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Predestinação?

E o amor de Deus?

Délcio Meireles

Proibida a reprodução total ou parcial deste livro


sem a autorização escrita do autor.
Introdução.
A quarenta e cinco anos passados J. O. West era o reitor da St. Philip
e St. Jacob Without, Bristol. Em sua paróquia estavam os quartéis-generais
da Sociedade Secularista, militantes ateus, seguidores de Charles Bradlaugh.
Ele os convidou para uma conferência aberta e me pediu que o auxiliasse.
Uma das perguntas feitas foi: A presciência não envolve predestinação?

Provavelmente o questionador tinha em mente a idéia de que


ninguém poderia positivamente saber de antemão que um evento aconteceria,
a menos que tivesse o poder e a intenção de fazê-lo acontecer. Se isso fosse
aceito, ele sem dúvida teria argumentado que Deus era o autor do pecado e o
agente responsável por ele. Eu respondi que a presciência não implica
necessariamente na predestinação, pois alguém pode ter conhecimento de que
um ladrão pretende roubar sua casa, sem que isso signifique que ele
predestinou tal ação. O presidente, um ateu, comentou: “Mas o seu próprio
Livro está contra você” e apontou o texto de Romanos 8.29 onde está escrito:
“Aqueles que (Deus) conheceu de antemão, também os predestinou para ser
conforme a imagem do Seu Filho, para que Ele fosse o Primogênito entre
muitos irmãos”. Eu respondi dizendo que o texto não diz: “Aos que Ele
dantes conheceu conseqüentemente Ele predestinou”, como se um seguisse
automaticamente o outro. Mas está escrito que “Ele também predestinou”,
mostrando que a predestinação foi adicional à presciência, e, portanto,
distinta dela. Nesse ponto (e com tais palavras) terminou a discussão.

Sobre esse assunto Rosenberg escreveu estas fortes palavras: “No


conceito Judaico-Sírio-Romano, que faz separação entre a Personalidade
Humana e Deus e os coloca em inimizade, a idéia da ‘predestinação’ tornou-
se um conceito louco que abateu a humanidade ao nível de escravos por
nascimento” (M. 395).

Deixando o azedume dessa declaração, e por ser um homem honesto


e cristão eu devo simpatizar com aqueles oponentes do Cristianismo que
ficam chocados com este dogma da predestinação. A falha está inicialmente
com aqueles teólogos que o anunciaram em termos severos e deles extraíram
inferências duras e terríveis não ensinadas na Palavra de Deus.

Agostinho disse: “Deus opera todas as coisas em nós,


recompensando Seu próprio bem e punindo Seu próprio mal”. Tais palavras
parecem indicar que o erro moral é operado por Deus e depois castigado
naqueles que o praticam. Essa declaração de Agostinho é citada por E. T.
Vaughan na nota de rodapé da sua tradução de 1.823do livro de Lutero
“Escravidão da Vontade” (pg 61). Ele não fornece a referência. Agostinho, no
Enquirídio, capítulo C, fala do Bem supremo tirando proveito até daquilo que
é mal, para a condenação daqueles que em Sua justiça Ele tem predestinado
para a condenação, e para salvação daqueles que em Sua misericórdia Ele
tem predestinado para a graça.

Calvino escreveu: “Os quais então, Deus criou para a vergonha da


vida e destruição da morte, para serem instrumentos da Sua ira e exemplos da
Sua severidade: para que cheguem ao seu próprio fim, ocasionalmente Ele
tira a capacidade de ouvir Sua Palavra e em outras ocasiões Ele os cega e os
torna mais confusos por meio da pregação dela” (Institutas, Bk. Iii; cap
24.12).

Lutero escreveu: “Fazemos tudo apenas pela vontade de Deus e por


meio de uma exigência que é colocada sobre nós ... de modo que todas as
coisas ainda acontecem inevitavelmente, no que nos diz respeito ... visto que
Deus move e atua em todas as coisas, não há como Ele também Se mover e
atuar em Satanás e no ímpio ... (eles são) impelidos por este impulso da
onipotência Divina ... Daí se conclui que o homem ímpio não pode senão se
desviar e pecar continuamente; visto que ele é capturado e impulsionado pelo
poder de Deus, ele não tem permissão para ficar ocioso, mas decide, deseja e
age exatamente de acordo com o que ele é (Escravidão da Vontade, pgs 251,
252, 266, 267 – Ed. E. T. Vaughan, 1.823).

Esse editor de Lutero mencionado acima acrescentou numa nota de


rodapé: “Pela afirmação de que o reino do inferno tem conquistado e está
conquistando seus súditos através de um poder que Deus deu ao diabo, sou
levado a entender que o diabo não poderia existir, nem continuar existindo
senão pela vontade de Deus; e que ele enche o inferno através da sua ação;
por meio da qual, em perfeita consistência com todas as relações e obrigações
da criação, a ruína foi originalmente trazida sobre o homem; e por meio da
qual ele (o diabo) protege e preserva para si mesmo aquele despojo, o qual é
do agrado do Pai que ele ganhe, para Sua glória, isto é, para glória de Deus o
Pai” (pg 222).

Samuel Rutherford foi realmente um discípulo raro e fiel de Cristo.


Todavia em uma de suas cartas (edição de Bonar, No. 34) encontramos um
horrível exemplo da teologia Calvinista. O longo argumento pode ser assim
resumido: “A vontade de Deus é essencialmente santa e justa. Quando Deus
diz aos reprovados ‘creiam em Cristo (que não morreu pela vossa salvação) e
sereis salvos’, isso é justo e correto. Deus tem obrigado de forma imutável
que todos os reprovados da igreja visível creiam nesta promessa: “Quem crer
será salvo”. Mas, no decreto e intento secreto de Deus não há qualquer
salvação ordenada e planejada para os reprovados. Por isso, por haver malícia
neles e desprezo por Cristo, eles são culpados e a justiça tem a lei contra eles
e não podem vir a Cristo (esse é o mistério), porque Ele não morreu por eles”.

Essa linha de pensamento termina na Doutrina da Reprovação cujo


sentido é: Deus por meio de sua soberania irresistível determinou antes da
criação que alguns não seriam resgatados do pecado e da condenação. Cristo
só morreu para redimir os escolhidos; o restante foi preordenado para a
condenação e Deus não tem a intenção de salvá-los. Todavia, Ele ordena que
se arrependam e creiam, mesmo sabendo que eles não podem fazer isso. E no
final Ele os manda para o inferno por sua desobediência.
Rejeito totalmente a Ciência Cristã, mas não me surpreende saber
que Mary Baker Eddy (fundadora dessa doutrina) mostrou-se horrorizada
com esse inflexível dogma e sentiu repulsa por ele. Eu considero o Bispo
Newman como um dos homens mais prejudiciais do século passado, mas
concordo com sua descrição da predestinação para a morte eterna como
sendo uma “doutrina detestável” (Apolocia, ed. Dent. 3 l).
DEUS QUER SALVAR ALGUNS?

Essa atitude não é o resultado de pressuposição da minha própria


mente ou sentimento. Permitir que tais (ensinos) determinem uma questão,
seria simplesmente um exemplo daquele racionalismo ou humanismo que eu
rejeito igualmente. Se a Palavra de Deus ensinasse esse dogma eu teria que
aceitá-lo, mas ao ler a Palavra vejo que seu ensino é exatamente o contrário.
Através do profeta Ezequiel (sexto século a.C.) Deus fez uma declaração com
juramento: “Assim como Eu vivo, diz o Senhor Jeová: não tenho prazer na
morte do ímpio, mas sim que o ímpio se volte do seu caminho e viva;
retornai, retornai dos vossos maus caminhos; por que morreríeis ó casa de
Israel? Tenho eu qualquer prazer na morte do ímpio, diz o Senhor Jeová; não
desejo antes que ele se volte do seu caminho e viva?” (Ez 11.18-20).

Se Deus prefere, ou melhor, anseia poupar o ímpio da morte


temporal, como pode ter predeterminado de antemão sua morte eterna? O
Filho de Deus afirmou claramente que “Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que Nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Dizer que isso significa apenas o
mundo dos escolhidos é violentar as próprias palavras no seu sentido
evidente. Os apóstolos de Cristo entenderam-nas nesse sentido claro. João
escreveu que “Ele (Jesus) é a propiciação pelos nossos pecados e não
somente pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro” (1Jo
2.2). A palavra “nossos” aqui se refere ao escritor e àqueles aos quais ele se
dirige, isto é, todos os que haviam recebido Jesus Cristo o Justo como
Salvador e Advogado. Fora desse círculo de crentes estava todo o restante
dos homens, o mundo. Se for argumentado que a referência é também ao
mundo dos eleitos, perguntamos se esse limite pode ser aplicado a estas
outras palavras de João na mesma carta: “Sabemos que (nós) somos de Deus
e que o mundo inteiro jaz no Maligno” (1Jo 5.19). Os eleitos são os “nós”
nessa passagem e não o mundo.

Mas quão iluminadora é a exortação de Paulo ao dizer que orações


devem ser oferecidas por todos os homens, incluindo reis e autoridades
pagãs: “Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações,
intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os
que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida sossegada, em toda a
piedade e honestidade. Porque isto é bom, e agradável diante de Deus nosso
Salvador, o Qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
pleno conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e um só Mediador
entre Deus e os homens, Cristo Jesus - Homem, o Qual Se deu a Si mesmo
em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo; para o que (digo
a verdade, não minto) eu fui constituído pregador e apóstolo, mestre dos
gentios na fé e na verdade” (1Tm 2.1-7). Sobre qual fundamento a oração
deve incluir todos os homens? “Porque isto é bom e agradável diante de Deus
nosso Salvador, o Qual deseja que todos os homens sejam salvos”. A ênfase
aqui está na palavra “todos”: “O Qual deseja que todos os homens sejam
salvos”. E esse desejo Divino é tão intenso que “Cristo Jesus Se deu a Si
mesmo em resgate por todos”. Aqui o termo “todos” aparece três vezes e
como na primeira vez ele inclui especificamente os ímpios, assim também
deve ser nas outras vezes.

Tal é o testemunho de toda a Bíblia. Ela mostra Deus lamentando


por causa dos Seus inimigos (Ez 27.1,2; 28.12) e desejando ardentemente
ajuntá-los sob Sua proteção assim como os pintinhos sob as asas da galinha
(Mt 23.37). Ele também cuida, faz provisão, disciplina, suplica, adverte e
também espera pacientemente através dos séculos, sim, milênios, na
esperança de alguns mais deles se arrependam e aceitem o Seu perdão (2Pd
3.9,15). Porque o julgamento é para Ele uma “obra estranha, Sua estranha
ação” (Is 28.21); por outro lado “Ele se deleita na misericórdia” (Miq 7.18). E
Ele só Se volta para o julgamento quando a misericórdia é rejeitada, quando
ela perde a utilidade e a justiça não pode mais tolerá-la.

O dogma da reprovação admite que esse anseio, paciência e rogo (de


Deus) com o ímpio são superficiais; eles são apenas aparentes e irreais, e que
por detrás dessa atitude exterior e tolerada está o verdadeiro Deus que
predestinou o ímpio para ser condenado. Na verdade há pouca diferença entre
esse Ser e os Destinos da filosofia pagã. Porque eles também permitem ao
homem aquela medida de prosperidade e prazer que desfrutam por algum
tempo. Permitem também que os negócios corram tranquilamente por longos
períodos, mas no final os decretos inexoráveis e duros destroem seus
objetivos desamparados.

PREDESTINAR OU PREORDENAR?

Examinemos mais precisamente esse texto: “Aqueles que Ele


conheceu de antemão Ele também preordenou” (Rm 8.29). Os tradutores da
Versão Autorizada (em inglês) parecem revelar um prejuízo doutrinário por
meio da sua tradução “Ele também predestinou”. Por causa dessa palavra
indevida eles retornaram às versões católicas, a Rheims e a Vulgata que
trazem “predestinavit”, enquanto que as versões Inglesas mais antigas de
Wycliff e Tyndale trazem a palavra “preordenar” que é mais suave e precisa.
Isto é ainda mais notável no caso de Wycliff, porque que ele estava
traduzindo da Vulgata. Estes últimos tradutores tinham razão para abandonar
o Latim, mas a Versão Autorizada (em Inglês) ao restaurá-la produziu um
efeito desastroso ao fixar na mente dos leitores a noção fatalística tão
estranha à Escritura.

Se os tradutores da Versão Autorizada tivessem entendido Isaías


65.11 eles poderiam ter notado a falta de exatidão ao introduzir a idéia de
destino, visto que Deus a havia condenado solenemente: “Mas a vós outros,
os que vos apartais do Senhor, os que vos esqueceis do meu santo monte, os
que preparais mesa para o deus Destino, também vos destinarei à espada”. A
mudança deles é menos desculpável porque em outro lugar eles traduziram a
mesma palavra por “ordenar” (1Co 2.7).

Uma coisa pode ser preordenada sem que seja irreversível, porque
pode ser ordenada sob condições que não sendo preenchidas torna a
ordenação sem valor. E este é o caso aqui. A passagem está falando daqueles
preordenados sendo “conformados à imagem do Filho de Deus [e]
glorificados”. Numa sentença anterior (Rm 8.17) foi escrito que os filhos de
Deus são “herdeiros de Deus, mas co-herdeiros com Cristo, se sofrermos com
Ele, para que possamos também ser com Ele glorificados”. Em sua última
carta que temos, o mesmo autor afirma a mesma condição ligada ao mesmo
assunto de participar da glória de Cristo (2Tm 2.10,11). Ele fala do eleito
obtendo “a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna” e acrescenta:
“Digna é a palavra: porque se morrermos com Ele, também com Ele
viveremos; se perseverarmos, também com Ele reinaremos; se O negarmos,
Ele também nos negará”.

O elemento condicional teve pouco peso (se não foi nenhum) no


tratamento dado pelo Calvinismo a este tema e que é repudiado com
freqüência e determinação. Porém ele está claramente presente e desfaz
completamente toda tentativa de unir um sentido de fatalidade a estas
passagens. A preordenação de Deus foi condicionada por algo que Ele previu,
e por seus próprios termos é condicionada pela resposta do homem. O zelo
Calvinista nesta controvérsia tem sido gerado amplamente pelo desejo de
manter essa verdade: que o pecador justificado em Cristo pela fé permanece
justificado diante da lei de Deus para sempre; que a nova vida que ele recebe
em Cristo é vida eterna e imperdível. Essa doutrina a escola contrária,
conhecida como Arminianismo, nega e afirma que a Escritura ensina que a
salvação é inteiramente passível de ser perdida por causa de uma conduta
errada.
Certamente a doutrina Calvinista nesse ponto mostra o claro significado de
várias passagens tais como: Cristo declarou que Suas ovelhas que O seguem
“nunca perecerão e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai que as deu
é maior do que todos e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai. Eu e
meu Pai somos um” (Jo 10.27-29). Ou quando Paulo conclui a mais completa
e elaborada de todas as declarações da doutrina cristã afirmando sua
persuasão racional de que nada concebível “poderá nos separar do amor de
Deus em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8.39).

É óbvio que nos escritos dados por Deus não pode haver nenhuma
contradição. O claro significado das palavras inspiradas por Deus deve
sustentar que o significado claro das passagens citadas é que a justificação e a
vida eterna não podem ser perdidas, sendo “livres dádivas” (Rm 3.24; 6.23).
Elas são livres de condições; são dádivas absolutas. Eu pessoalmente aceito
isso sem hesitação.

As passagens mais usadas pelos Arminianos para sustentar o ponto


de vista contrário não tratam com a questão da posição judicial do pecador na
lei. No tocante à salvação eterna Cristo afirmou positivamente que o homem
que ouve Sua palavra e crê no Pai que enviou o Filho e falou através Dele
“não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24). Declarações
posteriores devem ser lidas em harmonia com estas. O ramo pode ser cortado
da videira, secar e ser queimado, mas o tema em João 15 não é a vida eterna,
e sim a frutificação na vida presente. Trata-se da união com Cristo que é um
benefício distinto e adicional.

O que eu gostaria de acrescentar aqui é que em passagens


semelhantes onde a eleição e a preordenação aparecem, elas não se aplicam à
questão da salvação, e sim às expectativas dos salvos.

O ALVO DA PREORDENAÇÃO
Romanos 8.29,30 – A preordenação tem em vista a conformidade segundo a
imagem do Filho de Deus, para ser glorificado. A palavra “imagem” significa
semelhança externa com outro objeto: “Ele é a imagem do seu pai”. Um rei
pode perdoar um criminoso e assim lhe conceder mais tempo de vida; mas
isso não significa que Ele vai obrigatoriamente colocar esse antigo rebelde
numa associação pública íntima com o provável herdeiro e vesti-lo com o
devido esplendor para aquela associação.
Romanos 9.23 – “Vasos de misericórdia que Ele preparou de antemão para
glória”; não vasos redimidos isentos da condenação.
Hebreus 2.10 – “Deus está conduzindo muitos filhos à glória”. O pensamento
é que dentre a vasta multidão dos Seus filhos alguns estão sendo treinados,
educados, desenvolvidos em filhos adultos, para que possam ser herdeiros
das honras e autoridade do Filho de Deus no reino do Pai.
Romanos 8.19-25 – O mesmo conceito é encontrado aqui. A passagem fala
da “revelação”, do descortinar “dos filhos de Deus” que é a adoção deles.
Esta palavra não se refere ao novo nascimento na família de Deus, mas ao
resultado final possível daquele nascimento. O nobre romano podia escolher
qualquer um dos seus filhos homens para ser herdeiro dos seus títulos e
propriedades. Este jovem ele conduzia diante do Senado e declarava
devidamente que este era seu filho e herdeiro. Imediatamente sua veste de
jovem era removida e ele recebia a outra de um adulto. De forma semelhante
ainda não é manifesto ao universo quem na família de Deus reinará com
Cristo. Mas quando o presente corpo de humilhação der lugar àquele
semelhante ao corpo glorificado de Cristo será esclarecido: “Quando Cristo
(que já é a nossa vida) Se manifestar, então seremos também manifestados
com Ele em glória” (Col 3.4).

1 Pedro 1.2; 5.10 – Vós sois verdadeiramente “escolhidos segundo a


presciência de Deus o Pai”, mas isso não se aplica à isenção do inferno, mas é
“em santificação do Espírito, para obediência e aspersão do sangue de Jesus
Cristo”. A finalidade é para o ofício sacerdotal, aproximação sacerdotal de
Deus e serviço sacerdotal, pois foi na consagração dos sacerdotes que
primeiro foi usada a água e o sangue foi aspergido por último (Lv 8). Na
restauração do leproso que fora afastado da comunhão, o sangue era aplicado
primeiro e em seguida as purificações (Lv 14). E esta santificação e
obediência não são condições para a salvação da condenação. A chamada de
Deus em vista aqui é “para Sua eterna glória em Cristo”. Estas promessas de
partilhar da glória do próprio Deus são realmente grandíssimas e preciosas e
em vista dessa “entrada abundante no reino eterno” é que os cristãos são
fortemente estimulados a procurar “com diligência cada vez maior, confirmar
a vossa vocação e eleição” (2Pd 1.3-11). Embora a vida eterna esteja
garantida para sempre, a glória do reinado e sacerdócio no reino podem ser
perdidas.
1 Tessalonicenses 2.12 – Paulo também exortou os cristãos a viverem “por
modo digno de Deus”, mas não porque a justificação deles em Cristo
estivesse condicionada à conduta, e sim porque Deus os chamava “para o Seu
reino e glória”.
Efésios 1.4,5 – Visando o mesmo resultado somos informados que “Deus nos
escolheu em Cristo antes da fundação do mundo para que fôssemos santos e
inculpáveis diante Dele”. A palavra “katenopion” significa “sob Seus olhos”,
em Sua presença imediata e não em alguma região remota do reino, como é a
porção da maior parte dos súditos do monarca. Assim a declaração continua:
“Havendo nos preordenado para adoção como filhos”, no pleno sentido acima
manifestado.
Colossenses 1.12 – A mesma idéia Paulo liga às palavras escritas no mesmo
período como a última passagem mencionada, que Deus “nos capacitou com
vistas à participação da herança dos santos na luz”. “Na luz” significa como
no texto acima, na presença imediata de Deus que é Luz.
É evidente que nestes lugares onde a escolha (eleição) e a chamada
de Deus estão em vista, a ligação não é com o livramento da perdição, mas
com as expectativas do salvo. Entendemos que é assim em todos os lugares
na Escritura. Não obstante, será contestado que em Atos 13.48 está escrito
que “creram tantos quantos foram ordenados para a vida eterna”, e que,
portanto, a salvação eterna é uma questão de preordenação. Mas a palavra
usada aqui, “Tasso” não é a mesma usada para “preordenar”, e nesse lugar ela
tem mais o sentido de ter disposição para um determinado curso ou ação.
Portanto, tantos quantos tinham o coração voltado para a oferta da vida eterna
feita pelos mensageiros de Deus creram na mensagem. É nesse sentido que o
versículo é entendido por Alford, Bloomfield, Wordsworth, Humphey,
Bartlett (Century Bible), Rotherham. Entendido desse modo ele não dá
sustentação para a questão da salvação pré-ordenada.
ROMANOS CAPÍTULO 9
Resta ainda considerar essa passagem que provavelmente é a mais
utilizada para sustentar o ensino da reprovação. As sentenças mais destacadas
são: “E não somente isso, mas Rebeca tendo também concebido de Isaque
nosso pai, e não tendo os filhos nascido, nem tendo feito bem ou mal, para
que o propósito de Deus segundo a eleição ficasse firme, não por obras, mas
por cauda Daquele que chama, foi dito a ela: O mais velho servirá o mais
novo. Assim como está escrito: Amei a Jacó, mas aborreci a Esaú”. “O que
diremos então? Há injustiça da parte de Deus? De modo algum. Porque Ele
disse a Moisés: Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e terei
compaixão de quem eu me compadecer. Portanto, não depende de quem quer
ou de quem corre, mas de Deus que exerce misericórdia. Pois a Escritura diz
a Faraó: Para este mesmo fim te levantei, para que pudesse mostrar em ti o
meu poder e para que o meu Nome fosse manifestado em toda a terra. Por
isso Ele tem misericórdia de quem quer e endurece a quem quer. Tu, porém,
me dirás então: De que se queixa Ele ainda? Pois quem jamais resistiu à Sua
vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode
o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o
oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e
outro, para desonra? Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a Sua ira
e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de
ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as
riquezas da Sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de
antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os
judeus, mas também dentre os gentios?” (Rm 9.10-24).

Observemos os seguintes pontos:

(i) Romanos 9.11: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham
praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição,
prevalecesse, não por obras, mas por Aquele que chama”. O ato da eleição
(escolha) de Deus estava ligado ao Seu propósito. Portanto, ele não foi um
simples ato da vontade, um “Fiat”. Deus não disse: Será assim simplesmente
porque quero que assim seja. Pelo contrário, foi uma escolha e por isso um
ato resultante da consideração de diferentes fatores e uma escolha voltada
para o cumprimento de um propósito, envolvendo reflexão, consideração e a
decisão do fim a ser alcançado. Esta escolha e propósito foram estabelecidos
por Deus antes do nascimento das pessoas que estariam envolvidas nele
(como Esaú e Jacó) e, portanto, Deus não formulou Seu propósito para
satisfazer circunstâncias que haviam surgido. Ele formou e anunciou
antecipadamente Seu propósito segundo o que Ele previu.

(ii) Romanos 9.13: “Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de
Esaú”. Deus amou a Jacó e aborreceu a Esaú. Por que em cada caso? As
histórias enfatizam certos fatos, tais como o de Esaú ter “desprezado” os
privilégios que Deus lhe concedeu, enquanto que Jacó os valorizou e buscou.
Estritamente falando é a respeito dos descendentes de Esaú que foi dito que
Deus “aborreceu” e entregou sua terra à destruição (Mal 1.2-5). Naturalmente
Deus não sente aquele ódio vicioso que os seres caídos desenvolvem. Seu
“ódio” é santo; é uma aversão intensa àquilo que é moralmente odioso. Por
isso ele é exercitado por causa da profanidade. Assim está escrito de Esaú
que “os homens os chamarão de fronteira da impiedade”. Por isso são “o
povo contra o qual Jeová está indignado para sempre”. Quem ler as vinte
passagens onde Edom é mencionado nos Salmos e nas profetas verá quão
justa é a descrição deles como ímpios. Deus não seria um Ser santo se não
sentisse indignação contra tal depravação manifestada por Esaú e seus
descendentes. Desse modo a diferenciação de Deus entre estes irmãos levou
em conta a condição moral. Não foi algo arbitrário. De modo que a
diferenciação estabelecida por Deus entre estes dois irmãos teve como base a
condição moral. Não foi algo arbitrário.

(iii) Romanos 9.15,16: “Pois Ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem
me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter
compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer nem de quem corre, mas
de usar Deus a Sua misericórdia”. Deus tem misericórdia de quem Ele quer.
Sim, muito verdadeiro; mas é uma declaração inteiramente sem fundamento
de que Sua ação não é governada pela razão e exercitada em bases morais. A
introdução aqui da uma ação caprichosa de Deus é a noção falsa e enganosa
que tem viciado o raciocínio de muitos. A Escritura inteira é contra ela. A
Fonte da razão e dos atos morais

(iv) Romanos 9.17,18: “Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te
levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome se
anunciado por toda a terra. Logo, tem Ele misericórdia de quem quer e
também endurece a quem Lhe apraz”. Deus endureceu Faraó. A história
ilumina plenamente este exemplo e o argumento é fornecido nos capítulos 3 a
14 de Êxodo.

O ENDURECIMENTO DE FARAÓ

Êxodo 3.19: “Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for
obrigado por mão forte”. Ao comissionar Moisés para ir ao Egito e exigir que
Faraó libertasse seus escravos israelitas, Deus mostrou Sua presciência ao
dizer: “Eu sei que o rei do Egito não vos deixará ir”.

Êxodo 4.21 – Deus deu a seguinte responsabilidade a Moises: “Quando


voltares ao Egito, vê que faças diante de Faraó todos os milagres que
coloquei te hei posto na mão; mas eu lhe endurecerei (literalmente: tornarei
forte) o coração para que ele não deixe ir o povo”.

Êxodo 7.2,3: “Tu falarás tudo o que eu te ordenar; e Arão, teu irmão, falará a
Faraó, para que ele deixe ir da sua terra os filhos de Israel”. Moisés e Aarão
são mandados a se apresentarem uma segunda vez a Faraó a exigência de
Deus, mas Deus diz novamente: “Eu, porém, endurecerei (tornarei obstinado,
Darby) o coração de Faraó”.

Êxodo 7.13,14: “Todavia, o coração de Faraó se endureceu e não os ouviu


como o Senhor tinha dito”. A exigência foi apresentada e a vara virou uma
serpente, mas observe como o resultado é descrito. Não diz que Deus
imediatamente endureceu o coração do rei, e sim que “o coração de Faraó se
endureceu e ele não ouviu”. De igual modo Deus acrescenta o comentário:
“O coração de Faraó está obstinado”, mas não diz como isso aconteceu.

Êxodo 7.22: “Porém os magos do Egito fizeram também o mesmo com as


suas ciências ocultas; de maneira que o coração de Faraó se endureceu, e não
os ouviu como o Senhor tinha dito”. Outro julgamento foi aplicado e
novamente o efeito no rei é declarado como antes: “O coração de Faraó se
endureceu”. Veja a mudança na próxima vez.

Êxodo 8.15: “Vendo, porém, Faraó que havia alívio, continuou de coração
endurecido e não os ouviu como o Senhor tinha dito”. Outra praga atacou a
terra. A princípio o rei parecia estar cedendo e pediu sua remoção, mas
depois de atendido Faraó “endureceu o seu coração”. Ele voluntariamente se
fez pesado, indiferente e desobediente.

Êxodo 8.19: “Então, disseram os magos a Faraó: Isto é o dedo de Deus.


Porém, o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu como o Senhor tinha
dito”. Mesmo depois de outra praga a obstinação voluntária de Faraó
persistiu e seu coração se endureceu (forte em oposição a Deus).

Êxodo 8.32: “Mas ainda esta vez endureceu Faraó o coração e não deixou ir o
povo”. A impressão é que o julgamento seguinte iria amolecer o rei e ele
propôs um compromisso; mas outra vez lemos que por sua própria ação
“Faraó endureceu seu coração também desta vez”.

Êxodo 9.7: “Faraó mandou ver, e eis que do rebanho de Israel não morrera
nem um sequer; porém, o coração de Faraó se endureceu e não deixou ir o
povo”. Mais um golpe de Deus, mas como das outras vezes o coração do rei
foi obstinado (pesado).

Êxodo 9.12: “Porém o Senhor endureceu o coração de Faraó, e este não os


ouviu como o Senhor tinha dito a Moisés”. Sete apelos foram feitos, sete
oportunidades para se sujeitar foram dadas, seis golpes solenes foram
aplicados, mas Faraó havia endurecido resolutamente o seu coração. Só então
lemos que Jeová endureceu o coração de Faraó. Agora não havia mais
esperança para ele e embora pudesse recuar e pedir alívio pelo golpe seguinte
sua atitude foi:

Êxodo 9.34 – “Tendo visto que cessaram as chuvas, as pedras e os trovões,


tornou a pecar e endureceu o coração, ele e os seus oficiais”. Desta vez o mal
venceu também os seus oficiais da corte.

Êxodo 10.1: “Disse o Senhor a Moisés: Vai ter com Faraó, porque lhe
endureci o coração e o coração dos seus oficiais, para que eu faça estes meus
sinais no meio deles”. Agora Deus diz a Moisés que finalmente Ele agiu
sobre o soberbo e rebelde desafiador, dizendo: “Eu endureci o seu coração e
o coração dos seus oficiais”.
Êxodo 10.20: “O Senhor, porém, endureceu o coração de Faraó e este não
deixou ir os filhos de Israel”. Um julgamento ainda mais terrível se seguiu; o
rei pediu um novo intervalo que lhe foi concedido, mas “o Senhor endureceu
o coração de Faraó e ele não deixou ir os filhos de Israel”.

Êxodo 10.27: “O Senhor, porém, endureceu o coração de Faraó, e este não


quis deixá-los ir”. Isso foi repetido da parte do rei e da parte de Deus.

Êxodo 11.10: “Moisés e Arão fizeram todas essas maravilhas perante Faraó,
mas o Senhor endureceu o coração de Faraó, que não permitiu saíssem da sua
terra os filhos de Israel”. Fato repetido.

Êxodo 12.29-51 - Seguiu-se então, a derrota final da resistência do rei e do


seu povo com a morte de todos os seus primogênitos. Então eles lançaram
para fora da terra o povo de Israel.

Êxodo 14 – Mas logo que foram aliviados eles mostraram a grande tolice do
coração endurecido por Deus, indo apressadamente atrás do povo buscando
criar de novo a mesma situação que lhes havia custado preço tão pesado e
amargo e derrota esmagadora. Nada poderia detê-los em sua fúria
enlouquecida de agirem de forma insana; nem mesmo a glória da coluna de
fogo, nem as densas trevas na qual se encontraram repentinamente
envolvidos, nem pelo perigo iminente de serem imersos no leito do Mar
Vermelho com muros de águas tremulantes dos seus lados.

A terrível explicação para tal tolice incontrolada e suicida se


encontra nas palavras pronunciadas anteriormente pelo Senhor Deus:
“Endurecerei o coração de Faraó para que os persiga e serei glorificado em
Faraó e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que eu sou o
Senhor...Eis que endurecerei o coração dos egípcios, para que vos sigam e
entrem nele (mar); serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos
seus carros e nos seus cavaleiros” (Ex 14.4,17). Porque, se os súditos de um
soberano não o honrarem pela obediência leal, eles serão forçados a honrá-lo
pela aplicação da devida penalidade; e se por esse meio eles chegarem a
conhecer sua majestade e autoridade, terá sido benéfico a eles e ao reino em
geral no final.
Na Palavra de Deus essa história é dada com rara abundância de
detalhes e foi examinada aqui mais minuciosamente porque é uma importante
revelação dos métodos atuais e futuros de Deus com as pessoas e as nações.
Mas neste capítulo sua lição principal é que, embora o Altíssimo tenha
misericórdia de quem Ele quer e endurece e destrói a quem quer em nenhum
dos casos Sua ação é arbitrária ou fatalística. Como em todas as Suas ações,
estas são dirigidas pelo que Ele é em Sua natureza, a Fonte de toda
moralidade, sabedoria e razão e uma manifestação delas também. O Juiz de
toda a terra faz realmente conforme é do Seu agrado, mas o que Ele faz é
sempre reto. “Contempla a bondade e a severidade de Deus” (Rm 11.2). Foi
um homem que viveu em dias de impiedade e desespero que escreveu:
“Quem é sábio para que possa entender estas coisas? E prudente para que
possa compreendê-las? Porque os caminhos de Jeová são retos e o justo
andará neles, mas os transgressores cairão neles” (Os 14.9).

A interpretação aqui oferecida para a eleição e preordenação divina


pode ser assim ilustrada: Um rei enfrenta uma grande rebelião e proclama
uma anistia genuína a todos os rebeldes. Para o bem do reino da sua própria
honra ele gostaria que todos os rebeldes se submetessem. Nessa esfera ele
não faz qualquer distinção e não tem nenhuma reserva contra ninguém. Mas
dentre os que se submeterem ele seleciona este homem para tal posição e
aquele para outra “a cada um conforme sua capacidade” (Mt 25.15).

A ilustração difere da realidade de um rei humano que só poderia


atuar depois que a submissão fosse feita; ele poderia, no máximo, em sua
própria mente fazer escolhas de oficiais apenas na suposição de que eles se
submeteriam. Mas em se tratando da presciência de Deus, Ele pode fazer Sua
escolha dos que serão honrados antes mesmo deles serem criados.

Mas o princípio é o mesmo, a saber, que a oferta da salvação de


Deus é genuína conforme os seus termos sugerem e que é oferecida a todos e
que da Sua parte Ele deseja que todos aceitem a Sua misericórdia. Mas
sabendo de antemão o que cada um faria, Ele determinou que alguns que se
tornariam uma “Noiva” para o Seu Filho seriam um corpo governante no
Reino; outros governariam na terra, como Israel e outros para ser a multidão
geral dos súditos no Reino. E esta diferenciação é baseada em fundamentos
justos e morais e em nenhum caso anula a ação da vontade na questão do
propósito da graça. A salvação pode ser rejeitada, e se ela for aceita a coroa
da glória pode ser perdida. Nenhum elemento fatalista existe em Deus ou
opera em Suas ações ou caminhos.

Há mais de vinte e cinco anos o autor viu essa interpretação da


eleição como sendo o significado da Escritura, e a tem ensinado desde então.
Depois que estas páginas foram escritas foi de grande encorajamento
encontrar o seguinte comentário do Dr. Griffith Thomas:

“Um estudo cuidado da Escritura revelará certas verdades que


podem ajudar a colocar a doutrina da eleição numa luz mais verdadeira. Não
existe dúvida de que todos os homens podem ser salvos, se eles apenas
aceitarem Aquele que morreu por todos sem exceção. Ele (Jesus) certamente
salvará a todos, menos aqueles que tendo ouvido persistirem na rejeição de
aceitá-Lo até o fim. Estes, tendo exercitado sua vontade livre, devem sofrer o
resultado inevitável de tal escolha. Assim, Cristo não é apenas o Único
Salvador possível, mas o verdadeiro Salvador dos pecadores, sujeito somente
e sempre ao direito de qualquer pecador exercitar sua vontade livre na
rejeição da salvação. Não há outro caminho para a salvação e nenhum outro
mérito além da morte expiatória de Cristo no Calvário.

Embora tudo isso seja verdadeiro, é preciso observar com cuidado


que a Bíblia não separa os homens em apenas duas classes: os salvos e os
perdidos. Ela não revela a existência de apenas uma classe de salvos, mas
várias classes ou níveis de salvos. É nisso que algum alívio pode ser
encontrado para nossa perplexidade intelectual.

A salvação mais elevada é claramente associada com o que o Novo


Testamento descreve como ‘o Corpo de Cristo’, ou ‘a esposa do Cordeiro’.
As várias referências aos “eleitos” apontam para essa comunidade de
“herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”, os quais foram “escolhidos
desde a fundação do mundo”. Entretanto, a Bíblia indica claramente que estes
não são os únicos salvos. Pelo contrário, existem nítidas declarações de que,
em acréscimo ao corpo de cristãos chamado de ‘a Noiva’, existem outras
comunidades de seres humanos que são salvas da destruição eterna e que
mesmo assim nunca farão parte do ‘Corpo de Cristo’. Essa salvação está fora
da salvação daquelas pessoas escolhidas que coletivamente formam Sua
Igreja espiritual. As seguintes passagens parecem indicar estes níveis:

1. Existem pessoas do mundo sobre as quais, Segundo a Escritura, os


membros da Igreja de Deus deverão reinar com Cristo como reis e sacerdotes
(1Co 6.2; Ap 20.4-6). Certamente é impossível que estas pessoas sobre as
quais os santos vão reinar sejam os perdidos.

2. Uma referência é feita às ‘nações’ no julgamento na vinda de Cristo, e


visto que a Igreja ou a ‘Noiva’ já foi arrebatada anteriormente para encontrá-
Lo nos ares, está claro que aqueles que são colocados à direita do Rei e
convidados para herdar o reino não podem ser nem os ‘irmãos’ de Cristo nem
a Igreja (Mt 25.31-46).

3. Depois lemos de pessoas ressuscitadas na última ressurreição e julgadas


segundo os atos realizados no corpo; e dentro desse número aqueles cujos
nomes são encontrados escritos no Livro da Vida do Cordeiro (Ap 20.12-15;
21.27). Visto que os membros da Igreja já haviam sido ressuscitados bem
antes e glorificados na primeira ressurreição (Ap 20.4-6), quem são estes
cujos nomes estão registrados no Livro da Vida do Cordeiro muito tempo
depois da Primeira Ressurreição?

Na Carta aos Hebreus lemos dos ‘espíritos dos homens justos


aperfeiçoados’ como sendo uma classe distinta da ‘assembléia geral e Igreja
dos Primogênitos’. Se existe a Igreja dos Primogênitos que herdam a ‘bênção
plena’, isso não indica a existência de outros que nasceram depois e que
herdam uma bênção inferior (Hb 12.23)?

5. Quando o Apóstolo Paulo escreve que ‘todo o Israel será salvo’ (Rm
11.25,26) não somos direcionados para um número de pessoas que está
totalmente fora do Corpo de Cristo?

6. A Cidade Celestial, a Noiva, a Esposa do Cordeiro (Ap 21) geralmente é


aceita como representando a Igreja glorificada. Se for assim, quem são ‘as
nações’ que andam à luz da Cidade, e quem são ‘os reis da terra’ que trazem
sua glória e honra à Cidade? Deve haver alguma distinção entre estes e os
membros glorificados da Igreja. Uma consideração cuidadosa dessas
passagens parece mostrar que Deus fez uma seleção de homens para formar a
Sua Igreja; mas os membros desse corpo coletivo não são os únicos salvos. A
verdade da eleição pertença aos mistérios de Deus e nunca serão finalmente
resolvidos na vida presente, mas a consciência dos vários níveis de salvos nos
ajuda a reconhecer que a Escritura parece indicar que é incorreto pensar que a
maior parte da raça humana será condenada e apenas alguns serão salvos”
(Principles of Theology, pags 255,256).

Alguém me mostrou também a seguinte declaração do Dr. G.


Campbell Morgan: “A eleição na Escritura é para a Igreja e nunca para a
salvação” (Parables of the Kingdom, pg 156,157). Espero que essas palavras
possam aliviar as mentes honestas no tocante às dificuldades sinceras sobre
este assunto.

George Henry Lang – 1874 - 1958


Outros lançamentos da Edições Ruiós:

Série A IGREJA E A OBRA


Volume 1
A Tarefa de Pastorear – Ernie Hile
Os Anciãos e os Obreiros
Autor: Watchman Nee

Volume 2
Os Ministros e os Ministérios
Autor: Watchman Nee

TEMPO DO FIM

Volume 1
O Sistema Babilonico
Autor: B. W. Newton

Volume 2
O Terceiro Templo de Israel
Autores: Chitwood - Panton - Govett

Volume 3
O Endurecimento de Israel
Autores: David Baron - A Oliveira - B. W. Newton

LIVROS DA BÍBLIA

Volume 1
Jonas - O Quebrantamento de um Profeta
Autor: Délcio Meireles

Volume 2
Levítico - As Ofertas - Anulação do Terreno
Autor: Délcio Meireles
Série CONHECEREIS A VERDADE
Volume 1
Predestinação? E o Amor de Deus?
Autor: G. H. Lang

Volume 2
O Julgamento, o Sinédrio e o Vale de Fogo
Autor: G. H. Pember

Volume 3
A Origem Divina da Bíblia - Provada pela Matemática
Autor: Ivan Panin

Volume 4
A Parábola do Fermento
Autor: G. H. Lang

Volume 5
O Espírito Santo de Habitação
Autor: G. H. Lang
O Revestimento e a Habitação do Espírito Santo
Autor: J. Penn Lewis

Volume 6
O Evangelho nas Estrelas - Os Signos do Zodíaco e a História da
Redenção
Autores: J. A. Seiss - E. W. Bullinger - Délcio Meireles

Volume 7
Profecia e História com Referencia
Aos Judeus - Primeira Parte
Aos Gentios - Segunda Parte
À Igreja – Terceira Parte
Autor: Délcio Meireles
Série DESENVOLVENDO A SALVAÇÃO
Volume 1
Endurecidos pelo Engano do Pecado
Autor: G. C. Morgan
Apostasia e Restauração
Autor: G. C. Morgan

Volume 2
A Tribulação é uma Serva
Autor: J. W. Follette
Nem Cheiro de Queimado
Autor: T. Austin Sparks
Feridas Fiéis
Autor: A. W. Tozer
Jonas: O Deficiente
Autor: Anônimo

Volume 3
Deus não poupa seus Filhos
Autor: Phil Jr.
O Quebrantamento de John Tauler
Autor: Gregory Mantle
Quando Deus se cala
Autor: Paul Thigpen
Volume 4
Os Direitos da Primogenitura
Autor: Erich Sauer
A Perda da Primogenitura
Autor: A. Chitwood
Filhos Primogênitos
Autor: G. H. Lang
Esaú e a Primogenitura
Autor: Robert Govett

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