiações da Luz são expansivas e vão
curando toda a pessoa. Este é um exemplo nítido do que acontece.

b) Futuro: as obras de Deus vão se manifestar em mim


Seu coração provavelmente experimenta taquicardia, quando se lembra da promessa
do misterioso Rabbi, que lhe garantiu que Deus vai intervir em sua história. Esta
motivação se converte em um sonho: “Eu vou ser objeto do poder salvífico em minha
própria vida. O que nunca pude experimentar nas proximidades do templo pedindo
esmolas, agora Deus me dá”.
A libertação das escravidões se manifestou em toda a História da Salvação, com
grandes sinais em pessoas privilegiadas; mas agora promete que vai se fazer presente na
vida de um homem que foi deixado à margem por pressupostos doutrinários que sempre

35
o tacharam de pecador. Será que onde abunda o pecado superabunda o amor
misericordioso de Deus?
Aquele que foi condenado a um futuro fechado e sem esperança, agora sabe que vai
brilhar a luz do Horeb em sua vida. Esse homem que se chama Jesus lhe acendeu a
lâmpada da esperança. Enquanto caminha, curam-se as feridas do seu passado e se
abrem as comportas do futuro.

36
Aplicação para a nossa vida
Há doentes que dão receitas a Deus para que os cure da maneira mais fácil e menos
dolorosa. Mas os caminhos do Senhor têm certas diretrizes que não se podem esquecer.
Ele gosta de escrever a História com homens e mulheres que caminham, e não com
gente passiva por falta de vontade.
Não há que esperar ser curado para caminhar; deve-se caminhar para ser curado;
temos que nos aventurar por rotas inéditas e estradas virgens, até os confins da Terra.

37
Conclusão
Embora Jesus não prometa cura alguma, o processo de cura já começou e não vai
parar. Primeiro, começa com o essencial: libertá-lo do complexo de culpa do passado e
abrir as comportas da esperança no futuro.
Jesus foi procurado pelos legalistas e rigorosos fariseus; seus discípulos lhe fizeram
uma indiscreta pergunta, e o Rabbi aproveitou a oportunidade que se lhe apresentou à
sombra dos muros do templo de Jerusalém. Talvez, se não tivesse sido perseguido, não
teria brilhado este sinal tão maravilhoso. Em vez de fugir ou se esconder, põe mais
gasolina no fogo, para a batalha final. Assume as consequências de suas decisões. Não
escapa, porque a luz não se esconde debaixo da mesa, mas se põe sobre o candeeiro (Cf.
Mt 5,15), para que ilumine a todos, embora esta luz seja tão intensa que muitos não a
suportam.

38
39
4. Lavar-se e ser curado em Siloé

O CAMINHO TINHA UMA META : a piscina, que recebe a fresca água da fonte de Gion
(Cf. 2Cr 33,14), a qual percorria 533 metros de rochas de um túnel construído
pelo rei Ezequias, no ano de 701 a. C.
O Enviado de Deus remete o cego para a piscina, para ser curado e não pensar que é
uma água “mágica” ou “milagrosa”, mas que Jesus é o novo Siloé, que cura e restaura o
homem integralmente.

40
Chega à piscina e se lava
O cego foi, lavou-se... (Jo 9,7)

O aguçado ouvido do cego, que caminha com passo lento, escuta a doce corrente que
entra na piscina e que, em seguida, desliza suavemente para a outra extremidade.
Ofegante, sabe que está chegando ao limiar da salvação. Inclina-se e, com ambas as
mãos, pega a água límpida que percorreu um ziguezague, dentro de um escuro túnel,
para enxaguar o lodo que já havia feito crosta.
No início, ao invés de limpar, a lama se expande por todo o seu rosto, e só à medida
que derrama mais líquido, vai limpando toda sua face.
As águas do Siloé se sujam com aquela lama, mas pouco a pouco vão renovando,
porque elas não são originárias dali, mas passam e seguem o seu curso, descendo pela
encosta do Vale do Tiropeón até a Arabá, de que fala o profeta Isaías (Cf. Is 35,5-6).

41
Terceira cura: cegueira física e resgate da
dignidade
Encharcado e tomado pelo intenso brilho do sol, instintivamente abre seus olhos. A
luz virgem entra pela primeira vez nos seus olhos e desenha um mundo de cores e
proporções. Dá-se conta de que caíram as escamas, e sumiu a cortina que o impedia de
ver.
A primeira imagem que recebem seus olhos em toda sua vida era dele mesmo,
refletido na piscina. Reconhece-se a si mesmo tal como é, mesmo que seja num
movediço espelho de água agitada por suas mãos. Em Siloé começou a encontrar-se
consigo mesmo; não vê um réu do pecado, ou condenado pela lei, mas, sim, um reflexo
da glória de Deus.
Contempla suas mãos molhadas pela água que passa por entre os dedos, e descobre
que é uma maravilha (Cf. Sl 8,5-6); um homem, imagem e semelhança de Deus, clarão
da luz divina. Assim, retoma seu valor como pessoa digna de todo o respeito. É o
protagonista que abre uma brecha. O impossível é possível.
Seu valor é tão alto que o Bom Pastor deixou noventa e nove boas ovelhas para ir em
sua busca e curar todas as suas feridas. O que era cego agora é um novo homem,
iluminado por aquele que havia declarado abertamente ser a Luz do mundo.
Se a cegueira era o argumento para acusá-lo, agora que ele enxerga, não existe
qualquer justificação para condená-lo. Não foi apenas um simples colírio para os olhos,
mas uma cirurgia maior que cura também a sua árvore genealógica inteira. Jesus-Siloé
limpa e purifica, faz novas todas as coisas – surpresa que ultrapassa o esperado ou
sonhado.

42
Deduz-se que Jesus é o Messias anunciado pelos
profetas
Não se trata de uma simples cura da vista. Quando este milagre se enquadra na
História da Salvação, adquire um significado profético, pois desde vários séculos antes,
os tempos messiânicos foram identificados desta forma:

Então, os olhos dos cegos vão se abrir, e se abrirão também os ouvidos dos surdos; os aleijados saltarão
como cervo, e a língua do mudo cantará, porque jorrarão águas no deserto e rios na terra seca. (Is 35,5-6)

Jesus mesmo tinha oferecido este sinal aos discípulos de João Batista, que perguntava
se Ele era O esperado:

Jesus respondeu: “Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a
vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos
pobres é anunciada a Boa Notícia. (Mt 11,4-5)

Portanto, quando os cegos recobram a visão, tem-se um sinal inequívoco de que o sol
do Messias apareceu no oriente. Mas, se estamos diante de um cego de nascimento, este
sinal torna-se ainda mais valioso.
Ao abrir seus olhos, ele mesmo percebe que chegou a plenitude dos tempos, que
aquele homem que o enviou a Siloé é o Messias e que se estão cumprindo as Escrituras.
Esta certeza se enraíza a tal profundidade que nem os guardiões da fé, nem os mestres
da religião de Israel o poderiam convencer do contrário.
Agora entende que foi enviado para Siloé pelo verdadeiro “Siloé” para que, por si
mesmo, comprove que “esse homem chamado Jesus” é o Messias enviado para abrir os
olhos dos cegos.
Jesus é Siloé, o enviado de Deus, que ilumina com seus raios de luz, não para
condenar o mundo, mas para pagar os encargos do pecado que havia em cada pessoa.
Graças a Jesus-Siloé, já não pesa nenhuma condenação para quem está imerso em suas
águas (Cf. Rm 8,1-2).

43
Aplicação para a nossa vida
Nossa cura começa quando acreditamos em Jesus e nos lavamos. Ao reconhecer a
nossa própria imagem, recuperando a dignidade ultrajada, conhecemos a nós mesmos,
com nossas luzes e sombras; é o início do processo para a cura integral.
Jesus, o novo Siloé, capacita-nos para recuperar a dignidade de ser imagem e
semelhança de Deus.

44
Conclusão
O Mestre não revoga o Shabbat, mas ele mesmo, como o Senhor, torna-se o novo
Shabbat da história. Já não é um dia de descanso, mas é o dia em que Deus trabalha (Cf.
Jo 5,17) e manifesta a sua glória. Aquele que antes se perguntava “O que fiz para que me
tachassem de pecador?” agora se questiona: “O que fiz para ter a luz? Eu não pedi nada.
Esse homem chamado Jesus me presenteou sem merecimento, sem que tivesse
comprado nada. A luz chegou à minha vida gratuitamente”.
Não é a água de Siloé que cura, mas o novo Siloé, que tem uma água que brota do
seu lado, até a vida eterna.
Existe uma dupla aplicação desse nome:

O primeiro enviado é Jesus mesmo. O Pai celestial o mandou como a luz do


mundo, com uma dupla missão: fazer ver os cegos e, paradoxalmente, ser um
sol tão intenso e deslumbrante, que cegara os que presumiam ver.

O outro enviado é o cego, que obedece sem reservas a ordem recebida. Ele
ouviu, levantou-se, esticou suas pernas e tomou a muleta para ir à piscina da
esperança – ou seja, fez tudo o que Jesus lhe tinha mandado.

45
46
5. Retornar a Jerusalém

O QUE É MAIS TRANSCENDENTE: ir a Siloé para ser curado, ou voltar dessa piscina tendo
recobrado totalmente a visão?

47
Dilema
Quando Jesus lhe ordenou: “Vai a Siloé”, o cego decidiu por qual rota optaria para
chegar à piscina. Agora, apresenta-se diante dele um dilema: ficar na piscina ou voltar à
cidade? No entanto, ele já gastou mais da metade da distância permitida para um “dia de
repouso”.
Um “caminho sabático” corresponde a 1.250 passos ou dois mil codos (medida que
equivale a aproximadamente 45 centímetros); por isso, o deslocamento autorizado é em
torno de novecentos metros.
A distância do templo a Siloé ultrapassa os quatrocentos metros em linha reta, mas o
sinuoso caminho de terra que desce outros cem metros supera os seiscentos metros no
total. Isso equivale a sessenta e oito por cento do que se pode caminhar no sábado. Até
aqui não há problema, mas se retornar, então excede em mais de trinta e cinco por cento
o permitido. Se empreender a caminhada, vai infringir a santa lei de Moisés, e por isso
pode ser julgado, condenado e executado (cf. Ex 31,14). Era séria esta falta, pois o
sábado representava a fidelidade à Aliança e condensava toda a legislação de Moisés.
Ele tinha outra opção: esperar umas tantas horas para que aparecesse o terceiro
luzeiro no firmamento, que dava por terminado o Shabbat.

48
Quarta cura: liberto do legalismo
O recém-curado decide subir ao monte Sião, assumindo as consequências de violar o
Shabbat. Aquele que sempre esteve cativo do sistema religioso imperante não depende
de preceitos que acorrentam a liberdade em confiscam sua felicidade. Viola
conscientemente o mandamento, porque Aquele que fez lama para curá-lo também
violou o Shabbat.
Assim, curado e com os olhos para o alto, aproxima-se dos muros da cidade que
reluz, coroada pelo majestoso templo, ampliado e embelezado por Herodes.
Ao caminhar, liberta-se da letra que mata (cf. 2Cor 3,6b). Não se enjaula em uma
série de preceitos humanos que asfixiam o espírito.

49
Questionamento dos vizinhos
O relato dá a entender que ele não retorna à casa paterna, mas a seu ambiente de
vida, onde há gente próxima. Prefere este grupo humano à sua própria família, porque
talvez houvesse certa distância entre eles. Os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes
se perguntavam:

Não é esse que ficava sentado a mendigar? (Jo 9,8)

As pessoas próximas se referem a ele de forma impessoal – não o chamam por seu
nome. Será porque eles também não vão mostrar o rosto, mas se protegem no anonimato
coletivo? O certo é que quem não tem nome também não chama os outros por seu
nome.
Quando se formula uma pergunta em grego, usando oὐχ [huj]: “não...”; neste caso,
“não é esse?”, isso supõe ou induz uma resposta negativa. Convém a eles que seja uma
pessoa diferente, ainda que o homem enfermo continue sofrendo pelo resto de seus dias.
Só olham seus próprios interesses.
Surgem duas opiniões a respeito:

Alguns diziam: “É ele”. Diziam outros: “Não, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu
mesmo”. (Jo 9,9)

Em primeiro lugar, ele sabe quem é. Se em Siloé viu a si mesmo refletido na água,
diante de seus vizinhos, pronuncia e repete uma palavra que é ressonância da essência
divina: “Sou eu”.
Ele é o mesmo, mas ao mesmo tempo é diferente. Algo mudou, tanto dentro como
fora dele. A cura o transformou.

50
Quinta cura: reconhece sua identidade
Na água da piscina reconheceu-se a si mesmo. Agora, na cidade, não afirma: “Eu
vejo”, mas “Sou eu”. Isso quer dizer que o mais importante não é a visão recuperada,
nem os olhos sãos, mas sua pessoa inteira, seu ser completo.
“Sou eu” implica seu passado, com suas feridas e complexos, assim como seus
sonhos reprimidos. É sua história e sua família; sua vida de pedinte prostrado, que
recuperou a dignidade. É um homem, um ser humano.
Mas sua declaração implica uma ressonância da essência divina: “Eu sou” imagem e
semelhança de Deus. Em mim começou a se manifestar a obra de Deus, cujo resplendor
me fez recuperar não somente a visão, mas a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Seu passado de cego e mendigo está integrado em seu presente, mas há algo diferente
e novo. Foi curada a sua imagem de uma pessoa pedinte, que dependia dos outros.
O pregador da Galileia, que se declarou “Eu Sou”, o fez reconhecer que também ele
é um reflexo de “Eu Sou”.

51
Primeiro interrogatório: como e onde
Seus vizinhos procuram saber como aconteceu o prodígio, e lhe questionam:

Como se abriram teus olhos? (Jo 9,10)

Não perguntam como Jesus realizou tal portento. Formulam a pergunta de maneira
impessoal, porque o Mestre da Galileia não entra em suas considerações; mas ele vai à
causa, e se centra no autor desta maravilha com clareza evidente:

O homem chamado Jesus fez lama, aplicou-me nos olhos e me disse: “Vai a Siloé e lava-te”. Fui, lavei-
me e recobrei a vista. (Jo 9,11)

O cego dá seu primeiro testemunho, afirmando quem é o artífice de tudo isto: um ser
humano, mas que tem um perfil e um nome – chama-se Jesus, que significa “Deus
salva”. Ele O reconhece como homem também, o que não é depreciativo, mas a
plataforma de decolagem. Além disso, vai retomar isso quando lhe perguntarem se crê no
Filho do Homem (cf. Jo 9,35c).
Descreve o processo prático: “Fez lama, sujou-me os olhos e me enviou para me
lavar em Siloé. Eu fui, me lavei e vejo. Simples assim. Não fiquem dando voltas... Para
que estão complicando?”.
Então, os difamadores mudam a direção de sua artilharia e, de maneira depreciativa,
preguntam:

“Onde está esse?” Disse: “Não sei”. (Jo 9,12)

Este grupo anônimo se refere a Jesus de forma depreciativa: ἐκεῖνος [hekeinos]:


“esse”, utilizando um pronome demonstrativo, não um pessoal e nem o seu nome
próprio. O cego dá a entender: “Não sei onde está, mas sei que esta manhã ele passou
por meu caminho, fez lama com sua saliva e me mandou lavar-me... e agora estou
vendo! Além disso, me assegurou que nem eu, nem meus pais somos pecadores, e que
em mim vão se manifestar as obras de Deus”.

52
Segundo interrogatório: diante do tribunal de
justiça
Diante do assombro generalizado, havia alguns que olhavam por trás das cortinas.
Eram os fariseus, que não se deixavam contagiar com o alvoroço do povo, já que
guardavam sérias dúvidas sobre a autenticidade do milagre. Eles, zelosos guardiões da
pureza da fé, deviam verificar cada detalhe sob a escrupulosa lupa da lei. Tinham que
fazer minuciosas análises clínicas, chamar testemunhas e comprovar que tudo estivesse
de acordo com a ortodoxia e com a tradição.

Ora, era sábado o dia em que Jesus fizera lama e lhe abrira os olhos. (Jo 9,14)

Infelizmente, existia um elemento que colocava em xeque a autenticidade daquela


cura: era sábado, dia de rigoroso descanso, que proibia todo trabalho ou atividade; e
Jesus havia se atrevido a fazer alguns gramas de barro para curar o doente. Constituía-se
uma dupla transgressão, com o agravante de que a falta havia sido cometida a poucos
passos do próprio recinto sagrado, o que soava como uma deliberada provocação.
Além disso, o pedinte curado também acabava de violar o santo Shabbat. Era preciso
colocar um basta, para que não desaguasse uma enxurrada de violações à lei de Moisés.
Prepararam a acusação partindo de uma premissa: Jesus era um grande pecador por
não observar o Shabbat. Não importava o objetivo, nem a razão. O fim não justificava
os meios. A lei era a lei, e não se podia permitir exceções.
A Luz do mundo é contrastante: para o cego, esse homem que se chama Jesus é fonte
de cura e transformação. Para a hierarquia religiosa, é raiz de problemas, e é preciso
extirpá-la antes que incendeie as estruturas do culto e da fé.
Os fariseus lhe perguntaram outra vez como havia recuperado a visão no sábado. O
recém-curado responde o mesmo:

Ele aplicou-me lama nos olhos, lavei-me e vejo. (Jo 9,15)

Diante de sua resposta, tão simples e tão clara, o grupo monolítico se fraciona:

Diziam, então, alguns dos fariseus: “Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado”.
Outros diziam: “Como pode um homem pecador realizar tais sinais?” (Jo 9,16a)

Com o argumento de que Ele não guarda o sábado, chegaram à dupla conclusão de
que é pecador e de que não vem de Deus.

E havia cisão entre eles. (Jo 9,16b)

53
Em grego, se diz que houve um σχίσμα [sjisma]: ruptura, separação entre eles. A
divisão entra nesse corpo que acreditava ser são, santo e estável. Teria Jesus vindo para
dividir os grupos religiosos? (cf. Mt 10,34-36)

54
Declaração pública do
recém-curado: é um profeta
Então, dão a palavra àquele a quem nunca reconheceram esse direito:

Que dizes de quem te abriu os olhos? (Jo 9,17)

Seria óbvio declarar que era um taumaturgo, com poderes terapêuticos para realizar
milagres e prodígios. No entanto, ele os surpreende com uma resposta que está cheia de
significado messiânico:

É profeta. (Jo 9,17b)

É um enviado de Deus, que quebra paradigmas e rompe cadeias. É um verdadeiro


profeta.
Aos conhecedores e especialistas nas Escrituras, ele evoca a grande profecia
messiânica de Moisés:

O Senhor teu Deus suscitará um profeta como eu no meio de ti, dentre os teus irmãos, e vós o ouvireis.
(Dt 18,15)

O astuto cego proclama que se trata do profeta anunciado e prometido pelo legislador
do Sinai. Chegaram os tempos messiânicos e Deus visitou seu povo, suscitando uma
força de salvação na casa de Davi (cf. Lc 1,69).
A “inquisição” compreendeu perfeitamente o alcance da afirmação do homem; tanto
que guardam silêncio a respeito, pois nada podem replicar. Por isso, tentam escapar pela
tangente:

Os judeus não creram que ele fora cego... (Jo 9,18a)

Se não estava cego, não houve cura; e se assim não foi, então não apareceu o
anunciado por Moisés para abrir os olhos aos cegos. Assim, tudo fica reduzido a uma
violação do Shabbat, que deve ser castigada conforme a lei.

55
Testemunhas do julgamento: três perguntas aos
pais
Procurando o engano por trás dessa “suposta cura” realizada em dia de descanso, e
abusando de sua autoridade para convocar e expulsar, mandaram chamar os pais do
pedinte (cf. Jo 9,18b).
Ambos atenderam com prontidão. Sua surpresa paternal de ver seu filho curado era
obscurecida pelo temor de comparecer diante do temível tribunal de escrupulosos
escribas e legalistas fariseus, que haviam decidido expulsar da assembleia de Israel quem
declarasse Jesus como Messias. Assim começa o interrogatório:

Este é o vosso filho? Que dizeis ter nascido cego? Como é que agora ele vê? (Jo 9,19)

As perguntas estão cuidadosamente formuladas. Uma resposta leva à outra, para


desembocar na falácia da cegueira.
Talvez o evangelista tenha unido a resposta de cada um. Quem sabe a esposa tenha
afirmado: “Sim, é nosso filho e nasceu cego”, ao que o esposo pode ter acrescentado:
“Mas como vê e quem lhe abriu os olhos, não sabemos”. Ambos concluem em coro:
“Perguntem a ele. Nós não podemos falar por ele. É maior de idade”.
A maioridade em Israel começava aos treze anos, com a cerimônia do Bar Mitzvá –
ainda que esta celebração seja atual, tem suas raízes nas tradições da história judaica –
quando cada varão assumia a lei como sua regra de vida. Ao ser “filho do preceito”,
adquiria o direito de ler a Palavra de Deus em voz alta diante da comunidade.

Seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os judeus já tinham combinado que, se alguém
reconhecesse Jesus como o Cristo, seria expulso da sinagoga. (Jo 9,22)

Aqui, a sinagoga é tomada como a assembleia do povo eleito, que representa o


judaísmo. Entrar ou sair dela era sinônimo de pertencer ou não à família de Abraão,
Isaac e Jacó. Ser admitido ou ser expulso não se limita a um espaço, mas a uma religião,
uma história e um povo.
Os esposos já tinham sofrido a rejeição quando seu filho não entrava na sinagoga.
Eram gente boa demais. Quase santos. Consumidos pela dor e pelo desprezo, tinham
perseverado unidos, apesar da terrível pena da cegueira de seu menino. Certamente
receberam um elogio, e quase uma “canonização” de Jesus que muitos invejariam: nunca
pecaram. Sua resposta evasiva seria uma justificativa para abandoná-lo nesse covil de
víboras?

56
No entanto, a esse exemplar casal faltava algo essencial para entrar no Reino dos
Céus. A ele se pertence não por não pecar, pois no cemitério ninguém peca, mas esse
não é o Reino, porque nosso Deus é Deus de vivos, e não de mortos (cf. Lc 20,38). Para
aceitá-Lo, é preciso renunciar antes a nossos próprios meios de salvação, especialmente
os que se revestem de religiosidade, como pode ser uma sinagoga, um santuário
milagroso, um artigo religioso, um sacrifício, ato piedoso ou “oração mágica” em um
horário determinado do dia.
Ao Reino não pertencem os justos, mas sim os justificados; não entram nele os bons,
mas os que nasceram de novo, que proclamam com sua boca que Jesus é o Senhor e
creem em seu coração que Deus o ressuscitou dos mortos (cf. Rm 10, 9). Na Antiga
Aliança se supunha que se salvavam os que cumprissem a lei de Deus. No Novo
Testamento, são salvos aqueles que nascem de novo, creem e proclamam o Senhorio de
Jesus (cf. Jo 3,5; Mc 16,16; Rm 10,9a).
Esse casal exemplar não está disposto a vender todas as suas pérolas, e continua
agarrado a seu esquema religioso, que estava a ponto de ser substituído. Era-lhes
apresentada a oportunidade de serem pedras vivas do novo templo, mas preferem a luz
da lua ao sol que ilumina o satélite. Estariam eles mais cegos que seu filho? Talvez, mais
do que chamá-los “os pais do cego”, deveríamos identificá-los como “os pais cegos”.

57
Sexta cura: relação com seus pais
As autoridades religiosas do caduco sistema tinham pontuado que, como eram
pecadores, tinham atraído sobre eles e seus descendentes a ira divina, que os castigava
como lição para os malvados. O cego, como não se recordasse de pecado algum
cometido, talvez julgasse seus pais responsáveis por sua doença, encarregando-os da
culpa de seu mal congênito. Dentro de si, na escuridão que não amanhece, ruminava:
“Que pecado será que cometeram? Eles me ocultaram algo que me prejudica”.
Possivelmente, ele se envergonhava deles, porque a medida de seu estigma revelava a
gravidade da falta.
Mas graças à dupla terapia da declaração pública de que eles não tinham cometido
pecado algum, e de que recuperou a visão, agora não tem motivos para acusar seus
progenitores. Ao contrário, elimina de sua mente qualquer sombra de pecado. Assim
como ele foi liberto do complexo de culpa, também não precisa mais acusar seus pais.
Quando eles o abandonam e não o defendem, por medo de serem expulsos da
sinagoga, ele não reclama com eles. Nada lhes cobra, porque não há dívida alguma.
Deixa-os livres para escolher seu próprio caminho de fé. Eles também são maiores de
idade para escolher sua peregrinação. Em vez das correntes de culpabilidade que os
condenavam a ambos, agora são livres, para que cada um tome suas próprias decisões.
Se sua enfermidade os uniu na culpa de graves pecados, agora sua maravilhosa cura
deixa ambos livres. Curou-se a relação com seus pais.

58
Aplicação para a nossa vida
Também no caminho de nossa existência encontramos os mesmos desafios. A cura
não é para descansar, nem ficar passivos ou acomodados, mas nos capacita para
empreender novos desafios, abolindo leis injustas que se opõem ao plano original de
Deus, que quer nossa felicidade e deseja que nos libertemos do legalismo. Aquele que
nunca havia pecado violou o sábado, da mesma forma que aquele que o enviou para
lavar-se. Jesus é o Siloé do homem curado.
A cura nos capacita para fazer frente àqueles que usurparam a cátedra de Moisés e
dar testemunho do que nós experimentamos.

59
Conclusão
A cura desse homem começa quando o Bom Pastor declara que ele não pecou,
continua no caminho para a piscina, mas prossegue quando ele retorna, violando o
Shabbat. A oposição dos fariseus lhe permite mostrar aos outros que já não está
submetido a seu autoritarismo religioso.

60
61
6. Terceiro interrogatório

O S RESPONSÁVEIS POR CUIDAR da fé do povo primeiro negaram que aquele homem


tivesse sido cego, então tentaram prová-lo com testemunhas. Seus pais
confirmaram que era seu filho, e que havia nascido privado do dom da visão. Então,
mudam o enfoque de suas armas e atacam por ambos os flancos: desacreditar tanto
aquele que tinha feito um milagre tão grande, quanto o homem curado.
O minucioso questionamento aos pais só confirmou o óbvio: este homem nasceu
cego. Mas a surpreendente cura foi realizada no Shabbat. Então, eles se refugiam no
argumento de que o taumaturgo é um pecador, por sua dupla transgressão: fazer lama e
curar, com o agravante de que a falta tinha sido cometida em frente ao recinto sagrado.

62
Interrogatório que se transforma em discussão
Por isso, interrogam novamente o beneficiário do portento, para encontrar
contradição:

Chamaram, então, a segunda vez, o homem que fora cego... (Jo 9,24a)

O interpelado atende à citação, não por obediência, nem mesmo por submissão, mas
para aproveitar a oportunidade de expor o troféu que lhe foi dado. Eles o ameaçaram:

Dá glória a Deus! Sabemos que esse homem é pecador. (Jo 9,24b)

Iniciaram sua argumentação colocando Deus como testemunha para que, partindo de
uma mentira, diga a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade; para provar que
Jesus era um grande pecador, pela simplíssima razão de ter feito barro no Shabbat. Não
importava a quantidade, nem a razão. O fim não justificava os meios.
Falam em primeira pessoa do plural, “nós”, tentando envolver também o homem
curado. É um recurso de indução, para sutilmente comprometê-lo. Referem-se a Jesus,
mas não querem pronunciar seu nome. Já o julgaram e condenaram de antemão, e
chegaram ao veredito: ἄνθρωπος ἁμαρτωλός [hántropos hamartolós]: “homem
pecador”, como se fosse um binômio indivisível em uma só pessoa.

Respondeu ele: “Se é pecador, não sei. Uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo”. (Jo 9,25)

O cego dava a entender: “Julguem vocês se ele é pecador. Eu não. Digo mais: não me
interessa. A única coisa que eu sei é o que experimentei. Eu nasci cego, e agora vejo. Eu
não tenho nenhuma dificuldade. O problema é de vocês”.
O homem estava firmemente alicerçado na rocha da evidência. Os escribas se
afundavam nas areias movediças de seus preconceitos religiosos. Os fariseus, sem
considerar a irrefutáveis provas do ex-cego, continuaram agarrados a seus raciocínios.
Então, como agentes policiais que procuram contradição nas declarações, perguntam-lhe
outra vez:

Que te fez ele? Como te abriu os olhos? (Jo 9,26)

Creio que não se referiam à terapia, mas sim a como um pecador que cometia o
gravíssimo e imperdoável pecado de fazer lama em sábado poderia curar um cego de
nascença.
O texto grego esclarece que o interrogado não “disse”, mas que ἀπεκρίθη
[hapekrithe]: respondeu. Trata-se de uma réplica e uma oposição contundente, forte e

63
valente:

Já vos disse e não ouvistes. Por que quereis ouvir novamente? (Jo 9,27a)

Aquele homem, que estava acostumado à submissão, agora que sabe que nem ele
nem seus pais pecaram, goza de inusitada coragem, e toca a chaga aberta com ironia:

Por acaso quereis também tornar-vos seus discípulos? (Jo 9,27b)

Essas palavras foram um balde de gasolina na fogueira, que levantou labaredas de


injúrias e imprecações. Perderam toda a compostura e, esquecendo os mandamentos de
Moisés, começaram a maldizer no sábado.

64
Enchem-no de injúrias
Injuriaram-no... (Jo 9,28a)

A Bíblia de Jerusalém, versão em português, traduziu καὶ ἐλοιδόρησαν αὐτὸν [kai


heloidóresan autón]: “abusar verbalmente ou denegrir”, como “injuriaram-no”. O pior
agravo que lhes ocorreu foi:

Tu, sim, és seu discípulo. (Jo 9,28b)

Entretanto, esse “insulto” é o melhor reconhecimento que lhe poderiam ter feito. Se
sua autoestima estava em pleno caminho de recuperação, com essa “ofensa” ela sobe até
o ápice do templo. Então, tentaram mostrar sua superioridade:

Nós somos discípulos de Moisés. (Jo 9,28b)

Preferiram ficar com o poço a ficar com a fonte; com o servo de Deus a com o
Senhor de Moisés; com a letra que mata, mais que com o Espírito que vivifica (cf. 2Cor
3,6b). Enfim, optaram por aquele que escutou a Deus, mais que por Aquele que falou ao
libertador. Eles transformaram a lei provisória do legislador em um obstáculo que os
impedia de reconhecer o Messias. Ademais, argumentam:

Sabemos que Deus falou a Moisés; mas esse, não sabemos de onde é. (Jo 9,20)

O homem lhes respondeu seguindo a mesma lógica:

Isto é espantoso: vós não sabeis de onde Ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! (Jo 9,30)

Ao recuperar a visão, recobrou a dignidade, e já não se submetia ao autoritarismo,


nem consentia com os sofismas dos supostos mestres. Então, astutamente, leva o tema
aonde queria:

Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas, se alguém é religioso e faz a sua vontade, a este ele
escuta. (Jo 9,31)

A lógica é esmagadora. Os sábios e eruditos não podiam senão ranger os dentes. Mas
era um tobogã para que, por seu próprio peso, desembocasse na segunda parte: “Nós,
vocês, como eu, sabemos que Deus não escuta os pecadores, portanto...”.

Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer. (Jo 9,33)

65
Diante do silogismo tão contundente, já não podem responder, por isso atacam a
pessoa que lhes calou a boca. Fecham seu coração e, incendiados pelo ódio, o
desafiaram:

Tu nasceste todo em pecados e nos ensinas? (Jo 9,34a)

No mesmo dia, o cego escuta duas vozes contraditórias: a de Jesus, que lhe assegurou
que nem ele nem seus pais pecaram, e a voz dos fariseus, que o acusam de ter nascido
“todo em pecado”. Em qual vai crer, e qual vai descartar? Àquele que o curou de sua
cegueira, ou aos que não acreditam que ele nasceu cego?

66
A melhor resposta aos surdos: o silêncio
Então, o homem curado os surpreende e não responde. Essas palavras já não
merecem resposta alguma, porque ele bem sabe que não somente não nasceu em
pecado, mas que nunca pecou. O silêncio e seus olhos abertos falam mais forte que
todos os argumentos anteriores. Deixa a bola da ofensa no campo dos inimigos, para que
eles façam o que quiserem, sabendo que não o afeta em nada.

67
Arma de defesa: a excomunhão
Então, os escribas o expulsaram da comunidade de Israel e o excomungaram de todas
as sinagogas. Jamais poderia entrar no recinto sagrado do templo de Jerusalém.

καὶ ἐξέβαλον αὐτὸν ἔξω [kai exébalon autón exo]: E o expulsaram. (Jo 9,34b)

A conjunção copulativa καὶ [kai]: “e” mostra que a expulsão foi a consequência de
tudo que houve antes.
O evangelista escreve uma redundância no texto grego ao usar a palavra ἐξέβαλον,
formada pelo verbo βάλλω com o prefixo ἐξ, que significa que é jogado de dentro para
fora (como em “exportar”). Então, arremata com o advérbio ἔξω [exo], que indica o
destino: para fora, ao exterior. Trata-se de uma expulsão radical, sem possibilidade de
voltar atrás. Seu exílio é definitivo. Não importa onde. Excluído do povo dos patriarcas e
profetas, sem direito à aliança nem às promessas, por isso também não poderia participar
no culto, nem entrar no santuário ou na sinagoga. Já não pode chamar de “pai” a
nenhum dos patriarcas, nem poderá ler os profetas na assembleia de Israel. Mas, para
seu consolo, também o liberam da lei e dos 613 preceitos da tradição judaica.
No balanço final de ganhos e prejuízos, saiu ganhando muito: já não está sob o jugo
da lei, nem obrigado a guardar o sábado. Seus inimigos o libertaram da escravidão da
letra que mata.
Fica proibido de entrar na prisão do sistema legalista, que cega. A única coisa que
perdeu são suas correntes. Estão expulsando-o da escura caverna da ditadura religiosa
que impõe preceitos que são somente tradições humanas.
O vinho novo precisava de odres novos, e são precisamente seus inimigos que
rompem os odres velhos, para que não tenha ligações que o impeçam de aderir Àquele
que o curou. Ao perder, saiu ganhando, pois às vezes, se não se morre, não se vive,
enquanto as autoridades que pareciam triunfar, na verdade, desperdiçavam a
oportunidade que lhes era apresentada.

68
Sétima cura: libertação do autoritarismo
Antes, ele vivia submisso às orientações da alfândega que decide se alguém pode
entrar no templo ou não. Liberta-se dos que impõem leis humanas impossíveis de
cumprir, para depois terem o que cobrar e condenar; para manter as pessoas piedosas
dentro de sua órbita de gravitação.
Ao lhe negarem o passaporte para ingressar no templo, seus inimigos lhe “fecharam as
águas do Mar Vermelho”, para que já não possa voltar à escravidão.
Ele já não vive obediente aos caprichos das autoridades da fé de Israel. Libertou-se da
submissão servil, em que outros lhe impunham o que devia fazer e evitar, pensar e sentir.

69
Aplicação para a nossa vida
Na vida nos são apresentados momentos nos quais perder algo nos liberta de pesos e
correntes, para viajar sem excesso de bagagem. O homem curado, no início, responde;
então, discute. Mas quando percebe que eles se apegam à sua cegueira, guarda silêncio.
Assim também nós, não discutamos nem com surdos nem com cegos, porque
perderíamos nosso tempo e nossa paz (cf. 2Tm 2,14.23). Também vamos descobrir que,
quando nossos inimigos nos expulsam e nos excomungam, nos abrem a possibilidade de
nos aventurarmos por novos horizontes em caminhos virgens.

70
Conclusão
Neste interrogatório, o homem curado tem a oportunidade de mostrar o que havia
ganho com a passagem de Jesus por seu caminho. Sua coragem manifesta que já havia
se emancipado do autoritarismo daqueles que haviam sequestrado a autoridade de
Moisés, que preferem chamar de “legislador” em vez de “libertador”.
Partindo de sua cura física, recuperou a dignidade e o respeito por si mesmo. Já não
se sujeita ao capricho daqueles que se presumem infalíveis.

71
72
7. Encontro de Jesus com o homem
curado

A CURA INTEGRAL DESTE HOMEM começou próximo ao templo, quando Jesus lhe
declarou publicamente que nem ele, nem seus pais haviam pecado. Foi curado da
cegueira física na piscina de Siloé. No entanto, a terapia vai chegar ao ápice quando
retornar à cidade e for encontrado pelo Novo Templo, pelo Novo Siloé – Jesus, o
Enviado de Deus.

73
Jesus o encontra e o interroga
Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado. (Jo 9,35a)

A notícia que corre pela cidade chega aos ouvidos de Jesus: O homem havia perdido o
“passaporte” para atravessar os muros onde repousava a glória do Deus três vezes Santo.

E (Jesus), encontrando-o... (Jo 9,35b)

Supomos que, se o encontra, é porque o Bom Pastor o esteve procurando. O Rabbi


não parou até achá-lo, sem se importar se dava mais passos do que o permitido pela
norma do caminho sabático. O essencial é que o Mestre toma a iniciativa para culminar
sua obra de arte. Sem saudar nem se apresentar, com sotaque galileu, confronta-o com
uma pergunta direta e pessoal:

Σὺ πιστεύεις εἰς τὸν Υἱὸν τοῦ ἀνθρώπου; Crês no Filho do Homem? (Jo 9,35c)

O texto original explicita o pronome Σὺ [zu]: “tu”, que não é necessário, pois está
implícito na conjugação do verbo. É porque a pergunta é direta e pessoal. Jesus o trata
como maior de idade, que deve responder por si mesmo.
O evangelho aplica oitenta e oito vezes este título messiânico a Jesus, o qual faz
alusão direta à visão profética na qual

um como Filho de Homem, vindo sobre as nuvens do céu, adiantou-se até o Ancião (que representa Deus) e
foi introduzido à sua presença. A ele foi outorgado o poder, a honra e o reino, e todos os povos, nações e
línguas o serviram. Seu império é império eterno que jamais passará, e seu reino jamais será destruído. (Dn
7,13-14)

Aquele, assumindo todo o significado, respondeu:

Quem é, Senhor, para que eu nele creia? (Jo 9,36)

O homem curado agora é chamado como ἐκεῖνος [ekeinos]: aquele. É identificado


com o mesmo epíteto que as autoridades davam a Jesus, porque todo discípulo é como
seu mestre (cf. Mt 10,25).
A pergunta está formulada de modo que se responda “sim” ou “não”; mas este
homem, como discípulo que aprende de seu Mestre, encontrou uma terceira opção:
“Quem é, Senhor, para que eu nele creia? Meu problema não é crer, mas encontrá-lo.
Abram-se meus olhos para vê-lo, e imediatamente me entregarei a ele”. Assinava, assim,
o cheque em branco para crer sem condições.
Então, Jesus se apresentou a si mesmo, esperando a confirmação:

74
Tu o vês, é quem fala contigo. (Jo 9,37)

“Eu sou o novo, único e definitivo templo, onde o homem poderá se encontrar com
Deus. Chegou a hora em que nem no monte Sião, nem no Garizim se poderá adorar a
Deus, mas só em mim e através de mim. Ninguém vai ao Pai senão por meio de mim
(cf. Jo 14, 6b); e Eu Sou o único mediador entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2,5). Eu
Sou a escada de Jacó (cf. Jo 1,51), pela qual Deus desce e ao mesmo tempo o homem
sobe para o encontro face a face. Tu o estás vendo e escutando, pois é que fala
pessoalmente contigo”.

75
Resposta: creio, Senhor
O recém-curado explode:

Creio, Senhor! (Jo 9,38a)

O cego abriu a boca para proclamar com seus lábios o que cria em seu coração, via
com seus olhos e experimentava em todo seu ser.
Chama-o Κύριε [Kyrie]: Senhor. Aplica abertamente a Jesus um título reservado
somente para Deus.
Mas o mais importante é que se cumpre a promessa profética de Jesus: Está se
manifestando a “obra de Deus” em sua vida, porque “a obra de Deus é que creiais
naquele que Ele enviou” (cf. Jo 6,29), não para condenar o mundo, mas para que o
mundo seja salvo por ele (cf. Jo 3,16). E se crer é identificado como obra de Deus,
significa que crer é uma graça celestial, pois é o Pai e somente Ele quem o atraiu a Jesus
(cf. Jo 6,44a). A fé tem sua origem em Deus e, sem negar a cooperação humana, é obra
sua. Mas é Deus quem a leva ao ápice, pois Ele sempre termina a obra que começou (cf.
Fl 1,6).

76
Prostra-se diante Dele
O evangelista não acentua neste sinal o poder de Deus, mas o objetivo: crer em Jesus
(cf. Jo 20,30-31). A cura física e sua cura integral foram o trampolim para desembocar
nesta confissão:

E prostrou-se diante Dele. (Jo 9,38b)

Normalmente, os judeus oravam de pé. Só quando uma manifestação excepcional de


Deus assim o exigisse, prostravam-se com o rosto no chão, diante da majestosa Presença
divina que revela sua glória. O homem havia sentido essa Presença, como Isaías no
templo, ou como Moisés no Horeb. Já não se colocaria atrás de um véu que ocultava o
invisível. Diante de seus olhos, bem abertos, está descoberto o próprio Deus de seus
pais, que falou ao legislador do Sinai.
Já não está à porta do templo pedindo esmola. Foi-lhe permitida a entrada, pois
caíram os muros, e pode ingressar até o mais íntimo do santuário, chamado ‫[ ְדִּביר‬Dhe-
vir]: o Santo dos Santos. Agora, via o Invisível, tocava com suas mãos o Verbo da vida
e se abraçava aos pés Daquele que nesse sábado o encontrou duas vezes.
Jesus não lhe diz: “Levanta-te, só deves te prostrar diante de Deus”. Aceita o tributo,
porque ele é o “Eu Sou” e a Luz do mundo.
A cegueira e seu complexo de culpa o prostraram para pedir esmola. Agora, é ele
mesmo quem decide prostrar-se diante do Filho do Homem e proclamar com sua boca o
seu Senhorio.

77
Aplicação a nossa vida
Desde que o cego se encontrava pedindo esmola, vislumbrava-se o final desta cena:
que se manifeste nele a obra de Deus, a qual consiste em crer em Jesus, acreditar Nele.
A obra de Deus em nós é sua graça, que nos atrai irresistivelmente para Jesus e nos
fascina para crer nele como o novo Siloé, o Enviado de Deus, para anunciar a Boa Nova
aos pobres, abrir os olhos aos cegos e proclamar que chegou a etapa da salvação gratuita,
que não se compra com obras boas, nem se merece por sacrifícios nem títulos religiosos,
mas que é dom de Deus, tão bom, que não enviou seu Filho aos justos, mas aos
pecadores, para que tenhamos vida, e a tenhamos em abundância.

78
Conclusão
O encontro de Jesus com este homem que retorna da piscina e que violou o sábado é
o cume do relato. Jesus é o Novo Templo e o Novo Siloé, onde Deus encontra o ser
humano e o cura integralmente.
Agora se completa o quadro, com a livre resposta do homem curado, que nas
imediações do templo cumpriu a dupla condição para ser salvo:

Crê com o coração que Jesus é o Filho do homem e confessa com os lábios que ele é Senhor. (cf. Rm
10,9-10)

Se o relato tem como ponto de partida a notícia de que Jesus estava saindo do
templo, o capítulo seguinte fecha o círculo de forma gloriosa:

Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Eu sou a porta. Se alguém entrar por
mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. Eu vim para que tenham vida e a tenham em
abundância.
Eu sou o Bom Pastor: O Bom Pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a
minha voz, eu as conheço e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna e elas jamais perecerão, e ninguém as
arrebatará de minha mão.
Meu Pai, que me deu tudo, é maior que todos e ninguém pode arrebatar da mão do Pai. Eu e o Pai
somos um. (Jo 10,7.9.10b.11.27-30)

O homem, feito com o barro da terra, ou se prostra para pedir esmolas, ou o faz para
proclamar o Senhorio de Jesus, Bom Pastor.

79
80
8. A escada que sobe e que desce

N ESTE ELOQUENTE SINAL, ENCONTRAMOS o drama de uma escada luminosa, que o cego
sobe até chegar ao topo em todas as áreas de sua existência, adorando a Jesus,
Senhor do sábado, para confessar que é verdadeiramente “Eu Sou”, anterior a Abraão.
Mas por essa mesma escada, vão descendo ao país das sombras as autoridades
religiosas, como uma queda sem retorno.
Jesus havia declarado que ele era a Luz do mundo (cf. Jo 9,5). O importante não era
afirmá-lo com palavras, porque essas o vento as pode levar. O essencial consiste em
demonstrá-lo com atos; por isso, imediatamente depois, temos um portento no qual o
Mestre da Galileia abre os olhos a um cego de nascença, o que desemboca num drama:

Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. (cf. Jo 1,11)
Para um discernimento é que vim a este mundo: para que os que não veem vejam, e os que veem
tornem-se cegos. (Jo 9,39)

Quem está cego recupera a vista, mas os que creem estar iluminados pela luz da
verdade e confiam no valor de suas boas obras ficam presos nas trevas.
O homem curado foi excluído do sistema religioso imperante e dominante, mas os
fariseus se autoexcluíram da salvação, pois quando aparece esta luz, eles a rejeitam e até
pretendem apagá-la. Assim, Jesus se mostra como pedra angular da vida da fé, ou pedra
de tropeço na qual caem os que fabricaram sua própria “torre de Babel”.
Não coloquemos os refletores num belo poema de uma cura milagrosa. Isso é a
superfície. O profundo e forte consiste nas consequências dramáticas dessa cura, porque
ao final só se pode ter uma de duas posturas: prostrar-se incondicionalmente como
discípulo diante dele, renunciando a qualquer outro projeto religioso, ou taxá-lo de
pecador que não cumpre a vontade divina.
Por isso, o evangelista dedica apenas alguns versículos à terapia, e se estende em cada
detalhe das consequências desse sinal prodigioso que todos entendem.

81
O cego sobe até a fonte da luz
Primeiro degrau: Rabbi
Quando o cego escuta que os discípulos desse desconhecido que passa por seu
caminho o chamam “Rabbi” (cf. Jo 9,2), sabe que se trata de um mestre e que tem
seguidores, que lhe perguntam tudo o que não entendem, porque confiam Nele. Mas, ao
obedecer a ordem de dirigir-se a Siloé, violando o sábado por uma ordem sua, ele
também ingressa em sua escola de discipulado.

Segundo degrau: Esse homem que se chama Jesus


Sua primeira declaração é simples:

O homem chamado Jesus... (Jo 9,11a)

Ainda que não seja senão um homem como os outros, tem um nome próprio. Se as
autoridades religiosas se referem a ele com desprezo, como “ele” ou “aquele”, para o
curado chama-se Jesus, que significa “Deus salva”.

Terceiro degrau: Profeta


O “cego” vê nele um profeta, com duplo significado:
Deus se revela através dos ‫[ ְנִביִאים‬nevi’im]: profetas, aqueles que revelam e
transmitem o plano de salvação. Suas obras e milagres manifestam que Deus visita seu
povo. Ele os escolhe e lhes confia uma mensagem messiânica para seu povo. Moisés é
considerado o maior dos profetas (cf. Dt 34,10-12).
Além disso, trata-se do Profeta que foi prometido ao próprio legislador do Sinai:
Vou suscitar para eles um profeta como tu, do meio dos seus irmãos. Colocarei as minhas palavras em
sua boca e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe ordenar. (Dt 18,18)

Descobre que já despontaram os tempos messiânicos, e que o sol do Messias


apareceu no horizonte de seu povo.

Quarto degrau: Eu não sei se é pecador ou não, mas


vem de Deus
Diante da acusação de que esse taumaturgo da Galileia é pecador, o homem curado
argumenta com clareza:

82
Se é pecador, não sei. Uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo. (Jo 9,25)

É como se aquele homem dissesse: “Mas se fosse pecador, não seria sido escutado
por Deus. Portanto, ao realizar o que ninguém havia feito, é porque cumpre sua vontade,
ainda que viole o sábado”.
Infelizmente, seu argumento foi destruído, tanto a priori como a posteriori: seus
inimigos refutam que, se ostenta um poder sobrenatural, é porque é um “samaritano” que
está endemoniado (cf. Jo 8,48;10,20).

Quinto degrau: Crê e proclama Jesus como “o Filho do


homem”’
Quando Jesus o encontra, pergunta-lhe:

“Crês no Filho do Homem?”. Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?”. Jesus lhe disse:
“Tu o vês, é quem fala contigo” (Jo 9,35b-37)

Crê em Alguém, mais do que em algo; no Filho do Homem, anunciado pelo profeta
Daniel, que recebeu de Deus todo o poder (Cf. Dn 7,13-14).

Sexto degrau: Senhor


Exclamou ele:

Creio, Senhor! (Jo 9,38a)

Confessa Jesus como o Kyrios, que tem todo o poder no céu e na terra, e que de
alguma maneira se identifica com a divindade.
Em Jesus de Nazaré se conjuga o que parecia irreconciliável: é homem, é profeta e é
Deus.
Quando crê, e acredita em Jesus, realiza-se a obra de Deus nele (cf. Jo 6,29). O
Senhor está agindo salvificamente em sua história. Dessa forma, realiza-se não somente
uma cura, mas a salvação que o caduco sistema religioso não podia oferecer.

Sétimo degrau: Prostra-se diante Dele


E prostrou-se diante Dele. (Jo 9,38b).

Prostrar-se voluntariamente é o ato supremo de liberdade pessoal. Quando um tirano


submete seus súditos em uma obediência servil, experimenta-se uma grande humilhação.

83
Mas quando, com liberdade, nos dobramos diante da soberania do imenso amor de
Deus, nossa dignidade se agiganta.
Os judeus não se prostravam diante de nada nem ninguém, menos ainda diante de
nenhum objeto religioso. Somente se prostravam diante de Deus. Nos tempos do profeta
Daniel, três jovens fiéis preferiram enfrentar a morte na fornalha ardente por se negarem
a reverenciar a estátua de ouro do rei Nabucodonosor (cf. Dn 3,1-20).
Assim, ao inclinar-se até o barro do chão, está declarando Jesus não somente como
Filho do Homem ou Filho de Deus, mas como Deus mesmo; o “Eu Sou” que falou a
Moisés.
Aquele pedinte que vivia prostrado por uma doença, Jesus o reincorpora ao enviá-lo
para se lavar na piscina, mas o círculo se completa quando ele, por própria decisão, se
ajoelha diante da glória de Deus, que se manifesta no rosto de Cristo Jesus (cf. 2Cor
4,6).
Ele não somente recuperou a visão física. Também vê o invisível; o inadmissível: que
um homem, Rabbi e profeta, seja ao mesmo tempo Deus.

84
Os judeus descem a escada
Entretanto, pela mesma escada que o homem de Siloé ascende, aqueles que
pretendem ser discípulos de Moisés descem.
O grupo de judeus integrado pelos vizinhos, os fariseus, os pais do cego e as
autoridades de Jerusalém escorregam pela mesma escada.

Primeiro degrau: os vizinhos o interrogam, mas o levam


aos fariseus
Quando o homem curado retorna a seu antigo habitat, alguns vizinhos opinam que é
o mesmo pedinte; outros asseguram que só se parece com ele. Interrogam-no, mas o
levam diante dos implacáveis fariseus, os quais o condenarão. São cúmplices, que
descarregam sua responsabilidade em outros.

Segundo degrau: interrogatório de fariseus


Chegou aos ouvidos dos religiosos a notícia de que um galileu abriu os olhos a um
cego de nascença, fazendo lama com saliva. Seu legalismo não lhes permite aceitar que
se quebre o dia de rigoroso descanso ordenado pelo próprio Moisés.
Por isso, interrogam outra vez o cego que foi curado sobre a forma como aconteceu
tudo isso. Não é negativo perguntar quando não se sabe, mas de antemão eles já tinham
sua própria resposta: “Este homem não vem de Deus”. Continuam agarrados a um
esquema impermeável à água do verdadeiro Siloé.
Mas, dentro da mesma reunião, há aqueles que questionam: “Como pode um pecador
fazer tais sinais?” (cf. Jo 9,16). O texto afirma que se produziu um cisma dentro desse
grupo tão sólido. Esta divisão mostra que seu sistema imunológico perdeu o escudo que o
protegia.

Terceiro degrau: Não creem que tenha sido cego


Descem outro degrau ao não admitir a contundente evidência. Para sair do
embaraçoso dilema, a única porta era negar a realidade. Esse homem nunca foi cego. Por
muitos anos fingiu uma penosa enfermidade. Os artistas de camuflagem, que se revestem
com pele de ovelha e caiam os sepulcros, creem que todos são da mesma laia: fantoches.
Têm de encontrar onde está a mentira, pois não pode ser que alguém que viole o
sábado possa abrir os olhos a um cego de nascença. Seu poder não pode provir do
mesmo Deus que mandou observar o repouso sabático.

85
Quarto degrau: terceiro interrogatório dos fariseus
Começa, então, um terceiro interrogatório, que os afunda mais em suas maquinações.
Classificam “esse”, sem nome, como pecador. Seu delito: ter feito lama para curar o
cego.
Então, chamam-no pela segunda vez, mas introduzem o discurso com um preconceito
estabelecido: “Nós sabemos que esse homem é pecador”.
Tentam manipular o que esteve cego, para que confirme sua acusação, mas sua
corajosa resposta os abandona num tobogã que desce sem parar às trevas da “cegueira
voluntária”.

Quinto degrau: expulsam um inocente


Aquele que fora mendigo os confronta publicamente, destruindo seus argumentos.
Portanto, para salvaguardar sua autoridade, eles expulsam do templo e da sinagoga
aquele a quem sempre negaram a entrada. Trata-se somente de um ato de prepotência,
que mostra seu orgulho ferido.
Enchem-no de injúrias, que o evangelista não detalha. A pior de todas: é discípulo
“desse” homem, que não merece sequer ter seu nome pronunciado, e o acusam de haver
nascido todo em pecado.
Se não aceitam a cura daquele que vê a luz, menos ainda aquele que a deu, porque
isso implicaria reconhecê-lo como a Luz do mundo.

Sexto degrau: tornam-se cegos que rejeitam a luz do


mundo
Os que acreditavam ver se tornam cegos. Aqueles que julgam o homem por ter
nascido em pecado, e que Jesus é pecador, fecham seus olhos para a verdade e para a
luz que veio a este mundo – já que não a recebem, nem a acolhem. É um legalismo que
tem seus dias contados, de cujo edifício não restará pedra sobre pedra.

86
Aplicação para a nossa vida
Essa mesma escada nos é apresentada hoje, a cada pessoa: aceitar nossa cegueira,
confessar com coragem e com a boca que Aquele que chamam Jesus é profeta e o Filho
do Homem, e prostrar-nos diante Dele; ou persegui-lo para condená-Lo à morte.
Subir a escada implica aceitar o Senhorio de Jesus e, portanto, renunciar a qualquer
sistema religioso ou tradição de piedade que compitam com esse Senhorio.
A maior cura ocorre quando nos dobramos diante do Senhor, reconhecendo nossa
realidade de criaturas. Somos sua imagem e semelhança, mas não somos Deus.
Se nossa oração, por algum motivo, não atingiu o seu propósito, ou não obtivemos o
que pedimos, dobrar os joelhos diante do incomensurável amor divino é a maior de todas
as vantagens, porque o que não se prostra diante de Deus o fará diante de qualquer
ídolo. E, inclusive, pior que a idolatria é a “autolatria”, quando nos constituímos o centro
do sistema de fé, e tudo gira em nossa órbita, até o próprio Deus. A adoração verdadeira
nos livra desse culto idolátrico.
Ao final, só nos restará nos prostrarmos em adoração, beijando o solo, para
reconhecê-lo publicamente como “Eu Sou”: Deus de Deus, luz da luz... A Luz do
mundo, que se tornou o novo Shabbat e o novo Siloé.

87
Conclusão
Enquanto o cego toma o caminho de subida para a fé, os escribas e fariseus, junto
com as autoridades do templo de Jerusalém, vão descendo mais e mais ao mundo das
trevas. Os que presumiam ser luz para os outros, não somente não veem, mas não
querem ver. É tão grande o resplendor da luz, que os ofusca e os deixa cegos.
Jesus é pedra angular ou pedra de tropeço. Curiosamente, nesta passagem não
encontramos espectadores ou indiferentes. Cada um assume uma das duas posturas.

88
89
Conclusão

E STE SINAL, AO QUAL o evangelista João dedicou um capítulo inteiro, mostra a


identidade, o perfil e a missão desse homem chamado Jesus, que aparece em meio
às trevas do legalismo, como Luz do mundo.
Para Jesus não importam somente as enfermidades, mas os enfermos, porque sua
missão é nos comunicar vida, e vida em abundância. O cego de nascença, enviado a
Siloé, é o exemplo claro de uma cura integral, que mostra que Jesus é a Luz do mundo
que ilumina a todos os homens, o Novo Siloé, e o Novo Templo, onde a adoração não
depende de horários ou calendários, mas se dá em espírito e em verdade.
O que esse homem viveu é anúncio e promessa do que pode acontecer em cada um
de nós. Geralmente a equação se apresenta desta forma: Se cremos em Jesus, vamos ser
curados. Mas o procedimento aqui se inverteu: porque foi curado esse homem, acreditou
em Jesus e, em seguida, proclamou com a sua boca aquilo em que o seu coração
acreditava.
Aqui vemos claramente que Jesus é a Luz verdadeira que ilumina todo homem que
vem a este mundo (cf. Jo 1,9). Mas seu fulgor é tão relumbrante como uma cirurgia a
laser, que abre os olhos aos cegos, enquanto que os que acreditam ver, ficam cegos com
seu fulgor e permanecem nas trevas, pois veio para os de sua casa e os seus não o
receberam (cf. Jo 1,11).
Não se trata somente de um contraste, mas de um drama. A luz faz ver a uns e cega a
outros. Não existe meio termo; por isso, nesse relato aparecem dois mundos que se
opõem, e não há lugar para espectadores – cada um deve fazer a escolha: ou prostrar-se
e adorá-Lo, ou lutar para apagar seu resplendor.

90
91
30 minutos para mudar o seu dia
Mendes, Márcio
9788576771494
87 páginas

Compre agora e leia

As orações neste livro são poderosas em Deus, capazes de derrubar as barreiras


que nos afastam Dele. Elas nos ajudarão muito naqueles dias difíceis em que
nem sequer sabemos por onde começar a rezar. Contudo, você verá que pouco a
pouco o Espírito Santo vai conduzir você a personalizar sempre mais cada uma
delas. A oração é simples, mas é poderosa para mudar qualquer vida. Coisas
muito boas nascerão desse momento diário com o Senhor. Tudo pode acontecer
quando Deus é envolvido na causa, e você mesmo constatará isso. O Espírito
Santo quer lhe mostrar que existe uma maneira muito mais cheia de amor e mais
realizadora de se viver. Trata-se de um mergulho no amor de Deus que nos cura
e salva. Quanto mais você se entregar, mais experimentará a graça de Deus
purificar, libertar e curar seu coração. Você receberá fortalecimento e proteção.
Mas, o melhor de tudo é que Deus lhe dará uma efusão do Espírito Santo tão
grande que mudará toda a sua vida. Você sentirá crescer a cada dia em seu
interior uma paz e uma força que nunca havia imaginado ser possível.

Compre agora e leia

92
93
Famílias edificadas no Senhor
Alessio, Padre Alexandre
9788576775188
393 páginas

Compre agora e leia

Neste livro, Pe. Alexandre nos leva a refletir sobre o significado da família,
especialmente da família cristã, uma instituição tão humana quanto divina,
concebida pelo matrimônio. Ela é o nosso primeiro referencial, de onde são
transmitidos nossos valores, princípios, ideais, e principalmente a nossa fé. Por
outro lado, a família é uma instituição que está sendo cada vez mais
enfraquecida. O inimigo tem investido fortemente na sua dissolução. Por isso
urge que falemos sobre ela e que a defendamos bravamente. Embora a família
realize-se entre seres humanos, excede nossas competências, de tal modo que
devemos nos colocar como receptores deste dom e nos tornarmos seus zelosos
guardiões. A família deve ser edificada no Senhor, pois, assim, romperá as visões
mundanas, percebendo a vida com os óculos da fé e trilhando os seus caminhos
com os passos da fé. O livro Famílias edificadas no Senhor, não pretende ser um
manual de teologia da família. O objetivo é, com uma linguagem muito simples,
falar de família, das coisas de família, a fim de promovê-la, não deixando que ela
nos seja roubada, pois é um grande dom de Deus a nós, transmitindo, assim, a
sua imagem às futuras gerações.

Compre agora e leia

94
95
Jovem, o caminho se faz caminhando
Dunga
9788576775270
178 páginas

Compre agora e leia

"Caminhante, não há caminho; o caminho se faz caminhando - desde que


caminhemos com nosso Deus.” Ao ler este comentário na introdução do livro dos
Números, na Bíblia, o autor, Dunga, percebeu que a cada passo em nossa vida, a
cada decisão, queda, vitória ou derrota, escrevemos uma história que
testemunhará, ou não, que Jesus Cristo vive. Os fatos e as palavras que em
Deus experimentamos serão setas indicando o caminho a ser seguido. E o
caminho é Jesus. Revisada, atualizada e com um capítulo inédito, esta nova
edição de Jovem, o caminho se faz caminhando nos mostra que a cura para
nossa vida é a alma saciada por Deus. Integre essa nova geração de jovens que
acreditam na infinitude do amor do Pai e que vivem, dia após dia, Seus
ensinamentos e Seus projetos. Pois a sede de Deus faz brotar em nós uma
procura interior, que nos conduz, invariavelmente, a Ele. E, para alcançá-Lo, basta
caminhar, seguindo a rota que Jesus Cristo lhe indicará.

Compre agora e leia

96
97
#minisermão
Almeida, João Carlos
9788588727991
166 páginas

Compre agora e leia

Uma palavra breve e certeira pode ser a chave para abrir a porta de uma situação
difícil e aparentemente insuperável. Cada #minisermão deste livro foi longamente
refletido, testado na vida, essencializado de longos discursos. É aquele remédio
que esconde, na fragilidade da pílula, um mar de pesquisa e tecnologia. Na
verdade, complicar é muito simples. O complicado é simplificar, mantendo
escondida a complexidade. É como o relógio. Você olha e simplesmente vê as
horas, sem precisar mais do que uma fração de segundo. Não precisa fazer
longos cálculos, utilizando grandes computadores. Simples assim é uma frase de
no máximo 140 caracteres e que esconde um mar de sabedoria fundamentado
na Palavra de Deus. Isto é a Palavra certa... para as horas incertas.

Compre agora e leia

98
99
Olhar avesso
Ribas, Márcia
9788576775386
359 páginas

Compre agora e leia

Onde há significado não há impossibilidade! Márcia Ribas fez essa feliz


descoberta em meio ao processo de reeducação alimentar, através do qual
realizou um dos seus maiores sonhos ao emagrecer 40 kg. Ao enfrentar-se a si
mesma teve a coragem de assumir suas dores e limites, fato que a levou se
permitir ser ajudada e perceber a presença das pessoas em sua vida, além da
existência de uma força maior que a acompanha desde sempre. Constatou
também a presença de um mecanismo que tem como objetivo paralisar todo e
qualquer sonho, do mais simples ao mais elaborado, antes mesmo de começar a
ser concretizado. De forma curiosa ela relata que o mesmo mecanismo insiste em
se manifestar ainda hoje, especialmente ao fazer escolhas a seu favor,
independente de que ordem seja, já que não tem mais problema com a balança.
Acessar sua força interior, e que até então lhe era desconhecida - e comum a
todas as pessoas - permitiu dar os passos necessários para a mudança de vida,
vencendo esse mecanismo de maneira simples, acessível, eficaz e possível a toda
pessoa que realmente deseja dar uma guinada na vida. De forma leve e bem
humorada conta como conciliou tudo isso através dos acontecimentos do dia a
dia. O livro Olhar Avesso - Quando a vida é vista de dentro para fora apresenta a
realidade do autocontrole e seus desdobramentos na vida de cada pessoa, tanto
nos aspectos físicos como no campo emocional.

Compre agora e leia

100
Índice
Folha de rosto 2
Créditos 4
Apresentação 6
1. Inicia o conflito 9
Duas blasfêmias que se punem com pena severa 11
a) Eu sou a Luz do mundo 11
b) Antes de Abraão, “Eu Sou” 11
c) Ademais, nem Ele, nem os seus discípulos guardam o sábado 11
Inicia a guerra com duas estratégias 13
Túnel com ambas as saídas fechadas 14
Aplicação para a nossa vida 15
Conclusão 16
2. Um homem cego de nascença 17
Shabbat, dia de rigoroso descanso 19
Ao passar, viu um homem cego de nascença 20
a) Vai, sem pressa, mas sem pausas 20
b) Vê um homem: o enfermo, em vez da enfermidade 20
Quadro clínico complexo 22
Pergunta fechada sem terceira opção: Quem pecou? 24
Dupla resposta dogmática de Jesus 25
Jesus aproveita a ocasião do Shabbat 26
Aplicação para a nossa vida 28
Conclusão 29
2. Caminho para Siloé 30
Inexplicável envio: caminhar até a piscina em dia de sábado 32
Primeira cura: do mendigo sentado a um homem que caminha 34
Segunda cura: de acorrentado pelo passado, a novos horizontes do futuro 35
a) Passado: nem eu pequei, nem meus pais pecaram 35
b) Futuro: as obras de Deus vão se manifestar em mim 35
Aplicação para a nossa vida 37
Conclusão 38
4. Lavar-se e ser curado em Siloé 39

101
Chega à piscina e se lava 41
Terceira cura: cegueira física e resgate da dignidade 42
Deduz-se que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas 43
Aplicação para a nossa vida 44
Conclusão 45
5. Retornar a Jerusalém 46
Dilema 48
Quarta cura: liberto do legalismo 49
Questionamento dos vizinhos 50
Quinta cura: reconhece sua identidade 51
Primeiro interrogatório: como e onde 52
Segundo interrogatório: diante do tribunal de justiça 53
Declaração pública do recém-curado: é um profeta 55
Testemunhas do julgamento: três perguntas aos pais 56
Sexta cura: relação com seus pais 58
Aplicação para a nossa vida 59
Conclusão 60
6. Terceiro interrogatório 61
Interrogatório que se transforma em discussão 63
Enchem-no de injúrias 65
A melhor resposta aos surdos: o silêncio 67
Arma de defesa: a excomunhão 68
Sétima cura: libertação do autoritarismo 69
Aplicação para a nossa vida 70
Conclusão 71
7. Encontro de Jesus com o homem curado 72
Jesus o encontra e o interroga 74
Resposta: creio, Senhor 76
Prostra-se diante Dele 77
Aplicação a nossa vida 78
Conclusão 79
8. A escada que sobe e que desce 80
O cego sobe até a fonte da luz 82
Primeiro degrau: Rabbi 82
Segundo degrau: Esse homem que se chama Jesus 82

102
Terceiro degrau: Profeta 82
Quarto degrau: Eu não sei se é pecador ou não, mas vem de Deus 82
Quinto degrau: Crê e proclama Jesus como “o Filho do homem”’ 83
Sexto degrau: Senhor 83
Sétimo degrau: Prostra-se diante Dele 83
Os judeus descem a escada 85
Primeiro degrau: os vizinhos o interrogam, mas o levam aos fariseus 85
Segundo degrau: interrogatório de fariseus 85
Terceiro degrau: Não creem que tenha sido cego 85
Quarto degrau: terceiro interrogatório dos fariseus 86
Quinto degrau: expulsam um inocente 86
Sexto degrau: tornam-se cegos que rejeitam a luz do mundo 86
Aplicação para a nossa vida 87
Conclusão 88
Conclusão 89

103

Você também pode gostar