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Apocalipse

Cristo Entronizado
Volume 1

Délcio Meireles

Proibida a reprodução total ou parcial deste livro


sem a autorização escrita do autor.
Prefácio do Autor
Um profundo conhecedor da Palavra de Deus disse que existem mais de
cento e cinqüenta diferentes interpretações para o Apocalipse. Servos de
Deus, fiéis e dedicados, deixaram escritos preciosos sobre este livro
publicados na língua Inglesa. Por essa razão nem todos os filhos de Deus em
nosso país terão acesso a estas jóias de grande valor. Dentre os muitos nomes
de grande peso espiritual podemos citar: Robert Govett (1813-1901), S. P.
Tregelles (1813-1875), Joseph Seiss (1823-1904), F. W. Grant (1834-1902),
C. A. Coates (1862-1945), G. H. Lang (1874-1958), Watchman Nee (1903-
1972), Gino Iafrancesco (graças ao Senhor ainda entre nós) e muitos outros.
Sou grato ao Senhor pela vida de todos estes irmãos e pela rica contribuição
que nos legaram. Não encontro palavras adequadas para agradecer ao Senhor
pela enorme ajuda que deles recebi.

Todos os que já leram pelo menos uma vez o Apocalipse sabem que se
trata de um livro cheio de símbolos e figuras. As interpretações são inúmeras
e variadas, provocando geralmente certa confusão na mente dos que as lêem.
Por isso é importante lembrar que a interpretação correta para tais símbolos e
figuras não é o mais importante. Não me refiro aos erros doutrinários; lembro
apenas que a interpretação do símbolo pode estar errada, mas isso não
desmerece o serviço do escritor. O importante é aplicar a verdade bíblica para
a figura, símbolo ou tipo. Um escritor pode ver no Mar Vermelho uma figura
do batismo nas águas (1 Co 10.2). Outro entende que a passagem pelo Rio
Jordão (Js 3) simboliza a mesma coisa. Nesse caso o engano pode estar na
figura usada (Mar Vermelho e Jordão) e não na verdade bíblica (batismo). O
batismo é uma verdade bíblica, mas os dois tipos podem não representar a
mesma coisa. Digo isso porque geralmente nossa tendência é desprezar e
desqualificar o serviço de outros escritores cuja interpretação é diferente da
nossa. Não devemos esquecer que toda obra iniciada pelo amor ao Senhor e o
desejo sincero de servir a igreja receberá o seu galardão. É lamentável
quando o escritor está correto em sua interpretação, mas errado em seu
espírito. Creio que Paulo se referiu a isso, quando disse que nossas obras
poderão ser consideradas como madeira, feno e palha no Tribunal de Cristo
(1 Co 3.11-15). O Senhor olha em primeiro lugar para o coração e para o
sentimento que motiva a obra.

Um exemplo desse tipo de espírito que considera não apenas a obra


feita, mas também e principalmente o agente que a produziu, pode ser visto
nas palavras de F. F. Bruce no prefácio do livro “The Revelation of Jesus
Christ” (A Revelação de Jesus Cristo), escrito por G. H. Lang: “Não
podemos encontrar dois expositores do Apocalipse que enxerguem da mesma
forma cada detalhe da interpretação, e se eu começasse a estudar o
Apocalipse intensivamente com o propósito de escrever um comentário, sem
dúvida, em alguns aspectos, eu chegaria a conclusões diferentes daquelas
estabelecidas na presente obra. Mas meu coração é um com o Sr. Lang no
fundamento principal da verdadeira interpretação do Apocalipse, que é a
escatológica. Para o Sr. Lang não apenas a tendência geral do Apocalipse
como um todo, mas cada parte dele tem um significado e uma mensagem
como uma parte integral da Palavra escrita de Deus. Por esse ministério
escrito devemos dar graças. As diferenças de julgamento no que diz respeito
aos detalhes de interpretação não deveriam impedir nosso aprendizado desses
estudos” (pgs 9,10).
O fato de discordarmos da interpretação de um determinado escritor não
anula o valor do seu trabalho. O que nos leva a escrever sobre o mesmo
assunto é o desejo de ampliar, enriquecer e descortinar aspectos que não
foram vistos pelos outros escritores. Também somos responsáveis pelo
depósito do Senhor a nós confiado. Quando Ele coloca a mensagem em
nossas mãos visando alimentar o Seu povo, precisamos considerar três coisas:
(i) A vontade de Deus governa o início de todas as coisas; (ii) O poder de
Deus governa o meio; (iii) A glória de Deus o final. Esse é o meu desejo e a
minha oração: que o Senhor tenha iniciado esse serviço, e que o Seu poder
tenha capacitado a realização do mesmo e que toda a glória seja apenas Dele
e Dele somente. Se a leitura desse livro trouxer uma nova visão do Senhor
Jesus, da proximidade do arrebatamento e da bendita esperança de reinarmos
com Ele no Milênio, eu me darei por recompensado. Que o Senhor nos ajude.

A Luz Recebida a Trinta Anos Passados

Por volta de trinta anos passados o Senhor me concedeu um grande


privilégio: conhecer um dos Seus servos, Stephen Kaung. Se minha memória
não falha era o ano de 1976. O irmão Christian Chen o trouxera ao Brasil
para uma visita. Uma noite nos reunimos na casa do irmão Lan, um grupo de
irmão e irmãs que não passava de quinze pessoas. Aquela noite memorável
ficou gravada em meu espírito e um novo horizonte de entendimento do
Apocalipse foi descortinado em meu interior. O irmão Kaung repartiu
conosco qual era o seu entendimento sobre o Filho Varão (Ap 12). Em apenas
noventa minutos dezenas de livros em minha pequena biblioteca perderam o
sentido. Daquele dia em diante separei mais tempo para ler esse livro e
lamento por minha dedicação não ter sido maior. Nestes trinta anos li vários
escritos preciosos de muitos irmãos e para ser sincero devo reconhecer que a
originalidade do que vou escrever é mínima. Com alegria reconheço que a
minha parte nesse serviço certamente é a menor. Como disse o próprio
apóstolo Paulo: “E que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Co.4.7).

Durante esses trinta anos compartilhei poucas vezes com pequenos


grupos de irmãos e irmãs aquilo que o Senhor me permitiu ver. Sempre
recebi encorajamento para escrever este livro, mas algo especial aconteceu
quando eu conduzia um amado irmão dos Estados Unidos à chácara dos
queridos irmãos Antônio e Nair Whately. No meio do caminho ele me
perguntou sobre os assuntos e livros da Bíblia que eu já havia compartilhado
com os irmãos. Mencionei alguns assuntos e livros, inclusive o Apocalipse. O
irmão quis saber como eu abordava este livro. Eu respondi com grande
temor, pois sabia das minhas limitações e da profunda experiência daquele
servo do Senhor. Mas levei um choque ao ouvi-lo dizer: “Irmão Délcio, esse
é um ótimo esboço do Apocalipse”. Pensei que ele estava brincando comigo.
Mas o irmão afirmou que falava sério. Sou grato pelas palavras de
encorajamento desse irmão mais adiantado no Senhor. Ele não pode imaginar
como me senti fortalecido e impulsionado, a prosseguir na busca de uma
visão mais clara desse livro maravilhoso.

Ninguém pode estar mais consciente da insuficiência do instrumento e


do que ele pode produzir do que o próprio autor. Mas espero que “pela graça
do bendito Espírito da Verdade, estas páginas possam trazer luz aos olhos
abertos, alimento às almas famintas, vigor ao espírito, coragem aos
desanimados e advertência aos que confiam em si mesmos” (G. H. Lang).
Introdução
O que pretendemos enfocar nesse estudo do Apocalipse? É importante
responder esta pergunta logo no início, a fim de que o leitor saiba para onde
estará sendo conduzido. Podemos transmitir um aglomerado de informações
que não ajudarão na compreensão da mensagem central do livro. Dependendo
da graça do Senhor nos esforçaremos diligentemente para que isso não
aconteça. Que a Coluna de Nuvem e de Fogo do Senhor possam nos
conduzir.

O propósito de Deus é “fazer convergir em Cristo todas as coisas, na


plenitude dos tempos” (Ef 1.10) e o Apocalipse descortina essa verdade de
forma maravilhosa. Tenho visto quatro movimentos neste livro, um levando à
realização do outro, até alcançar o ponto mais alto do propósito de Deus: Cristo
entronizado sobre todas as coisas. O Senhor Jesus será estabelecido no Trono
com toda glória e autoridade. Os quatro movimentos Divinos nos mostram
como o Senhor Jesus será entronizado:

1) No Céu: 4 e 5
2) Na Igreja: 1, 2 e 3; 6.1-8
3) Na Terra: 6.9 a 20.15
4) No Novo Céu e na Nova Terra: 21 e 22

Para o leitor atento é fácil observar que os capítulos 4 e 5 estão antes dos
capítulos 1, 2, e 3. Vamos descobrir outros capítulos ou porções de um
determinado capítulo inteiramente fora da ordem cronológica, principalmente
na terceira parte (6.9 a 20.15). C. I. Scofield declarou: “Estas passagens (7.1-
17; 10.1-11.14; 14.1-13; 16.13-16; 19.1-6) não têm seqüência de narrativa
profética, mas, indo para trás e para frente, resumem o passado e antecipam o
futuro. A ordem da narrativa é, portanto, cronologicamente inconsistente. A
principal continuidade é fornecida pelos acontecimentos nos Selos, nas
Trombetas e nas Taças” (Bíblia Anotada de Scofield, pg 1.282). Antes de
prosseguir em nosso estudo, procuremos solucionar essa questão referente à
ordem cronológica.
A Cronologia do Livro de Daniel

Tomemos o Livro do Profeta Daniel como base para nossa afirmação


acima. Vários capítulos mencionam o ano do reinado de certos reis. Vamos
ver cada capítulo na ordem em que se encontra no livro e depois a
inconsistência na ordem cronológica.
1. Nabucodonozor: sem data
2. Nabucodonozor: 2º ano
3. Nabucodonozor: sem data
4. Nabucodonozor: sem data
5. Belsazar: sem data
6. Dario: sem data
7. Belsazar: 1º ano
8. Belsazar: 3º ano
9. Dario: 1º ano
10. Ciro: 3º ano
11. Dario: 1º ano
12. Sem rei e sem data.

Examinemos os capítulos que falam do rei Belsazar: “Naquela mesma


noite Belsazar, rei dos caldeus, foi morto. E Dario, o medo, recebeu o reino”
(Dn 5.30,31); “No primeiro ano de Belsazar, rei de Babilônia” (7.1); “No ano
terceiro do reinado do rei Belsazar” (8.1) Ora, está mais do que claro que o
capítulo 5 vem depois dos capítulos 7 e 8, pois Belsazar não poderia aparecer
nos capítulos 7 e 8 depois de ter morrido no capítulo 5. Portanto, a ordem
cronológica seria: capítulo 7, seu primeiro ano (541), capítulo 8 seu terceiro
ano (539) e o capítulo 5 seu terceiro e último ano (539).

Veja o que é dito sobre o rei Dario. Ele aparece nos capítulos 6, 9 e 11.
O capítulo 6 não menciona data, mas nos capítulos 9 e 11 está registrado “no
primeiro ano de Dario”. Só o fato do capítulo 6 não mencionar o ano já indica
que ele é posterior ao capítulo 9. Mas, se olharmos cuidadosamente os fatos
neles registrados, veremos que a cova dos leões é o resultado da vida de
oração de Daniel. Primeiro ele entendeu que o fim do cativeiro havia chegado
(70 anos); portanto, Deus vai levar Seu povo de volta a Jerusalém. Qual é sua
reação? Dedicou-se a orar. Daniel ora e confessa o seu pecado e de todo o
povo. Satanás quer o povo na Babilônia visando frustrar o propósito de Deus.
Os inimigos de Daniel sabiam que ele “orava três vezes ao dia com as janelas
abertas para o lado de Jerusalém” (6.10) e então levaram o rei a promulgar a
seguinte lei: “Todo homem que, por espaço de trinta dias, fizer petição a
qualquer deus, ou a qualquer homem, e não a ti, ó rei, seja lançado na cova
dos leões” (6.7). O ser lançado na cova dos leões (6.16) foi o resultado da sua
vida de oração mostrada primeiro no capítulo 9 e depois no capítulo 6. O
Livro do Profeta Daniel é, portanto, a prova de que um livro da Bíblia pode
estar fora da ordem cronológica. Insistimos nesse ponto por ser fundamental
no desenvolvimento do nosso estudo do Apocalipse. Que a Coluna de Nuvem
e de Fogo do Senhor nos ilumine e conduza!

Esclarecendo Pontos Divergentes

Não me lembro de ter lido dois autores que concordam em tudo na


interpretação do Apocalipse. Dedico grande respeito e admiração a todos
aqueles que se dedicaram a escrever sobre o Apocalipse. Meu desejo é apenas
expressar o entendimento que o Senhor me concedeu nesta porção das
Escrituras. Em vários pontos a interpretação aqui apresentada entrará em
choque com as muitas já conhecidas. Por isso seria bom esclarecermos
algumas delas antes de darmos início ao nosso estudo. Escolhi sete pontos
para nossa consideração: (1) As divisões do livro; (2) Onde acontece o
arrebatamento? (3) A igreja passa pela Grande Tribulação? (4) Quem é o
“Filho Varão”? (5) O Espírito Santo será retirado da terra? (6) Israel, o
Sétimo Rei e o Pacto? (7) Quem são os vinte e quatro Anciãos?

1) As Divisões do Livro

Na Bíblia com anotações de C. I. Scofield encontramos estas palavras:


“As três principais divisões do Apocalipse devem ser reconhecidas. João
recebeu ordem em 1.19 para escrever sobre (1) as coisas passadas (as coisas
que viste): a visão de Patmos (1.1-20); (2) as coisas presentes (as que são): as
igrejas existentes (2.1 a 3.22); e (3) as coisas futuras (as que hão de acontecer
depois destas): os acontecimentos depois da Dispensação da Igreja (4.1-22.5).
É importante observar que, começando com o capítulo 4, o livro apresenta
acontecimentos futuros” (pg 1.282). Essa forma de interpretação do
Apocalipse foi espalhada pelo mundo inteiro através da Bíblia Anotada de
Scofield e se tornou a mais aceita no meio evangélico. Por várias razões não
podemos concordar com tal interpretação e os motivos da nossa rejeição são
apresentados a seguir.

Sobre a expressão grega “meta tauta” (depois destas coisas), G. H. Lang


assim se expressou: “Em cima da tríplice sentença (1) ‘as coisas que viste, (2)
as que são e (3) as que hão de acontecer depois destas’ (Ap 1.19) um esquema
de interpretação foi construído: (1) A visão do Filho do Homem (cap 1), sem
dúvida correto; (2) As Sete Cartas cobrindo a era total da igreja de Deus na
terra até o seu arrebatamento antes dos Tempos do Fim e do surgimento do
Anticristo (caps 2,3); (3) Segue-se o período após a remoção da igreja (cap 6
em diante)”.

“A expressão ‘meta tauta’ significa ‘depois disso’ como em nossas


traduções, isto é, no futuro visto do momento em que João estava
recebendo a visão. A revelação vindoura não devia ser história, mas
profecia (o grifo é meu). ‘Depois destas coisas, olhei, e eis uma porta
aberta no céu, e a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar
comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer
depois destas coisas (meta tauta)’ (Ap 4.1). Aqui não está dizendo que
‘depois destas coisas recém mencionadas acontecerá’, como o esquema
acima ensina. Está escrito que ‘depois destas coisas eu vi’. ‘Meta tauta’
significa então que as visões seguintes foram vistas depois que ele
recebeu a visão do Filho do Homem e depois de ouvir Suas palavras
dadas nas Cartas. Portanto, a expressão ‘depois destas coisas’ (meta tauta)
significa simplesmente ‘depois’, em algum tempo no futuro depois
daquele momento em que as visões estão sendo vistas e ouvidas. Essa
expressão aparece nos seguintes textos do Apocalipse: 1.19; 4.1; 7.1, 9;
9.12; 15.5; 18.1; 19.1; 20.3 (Revelation, pgs 82,93).

O grande erudito do Novo Testamento Grego, Henry Alford, também


escreveu sobre o versículo acima. Ele disse: “Prefiro aceitar (o termo)
‘genesthai’ (hão de acontecer) não com referência às amplas eras da história,
mas apenas na visão apocalíptica; visto que (a expressão) ‘estas coisas’
(tauta) significa ‘o que viste’, isto é, uma visão atual, (a expressão) ‘as coisas
que hão de acontecer’ (á mellei genesthai), por analogia, significam as coisas
que sucederão a estas, ou seja, uma visão futura” (Greek New Testament, pg
559, vol.4).

O entendimento de Dean Alford contraria inteiramente a interpretação do


Sr. Scofield. Ele mostra que a expressão “as coisas que hão de acontecer depois
destas” não indica os acontecimentos no desenrolar da história. Para ele trata-se
apenas da ordem em que a revelação foi transmitida a João. Dean Alford disse
ainda que a expressão em 1.19 é diferente do capítulo 1:1: “As coisas que
devem acontecer” (á dei genesthai). Não se trata da seqüência da profecia, mas
apenas da ordem das coisas vistas. (idem, pg 559). Entendemos então, que nem
tudo o que está escrito a partir do capítulo quatro aguarda cumprimento.
Concordo com Lang e Henry Alford em suas interpretações, e, por isso, nossa
abordagem do Apocalipse seguirá essa linha de pensamento.

2) Onde Acontece o Arrebatamento?

Numa das notas de rodapé da Bíblia de Scofield lemos o seguinte:


“Como a palavra ‘igreja’ não aparece novamente até o capítulo 22:16, o
arrebatamento de João da terra ao céu tem sido aceito como representação
simbólica da trasladação da Igreja, ocorrendo antes dos acontecimentos da
tribulação descritos nos capítulos 6 a 19” (pg 1.287). Essa interpretação é
aceita quase que de modo geral pelos escritores do Apocalipse. Entretanto, o
arrebatamento de João não pode representar o arrebatamento da Igreja por
duas razões: (1) João não simboliza a Igreja em nenhum lugar; (2) João foi
“achado em espírito” (Ap 4:2), e no arrebatamento são pessoas vivendo no
corpo físico (1 Tess 4:13-17; 1Co 15:51-54). A figura usada não se encaixa
na descrição do arrebatamento.

Além do mais, a expressão “aquele que era, que é e que há de vir”


aparece nos capítulos 1.4, 8 e 4.8. Se o arrebatamento realmente acontece no
capítulo 4.1, 2, por que encontramos a declaração “há de vir” no capítulo 4.8?
Se Ele na verdade já veio, como está escrito que Ele ainda virá? Se a Igreja é
arrebatada simbolicamente na pessoa do apóstolo João, como o Espírito
Santo pode declarar logo em seguida que o Senhor ainda “há de vir”? Porém,
quando lemos essa passagem fica claro: “Dizendo: graças te damos, Senhor
Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder
e passaste a reinar” (Ap 11.17). Observe que a expressão “há de vir”
desaparece só no tempo da Sétima Trombeta. Portanto, a volta do Senhor
Jesus só acontece no capítulo 11.17. É verdade que algumas versões em
Português trazem a expressão “e que há de vir” nesse texto, mas ela não é
encontrada no texto Grego de Nestle e na maior parte das versões inglesas.

3) A Igreja Passa Pela Grande Tribulação?

As interpretações mais comuns sobre o arrebatamento são estas: (1)


Todos os crentes em Cristo, a despeito da vida que estiverem levando, serão
arrebatados. Todo aquele que nasceu de novo será levado no arrebatamento;
(2) Todos os crentes serão arrebatados na metade dos sete anos do pacto
mencionado por Daniel (9.24); isto é, toda a igreja passará pelos primeiros
três anos e meio antes de começar a Grande Tribulação; (3) Todos os crentes
passarão pelos sete do referido pacto e só serão arrebatados quando a Grande
Tribulação passar; (4) Uma parte da igreja passa pela Grande Tribulação;
apenas os Vencedores na igreja serão arrebatados antes. Embora seja nosso
propósito tratar dessa questão detalhadamente mais no final do livro, faz-se
necessário que desde agora o leitor saiba qual é a posição do escritor.

Se a igreja toda ou parte dela não passa pela Grande Tribulação,


como explicar as seguintes palavras: “Então vi uns tronos; e aos que se
sentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles
que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de
Deus e que não adoraram a Besta nem a sua imagem, e não receberam o
sinal na fronte nem nas mãos” (Ap 20.4). Aqui nos é dito que tais
pessoas morreram por causa do testemunho de Jesus; são, portanto,
cristãos que não se submeteram à Besta e foram fiéis até à morte.
Também não são judeus, porque estes só confessarão o Senhor Jesus no
final da Grande Tribulação, quando virem o sinal do Filho do Homem
no céu e o próprio Senhor descendo sobre as nuvens (Ap 1.7; Mt 24.30;
Zc 12.10). Muitos judeus morrerão nessa ocasião, mas não será por
causa do “testemunho de Jesus”. Estes, porém, se tornarão mártires por
causa da sua fé no Senhor Jesus.
A ressurreição dos cristãos mortos e o arrebatamento dos vivos
acontecerão ao “ressoada a trombeta de Deus” (1Tess 4.16) e “ao ressoar
da última trombeta” (1Co 15.52). A Palavra de Deus fala das Trombetas
de Prata no Antigo Testamento, mas não encontramos nenhum lugar da
Escritura que mencione as trombetas em série, a não ser no Apocalipse.
Ora, se Paulo declarou que a ressurreição e o arrebatamento acontecerão
ao soar da última trombeta, precisamos verificar onde ela aparece no
Apocalipse. Quando mencionamos no início a expressão “há de vir”
comprovamos que ela desaparece exatamente quando a sétima trombeta
é tocada. A sétima trombeta é também a última da série de sete. Se
juntarmos as duas expressões “há de vir” e “última trombeta” não
teremos qualquer dúvida de que a volta do Senhor acontece no capítulo
onze do Apocalipse. O que queremos dizer com isso? Entendemos que a
Grande Tribulação começa com a Quinta Trombeta e finda com a Sétima
Taça, e se haverá um arrebatamento ao soar da Última Trombeta, não
resta qualquer dúvida de que alguns da Igreja passarão pela Grande
Tribulação. O Senhor Jesus nos mandou vigiar porque não sabemos o
dia e hora da Sua vinda, mas, se todos hão de ser arrebatados num
mesmo momento, para que vigiar?

4) Quem é o Filho Varão?

No capítulo 12 do Apocalipse encontramos os seguintes personagens: a


Mulher, o Dragão, o Filho Varão e Miguel. As duas interpretações mais
populares ensinam que:

A Mulher: simboliza a nação de Israel ou a virgem Maria.

O Filho Varão: simboliza o Senhor Jesus.

O Dragão: simboliza o rei Herodes ou o Diabo.

É uma atitude equilibrada nos guardar do dogmatismo quando se trata de


interpretar tipos, símbolos e figuras e é o que vamos ver aqui. Examinemos
primeiro quem é o Filho Varão. (1) O texto diz que ele ao nascer foi
arrebatado para Deus e para o Seu trono (12:5). Tal não aconteceu quando
Jesus nasceu, pois Ele permaneceu nesta terra por volta de trinta e três anos e
meio. (2) Esse Filho Varão é identificado com os “irmãos” do versículo 10,
onde se diz que “eles o venceram (a Satanás) pelo sangue do Cordeiro”
(v.11a). (3) Satanás ainda não foi lançado dos ares para a terra (v.7-9). Se isso
aconteceu quando Jesus nasceu ou na Sua ascensão, as palavras de Paulo se
tornam uma verdadeira contradição quando ele diz que o Diabo é “o príncipe
das potestades do ar” (v.2). Ele escreveu Efésios por volta do ano 62 d.C.
indicando que Satanás continuava dominando nos ares. Essa é a região acima
de nós, também chamada de expansão. Alguns estudiosos entendem que
quando Deus fez a separação entre as águas de cima e as águas de baixo,
Satanás estabeleceu ali o seu quartel-general. Talvez por essa razão em
Gênesis 1 o segundo dia não traz a declaração “e viu Deus que isso era bom”
(vs.6-8). O posicionamento de Satanás nos ares teve como fim declarar seu
antagonismo ao Criador e ao homem, se interpondo entre a Terra e o Terceiro
Céu.

Assim entendemos que o Filho Varão não representa o Senhor Jesus,


nem tampouco a mulher simboliza Maria ou a nação de Israel. Não
precisamos de muitos argumentos para concluir que a Mulher não pode
representar a nação de Israel. Ela rejeitou Jesus como seu Messias! E quando
Israel ocupou tal posição na economia de Deus, segundo a descrição da
Mulher? O alvo de Satanás é destruir o Filho e não a Mulher. Os que têm
sensibilidade espiritual conseguem ouvir os gemidos das dores de parto dessa
Mulher por toda parte. Um corpo está sendo formado dentro de outro corpo.
Os Vencedores, simbolizados pelo Filho Varão, estão sendo formados dentro
do Corpo da Igreja. Por isso ele descortina a tremenda verdade do
arrebatamento parcial. Os filhos de Deus que estiverem vigiando e vivendo
uma vida que agrada ao Senhor, à semelhança de Enoque (Hb 11.5,6), serão
arrebatados, não para os “ares”, (1Co 15; 1 Tess 4), mas para “Deus e o Seu
Trono” (Ap 12.5b). Eles ficarão ali até o momento do Senhor Jesus descer do
Trono até às nuvens. Todos os crentes que desejam escapar da Grande
Tribulação precisam considerar seriamente os seguintes textos: Lc 21.34-36;
1Jo 2.28; Ap 3.10.

5) O Espírito Santo é Retirado?


Tendo como base as palavras de Paulo em 2 Tessalonicenses “há um
que agora o detém até ser tirado do caminho” (2.7), alguns ensinam que no
arrebatamento da Igreja o Espírito Santo (“aquele que o detém”) será tirado
da terra. Como explicar as seguintes palavras: “Os sete Espíritos de Deus
enviados por toda a terra” (Ap 5:6)? O número sete indica apenas a plenitude
da ação do Espírito de Deus. Mas, se Ele será retirado da terra, por que aqui
Ele está sendo enviado por toda a terra? A expressão “até que seja tirado do
caminho” se refere ao Espírito Santo e aos “Vencedores” na Igreja. De modo
muito especial Kenneth Wuest nos ajuda com sua tradução, ao dizer que a
palavra apostasia nesse texto (2Tess 2:3) deveria ser traduzida por “partida”
ou “saída.” Ele amplia o sentido colocando entre colchetes a seguinte
expressão: “partida (da Igreja para o céu)” (Expanded Translation, pg 486).
Para o Sr. Wuest o Dia de Jeová não acontecerá antes do arrebatamento da
Igreja e do surgimento do Homem Sem Lei, o Anticristo (2Tess 2:3). A
questão aqui é que nem todos os filhos de Deus constituem um impedimento
para o aparecimento do Anticristo. Dentro da Igreja existem aqueles que são
realmente o sal da terra, mas infelizmente muitos dos salvos perderam o
sabor, isto é, não fazem mais oposição à operação do mistério da iniqüidade.
Mas quando os Vencedores, que atuam neste mundo como sal, forem levados
no arrebatamento, então será manifestado o Homem Sem Lei, o Anticristo, a
Besta.

6) Israel, o Sétimo Rei e o Pacto

Deus revelou ao Profeta Daniel as “setenta semanas” (9.24-27). Quase


todos aceitam que as setenta semanas (ou, setenta setes) significam 490 anos
literais, dos quais 483 já se cumpriram. Ainda falta uma semana, isto é, sete
anos, para completar as setenta semanas. Este último sete terá seu
cumprimento no Pacto que Israel fará com um indivíduo, geralmente
interpretado como sendo o Anticristo. A dificuldade com esse ponto de vista
é que o sétimo rei foi esquecido. Está escrito que as “sete cabeças” da Besta
são “sete reis” (Ap 17.9), “dos quais caíram cinco, um existe e o outro ainda
não chegou; e quando chegar tem de durar pouco tempo” (Ap 17.10). João
está descrevendo a situação na época em que ele vivia. Portanto, dos sete reis,
cinco já haviam morrido, um existia (Domiciano, o sexto), e o outro (o
sétimo) ainda não havia chegado e quando chegasse deveria durar pouco
tempo. O Pacto será rompido na metade dos sete anos: três anos e meio.
Outras passagens referem-se a esse período como sendo 1.260 dias, 42 meses
ou “tempos, um tempo e metade de um tempo”. Se o sétimo rei vai durar
pouco tempo quando surgir, onde ele deve aparecer: na primeira parte do
Pacto ou na segunda? Lógico que na primeira, pois o Anticristo só entrará em
cena depois que o Pacto for rompido.

Antes de prosseguirmos com nosso raciocínio, seria bom lembrar


quantas Bestas aparecem no capítulo 13: “Vi emergir do mar uma besta”
(v.1); “Vi ainda outra besta emergir da terra” (v.11); “A primeira Besta, cuja
ferida mortal fora curada” (v.12). Quem são elas? A primeira aponta para o
Império Romano, pois nos é dito que ela tem sete cabeças e dez chifres
(13.1). A segunda é a Besta que sobe da terra e é comumente chamada de
“Falso Profeta”; a terceira Besta é o Anticristo (vs.3, 4, 12, 14, 15, 17). Ela é
uma das sete cabeças da primeira Besta (Império Romano). A cabeça
golpeada mortalmente (13.3) é o sétimo rei, mas quando volta a viver é o
Anticristo. Vamos examinar essa questão com detalhes quando chegarmos ao
capítulo 17. No momento nos basta saber que Israel não vai assinar o Pacto
com o Anticristo e sim com o Sétimo Rei.

7) Quem São os 24 Anciãos?

Na Bíblia com anotações C. I. Scofield afirma categoricamente que os


anciãos representam a Igreja: “Estes anciãos representam a igreja. A palavra
‘ancião’ tem significado relacionado com a igreja (1Tm 5.17; Tito 1.5). O
aparecimento desses anciãos, já glorificados, coroados e entronizados antes
da abertura do livro selado do juízo (cap 5) e antes do julgamento cair sobre o
mundo (caps 6-18), reafirma que a Igreja não será sujeita à ira judicial e aos
juízos daquele período” (pg 1.287). Esse irmão entende que o arrebatamento
de João (cap 4) representa o arrebatamento da Igreja. Agora a Igreja é vista
simbolizada pelos 24 anciãos, segundo o ensino de Scofield. Vejamos alguns
pontos que contrariam essa interpretação.

1. O termo Ancião não é sinônimo de igreja.


2. O número deles é 24, mas os números da Igreja são: 2 (comunhão), 7
(perfeição temporária) e 12 (perfeição eterna).

3. Os Anciãos usam coroas de ouro e estão assentados em tronos (4:4), mas o


Cordeiro está de pé (5:6). Se eles representam a Igreja, como podem estar
assentados em tronos, enquanto o Cordeiro está de pé? Se Jesus vai ser
coroado Rei por volta do capítulo 20, como pode a Igreja ter coroa antes
dEle?

4. Os Anciãos usam vestes brancas, mas não se diz que elas foram lavadas no
sangue do Cordeiro, como a grande multidão no capítulo 7.14.

5. Os Anciãos entoam um cântico diante do Trono (4:10), mas não é o


cântico da redenção (4:11). Eles só mencionam a criação de Deus. No
capítulo 5:9, 10 eles cantam um novo cântico, mas não há menção de terem
sido redimidos pelo Senhor.

6. Os Anciãos levam as orações dos santos (5:8): isso porventura é tarefa que
a igreja realiza?

7. Os Anciãos nunca se identificam com a Igreja. No cântico da redenção eles


dizem: “e para nosso Deus os constituíste” (5:10) e não nos constituíste. No
capítulo 7 encontramos três classes de pessoas: (1) os Anciãos, (2) João, (3) e
os de vestes brancas. Como explicar a pergunta que fizeram a João: “Estes,
que se vestem de vestes brancas, quem são e donde vieram?” (v.13). Se estes
Anciãos representam a Igreja no seu todo, como se excluem dessa grande
multidão?

8. Os Anciãos são superiores, pois João chama um deles de “meu senhor”


(7:14); não é estranho um irmão se dirigir a outro irmão assim?

9. Os Anciãos não são simbólicos. Eles são reais e falam com João de forma
pessoal (5:5; 7:13).

10. Os Anciãos estão assentados em tronos, mas a Noiva não pode ser
entronizada antes do casamento e este só acontece no capítulo 19. Por isso
não podem ser a Noiva.

11. Os Anciãos são vistos junto com pessoas e grupos de pessoas e sempre
são distintos delas: João (5:5; 7:13); os seres viventes (4:9,10); os anjos
(5:11; 7:11); os santos (5:8); os redimidos (5:9,10); as Primícias (14:1-5); os
que vêm da Grande Tribulação (7:13); os que fazem parte da Primeira
Ressurreição (20:5,6). Eles falam com Deus a respeito deles (11:16-18) e
sobre a esposa do Cordeiro antes das bodas chegarem (19:4).

Os Anciãos: Governadores do Universo

Tudo parece indicar que os Anciãos são reis e sacerdotes entre os


demais anjos: eles são os Anciãos do universo. A responsabilidade deles é
governar os anjos e o universo a serviço de Deus. Vejamos as razões:

1. Eles usam coroas e se assentam em tronos.

2. Vestem roupas brancas, (sacerdotes: Ex 28; Lv 6:10; 16:14), têm harpas,


entoam cânticos e seguram taças de ouro com incenso.

3. Nos capítulos 4 e 5 nosso Senhor é o Cordeiro, o Espírito Santo os Sete


Espíritos de Deus, os quatro Seres Viventes a criação e os vinte e quatro
Anciãos os Anciãos do Universo. São os mais antigos dentre todas as coisas
que foram criadas.

4. Quem poderia receber o direito de assentar em tronos e usar coroas de ouro


antes do Senhor Jesus, além dos anjos? Eles foram originalmente designados
por Deus para governar o universo. Lúcifer era um dos Arcanjos (arxê-
anguelos: anjo mais antigo), mas caiu e se tornou Satanás. Os demais anjos
que não seguiram após ele foram apontados por Deus para serem
governadores do universo. Miguel é o Príncipe sobre a nação de Israel (Dn
12:1; 10:13). Os remidos têm anjos de guarda (Mt 18:10; At 12:15; Hb
1:14). Eles irão governar até a transferência do governo para os homens (Hb
2:5-8; Ap 11:16-18).

5. O número deles é o número do sacerdócio (24). O sacerdócio era dividido


em 24 turnos na época de Davi (1Cron 24:7-18). A tarefa do sacerdócio é
levar as orações dos santos a Deus. As harpas são para cantar louvores e as
taças para as orações.

(Usei de forma livre o que G. H. Lang e Watchman Nee escreveram sobre os


Vinte e Quatro Anciãos em seus livros: “The Revelation of Jesus Christ” - A
Revelação de Jesus Cristo - e “Come Lord Jesus” - Vem, Senhor Jesus).

A Ordem Cronológica do Apocalipse

Dissemos anteriormente que não seguiríamos a linha de pensamento


do Sr. C. I. Scofield sobre o arrebatamento de João e os vinte e quatro
Anciãos. Mas ele disse algo muito importante sobre a ordem cronológica
do Apocalipse: “Tais passagens (7.1-17; 10.1-11; 14.1-13; 16.13-16; 19.1-
6) não têm seqüência de narrativa profética, mas, indo para trás e para
frente, resumem o passado e antecipam o futuro. A ordem da narrativa é
cronologicamente inconsistente. A seqüência principal é formada pelos
acontecimentos simbolizados nos selos, nas trombetas e nas taças” (pg.
1282). É de importância fundamental saber ler este livro em sua ordem
cronológica. As palavras acima do Sr. Scofield são bastante esclarecedoras
indicando que a ordem seqüencial é encontrada nos selos, nas trombetas e
nas taças. Seguindo essa ordem e deixando os chamados “parênteses” de
lado, vemos que as Sete Trombetas estão contidas no Sétimo Selo e as Sete
Taças estão contidas na Sétima Trombeta. Quando a sétima taça for
derramada, o sétimo selo terá sido aberto plenamente. Num gráfico simples
seria mais ou menos assim:
Sete Selos
1234567 Sete Trombetas
|..... 1 2 3 4 5 6 7 Sete Taças
|.... 1 2 3 4 5 6 7

Se os capítulos referentes aos selos, às trombetas e às taças forem


lidos na seqüência mostrada, descobriremos que na abertura do sétimo
selo nada acontece (8.1,2), mas sete anjos aparecem para tocar as sete
trombetas. O mesmo acontece quando a sétima trombeta é tocada: a
proclamação da chegada do reino de Deus é feita e em seguida surgem os
sete anjos com as sete taças da ira de Deus (11.15; 15.5-7). Esses detalhes
nos ajudarão a entender melhor o livro. Os parênteses aparecem fora da
ordem cronológica e precisamos da iluminação do Espírito Santo para
inseri-los devidamente no seu contexto. Veja os exemplos de textos que
falam do mesmo assunto e são encontrados em vários capítulos do
Apocalipse. Vou dar três exemplos: a Grande Tribulação, o Armagedom e
a Babilônia.

1) A Grande Tribulação é mencionada:

a. No capítulo 8.13: “ai, ai, ai”


b. No capítulo 11.2: “quarenta e dois meses”
c. No capitulo 11.3: “mil duzentos e sessenta dias”
d. No capítulo 12.6: “mil duzentos e sessenta dias”
e. No capítulo 13.5: “quarenta e dois meses”

Como podemos ver as cinco passagens acima mencionam o mesmo


assunto, mas em capítulos diferentes. Embora não haja menção de tempo no
capítulo 8, os três “ais” referem-se às três últimas Trombetas (5ª, 6ª e 7ª).
Portanto, a Grande Tribulação é mencionada em três capítulos diferentes (11,
12 e 13). Isso prova que o mesmo fato não é achado apenas num ponto do
Apocalipse.

2) A Batalha do Armagedom
a. No capítulo 14.20: “E o lagar foi pisado”
b. No capítulo 19.15: “E pessoalmente pisa o lagar”

Os dois textos falam do mesmo acontecimento, mas não estão na ordem


cronológica. O que João viu no capítulo 14 só vai acontecer no capítulo 19. O
primeiro texto é como um resumo do que acontece no segundo texto.

3) A Queda da Babilônia

a. No capítulo 14.8: “Caiu, caiu a grande Babilônia”


b. No capítulo 18:2: “Caiu, caiu a grande Babilônia”

Aqui acontece a mesma coisa: a queda da Babilônia é anunciada no


capítulo 14, mas o acontecimento mesmo se dá no capítulo 18.

Divisões do Apocalipse

1) Cristo Entronizado no Céu - Ap 4 e 5

A cena do capítulo 4 descreve o que acontece diariamente no céu:


Deus declara incessantemente o Seu propósito imutável para Sua
criação. Mas ela foi arruinada com a entrada do pecado e então se fez
necessária a obra da redenção (cap 5).
2) Cristo Entronizado na Igreja – Ap 1, 2 e 3

Após Sua ascensão Jesus foi feito Senhor e Cristo. No Dia de


Pentecostes a igreja nasceu. Aproximadamente sessenta anos mais tarde
João teve a visão do Senhor Jesus glorificado (Cap 1) e recebeu a tarefa de
escrever o que tinha visto às Sete Igrejas da Ásia (caps 2,3). Elas nos falam
dos sete estágios da história da igreja na terra.

3) Cristo Entronizado na Terra - Ap 6.9-20.15; 6.1-8

Essa terceira parte e a seguinte serão abordadas no segundo


volume. A terceira parte nos mostra o que precisa ser realizado para
o Senhor Jesus ser entronizado na terra como Rei das Nações
durante o Milênio. Os assuntos nela contidos são: o Pacto de Israel
com o Sétimo Rei, o surgimento do Anticristo, a Grande
Tribulação, a segunda parte do Arrebatamento, as Sete Taças, o
Armagedom, o Milênio e a última batalha, Gogue e Magogue.

4) Cristo Entronizado no Novo Céu e na Nova Terra


– Ap 21 e 22

A quarta parte do estudo nos mostra o Novo Céu e a Nova Terra. Nesse
tempo a Nova Jerusalém, a Noiva do Cordeiro, desce do céu, mas não é
estabelecida sobre a terra. Ela fica nos ares, ocupando o lugar que os
principados e potestades ocupam hoje. Na terra ainda haverá “reis e nações” e
as “folhas” da Árvore da Vida são para a saúde dos povos. O povo de Israel
ocupará o lugar de governo que os reis e governadores ocupam hoje.

Introdução do Livro – Ap 1.1-8

Os oito primeiros versículos constituem a introdução do livro e o título


deve determinar o que será nele encontrado. João nos diz que é uma
“revelação de Jesus Cristo que Deus Lhe deu” (1.1ª). Apocalipse na língua
grega significa “revelação”. “Deus deu essa revelação ao glorioso Homem
Ungido que está à Sua mão direita. É a revelação ‘Dele’ e trata com assuntos
de claro interesse de Deus e de Jesus Cristo, e como tal, não podem deixar de
ser de profundo interesse para os Seus servos” (C. A. Coates).

* “Para mostrar aos Seus servos” – Ap 1.1b

A revelação veio de Deus para Jesus Cristo, de Jesus Cristo para Seu
anjo e do anjo para João. A tarefa de João seria repassar a mensagem aos
servos de Jesus Cristo. A palavra no Grego é doulos (escravos) e é nesse
caráter de escravos que as coisas que devem acontecer repentinamente nos
são reveladas. “A indisposição de muitos em considerar este livro
provavelmente indica quão pequenos somos na verdadeira atitude e espírito
de escravos” (Coates). É interessante observar que João refere-se a si mesmo
aqui como escravo e irmão e não como apóstolo.
* “As coisas que em breve devem acontecer” – Ap 1.1c

G. H. Pember traduziu assim: “As coisas que em sua inteireza devem


acontecer com rapidez”. As palavras finais do Senhor no final do livro “e eis
que venho sem demora” não significam “logo”, mas “repentinamente” (Ap
22.12.20). Haveria um intervalo longo, mencionado repetidas vezes pelo
Senhor: “Disse, pois: Certo homem nobre partiu para uma terra longínqua, a
fim de tomar posse de um reino e depois voltar” (Lc 19.12); “Porque é assim
como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes
entregou os seus bens. Ora, depois de muito tempo veio o senhor daqueles
servos e fez contas com eles” (Mt 25.14,19). Só devemos lembrar que a
viagem de volta do Senhor será rápida e repentina.

* “O qual atestou a Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo,


quanto a tudo o que viu” – Ap 1.2
Robert Govett escreveu: “João descreve o livro de forma dupla: (1) a
Palavra de Deus; (2) o testemunho de Jesus Cristo. Os três primeiros
capítulos são ‘o testemunho de Jesus Cristo’. As duas primeiras porções
(caps. 1-3) não são as coisas que Jesus lhe mostrou através do anjo. O próprio
Senhor apareceu em pessoa e lhe falou (1.10,11). Mas o que foi que João viu
nas cartas às Igrejas para que ele pudesse acrescentar ‘quanto às coisas que
viu’ (1.2)? Ele contemplou o próprio Jesus e os Candeeiros místicos. Assim,
‘o testemunho de Jesus Cristo’ indica o testemunho dado por Jesus” (Govett
on Revelation, pgs 9,10).

* “Bem-aventurado o que lê e os que ouvem e os que guardam as coisas


que nela estão escritas...” – Ap 1.3

O ler está no singular e o ouvir no plural, provavelmente porque “nos


tempos antigos os livros eram escassos, ou então porque deveria ser lido na
reunião da igreja, onde os ouvintes seriam muitos diante de um único leitor.
Mas o ‘ouvir’ pode ser de dois tipos: a simples impressão física ou a atenção
espiritual. Naturalmente que a última é o objeto da bênção. Além do ouvir tem
o ‘guardar as coisas escritas’. Pode ser a consideração delas no coração, como
Maria (Lc 2.19) ou a obediência às direções práticas contidas no livro. Sem
dúvida as duas estão incluídas” (Govett).

Saudação às Sete Igrejas da Ásia

* “Graça e paz a vós outros” – Ap 1.4ª

Ninguém pode desfrutar da paz sem primeiro conhecer a graça de Deus.


Nas cartas de Paulo esta ordem é observada quase que totalmente. A paz
procede da graça e está arraigada nela. Observemos agora a fonte dessa graça
e paz:

* “Da parte Daquele que é, que era e que há de vir” – Ap 1.4b

Essa expressão indica que Deus é “o Absoluto, que não conhece mudança,
nem dependência de tempo ou lugar, para Quem o presente, o passado e o
futuro são um e o mesmo eterno agora. Que é e que era e que há de ser, a
saber, o infinito, incompreensível, inacessível Pai das luzes, de Quem
procede todo dom perfeito e toda boa dádiva e no Qual não há variação ou
sombra de mudança” (J. Seiss, Revelation pg 27).

* “E dos Sete Espíritos que estão diante do Seu Trono” – Ap 1.4c

Deus não tem sete espíritos; o número sete indica apenas a plenitude e as
múltiplas obras do mesmo Espírito (Ap 4.5; 5.6). É “o Espírito Santo na
perfeição do Seu ofício e poderes, enviados para iluminação, conforto e
edificação de todos aqueles incluídos na graça redentora de Deus. ‘Diante do
Trono’ quer dizer, ligado com ele e cumprindo os propósitos Daquele que Se
assenta sobre o Trono. O Espírito Santo é enviado (Jo 14.26). Ele parte do
Trono e Seu serviço é a favor do Trono” (J. Seiss, pg 27).

* “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos


mortos e o Príncipe dos reis da terra” – Ap 1.5

Essa é a terceira descrição da fonte de onde brotam a graça e a paz. Aqui


João descreve a obra redentora do Senhor Jesus, como Ele venceu e a glória
que terá no futuro: (1) Fiel Testemunha. Quão perfeito foi o Seu testemunho
da graça de Deus para com o homem; (2) O Primogênito dentre os mortos.
Ele ressuscitou e foi feito as Primícias dos que dormem; (3) O Príncipe dos
reis da terra. Nós O confessamos como Rei e Soberano quando Ele é
rejeitado pelos homens. Três títulos são dados a cada uma das fontes da graça
e paz às igrejas; três igualmente são dados a Cristo. O Deus eterno é (1)
‘Aquele que era que é e que há de vir’; (2) O Espírito Santo é (i) espírito, (ii)
sétuplo e (iii) diante do Trono; e Jesus Cristo é (i) ‘a Fiel Testemunha, (ii) o
Primogênito dentre os mortos (iii) e o Príncipe dos reis da terra’.

* “Aquele que nos ama” – Ap 1.6a

O amor de Cristo realizou duas coisas: “Nos libertou dos nossos pecados
pelo Seu sangue” (passado) e “nos fez reino (futuro), sacerdotes (presente) para
seu Deus e Pai”. Diante de tão gloriosa verdade, João prorrompe em louvores e
adoração: “A Ele seja glória e domínio pelos séculos dos séculos. Amém” (Ap
1.6).

* “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o
traspassaram” – Ap 1.7a

Aqui João toca no coração de todo o livro do Apocalipse: Jesus vai


voltar! Maranata! Ora, vem Senhor Jesus! Ele nasceu e aqui viveu, deu
Sua vida no Calvário, foi sepultado, ressuscitou, Se manifestou durante
quarenta dias e depois subiu para o Pai. Mas acabou? Graças a Deus
não! Ele vai voltar! Ele virá do mesmo modo como foi: Do Monte das
Oliveiras até as nuvens (visível) e das nuvens até o Trono de Deus
(invisível), conforme as palavras de Atos 1.11. Quando Ele descer dos
ares nas nuvens até o Monte das Oliveiras, todo olho O verá, pois será
como o relâmpago que é visto do oriente ao ocidente (Mt 24.27). Seu
sinal (a cruz?) será visto no céu e as tribos de Israel lamentarão pelo que
Lhe fizeram (v.30) e então se dará a manifestação do Senhor vindo sobre
as nuvens do céu. Nessa altura o próprio Deus dá testemunho de Si
mesmo de que Ele é o mesmo, o Todo Poderoso, Aquele que era que é e
que há de vir (1.8).

João fala também sobre sua situação atual como exilado na Ilha de
Patmos dizendo: “Eu João, vosso irmão e participante convosco na
aflição, no reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada
Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (1.9).
João está passando tribulações, mas ele persevera e não se esquece do
Reino, pois Paulo disse que “através de muitas tribulações devemos
entrar no Reino” (At 14.22). Visto termos a esperança do Reino,
devemos ser perseverantes. Quando ele diz “participante convosco”
significa que esta era a porção de todos. Ali estava o servo do Senhor,
sozinho numa ilha, mas o Senhor estava com ele. O dia aqui é chamado
de “dia do Senhor” (1.10), ou seja, o primeiro dia da semana. Essa
expressão não é o mesmo que o “Dia de Jeová” que aponta para a época
da Grande Tribulação. Nas traduções em inglês as duas frases são
distinguidas assim: The day of the Lord (o dia de Jeová) e The Lord´s
day (o dia do Senhor). A primeira sempre aponta para os juízos de Deus
vistos no Apocalipse e a segunda sempre para o primeiro dia da semana
(Jo 20.1,19; At 20.7; 1 Co 16.2). Certamente era um dia de domingo e
João estava meditando na situação dos irmãos. O termo “arrebatado”
não se encontra no original grego; o texto diz apenas “me tornei em
espírito”. Nas palavras de Dean Alford: “Num estado de êxtase
espiritual, podendo assim receber a visão ou revelação a seguir”.

O restante do capítulo primeiro (1.10-20) será comentado


juntamente com os capítulos dois e três, que tratam dos estágios da
história da igreja. A visão do Senhor Jesus glorificado está intimamente
ligada com as cartas às Sete Igrejas. Como dissemos no início, os
capítulos quatro e cinco antecedem cronologicamente os capítulos 1, 2 e
3. Primeiro nosso Senhor é assunto ao céu e em seguida toma Seu lugar
“à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1.3). Nos capítulos 4 e 5 do
Apocalipse as cortinas do céu são abertas para nos revelar o propósito
de Deus para Sua criação e a obra redentora de Cristo. Ele morreu sim,
mas ressuscitou e por isso é digno de tomar o Livro e é capaz de realizar
tudo o que nele está escrito.
Primeira Parte
CRISTO ENTRONIZADO
NO CÉU
Apocalipse 4 e 5

Capítulo 1

A CRIAÇÃO E O PROPÓSITO DE DEUS

“O Criador e a Criação” Ap 4

“Tu és digno, Senhor e Deus nosso; porque todas as coisas criaste, sim, por
causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas” Ap 4.11
Capítulo 2

A REDENÇÃO E O PROPÓSITO DE DEUS

“O Redentor e a Redenção” Ap 5

“Digno és de tomar o Livro e de abrir os seus selos; porque foste morto e


com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua e
povo e nação” Ap 5.9
Capítulo 1
A CRIAÇÃO E O PROPÓSITO DE DEUS
“O Criador e a Criação” Ap 4

“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, porque criaste todas
as coisas, sim, por causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas”
Ap 4.11

Os capítulos 4 e 5 antecedem cronologicamente os capítulos 1, 2 e 3. O


capítulo 4 mostra o Senhor em relação à Sua criação e Seu firme propósito
para ela; o capítulo 5 mostra o Senhor como Redentor. O pecado invadiu a
Sua criação e por isso Ele veio para redimi-la da condenação. A cena do
capítulo 4 não mostra a igreja no céu como alguns pensam, porque João não
representa a igreja em lugar nenhum, nem o seu arrebatamento simboliza o
arrebatamento da igreja. João foi arrebatado “em espírito” (4.2), mas o
arrebatamento é para aqueles que ainda estão vivendo em seus corpos. João
viu o céu aberto e imediatamente seus olhos contemplaram o Trono e Aquele
que nele Se assenta. “A posição celestial deve ser acompanhada de um estado
de acordo com ela” (Coates), isto é, precisamos estar “em espírito” se
desejamos contemplar as coisas celestiais. Ao redor do Trono estão os vinte e
quatro Anciãos (v 4) e os quatro Seres Viventes (vs 6-8). Já vimos que os
Anciãos são os Governadores do Universo e os quatro Seres Viventes
representam a criação (v 7) e a semelhança deles com o leão, o touro, o
homem e uma águia voando, é uma representação de toda a criação de Deus.

Descrição do Trono
Robert Govett disse que sete coisas são notáveis nesse registro do
Trono:

1. No Trono: Aquele que nele se assenta


2. Ao redor dele: um arco-íris
3. Ao redor dele: vinte e quatro tronos
4. Fora do Trono: trovões
5. Diante dele: sete tochas
6. Diante dele: um mar de vidro
7. No meio e ao redor dele: quatro seres viventes

1. Aquele Que Se Assenta no Trono

O capítulo 4 descreve a cena diária na presença de Deus e o que


acontece naturalmente no céu. “O capítulo 4 é uma descrição da glória do
Criador, e a glória do Criador se estende naturalmente por todo o período da
criação. Aqui podemos ver Deus no Trono reinando sobre Sua criação e a
criação inteira é aqui representada pelos quatro Seres Viventes. Os vinte e
quatro Anciãos representam o governo de Deus sobre Sua criação. Nessa
visão de Deus reinando sobre Sua criação não há interrupção nem intervalo
desde o dia da criação até hoje; Seu reino nunca foi interrompido” (Stephen
Kaung, Visão de Cristo, pg 17,18).

Nesta visão toda a criação representada pelos Seres Viventes está


louvando a Deus (vs 8-11). O que isso significa? Que o propósito de Deus
para Sua criação nunca foi abalado. “Que gozo é ver que Deus criou todas as
coisas para o Seu prazer e é impossível que Ele seja despojado dos Seus
direitos no tocante à Sua criação! Isso é celebrado no céu, enquanto na terra o
homem está dizendo que não há Deus” (Coates). Na representação dos quatro
Seres Viventes a ampla criação de Deus é vista em sua relação com Aquele
que está sentado no Trono e o Salmo 148 toca uma nota que há de vibrar
através de toda a criação, desde os anjos até às coisas que rastejam nas
profundezas.

No céu há um Trono que nunca ficou vazio, nem jamais foi abalado.
Houve revolta e rebelião sim, quando o arcanjo Lúcifer tentou colocar seu
trono acima das estrelas (anjos) do Altíssimo e almejou ser semelhante a Ele
(Is 14.13,14), mas o Trono de Deus não foi tocado. Isaías disse que “no ano
em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime
trono” (Is 6.1). Os reis da terra morrem e seus tronos ficam vazios e são
substituídos, mas este Trono nunca ficou nem jamais ficará vazio. Deus criou
todas as coisas para o Seu “prazer” (v 11, grego) e um dia isso será
plenamente manifestado. No céu vemos o Trono; na terra vemos a Cruz. O
Trono de Deus é imutável; não pode ser perturbado, estremecido ou
substituído porque “subsiste para sempre” (Sl 45.6). Vivemos num intervalo
mostrado no Salmo 110: “Jeová disse ao meu Senhor: assenta-te à minha
direita, até que eu ponha teus inimigos como estrado dos teus pés” (v 1).
“Quase dois mil anos se passaram desde que Cristo foi desprezado e rejeitado
aqui, mas o Trono permanece firme no céu; lá não existe perturbação”
(Coates).

Precisamos ver o Trono de Deus. João viu Deus assentado no Trono,


cuja aparência era como o jaspe e o sárdio e ao redor dele um arco-íris (4.3).
“O jaspe é azul e nos fala daquilo que é celestial; o sárdio é vermelho e indica
a realeza; o verde é a cor predominante do arco-íris, a cor da esmeralda, que é
a cor da vida; a pedra nos dá a idéia de estabilidade. Isso quer dizer que o
nosso Deus é belo, celestial, real e cheio de vida e está sentado no Trono
reinando sem interrupção. Do Seu Trono saem relâmpagos (v 5) indicando
que esse Trono é ativo. Relâmpagos e trovões descrevem a ação do Trono de
Deus. Vivemos no tempo do fim e precisamos ter uma visão Daquele que se
assenta no Trono, reinando sem cessar, caso contrário nossa fé pode
fracassar” (S. Kaung, idem). Hoje não pode haver uma administração pública
e visível desse Trono, pois isso traria juízo imediato sobre este mundo caído e
pecaminoso.

2. O Arco Íris ao Redor do Trono

A referência ao arco-íris nos lembra a aliança de Deus com Noé. Pragas e


catástrofes virão sobre esta terra, mas ela não será inundada outra vez. A cor
dele é o verde da esmeralda, a cor oposta ou complementar do vermelho.
Desse modo representa perfeitamente a misericórdia, assim como o vermelho
indica a justiça. Foi isso que o profeta Habacuque quis transmitir quando
disse: “Na ira lembra-Te da misericórdia” (3.3). O arco-íris nos fala da graça
e misericórdia de Deus; hoje só podemos vê-lo pela metade, mas um dia
veremos que a promessa da graça circunda o Trono.

3. Os Vinte e Quatro Anciãos


Já vimos quem são os vinte e quatro Anciãos, quando esclarecemos os
“pontos divergentes”. Não precisamos repetir aqui. O leitor pode retornar
àquele ponto em questão e tirar suas dúvidas. Basta lembrar que João não
representa a Igreja no arrebatamento, nem os Anciãos simbolizam a Igreja
depois do arrebatamento, pois se distinguem dela em vários lugares (5.10;
7.14-17). Eles são os Governadores do Universo.

4. Trovões

Os trovões indicam que o Trono de Deus é ativo. Relâmpagos e trovões


geralmente representam o descontentamento de Deus (Ex 11.23,28; 19.16; 1
Sm 7.10; 12.17,18).

5. As Sete Tochas de Fogo

“A lâmpada deve sempre ser distinguida da tocha. Elas são sempre


distintas tanto em Latim, como no Grego e no Hebraico. (1) A lâmpada era
para o serviço interior (Mt 5.15; Lc 15.8); a tocha era mais apropriada para o
ar livre, porque as rajadas de vento não podiam apagá-la tão facilmente (Mt
25.1-8; Jo 18.3). Por isso foram trazidas por aqueles que foram cultuar em
Troas e depois usadas para iluminar o salão de reunião (At 20.8)” (Govett).
As tochas são mencionadas várias vezes na Escritura em relação à guerra:
Gideão e os seus trezentos (Jz 7.16,20); Sansão e os filisteus (Jz 15.4,5).

O significado delas nos é dado no próprio texto: “As quais são os Sete
Espíritos de Deus”. Em Seu relacionamento com o Trono, o Espírito Santo é
visto como as sete tochas de fogo. O Trono de Deus está preparado para
executar o juízo e o Espírito de Deus está em harmonia com ele. Na
dispensação da graça o Espírito Santo desceu sobre Jesus como uma pomba,
mas agora Ele vem como o Espírito de juízo (Is 4.4), o Espírito de ardor.

6. O Mar de Vidro

Por que o Mar de Vidro está diante do Trono? Porque o arco-íris que
circunda o Trono é um memorial da promessa de Deus de que a terra não
seria mais destruída pela água (Gn 9.15). O julgamento por água passou e não
será repetido. De acordo com Apocalipse 15 o Mar de Vidro parece
misturado com fogo (v.2). No novo céu e na nova terra o mar não mais
existirá (21.1). Na eternidade futura só haverá o lago de fogo; sim, é um lago,
mas de fogo. Robert Govett observou que “o mar se torna o lago de fogo e
podemos ver isso em seu estado intermediário no capítulo 15, quando ele
aparece como um mar de vidro misturado com fogo. Sua sugestão parece ter
fundamento” (citado por W. Nee no livro: Come Lord Jesus – Vem Senhor
Jesus).

7. Os Quatro Seres Viventes

Com respeito aos Seres Viventes é importante observar que os


Querubins são mencionados em Gênesis 3.24, Ex 25.18 e freqüentemente no
Antigo Testamento (Ez 1, 10) e no Novo Testamento (Hb 9.5; Ap 4.5,6; 7.11;
14.3; 15.7; 19.4.) Provavelmente os Serafins de Isaías 6 são os mesmos seres.
Satanás era originalmente um Querubim (Ez 28.14). O termo “bestas” é
totalmente errado, pois a palavra “zoon” significa “o que vive”, e é
inteiramente diferente de “teríon”, besta selvagem, como em Mc 1.13 e em
trinta e seis lugares no Apocalipse. Os Querubins não simbolizam a igreja de
Deus, pois já existiam nos dias de Ezequiel como atendentes reais do Deus de
Israel. São seres celestiais, não apenas anjos, porque em outro lugar eles são
vistos cercados por “todos os anjos” (7.11). Tampouco são identificados com
os vinte quatro Anciãos, pois estão mais próximos do Trono do que estes,
estando “no meio do Trono” (4.6) e são claramente distinguidos deles.

a) A Forma dos Seres Viventes

O próprio Moisés não registrou qualquer dado a esse respeito, quando


recebeu ordens de Deus para construir o Tabernáculo. Tudo o que ele nos diz
é que eles tinham rostos e asas (Ex 25.18-20; 37.7-9). Uma descrição tão
resumida como esta pode nos levar a pensar que a forma deles era bem
conhecida daqueles a quem Moisés se dirigia.

Foi Ezequiel quem nos disse que os Seres Viventes são Querubins: “E
do meio dela saía a semelhança de quatro Seres Viventes” (1.5); “São estes
os Seres Viventes que vi debaixo do Deus de Israel, junto ao Rio Quebar; e
percebi que eram Querubins” (10.20). Em outro lugar ele não faz qualquer
diferença entre eles: “E por cima das cabeças dos Seres Viventes havia uma
semelhança de firmamento, como o brilho de cristal terrível, estendido por
cima, sobre a sua cabeça” (1.22); “Depois olhei, e eis que no firmamento que
estava por cima da cabeça dos Querubins” (10.1). As palavras “e os
Querubins se elevaram ao alto. Eles são os mesmos Seres Viventes que vi
junto ao Rio Quebar” (10.15), não deixam qualquer dúvida a esse respeito.
No primeiro lugar onde aparecem eles são chamados de Querubins (Gn 3.24).

b) O Significado dos Seres Viventes

Existem várias interpretações para os Seres Viventes, mas não vamos


discuti-las aqui. Creio que os comentários do Robert Govett são excelentes.
“(1) Os Querubins são representantes da criação animada do globo. Eles não
são símbolos ou emblemas; eles são representantes. Os símbolos nos
capítulos 4 e 5 são interpretados, mas os Seres Viventes e os vinte e quatro
Anciãos não; porque eles não são símbolos; (2) O número deles é quatro, o
número da criação: os quatro cantos da terra (7.1; 20.8). Os quatro ventos.
Quando as divisões dos homens são mencionadas, elas são dadas em quatro:
‘tribo, língua, povo, nação.’ (5.9; 7.9; 10.11; 11.9; 13.7; 14.6; 17.15). Quatro
são as grandes divisões da criação: céu, terra, debaixo da terra e mar (5.13;
14.7). A criação é afetada pelos quatro juízos aflitivos de Deus (Ez 14.21).
No Salmo 148, os que devem louvar o Senhor são mencionados em quatro
grupos de quatro e em particular quatro tipos de seres viventes. Em Ezequiel
os Zoa (Seres Viventes) têm quatro rostos e quatro asas (1.6). Os
acampamentos de Israel eram quatro, em direção aos pontos cardeais. Os
grandes impérios da terra são quatro. (3) Os quatro seres viventes
especificados são cabeças das suas tribos ou divisões: (a) O leão é o cabeça
dos animais selvagens (Pv 30.30); (b) O bezerro é o principal do gado; (c) A
águia é a principal das aves; e (d) O homem é o cabeça de toda a criação”.

“Esta é a divisão dos Seres Viventes reconhecida nas Escrituras; Duas


classes são omitidas nos Querubins e são significativas: (a) Os peixes não
têm representativos, pois não existe mar na nova terra (Ap 21.1); (b) Os
répteis não têm representativos, e o motivo não é difícil de ser achado: foi a
serpente que introduziu o pecado e foi condenada a tomar o seu lugar entre os
que rastejam. Consequentemente, das cinco tribos de animais da terra Deus
entra em aliança com apenas três: ‘E eis que estabeleço o meu pacto
convosco e com a vossa descendência depois de vós, e com todo ser vivente
que convosco está: com as aves, com o gado e com todo animal da terra; com
todos os que saíram da arca, sim, com todo animal da ter’ (Gn 9.9,10). E os
Querubins são representativos de apenas três desses tipos, em ligação com o
homem” Govett, idem).

Os quatro Seres Viventes apresentam relações peculiares entre si. Dois


deles pela Lei são imundos: o leão e a águia; dois são limpos: o bezerro e o
homem. Entretanto, na figura dos Querubins todos são purificados e em
condições de habitar na Presença Divina; um sinal da purificação final da
criação. Provavelmente este foi o significado da voz que falou com Pedro
dizendo: “Não chames tu comum ao que Deus purificou” (At 10.15). O
cumprimento ainda está por acontecer, mas na presença de Deus é uma
realidade anunciada diariamente. Duas são as criaturas que depredam os outros:
o leão e a águia. O bezerro é a vítima do leão, e o homem algumas vezes é a
vítima e em outras o destruidor, tanto do leão como da águia. Mas aqui todos
estão em harmonia. Não existe disputa na Presença de Deus e este é o sinal da
reconciliação final da criação. O pecado de Adão trouxe desordem e
estabeleceu a discórdia, mas um dia “o lobo morará com o cordeiro, e o
leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro e o leão novo e o animal cevado
viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão
juntas, e as suas crias juntas se deitarão; e o leão comerá palha como o boi” (Is
11.6,7).
Os vinte e quatro Anciãos são os cabeças dos anjos, e os quatro Querubins
são os cabeças dos grupos representativos das criaturas. Os nobres do império
devem reunir-se ao redor do trono do seu rei. Aqui Deus está sentado como o
Senhor do céu e da terra. Quando estas duas classes (anciãos e seres viventes)
tomam a direção, suas ordens seguem (5.8-13). Jesus, em relação a estes Seres
Viventes, aparece como o Cordeiro que foi morto. E quando Ele toma o livro a
criação inteira pronuncia uma nota de alegria, conduzida pelos Seres Viventes
ao redor do Trono (cap.5).

É interessante observar que são os Seres Viventes que anunciam os


acontecimentos dos quatro primeiros selos: O Evangelho, a guerra, a fome e a
pestilência. Eles celebram a eternidade, a Divindade e o poder Daquele que
Se assenta no Trono. Nas palavras de Paulo, estas coisas devem ser
manifestadas pelas criaturas (Rm 1.20). Os caminhos misteriosos de Deus
levaram a criação e as criaturas ao sofrimento, por causa do pecado do
homem. Mas mesmo assim elas reconhecem Sua santidade e o Trono de Deus
está pronto para livrá-las da escravidão da corrupção.

O propósito declarado de Deus é a redenção da criação: as criaturas e o


homem. “Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos
filhos de Deus. Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua
vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a
própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da
glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação conjuntamente
geme e está com dores de parto até agora; e não só ela, mas até nós, que
temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos,
aguardando a nossa adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.19-
23). A criação caiu com Adão e não por sua própria escolha. Ela será
levantada novamente e participará com os redimidos da humanidade do seu
livramento da sepultura e do seu cativeiro de ferro. Ela será feita imortal e
gloriosa quando chegar o tempo dos filhos de Deus brilhar como o sol na
ressurreição. “A restauração de todas as coisas” mencionada por Pedro (At
3.21), foi o assunto dos profetas de Deus desde que o mundo começou.

Os quatro Seres Viventes e os vinte e quatro Anciãos louvam a Deus


dizendo sem cessar: “Santo, santo, santo!” A Escritura diz que “a criação
ficou sujeita à vaidade” (Rm 8.20) e está gemendo com dores de parto (Rm
8.22). Mas aqui a criação está louvando. Os vinte e quatro Anciãos adoram,
mostrando qual é o propósito de Deus para Sua criação. Eles louvam a Deus
incessantemente, porque tudo foi criado pela vontade de Deus e para o Seu
prazer. O plano para Sua criação será plenamente realizado, mesmo tendo
havido pecado e morte. A criação que geme com dores de parto, será
libertada do estado de escravidão em que se encontra. Essa é a mensagem do
capítulo 4 do Apocalipse: A glória do Criador e a glória da criação.
Capítulo 2
A REDENÇÃO E O PROPÓSITO DE DEUS
“O Redentor e a Redenção” Ap 5

“Digno és de tomar o Livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e


com o teu sangue compraste
para Deus os que procedem de toda tribo, língua,
povo e nação.” Ap 5.9

O tema centra do capítulo 5 é a redenção. Nele temos uma descrição do


que aconteceu quando o Senhor Jesus chegou ao céu, depois da Sua
Ascensão. Mas porque ela foi mostrada a João após passar mais de sessenta
anos? Para mostrar o que aconteceu quando nosso Senhor tomou o Livro da
mão de Deus o Pai. Ou será que o Senhor tem estado esperando nestes dois
mil anos para começar a romper os Selos? Claro que não. Isso aconteceu logo
que Ele chegou à presença do Pai e pode ser comprovado pelas palavras de
João: “Nisto vi, entre o Trono e os quatro Seres Viventes, no meio dos
Anciãos, um Cordeiro em pé, como havendo sido morto” (5.6). A idéia é de
que o Cordeiro havia sido “recém” morto, dando a entender que isso
aconteceu logo após a Sua Ascensão. Quando comparamos o significado dos
quatro primeiros Selos com as palavras do Senhor em Mateus 24.6-7 fica
claro que eles foram abertos quando Jesus chegou ao céu e tomou o Livro da
mão Daquele que se assenta no Trono.

Quando foi dado a João contemplar aquela cena, um anjo forte clamou
com grande voz dizendo: “Quem é digno de abrir o Livro e de romper os seus
Selos? Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém
podia abrir o Livro, nem olhar para ele” (5.3). Nesse momento João começou
a chorar muito, pois entendeu que se não houvesse alguém digno de tomar o
Livro e de abrir os seus Selos, Satanás continuaria sendo o deus deste século
e o príncipe deste mundo. Deus deu a Adão a autoridade de governar a terra,
mas ao desobedecer ele passou às mãos do inimigo esse privilégio. Mas,
graças a Deus, o direito de propriedade, a Escritura, nunca saiu das mãos de
Deus. Ela nunca foi passada a homem algum. Por isso João chorou, porque se
não houver um digno de tomar o Livro e de romper os seus Selos, a terra
continuará debaixo do governo usurpador do Diabo. “Esse Livro é a Escritura
do Universo” (S. Kaung). Eis a causa das lágrimas de João. Mas um dos
Anciãos o confortou dizendo: “Não chores; eis aqui o Leão da Tribo de Judá,
a Raiz de Davi, venceu para abrir o Livro e romper os seus Sete Selos” (5.5).
Isso não aguarda cumprimento, mas é algo que aconteceu há
aproximadamente dois mil anos atrás. O Senhor Jesus é digno de pegar o
Livro e romper os seus Selos. Digno é o Cordeiro! Adoramos o Cordeiro
porque Ele é digno! Aleluia! Nosso Senhor é Digno não somente de tomar o
Livro, mas também de abrir os seus Selos e executar o que nele está escrito.

A Glória da Transfiguração

O Senhor Jesus para realizar a obra da Redenção deixou Seu lugar no


céu e veio a esta terra. O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Pela obra do
Espírito Santo Jesus foi gerado no ventre de Maria, porque Ele não teve um
pai humano; José não era seu pai. Jesus não teve qualquer ligação com a raça
humana, no aspecto da queda. Ele podia desafiar a todos dizendo: “Quem de
vós me aponta pecado?” (Jo 8.46). Ele era “separado dos pecadores” (Hb
7.26). Jesus não tinha uma natureza caída como nós temos nem o “velho
homem” e por isso não podia ser tentado como nós somos. Quer dizer, a
tentação para Ele era sempre algo “objetivo” e nunca “subjetivo”. Era algo
exterior e nunca interior. Quando Satanás o tentou (Mt 4), Ele não
experimentou qualquer perturbação interior no sentido de aceitá-la e não
precisou lutar contra ela. Ele era o “Santo” de Deus. Ele é para sempre “Jesus
Cristo o Justo” (1Jo 2.1,2).

Ele “existia na forma de Deus”, mas veio ao mundo e tomou a “forma de


homem” ao ser formado no ventre de Maria. Depois tomou a “forma de
escravo” (Fl 2.6,7), tendo vivido aproximadamente trinta e três anos e meio
nesta terra. Todavia Ele não deixou de ser Deus. Ele apareceu diante dos
homens numa “forma” diferente, a forma de homem, mas Sua essência
sempre foi a mesma. Numa figura simples, é como a água num copo e depois
derramada num prato. A essência da água é a mesma, embora a forma visível
tenha mudado.
A experiência do Senhor no Monte da Transfiguração prova que Ele não
havia sido contaminado vivendo no meio dos pecadores. A glória interior do
Seu ser invadiu Seu corpo humano e Suas vestes terrenas, revelando aos três
discípulos a mesma glória que Ele há de manifestar em Sua vinda (2Pd 1.16).
Se Ele quisesse poderia ter retornado ao céu daquele Monte. Aquele que
havia descido do Pai continuava o mesmo, sem qualquer mácula e podia
retornar ao lugar de onde havia saído. Todavia, por causa da entrada do
pecado no mundo, Ele precisava ir a Jerusalém e ao Calvário. Mas após
concluir a obra da Redenção bradou vitorioso “está consumado” e subiu
gloriosamente para Se assentar à direita da Majestade nas alturas.

Os capítulos 4 e 5 nos mostram o propósito de Deus para Sua criação (4)


e a obra da Redenção pela criação que fora arruinada pelo pecado (5). Ele dá
Sua vida na Cruz e depois da ressurreição é entronizado no céu e Se assenta à
direita do Pai. Através da Sua obra no Calvário Ele pode levar de volta toda a
criação a Deus. Certamente os quatro primeiros Selos foram abertos naquele
instante, há quase dois mil anos passados. Na figura do Cavalo Branco nosso
Senhor liberou o Evangelho, que saiu vencendo e para vencer; com o Cavalo
Vermelho foi anunciado que as guerras e rumores de guerra acompanhariam
a era da graça; o Cavalo Preto predisse o estabelecimento da fome que
cresceria na face da terra, principalmente provocada pelas guerras; e
finalmente o Cavalo Amarelo, cujo cavaleiro recebeu o nome de Morte e foi
seguido pelo Hades. Durante a era da Igreja o Evangelho seria pregado, as
guerras cresceriam mais e mais, trazendo morte e destruição e produzindo
uma grande colheita para o anjo chamado Morte. Voltaremos a esse assunto
no final.

O Senhor Jesus é digno de tomar o Livro e de abrir os seus Selos,


porque Ele morreu e com Seu sangue comprou para Deus homens de toda
tribo, e língua e povo e nação (Ap 5.9). Quatro é o número da terra, o que
significa que o Senhor Jesus redimiu homens dos quatro cantos da terra.
Como dissemos antes, os Anciãos não representam a igreja glorificada,
porque eles mesmos afirmam: “e para o nosso Deus os fizeste” e não “nos
fizeste” (Ap 5.10). Os redimidos foram feitos “reino e sacerdotes” e um dia
“reinarão sobre a terra” juntamente com o Senhor no Milênio.
Ó que cena gloriosa ao redor do Trono! Os Anciãos, os Seres Viventes e
todos os anjos, cujo número é “miríades de miríades e milhares de milhares”
(5.11). Em uníssono declaram com voz estrondosa: “Digno é o Cordeiro, que
foi morto...” (5.12). Mais uma vez o propósito de Deus para Sua criação é
afirmado: “Ouvi também toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo
da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está
assentado no Trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o
domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro Seres Viventes diziam:
Amém. E os Anciãos prostraram-se e adoraram” (5.13,14).
Segunda Parte
CRISTO ENTRONIZADO NA
IGREJA
Apocalipse 1.10-20; 2 e 3; 6.1-8

A HISTÓRIA DA IGREJA

1) Éfeso = Relaxamento
Fim do Primeiro Século - Perda do Primeiro Amor
2) Esmirna = Mirra
De 100 a 313 d.C. - Perseguições de Roma
3) Pérgamo = Eis o Casamento
De 313 a 600 - Igreja Oficial, Constantino
4) Tiatira = Incenso Contínuo
De 600 a 1517 - Sistema Católico Romano
5) Sardes = Reforma
De 1517 a 1827 - Reforma, Lutero
6) Filadélfia = Amor Fraternal
De 1827 a 1847 - Unidade da Igreja, Darby
7) Laodicéia = Opinião do Povo
1847 a ? - Filadélfia Soberba
O propósito de Deus é “de fazer convergir Nele (Cristo), na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.10).
Por essa razão entendemos que o tema “Cristo Entronizado” é muitíssimo
adequado para expressar os movimentos de Deus revelados no Apocalipse.
Primeiro nos foi mostrado que o Senhor Jesus foi entronizado no céu (caps 4 e 5),
depois de passar uns trinta e três anos e meio nesta terra. Por causa da queda do
homem “Ele foi reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou,
tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2.7,8). Por amor a nós “Ele
foi contado com os transgressores” (Is 53.12), porque mesmo não tendo conhecido
pecado “Deus O fez pecado por nós” (2Co 5.21). Todavia, “nos convinha um
Sumo Sacerdote como Este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos
pecadores e feito mais alto do que os céus” (Hb 7.26).

Depois de Se oferecer pelo Espírito Santo a Deus “sem mácula” (Hb


9.14) e derramar Seu “precioso sangue, como de um Cordeiro sem defeito e
sem mácula” (1Pd 1.19), “não por meio de sangue de bodes e de bezerros,
mas pelo Seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas,
tendo obtido eterna redenção” (Hb 9.12) e para “comparecer agora, por nós,
diante de Deus” (Hb 9.24). Graças a Deus, agora “possuímos tal Sumo
Sacerdote, que Se assentou à destra do Trono da Majestade nos céus” (Hb
8.1). Sim, nosso Senhor Jesus Cristo, voltou ao céu de onde veio, e está
assentado à destra de Deus (Hb 10.12). O primeiro movimento de Deus foi
realizado de forma plena: Cristo entronizado no céu!

Chegamos então à segunda parte do nosso estudo do livro de


Apocalipse: Cristo entronizado na igreja. Como vimos no capítulo 5, ao
chegar ao céu Ele recebeu das mãos Daquele que Se assenta no Trono o
Livro selado com sete selos e abriu imediatamente os quatro primeiros selos.
E nesse mesmo tempo nosso Senhor “exaltado, pois, à destra de Deus, tendo
recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e
ouvis” (At 2.33). Pedro explicou o que aconteceu no dia de Pentecostes, mas
a interpretação foi dada por Paulo: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um corpo, sejam judeus ou gregos, sejam escravos ou livres”
(1Co 12.13). Pentecostes foi o nascimento da igreja. Em outra de suas cartas
ele disse: “Para que dos dois (judeus e gentios) criasse, em Si mesmo um
novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com
Deus” (Ef 2.15,16). Depois, falando sobre o mistério de Cristo, declarou: “A
saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo” (Ef 3.6).
No dia de Pentecostes Deus estabeleceu a terceira divisão da humanidade: a
igreja. Essa tríplice divisão da humanidade permanece até hoje, segundo as
palavras de Paulo aos Coríntios: “Não vos torneis causa de tropeço nem para
judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus” (1Co 10.32).

1. Como Estudar as Sete Igrejas

As Sete Cartas podem ser consideradas do ponto de vista Histórico,


Espiritual e Profético:

(a) Histórico. O Senhor descreve a condição espiritual das sete igrejas


naquela ocasião e também certas características daquelas cidades. No tocante
à condição das igrejas notamos que em Éfeso havia a obra dos nicolaítas, em
Pérgamo a doutrina de Balaão e dos nicolaítas, em Tiatira havia uma falsa
profetiza e as coisas profundas de Satanás. Quanto às características das
cidades, somos informados que em Pérgamo existia um templo dedicado a
Esculápio, o deus da medicina, o qual era uma figura do “trono de Satanás”.
Júlio César, o primeiro dos sete reis mencionados no capítulo 17 do
Apocalipse, foi antes disso um sacerdote da Babilônia e teve ligações diretas
com esse templo em Pérgamo. Em Laodicéia havia uma fábrica de colírio e
também indústrias de tecidos. Esses são os pontos observados se abordarmos
as sete igrejas do ponto de vista histórico.

(b) Espiritual. As características espirituais, positivas ou negativas, podem


ser aplicadas a todos os cristãos de todas as eras. Os avisos, exortações,
conselhos, encorajamentos, elogios e toda instrução relacionada com a justiça
são válidos para todos os cristãos de todas as épocas. O que o Senhor Jesus
disse a essas sete igrejas se aplica a todos os que estiverem vivendo em
condições semelhantes.

(c) Profético. Dá uma visão dos estágios da igreja, começando com Éfeso e
para ser concluída com a vinda do Senhor. Se havia outras igrejas de Deus
na Ásia e algumas bem próximas dessas sete, por que só estas foram
mencionadas? E por que o Senhor tornou a condição espiritual delas
conhecida de todos em todas as eras? A abordagem Profética apresenta as
sete igrejas, na ordem em que foram endereçadas, como simbólicas do
desenvolvimento progressivo da igreja de Deus em toda a sua trajetória na
terra. Sete condições morais principais têm marcado a era da igreja, as
quais se encaixam nas características dessas sete igrejas.
Defendendo esse ponto de vista, G. H. Pember apresentou os seguintes
argumentos:

(i) A Carta à igreja em Éfeso revela o início da decadência no desvanecimento


do primeiro amor, e a última, Laodicéia, mostra o resultado final disso na
rejeição por parte do Senhor. Isso sugere que as outras Cartas retratam estágios
consecutivos intermediários.

(ii) O significado do nome de cada igreja corresponde à característica


histórica do estágio designado a cada uma delas.

(iii) A história da era cristã tem seguido realmente os estágios que foram
antecipadamente delineados obscuramente.

2. O Senhor Jesus e os Candeeiros

O Senhor Se dirige a cada igreja fazendo menção dos Seus poderes,


atributos e experiências mais adequadas à condição daquela igreja. Uma
comparação minuciosa revela que a descrição da Sua Pessoa dada no
primeiro capítulo é repetida em porções na introdução de cada carta. Vejamos
algumas delas:

(i) À igreja em Éfeso Ele lembra Seu controle absoluto desses anjos protetores e
vigilantes das igrejas: Ele “conserva as Sete Estrelas em Sua mão direita” e pode
sustentar, restringir ou retirar esse ministério tão necessário e útil dos anjos (Hb
1.11). Ele também anda no meio dos candeeiros e mantém uma observação íntima
e pessoal da sua condição, a ponto de detectar o estado do coração e não apenas as
aparências exteriores: “Deixaste o teu primeiro amor”.
(ii) Esmirna está para enfrentar tribulação severa que exigirá a fidelidade
dos crentes até a morte. O Senhor os lembra que Ele também suportou a
morte e por isso pode simpatizar e socorrer e conduzi-los à vida de
ressurreição que Ele mesmo alcançou.

(i i i ) Pérgamo está infectada de caminhos e ensinos maus que podem


provocar o uso da Sua espada afiada de dois gumes. Quão terrível a
possibilidade do Senhor mesmo tomar uma posição contra alguns dentro
das igrejas. Quem pode esperar sobreviver a tal conflito? (Veja Is 63.10).

(i v ) Tiatira está permeada com as coisas profundas de Satanás, mas o


Senhor com Seus olhos como labareda de fogo irão queimar até às regiões
mais ocultas e manifestar os males mais sutis. Seus pés como bronze
polido numa fornalha, proclamam que só pode permanecer aquilo que
suportar o fogo do julgamento.

(v ) Sardes é um cadáver, carne pintada, mas sem vitalidade. O Senhor,


entretanto, tem a plenitude do Espírito para revitalizar o arrependido. Ele
também tem a reserva plena do ministério dos anjos para disciplinar,
proteger, socorrer e todos os outros serviços espirituais necessários nos
domínios invisíveis onde Satanás ataca os santos.

(vi) Filadélfia é fraca, porém fiel. Aquele que é Santo reconhece isso;
Aquele que é Verdadeiro será verdadeiro com todos os que forem assim
com Ele; Aquele que abre e que fecha manterá aberta a porta do
testemunho para aqueles que estão prontos para testemunhar.
(vii) Laodicéia é orgulhosa, mas infiel. O Senhor é o oposto: Ele é o Amém,
Aquele em Quem tudo é certo; Ele é a Testemunha fiel e verdadeira, e se eles
forem infiéis para com Ele, Ele deve ser fiel à Sua palavra e a Si mesmo e
negará aqueles que O negarem (Mt 10.32,33; Lc 12.8,9; 2Tm 2.11-13), pois
de outra forma Ele negaria a Si mesmo, o que não pode ser. Ele deu início à
criação de Deus e toda a continuidade depende da dependência continua
Dele, que no princípio criou (Lang).

3. Os Sete Estágios da História da Igreja

As Sete Igrejas simbolizam épocas sucessivas da história da Igreja. Cada


uma delas abrange um determinado período, e o significado do nome de cada
igreja nos permite determinar qual é ele. Nem todos aceitam as Sete Igrejas
como uma descrição dos sete estágios da história da igreja, todavia, os
argumentos a seguir são difíceis de serem contestados.

a) O número “sete” não aparece por acaso, pois havia outras igrejas na Ásia
que não foram mencionadas. Porque somente estas?

b) Existe um mistério envolvido com estas Sete Igrejas, como nosso Senhor
declarou: “O mistério dos sete candeeiros de ouro” (1.20). Se ignorarmos este
mistério, sem dúvida chegaremos a uma conclusão distorcida. Por que é
necessário ter ouvidos para ouvir? (2.7). Quem não tem poderá entender?

c) Sem nenhum esforço carnal as Sete Igrejas encaixam perfeitamente no


lugar onde elas deveriam estar. O significado do nome de cada uma delas não
deixa dúvidas com respeito ao período que elas representam na história.

d) Vários pontos nestas Sete Cartas ficam sem sentido se não seguirmos a
linha profética da história da igreja. Como saberemos quem são os Nicolaítas,
mencionados duas vezes? Nenhuma seita jamais existiu com tal nome!

4. O Padrão Divino Para a Igreja

No final do primeiro século a igreja de modo geral já mostrava fortes


sinais de decadência. Esse período é representado pela igreja em Éfeso que
perdera o primeiro amor. Para restaurar Seu povo à posição original o Senhor
permitiu os duzentos anos de perseguição por parte de Roma. Esse período é
simbolizado pela igreja em Esmirna. Satanás viu que matar os cristãos era
perder tempo: quanto mais cristãos morriam, mas pecadores se convertiam.
Então surgiu Constantino que tornou a igreja oficial; foi o casamento da
igreja com o estado. Esse período é representado pela igreja em Pérgamo. A
condição de mistura estabelecida abriu as portas para o surgimento do
sistema Católico Romano. Esse período é representado pela igreja em Tiatira.
Passados mil anos Deus levantou Lutero e com ele aconteceu o movimento
da Reforma Protestante, simbolizado pela igreja em Sardes. Isso foi o início
da obra de restauração da igreja. Trezentos anos mais tarde o Espírito Santo
revelou a um pequeno grupo de irmãos a verdade da unidade da igreja. Eles
viram que a igreja é um único corpo, uma única família. Esse período é
representado pela igreja em Filadélfia. Decorridos menos de trinta anos de
bênçãos indescritíveis, aconteceu a primeira divisão entre aqueles irmãos. O
candeeiro sem o óleo do Espírito passou a queimar o próprio pavio. A luz
recebida de Deus foi realmente muito grande, mas sem a unção do Espírito
era apenas letra morta. O resultado não podia ser outro senão orgulho
espiritual. Esse período é representado pela igreja em Laodicéia.

Dessas Sete Igrejas apenas duas permanecem na linha do padrão de


Deus: Esmirna e Filadélfia. Estas duas não receberam repreensão, pelo
contrário, foram elogiadas e aconselhadas. O gráfico abaixo coloca Éfeso,
Sardes e Laodicéia no mesmo nível, mas não significa que a condição
espiritual delas seja idêntica. O mesmo acontece com Pérgamo e Tiatira, pois
com certeza a condição espiritual de Tiatira é pior do que a de Pérgamo.
Esmirna e Filadélfia representam o segundo e o sexto estágio da história da
igreja: Esmirna está entre as três primeiras e Filadélfia entre as quatro
últimas. Éfeso, Esmirna e Pérgamo passaram e não têm representação em
nossos dias. Ficaram, portanto, as quatro últimas: Tiatira (Catolicismo
Romano), Sardes (Protestantismo), Filadélfia (Testemunho da Unidade) e
Laodicéia (Filadélfia Soberba). Tudo indica que estas quatro estarão existindo
simultaneamente até a volta do Senhor Jesus.

Mas não devemos esquecer que Filadélfia é que agrada o coração do


Senhor. Não nos enganemos: Filadélfia é amor fraternal, amor aos irmãos,
amor a todos os que foram lavados no sangue do Cordeiro. Não se trata de
estar reunido debaixo de determinada placa e de praticar certos ensinamentos
bíblicos. Não, graças a Deus, não! Na Sua infinita sabedoria nosso Senhor
não trancou a porta de Filadélfia para os que estão em Tiatira, Sardes e
Laodicéia. Por ser em primeiro lugar um estado de coração, onde o amor de
Deus governa nossa relação com todos os Seus filhos, podemos encontrar em
Tiatira, Sardes e Laodicéia irmãos e irmãs que vivem a realidade de
Filadélfia. O triste é notar a ausência do amor fraternal entre os que dizem ser
o testemunho de Filadélfia. O pior é quando a maravilhosa verdade da
unidade passa a ser usada como uma plataforma para criticar e menosprezar
os que não estão na mesma posição. Possa o Espírito Santo abrir nossos olhos
espirituais para vermos esse ponto vital do testemunho de Filadélfia: amar os
irmãos.

O Padrão Divino
Esmirna Filadélfia
101-313 1827-1847

Abaixo do Padrão
Éfeso Sardes Laodicéia
100 1500 1847 ?

Muito Abaixo do Padrão


Pérgamo Tiatira
314-600 601-1500

O propósito de Deus é “fazer convergir em Cristo todas as coisas, na


dispensação da plenitude dos tempos” (Ef 1.10). O Senhor Jesus já foi
entronizado no céu, e será entronizado na igreja, na terra e no novo céu e
nova terra. Desde o nascimento da igreja até hoje já são passados quase dois
mil anos. Durante todo esse período o Espírito Santo está trabalhando para
concluir essa segunda etapa: Cristo Entronizado na Igreja. Esse mover de
Deus nos é mostrado na segunda parte do capítulo um e nos capítulos dois e
três do Apocalipse. João ouve uma “grande voz, como de trombeta” (1.10)
que lhe ordena que escreva a visão e envie às Sete Igrejas da Ásia (1.11).
João resumiu a visão em dois pontos principais: (a) “Vi sete candeeiros de
ouro” (1.12) e (b) “No meio dos candeeiros um semelhante a Filho de
Homem” (1.13). Em seguida João descreve o Senhor Jesus glorificado em
dez pontos (1.13-16) e depois os Sete Candeeiros de Ouro (caps 2 e 3).

5. A Descrição de Jesus Glorificado – Ap 1.10-20

Historicamente esta é a última descrição do Senhor Jesus no Novo


Testamento. Nesta visão João viu as vestes, os cabelos, os olhos, os pés, as
mãos, a boca e a voz do Senhor Jesus. Primeiro ele ouviu uma grande voz, e ao
se voltar viu sete Candeeiros de ouro que projetavam luz. A cena aqui é noturna
e no meio da noite os Candeeiros brilhavam. Por outro lado a cena é diurna e
João a descreve assim: “Seu rosto brilhava como o sol com sua força”, isto é,
ao meio-dia. Os Candeeiros são usados à noite e o Senhor disse que eles
simbolizam as Sete Igrejas. A luz que produzem vem diretamente da glória que
emana daquele Rosto que brilha como o sol. A luz é para as próprias igrejas; a
glória só pode ser revelada ao mundo por meio dos sete Candeeiros. A função
dos Candeeiros é manifestar a luz que é produzida pelo óleo quando queimado.
Sem o poder e a unção do Espírito Santo a igreja não tem como manifestar ao
mundo a luz e a glória do Senhor Jesus. Mas, Jesus é o nosso grande Sumo
Sacerdote junto ao Pai, e como tal Ele supre os Seus candeeiros com o óleo do
Espírito para cumprirem sua vocação. A descrição revela aspectos da Sua
Pessoa, da Sua função, do Seu caráter, da Sua atividade e da Sua glória.

“Um semelhante a Filho de homem” 1.13a

I. Símbolos da Sua Função - 1.13b, 13c


Sacerdote (Vestido) - Rei (Cinto)

“Vestido com uma veste talar” - 1.13b


Justiça

“Cingido pelo peito com um cinto de ouro” - 1.13c


Compaixão e Amor

II. Símbolos do Seu Caráter - 1.14


Sabedoria (Cabelos) e Discernimento (Olhos)

“Sua cabeça e cabelos brancos como a neve e a lã” – 1.14a Sabedoria

“Seus olhos como a chama de fogo” – 1.14b


Discernimento Espiritual

III. Símbolos da Sua Atividade - 1.15,16a


Justiça, Autoridade, Responsabilidade e Poder
(Pés, Voz, Mão, Boca)

“Seus pés semelhantes a latão reluzente” - 1.15a


Julgamento Divino

“Sua voz como a de muitas águas” - 1.15b


Autoridade Divina

“Na Sua mão direita sete estrelas”- 1.16a


Força e Responsabilidade

“Da Sua boca saía uma espada aguda de dois gumes” – 1.16b - Poder

IV. Símbolos da Sua Glória - 1.16c


Saúde interior, beleza, caráter espiritual (rosto)

“Seu rosto era como o sol” – 1.16c


Caráter Espiritual

V. O Efeito da Visão – 1.17,18


“E eu, quando O vi, caí como morto aos Seus pés” - 1.17,18 (G. C. Morgan).

O Senhor Glorificado e as Sete Igrejas

A descrição do Senhor Jesus, dada nos versículos acima (1.10-20) aparece


novamente no início de cada uma das Sete Cartas. Cada igreja recebe uma
porção dessa revelação da Sua pessoa.

1) Éfeso Apoc.2.1 X 1.16a, 13a


2) Esmirna Apoc.2.8 X 1.17b, 18a
3) Pérgamo Apoc.2.12 X 1.16b
4) Tiatira Apoc. 2.18 X 1.14b, 15a
5) Sardes Apoc.3.1 X 1.14b,16a
6) Filadélfia Apoc.3.7 X ???
7) Laodicéia Apoc.3.14 X 1.5b

Lendo com atenção observamos a parte da revelação dada a Filadélfia


não aparece na descrição do primeiro capítulo. Isso é muito importante, pois
somente ela e Esmirna não foram repreendidas pelo Senhor. Filadélfia foi
altamente recomendada por Ele. Por agradar tanto o coração do Senhor, Ele
lhe concedeu uma revelação especial. Podemos entender o que satisfaz tanto
o coração do nosso Senhor lembrando o significado da palavra Filadélfia:
amor fraternal. “Ó Quão bom e quão suave é os irmãos viverem em união”
(Sl.133). Foi esse o pedido de Jesus em Sua oração sacerdotal (João 17).
Falar, pregar, discutir sobre a unidade e não viver a sua realidade no poder do
Espírito e na negação do nosso Eu não tem qualquer sentido. É a mesma
coisa que falar a língua dos homens e dos anjos, ter o dom de profetizar e
conhecer todos os mistérios e toda a ciência, ter fé para transportar
montanhas, distribuir os bens com os pobres e entregar o próprio corpo para
ser queimado sem ser movido pelo amor de Deus (1Co 13.1-3).

7. Como as Sete Igrejas São Divididas?

O número “sete” na Bíblia freqüentemente é divido em 3+4 ou 4+3. As


Sete Festas de Israel (Lv 23) são divididas da seguinte forma: Páscoa, Pães
Ásmos, Primícias e Pentecostes já tiveram cumprimento. Um longo período
as separa das três últimas: Trombetas (talvez esteja sendo cumprida hoje),
Expiação e Tabernáculos. As Sete Parábolas do Reino (Mt 13) também são
divididas em 4+3: Semeador, Joio e Trigo, Grão de Mostarda e Fermento;
estas foram anunciadas a todos na praia. A do Tesouro, da Pérola e da Rede
apenas aos discípulos (13.36). Mas quando chegamos às Sete Igrejas a ordem
muda para 3+4. Como isso pode ser comprovado? O próprio Autor das
Escrituras fez isso. No final de cada carta encontramos duas coisas: (1) A
chamada para ouvir o que o Espírito diz às igrejas, e (2) a chamada aos
vencedores. Observe que nas três primeiras a chamada para ouvir o que o
Espírito diz às igrejas vem primeiro (2.7; 2.11; 2.17), mas nas quatro últimas
a ordem é invertida: primeiro a chamada aos vencedores e depois o convite
para ouvir o que o Espírito diz às igrejas (2.26-29; 3.5,6; 3.12,13; 3.21,22).

O número quatro é o número da criação (norte, sul, leste e oeste, ou, os


quatro cantos da terra). O número três é o número da Trindade e da
ressurreição. As Sete Festas de Israel mostram que a vontade de Deus vai
predominar no final (4+3). As Parábolas do Reino dos Céus (Mt 13)
manifestam a mesma coisa: quatro parábolas e depois mais três, indicando
que a vontade de Deus predominará. Mas a história da Igreja começa no
centro da vontade de Deus até o final do primeiro século. Mas dali em diante
sua condição começa a mudar para pior, com exceção de Esmirna e
Filadélfia. Se considerarmos o último estágio da igreja do ponto de vista
espiritual, veremos que Laodicéia representa a igreja de modo geral em
nossos dias.

As Cartas de Paulo foram escritas quando a Igreja estava num estado de


normalidade. As Sete Cartas do Apocalipse foram escritas por João num
tempo de anormalidade e por isso se tornam tão importantes para todos os
que desejam seguir o caminho do Senhor para Sua Igreja. A Igreja hoje, em
sua aparência exterior, está desolada. Você já viu isso em seu espírito? Não
estamos dizendo que o propósito de Deus falhou, mas que o testemunho da
Igreja diante do mundo está comprometido. Existem hoje milhares de
denominações evangélicas no mundo. Será que o Senhor tem uma resposta
para tamanha confusão?
Capítulo 1
A IGREJA EM ÉFESO
Apocalipse 2.1-7

Significado do Nome:
“Relaxamento”

Período:
Final do primeiro século

Mensagem Profética:
Condição espiritual da Igreja no final do primeiro século

Repreensão:
Perda do Primeiro Amor

A carta à igreja em Éfeso descreve a condição espiritual dos cristãos


naquela localidade e profeticamente representa toda a igreja no fim do
primeiro século. Os cristãos em Éfeso desfrutaram dos ministérios benéficos
de Paulo, Apolo, Áquila, Priscila, Timóteo, Tíquico e outros. A revelação que
receberam através do ministério do apóstolo Paulo foi tão especial, que o
servo de Deus chegou a declarar: “Nunca deixei de vos anunciar todo o
conselho de Deus” (At 20.27). Na própria epístola a eles escrita, Paulo faz
altos elogios à fé, santidade e conhecimento que possuíam do Senhor Jesus
Cristo. A carta aos Efésios é considerada o escrito que alcança as maiores
alturas em toda a Bíblia. A carta que ora consideramos foi escrita uns trinta
anos mais tarde e nela podemos comprovar os primeiros sinais de decadência.
O primeiro século estava terminando e uma nova geração de cristãos surgia, a
qual mostrava certa dose de devoção a Cristo, talvez mais por tradição do que
por experiência pessoal. O nome sugestivo de Éfeso se aplicava
perfeitamente à condição real dos filhos de Deus daquele tempo:
relaxamento. “O nome Éfeso vem de ‘efíemi’ que significa ‘deixar ir’ ou
‘afrouxar as rédeas’ (Pember)”. Israel e Judá: tiveram essa mesma triste
experiência: “Que te farei ó Efraim? Que te farei ó Judá? Porque o vosso
amor é como a nuvem da manhã, e como o orvalho que logo passa” (Os 6.4).

1. Os Anjos das Sete Igrejas – Ap 1.20; 2.1

O Senhor Jesus se apresenta a cada uma das Sete Igrejas, usando parte
da descrição da Sua Pessoa gloriosa encontrada no primeiro capítulo. Aqui
Ele Se apresenta como “Aquele que tem na Sua destra as Sete Estrelas, que
anda no meio dos Sete Candeeiros de ouro” (Ap 2.1). No capítulo anterior o
Senhor Jesus explicou o mistério dizendo que “as sete estrelas são os sete
anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas” (1.20). Se a
Igreja em Éfeso representa os cristãos no fim do primeiro século, então a
responsabilidade deles naquela época se concentrava nessa declaração: as
Sete Estrelas, ou, os Sete Anjos das Sete Igrejas e a presença do Senhor
andando no meio dos Sete Candeeiros.

A interpretação popular ensina que os Anjos são os líderes das igrejas


locais: pastores, presbíteros ou bispos. João viu o Senhor “no meio dos
candeeiros” e tendo “na Sua destra sete estrelas” (Ap 1.13, 16). O próprio
Senhor disse que era um mistério, e em seguida explicou o seu significado
(1.20). O mistério eram os candeeiros; o significado as igrejas; o mistério
eram as estrelas: o significado os anjos das sete igrejas. Isso quer dizer que
dar outro significado para igreja e para anjo é acrescentar ao que o Senhor
falou. Não podemos dar outro significado para o termo “igreja”. E quanto ao
termo “anjo”? O Senhor Jesus disse que as Sete Estrelas são os Anjos das
Sete Igrejas. Portanto, não temos permissão para dar outra explicação para
eles.

Visto que outros já escreveram de forma completa sobre o assunto, nos


contentaremos em repassar o que eles viram antes de nós. G. H. Pember, por
exemplo, assim escreveu sobre os anjos: “Os Candeeiros e as Estrelas
simbolizam um ‘mistério’, conforme as palavras do Senhor Jesus. Sua
revelação é que os Candeeiros representam as Sete Igrejas e as Sete Estrelas
representam os Anjos das Igrejas. Ora, pelo termo anjo o Senhor sem dúvida
pretende dar o sentido que a palavra invariavelmente apresenta no Novo
Testamento. O anjo é um ser celestial, e, se não for caído, é um mensageiro
de Deus e ministro de Deus. Por isso ele tem responsabilidade sobre o povo
de Deus e é enviado para servir aqueles que hão de herdar a salvação (Hb
1.14): ‘Não são todos eles (os anjos) espíritos ministradores, enviados para
servir a favor dos que hão de herdar a salvação’? Os anjos têm constante
acesso à presença do Pai nos céus por causa dos pequeninos: ‘Vede não
desprezeis a nenhum destes pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos
nos céus sempre vêem a face do meu Pai que está nos céus’ (Mt 18.10). (De
acordo com Atos 12.15 os discípulos primitivos acreditavam que Pedro tinha
um anjo atendente - G. H. Lang). Os anjos também têm a custodia dos
elementos tais como: fogo, água e vento (Ap 7.1; 14.18; 16.5). Podemos
encontrá-los no Antigo Testamento presidindo sobre reinos. O arcanjo
Miguel é, por exemplo, o grande Príncipe de Israel: ‘E ninguém há que se
esforce comigo contra aqueles (anjos caídos), senão Miguel, vosso Príncipe’;
‘Naquele tempo se levantará Miguel, o grande Príncipe, que se levanta a
favor dos filhos do teu povo’ (Dn 10.21; 12.1)”.

“Mas visto que as nações pagãs estão sob o domínio do atual príncipe do
mundo, os príncipes da Pérsia e da Grécia são anjos caídos: ‘Mas o príncipe
do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias (o anjo enviado a Daniel é
quem está falando); agora tornarei a pelejar contra o príncipe dos Persas; e,
saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia’ (Dn 10.13,20). Visto que os
anjos presidem sobre as forças da natureza e têm sob a sua responsabilidade
reinos e indivíduos (Sl 82), não é estranho pensar que alguns deles foram
designados para cuidar das igrejas. Todavia, não devemos supor nem por um
momento sequer, que os anjos de Satanás têm permissão de Deus para
presidir as assembléias que Ele reconhece como igrejas. A história e as
circunstâncias desses anjos que são encarregados de tal responsabilidade
estão além do nosso conhecimento. A questão está envolta num mistério. É
possível que eles sejam anjos num estado de provação, procurando exercer
corretamente aquele poder que Satanás e seus seguidores utilizarem de forma
errada”.

“Não estamos sem indicações bíblicas a esse respeito, pois lemos que
Deus às vezes ‘atribui insensatez aos Seus anjos’ (Jó 4.18). A referência pode
ser a certos seres celestiais que, embora não tenham se apegado a Satanás em
sua rebelião, não foram absolutamente fiéis como deviam, e
consequentemente, precisavam de algum tipo de disciplina ou teste. É mais
do que inútil especular sobre tais questões, as quais não tendo sido reveladas
na Escritura se encaixam na categoria das coisas secretas que pertencem ao
Senhor (Dt 29.29). Portanto, devemos aguardar até o tempo do conhecimento
mais completo, e receber no momento, como criancinhas, aquilo que Ele tem
determinado ser mais adequado para nós”.

“Existem muitos, naturalmente, que cortariam o nó dessa dificuldade


dando um sentido anormal ao termo anjo, identificando-o com o Ancião
Presidente ou Bispo da Igreja. Mas, sem ir muito longe, o fato de se dirigir a
um único anjo em relação com a igreja nos proíbe pensar em qualquer
ministro na carne. Naqueles dias não existia um oficial que correspondesse ao
Bispo no sentido do termo que conhecemos hoje, ou até mesmo o pastor de
uma congregação. Cada igreja era governada por vários Presbíteros ou
Epíscopos (bispos); estes termos são sinônimos entre si. Podemos acrescentar
que o caráter celestial desses anjos das igrejas é, também, claramente
indicado pela natureza dos seus símbolos. Eles são representados
apropriadamente pelas estrelas, cuja morada é nos céus. Por outro lado, as
igrejas são representadas pelos candeeiros, que são postos sobre a terra e dão
luz na terra” (G. H. Pember).

2. Examinando os Candeeiros – Ap 2.1

Nosso Senhor Se apresenta à igreja em Éfeso como Aquele “que


anda no meio dos Sete Candeeiros de Ouro” (2.1). O que vem a ser isso?
Como dissemos na introdução, a revelação do Senhor (cap 1) foi repartida
a cada uma das Sete Igrejas. Como Cabeça da Igreja nosso Senhor
examina Seus Candeeiros, que são as Sete Igrejas. Essa figura vem do
Antigo Testamento, pois nos é dito que Arão “queimará sobre ele (altar de
ouro) o incenso das especiarias; cada manhã, quando colocar em ordem as
lâmpadas, o queimará. Também quando acender as lâmpadas à tardinha, o
queimará” (Ex 30.7,8); “Ordenarás aos filhos de Israel que te tragam
azeite puro das oliveiras, batido, para o candeeiro, para manter uma
lâmpada acesa continuamente. Na Tenda da Revelação, fora do véu que
está diante do Testemunho, Arão e seus filhos a conservarão em ordem,
desde a tarde até pela manhã, perante o Senhor” (Ex 27.20,21); “Sobre o
candeeiro de ouro puro conservará em ordem as lâmpadas perante o
Senhor continuamente” (Lv 24.4). Arão e seus filhos tinham a
responsabilidade de examinar o suprimento de azeite no Candeeiro de
Ouro cada tarde e manhã. O candeeiro representa a igreja, e o Senhor
Jesus como nosso grande Sumo Sacerdote também examina Sua igreja.
Nosso texto diz que Ele “anda no meio dos Sete Candeeiros” indicando
que Seu descanso foi perturbado. Se tudo continuasse sempre na ordem
Ele não teria que Se levantar. Se o azeite queimasse continuamente e não
houvesse necessidade de suprir o Candeeiro uma e outra vez, Arão não
teria nada a fazer. Mas lamentavelmente os Candeeiros do Senhor
precisam ser supridos pela tarde e pela manhã com o Azeite do Espírito
Santo. Quão frequentemente o povo de Deus anuncia que o Senhor Jesus
é a Luz do Mundo, mas esse testemunho vem da energia do pavio e não
do azeite. Quantos cristãos são como pavios que fumegam; as chamas se
foram e só restou a fumaça. Por isso o Senhor anda no meio dos Sete
Candeeiros de Ouro.

3. Diagnóstico da Igreja em Éfeso – Ap 2.2-3

Para o Senhor não é bastante que as obras estejam dentro das normas da
Palavra. Tudo pode estar nos devido lugar, mas sem vida. Um cemitério está
sempre limpo e repleto de flores, mas é um lugar próprio para os mortos. Um
hospital deve ser um exemplo de higiene e limpeza, mas é também um lugar
apropriado para os doentes. A igreja em Éfeso possuía muitas coisas
positivas, mas não passou no teste do Senhor.

a. O Senhor Conhece Tudo – Ap 2.2a

O Senhor tinha pleno conhecimento de tudo o que se passava no


meio do Seu povo. O verbo “conhecer” vem do grego “roidá” e significa
“ver”. Geralmente o verbo “ver” no Apocalipse vem da palavra grega
“roidá”. O Senhor não conhece apenas o exterior, a aparência; Ele
conhece a realidade interior, a motivação e o alvo final. Segundo o
grande erudito da língua grega, W. E. Vine, as diferenças entre os verbos
“guinosko” e “roidá” são as seguintes: “Guinosko sugere
freqüentemente o começo ou o progresso no conhecimento, enquanto
que roída sugere a plenitude do conhecimento. Assim em João 8.55:
‘vós não O tendes conhecido’ (guinosko), isto é, começado a conhecer,
‘mas eu O conheço’ (roidá), isto é, conheço-O perfeitamente. Roidá
expressa o fato de que o objeto penetrou dentro da esfera de percepção
do conhecedor. Desse modo, em Mateus 7.23: ‘nunca vos conheci’
(guinosko) indica que ‘eu nunca estive numa ligação de aprovação
convosco’, enquanto que em Mateus 25.12 ‘não vos conheço’ (roidá)
indica que ‘vocês permanecem sem relação comigo’ (Dicionário
Expositivo de Palavras Bíblicas, pg 346)”.

b. Obras, Trabalho e Perseverança – Ap 2.2,3

Aqui o Senhor diz que conhece as obras, o trabalho e a perseverança da


igreja em Éfeso. Robert Govett disse que uma ordem notável é observada nos
pontos de elogio, pois eles formam três grupos de três:

a) (i) Conheço as tuas obras, (ii) o teu trabalho, e (iii) a tua paciência (v 2a)
b) (i) e que não podes suportar os maus; (ii) e provaste os que se dizem
apóstolos e não são; (iii) e os achaste mentirosos (v 2b)
c) (i) e que tens perseverança; (ii) por amor do meu nome sofreste; (iii) e não
desfaleceste (v 3).
Obras, trabalho e paciência são coisas boas, mas não são as melhores.
Quando a igreja estava numa condição de normalidade, Paulo escreveu sete
cartas. Aos Tessalonicenses ele falou sobre:

* a obra da fé
* o trabalho do amor
* a perseverança da esperança (1Tess 1.3)

Depois explicou o significado de cada uma delas:

* Vos convertestes dos ídolos a Deus


* Para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro
* E aguardar do céu a Seu Filho Jesus (1.9)
A obra da fé é deixar os ídolos e levar outros à mesma experiência; o
trabalho do amor é servir o Deus vivo e verdadeiro; e a perseverança da
esperança é aguardar do céu a Seu Filho Jesus. As atividades e realizações
nunca podem substituir o caráter, a conduta e a vida no Santo dos Santos.

c. Má Conduta Repreendida – Ap 2.2a

Eles também “não podiam suportar os maus” (2.2), isto é, havia


disciplina na igreja. Os irmãos que não andavam da maneira digna do
Evangelho eram disciplinados e qualquer manifestação carnal e mundana era
levada a sério. Eles não eram como os coríntios que se acomodaram àquela
situação terrível do homem que estava adulterando com a madrasta (1Co 5), e
foram severamente repreendidos pelo apóstolo Paulo para que aplicassem a
disciplina necessária.

d. Discernimento Espiritual – Ap 2.2b

Outra coisa elogiada pelo Senhor é que em Éfeso eles “puseram à


prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos”
(2.2). Eles agiram em conformidade com a advertência dada em Atos
20.28-30. Eles foram cuidadosos na identificação dos verdadeiros
apóstolos. É interessante a menção desse fato aqui, pois João escreveu o
Apocalipse por volta do ano 95 d.C. e nessa ocasião só restava ele dos
Doze Apóstolos do Senhor Jesus. Ora, nesse caso não havia necessidade
de se identificar os falsos apóstolos, porque só havia um: João. Mas a
verdade é que o Espírito Santo designou outros como apóstolos além
dos Doze. Barnabé e Saulo foram separados para a obra pelo Espírito
Santo (At.13.1). Alguns dizem que Paulo tomou o lugar de Matias que
havia sido escolhido para ocupar o lugar de Judas (At 1.21-26). Alguns
entendem que sua escolha não foi aceita pelo Senhor porque eles
lançaram sortes para escolher. Se isso fosse verdade, como o Espírito
Santo poderia ter inspirado estas palavras: “Então Pedro, pondo-se em
pé com os onze” (At 2.14)? Aqui Matias foi contado com os Doze: Pedro
e os onze. Os apóstolos foram dados para edificação da igreja (Ef 4.11) e
o Novo Testamento menciona os nomes de outros apóstolos: “Saudai a
Andrônico e Júnias, meus parentes e meus companheiros de prisão, os
quais são bem conceituados entre os apóstolos, e que estavam em Cristo
antes de mim” (Rm 16.7). Como não é o nosso propósito tratar desses
pontos em nosso estudo, aconselho o leitor a se informar melhor lendo o
livro “A Vida Normal da Igreja Cristã” (Watchman Nee).

e. Sofrimento e Perseverança – Ap 2.3

O Senhor viu também que a igreja em Éfeso trabalhava com ardor e


dedicação. Eles tinham “perseverança, e por amor do meu nome sofreste e
não desfaleceste” (2.3). Com perseverança indesviável buscavam conduzir os
perdidos a Cristo e estavam prontos a sofrer perseguição por amor do Seu
nome. E mesmo em face de tais dificuldades eles não desanimaram. O
Senhor não tinha o que reclamar deles no tocante à doutrina e às obras. Eles
eram firmes na verdade e determinados na separação do mal, mas tudo isso
ainda não podia encobrir o problema. A questão era a mancha da praga, como
na lepra, que lentamente se espalhava sobre uma igreja quase perfeita. Foi
isso que levou nosso Senhor a mudar Suas palavras. O louvor dado era
merecido, mas Ele viu algo que precisava de repreensão.

4. Abandono do Primeiro Amor – Ap 2.4

O ensino, o trabalho, a perseverança e o zelo da igreja em Éfeso eram


inculpáveis, mas o seu amor esfriava e o resultado era produzir apenas sons
como “o metal que soa ou como o címbalo que retine” (1Co 13.1). O termo
“primeiro” em grego é “proten” e não se refere apenas à primazia na questão
de tempo, mas principalmente de natureza. A palavra “melhor” usada para o
vestido do Pródigo em Lucas 15 também é “proten”. Não era o “primeiro”
vestido, mas o “melhor” vestido. O mesmo acontece com a obrigação do
cristão em buscar o reino de Deus em “primeiro” lugar (Mt 6.33). Não se trata
apenas de colocar as coisas de Deus em primeiro lugar no sentido de realizar
coisas, porque isso a igreja em Éfeso fez. Um filho de Deus pode dedicar sua
vida na realização de obras para o Senhor e mesmo assim cometer o erro da
igreja em Éfeso. Nosso Senhor busca não apenas quantidade, mas
principalmente qualidade. Os filhos de Aarão, Nadabe e Abiú, queimaram
incenso ao Senhor, mas eles mesmos foram queimados (Lv 10.1,2). O que
aconteceu? Eles usaram “fogo estranho” que o Senhor não havia pedido. Nas
palavras do profeta Samuel “o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o
atender do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de
adivinhação e a obstinação é como a iniqüidade da idolatria” (1Sm 15.22,23).
Só poderemos conservar o primeiro amor através da obra do Espírito Santo
em nós; se cooperarmos com Ele e obedecermos a Sua direção, o fogo do
Calvário arderá continuamente em nossas vidas e o Senhor será entronizado
primeiro na nossa vida individual e coletivamente na igreja.

5. Remoção do Candeeiro – Ap 2.5

Nosso Senhor nunca abandona os Seus antes de lhes conceder todas as


oportunidades possíveis. Por isso Ele convida o Seu povo do fim do primeiro
século, representado pela igreja em Éfeso, para se lembrar: “Lembra-te, pois,
donde caíste, e arrepende-te e pratica as primeiras obras; e, se não,
brevemente virei a ti e removerei o teu candeeiro, se não te arrependeres”
(2.5). O Senhor Jesus diz que a igreja em Éfeso “caiu” e isso deixa claro que
ela antes ocupou um lugar elevado. Se lembrarmos das palavras de Paulo em
Atos 20.27 e do conteúdo da Carta aos Éfesios, chegaremos à causa dessa
queda. Eles receberam a revelação de Deus em plenitude, pois Paulo lhes
anunciou todo o conselho de Deus. Salomão disse que “a soberba precede a
destruição, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv 16.18). Até mesmo
um rei do nível de Ezequias foi atingido por esse mal (Is 39; 2Cron
32.24,25). Aos olhos humanos tudo parece estar bem, mas para Aquele que
tem os olhos como chama de fogo uma doença ameaçadora é diagnosticada.

Como já vimos a igreja em Éfeso representa a condição espiritual de


toda a igreja no fim do primeiro século, mas a remoção do seu candeeiro se
aplicava apenas à igreja local em Éfeso. Mas a igreja como um todo,
experimentando tal situação simbolizada pela igreja em Éfeso, não poderia
ser um testemunho vivo do Senhor Jesus. O candeeiro, símbolo da igreja,
estava queimando o pavio porque o óleo do Espírito estava se esgotando.
Havia muita atividade, mas tudo feito na força natural. Por essa razão, o
Senhor que anda no meio dos Seus Candeeiros, precisa aplicar a disciplina.
É verdade que a punição não envolve uma destruição eterna, mas apenas o
poder para um testemunho eficaz. Foi isso que nosso Senhor deu a entender
quando disse: “E removerei do seu lugar o seu candeeiro” (Ap 2.5).
Watchman Nee disse que “é extraordinário, porque a história relata que por
mais de mil anos não tem havido igreja em Éfeso. O candeeiro foi
removido; mesmo a aparência exterior foi removida. Hoje em dia há igrejas
em Corinto, em Roma e assim por diante, mas nenhuma em Éfeso. Porque
ela não se arrependeu, o candeeiro foi removido” (A Ortodoxia da Igreja,
pg 19). O mesmo aconteceu com o Templo em Jerusalém. No início ele foi
chamado de “casa do meu Pai” (Lc 2.49), mas no final do Seu ministério o
Senhor Jesus disse: “Eis aí, abandonada vos é a vossa casa” (Mt 23.38). O
Morador celestial foi rejeitado e a casa ficou vazia. No ano 70 d.C. o
Templo foi totalmente destruído.
Um cristão individual ou mesmo uma igreja inteira, por causa da
infidelidade e uma mente mundana pode perder o poder de falar pelo seu
Senhor. Palavras podem ser pronunciadas, mas não têm qualquer peso
espiritual; a influência poderosa do Espírito não as acompanha. E caso a
situação continue, diante do Tribunal de Cristo a terrível surpresa cairá sobre
eles: as obras de madeira, feno e palha serão queimadas e eles mesmos serão
salvos “como que pelo fogo”. Desse modo nosso Senhor detectou os
primeiros sintomas de declínio na igreja: a diminuição do amor. Mas mesmo
diante de tal condição deplorável do Seu povo, o Senhor manifestou a
profunda ternura do Seu amor. Primeiro Ele declarou Seu elogio pelas coisas
que eram positivas; depois Ele condenou e no final retornou ao louvor. Nosso
Senhor repreende sim, mas Ele não passa por cima das nossas faltas por
causa das nossas virtudes.

6. Rejeição do Clericalismo – Ap 2.6

“Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu
também odeio” – Ap 2.6

A última coisa que o Senhor elogiou na igreja em Éfeso foi a posição


deles com respeito às “obras dos nicolaítas”, as quais Ele próprio odiava.
Na história da igreja nada é encontrado a respeito de tal seita e por isso
alguns oferecem algumas interpretações. Mas a despeito de quem tenham
sido em Éfeso, o significado deles é bem maior do que possamos imaginar,
principalmente quando consideramos a abordagem profética das Sete
Igrejas. O nome Nicolaítas é, sem dúvida, simbólico, como também o nome
Jezabel, Sodoma e Egito em outras partes do Apocalipse. O termo
Nicolaítas é formado das duas palavras gregas: nikau (dominar) e laos
(povo). Os Nicolaítas eram, portanto, os “dominadores do povo”, conforme
a tradução literal das duas palavras gregas. Na igreja em Éfeso que como
tal representa a condição da igreja no fim do primeiro século, já havia um
esforço para se estabelecer uma hierarquia, uma casta sacerdotal que seria
distinguida dos demais crentes.

Em suas palavras de despedida aos presbíteros da igreja em Éfeso


Paulo antecipou a chegada dos Nicolaítas quando disse: “Pois eu sei que,
depois da minha partida, lobos vorazes entrarão no vosso meio e não
pouparão o rebanho, e que dentre vós mesmos se levantarão homens,
falando coisas perversas para atrair os discípulos após si” (At 20.29,30).
Provavelmente estes homens são aqueles que não foram aceitos pelos
efésios, os quais se diziam apóstolos e não eram. Tudo indica que o mal já
estava se espalhando por outras igrejas, pois o apóstolo Pedro também
advertiu os presbíteros aos quais escrevia para que apascentassem “o
rebanho de Deus que está entre vós, não por força, mas espontaneamente
segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;
nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de
exemplo ao rebanho” (1Pd 5.2,3). João escreveu sobre Diótrefes que amava
ter a primazia e expulsava da igreja todos os que não se submetiam a ele
(3Jo 9,10). Mas este erro já havia sido predito pelo próprio Senhor: “Sabeis
que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem
autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre
vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre
vós quiser ser o primeiro, será vosso servo; assim como o Filho do Homem
não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate
de muitos” (Mt 20.25-27).

O termo “Nicolaítas refere-se a um grupo de pessoas que se auto-


avaliam muito acima dos crentes comuns. O Senhor está acima, os crentes
comuns estão abaixo. Os Nicolaítas estão abaixo do Senhor, contudo acima
dos crentes comuns. O Senhor odeia o comportamento dos Nicolaítas. A
conduta de elevar-se sobre e acima dos crentes comuns como uma classe
mediadora é o que o Senhor detesta; é algo para ser odiado. Mas naquela
época havia somente o comportamento; este ainda não se havia tornado um
ensinamento” (W. Nee, Ortodoxia da Igreja, pg 19). Na igreja todos os
salvos são reis e sacerdotes (Ap 1.6; 5.10; 1Pd 2.9). Não existe um grupo
especial escolhido para servir a Deus, porque todos são chamados. No
Antigo Testamento havia os sacerdotes e levitas diferenciados do povo, mas
isso foi devido ao pecado do bezerro de ouro (Ex 25-29). A tribo de Levi
foi fiel ao Senhor e por essa razão foi escolhida para servi-Lo. Mas o
propósito original de Deus era que todo o povo fosse um “reino sacerdotal”
(Ex 19.6). É verdade que existem diferentes posições de serviço no Corpo
de Cristo, mas todos são membros do mesmo Corpo e recebem sua função
da Cabeça, que é Cristo. Não existe para um cristão algo como “trabalho
secular”, porque devemos fazer tudo para o Senhor. Os serviços mais
simples, mesmo na vida diária, como lavar roupa, cozinhar, dirigir um
carro, limpar a casa, tudo pode e deve ser feito na dependência do Espírito
de Deus. Está escrito a respeito de José que tudo quanto ele fazia
prosperava, porque o Senhor era com ele.

7. Promessa ao Vencedor – Ap 2.7

“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor dar-lhe-ei
a comer da Árvore da Vida, que está no Paraíso de Deus” (2.7).
a. Quem São os Vencedores? – Ap 2.7a

Um servo do servo, a quem dedico o meu maior respeito e admiração,


escreveu o seguinte sobre os vencedores: “O simples significado desse termo
é ‘conquistar’, ‘ganhar a vitória’, seja num processo (Rm 3.4), na guerra (Ap
6.2), em batalhas morais (Rm 12.21) ou no conflito espiritual (1Jo 2.13,14).
O substantivo é sempre traduzido por vitória; em Romanos 3.4 é traduzido
por ‘prevalecer’, em Apocalipse 6.2 por ‘conquistar e conquista’, ‘vitorioso’
em 15.2; nos outros lugares é sempre ‘vencer’. O conceito não muda: uma
disputa que termina na vitória. O sentido da palavra era tão fixo que nos
tempos primitivos ela veio a ser o nome próprio da deusa da Vitória (Nike), a
quem os generais sacrificavam depois de uma campanha vitoriosa”.

“O conceito é parte da tremenda realidade daquele longo conflito entre


Deus e Satanás, no qual todos os seres inteligentes tomam parte, de um lado
ou de outro, e onde as coisas materiais são empregadas por uma parte ou
outra. Esse último fato inclui a realidade de que os membros do corpo do
homem são ‘armas’ usados para promover a vitória da justiça ou do pecado
(Rm 6.13). Por isso elas devem ser subjugadas pelo guerreiro cristão, a fim de
que ele não seja vencido na guerra (1Co 9.24-27)”.

“Mas nem todos os crentes são vencedores. Isso envolve a falsa posição
de que nenhum crente pode se tornar um apóstata. Ela se esquiva e anula as
solenes advertências e apelos urgentes do Espírito endereçados aos crentes e,
privando o crente desses avisos, os deixam perigosamente expostos aos
perigos que revelam. Na casa do Sumo Sacerdote Pedro foi vencido pelo
temor do homem. Ele foi o último? Ananias e Safira foram vencidos pelo
amor ao dinheiro e orgulho da reputação. Foram eles os últimos? Demas
abandonou Paulo sendo vencido pelo amor a essa era presente. Foi ele o
último? Na igreja em Corinto alguns foram vencidos pelas cobiças carnais.
Foram eles os últimos? Pedro entrou de novo na batalha e lutou até o fim.
Ananias e sua esposa foram cortados em sua falha e alguns dos crentes em
Corinto também. Não sabemos se Demas foi restaurado no final”.

“Se todos os cristãos são vencedores, como será possível no fim dessa
era que “o amor de muitos (da maioria) esfriará” (Mt 24.12)? Os vencedores
irão receber coroas, mas se todos vencem como podem ser avisados da
possibilidade de perder sua coroa” (Ap 3.11)?

“Observe ainda mais que as Sete Cartas são endereçadas a cada igreja
como um todo, através da mediação do anjo de cada uma delas. Mas depois
existe outro aspecto; quer dizer, os membros de cada igreja são endereçados
individualmente: ‘alguns de vós serão lançados na prisão e tereis tribulação’
(2.10); ‘guerrearei contra eles’ (2.16); ‘e darei a cada um de vós segundo as
suas obras’ (2.23); ‘tantos quanto eu amo, eu repreendo e disciplino’ (3.19)”.

“Em contraste com esse aspecto corporativo e a essas declarações gerais,


o apelo para estar atento é claramente pessoal: ‘aquele que tem ouvidos,
ouça’. As promessas aos vencedores também são feitas na mesma forma
pessoal: ‘Aquele que vencer eu darei’.”
“O Vencedor é, portanto, separado do grupo inteiro que forma a igreja.
Isso é muito claro na igreja em Sardes: ‘Mas tens uns poucos nomes em
Sardes que não macularam suas vestes; e estes andarão comigo de branco,
pois são dignos. O que vencer será assim (como minha recompensa de que
ele de fato andou de branco na terra) vestido de branco’.”

“O contraste segue a forma da declaração do Senhor em Mateus: ‘o


amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até o fim, este será salvo’
(24.12). Assim também disse Paulo: ‘Estas coisas lhes aconteceram
tipicamente, e foram escritas para nosso aviso; assim, aquele que pensa estar
de pé, preste atenção para não cair’ (1Co 10.11,12). Ora, aquele que cai
diante do inimigo não está vencendo. É seguro aceitar humildemente a
exortação e perigoso descartas a advertência” (G. H. Lang).

b) A Árvore da Vida – Ap 2.7b

No jardim do Édem havia três tipos de árvores: a Árvore da Vida,


alimento para o espírito; a Árvore da Ciência do Bem e do Mal, alimento para
a alma; e as demais árvores do jardim, alimento para o corpo. Adão e Eva
tinham permissão para comer do fruto da Árvore da Vida e das demais
árvores, mas não da Árvore da Ciência do Bem e do Mal. Isso quer dizer, que
“a intenção original de Deus para o homem é que ele comesse o fruto da
Árvore da Vida. Agora Deus diz que podemos ir diretamente a Ele e agir de
acordo com Sua intenção original. A questão não é o que a Árvore da Vida e
sim se você está disposto a seguir a intenção inicial de Deus (que é) comer o
fruto da Árvore da Vida no jardim de Deus. Apenas os Vencedores podem
comer. Todo aquele que retorna à intenção e exigência original de Deus é um
Vencedor” (W. Nee, Ortodoxia da Igreja, pg 21,22). Quando chegamos ao
penúltimo capítulo do Apocalipse (21) encontramos um grupo de pessoas,
chamadas de “nações e reis da terra” (vs 24,26), e as “folhas da árvore” da
Vida será para saúde deles (Ap 22.2). Ora, está claro que esses não fazem
parte dos Vencedores mencionados no capítulo 2.7. Quem são eles? A
explicação virá no tempo oportuno, quando alcançarmos a última parte do
nosso estudo.

c) A Chamada aos Vencedores – Ap 2.7


As palavras “quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz ás igrejas. Ao
vencedor” (2.7) são muito importantes para o aspecto profético que estamos
examinando. Vimos como as Sete Igrejas são divididas em três e quatro; nas
três primeiras (Éfeso, Esmirna e Pérgamo - 2.7,11,17) a chamada para ouvir o
que o Espírito diz às igrejas vem primeiro e em seguida a promessa ao
Vencedor. A ordem é invertida a partir da quarta igreja e continua até a
última: Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia (2.26,29; 3.5,6; 3.11,13;
3.21,22). Visto que as igrejas representam sete períodos distintos da sua
história, temos uma indicação de que até o ano 600 d.C. toda a igreja pudesse
ouvir a chamada do Espírito.

Demos anteriormente as datas referentes ao período que cada igreja


representa e vimos que Éfeso termina no primeiro século, Esmirna avança até
o final do terceiro século e Pérgamo chega ao ano 600 (datas aproximadas).
Porque a ordem foi invertida com o surgimento de Tiatira? Sua representação
profética é a Igreja Católica Romana. Esse foi o período mais longo da
história da igreja cobrindo aproximadamente mil anos (600-1517). Foi nessa
ocasião que o Senhor levantou Lutero. Isso quer dizer que durante o período
das três primeiras igrejas, havia uma esperança que toda a igreja ouvisse o
que o Espírito dizia às igrejas, mas a partir da igreja Católica essa esperança
desapareceu. O Senhor sabia que o desvio estabelecido naquele tempo seria
de proporções extremamente desastrosas. Diante disso podemos compreender
porque a chamada aos Vencedores passou a vir primeiro e só depois o convite
para ouvir o que o Espírito diz às igrejas. Infelizmente nem todos os cristãos
estarão dispostos a retornar ao propósito original de Deus.

Para o Senhor Jesus ser entronizado na igreja não é suficiente termos


obras, trabalho e firmeza; elas devem ser impulsionadas pela fé, amor e
esperança. Disciplina e correção precisam ser aplicadas quando a conduta não
é digna, e o discernimento é necessário para identificar os falsos apóstolos e
obreiros. A disposição para sofrer pelo nome do Senhor sem desanimar é
fundamental. O primeiro amor, ou, melhor amor, deve ser conservado através
do fogo do Calvário que arde em nossos corações. Quando houver
consciência de queda é preciso identificar onde ela se deu e voltar a praticar
as primeiras obras. Se isso não acontecer podemos perder o direito de
testemunhar pelo Senhor, conforme nos mostra a remoção do Candeeiro de
Ouro. As obras dos Nicolaítas devem ser odiadas; a separação dos filhos de
Deus em clérigos e leigos deve ser rejeitada. E finalmente uma atenção
contínua para ouvir o que o Espírito diz às igrejas. Assim nosso Senhor será
entronizado na Igreja.
Capítulo 2
A IGREJA EM ESMIRNA
Apocalipse 2.8 -11

Significado do Nome:
“Mirra”

Período:
100 a 313

Mensagem Profética:
Restauração Através da Perseguição

Elogio e Advertência:
“Tu és rico”
“Sê fiel até a morte”

A carta à igreja em Esmirna descreve a condição espiritual dos cristãos


naquela localidade e profeticamente representa a condição da igreja toda nos
séculos segundo e terceiro. A igreja em Éfeso nos mostrou o enfraquecimento
do seu amor pelo Senhor; Esmirna vai nos mostrar a disciplina amorosa do
Senhor visando restaurar esse amor perdido. O nome Esmirna é muito
sugestivo quando aplicado ao segundo período da história da igreja, pois ela
representa os cristãos sob a terrível perseguição de Roma. A igreja havia se
enfraquecido (Éfeso=Relaxamento) e naquele momento Satanás tentou
devorá-la. O Livro dos Mártires descreve de forma vívida e chocante o
martírio de muitos santos do Senhor nessa ocasião. Policarpo, que foi um
bispo da igreja em Esmirna foi convidado educadamente a negar Jesus de
Nazaré, ao que ele respondeu: “Não posso negá-Lo. Eu O tenho servido por
oitenta e seis anos e em todos esses anos Ele nunca me tratou mal; como
poderia eu negá-Lo por amor ao meu corpo”. Então ele foi conduzido à
fogueira ardente e queimado.
1. Esmirna: A Igreja Sofredora

O nome “Esmirna” vem da raiz hebraica que significa “amargor” em seu


significado principal. A mirra era um ungüento usado para ungir os mortos
(Jo 19.39). Quando nosso amor pelo Senhor diminui, o mundo que nos atrai
deve se tornar amargo para nós. Foi por isso que os filhos de Deus sofreram
violentas perseguições de Roma. Os “dez dias” no sentido literal podem se
referir ao período mais ardente da perseguição. Mas na interpretação
profética pode ser uma referência às dez grandes perseguições que
começaram com as crueldades de Nero no fim dos dias apostólicos. Por esta
razão o Senhor se dirige ao Seu povo como “o Primeiro e o Último, que foi
morto e reviveu” (Ap 2.8). Isso era um conforto para os crentes em Esmirna
que viviam ameaçados de morte cada dia. Quando o Senhor “tira para fora
todas as ovelhas que lhe pertencem, ele vai adiante delas” (Jo 10.3). Ele
mesmo já provou todo tipo de sofrimento e dor e por isso sabe como socorrer
os Seus.

2. Os Falsos Judeus – Ap 2.9


O Senhor conhecia a tribulação do Seu povo e a sua pobreza, embora
aos Seus olhos eles fossem ricos (2.9). Nessa época quase todos os
cristãos foram espoliados dos seus bens e passaram por grandes
necessidades. Junto com essa declaração nosso Senhor mencionou os que
se diziam judeus e não eram. Existem duas ou mais linhas de
interpretação para o termo “judeu”. Um autor entende que eles eram
“judeus reais segundo a carne, os quais desde o princípio estiveram do
lado dos inimigos da igreja” (Pember). Outro escritor que respeitamos
disse que “os judeus aqui não se refere aos judeus no mundo, mas aos
judeus na igreja” (W. Nee). Ambos apresentam fortes argumentos para
sustentar seus pontos de vista. Watchman Nee diz que o que caracteriza
um judeu são quatro coisas: “(a) o templo; (b) a lei; (c) os sacerdotes; (d)
as promessas. O que eles possuem é um templo material, regulamentos de
letras, sacerdotes mediadores e gozo nesta terra. Os judeus aqui citados
pelo Senhor refere-se aos judeus na igreja, porque eles até mesmo
introduziram a sinagoga” (Ortodoxia da Igreja, pág 26,31).
Pember disse que “os judeus eram judeus verdadeiros segundo a
carne, os quais nos tempos primitivos estavam sempre do lado dos
inimigos da Igreja. E é digno de nota que no registro da morte de
Policarpo em Esmirna, certos judeus são mencionados como tendo
providenciado de forma ativa a lenha para o seu martírio”. Ele usa um
argumento muito forte para sustentar seu ponto de vista: “Pode ter sido
uma das provas peculiares para os crentes daqueles dias verem os filhos
de Abraão sempre alinhados com os pagãos contra eles. Satanás pode ter
importunado a muitos com a questão: ‘Há possibilidade de vocês estarem
certos? O próprio povo escolhido (Judeus) faz oposição a vocês; eles que
receberam o encargo dos oráculos de Deus. Todavia o Senhor aqui indica
que aqueles que foram o Seu povo não o são mais, e se tornaram uma
sinagoga de Satanás”. Mas na aplicação profética “os que se dizem judeus
e não são representam a multidão de falsos mestres que nesta época
entraram na igreja. Muitos dos chamados ‘Pais’ estavam entre eles, os
quais se esforçaram, sob o falso pretexto de autoridade do Antigo
Testamento, para introduzir o clericalismo babilônico. O plano deles era
exaltar a importância das formas exteriores, depois afirmar que apenas os
sacerdotes iniciados poderiam administrá-los corretamente, doutrina esta
que os pagãos entenderiam muito bem. Desse modo, o Batismo e a Ceia
do Senhor foram convenientemente modificados; como resultado foram
feitos os fundamentos do falso cristianismo, embora ambos (batismo e
ceia) sejam raramente mencionados no Novo Testamento”. Vemos assim
que o ponto de vista dos dois irmãos mencionados acaba sendo o mesmo.
Havia judeus reais relacionados com a igreja local em Esmirna, os quais
representavam um tipo de obreiros que haveriam de penetrar no meio dos
irmãos.

3. A Coroa da Vida – Ap 2.10

“Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” – Ap 2.10

Diante da prova terrível da perseguição implacável dos inimigos da


igreja, nosso Senhor adverte Seu povo para ser fiel até à morte, para que
pudessem receber a coroa da vida. Tais palavras indicavam a possibilidade de
morte, pois quando Satanás descobre que a prisão não é suficiente para
bloquear os crentes em Cristo, ele vai mais além e decide matar. Todavia o
máximo que o inimigo pode fazer é matar o corpo; daí ele não pode passar.
Para os cristãos de Esmirna e de toda a igreja da época representada por ela, a
promessa foi “a coroa da vida”. Tiago também mencionou esta coroa que
seria dada ao cristão que passasse vitoriosamente pela provação (1.12).

Era esse tipo de provação que acontecia em Esmirna. Não era uma
questão relacionada com a vida, e sim com a coroa da vida. A vida é recebida
por meio da fé; a coroa é concedida aos que são fiéis, os quais irão reinar com
Cristo durante o Milênio. No Novo Testamento a única pessoa que recebeu a
promessa de receber uma coroa em vida foi Paulo. Os demais cristãos só
ficarão sabendo diante do Tribunal de Cristo. Existem cinco tipos de coroas:
* Incorruptível - 1Co 9.24,25
* Da Alegria - 1Tess 2.19
* Da Glória - 1Pd 5.4
* Da Justiça - 2Tm 4.7,8
* Da Vida - Tg 1.12; Ap 2.10.

4. O Dano da Segunda Morte – Ap 2.11

“O Vencedor de modo nenhum sofrerá o dano da segunda morte” – Ap 2.11b

Estas palavras têm confundido muitos irmãos porque a interpretação


popular diz que sofrer o dano da Segunda morte é ser condenado no Lago de
Fogo e não ser vencedor é perder a salvação. A questão da segurança da
salvação é fundamental para entendermos o sentido dessas palavras. Se
crermos que alguém que nasceu de novo e se tornou membro do Corpo de
Cristo pode perder essa posição, então esse versículo está ensinando
exatamente isso. Mas tudo muda se entendermos que alguém que nasceu de
novo não pode perder esta posição. Um filho não deixa de ser filho por pior
que ele se torne neste mundo; um simples exame de sangue provará sua
ligação com a família. Ora, se isso é real no tocante aos laços da família
adâmica, quanto mais a nossa ligação espiritual com Aquele que é a Cabeça
da Igreja, o Senhor Jesus Cristo. O Corpo de Cristo é uma realidade e não dá
para imaginar alguém ocupando um lugar nesse Corpo como um dos seus
membros e depois ser retirado e substituído por outro. E se não houver uma
substituição o Corpo de Cristo ficará mutilado pela falta dele. Isso é tão
estranho que se torna desnecessário comentar.
a. Cristãos: Carnais e Espirituais
Os filhos de Deus precisam observar com atenção que a Palavra de Deus
ensina que existem dois tipos de cristãos: os carnais e os espirituais. Paulo
falou sobre isso nos primeiros versículos da Carta aos Coríntios (3.1-3). As
contendas, brigas e dissensões entre eles provavam que eles eram crianças em
Cristo. Depois ele declara que os cristãos podem edificar com madeira, feno e
palha (3.12), ou com ouro, prata e pedras preciosas (3.12). Três tipos de
material não suportam a prova do fogo, mas os outros três sim. A madeira
indica a natureza do homem e o ouro fala da natureza de Deus; o feno
representa a obra do homem e a prata a obra redentora de Deus em Cristo; e a
palha simboliza a glória do homem e as pedras preciosas a imagem de Cristo
reproduzida em nós. No Tribunal de Cristo a conduta e as obras de todos os
cristãos serão julgadas pelo fogo (1Co 3.13). Se não forem destruídas pelo
fogo, significa que o material é ouro, prata e pedras preciosas, e esse receberá
a recompensa do Senhor. Se forem queimadas o tal sofrerá perda, mas será
salvo ainda que pelo fogo (3.15). Nesse caso só restará o fundamento, que,
segundo Paulo, é o próprio Senhor Jesus (3.11), ou a nossa fé Nele.

b. Vida x Coroa da Vida / Morte x Dano da Segunda Morte

O irmão Watchman Nee disse que se colocarmos a frase “o vencedor


não sofrerá de modo nenhum o dano da segunda da morte” (2.10) ao inverso,
ficaria assim: o que for vencido sofrerá o dano da segunda morte. Ele disse
mais: “Entretanto, antes de mencionar ‘o dano da Segunda morte’ a Palavra
de Deus especifica primeiro o que é vitória ou derrota. A vitória aqui é ser
fiel até à morte e a derrota será naturalmente uma indisposição de ser mártir
pelo Senhor. Aquele que ama sua própria vida e não ousa morrer pelo
Senhor, sofrerá o dano da segunda morte”. Mas, o que é a segunda morte? No
final do Apocalipse temos a resposta: é o lago de fogo (20.14,15). “Depois de
ressuscitados os mortos (sem Cristo) serão lançados no lago de fogo, que é a
perdição eterna. Os crentes, portanto, não terão parte nisso (Jo 10.28). O dano
da segunda morte não é o mesmo que a segunda morte. Assim como a vida
está em contraste com a segunda morte, assim a coroa da vida está em
contraste com o dano da segunda morte. Visto que existe uma diferença entre
a vida e a coroa da vida, deve haver uma diferença também entre a segunda
morte e o dano da segunda morte. Além do mais, saber que a coroa da vida
pertence ao (período do) Reino, nos leva a ver que o dano da segunda morte
muito naturalmente cai dentro desse período também. E, por isso, o dano da
segunda morte não pode significar a perdição eterna; significa simplesmente
que um crente (mesmo) depois de ressuscitado pode sofrer durante a era do
reino, embora isso não seja seguramente perdição eterna. Uma tipologia do
Antigo Testamento pode nos ajudar a ilustrar este ponto. O povo em Sodoma
morreu queimado - isso pode significar a segunda morte. A esposa de Ló foi
transformada numa coluna de sal - isso pode sugerir o dano da segunda
morte” (Ortodoxia da Igreja, pg 28,29).

c. Em Perigo do Fogo do Inferno

“Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará
sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a
julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno
de fogo” (Mt 5.22).

Uma tradução mais aproximada do original grego seria: “Eu, porém, vos
digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito ao julgamento;
e quem disser ao seu irmão Ráka, estará sujeito ao Sinédrio; e quem lhe chamar
de More, estará em perigo do fogo da Gueena” (Mt 5.22). Observe que o
Senhor Jesus mencionou três situações: (i) Irar contra o irmão; (ii) Chamar o
irmão de Ráka (tolo, bobo, vazio); e (iii) Chama-lo de Moré (rebelde). Ao dizer
tais palavras o Senhor Jesus estava dando o verdadeiro significado do
mandamento “não matarás” (Mt 5.21). Se irarmos contra um irmão, estaremos
sujeitos a julgamento; se considerarmos um irmão, alguém que foi comprado a
preço de sangue, como um vazio, tolo, idiota, estaremos sujeitos ao Sinédrio.
Mas não é o Sinédrio de Israel, composto de setenta anciãos e sim o Sinédrio
celestial composto de setenta anjos. Se chegarmos ao ponto de julgar um irmão
como rebelde, isto é, como alguém que não nasceu de novo, estaremos em
perigo do fogo do inferno.

Esse parece ter sido o erro cometido por Moisés, quando o Senhor Deus
lhe ordenou que falasse com a Rocha para dar de beber ao Seu povo. Suas
palavras foram: “Moisés e Arão reuniram a assembléia diante da rocha, e
Moisés disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes! Porventura tiraremos água desta rocha
para vós?” (Nm 20.10). Observe que Moisés chamou os redimidos do Senhor
de rebeldes. Por esta causa ele foi impedido de entrar na Terra Prometida:
“Porquanto não me crestes a mim, para me santificardes diante dos filhos de
Israel, por isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes dei” (v.12).
O fato de Moisés não ter entrado na terra de Canaã pode ser uma figura do
crente que sofrerá o dano da Segunda morte. Não é ser lançado no Lago de
Fogo, mas sim sofrer o seu dano. Podemos não ser atingidos por uma granada,
mas se estivermos perto de onde ela cai, um estilhaço poderá nos alcançar.
Nesse caso não sofremos o dano da granada, mas os seus efeitos.
Conclusão

As perseguições programadas ao longo dos duzentos anos de Esmirna


conduziram os crentes de volta ao seu lugar correto dentro do propósito de
Deus. Esmirna foi advertida, mas não repreendida. Ela foi elogiada e
recomendada pela Cabeça da Igreja. Alguns escritores disseram que a
restauração dos cristãos foi algo admirável, pois no final do terceiro século
em cada dois cidadãos de Roma um era crente no Senhor Jesus. Uma frase
famosa sobre esse tempo diz assim: “O sangue dos cristãos era a sementeira
do Evangelho”. Quanto mais cristãos se matava, tanto mais perdidos se
convertiam. As perseguições cessaram porque Satanás viu que se a matança
continuasse em breve todos em Roma se tornariam cristãos. “Satanás não é
um guerreiro sem preparo, que tem apenas uma flecha em sua aljava. A força
falhou contra a igreja, mas o engano teria sucesso? O mundo tem tentado em
vão aniquilar a igreja; mas, e se ela pudesse ser enganada e abandonasse a
linha de separação e não pudesse mais testemunhar pelo Senhor? E se ela
aceitasse as ofertas do mundo e unisse sua porção com a do mundo? Não
poderia a igreja sonhar que ‘ganhou’ o mundo para Cristo?” (W. Lincoln).
Aqui entra a igreja em Pérgamo simbolizando a união da igreja com o estado,
realizada por Constantino, o Imperador na época.
Capítulo 3
A IGREJA EM PÉRGAMO
Apocalipse 2.12-17

Significado do Nome:
“Eis o Casamento”

Período:
313 a 590

Mensagem Profética:
A União da Igreja e o Estado

Repreensão:
A Doutrina de Balaão e dos Nicolaítas

A carta à igreja em Pérgamo descreve a condição dos cristãos naquela


localidade e profeticamente representa a condição de toda a igreja no período
de 313 a 590 d.C. Autores de grande peso espiritual dão diferentes
significados para “Pérgamo”. Eles dizem que a palavra no grego pode indicar
dois sentidos: pode vir de “purgos” que significa “torre” ou de “per-gamos”
que traduzido é “eis o casamento”. Alguns entendem que o primeiro
significado (torre) aponta para o início das construções tipo templo, que
começaram a aparecer nesse período de Constantino. Até essa ocasião os
cristãos se reuniam nas casas, nas cavernas, nas matas, mas nunca em
templos edificados especialmente para esse fim. Eles seriam facilmente
localizados e destruídos. Tudo indica que Constantino não experimentou
realmente o novo nascimento. A tendência então seria imitar os sistemas
pagãos com seus templos, sacerdotes e rituais. Particularmente creio que o
outro significado é mais apropriado para esse estágio profético da igreja:
Pérgamo, o casamento da igreja com o estado. A própria apresentação do
Senhor no início da carta indica que uma união havia se realizado, a qual
precisava ser desfeita.

1. A Espada de Dois Gumes – Ap 2.12

“Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a
espada afiada de dois gumes” – Ap 2.12

Pérgamo (per+gamos) significa “Eis o Casamento”. Aqui o Senhor Se


apresenta como “Aquele que tem a espada aguda de dois gumes” e esta foi a
porção da visão do Senhor (cap 1) entregue à igreja em Pérgamo. A
responsabilidade principal dos cristãos desse período era manter uma posição
de separação. Durante os três séculos representados pela igreja em Pérgamo,
isso seria cobrado dos crentes. A espada do homem havia sido
desembainhada para perseguir e matar, mas agora é a Espada do Senhor que
será usada para separar a igreja do sistema de Satanás que é o mundo. “O
historiador Gibbon disse que se matassem todos os cristãos na cidade de
Roma, a cidade tornar-se-ia desabitada” (W. Nee). Durante o período de
Esmirna a espada feriu os filhos de Deus, mas agora o inimigo estava
mudando suas táticas. Não seria mais a perseguição e sim a mistura: Roma,
através do seu imperador Constantino, aceitou o cristianismo como sua
religião oficial. O resultado da igreja unida com o mundo é o que
conhecemos como “cristandade”. Esse termo não é de forma alguma
sinônimo da palavra igreja. Na cristandade existem milhares de pessoas que
nunca foram regeneradas, mas a igreja só inclui aqueles que nasceram de
cima, nasceram de Deus, foram regenerados pela semente incorruptível da
Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo.

Dizem que a mãe de Constantino sonhou com uma cruz e nela estavam
escritas as palavras: “Com este sinal vencerás”. Entendendo que era uma
mensagem do céu para ele aceitar o cristianismo, assim fez. Tornou o
cristianismo a religião do imperador e daí em diante passou a encorajar seus
súditos a serem batizados, os quais, por sua obediência, recebiam duas mudas
de roupa e algumas moedas de prata. Nessa ocasião foi iniciado o terceiro
estágio da história da igreja: o casamento com o mundo. O mundo é o sistema
de Satanás, pois o mundo jaz no maligno; a igreja está no mundo, mas não é do
mundo; ela está no mundo, mas o mundo não deve estar nela. Se isso acontecer
ela afunda. Para os cristãos de mente mundana, tal evento pode ter parecido
algo estupendo, como se a igreja tivesse conquistado o mundo.
Lamentavelmente nada disso aconteceu e o declínio se agravou ainda mais,
pois agora o adversário estava do lado de dentro.

2. O Trono de Satanás – Ap 2.13

“Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás” – Ap 2.13a

“Pérgamo havia sido antes o centro do Paganismo e ainda conservava


muito desse prestígio. A cidade era mais dedicada ao culto dos deuses do que
qualquer outra na Ásia, pois ela havia sido o quartel-general do rei-sacerdote
Caldeu. Nas palavras do Sr. Blakesley, ‘ela era uma espécie de união de uma
cidade catedral pagã, uma cidade universitária, e uma residência real
embelezada, durante uma sucessão de anos, pelos reis que tinham paixão pelo
luxo e possuíam amplos meios de realizá-lo’. Seus habitantes foram
responsabilizados pela manutenção de algum culto religioso importante em
favor da Ásia” (Pember). Que essa situação ainda prevalecia é provado pelas
palavras do Senhor.

Numa tal situação testemunhar pelo Senhor seria algo muito difícil, mas
mesmo assim Ele mostra que lá havia uma pessoa muito especial de nome
Antipas: “Mas reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, mesmo nos dias
de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás
habita” (2.13). Para entender o tipo de testemunho esse irmão deu só
precisamos traduzir o seu nome, que é bem peculiar: Anti (contra) + Pas
(tudo). Esse servo do Senhor era então, contra tudo, porque o erro estava bem
generalizado. As circunstâncias eram terríveis, mas ele não se intimidou.
Certamente havia outros fiéis como ele em Pérgamo.

3. A Doutrina de Balaão – Ap 2.14

“Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois tens aí os que sustentam a


doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos
filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a
prostituição” – Ap 2.14

Depois de louvar nosso Senhor repreende, e por isso passa a mencionar


as coisas que desaprovava. Primeiro Ele menciona “os que seguem a doutrina
de Balaão” (2.14). O que era esse ensino? Ele ensinava Balaque, rei de
Moabe, a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, induzindo-os a (a) comer
das coisas sacrificadas a ídolos e (b) a se prostituírem. Isso está registrado em
Números 22 a 25. Balaão desejava os prêmios do rei gentio e por isso,
procurou ajuda-lo, reduzindo Israel ao mesmo nível dos moabitas. Se eles
fossem atraídos às abominações idólatras, como poderiam contar com a
proteção de Jeová? O plano maléfico foi posto em prática imediatamente e os
festivais pagãos e idólatras iniciaram. Junto com o culto idólatra havia as
seduções físicas, convites à imoralidade e todo tipo de prática condenada.
Tudo isso foi feito não muito longe do acampamento de Israel, e logo a
curiosidade deles foi despertada. Provavelmente o mesmo tipo de sentimento
que brotou neles e os levou a comer, beber e dançar diante do bezerro de
ouro, brotara de novo. Os espíritos imundos que dominavam o acampamento
dos moabitas aguardavam apenas a hora propícia para empurrá-los precipício
abaixo. Assim lemos: “Ora, Israel demorava-se em Sitim, e o povo começou
a prostituir-se com as filhas de Moabe, pois elas convidaram o povo aos
sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses.
Porquanto Israel se juntou a Baal-Peor, a ira do Senhor acendeu-se contra
ele” (Nm 25.1-3).

Tal parece ter sido a condição da igreja em Pérgamo. O tempo da


perseguição feroz, das crueldades de Domiciano, Trajano e Adriano haviam
passado. Satanás viu seu plano sangrento ir por água abaixo e então decide usar
outra tática: a mistura. A igreja foi tentada a aceitar o poder mundano no lugar
do poder de Deus. Os filhos do maligno (Mt 13.38) foram semeados no meio
dos filhos do reino durante os tempos difíceis, quando não há muito tempo para
se suspeitar da hipocrisia. Numa situação dessas os Nicolaítas encontrariam um
terreno fértil para o seu crescimento.
4) A Doutrina dos Nicolaítas – Ap 2.15

“Igualmente também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina


dos nicolaítas” – Ap 2.15

Aqui precisamos lembrar que no período de Éfeso, no fim do primeiro


século, “a obra dos Nicolaítas” era odiada (2.6) pelo Senhor e pela igreja.
Mas ali era apenas obra. Todavia, no período de Pérgamo as obras se
tornaram uma doutrina ensinada e difundida. A separação dos crentes em
clérigos e leigos havia se estabelecido. Apenas alguns tinham uma chamada
especial para servir a Deus; os outros cuidavam apenas dos trabalhos
seculares. A igreja era como uma comunidade terrena, governada por homens
de poder intelectual, de nível social e financeiro. Nosso Senhor ensinou que
os que servem na igreja devem agir de forma oposta à dos governadores
gentios, isto é, quem quer ser grande, seja o servo de todos (Mt 20.25-28).

5. Chamada ao Arrependimento – Ap 2.16

“Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles


pelejarei com a espada da minha boca” – Ap 2.16

O Senhor sempre concede oportunidade aos Seus para se


arrependerem. Ele é tardio em irar-Se, mas se não houver mudança, a
Espada de dois gumes entrará em ação. Ele virá contra os Seus e
batalhará contra os que sustentam tais ensinos e práticas. No final do
Apocalipse há outra referência a essa Espada afiada que sai da boca do
nosso Senhor (19.15), só que nesse tempo a batalha será desfechada
inteiramente contra o Anticristo, o falso profeta e os exércitos da besta.
Em Pérgamo a Espada de dois gumes era para separar os cristãos do
mundo. Como a Espada sai da boca do Senhor Jesus, isso pode
significar a Espada do Espírito (Ef 6.17). É a Palavra viva que sai da
boca do Senhor, pois Suas palavras são “espírito e vida” (Jo 6.63). Essa
Espada “penetra até a divisão da alma e do espírito, das juntas e
medulas e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.
E não há criatura encoberta diante Dele; antes todas as coisas estão nuas
e patentes aos olhos Daquele a quem temos de prestar contas” (Hb
4.12,13). A separação do mundo sempre acontece do lado de dentro e
depois se manifesta do lado de fora.

6. O Maná Escondido – Ap 2.17a

“Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido” – Ap 2.17a

O Maná parece ser outra referência aos tempos em que Balaão vivia.
Sem dúvida ele não se refere ao maná que constituía o alimento diário dos
israelitas no deserto e que podia estragar se não fosse imediatamente
consumido. Esse maná escondido deve indicar outra coisa. Pode ser uma
referencia ao maná incorruptível que foi colocado dentro do pote e
depositado na Arca da Aliança, conforme o registro de Números: “Disse
também Moisés a Arão: Toma um vaso, mete nele um gômer cheio de maná e
põe-no diante do Senhor, a fim de que seja guardado para as vossas gerações.
Como o Senhor tinha ordenado a Moisés, assim Arão o pôs diante do
testemunho, para ser guardado” (Ex 16.33,34).

Paulo se referiu a esse Vaso de forma mais clara: “Mas depois do


segundo véu estava a tenda que se chama o Santo dos Santos, que tinha o
incensário de ouro, e a arca do pacto, toda coberta de ouro em redor, na qual
estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha
brotado, e as tábuas do pacto” (Hb 9.3,4). Certamente esse punhado de Maná
era incorruptível e foi fechado dentro da Arca e nunca mais visto. “Ele
representa, talvez, o sustento do corpo ressurreto, guardado e reservado para
aqueles que, durante a peregrinação aqui se abstiveram das coisas
sacrificadas aos ídolos e recusaram mudar os caminhos de Deus com o fim de
agradar o mundo e obter suas coisas boas. Se recusarmos as iguarias que o
deus desse século usa para nos tentar, com certeza haveremos de comer do
alimento dos anjos e tomaremos nosso lugar na ceia de casamento do
Cordeiro. Nosso grande Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquizedeque
nos receberá quando retornarmos da batalha contra os reis deste mundo e nos
abençoará trazendo pão e vinho, os alimentos reais que Ele reserva para
aqueles que O amam” (G. H. Pember).

7. A Pedra Branca e o Novo Nome – Ap 2.17b


“Bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um
nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe” – Ap 2.17b

A Segunda promessa do Senhor é “uma pedra branca, e na pedra um novo


nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (2.17b).
Essa palavra geralmente é usada para uma brancura brilhante e reluzente, assim
como os raios do sol. Provavelmente a pedra é um diamante. No Antigo
Testamento o Sumo Sacerdote podia obter revelação do Senhor através de duas
pedras chamadas de Urim e Tumim, ou, Luzes e Perfeições (Ex 28.30).
“Provavelmente o nome do Senhor era escrito nelas. Receber uma pedra branca
com um novo nome escrito não seria uma pedra cintilante com o próprio nome
do Senhor, como aquelas pedras que o Sumo Sacerdote usava no peitoril?
Assim como o Sumo Sacerdote podia conhecer a vontade de Deus por meio
delas, o possuidor dessa Pedra Branca o capacitará a conhecer a vontade de
Deus em todos os momentos e permitindo a ele uma comunhão contínua com o
Senhor” (W. Nee).

Conclusão

Pérgamo nos mostra que para o Senhor Jesus ser entronizado na igreja é
preciso que os cristãos conservem sua lealdade a Cristo. Se formos amigos do
mundo cometemos adultério espiritual, diz Tiago (4.4). Precisamos ser contra
tudo (Anti+pás) que seja contra Cristo, como a doutrina de Balaão e a dos
Nicolaítas: idolatria e prostituição (Balaão) e separação dos crentes em castas
(Nicolaítas). Em outras palavras, os cristãos precisam ser como Antipas,
testemunha fiel do Senhor. Assim o Senhor Jesus será entronizado na igreja.
Capítulo 4
A IGREJA EM TIATIRA
Apocalipse 2.18-29

Significado do Nome:
“Incenso Contínuo”

Período:
590 a 1517

Mensagem Profética:
Sistema Católico Romano

Repreensão:
A Profetiza Jezabel e
as Coisas Profundas de Satanás

A carta à igreja em Tiatira descreve a condição espiritual dos cristãos


naquela localidade e profeticamente representa toda a igreja durante os anos
de 590 a 1517. Já vimos que as Sete Igrejas são divididas em três e quatro. As
três primeiras passaram e ficaram as quatro últimas que permanecerão até a
volta do Senhor. Quando o Senhor Jesus voltar Ele encontrará na terra os
quatro últimos estágios da história da igreja vivendo paralelamente. Três é o
número da Trindade e quatro o número da criação; isso indica que a condição
exterior da igreja será de declínio e decadência. Já vimos também que a partir
de Tiatira que representa o Catolicismo Romano, o Espírito Santo inverteu a
ordem no final da carta: primeiro a chamada aos Vencedores e depois o
convite para se ouvir o que o Espírito diz às igrejas. A desolação introduzida
por Tiatira foi tão séria que o Espírito Santo indicou não haver mais
possibilidade de restauração para toda a igreja. O sistema romano (Tiatira), o
protestantismo (Sardes), o testemunho da unidade (Filadélfia) e os que se
ensoberbeceram pela revelação recebida (Laodicéia) permanecerão até a volta
do Senhor Jesus.
1. Significado do Nome - 2.18a

Na carta à igreja em Éfeso mencionamos o significado do termo “anjo”,


e por isso não vamos falar sobre ele. Quanto ao nome Tiatira, os estudiosos
dizem que vem das duas palavras “Thuon” e “apeirés” que traduzido é:
“Aquela que nunca se cansa de apresentar ofertas sacrificiais” (Pember).
Watchman Nee Tiatira entende que significa “sacrifício de perfume” e outros
entendem que seja “incenso contínuo”. A interpretação de Pember parece se
encaixar melhor com o Sistema Romano. A cerimônia principal da igreja
católica é a missa, cujo significado é a transformação da hóstia no verdadeiro
corpo e sangue do Senhor Jesus. A Palavra de Deus declara que o sacrifício
de Cristo na cruz foi de uma vez para sempre; nunca mais ele se repete. “Está
consumado” foram as Suas últimas palavras antes de entregar o espírito ao
Pai. Todavia no catolicismo nosso Senhor é sacrificado uma e outra vez na
missa. Esse parece ser o sentido da palavra “Tiatira”.

2. A Descrição do Senhor Jesus - 2.18b

“Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os
pés semelhantes ao bronze polido” – Ap 2.18b

Três declarações são feitas para identificar o Remetente da Carta:

(a) o Filho de Deus; (b) que tem os olhos como chama de fogo; (c) e os pés
semelhante a latão reluzente.

a) O Filho de Deus. Sua apresentação como “o Filho de Deus” indica uma


repreensão ao desprezo que a igreja católica lhe dedica, colocando Maria em
primeiro lugar. Ela não é “filha de Deus” como Jesus é; ela não pode ser “a
mãe de Deus” porque quando Jesus nasceu ela já existia nesse mundo como
uma mulher comum. Ela nasceu de pais pecadores, e, como tal, nasceu em
iniqüidade e foi concebida em pecado por sua mãe (Sl 51.5). Jesus, sim, não
teve a participação de um pai humano; José, marido de Maria, não participou
como homem da fecundação de Maria. O nascimento de Jesus foi um milagre
operado no ventre de Maria. Ele, Jesus, é o Único na raça humana que foi
chamado de “a semente da mulher” (Gn 3.15), porque não houve a semente
do homem na Sua geração. É impressionante como as pessoas gostam de ser
enganadas, pois a própria Maria declarou: “A minha alma engrandece ao
Senhor e o meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador” (Lc 1.46,47).
Observe que ela disse “Deus meu Salvador!” Pergunto: Salvador de que?
Quando o anjo apareceu a José e lhe explicou o que estava acontecendo com
Maria, ele acrescentou: “Ela dará à luz um filho, a quem chamarás Jesus;
porque Ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Na Trindade
Divina não existe mãe! E são apenas três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo! Ora, se Maria é a “mãe de Deus” então já não temos três e sim quatro
pessoas na Trindade! Isso é o absurdo dos absurdos! Quem tem ouvidos
ouça!

b) A segunda parte da identificação do Senhor Jesus tem a ver com a real


condição espiritual de Tiatira. Ele Se apresenta como Aquele “que tem os
olhos como chama de fogo”. Ele pode penetrar os lugares mais secretos do
coração e localizar todas “as profundezas de Satanás” (2.24). Nada escapa ao
Seu conhecimento, como indica a palavra “conheço” (roidá) no versículo
seguinte. Toda a realidade do mal em sua essência está diante Dele, não por
observação e sim por Sua capacidade de trazer à luz todas as trevas.

c) A terceira parte da Sua identificação indica que Ele está preparado para
julgar todas as práticas erradas em Tiatira. O bronze (ou, latão) na Bíblia
representa julgamento. O Altar dos Holocaustos era feito de bronze e na
tipologia ele representa o Calvário onde nossos pecados foram julgados de
uma vez para sempre. A Pia do Lavatório, onde os sacerdotes lavavam as
mãos e os pés antes de entrar no Lugar Santo também era feita de bronze. Ela
representa a obra do Espírito Santo através da Palavra escrita, cujo fim é nos
santificar, purificar, tirar nossas máculas e rugas e nos apresentar como igreja
gloriosa ao Noivo amado (Ef 5.25-27). Os olhos do Senhor são como
labareda de fogo e o que eles vêem, Seus pés julgam.

3. O Elogio do Senhor – Ap 2.19

“Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua
perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras”
– Ap 2.19

“A Igreja Católica Romana, de acordo com a nossa observação, não tem


nada de bom, mas Deus diz: ‘Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o
teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do
que as primeiras’. O Senhor reconhece que há realidade na Igreja Católica
Romana. Madame Guyon, (John) Tauler e Fenelon estavam todos na Igreja
Católica Romana e podemos mencionar ainda muitos dos melhores nomes.
Na verdade há muitos na Igreja Católica Romana que conhecem o Senhor.
Nunca pense que não há nenhum salvo na Igreja Católica Romana. O Senhor
ainda tem Seu próprio povo ali; disso devemos estar bem certos diante do
Senhor” (W. Nee, Ortodoxia da Igreja, pg 48).

Desde o seu aparecimento até agora já se passaram por volta de mil e


quatrocentos anos e é nosso dever crer nas palavras do nosso Senhor. Ele viu
obras, amor, fé, serviço e perseverança dentro do Catolicismo Romano e que
as últimas obras eram mais numerosas do que as primeiras. Erramos muito
por julgar as pessoas e as obras pelas aparências. Eu viajava num ônibus e
perto de mim havia uma senhora conversando com outro passageiro do lado
dela. Ela dizia ser diretora de uma escola, mas eu, no meu julgamento carnal,
observei as roupas e a sandália de dedo que ela usava. Ela era muito simples
em sua maneira de vestir. No meu íntimo eu disse que ela não estava dizendo
a verdade.

Mas o Senhor em sua infinita sabedoria preparou-me uma lição


esmagadora. A dita senhora sentou-se do meu lado e puxou conversa. Ela me
disse que estava indo para um acampamento para ouvir um homem de Deus
(um padre). Mas ela só podia ir porque os organizadores do encontro estavam
pagando a passagem dela. Em troca ela teria que ir para a cozinha preparar as
refeições para os participantes. Nesse momento eu quase confirmei as minhas
dúvidas quanto à sinceridade dela ao dizer que era diretora de uma escola. Foi
nesse momento que ela me disse que pertencia a uma organização dentro da
Igreja Católica (não lembro o nome) que tivera sua origem em outro país.
Disse-me ainda que os que fazem parte dela devem doar todos os seus bens
para os mais pobres e daí em diante não podem possuir nenhum bem terreno.
Naquele momento o Senhor me tocou e me falou ao coração; uma vergonha
profunda tomou conta de mim. Sim, eu poderia criticá-la pelos inúmeros
erros doutrinários que ela sustentava, mas pela graça do Senhor pude ver o
coração, a dedicação e o amor daquela senhora pelo meu Salvador e dela
também.

Mas também é verdade que o Senhor falou de dois grupos distintos


dentro de Tiatira: Ele separou os filhos da adúltera Jezabel e o remanescente
que pertencia a Cristo. Existem uns poucos que são sinceros, mas carentes em
conhecimento espiritual no tocante aos enormes desvios espirituais praticados
em Tiatira. Podemos dizer então que as palavras do versículo dezenove são
dirigidas apenas a estes. Seu elogio é forte no tocante às abundantes obras, o
amor sacrificial, a fé real, o serviço incansável e a perseverança. E mais
ainda, todas estas virtudes ainda estavam aumentando. Entretanto, havia um
desequilíbrio no afeto deles e fraqueza na resistência do mal. O amor em
Tiatira crescia em Éfesios esfriava; mas com quanto ao discernimento para
identificar os falsos apóstolos, eles eram inferiores a Éfeso. Por esse motivo
uma falsa profetiza de nome Jezabel achou espaço para operar no meio deles.
4. Jezabel, a Falsa Profetiza – Ap 2.20

“Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si


mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus
servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos
ídolos” – Ap 2.20

Entre os muitos falsos obreiros em Tiatira o Senhor identifica uma


mulher em especial: Jezabel. Provavelmente tinha nível social, grande
influência, mas era idólatra, feiticeira e prostituta. Seu nome a identificava
com outra Jezabel no Antigo Testamento, a infame esposa de Acabe.
Voltemos um pouco à Jezabel dos tempos de Elias e assim poderemos
compreender melhor o que essa Jezabel em Tiatira estava fazendo.

a. Jezabel, Filha de Etbaal

Jezabel não tinha qualquer ligação com o povo de Israel, pois não era
uma filha de Abraão. Ela era uma princesa de Tiro, povo famoso por sua
idolatria, crueldade selvageria e intensa devoção a Baal e Astarote. Acabe, rei
de Israel, “filho de Onri, fez o que era mau aos olhos do Senhor; e como
fosse pouco andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, ainda tomou por
mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, e foi e serviu a Baal e o
adorou” (1Reis 16.30,31). “Seu pai, Etbaal, sacerdote de Astarote, assassinou
o monarca Feles que reinava e o sucedeu. Seu sobrinho, a quem Virgílio
chama de Siqueu, se tornou depois rei e sacerdote de Baal e foi o marido de
Dido. Ele foi assassinado por seu irmão Pigmalion, que subiu ao trono em seu
lugar, e com medo da viúva (Dido), fugiu para a África e fundou a cidade de
Cártago. Nascida de uma família marcada pelo fanatismo e o crime, Jezabel
deu provas suficientes de ser digna dos seus ancestrais, e encontrou na
condição do seu marido, Acabe, um campo muito favorável aos seus planos”
(Pember).

É de tremenda importância lembrar quem foi o primeiro rei da nação de


Israel, depois da divisão do reino. Jeroboão se afastou da lei do seu Deus e
estabeleceu bezerros de ouro em Dã e Betel (1Reis 12.25-30). Todos os reis
de Israel foram ruins e seguiram os passos de Jeroboão, como está escrito de
Acabe: “E como se não fosse pouco andar nos pecados de Jeroboão”. Quão
séria foi a atitude de Jeroboão ao tentar impedir que as dez tribos retornassem
a Jerusalém. O erro inicial se perpetuou e se agravou de tal forma que o reino
do norte foi completamente anulado diante de Deus. Mas como sempre
acontece em todos os casos de decadência espiritual, dentro das próprias
divisas de Israel servos fiéis de Jeová lamentavam por aquele estado de
coisas. Eles sabiam que estavam separados do Templo do Senhor, do Monte
Moriá, do lugar que o Senhor havia escolhido para colocar o Seu nome.
Ainda em tempo muitos deixaram seus lares no reino do norte e voltaram a
Jerusalém (veja 2 Crôn 11.13-17). Naquele tempo, até os piedosos que eram
o sal no meio da corrupção abandonaram aquele ambiente condenado. Uma
vez removido esse último impedimento, a inclinação para as práticas pagãs
ganharam força total e pouco a pouco as dez tribos se assemelharam aos seus
vizinhos pagãos.

Frequentemente os desvios menores são apenas a abertura do caminho


para desvios maiores. Os dois bezerros de ouro em Dã e Betel abriram o
caminho para a adoração de Jeová sob a forma de uma imagem e finalmente
o culto a outros deuses pagãos. Num tal contexto Satanás dá mais uma
estocada maligna usando a pessoa de Jezabel. Ela era sem dúvida jovem e
atraente e difundiu os deuses fenícios com dedicação e fanatismo. Sua
influência maligna foi tão grande que Acabe não somente “levantou um altar
a Baal na casa de Baal que ele edificara em Samaria”, mas “fez também um
Aserá” (1Reis 16.32,33). “Acabe fez também um ‘bosque’ (Aserá), que não é
uma plantação de árvores, mas um símbolo obsceno de Astarote. Por fim, o
culto deslumbrante e lascivo dos pagãos foi apreciado de tal forma, que logo
se tornou a religião nacional, ofuscando inteiramente a antiga fé. Por isso
Elias imaginou que fosse o único homem deixado em Israel que temia a
Jeová” (Pember).

Jezabel era realmente uma mulher poderosa, pois mesmo depois da


destruição dos profetas de Baal ela estendeu sua mão contra Elias e este teve
que fugir para salvar sua vida (1 Reis 19). Sua influência maligna continuou
mesmo durante os reinados de seus dois filhos, Jorão e Acazias (2Reis 8), e
alcançou até o reino do Sul, Judá, pois “Jeorão, filho de Josafá, rei de Judá,
tinha por mulher a filha de Acabe; e fez o que era mau aos olhos do Senhor”
(2Reis 8.16-18). Essa união contaminada permitiu a ela penetrar no seio do
reino de Judá. Atalia não desapontou sua mãe, pois nos dias do rei Joás está
registrado que “depois todo o povo entrou na casa de Baal e a derrubaram;
quebraram os seus altares e as suas imagens, e mataram Matã sacerdote de
Baal diante dos altares” (2Cron 23.12-17). Ela edificou esta casa a Baal e
seus filhos quebraram a Casa do Senhor. Atalia era tão má que chegou ao
ponto de matar toda a estirpe real da casa de Judá (2Cron 22.10). Nessa
ocasião Joás foi escondido por Jeosabeate durante seis anos. Quem era essa
mulher? “Assim Jeosabeate, filha do rei Jeorão, mulher do sacerdote Jeoiada
e irmã de Acazias, o escondeu de Atalia, de modo que ela não o matou”
(2Cron 22.11,12). Jeosabeate faz parte daquele grupo seleto dos servos
“ocultos” do Senhor (Sl 83.3 – “protegidos = ocultos”).

b. Jezabel de Tiatira – Ap 2.20-23

Depois dessa breve consideração sobre a Jezabel dos dias de Elias,


podemos retornar à Jezabel de Tiatira. Acusações graves e sérias são feitas
contra ela por parte Daquele que tem os olhos como chama de fogo. Ela se
dizia profetiza, mas não era, pois ensinava “os servos do Senhor a se
prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos” (Ap 2.20). Suas
seduções eram idênticas às de Balaão, encontradas na igreja em Pérgamo
(2.14). Os cristãos desse tempo viviam cercados de práticas pagãs, tais como
idolatria e imoralidade em grande escala, e isso nos ajuda a entender o que
Jezabel estava realizando no meio deles.

A união de Acabe com Jezabel já era prostituição, porque Deus não


reconhece o casamento do Seu povo com os não salvos. Prostituição é
confusão e no caso da igreja em Tiatira algo anormal estava acontecendo.
“Os deuses dos gentios foram introduzidos com os símbolos do cristianismo
pendurado neles. Alguns acham que pelo menos Maria é do próprio
cristianismo. Mas o fato é este: a Grécia tem uma deusa, a Índia tem uma
deusa, o Egito tem uma deusa, menos o cristianismo. Já que deve haver uma
deusa, eles produziram Maria. Na verdade não há deusa no cristianismo - a
origem do conceito de uma deusa são os gentios. Assim isto é idolatria além
de prostituição. Isto é Jezabel trazendo as coisas dos gentios para o Reino de
Israel” (Ortodoxia da Igreja, pg 50).

O Senhor concedeu tempo para que ela se arrependesse, mas tal não
aconteceu (Ap 2.21); por isso o julgamento seria aplicado. Jezabel havia
escolhido o leito da prostituição, mas agora o leito seria mudado em leito de
dores (2.22). Seus parceiros que adulteraram com ela sofreriam grande
tribulação e os seus filhos adúlteros seriam mortos (2.23). Isso deveria causar
grande temor nas igrejas, como aconteceu com a morte repentina de Ananias e
Safira. Os filhos de Deus não devem esquecer que o Senhor dá a cada um
segundo as suas obras. O pecado, na linguagem de Paulo, produz fraqueza,
doença e morte (sono; 1Co 11.30). Não se trata de perder a salvação, mas de
cometer o pecado para morte e perder o direito de continuar vivo nesta terra
testemunhando pelo Senhor.

5. Os Demais em Tiatira – Ap 2.24,25

A sentença foi pronunciada e logo seria executada. Agora o Senhor Se


dirige àqueles que são identificados como sendo “o restante” em Tiatira.
Esses eram os “vencedores” no meio de tanta desolação. Lembre-se que o
Senhor está Se dirigindo aos que vivem dentro do sistema católico romano.
Até ali Ele tem os que Lhe pertencem, assim como aconteceu com Elias. Eles
viviam no meio dos corruptos, mas não sabiam da real condição deles;
estavam enganados por seus sedutores e nada sabiam das chamadas
“profundezas de Satanás” e de seus planos sinistros. Por isso, em Seu
tratamento com eles, o Senhor é cheio de amor e compaixão e declara que
“outra carga vos não porei” (2.24). A advertência é dada para que retivessem
o que possuíam até a volta do Senhor (2.25).

6. Pérgamo e Tiatira

Uma comparação entre as duas igrejas poderá nos mostrar o


desenvolvimento da impiedade no meio dos cristãos. Pérgamo nos mostrou o
casamento com o mundo, mas em Tiatira já encontramos o resultado dessa
união ilícita: os filhos. “O corpo de cristãos nominais primeiro se ligou ao
Reino-Mundial Pagão, que estava sob a influência de Mistério-Babilônia;
depois permitiu que a Mãe das Abominações os prendesse e usasse para seus
próprios propósitos. Pois os iniciados, tendo começado a professar o
cristianismo, se formaram com tal habilidade que tiveram sucesso em
estabelecer o bispado de Roma como um dos seus próprios líderes. Isso
aconteceu no ano de 366-367 d.C. quando, depois de sua facção travar
conflito sangrento com a facção de Ursicinus, e de Ter numa ocasião
assaltado uma igreja (chamada então de Liberius e agora de Santa Maria
Maior) da qual arrastaram uns cento e cinqüenta cadáveres, Damasco se
achou na posse segura da cadeira episcopal e em seguida prosseguiu para
completar a união das comunidades cristã e pagã. No ano de 387 d.C. o
imperador lhe concedeu o título e o ofício de Pontífice Máximo (título este
ainda mantido pelo Papa), e providências foram tomadas para que a Igreja
Universal se submetesse à Sé de Roma, do mesmo modo que o mundo Pagão
se submetia ao Grande Mestre dos iniciados. E todos os que se recusassem
reconhecer Astarote sob seu novo nome de Virgem Maria e que não
negassem a Segunda vinda de Cristo em Sua carne glorificada, fossem
considerados heréticos”.

“No ano 381 d.C. o Segundo Concílio Geral se reuniu em


Constantinopla, e por seus decretos o Pontífice Máximo foi reconhecido
como Cabeça da Igreja universal, enquanto que o Bispo de Constantinopla foi
colocado em segundo lugar depois dele. A mistura assim se tornou um fato
consumado e antes do ano 400 d.C. ‘os sacerdotes tonsurados (círculo feito
no cabelo) de Isis juraram o celibato’ e foram recebidos como ministros de
Cristo. Exatamente como em Israel os profetas de Baal e Astarote tomaram o
lugar de Jeová, assim a falsa igreja, a nova Jezabel, introduziu os hierofantes
(sacerdotes) das mesmas divindades, sob nomes trocados, entre os seguidores
do Senhor Jesus. Assim todas as doutrinas do Paganismo começaram a ser
pregadas, com uma pequena mudança na nomenclatura, e foram declaradas
como sendo cristãs: regeneração batismal, justificação pelas obras, o
sacrifício da missa, extrema unção, orações aos mortos e muitas outras. O
místico Tau (letra hebraica) era proeminente por toda parte como o sinal da
cruz; a hóstia de Astarote substituiu o pão partido; o bispo conservou o
cajado torto do adivinho de Roma, mas o chamou de báculo; em sua cabeça
ele usava a mitra cabeça de peixe dos sacerdotes de Dagon (Nota: muitas
ilustrações curiosas dessa mitra podem ser encontradas entre as antiguidades
Assírias e Babilônicas no Museu Britânico. Ela não apresenta qualquer
semelhança com a assim chamada mitra do Sumo Sacerdote israelita, que era
um turbante de linho fino e seu nome vem do termo ‘enrolar’). Tudo era
Pagão, exceto os nomes. A ampla conspiração para converter o cristianismo
em Paganismo tinha prevalecido no que diz respeito à multidão de cristãos
professos”.

“A todos aqueles que não estavam conscientes desse mistério terrível e


ainda se apegavam à igreja visível, ignorando a mudança que havia se
operado, o Senhor diz ser conhecedor das suas obras, amor, fé e
perseverança. A pregação dos inovadores se dirigia principalmente a estes
pontos, visando desviar as mentes dos cristãos da doutrina e assim manter sua
influência sobre eles. Os sinceros agiam segundo essa pregação e o resultado
foi muitas obras maravilhosas de amor, trabalho e negação própria. Estas
obras não deixaram de ser observadas pelo Senhor: Sua graça permanecia
sobre os cristãos parcialmente iluminados que faziam tais coisas com um
coração puro; e Seu Espírito os ensinou, de modo que freqüentemente
identificavam o erro e o resistiam até à morte. Porque a Jezabel romana,
como a princesa fenícia Jezabel, logo começou a matar os profetas de Deus.
Estes podem ter tido discernimento suficiente para descobrir que Roma não
tinha participação alguma com Cristo e por isso a repudiaram. Mas eles eram
cegos, pois permitiram que a mulher ensinasse e seduzisse, viram-na como se
fosse a verdadeira Igreja e só lutaram contra erros particulares, que eles não
associaram com o sistema geral. Todavia, depois de algum tempo, alguns
começaram a ver o nome ‘Mistério Babilônia’ na testa da Prostituta”.

“As palavras ‘até que eu venha’ parecem indicar que esta apostasia não
vai desaparecer totalmente até que a Igreja tenha sido convocada para
encontrar seu Senhor. Realmente temos visto que o grande sistema
eclesiástico (catolicismo) será quebrado e destruído pelos Dez Reis (Ap
17.12-17), a fim de que eles possam dar todo o poder à Besta; e que ela
(Besta, Anticristo) não subirá das águas turbulentas (Abismo, mar) até que o
Filho Varão tenha sido conduzido seguramente ao Trono de Deus” (G. H.
Pember).

7. A Promessa ao Vencedor - Ap 2.26-29

“Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade
sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá, e as reduzirá a pedaços como
se fossem objetos de barro, assim como eu também recebi de meu Pai. Dar-lhe-
ei ainda a Estrela da Manhã” - Ap 2.26,27

a. Fidelidade Perseverante – Ap 2.26a

“Ao Vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras”. Conforme


vimos acima, havia um restante em Tiatira que permanecia fiel ao Senhor e
sem dúvida eles seriam tentados a abandonar esse caminho, devido à
influência forte e negativa dos seguidores de Jezabel. Alguns podiam até ter a
aparência de piedade, mas não seriam achados entre os Vencedores. Mas os
Vencedores precisavam guardar até ao fim as obras do Senhor.

b. Autoridade Sobre as Nações – Ap 2.27

“Eu lhe darei autoridade sobre as nações e com cetro de ferro as regerá”. O
Senhor também prometeu à Sua igreja autoridade sobre as nações. Hoje estamos
exercendo principalmente nosso papel de sacerdotes, intercedendo e instruindo o
povo de Deus e os perdidos. Mas o dia logo virá quando será manifestado o
nosso ofício como reis; os filhos de Deus serão reunidos dos quatro cantos da
terra e então, segundo a linguagem de Daniel “chegou o tempo em que os santos
possuíram o Reino” (7.22). Essa promessa relacionada com Tiatira é muitíssimo
clara, pois a Igreja Romana deseja governar hoje, mesmo que a Cabeça da Igreja
(Cristo) esteja ausente. Mas todo aquele que rejeitar suas seduções e estiver
disposto a ser considerado como nada neste mundo, receberá na vinda do Senhor,
em plenitude e bênção, aquilo que Roma hoje deseja ter.

A promessa do Senhor é tão grandiosa que alguns se inclinam a aceitar


que o Vencedor é o próprio Senhor Jesus. É verdade que Ele mesmo vai reger
as nações com vara de ferro (Salmo 2.9), mas aqui a promessa é aos
Vencedores na Igreja. Isso é muito claro. O privilégio é altíssimo e por isso
não podemos esquecer a recomendação de Paulo a Timóteo: “Fiel é esta
palavra: se morrermos com Ele, com Ele também viveremos; se
perseverarmos, com Ele também reinaremos” (2Tm 2.11). Aqui o viver e o
reinar são oferecidos sob duas condições: morrer com Ele e perseverar. Que o
Senhor nos ajude!

c. A Estrela da Manhã – Ap 2.28

“Dar-lhe-ei ainda a Estrela da Manhã”. Além da autoridade para


governar as nações nosso Senhor promete mais uma coisa: a Estrela da
Manhã. Muitos santos lêem a Bíblia sem a devida atenção e falham em
entender pontos importantes. É fundamental lembrar que essa estrela aparece
de madrugada e desaparece quando o sol desponta no horizonte. Quer dizer,
ela só é vista por aqueles que vigiam nas horas da noite, antes do sol surgir.
Quanto mais o amanhecer se aproxima, mais a Estrela da Manhã desaparece.
Ela vai diminuindo aos nossos olhos pouco a pouco, até desaparecer.

d. O Sol da Justiça e a Estrela da Manhã

O profeta Malaquias disse que o Senhor virá como “Sol da Justiça”


(4.2), e no Apocalipse está escrito que Jesus é “a resplandecente Estrela da
Manhã” (22.16). O Senhor Jesus disse que assim “como o relâmpago” sai do
oriente e se mostra até o ocidente, “assim será a vinda do Filho do homem”
(Mt 24.27). Disse também que Ele virá como “ladrão” (Mt 24.42-44; Ap 3.3).
O relâmpago é visto por todos do oriente ao ocidente; o ladrão vem às
escondidas e é visto apenas por poucos. Como conciliar as duas afirmações?

Sol da Justiça = Relâmpago – Todos vêem


Estrela da Manhã = Ladrão – Só os que vigiam
Essa aparente contradição descortina a necessidade da vigilância por
parte dos cristãos. Antes do Senhor se revelar (apokalipsis) ao mundo e
aparecer (epifanéia) visivelmente vindo sobre as nuvens como o Sol da
Justiça e como Relâmpago, Ele Se manifestará como Estrela da Manhã e
como Ladrão aos Seus filhos que vigiam nas horas da noite. Essa é a única
explicação satisfatória para as palavras do próprio Senhor Jesus quando disse:
“Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24.42).
Ora, se todos serão arrebatados, por que vigiar? Alguns tentam escapar dessa
questão dizendo que tais palavras foram dirigidas aos não salvos. Será? Por
que Ele disse “vosso” Senhor? Ele é Senhor dos não salvos? E o texto de
Lucas que diz: “Olhai por vós mesmos - para que aquele dia vos sobrevenha
de improviso como um laço - vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que
possais escapar” (21.34-36). Aqui nosso Senhor está Se dirigindo aos Seus
discípulos, como indicam as palavras “olhai por vós mesmos”. É preciso
vigiar e orar e estes são exercícios espirituais que não se aplicam aos que não
nasceram de novo.

e. O Julgamento da Casa de Deus

Não nos enganemos, queridos irmãos em Cristo: no arrebatamento nem


todos serão levados, mas apenas os que estiverem vigiando e orando em todo o
tempo, a fim de serem livrados daquele dia que há de vir como um laço sobre
todos os que habitam na terra (Lc 21.34-36; Ap 3.10). “Digo-vos, naquela noite
estarão dois numa cama; um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres
estarão juntas moendo; uma será tomada e a outra será deixada. Dois homens
estarão no campo; um será tomado e o outro será deixado” (Lc 17.34-36). O
julgamento deve começar pela Casa de Deus (1Pd 4.17) e o arrebatamento é o
primeiro a acontecer. Todos os que estiverem presos a este mundo e amando seus
prazeres, poderão ficar para trás. As primícias, a colheita e o rabisco são figuras
do arrebatamento. O trigo só deve ser colhido quando está maduro: “Mas assim
que o fruto amadurecer, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa” (Mc
4.26-29). O Justo Juiz há de julgar a maturidade de cada um pelo tempo de
conversão, conhecimento da verdade e o nível de compreensão espiritual.

Ninguém pode determinar quem será levado e quem será deixado. Para nos
manter na posição de humildade diante do Senhor, sempre é bom lembrar que “os
primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”. Oh! Que possamos
achar graça diante do Senhor para vigiar e orar em todo o tempo; que a glória do
Senhor possa ofuscar todo o brilho passageiro desse mundo. Quão significativas
são as palavras do ancião e apóstolo João: “E agora, filhinhos, permanecei Nele;
para que quando Ele se manifestar tenhamos confiança e não nos afastemos
envergonhados Dele em Sua vinda” (1Jo 2.28). Aqui o servo do Senhor ligou a
vinda do Senhor com uma condição: permanecer Nele. O termo permanecer
também significa “fazer morada, habitar, lar”. A Unção (Espírito Santo) nos
ensina todas as coisas; se obedecermos a Sua direção, então nossa morada, nosso
lar, será o Senhor Jesus e não teremos do que nos envergonhar Dele em Sua
vinda.

Conclusão.

Tiatira representa o quarto estágio da história da Igreja: a Igreja Católica


Romana. Nosso propósito é ver como o Senhor Jesus será entronizado na
igreja. Os pontos negativos que esse estágio da igreja nos ensina são: (1) A
tolerância da falsa profetiza Jezabel; (2) Seus ensinos: idolatria e prostituição;
(3) As coisas profundas de Satanás. Os pontos positivos são: (1) Obras, amor,
fé, serviço, perseverança; (2) Conservar o que tem até o Senhor voltar. Se
aceitarmos a direção da Unção que está em nós, seremos conduzidos e
trabalhados a fim de que o Senhor Jesus seja entronizado em nossa vida
individual e coletivamente na igreja.
Capítulo 5
A IGREJA EM SARDES
Apocalipse 3.1-6

Significado do Nome:
“Reforma”

Período:
1517 a 1827

Mensagem Profética:
Protestantismo - Lutero

Repreensão:
Obras imperfeitas diante de Deus

A igreja em Sardes representa a condição espiritual dos cristãos


naquela localidade e profeticamente representa toda a igreja no período
de 1517 a 1827. Sardes é o quinto estágio da história da igreja. “O nome
‘Sardes’ não é grego e por isso alguns o relacionam com uma raiz
hebraica cujo sentido seria ‘remanescente’ e seria uma referência aos
‘restantes em Tiatira’ mencionados na carta anterior. Mas tal derivação
não é correta, porque a palavra não é nem hebraica nem grega. Ela é um
nome Lídio e por isso devemos buscar sua interpretação na sua raiz e
nesse caso seria ‘novo, renovado’ (Words of the Risen Saviour, de Stier,
citado por Pember)”. Watchman Nee também entendeu que essa seria a
interpretação correta.

Em Sardes temos o surgimento da “reforma” conforme indica o


próprio nome. O sofrimento dos muitos em Tiatira não foi em vão, pois
os olhos de outros foram abertos até mesmo de nações. Estes viram não
apenas o Senhor Jesus, mas a baixeza da corrupção na qual estavam
presos. A Reforma Protestante foi realmente uma obra de Deus, mas
mesmo assim o elemento humano estava presente. Os santos ao invés de
se reunirem num círculo amoroso ao redor do Salvador, se dividiram em
grupos antagônicos. Rapidamente aqueles que haviam sido resgatados
do Sistema Romano caíram num estado de enfraquecimento espiritual e
poucos escaparam dessa condição. Foi então que homens como Wesley,
Whitefield e outros contemporâneos se levantaram, no poder do Espírito
de Deus, e foram usados para produzir sinais de retorno à vida.
1. Descrição do Senhor Jesus – Ap 3.1a

“Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os
sete Espíritos de Deus e as sete estrelas” – Ap 3.1a

Aos cristãos do período representado por Sardes o Senhor Se apresenta


como “Aquele que tem os Sete Espíritos de Deus e as Sete Estrelas”. Essas
palavras são de profundo significado e muito apropriadas para a condição
espiritual de Sardes. O problema da Reforma foi a falta de vitalidade e por isso
o Senhor Se apresenta como o possuidor dos Sete Espíritos, que é uma figura
da plenitude do Seu poder. Pode haver força intelectual e ativismo, mas quase
nada da energia Divina. Eles receberam vida ao nascer de novo, mas esta vida
não estava operando. Jesus disse que a carne para nada aproveita; o Espírito é
quem vivifica (Jo 6.63).

Aqui nosso Senhor diz que Ele “tem as Sete Estrelas”. Já vimos que as
Sete Estrelas são os Sete Anjos das Sete Igrejas. São anjos literais, pois
nenhum outro significado pode ser dado além daquele que o próprio Senhor
já deu. Mas o que o Senhor queria dizer com estas palavras? Elas “indicam
uma época crítica de um novo início, uma nova partida, semelhante àquela do
retorno dos Judeus do cativeiro da Babilônia para reconstruir o Templo”
(Pember). Que ligação poderia existir entre a Reforma (Sardes) e o retorno
dos judeus registrado no livro de Esdras? O livro de Daniel contém
informações importantíssimas sobre isso e é o que vamos ver em seguida.

Daniel começa com o reinado de Nabucodonozor que conquistou


Jerusalém no ano 606 a.C. e chega até o reinado de Ciro. Foi ele quem
permitiu que os Judeus retornassem a Jerusalém no ano 536 a.C. após o
período de setenta anos do cativeiro na Babilônia. Daniel foi para o cativeiro
com menos de vinte anos e viu seu povo retornar setenta anos depois. Ele
menciona alguns fatos tremendos dessa época, envolvendo os anjos de Deus
e os anjos de Satanás. O decreto de Deus sobre o rei Nabucodonozor foi
pronunciado por um personagem que Daniel chamou de “um vigia, um
santo” (Dn 4.13, 23). Sem dúvida tratava-se de um anjo de Deus. Sua oração
voltada para o restabelecimento do povo de Deus na terra (Dn 9) foi barrada
nos ares durante vinte e um dias, e o anjo que trazia a resposta declarou:
“Mas o Príncipe do Reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; e eis que
Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu o deixei ali
com os reis da Pérsia” (Dn 10.13). Sem dúvida alguma esse “Príncipe do
Reino da Pérsia” era um principado do Diabo, que se colocou entre o céu e a
terra tentando obstruir o propósito de Deus e quebrar o cumprimento das
profecias. Em seguida o mesmo anjo declara que iria tornar a “pelejar contra
o Príncipe dos Persas; e, saindo eu, eis que virá o Príncipe da Grécia”
(10.20). Aqui o anjo diz que após lutar contra o principado da Pérsia, que era
um anjo designado por Satanás para influenciar e governar aquele país, ele
sairá e então surgirá o Príncipe da Grécia. Finalmente o anjo enviado revela
que “no primeiro ano de Dario, o medo, levantei-me para animá-lo e
fortalece-lo” (Dn 11.1). Dario veio antes de Ciro e ambos foram reis da
Pérsia. Na verdade eles foram representados pelos braços e peito de prata da
estátua de Nabocodonozor (Dn 2). Dario era Medo e Ciro era Persa e o
segundo reino da estátua foram os Medos e Persas. Quando ele diz que veio
para fortalecer a Dario, o anjo não estaria dando a entender que a iniciativa de
guerrear contra a Babilônia de Nabucodonozor partiu dele? Foi esse anjo
quem fortaleceu Dario a iniciar a batalha, pois a vitória estava garantida.
Deus já havia determinado a ordem em que os reinos apareceriam. Depois o
anjo diz que a posição intermediária nos ares não seria mantida por muito
tempo, pois ele teria que sair e então viria o Príncipe do Reino da Grécia.
Esse era outro principado de Satanás para influenciar e dirigir o rei daquele
país em seu favor.

A obra da Reforma através de Lutero é comparada com a volta de Judá


do cativeiro na Babilônia. Babel significa “confusão” e foi exatamente isso o
que aconteceu com o surgimento do Sistema Romano. Durante mil anos a
igreja esteve como que num “cativeiro” espiritual. Segundo as palavras de
Daniel a situação na terra mudou porque algo nos ares foi mudado; Miguel
desalojou o principado de Satanás e ocupou o seu lugar. Na terra houve outra
mudança relacionada com o rei da Pérsia: Ciro permitiu o retorno do povo de
Judá a Jerusalém (Esd 1.1-3). Por isso, ao mencionar os anjos das igrejas no
contexto de Sardes o Senhor estaria indicando que algo semelhante aconteceu
na Reforma. Nos ares, onde Satanás domina com seus seguidores, algo
tremendo aconteceu e os efeitos foram manifestados na terra. O cativeiro
romano foi quebrado e a obra de restauração pode ser iniciada.

2. O Diagnóstico do Senhor – Ap 3.1b

“Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto” – Ap
3.1b
Ele tem pleno conhecimento das obras em Sardes, e Seus olhos como
chama de fogo identificaram algo muito sério: “Tens nome de que vives, e
estás morto”. Sair do Sistema Romano era uma experiência de viver
novamente, mas eis que a morte continuava reinando. Estas são palavras
duras sobre a Reforma. Lutero foi realmente usado por Deus, mas o que veio
depois não foi o ideal. Seu propósito era restaurar a igreja de Cristo, mas sua
obra não foi completa. Teve um começo, mas sem fim; não houve um
fechamento. Lutero restaurou a justificação pela fé e a Bíblia aberta a todos.
Em Tiatira a autoridade estava nas mãos de Jezabel, isto é, nas mãos da
igreja, mas agora o povo de Deus recebeu a iluminação do Espírito e da
Palavra. Mas a dependência do poder político penetrou no meio dos
restaurados e conseqüências mais sérias surgiram.

A obra de restauração não foi completa como nos mostra Filadélfia.


Com a Reforma surgiram as igrejas nacionais: Anglicana (Inglaterra),
Luterana (Alemanha). Agora todos os que nasciam no país eram batizados e
passavam a fazer parte da igreja nacional. Desse modo o erro católico foi
perpetuado. O descontentamento com essa prática trouxe à existência as
igrejas particulares: Presbiteriana, Batista, Metodista, Pentecostal etc. Cada
uma delas defendia uma verdade bíblica, uma experiência, ou um homem
usado por Deus. Ninguém se preocupou em saber como era a igreja no início
e nesse sentido não houve um retorno à posição original quando a igreja era
uma só em cada localidade. Podia haver muitos locais de reunião, mas todos
os salvos constituíam apenas uma igreja naquela cidade. Isso é mais do que
claro em Atos e nas Epístolas. A igreja só podia ser dividida por causa da
localidade, daí se mencionar “os santos em Corinto”. A soma de todos os
salvos era a igreja do Senhor naquela cidade. Seria essa uma das obras que
não eram íntegras diante do Senhor na igreja em Sardes?

É interessante observar que em apenas duas das sete igrejas não


encontramos adversários dentro ou fora: Sardes e Laodicéia. Satanás não se
preocupa com os cristãos que perderam a capacidade de testemunhar pelo
Senhor. Muitos filhos de Deus perderam sua condição de peregrinos e
passaram a ser contados com aqueles que “habitam sobre a terra”. Eles não
querem viver “assentados em lugares celestiais” (Ef 2.6), porque caíram da
sua posição celestial. Estes não constituem problema para o Diabo, pois se
tornaram como o sal que perdeu o sabor.

3. Confirma o Restante - Ap 3.2a

“Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer”. O Senhor Se


referia às pessoas ou ao ensino? Alguns acham que são as doutrinas que eles
haviam recebido. Por exemplo, o ensino sobre a volta do Senhor havia sido
posto de lado. Hoje muitos grupos evangélicos espiritualizam a vinda do
Senhor, a chegada do Anticristo, a guerra do Armagedom, o aprisionamento
do Diabo durante o Milênio e o próprio Milênio. Em outras palavras, a
presença literal do Senhor Jesus não era desejada. Ele não era mais
contemplado por eles e por isso não eram transformados de glória em glória
(2Co 3.18). A ausência de transformação e a falta de expectativa pela vinda
do Senhor só poderia resultar numa coisa: um apego a este mundo que os
levaria a se arraigar nesta terra e a perda de toda sensibilidade com as
realidades da era vindoura.
Mas com certeza é uma referência também a alguns dos discípulos do
Senhor em Sardes. Se a expressão anterior “tens nome de que vives e estás
morto” aponta para determinados cristãos em Sardes, então a mesma
expressão no versículo seguinte deve ter o mesmo significado. Acredito que
as duas coisas estão incluídas na mesma expressão.
4. A Advertência do Senhor – Ap 3.3
“Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te”
– Ap 3.3

Estas palavras deixam claro que o Senhor se referia aos ensinamentos


que Sardes havia recebido. Aos cristãos da Reforma nosso Senhor diz:
“Lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-
te” (Ap 3.3a). A mensagem do Senhor havia chegado a eles, mas havia o
perigo da negligência. Eles precisavam se arrepender. A luz espiritual
manifestada através de Lutero não estava sendo seguida integralmente. Os
quatro evangelhos ensinam qual deve ser a nossa atitude para com a Palavra
recebida: (1) Precisamos ouvir e compreender (Mt 13.23); (2) Ouvir e receber
(Mc 4.20); (3) Ouvir e reter (Lc 8.15); e (4) Ouvir e praticar (Lc 8.21). A
Palavra estocada apenas na mente se torna numa fortaleza contra o
conhecimento de Deus (2Co 10.4,5). É letra morta que não produz qualquer
mudança na vida do crente. Se o que ouvimos não chegar à intuição do nosso
espírito, não teremos revelação e continuaremos na mesma condição de antes.
Muitos cristãos falam de todo tipo de assunto bíblico, mas sem qualquer
realidade espiritual.
5. O Senhor Virá Como Ladrão - Ap 3.3b

“Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão e não conhecerás de modo


algum em que hora virei contra ti”
– Ap 3.3b

Depois da Reforma os crentes manifestaram pouco interesse na volta do


Senhor. Se não somos obedientes naquilo que recebemos, como viveremos
uma vida de comunhão com o Senhor? Se não mantemos comunhão
constante com Ele, como poderemos vigiar aguardando Sua vinda? Por isso o
Senhor os advertiu dizendo: “Porque se não vigiares, virei como ladrão, e não
saberás a que hora sobre ti virei” (Ap 3.3b). O vigiar aqui está relacionado
com a vinda do Senhor. É o mesmo que vimos sobre a Estrela da Manhã na
igreja em Tiatira. O Senhor está Se dirigindo aos que Lhe pertencem e não
aos perdidos. Precisamos vigiar, orando em todo o tempo, porque senão
seremos deixados para trás. Como já dissemos antes, se todos serão
arrebatados, para que vigiar? Onde está a força da advertência?
6. Vestes Sem Contaminação – Ap 3.4

“Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as


suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas” – Ap 3.4

A veste na Bíblia é símbolo de conduta, de caráter, como nos mostra a


descrição da veste da Noiva do Cordeiro: “Alegremo-nos, exultemos e
demos-Lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a
si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo
resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos
santos” (Ap 19.7, 8). Essa veste não é gratuita; ela tem preço: “Aconselho-te
que de mim compres vestes brancas, para que te vistas e não seja manifesta a
vergonha da tua nudez” (Ap 3.18). Que quadro triste é apresentado nas
palavras “tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram as suas
vestes”. Em Sardes apenas alguns conservavam uma conduta cristã
irrepreensível.

Na Carta de Judas diz que devemos detestar “até a roupa contaminada


pela carne” (v 23). Estes que não contaminaram suas vestes haviam escapado
do fermento de Tiatira (idolatria+prostituição) e preservaram a doutrina de
Cristo sem mistura. O Espírito Santo estava reproduzindo neles a imagem de
Cristo, por isso a promessa do Senhor é que eles andarão com Ele vestidos de
branco, porque são dignos. Ser digno indica merecimento, recompensa e não
tem nada a ver com a dádiva da vida eterna. É algo que os crentes precisam
comprar como o Senhor disse à igreja em Laodicéia (Ap 3.18).

7. A Promessa ao Vencedor – Ap 3.5

“O Vencedor será assim vestido de vestiduras brancas”


– Ap 3.5

a. Vestes Brancas – Ap 3.5a

A primeira parte da promessa aos Vencedores fala novamente


das vestes brancas. No versículo anterior os fiéis vão andar de
branco junto com o Senhor; aqui só se menciona as vestes brancas.
Seria uma mesma promessa para uma mesma ocasião? Pode ser que o
Senhor Jesus estivesse Se referindo a andar com Ele “aqui” e isso
indicaria uma conduta irrepreensível diante Dele. Se for uma
referência à promessa ao Vencedor, então a veste branca dos
versículos quatro e cinco aponta para a mesma ocasião: o reino do
Senhor no milênio. A Noiva do Cordeiro estará pronta para as Bodas
adornada “de linho fino, resplandecente e puro; pois o linho fino são
as obras justas dos santos” (Ap 19.8).

O discípulo necessita de duas coisas fundamentais para viver


uma vida vitoriosa: “Sejam sempre alvas as tuas vestes e nunca falte
o óleo sobre a tua cabeça” (Ecles 9.8). As vestes alvas falam da
conduta irrepreensível e o óleo sobre a cabeça do poder do Espírito
Santo. Em duas de suas cartas Paulo falou sobre isso: “Não
entristeçais o Espírito Santo de Deus” (Ef 4.30) e “Não apagueis o
Espírito” (1Tess 5.19). Quando nossa conduta é negativa, o Espírito
Santo Se entristece em nosso interior. Isso tem a ver com a vida, com
a conduta, com a veste branca. Se o óleo faltar sobre a nossa cabeça
é porque estamos apagando o Espírito; Ele não é obedecido e pouco
a pouco bloqueamos o Seu poder em nosso serviço. As duas coisas
são importantes, mas o ser é mais importante do que o fazer; o
caráter tem mais valor do que as obras; o que somos é mais do que o
que fazemos. O caráter de Cristo deve ser reproduzido em nós, e isso
nos fala da veste branca. Nosso serviço deve ser prestado no poder
do Espírito Santo. Se não tivermos as vestes brancas aqui,
certamente não as teremos na era vindoura, e não teremos parte com
Ele no Seu reino milenar.

b. Riscado do Livro da Vida

“E de modo algum apagarei o seu nome do Livro da Vida”


– Ap 3.5b

A segunda parte da promessa tem a ver com o Livro da Vida e com a


possibilidade do nome de alguém ser riscado dele. O que vem a ser isso? “A
primeira menção do livro da vida na Escritura está em Êxodo: ‘Assim tornou
Moisés ao Senhor, e disse: Oh! Este povo cometeu um grande pecado,
fazendo para si um deus de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; ou se
não, risca-me do teu livro, que tens escrito. Então disse o Senhor a Moisés:
Aquele que tiver pecado contra mim, a este riscarei do meu livro’ (Ex
32.32,33). Isso nos mostra que (1) Deus tem um registro dos nomes dos
homens; (2) que o nome estando lá garante a continuidade da vida, o que nos
dá a idéia do seu título, isto é, o livro da vida; (3) os nomes podem ser
apagados dele; (4) isso é feito individualmente, não coletivamente, mesmo
que o pecado possa ser cometido por muitos de uma só vez: ‘risca-me do Teu
livro’, e a resposta: ‘a este riscarei’; (5) a retirada do nome é por causa de
pecado, mas é um pecado dirigido contra o próprio Deus: ‘aquele que pecar
contra mim’. Embora todo pecado seja num sentido contra Deus (Sl 51.4),
não era o que pode ser chamado de ofensas comuns que estava em jogo
naquele dia. Era um pecado grosseiro e deliberado, dirigido contra o próprio
Deus, ou seja, fazer e adorar um deus no lugar de Jeová. Daí a força da
expressão exata ‘que pecaram’ (Newberry) e não ‘têm pecado’ em qualquer
ocasião, mas ‘pecaram contra mim’ neste momento presente. É possível pelo
menos que a primeira intenção do registro tenha referência ao direito de
continuar vivendo nesta vida, e o riscar pode indicar apenas o corte
prematuro da vida, para que o pecado grosseiro não fosse prolongado aqui. É
difícil crer que Moisés estivesse pedindo a morte eterna” (G. H. Lang, The
Revelation of Jesus Christ, pg 102,103).

c. Confissão do Nome – Ap 3.5c

“Pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos Seus
anjos” – Ap 3.5c

A terceira parte da promessa ao Vencedor é que o Senhor Jesus


confessará “o seu nome diante de meu Pai e diante dos Seus anjos” (Ap 3.5c).
O contraste parece ser bem claro com relação à declaração anterior: o nome
riscado do livro da vida e o nome confessado diante do Pai e dos anjos.
Lembrando das palavras do próprio Senhor, notamos que Ele já havia feito
esta mesma promessa. Mateus diz que “todo aquele que me confessar diante
dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus.
Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante
de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.32,33). Lucas registrou da seguinte
forma: “E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens,
também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus; mas quem
me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus” (Lc
12.8,9). A promessa aos Vencedores une o que Mateus e Lucas registraram:
em Mateus “diante de meu Pai” e em Lucas “diante dos anjos de Deus”

A promessa é feita àqueles que sofrem perseguição por causa de Cristo,


e é nesse teste que os cristãos são mais tendentes a falhar. Como é fácil
esconder nossa luz debaixo do alqueire (comércop), debaixo do vaso
(religiosidade e tarefas caseiras), no lugar oculto (medo de testemunhar) e
debaixo da cama (sensualidade e preguiça). Se faltar a fé e a coragem para
testemunhar pelo Senhor, o tempo de ser vestido de branco por ser digno de
ser companheiro do Senhor chegará, mas tal privilégio lhe será negado. O
crente pode negar como Pedro negou, mas para achar o perdão é preciso
deixar os mundanos, chorar amargamente pela restauração; assim ele poderá
um dia participar da glória que há de ser revelada (1Pd 5.1).

Estas promessas e advertências do Senhor ficaram marcadas


profundamente na vida dos primeiros discípulos. Mateus ouviu do próprio
Senhor e as incluiu em seu Evangelho visando torna-las publicamente
conhecidas. Lucas, que veio bem mais tarde e pesquisou os fatos da vida e
ensino do Senhor antes de escrever (Lc 1.3), tomou conhecimento dessas
declarações pronunciadas em duas ocasiões diferentes e as registrou em seu
Evangelho, tornando-as assim mais conhecidas entre os cristãos. Tais
promessas acharam um lugar muito importante nos corações dos discípulos,
como o próprio apóstolo Paulo nos mostra, pois ao chegar ao fim de sua vida
terrena ele declarou que essas palavras eram fiéis e conhecidas: “Fiel é esta
palavra: Se morremos com Ele, também com Ele viveremos; se
perseverarmos, com Ele também reinaremos; se O negarmos, também Ele nos
negará; se formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a si
mesmo” (2Tm 2.11-13). Esta última sentença aplica-se às duas
possibilidades: Dele nos confessar ou nos negar. Esse é o sentido das palavras
“Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a si mesmo”.
O dia do acerto de contas (Mt 25.19) se aproxima rapidamente; logo a
igreja estará reunida diante do Tribunal de Cristo e nossa conduta e obras
serão julgadas. Oh! Que possamos ser achados como aqueles que morreram
com Ele, que perseveraram em meio ao sofrimento e que não deixaram de
confessá-Lo mesmo nas situações mais difíceis. Que a graça do Senhor nos
capacite a sermos achados como “servos fiéis” (Mt 25.21), a fim de podermos
ouvir as doces palavras: “Servo bom e fiel, entra no gozo do teu Senhor”.

Conclusão

Concluímos aqui nossa meditação sobre a igreja em Sardes. Ela nos


mostrou o quinto estágio da história da Igreja, quando aconteceu o grande
movimento da Reforma com Lutero. Nesta segunda parte do nosso estudo do
Apocalipse estamos vendo como o Senhor Jesus é entronizado na Igreja. Nesta
carta aprendemos que as palavras não substituem a realidade; não basta dizer
que temos vida, se manifestamos apenas morte. Precisamos ser responsáveis
pelas coisas que o Senhor nos tem revelado; a luz dada pelo Senhor precisa ser
guardada e praticada. A vigilância é fundamental se realmente esperamos ser
arrebatados, pois nosso Senhor virá como ladrão de noite. Nossas vestes devem
ser conservadas sem contaminação, isto é, nosso caráter, nossa conduta devem
ser irrepreensíveis diante do Senhor. Nossa conduta vai determinar se
reinaremos com Ele ou não, se nosso nome será mantido no livro dos viventes
e se teremos nosso nome confessado pelo Senhor diante do Pai e dos anjos. A
prática dessas coisas prova que o Senhor Jesus tem um trono em nossos
corações e desse modo Ele será entronizado na Igreja.
Capítulo 6
A IGREJA EM FILADÉLFIA
Apocalipse 3.7-13

Significado do Nome:
“Amor Fraternal”

Período:
1827 a 1847

Mensagem Profética:
A Unidade da Igreja

Elogio:
“Guardaste a Minha Palavra”
“Não negaste o Meu Nome”

Advertência:
“Vigia para ninguém tomar a tua coroa”

A carta à igreja em Filadélfia descreve a condição espiritual dos cristãos


naquela época e localidade e profeticamente representa toda a igreja no
período de 1827 a 1847 (mais ou menos). Nas Cartas às Igrejas de Filadélfia
e Laodicéia nos aproximamos dos tempos do fim, pois estas igrejas parecem
representar o resultado final do período da Reforma, e as duas classes que
basicamente se desdobrarão dela (Filadélfia e Laodicéia). Filadélfia significa
amor fraternal e o seu nome indica de forma inconfundível o próximo passo
dado pelo Senhor na restauração da Sua Igreja. Alguns aceitam as Sete
Igrejas como representativas dos sete estágios da Igreja, mas quando chegam
a Filadélfia a linha de interpretação é mudada. Eles dizem que Filadélfia
representa o movimento das missões mundiais quando as portas foram
abertas para o anúncio do Evangelho entre as nações. Mas isso não tem nada
a ver com o significado do seu nome como logo veremos.
Esmirna e Filadélfia

Cinco das sete igrejas são repreendidas, menos duas: Esmirna e


Filadélfia. Elas só recebem elogios e aprovação. “É realmente notório que as
palavras faladas pelo Senhor a Filadélfia são muito parecidas com as que
foram faladas a Esmirna. O problema em Esmirna era o judaísmo e em
Filadélfia havia o mesmo problema. À igreja em Esmirna o Senhor diz que
eles seriam ‘postos à prova’, mas a Filadélfia Ele diz: ‘Eu te guardarei da
hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os
que habitam sobre a terra’. A coroa também é mencionada nas duas; para
Esmirna Ele diz: ‘Dar-te-ei a coroa da vida’ e a Filadélfia Ele diz: ‘Conserva
o que tens, para que ninguém tome a tua coroa’. Estas duas igrejas têm estes
dois pontos semelhantes para mostrar que elas estão na mesma linha, isto é,
na linha da ortodoxia da igreja apostólica” (A Ortodoxia da Igreja, pg 66).

Sardes nos mostrou Lutero e a Reforma e a grande restauração que ele


realizou. Infelizmente não foi uma restauração completa. Entretanto com
Filadélfia o desejo do Senhor foi satisfeito. Depois da decadência introduzida
por Pérgamo e Tiatira, Esmirna foi restaurada em Filadélfia. As “coisas
profundas de Satanás” (Ap 2.24) ganharam tanto terreno que mesmo numa
restauração como a de Sardes o alvo do Senhor não pôde ser alcançado. Mas
em Filadélfia a restauração foi completa. Não estamos dizendo que não houve
restauração na Reforma, e sim que a restauração não foi completa, como o
próprio Senhor disse (Ap 3.2b).

Filadélfia: Amor Fraternal

O nome Filadélfia mostra que o Senhor está restaurando o amor


fraternal. O Salmista expressou assim essa verdade: “Ó quão bom e quão
suave é, que os irmãos vivam em união” (Sl 133.1). Paulo disse: “Procurando
guardar diligentemente a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3).
Ele não disse que devemos “fazer” a unidade do Espírito e sim guardar. A
unidade já existe e espiritualmente falando ela não pode ser destruída. O
Corpo de Cristo aos olhos de Deus é sempre um: “Pois nós, embora muitos,
somos um só pão, um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão”
(1Co 10.17). Nessa mesma carta o apóstolo repreendeu os crentes pelo
espírito de partidarismo que já se manifestava entre eles: “Fui informado
pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto,
que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, ou, eu sou de Apolo; ou, eu sou de
Cefas, ou, eu sou de Cristo. Será que Cristo está dividido? Foi Paulo
crucificado por amor de vós? Ou fostes batizados em nome de Paulo?” (1Co
1.12,13).

Lançando e Consertando as Redes

Quando o Senhor Jesus chamou Seus primeiros discípulos, algo


interessante foi registrado pelos evangelistas: “E Jesus, andando ao longo do
mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e André seu irmão,
os quais lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores” (Mt 4.18); “E,
passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu
irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os
chamou” (Mt 4.21). Uma lição muito preciosa pode ser vista nas duas
expressões: “Lançavam a rede” e “Consertando as redes”. O que Pedro e João
faziam no momento em que o Senhor para que O seguissem indicava o tipo
de ministério de cada um deles.

Pedro, Paulo e João

No livro de Atos encontramos primeiro o ministério de Pedro (1 a 12).


Pedro “lançava a rede” e por isso é apresentado principalmente como
evangelista. No Dia de Pentecostes ele lançou a rede e apanhou quase três mil
peixes; mais à frente ele lança a rede de novo e apanha quase cinco mil
peixes (At 2.41; 4.4). Todavia, ao chegar ao capítulo treze não encontramos
João e sim Paulo. Não deveria ser a vez do apóstolo João? Não. Os peixes
foram apanhados por Pedro, mas seriam edificados por Paulo e isso é
indicado pelo tipo de trabalho que ele fazia: fabricar tendas (At 18.1-3).
Embora fosse também evangelista, Paulo se destacou mais como edificador.
Seu ministério como mestre foi mais marcante do que como evangelista.
A característica de João não era nem evangelista nem mestre, mas
pastor. Ele ficou para o fim do século, quando a igreja perdeu o primeiro
amor (Éfeso) e as divisões começaram a aparecer. Foi então que o seu
ministério se fez necessário, simbolizado pelo consertar as redes. Como
apanhar os peixes se a rede está rasgada? Eles entram na rede, mas escapam
pelas aberturas. Por isso a rede precisava ser costurada. O Senhor Jesus orou:
“Para que todo sejam um; assim como tu, ó Pai és em mim, e eu em ti, que
também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste”
(Jo 17.21). O Senhor ligou a unidade da igreja com a conversão dos
pecadores.

Por Que os Cristãos se Dividem?

Por que há tantas divisões no seio da igreja? Por que a unidade do


Espírito não é guardada? Paulo disse que a unidade é mantida “pelo vínculo
da paz” (Ef 4.3) e que devemos nos revestir “do amor, que é o vínculo da
perfeição” (Col 3.14). Pelo vínculo da paz e o vínculo da perfeição, que é o
amor, a unidade do Espírito será mantida. Onde elas faltam, as divisões
acontecem. O preço a ser pago é: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus,
santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade,
mansidão, longanimidade, suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se
alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim
fazei vós também” (Col 3.12,13).
O apóstolo João ficou até o fim do primeiro século e nessa ocasião ele
escreveu seu evangelho, suas epístolas e o Apocalipse. Ele sabia que o seu
ministério seria consertar as redes. Como ia fazer isso? Usando o vínculo da
paz e o vínculo da perfeição (amor). Esse fato pode ser constatado quando
lemos a sua Primeira Epístola, onde ele mencionou a palavra amor (ágape)
quarenta e duas vezes em apenas três capítulos (3 a 5). João foi chamado de
“discípulo amado” ou “o discípulo a quem Jesus amava”, indicando o
coração de amor desse discípulo. O mais interessante é que depois de
libertado da Ilha de Patmos, ele foi enviado para Éfeso, a igreja que havia
perdido o primeiro amor.

Em Patmos o anjo lhe mostrou a Nova Jerusalém, a Noiva do Cordeiro,


e João deve ter se alegrado sobremaneira ao ver que ela “tinha a glória de
Deus” (Ap 21.11). Mas isso era uma visão de algo futuro, pois a igreja
naquela época (95 d.C.) era representada por Éfeso que havia perdido o
primeiro amor. Em outras palavras, a igreja estava e ainda está no processo
de embelezamento. O uso da palavra amor na Primeira Epístola nos mostra
João consertando as redes. Ele estava cooperando com o Espírito no preparo
da Noiva para as Bodas do Cordeiro.

1. Filadélfia: A Unidade da Igreja

A abordagem profética de Filadélfia nos mostra o sexto estágio da


história da Igreja. Sardes nos mostrou a obra da Reforma com Lutero:
justificação pela graça por meio da fé, a Bíblia aberta a todos e o sacerdócio
universal dos cristãos (esse último ponto nunca foi plenamente aceito e
praticado). Em Filadélfia o Senhor chama a atenção para a unidade do Seu
corpo, a igreja. Todos os salvos pertencem à mesma igreja e ela só pode ser
dividida por causa de localidade. Se eu morar em São Paulo, não posso ser da
igreja em Curitiba. Mas isso não quebra a realidade da unidade da igreja. É só
uma questão física, porque não podemos estar juntos numa mesma cidade.
Mas os que moram na mesma cidade, devem ser uma só igreja. No Novo
Testamento as igrejas locais recebem apenas um nome: “A igreja de Deus
que está em Corinto” (1Co 1.2a). Não é a “igreja de Corinto”, mas a igreja
que está em Corinto. O mesmo é dito das demais igrejas: em Roma, Éfeso,
Tessalônica, Colossos etc.

2. Filadélfia e o Mover do Senhor

Watchman Nee assim descreveu esse mover do Senhor: “Em 1825, em


Dublin, capital da Irlanda, houve muitos crentes cujo coração foi movido por
Deus para amar todos os filhos de Deus, não importando em qual
denominação estivessem. Este tipo de amor não foi frustrado pelos muros da
denominação. Eles começaram a ver nas Escrituras que a Palavra de Deus diz
que há apenas um Corpo de Cristo, não importando em quantas seitas os
homens possam dividi-lo. Eles continuaram lendo as Escrituras e viram que o
sistema de um homem administrando a igreja e de um homem pregando não é
bíblico. Então eles começaram a reunir-se cada domingo para partir o pão e
orar. O ano de 1825, após mais de mil anos de Igreja Católica Romana e
várias centenas de anos de igrejas protestantes, foi a primeira vez em que
houve um retorno à adoração simples, livre e espiritual conforme as
Escrituras”.

“Durante essa época havia um clérigo na Igreja Anglicana, chamado


John Nelson Darby, que estava muito insatisfeito com a posição de sua
própria igreja, acreditando que ela não era bíblica. Ele também se reunia
frequentemente com os irmãos, embora nesta época ainda vestisse o uniforme
do clero e fosse um clérigo da Igreja Anglicana. Ele era um homem de Deus,
um homem de grande poder, e um homem disposto a sofrer. Ele também era
um homem espiritual que conhecia a Deus e a Bíblia e julgava a carne. Em
1827 ele deixou oficialmente a Igreja Anglicana, tirou o uniforme de clérigo
e tornou-se um simples irmão, reunindo-se com os Irmãos”.

“Uma característica que marcou o aparecimento desses irmãos foi que


aqueles que tinham títulos e domínio os abandonaram. Os que tinham posição
abandonaram a posição, aqueles que tinham diplomas rejeitaram seus
diplomas. Todos abandonaram qualquer classe ou posição mundana na igreja
e tornaram-se simplesmente os discípulos de Cristo e irmãos uns dos outros.
Além de J. N. Darby vemos como Deus concedeu ministérios especiais a
muitos irmãos para que sua Igreja pudesse ser suprida: George Muller
restaurou a questão de orar com fé. Durante sua vida ele recebeu 1.500.000
vezes respostas de orações; C. H. Mackintosh, que escreveu as notas sobre o
Pentateuco, restaurou o conhecimento dos tipos; James G. Deck deu-nos
muitos bons hinos; George Cutting restaurou a certeza da salvação; William
Kelly foi um expositor; F. W. Grant foi o mais entendido sobre a Bíblia nos
séculos dezenove e vinte; Robert Anderson foi o homem que melhor
conheceu o Livro de Daniel recentemente; Charles Stanley foi quem melhor
levou as pessoas à salvação; S. P. Tregelles foi o famoso filologista do Novo
Testamento; a história da igreja por Andrew Miller foi a mais bíblica entre as
muitas histórias da igreja; e R. C. Chapman foi um homem grandemente
usado pelo Senhor. Além desses, se fôssemos contar minuciosamente outros
entre os Irmãos, o número de todos os que foram muito usados pelo Senhor
ultrapassaria a mil, no mínimo. Não é de admirar que D. M. Panton dissesse:
‘O movimento dos Irmãos e seu significado é muito maior do que o da
Reforma’. Thomas Griffith disse: ‘Entre os filhos de Deus, foram eles os
mais qualificados para corretamente dividir a Palavra da verdade’. Henry
Ironside disse: ‘Quer sejam os que conheceram ou não os Irmãos, todos os
que têm conhecimento de Deus receberam ajuda deles direta ou
indiretamente’ (Ortodoxia da Igreja - pgs 68, 69, 72, 73, 74)”.

3. Apresentação do Senhor – Ap 3.7b

“Estas coisas diz o Santo, o Verdadeiro” – Ap 3.7b

Robert Govett disse que sete atributos são dados ao Senhor: primeiro
três, o quarto e mais três brotando dele:

(1) Aquele que é santo


(2) Aquele que é verdadeiro
(3) Aquele que tem as chaves de Davi
(4) Que abre
(5) E ninguém fecha
(6) Que fecha
(7) E ninguém abre

(Govett, On Revelation, pg 173).

a. O Santo e Verdadeiro

“Isto diz o que é Santo, o que é Verdadeiro” (Ap 3.7a). Assim o Senhor
Se apresenta à Sua igreja, indicando o tipo de pessoas que devemos ser por
causa da Sua vinda iminente. Está escrito que “sem a santificação ninguém
verá o Senhor” (Hb 12.14); mas santificação não é condição para alguém ser
salvo. Nesse capítulo de Hebreus, Paulo está falando sobre o Reino. Como
Verdadeiro, nosso Senhor dá a entender que Ele deseja a verdade nas partes
mais interiores do nosso ser. Quanta mistura existe em nossa adoração, em
nossas orações, em nosso serviço ao Senhor! Entretanto, todas as coisas estão
nuas e patentes diante dos Seus olhos (Hb 4.13). Todos os crentes, incluindo
os mais adiantados, devem ter sempre esta oração em seus corações:
“Purifica-me dos (pecados) que me são ocultos” (Sl 19.12).

b. A Chave de Davi
“Aquele que tem a Chave de Davi, que abre e ninguém fechará; e que fecha
e ninguém abrirá” (Ap 3.7b).

Essa declaração está ligada com a promessa do versículo seguinte:


“Tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar” (Ap
3.8). Paulo falou dessa “porta aberta” em algumas de suas cartas (Col 4.3;
1Co 16.8,9; 2Co 2.12). “Esse título, ‘Aquele que tem a Chave de Davi’,
ligado com a promessa que se segue, pode ter tido como propósito indicar
que o Senhor usaria o poder que é Seu de direito sobre o mundo, para limitar
a oposição à pregação do Seu povo no tempo do fim. Em outras palavras, que
um testemunho seria dado, um último clamor de advertência, como aquele de
Enoque antes de ser tomado da terra condenada. E a promessa está sendo
cumprida agora diante dos nossos olhos. O mundo não mudou, mas no
momento suporta a pregação de Cristo com uma paciência nunca antes
conhecida. No momento não existe nenhuma interferência séria com a obra
dos cristãos evangélicos, porque o Senhor abriu e não existe ninguém que
possa ousar fechar” (Pember).

Mas a promessa se aplica também àqueles que viram a realidade do


Corpo de Cristo e procuram testemunhá-la em suas localidades. Todos os que
possuem o coração de Filadélfia podem tomar posse dessa promessa da porta
aberta. Não se trata da realização de grandes movimentos com grandes
multidões e coisas materiais, mas de qualidade espiritual, de testemunho
eficaz não só de Cristo como Salvador e Senhor, mas também da realidade da
igreja. Se alguns são levantados pelo Senhor, à semelhança dos quase
cinqüenta mil que retornaram da Babilônia, a realidade da porta aberta se
manifestará. Os que desejam testemunhar da unidade da Igreja continuam
tendo pouca força, ou, pouco poder, mas o pouco poder com o Senhor realiza
muito mais que o muito poder fora da Sua vontade.

c. A Palavra e o Nome do Senhor

“Entretanto, guardaste a minha Palavra e não negaste o meu Nome” – Ap


3.8b
A explicação porque o Senhor abriu uma porta para Filadélfia é porque ela
tem pouca força (pouco poder). Sardes havia sido advertida para fortalecer o
restante que estava para morrer (3.2), e em Filadélfia isso aconteceu.
Provavelmente esse pouco poder se manifestou nisso: “Guardaste a minha
Palavra e não negaste o meu Nome” (Ap 3.8c). Guardar a Palavra significa
descartar as tradições e práticas dos homens e se apegar às Escrituras. Quão
difícil é encontrar hoje os que obedecem estas palavras. A Bíblia é um livro
fechado para tantos cristãos e por isso comem todo ensino que lhes é
oferecido, sem qualquer discernimento. A atitude de não negar o nome do
Senhor está intimamente relacionada com a questão da unidade da igreja. Os
filhos de Deus para se identificarem precisam de dois documentos: a) Sou
crente no Senhor Jesus; b) Sou crente da igreja tal. Dizer que somos crentes
no Senhor Jesus não é suficiente! Não existe apenas uma igreja (conforme o
Novo Testamento)? Jesus não disse que iria edificar a Sua igreja (uma só)?
Então quando digo que sou crente no Senhor Jesus ainda preciso acrescentar
outro documento? Não seria isso negar o Seu nome? Se Filadélfia é a
restauração da unidade da Sua Igreja, isto é, que todos os lavados no sangue
do Cordeiro pertencem à mesma Família? Declarar que sou crente no Senhor
Jesus não é um documento suficiente para me identificar? Algo mais precisa
ser acrescentado?
4. A Sinagoga de Satanás – Ap 3.9

É significativo observar que os falsos judeus e a sinagoga de Satanás


mencionados na carta a Esmirna, aparecem novamente na carta a Filadélfia.
Já vimos que Esmirna foi a reação do Senhor em face do relaxamento visto
em Éfeso. A perseguição e a espada levaram os cristãos de volta à posição
correta diante de Deus. Filadélfia também foi uma reação Divina para com a
situação de morte existente em Sardes. Isso indica que a manifestação da vida
em Filadélfia provoca a obra contrária de Satanás, por isso os falsos judeus e
a sinagoga de Satanás são mencionados novamente. Não podemos esquecer
que na abordagem histórica e espiritual os judeus em Filadélfia eram judeus
literais; já na abordagem profética eles simbolizam aqueles que se esforçam
para introduzir no meio dos cristãos as práticas próprias do judaísmo.
Watchman Nee disse que “o que caracteriza um judeu são quatro coisas: o
templo, a lei, o sacerdócio e as promessas terrenas”.
A presença penetrante do fermento pode ser facilmente encontrada nas
três medidas de farinha, como nos mostra a Parábola do Fermento (Mt 13). A
mistura do judaísmo com o cristianismo é hoje uma realidade. Encontramos
igrejas que guardam o Sábado (literal), comemoram as Festas de Israel, festas
que nem tiveram cumprimento na história, como Tabernáculos (Lv 23),
vivem na dependência das promessas materiais dadas apenas ao povo de
Israel, constroem Arcas da Aliança, recintos como o Santo dos Santos,
fogueira santa de Israel, queda de Jericó; tudo feito num sentido literal. Não
está escrito que “não se pode colocar remendo de pano novo em vestido
velho?” Que o vinho novo não pode ser colocado em odres velhos? (Mt
9.16,17). Nosso Senhor falava da mistura da Velha Aliança com a Nova. Não
sou dispensacionalista, mas creio nas dispensações e acredito que Paulo se
referia a isso quando escreveu: “Procura apresentar-te diante de Deus
aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem
a Palavra da Verdade” (2Tm 2.15). A palavra manejar significa dividir
(grego). As versões em inglês quase sempre traduzem assim. Não podemos
misturar as promessas de uma dispensação com a outra. “A lei veio por meio
de Moisés; a graça e a verdade por meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). O cristão
não vive debaixo da Lei, e sim debaixo da Graça (Rm 6.14).

Muitos tomam a promessa da prosperidade material dada sob a Lei e a


aplicam aos cristãos hoje. Por exemplo: “Nunca vi o justo mendigar o pão,
nem a sua descendência padecer necessidade” (Sl 37.25). Essa promessa é
usada para sustentar a teologia da prosperidade. Os seus defensores ensinam:
“Crente que passa necessidade material está fora da vontade de Deus”. Bem,
se este é o ensino da Palavra de Deus, ele tem que ser aplicado a todos e a
todas as situações. Diante disso como podemos explicar o que Paulo escreveu
sobre ele mesmo na Carta aos Filipenses? “Porque já aprendi a contentar-me
com as circunstâncias em que me encontre. Sei passar falta e sei também ter
abundância; tanto a fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância,
como em padecer necessidade” (Fl 4.11,12). Não se esqueça que é o grande
apóstolo quem está falando! E as palavras de Tiago: “Meus irmãos, não
sabeis que Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé e
herdeiros do Reino que prometeu aos que O amam?” (Tg 2.5). Pobres deste
mundo são carentes de coisas materiais. Creio que esses dois exemplos são
suficientes para provar a falácia dessa teologia e do perigo de não dividirmos
corretamente a Palavra de Deus.

5. A Palavra da Perseverança – Ap 3.10a

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei


da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar
os que habitam sobre a terra” – Ap 3.10
João disse na introdução do livro: “Eu, João, vosso companheiro na
tribulação, no reino e na perseverança em Jesus”. Aqui o Senhor fala da
palavra da Sua perseverança. Qual é o significado disso? Hoje é o tempo da
perseverança de Cristo. Ele encontra muitos que escarnecem Dele, mas Ele é
perseverante. Aqui nesse mundo Ele não tem reputação; Ele é uma pessoa
humilde e ainda é um nazareno, o filho de um carpinteiro. Quando seguimos
o Senhor Ele diz: “Guardaste a palavra da minha perseverança”. Rejeitar os
falsos judeus exige um alto preço a ser pago. O Senhor enfrentou todo o
desvio espiritual nos Seus dias e foi odiado pelos religiosos da época. Assim
também acontece com os que se apegam ao Senhor e à Sua Palavra. O termo
perseverança indica uma firmeza indesviável para alcançar o alvo de Deus
em Cristo Jesus.

6. A Hora da Provação – Ap 3.10b

“Também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo


inteiro, para provar os que habitam sobre a terra” – Ap 3.10b
Aqui o Senhor Jesus está prometendo livramento da hora da provação
que há de vir sobre o mundo inteiro. Essa promessa é dada aos que guardam a
palavra da Sua perseverança. A provação que há de vir sobre os que habitam
sobre a terra é a Grande Tribulação. Mas o Senhor não disse que nos guardará
na hora da tribulação, mas da hora da tribulação, indicando que alguns
escaparão da Grande Tribulação através do arrebatamento. Ele já havia dito:
“Olhai por vós mesmos; não aconteça que os vossos corações se carreguem
de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida e aquele dia vos
sobrevenha de improviso como um laço. Porque há de vir sobre todos os que
habitam na face da terra. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que
possais escapar de todas estas coisas que hão de acontecer, e estar em pé na
presença do Filho do homem” (Lc 21.34-36).

“Infelizmente não são poucos os cristãos que têm os corações


sobrecarregados de glutonaria, de embriaguez e dos cuidados da vida. Vivem
como se fossem do mundo e o mundo fosse a sua morada; tal estado de mente
produz mundanismo e uma dependência das coisas do mundo. Visando
separá-los das suas carnalidades e mundanismo e fazê-los retroceder com
horror pelas coisas que hão de presenciar, e para criar em seus corações um
anseio sincero pela chegada do Libertador (Jesus), a hora da provação virá.
Terão que provar o que é o mundo quando a restrição do Espírito Santo e dos
Vencedores for tirada (2Tess 2.7) e a Besta em pessoa surgir. Ficarão
desnorteados com os milagres do Anticristo e aterrorizados com suas
perseguições sangrentas. Mas, sendo amados do Senhor, serão sustentados e
o processo terrível de joeirar provará que eles não são joio. Os que são joio,
os filhos do maligno, sucumbirão às tentações e rejeitarão a Deus e a Seu
Cristo. A medida da sua iniqüidade será completada quando se curvarem
diante de Satanás e da Besta; serão varridos como a palha. Seguir nossas
inclinações e dar ouvidos àqueles que criticam o fanatismo podem nos levar à
falta de diligência, e, consequentemente a uma vida de satisfação dos nossos
apetites carnais. Os cuidados da vida podem se tornar um nevoeiro que
impede a visão clara dessas coisas”.

“Esperar em meio a provas e tentações é um ingrediente principal em


nosso cálice de disciplina; pois ‘é bom que o homem tenha esperança e
aguarde tranquilamente pela salvação do Senhor’. Não existe gozo para nós
agora, senão paz e alegria no Espírito: devemos viver no futuro. Devemos
suportar a cruz como nosso Senhor, desprezar a afronta, por causa da alegria
que nos aguarda. Pois aqui não temos cidade permanente, mas somos
estrangeiros e peregrinos até que sejamos levados para nossa própria cidade
que está no céu. Daí Paulo falar aos hebreus: ‘Necessitais de paciência para
que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais receber as
promessas’. E ele elogia os tessalonicenses porque se voltaram dos ídolos
para Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro e aguardar Seu Filho do céu.
Esta paciência e disposição para esperar por Cristo os de Filadélfia têm, e a
recompensa deles é que eles serão guardados da grande hora da tentação.
Ora, a tentação não será parcial, mas universal, pois há de vir sobre ‘o mundo
inteiro’ e sendo assim os que serão livrados dela precisam ser tirados do
mundo, como Enoque foi (arrebatado) antes que a corrupção e a violência dos
homens chegassem ao ápice nos dias de Noé. E que essa foi a intenção do
Senhor fica evidente pelas palavras seguintes: Venho rapidamente” (G. H.
Pember).

7. Guarda o Que Tens – Ap 3.11

“Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua
coroa” – Ap 3.11

Filadélfia vai continuar juntamente com Tiatira (catolicismo), Sardes


(protestantismo) e Laodicéia (caídos de Filadélfia) até a volta do Senhor,
como indicam as palavras “venho sem demora”. Em Esmirna a
necessidade era ser fiel até à morte para ganhar a coroa da vida. Em
Filadélfia os cristãos precisavam guardar o que já tinham, para não perder
a coroa. Essa coroa não tem uma qualificação específica como as demais
(da vida, da justiça, da alegria). Ela é prometida a todos em Filadélfia.
Aliás, só duas vezes no Novo Testamento se diz que alguém tem coroa:
Paulo, bem no final da sua carreira (2Tm 4.8) e os cristãos em Filadélfia.

Mas precisamos lembrar que fazer parte de um grupo que testemunha


da unidade não prova que alguém esteja em Filadélfia. Muitos crentes se
unem àqueles que testemunham da unidade da igreja e passam a acreditar
que possuem a realidade de Filadélfia. Mas é bastante reunir com irmãos
que não usam placa de identificação, onde o governo está nas mãos dos
presbíteros e a mesa do Senhor é aberta a todos os crentes? De modo
nenhum! Se não houver a realidade do amor fraternal tudo será vão! É
uma mudança apenas de endereço. É semelhante ao povo de Israel que
saiu realmente do Egito, mas o Egito não saiu deles. Podemos sair das
divisões, mas elas podem continuar conosco. Infelizmente para muitos
filhos de Deus a realidade da unidade da igreja é vista como uma questão
de localização física, isto é, com quem estou reunindo e não mais uma
condição real do coração: amor aos irmãos!

8. Promessa ao Vencedor – Ap 3.12


“Ao que vencer, eu o farei coluna no santuário do meu Deus, de onde jamais
sairá” – Ap 3.12a

a. Coluna na Nova Jerusalém

Os que estiverem preparados, vigiando e orando em todo o tempo, serão


levados para o Trono de Deus (Ap 12.5). Passado o período da grande
tribulação, virá o tempo da construção do Templo Vivo do Senhor: a Nova
Jerusalém, a cidade do meu Deus, a Noiva do Cordeiro. A Pedra principal
(Jesus) já foi colocada no seu devido lugar; as outras pedras vivas que foram
cortadas e buriladas serão colocadas nos seus devidos lugares. E como
aconteceu no Templo de Salomão, nenhum som de martelo será ouvido
(1Reis 6.7). No levantamento glorioso desse Templo de pedras vivas, aqueles
que suportaram o desprezo dos homens por amor a Cristo serão colunas de
força e beleza, fixados em suas bases, e dali jamais sairão.

b. Os Três Nomes

“Gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do


meu Deus, a Nova Jerusalém, que desce do céu, vinda da parte do meu Deus,
e também o meu novo nome” (Ap 3.12).

A segunda parte da promessa menciona o “meu Deus” três vezes. Isso


nos lembra as palavras do Senhor: “Ide a meus irmãos e dizei a eles que subo
para meu Pai e vosso Pai e meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17). “Falando
desse modo em ambos os casos, o Senhor parece estar Se identificando como
o Último Adão, de acordo com a Escritura: ‘Pois tanto o que santifica como
aqueles que são santificados, vêm todos de Um só; por esta causa Ele não Se
envergonha de lhes chamar irmãos’ (Hb 2.11 - Pember). Com respeito ao
significado dos nomes, o Senhor confessará Seus discípulos fiéis diante do
Pai, e o mesmo Pai os reconhecerá e colocará Seu nome sobre eles como um
selo de propriedade. Eles serão assinalados como cidadãos da Nova
Jerusalém, que em breve descerá do céu para a terra redimida. E finalmente, o
próprio nome do Senhor, Seu novo nome, provavelmente uma referência ao
que é declarado mais à frente: ‘E Ele tem um nome escrito que ninguém
conhece senão Ele mesmo’ (Ap 19.12). Na Terra de Emanuel um nome não é
um som vazio, como acontece conosco hoje; o nome declara a real natureza
do seu possuidor. Este novo nome indica, provavelmente, algum mistério
glorioso do qual, por causa da sua união com Cristo, o crente será feito
participante na era vindoura” (Pember).

9. Quem Tem Ouvidos Ouça – Ap 3.13

“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” – Ap 3.13

Devemos observar que a chamada é para ouvir aquilo que o Espírito diz
a todas as igrejas. Não é só o que Ele diz a Filadélfia ou outra igreja, mas a
todas. Que não aconteça conosco o que aconteceu com os companheiros de
Paulo na estrada para Damasco: “E os que estavam comigo viram, em
verdade, a luz, mas não entenderam a voz daquele que falava comigo” (At
22.9). Ouvimos as mensagens, ouvimos as advertências, mas elas são como
palavra sem sentido. A mensagem não é misturada com a fé poder produzir
transformação. “Quem tem ouvidos para ouvir!” Temos o órgão, mas nos
falta a função. É como um cego, mesmo tendo os dois olhos, não pode
enxergar. O Senhor está completando o número dos Seus Vencedores, e logo
os removerá para o Trono de Deus. Oremos e vigiemos para que possamos
fazer parte do Filho Varão! Cooperemos com o Espírito Santo em Sua obra
de formar Cristo em nós (Gl 4.19). Só assim o Senhor Jesus será entronizado
na Igreja!

Estamos concluindo nossa meditação sobre a igreja em Filadélfia. Ela


nos mostrou o sexto estágio da história da igreja de Deus na terra. Sua
mensagem profética é a restauração do amor fraternal entre os santos e a
unidade do Corpo de Cristo. Como acontece em todas as igrejas precedentes,
Filadélfia tem sua lição principal para nós. Dissemos no início que ela e
Esmirna são as únicas que não foram criticadas ou ameaçadas pelo Senhor.
Pelo contrário, só receberam elogio e conselho. Essa porção da restauração
do Senhor representada por Filadélfia nos mostra que nossa parte deve ser:
(1) Guardar a palavra do Senhor; (2) Não negar o Seu nome; (3) Guardar a
palavra da perseverança do Senhor; (4) Conservar o que temos. Devemos
lembrar também que Filadélfia agrada tanto o coração do Senhor, que
recebeu uma revelação toda especial Dele. A identificação do Senhor no
início dessa carta não aparece na descrição da Sua pessoa registrada no
capítulo um. É uma promessa especial porque Filadélfia é especial aos olhos
do Senhor. Que o Senhor tenha misericórdia de nós, nos revelando cada dia a
verdadeira essência de Filadélfia.
Capítulo 7
A IGREJA EM LAODICÉIA
Apocalipse 3.14-22

Significado do Nome:
“Opinião do Povo”

Período:
1827 a ?

Mensagem Profética:
Filadélfia Soberba

Repreensão:
“Pobre, cego e nu”

A carta à igreja em Laodicéia descreve a condição espiritual dos


cristãos naquela época e localidade e profeticamente representa os cristãos
que viram Filadélfia, mas não permaneceram em sua realidade. De modo que
a igreja em Laodicéia engloba pelo menos três significados: (1) Do ponto de
vista histórico e espiritual ela representa os cristãos que viviam naquela
localidade; (2) Do ponto de vista apenas espiritual ela representa a condição
quase que geral dos cristãos no tempo do fim; (3) Do ponto de vista profético
ela representa os cristãos que tiveram a revelação de Filadélfia, mas se
tornaram soberbos e caíram para a condição de Laodicéia.

1. Significado de Laodicéia – Ap 3.14

Laodicéia é um nome composto: Laos e Dikaios. Laos significa “povo


comum”, e dela vem a palavra “leigos”. Dicéa vem de “dikaios” que
significa justiça, costume ou opinião. Juntando as duas palavras temos:
opinião do povo, ou, opinião comum. Em Éfeso e Pérgamo havia a obra e a
doutrina dos Nicolaítas (nikau + laos), e vimos que o termo significa
“dominador do povo”. Em Laodicéia não encontramos os dominadores do
povo comum; agora os dominadores são os leigos, o povo, pois o que vale é a
opinião deles. Sabemos que o Senhor Jesus odeia a obra e a doutrina dos
Nicolaítas, mas, por outro lado, foi Ele mesmo Quem estabeleceu o princípio
da autoridade na igreja. Todos somos irmãos no princípio da vida, mas na
questão do governo de Deus existe diferença. Está escrito que “a uns pôs
Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em
terceiro mestres” (1Co 12.28). O termo “primeiramente” indica que os
apóstolos são os principais representantes da igreja universal. No chamado
Concílio em Jerusalém (Atos 15) está escrito que uma decisão com respeito
aos judaizantes foi tomada. Todos participaram da discussão, mas no final,
Tiago, um dos presbíteros da igreja em Jerusalém, se levantou e declarou:
“Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a igreja escolher
homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé” (At 15.22).
E ao concluir sua palavra, Tiago declarou: “Porque pareceu bem ao Espírito
Santo e a nós” (At 15.28). Infelizmente o que vemos hoje é uma vergonhosa
manifestação de ilegalidade, isto é, ausência de respeito às autoridades. O
caminho está sendo aberto e preparado para a manifestação do “homem da
ilegalidade” (Anticristo), e Laodicéia terá uma parcela de contribuição em
seu aparecimento. “Seu próprio nome indica sua ilegalidade, ao mostrar qual
é a igreja onde o povo julga o que é certo” (Pember).

2. Significado Profético de Laodicéia

Nas igrejas anteriores vimos que Pérgamo mostra algo de fora que invadiu o
território dos cristãos; em Tiatira a invasão foi mais profunda. Quando
chegamos a Sardes a ordem é invertida: não é algo de fora que invade, mas a
saída do meio corrompido de Tiatira. Filadélfia nos mostrou a mesma coisa,
isto é, outra saída do que não era ideal, para algo que agradava o coração do
Senhor. Laodicéia se desenvolve de Filadélfia e ela é composta daqueles que
um dia tiveram a realidade da unidade da igreja, mas se ensoberbeceram e
passaram a tratar os demais irmãos com desprezo, por julgarem a si mesmos
superiores. Assim surge profeticamente a igreja em Laodicéia. O Senhor
havia aconselhado aos de Filadélfia que conservassem o que tinham, para não
perderem a coroa. Por essa razão, quando alguns cristãos que procuram viver
a realidade de Filadélfia descobrem que a situação do testemunho se
deteriorou e feriu o coração do Senhor, eles precisam sair e participar do Seu
desagrado. Entretanto, esta separação é apenas física, porque espiritualmente
continuamos sendo um só Corpo em Cristo. De modo que, o sair nem sempre
indica divisão. Se perdermos essa revelação, perdemos a realidade de
Filadélfia. Nas palavras do irmão Nee “Filadélfia e Laodicéia são
semelhantes na posição da igreja. A diferença está no fato de Filadélfia ter
amor. Na aparência exterior não existe muita diferença; o que as diferencia é
que Laodicéia é uma Filadélfia orgulhosa. Somente uma Filadélfia caída pode
se tornar Laodicéia. As próprias riquezas são as características de Filadélfia;
o orgulho de ser rico é a marca registrada de Laodicéia. A doença fatal de
Laodicéia é o orgulho” (Come Lord Jesus, pg 47).

3. A Apresentação do Senhor

“Estas coisas diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o princípio da


criação de Deus” – Ap 3.14b

a. O Amém

A primeira parte da Sua identificação é encontrada no capítulo 1.5. Tais


palavras indicam que a fé nas promessas e na Pessoa do Senhor quase
desapareceu. Primeiro Ele diz ser o “Amém”, palavra grega que foi traduzida
por “em verdade” em outros lugares e usada pelo Senhor para prefaciar várias
das Suas declarações. Na carta aos Coríntios Paulo disse: “Porque quantas
são as promessas de Deus, tantas têm Nele o sim; porquanto é por Ele o
amém, para glória de Deus, por nosso intermédio” (2Co 1.20). As promessas
de Deus terão seu cumprimento no Senhor Jesus, porque Nele está o “amém”
(assim seja) de Deus. A igreja em Laodicéia manifesta a necessidade de
realidade espiritual. Ela pensa que é rica, mas é pobre; pensa que enxerga,
mas é cega; imagina que é rica, mas é pobre. Na igreja onde a “opinião do
povo” prevalece as promessas de Deus não são provadas, porque o “sim” de
Deus está em Cristo e os de Laodicéia não têm comunhão com Ele; a porta
está fechada e Ele está do lado de fora (Ap 3.20).

b. A Testemunha Fiel e Verdadeira


A segunda parte da identificação do Senhor diz que Ele é “a testemunha
fiel e verdadeira”. Com tais palavras nosso Senhor declara ser conhecedor da
verdadeira condição da Sua igreja. Ele é a Testemunha fiel e verdadeira, e
embora seja longânimo e tardio em irar-Se, Sua própria fidelidade exige o
julgamento. Quando chegar o momento da derrota pública de Satanás, do
Anticristo, do Falso Profeta e dos exércitos da Besta, Ele Se manifestará
assim: “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava montado
nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça” (Ap 19.11).

c. O Princípio da Criação de Deus

A terceira parte da Sua identificação mostra que o Senhor Jesus é “o


princípio da criação de Deus”. O arianismo tomou estas palavras para ensinar
que Jesus foi o primeiro a ser criado, quer dizer, Ele também foi criado por
Deus. Essa doutrina herética existe até hoje e é ensinada fortemente pelo
grupo chamado “testemunhas de Jeová”. Eles negam a Trindade e a
Divindade do Senhor Jesus. Mas a Escritura nos ensina que o Senhor Jesus é
Deus, que Ele é o Filho Unigênito do Pai, que todas as coisas foram feitas por
intermédio Dele e que sem Ele nada do que foi feito se fez. No princípio (não
o princípio de Gênesis 1.1), Ele era auto-existente e vivia face a face com o
Pai. O próprio Logos era Deus (Jo 1.1). “Ser o princípio da criação de Deus
indica que Ele foi a primeira causa de todas as coisas criadas. Assim Ele é o
Princípio e é também o Amém, ou, o Fim; e entre os dois Ele é a Testemunha
Fiel e Verdadeira” (Pember).

4. O Pleno Conhecimento do Senhor

“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio
ou quente! Assim, porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto
de vomitar-te da minha boca” – Ap 3.15,16

A característica de Filadélfia é ser quente e a de Laodicéia ser morno.


Laodicéia representa, profeticamente, aqueles que viram Filadélfia e se
ensoberbeceram. A revelação concedida a Filadélfia foi tremenda, como já
vimos. A aprovação do Senhor foi total, sem qualquer repreensão. Isso seria a
água quente. E a água fria: o que seria? O espírito de soberba, de
independência, de auto-suficiência. A água morna é o resultado da mistura da
água quente com a fria. Foi esse espírito de soberba que levou Ezequias a
abrir os seus tesouros aos embaixadores da Babilônia (Is 39). Ele esqueceu
que tudo era dádiva do Senhor e que ele não era nada. Quão precioso é o
conselho do Senhor a Baruque através de Jeremias: “E procuras tu grandezas
para ti mesmo? Não as busques” (Jr 45.5). Podemos buscar grandezas?
Certamente! Mas devemos ter o cuidado de não busca-las para nós mesmos!
Margareth Barber, que serviu ao Senhor na China, orou dizendo: “Senhor,
nada quero para mim mesma! Quero tudo só para Ti”.

O espírito de soberba de Laodicéia torna-a morna e esse estado provoca


o vômito. Isso acontece quando se sente um mal estar interior. Isso indica que
antes havia um relacionamento entre o Senhor e os de Laodicéia, porém, algo
provocou um grande mal estar no Senhor e fez com que eles fossem
vomitados. Já vimos antes que Laodicéia é uma Filadélfia soberba. A
comunhão profunda e doce existiu enquanto eles eram Filadélfia, mas quando
permitiram a entrada do espírito de soberba, o relacionamento vital se foi.
Aqui surge a pergunta: O que pode ter acontecido a ponto de provocar tal
reação drástica da parte do Senhor?

O servo do Senhor, G. H. Pember, assim explicou: “As cidades de


Laodicéia e Colossos eram próximas uma da outra, de modo que essas igrejas
tinham uma relação íntima. É interessante observar que Paulo em sua carta
aos Colossenses solicita que cumprimentem os de Laodicéia por ele (4.15) e
enviem a carta deles para ser lida na assembléia: ‘E, uma vez lida esta
epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos
laodicenses; e a dos de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós’ (Col 4.16).
Podemos então deduzir com segurança que a proximidade e a intimidade
entre essas duas igrejas fez com que elas fossem contaminadas com erros
semelhantes, e que as faltas de uma se tornaram, pelo menos em alguma
extensão, as faltas da outra. Supondo que tenha sido assim, podemos ter um
vislumbre do estado de Laodicéia lendo cuidadosamente a Epístola aos
Colossenses. Assim descobriremos que a grande queixa contra eles estava no
fato de Cristo ter sido despojado da Sua honra e glória pelas suas doutrinas e
as práticas que resultaram delas”.
Infelizmente a Carta que estamos examinando mostra claramente que a
instrução de Paulo aos Colossenses de nada valeu para os de Laodicéia.
Normalmente esta é a reação dos cristãos que são mornos: eles ouvem,
elogiam, comentam com os outros, oram sobre os assuntos, mas nunca
tomam uma posição diante do Senhor. Aos olhos dos demais irmãos não há
nada errado com eles, pois cumprem todas as normas exteriores da igreja: vão
às reuniões, oram, levam (e até lêem) a Bíblia, dão ofertas, falam com
entusiasmo do “Senhor Jesus”, mas infelizmente suas vidas não têm “Dono”!
Eles agem como querem, nunca levam em conta se a atitude a ser tomada vai
ferir os Senhor ou a igreja; o seu bem-estar físico e material está sempre em
primeiro lugar e o reino de Deus em segundo. Estes são os crentes mornos de
Laodicéia e esse estado de mornos é abominável ao Senhor; Ele prefere muito
mais tratar com os que são frios, pois a possibilidade de ganha-los é muito
maior. A manifestação da piedade apenas na aparência é algo muito sério; se
damos a impressão de uma vida piedosa, mas intimamente negamos a
eficácia dessa piedade, nos expomos ao juízo severo da parte do Senhor. “A
obra sutil de Satanás é vacinar alguns cristãos com uma dose de atitudes
religiosas visando impedir dessa forma que eles busquem uma vida de
entrega total” (anônimo). Outro escritor disse: “Nada endurece mais o
coração do homem do que uma familiaridade estéril com as coisas sagradas”
(J. C. Ryle).

5. A Tragédia da Obssessão – Ap 3.17

“E não sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” – Ap 3.17

O Senhor associou a mornidão dos crentes de Laodicéia com o alto


conceito que eles tinham de si mesmos. A pior característica deles era não
reconhecer sua triste condição diante de Deus. A mensagem do último livro
do Antigo Testamento é bem parecida com a de Laodicéia. Malaquias nos
mostra a condição do povo de Deus que havia retornado da Babilônia para
edificar a Casa de Deus, o Muro e a Cidade de Jerusalém. O Senhor declara
oito vezes que Seu povo estava agindo de forma errada, mas eles sempre
respondiam: “Em que?” Isso se chama obsessão. No livro “Realidade
Espiritual ou Obsessão” Watchman Nee diz que se sustentarmos algo que não
é verdade, com o passar do tempo chegaremos a acreditar nessa mentira. A
mentira passará a ser verdade; o falso vem a ser o real. Isso é obsessão.

A Palavra de Deus nos dá alguns exemplos interessantes sobre essa


questão. Sansão, nazireu desde o ventre da mãe, abriu seu coração e revelou
seu segredo a Dalila (Jz 16.16,17). Antes ele quebrava os grilhões, rompia as
cordas e não se deixava vencer pelos filisteus. Mas depois de revelar seu
segredo, Dalila “o fez dormir sobre os seus joelhos, e mandou chamar um
homem para lhe rapar as sete tranças de sua cabeça; e disse ela: Os filisteus
vêm sobre ti, Sansão! Despertando ele do sono, disse: sairei como das outras
vezes e me livrarei. Pois ele não sabia que o Senhor se tinha retirado dele” (vs
19,20). O Senhor havia Se retirado dele e ele não sabia! Outro exemplo está
no livro de Oséias: “Quanto a Efraim, ele se misturou com os povos; Efraim é
um bolo que não foi virado. Estrangeiros lhe devoram a força e ele não o
sabe; também as cãs se espalham sobre ele, e não o sabe” (Os 7.8,9). Não
notar o aparecimento dos cabelos brancos é contrário à natureza. Mas quando
eles aparecem agimos de três formas: (1) achamos graça ou os escondemos,
(2) procuramos arranca-los, ou (3) usamos tinta para mudar sua cor. Mas na
esfera moral e espiritual é possível não notar os cabelos brancos. A força se
desvanece, os sinais de saúde e frescor espiritual se vão e não notamos. A
essa situação damos o nome de “decadência inconsciente”. Quando a ferida
para de doer, pode ser sinal de tétano e foi isso que aconteceu com Laodicéia.

a. Constatação da Soberba

“Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”. Este é
um sintoma muito sério: de nada tenho falta. Filadélfia é realmente rica, mas
Laodicéia sabe que é rica. O saber aqui é negativo porque indica sua soberba.
Quando temos consciência de que somos pobres, já andamos metade do
caminho para a verdadeira riqueza. “O famoso Scofield foi até aos Irmãos
para ser ensinado. Gipsy Smith, muitíssimo conhecido, esteve no meio deles
para obter benefício, aprendendo suas doutrinas para pregar. O Senhor
mostrou-nos que uma Filadélfia orgulhosa é Laodicéia, e Laodicéia é uma
Filadélfia caída. Hoje podemos encontrar Filadélfia e também Laodicéia; a
diferença é que Filadélfia tem amor, enquanto Laodicéia tem orgulho. Não há
diferença na aparência exterior. Um irmão entre eles certa vez disse: ‘Existe
algo espiritual que não possa ser encontrado entre nós’? Outro irmão, ao ver
uma nova revista, disse: ‘Que novidade ela pode nos dar? Há alguma coisa
que não temos’? Um outro disse: ‘Uma vez que o Senhor tem nos dado a
maior luz, devemos estar satisfeitos; ler o que os outros têm é uma perda de
tempo’. Quando ouvimos este tipo de falar, imediatamente lembramos o que
o Senhor diz aqui a respeito daqueles que dizem ‘estou rico’. Oh! Quão
cuidadosos precisamos ser para que não nos tornemos Laodicéia” (Ortodoxia
da Igreja, pgs 90,91).

Estas palavras de Watchman Nee esclarecem a condição daqueles que


viram Filadélfia, mas caíram. Neles se cumpriu a tragédia descrita em
Laodicéia. O Senhor levantou os Irmãos em 1827 e nos anos seguintes a
bênção veio sobre eles como uma avalanche. Infelizmente depois de vinte
anos o desastre aconteceu. Veio a primeira divisão e outras mais se
sucederam. O testemunho para o qual foram levantados foi perdido: o amor
fraternal. O perdão foi negado a determinados irmãos, e a autoridade do
Espírito Santo em cada localidade foi violentamente transgredida. A
autoridade delegada aos anciãos nas localidades foi pisada. Muitas verdades
que haviam sido ensinadas por homens de calibre espiritual foram
desrespeitadas e pisoteadas. Esse era um campo fértil para que Laodicéia
fosse semeada, o que lamentavelmente aconteceu.

Entretanto, depois dos Irmãos outros cristãos tiveram seus olhos


abertos para a verdade de Filadélfia. Existem grupos e mais grupos de irmãos
que anunciam a unidade da Igreja. Mas como está a condição interior e
exterior deles em cada localidade? Já vimos que exteriormente não existe
muita diferença entre Filadélfia e Laodicéia. É saudável e justo que cada um
que pensa estar no espírito de Filadélfia examine cuidadosamente se não está
vivendo no espírito de Laodicéia. Sua declaração prova se a soberba já se
instalou no testemunho. A questão é muito séria julgando pela declaração do
Senhor: “E não sabes que és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”. O
Senhor está a ponto de rejeitá-los e considerá-los indignos de escapar de
todas as coisas que virão.

6. O Conselho do Senhor - 3.18

“Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te


enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja
manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de
que vejas” – Ap 3.18

“Estas palavras indicam que Laodicéia está partindo do Reino do amado


Filho de Deus e cruzando a divisa para dentro do domínio das Trevas, de
modo que Ele não mais ordena a ela, como faria com Seus súditos, mas
apenas oferece um conselho. Realmente Laodicéia perdeu inteiramente o
hábito de obedecer ao Senhor e se voltou às tradições, e concílios, e ciência e
aos grandes homens e não mais à Palavra de Deus como sua única
autoridade” (Pember). No conselho do Senhor Ele indica três coisas
necessárias à restauração de Laodicéia: ouro purificado no fogo, vestes
brancas e colírio.

a. A Fé Provada Pelo Fogo

“Eu te aconselho que de mim compres ouro refinado no fogo” –


Ap 3.18a

O Senhor não está Se dirigindo aos pecadores perdidos e sim a uma de


Suas igrejas locais. Não se trata de beber de graça da água da vida, mas de
comprar. O ouro refinado deve ser comprado do Senhor e somente Ele o tem
para vender. Nas palavras de Pedro “ainda que agora por um pouco de tempo,
sendo necessário, estejais contristados por várias provações, para que a prova
da vossa fé mais preciosa que o ouro que perece, embora provado pelo fogo,
redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pd 1.6,7).
Laodicéia deve cessar com seu orgulho de ser rica e comprar ouro refinado
do Senhor, que é a fé que suporta provações e se torna mais pura quando
exposta aos efeitos do fogo. Os pobres deste mundo podem ser “ricos na fé e
herdeiros do reino que (o Senhor) prometeu aos que O amam” (Tg 2.5). É a
falta desse tipo de fé que a está arruinando; ela não pode agradar a Deus sem
fé, e não tem como depender Dele em todas as circunstâncias. O resultado é
sempre uma inclinação para os recursos deste mundo.

b. O Caráter de Cristo
“Eu te aconselho que de mim compres vestes brancas”
- Ap 3.18b

Em Sardes havia alguns que não haviam contaminado suas vestes e


como prêmio andariam de branco com o Senhor (Ap 3.4,5). Essa veste branca
deve ser comprada, portanto não é a conversão do pecador. Já vimos que ela
simboliza a conduta, o caráter e as obras justas dos crentes. A roupa da Noiva
do Cordeiro é “o linho fino, resplandecente e puro; pois o linho fino são as
obras justas dos santos” (Ap 19.8). Interiormente somos moldados na imagem
de Cristo pelo Espírito Santo (Rm 8.29); Gl 4.19), e exteriormente
manifestamos essa imagem em nosso caráter e conduta, simbolizados pelas
vestes brancas. A ausência do caráter de Cristo é como se o cristão estivesse
nu, e isso é vergonha.

c. A Revelação do Espírito Santo

“Eu te aconselho que de mim compres colírio, a fim de ungires os teus olhos,
para que vejas” - Ap 3.18c

O colírio aqui é a revelação do Espírito Santo e a revelação é recebida na


intuição do nosso espírito. Laodicéia se orgulhava de ser rica, de estar
enriquecida e de não ter falta de nada, mas não sabia que era pobre, e cega e
nua. Quantos cristãos vivem da doutrina morta estocada nas suas mentes, mas
sem nenhuma utilidade para o viver diário. Quantos conhecem
intelectualmente a Bíblia, mas nunca manifestam o tipo de vida que ela
anuncia. Quantos crentes vivem daquilo que ouviram dos outros e de passar
adiante a informação recebida. Eles raramente recebem algo diretamente do
Senhor. A Palavra escrita não se torna em Vida para eles. A solução para tal
dificuldade é o Colírio do Espírito Santo. Mas não podemos esquecer: a fé
provada no fogo, o caráter de Cristo e a unção do Espírito Santo devem ser
compradas do Senhor.

7. A Restauração é Possível – Ap 3.19-20

“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. Eis
que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei
em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” – Ap 3.19,20
Numa tal condição não é provável que Laodicéia possa ser restaurada,
mas quando o Senhor diz “arrepende-te” Ele indica a possibilidade de
restauração. É como se o Senhor dissesse: “Se vocês não me pertencem,
sigam seus caminhos. Mas se vocês me pertencem, preparem-se para a
disciplina”. O castigo será terrível sobre os que ficarem sobre a terra, e, por
isso, o Senhor em Sua misericórdia os exorta: “Sê, pois, zeloso, e arrepende-
te”. Graças a Deus, o tempo aceitável ainda não findou. Como sabemos? As
palavras “eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a
porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei e ele comigo” (Ap 3.20) nos
asseguram disso. Ele ainda está à porta! Ele deveria estar “no meio dos
Candeeiros de Ouro”, no meio dos que se reúnem para dentro do Seu nome,
mas em Laodicéia Ele está do lado de fora da porta. Ele está do lado de fora e
continua batendo, esperando que alguém ouça Sua voz, abra a porta e possa
cear com Ele.

Essa figura do nosso Senhor do lado de fora da porta da igreja em


Laodicéia nos lembra a experiência de Ezequiel em relação ao Templo de
Salomão. O profeta testemunhou a Glória do Senhor saindo da Sua Casa
pouco a pouco e indo pousar no Monte ao oriente da cidade. Ezequiel viu a
Glória do Senhor sair do Santo dos Santos, depois até à entrada da casa
(10.4), dali pousou sobre os Querubins, os quais a conduziram até à porta
oriental da Casa do Senhor (10.18,19) e finalmente do meio da cidade até o
monte ao oriente da cidade (11.23). O texto não diz, mas é bem possível que
a Glória do Senhor tenha esperado algum tempo ali. É como se o Senhor
estivesse à porta da Sua Casa, o Templo, esperando que o arrependimento
abrisse o caminho para Sua volta. Infelizmente em Laodicéia não existem
muitos que desejam cear com o Senhor, por isso Suas palavras são dirigidas a
indivíduos: “Se alguém”. Elas podem ser traduzidas também por “se algum
homem”, como nas versões inglesas. Laodicéia tem prazer em participar dos
banquetes com os que habitam sobre a terra. Como disse Tiago:
“Deliciosamente vivestes sobre a terra e vos deleitastes; engordastes vossos
corações no dia de matança” (Tg 5.5). Mas ao soar o fechamento dos Portais
do Reino sua indiferença será transformada em ansiedade ardente; eles
tremerão de pavor ao notar que a Hora do Julgamento chegou.
“Nestes dias de luxúria, muitos crentes, como a esposa no livro de
Cantares (5.2-6), deixaram seu trabalho de apascentar os rebanhos no deserto
e foram para a cidade do mundo. Eles estão dormindo folgadamente e
apaziguando suas consciência com a fraca desculpa: ‘Eu durmo, mas meu
coração vigia’; e assim permitem que o medo da menor inconveniência os
detenha de se levantarem para abrir a porta para seu Senhor, até que Sua mão
é vista através do buraco da porta, até que Ele manifeste Sua Presença por
meio do arrebatamento daqueles que esperam por Ele. Então os descuidados
despertam para a consciência; são feridos no coração com remorso e o
retorno do amor; se levantam do leito pecaminoso e se apressam em
destrancar a porta. Mas nenhuma Forma bela e gloriosa está esperando nas
trevas da noite; o Amado Se retirou e Se foi. Eles O buscam, mas não podem
achá-Lo; chamam por Ele, mas nenhuma resposta retorna através da
escuridão. Eles brincaram longamente com as advertências; o tempo
determinado chegou e eles se contorcem em angústia quando percebem que a
ameaça que fora negligenciada se realizou de forma repentina e implacável.
O Senhor bateu, mas eles não estavam preparados para abrir a Ele
imediatamente. Então Ele foi embora e os deixou sozinhos na meia noite da
desgraça” (G. H. Pember).

8. Promessa ao Vencedor

“Ao Vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo o meu trono, assim como também
eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o
que o Espírito diz às igrejas” – Ap 3.21,22

Para os de Laodicéia existe a possibilidade não apenas de


arrependimento, mas também de se tornarem Vencedores e a recompensa
será sentar com o Senhor no Seu trono. Se alguém dentre os mornos de
Laodicéia for tocado para sair dessa condição, antes que seja tarde demais, o
Senhor o fortalecerá para se tornar um Vencedor. Todos aqueles em
Laodicéia que permitirem que o Espírito Santo os torne novamente quentes
para o Senhor poderão sentar com Ele no Seu trono. “Muitos dizem que
dentre as promessas dadas aos vencedores nas Sete Igrejas, esta é a melhor.
Nas outras promessas aos vencedores o Senhor não disse nada sobre Si
mesmo, mas aqui Ele diz: ‘Se você vencer, você ceará comigo. Eu passei por
todos os tipos de vitórias, por isso estou sentado no trono com meu Pai. Você
também deve vencer para poder sentar comigo em meu trono’. O vencedor
aqui tem uma promessa extremamente elevada” (W. Nee, Ortodoxia da
Igreja, pg 96).

Conclusão

Aqui concluímos nossa meditação sobre Laodicéia. Ela representa o


espírito de soberba que pode se instalar no coração dos que viram Filadélfia,
nos mostra a importância de uma fé viva, provada pelo fogo, da conduta que
manifesta o caráter de Cristo e da unção do Espírito que nos leva para dentro
de toda a verdade. Seu próprio nome, opinião do povo, indica a necessidade
de ordem na igreja. Não é a maioria que decide as questões espirituais, e sim
aqueles que Deus estabeleceu na igreja como Suas autoridades delegadas. A
opinião da maioria geralmente não manifesta a vontade do Senhor. O ditado
popular “a voz do povo é a voz de Deus” é inteiramente falso. Se o nosso
desejo é ver o Senhor Jesus entronizado na Igreja, precisamos rejeitar os
ensinamentos humanos e buscar a vida de realidade espiritual. O ouro
refinado no fogo (fé viva), as vestes brancas (caráter de Cristo) e o colírio
(revelação do Espírito) não são concedidos de graça; eles têm um preço para
serem adquiridos. Que o Senhor tenha misericórdia de nós! Amém.
O PERÍODO DA IGREJA
E OS PRIMEIROS QUATRO SELOS
Capítulo 6.1-8

O Primeiro Selo: Cavalo Branco


“Cristo e o Evangelho”
“O Evangelho, o Poder de Deus” – Rm 1.16

O Segundo Selo: Cavalo Vermelho


“Guerras e Rumores de Guerra” - Mt 24.6

O Terceiro Selo: Cavalo Preto


“E Haverá Fomes” - Mt 24.7

O Quarto Selo: Cavalo Amarelo


“Espada, Fome, Peste e Feras da Terra”
“E haverá grandes terremotos e pestes e fomes”
- Lc 21.10,11

O capítulo seis do Apocalipse segue imediatamente a cena do capítulo


cinco que descreve a ascensão do Senhor Jesus. O Leão da Tribo de Judá é
digno de tomar o Livro e de abrir os seus Selos. Depois de chegar ao Terceiro
Céu, ao Trono de Deus, o Senhor Jesus enviou o Espírito Santo no Dia de
Pentecostes e a Igreja nasceu. Lucas registrou em Atos que nosso Senhor
passou quarenta dias na terra depois da Sua ressurreição (1.3), e após isso os
discípulos estiveram reunidos no Cenáculo durante dez dias (1.13), pois a
Festa de Pentecostes acontecia cinqüenta dias depois da Festa das Primícias
(Lv 23.15). As palavras de Paulo esclarecem o que aconteceu naquele dia:
“Pois em um só Espírito fomos todos batizados em um só corpo” (12.13).

O capítulo seis registra a abertura de seis Selos. Eles já tiveram


cumprimento, estão no processo de cumprimento ou ainda aguardam
cumprimento? A interpretação mais popular ensina que a Grande Tribulação
começa com o Primeiro Selo, portanto, é algo futuro. Todavia, existe uma
forte indicação de que pelo menos os quatro primeiros selos já foram abertos.
No capítulo cinco foi declarado: “Quem é digno de abrir o Livro e de romper
os seus selos?” (v.2), e no versículo sete vemos que o Cordeiro já tomou o
Livro. Será que Ele vai ter que esperar dois mil anos antes de abrir os Sete
Selos? Naturalmente que não! Porque no quinto Selo há uma indicação de
que a dispensação da graça findou e a dispensação da justiça foi introduzida.
Mas vamos comentar isso mais adiante. O que desejamos ver no momento é
se os Selos já foram abertos no todo ou em parte, ou se ainda aguardam
cumprimento.

“Na Bíblia o número sete é frequentemente dividido em quatro e três.


Três é o número de Deus e quatro o número da criação. O número quatro
seguido do número três indica que o homem se aproxima de Deus. A ordem
inversa (3 + 4) mostra a queda de uma posição correta para o nível inferior do
homem” (W. Nee). Os Sete Selos são divididos em quatro e três e as Sete
Igrejas em três e quatro. Isso indica que a igreja desceria gradativamente da
posição correta diante de Deus para uma posição anormal. Mas no caso dos
Sete Selos é o inverso: o nível humano vem primeiro (4) e em seguida o nível
Divino (3). Isso pode ser comprovado pela palavra “vem” encontrada nos
quatro primeiros Selos. O número sete na ordem de quatro e depois três
indica que o padrão de Deus será restaurado. Vejamos então o significado dos
quatro Selos.

1. Cavalo Branco – O Evangelho

“E vi quando o Cordeiro abriu um dos Sete Selos, e ouvi um dos quatro Seres
Viventes dizer numa voz como de trovão: Vem! Olhei, e eis um Cavalo
Branco; e o que estava montado nele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa,
e saiu vencendo, e para vencer” (Ap 6.1,2).

Existem várias interpretações para o Cavalo Branco: (i) O Anticristo; (ii)


Cristo; (iii) O Evangelho. A linguagem usada é sem dúvida imprópria para
descrever a carreira do Anticristo, pois ele não sai vencendo e para vencer.
Quanto aos outros dois pontos creio que eles concordam entre si, pois o
Evangelho não são as boas novas que os anjos trouxeram? E quais são as
boas novas? “Hoje, na cidade de Davi, vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o
Senhor” (Lc 2.11).

O Evangelho é a mensagem de Cristo como Salvador e Senhor (2Co 4.3-


5), e quando alguém aceita o Evangelho, ele aceita a Cristo. É interessante
observar que o cavaleiro tem apenas o arco; a flecha não é mencionada. Isso
pode ser uma indicação de que a flecha já havia sido lançada na terra, isto é, o
Evangelho para a conversão dos pecadores. Outra coisa significativa é que
esse cavaleiro recebe uma coroa e a coroa é usada por alguém que vai reinar.
Seria muito improvável que o Espírito Santo utilizasse tal figura para Se
referir ao Anticristo. Mas, se entendemos que o cavalo branco significa a
liberação do Evangelho, mostrado na flecha que foi atirada na terra, então
tudo se harmoniza.

Esse quadro apresentado se encaixa perfeitamente com outra figura do


Apocalipse: “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava
montado nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. Os
seus olhos eram como chama de fogo; sobre a sua cabeça havia muitos
diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.
Estava vestido de um manto salpicado de sangue; e o nome pelo qual se
chama é o Verbo de Deus. Da sua boca saia uma espada afiada para ferir com
ela as nações” (Ap 19.11-13;15). Aqui temos o mesmo cavalo branco, a coroa
substituída pelos diademas e o Arco sem Flecha substituído pela espada
afiada. Em vários outros lugares da Escritura encontramos essa figura da
espada simbolizando a Palavra de Deus: a espada do Espírito, que é a Palavra
de Deus (Ef 6.17) e a espada afiada de dois gumes (Hb 4.12). Hoje a Palavra
que procede da boca do Senhor é salvação, mas no tempo da guerra do
Armagedom ela será uma espada para ferir e não para curar e salvar.

2. Cavalo Vermelho - Guerra

“Quando ele abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizer: Vem! E
saiu outro cavalo, um cavalo vermelho; e ao que estava montado nele foi
dado que tirasse a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos
outros; e foi-lhe dada uma grande espada” (Ap 6.3,4).

O vermelho é a cor do sangue e tirar a paz sempre significa guerra. O


Senhor diz que com o início da pregação do Evangelho na terra, outra coisa
estaria acontecendo paralelamente até o fim da era da graça: guerra entre os
homens. O Segundo Selo nos diz que os homens vão se matar uns aos outros;
nada será realizado. O resultado é morte, destruição e aniquilamento.

3. Cavalo Preto - Fome

“Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: Vem! E
olhei, e eis um cavalo preto; e o que estava montado nele tinha uma balança
na mão. E ouvi como que uma voz no meio dos quatro Seres Viventes, que
dizia: Um queniz de trigo por um denário, e três quenizes de cevada por um
denário; e não danifiques o azeite e o vinho” (Ap 6.5,6).

O preto é a cor da fome (Lm 4.8,9). “Na Bíblia a venda do trigo e


da cevada é geralmente feita por medida; as balanças são usadas para
pesar coisas caras. Mas a balança é usada aqui para o trigo e a
cevada, indicando que cada grão é valorizado. ‘Uma medida de trigo
por um denário’ significa o salário de um dia de um trabalhador (Mt
20.2), quer dizer, o salário diário é para uma só pessoa” (W. Nee,
Come Lord Jesus, pg 73). Isso é sem dúvida, o resultado das guerras:
fome, escassez de alimentos. Durante os últimos dois mil anos a
guerra e a fome têm assolado os quatro cantos da terra. Em cada ano,
década ou século os números e a escala dessas tragédias têm sido
cada vez maiores, mostrando de forma inconfundível o cumprimento
do Terceiro Selo.

4. Cavalo Amarelo – A Morte e o Hades

“Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto Ser Vivente dizer: Vem! E
olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava montado nele chama-se
Morte; e o Hades seguia com ele; e foi-lhe dada autoridade sobre a Quarta
parte da terra, para matar com a espada, e com a fome, e com a peste, e com
as feras do campo” (6.7,8).
O termo “amarelo” (pálido) aqui é traduzido por “verde” em outras
passagens (Mc 6.39; Ap 8.7; 9.4). Verde é a cor da relva, das matas. Se
alguém manifesta tal cor em seu corpo, a indicação é de doença ou morte. Por
isso, quem está montado no cavalo Amarelo é a Morte e quem o segue é o
Hades. As pessoas quando morrem vão para o Hades e não para o inferno,
como muitos ensinam. O Lago de Fogo ainda não foi inaugurado, pois está
escrito que “a Morte e o Hades foram lançados no Lago de Fogo. Esta é a
Segunda morte, o Lago de Fogo” (Ap 20.14). O crente em Cristo quando
dorme (morre), vai para o Paraíso e ali aguarda o dia da ressurreição.

Por meio da espada do Cavalo Vermelho, da fome do Cavalo Preto e as


pestes e as feras da terra um quarto da população da terra será morta. Estas
quatro coisas estarão existindo durante todo o período da graça, ou, era da
igreja. As próprias palavras do Senhor Jesus em Mateus confirmam o que
estamos dizendo: “E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras;
porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá
fomes e terremotos em vários lugares; e este Evangelho do Reino será
pregado em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações, e então
virá o fim” (Mt 24.6,7,14).
Na medida em que nos aproximarmos do fim da era, a intensidade das
guerras, da fome, das pestes e das mortes se tornará cada vez maiores. O
Evangelho está sendo pregado há quase dois mil anos, as guerras são
contínuas, a fome atinge muitos povos no mundo, e as pestes assolam toda a
terra. Estas coisas sempre existiram, mas no último século do segundo
milênio elas aconteceram em números inacreditáveis, geralmente
desconhecidos da população mundial para evitar o pânico.

O ARREBATAMENTO

A era da Igreja termina com o arrebatamento dos Vencedores. Acabamos de


estudar a abertura dos quatro primeiros selos que foram abertos simultaneamente
quando o Senhor Jesus subiu ao céu. Isso significa que eles acompanham todo o
período da igreja. Já dissemos que o arrebatamento pode acontecer entre o Quarto
e o Quinto Selo, segundo o entendimento do irmão Stephen Kaung. No capítulo
seis que fala dos seis primeiros selos, não temos qualquer referência ao
arrebatamento. Já vimos também que alguns capítulos do Apocalipse estão fora da
ordem cronológica e o capítulo doze é um deles. Como já explicamos esse detalhe
antes, vamos apenas mencionar o fato. Antes de examinar esse capítulo que fala do
arrebatamento do Filho Varão (Ap 12), seria proveitoso se pudéssemos ver se
temos base no Novo Testamento para crer no arrebatamento parcial. Existem
condições para os cristãos serem arrebatados, ou todos, pelo fato de serem
convertidos serão arrebatados? Entendemos que o arrebatamento será pelo menos
em duas etapas: uma antes do início da Grande Tribulação e outro bem no final
dela. Como base para esse ponto de vista, vamos examinar três textos que indicam
fortemente a verdade do arrebatamento condicional e parcial.
Capítulo 1
O ARREBATAMENTO É CONDICIONAL?

“Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração
fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das
preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós
repentinamente, como um laço. Pois há de sobrevir a todos os que vivem sobre
toda a face da terra. Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar
de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do
Homem” – Lucas 21.34-36

1. Vigiar Para Escapar

Observe que estas palavras são dirigidas aos discípulos e não aos de
fora. A ordem é: “Acautelai-vos por vós mesmos”. É responsabilidade
individual. O Senhor Jesus menciona três coisas que podem prejudicar o
preparo do crente para o arrebatamento: (1) O coração sobrecarregado com as
conseqüências da orgia; (2) da embriaguez; (3) das preocupações deste
mundo. As duas primeiras são mais raras de serem encontradas nas vidas dos
crentes, mas a terceira atinge a todos. A expressão “as preocupações deste
mundo”, também traduzida por “cuidados do mundo” (Mt 13.22; Mc 4.19),
“cuidados, riquezas e deleites da vida” (Lc 8.14) foram mencionados pelo
Senhor na parábola do Semeador. Ele disse que os cuidados da vida são como
os espinhos que sufocam a semente e simbolizam o mundo. A orgia e a
embriaguez são taxativamente pecados da carne, mas os cuidados da vida
não. As obrigações de cada dia relacionadas com o comer, vestir, dormir,
trabalhar, estudar e outros são coisas lícitas. A dificuldade surge quando elas
se tornam em “preocupações” e cargas sobre nós. Foi nesse sentido que o
Senhor nos advertiu dizendo: “Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela
vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo,
quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o
corpo, mais do que as vestes?” (Mt 6.25). Ele conclui Sua instrução sobre
esse assunto dizendo: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino e a sua
justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (6.33).

O vigiar em oração todo o tempo tem a ver com “aquele dia” que há de
vir repentinamente como um laço, ou, armadilha. Essa expressão aponta sem
sombra de dúvida para a Grande Tribulação a qual virá sobre todos os que
vivem sobre a face de toda a terra. Certamente é uma referência ao domínio
mundial do Anticristo. Da promessa e da advertência nasce a ordem
inevitável: “Vigiai em todo o tempo, orando, a fim de que possais escapar”: a
mesma expressão para “possais escapar” foi traduzida por “ser considerados
dignos” em Lucas 20.35, e isso dá outro sentido a esse versículo. (“Escapar”
aparece também em At 16.27; 19.16; Rm 2.3; 2Co 11.33; 1Tess 5.3; Hb 2.3).
A promessa é uma remoção do lugar de perigo e não segurança no meio dele
ou mesmo de força para suportar. “De todas estas coisas que têm de suceder”:
a Grande Tribulação é o contexto imediato; “E estar de pé na presença do
Filho do homem” (Lc 21.36). Estar de pé indica “ser estabelecido ou
colocado, isto é, trasladado por mãos de anjos e não através do escuro túnel
da morte (Lc 16.22) ao Paraíso, mas por cima da ponte de ouro do
arrebatamento na Parousia” (Dean Alford). “Não se diz que aquele que vigia
escapará dos perigos espirituais daqueles dias; o escape é ‘de todas estas
coisas’ (Lang)”. Tal ordem para vigiar não teria sentido se é que todos os
crentes vão estar preparados e serão arrebatados pelo fato de serem salvos.

O que é ser digno? É ter merecimento. Mas não é o merecimento de


Cristo a nós imputado pela fé. Se assim for, orar por algo que já temos é
incredulidade. Todavia na questão do arrebatamento precisamos orar e orar
sempre até o fim. Todavia não se trata de perfeição sem pecado; as primícias,
figura dos que são arrebatados primeiro, eram oferecidas com fermento (Lv
23.17). O merecimento e a santificação aqui são relativos, pois Cristo é o
único que tem merecimento absoluto. É uma medida de santificação só
conhecida diante de Deus. “Para que possais prevalecer (ter sucesso - Lydell
e Scott) para escapar”. Para que na batalha longa e árdua ‘possamos
conquistar, prevalecer sobre’ o mundo, a carne e o diabo, para alcançar o
santo arrebatamento de Deus. É uma vigilância e uma petição que devem ser
contínuas, até que a convocação real nos remova fisicamente da zona de
perigo.
2. Guardados da Hora da Provação

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, eu também te


guardarei da hora da provação que há de vir sobre toda a terra, para provar
os que habitam sobre a terra” – Ap 3.10

O que significa “guardaste a palavra da minha perseverança” (Ap 3.10)?


“A história inteira da rejeição do Senhor Jesus pelo mundo está envolvida
nesta palavra. Todos os Seus direitos lhe foram negados aqui e Ele está
sentado à direita de Deus até que Seus inimigos sejam colocados como
estrado dos Seus pés. Ele está esperando pacientemente para ter Seus direitos
e glória em outro dia e Seus santos em Filadélfia são assinalados por guardar
o testemunho da Sua paciência. Eles não vão reinar como reis onde Ele é
desprezado e rejeitado. Eles deixam a política do mundo para aqueles que
pertencem ao mundo. Eles aguardam Aquele que colocará de lado todo o
sistema político atual do mundo pelo Seu próprio poder e reino no tempo
devido” (C. A. Coates).

Muitos perguntam: a igreja passará pela Grande Tribulação? “Eu te


guardarei da hora”. Um escape total daquela hora de terror é possível a todo
filho de Deus, todavia a promessa é condicional. Todos os que estão na
posição espiritual de Filadélfia recebem a certeza de livramento total. “Pedro
foi preservado na prova (Lc 22.32), mas a promessa aqui é livramento da
prova. No grego ‘ek’ quer dizer ‘para fora de’ (Lange)”. “Porque guardaste -
eu também” expressa reciprocidade (Dean Alford). “Cristo guarda os que
guardam” (Trench).

“Da hora da provação que há de vir sobre toda a terra”. A “provação” aqui
aponta para a Grande Tribulação, o único juízo de Deus desde o Dilúvio para
esmagar a terra toda de uma só vez. O Anticristo estenderá o seu domínio por
todo o mundo por três anos e meio. Será a ‘meia noite’ da terra. Esse período
é chamado aqui de “a hora da provação” e a promessa do Senhor não é de
proteção dentro da provação, mas de livramento para fora dela.

“Para provar todos os que habitam sobre a terra”. Os que habitam sobre a
terra irão aprender por meio de experiências terríveis a instabilidade de tudo
aqui. As coisas nas quais confiam e lhes dá estabilidade serão destruídas.
Todo filho de Deus deve viver neste mundo como um pé de mostarda. A
mostarda é uma hortaliça e para sua sobrevivência só depende da terra o
necessário. Mas uma anomalia pode acontecer: a hortaliça pode virar uma
árvore (Mt 13.31,32). Arrancar uma árvore do solo não é tão fácil como
arrancar um pé de mostarda. A árvore lança suas raízes profundamente na
terra e isso é a figura do filho de Deus que vive sufocado pelos espinhos deste
mundo (Mt 13.22). O cristão é comparado com o trigo (Mt 13.24,25) e da
forma como o trigo amadurece deve acontecer com ele. O trigo amadure na
parte superior, mas na raiz ele seca. Em outras palavras, não podemos
amadurecer para o céu, sem secar para este mundo. Habitamos “no
esconderijo do Altíssimo” (Sl 91)? Vivemos a realidade de termos sido
“ressuscitados juntamente com Cristo” (Col 3.1) e de que estamos
“assentados nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 2.6)? Que o Senhor possa
nos livrar de sermos contados com “aqueles que habitam sobre a terra”!

Nosso Senhor também disse que Filadélfia tem “pouca força” (Ap 3.8),
mas esse pouco é suficiente para alcançar o livramento através do
arrebatamento. Nossa conduta é fundamental se desejamos ser levados.
“Porquanto se não vigiares”, esse é o ponto crucial, “virei como ladrão”,
quando só os que vigiam nas horas da noite tomam conhecimento, “e não
saberás de modo algum em que hora virei contra ti” (Ap 3.3), foi a
advertência do Senhor à igreja em Sardes.

“Deus não nos destinou para a ira” (1Tess 5.9), é verdade, mas se o sal
perder o seu sabor ele será pisado pelos homens. O sal sem sabor é colocado
de volta no mundo por todo o tempo que for necessário, assim como Judá e
Benjamim foram enviados para a Babilônia por setenta anos para que fossem
curadas da idolatria. O motivo do cativeiro foi a idolatria, mas o próprio
cativeiro trouxe a cura para a doença. Todos os crentes que desfrutam do
pecado e dos prazeres do mundo também estão sujeitos aos julgamentos que
virão sobre ele. A mulher de Ló tinha o seu coração preso aos prazeres de
Sodoma e por isso sua obediência foi incompleta. O juízo sobre os pecados
da cidade caiu também sobre ela, mas por ser uma pessoa regenerada o
Senhor a transformou numa coluna de sal. Coluna na Bíblia simboliza
testemunho e por isso creio que mesmo tendo perdido o sabor por meio do
contato com Sodoma, um dia ela seria restaurada em seu testemunho.

“O arrebatamento é o primeiro ato do Senhor como o Justo Juiz (2Tm 4.8)


e o julgamento começa com a igreja (1Pd 4.17). O arrebatamento é um ato de
juízo e um sinal de que a terra se tornou um lugar inseguro para os salvos. É
um lembrete silencioso e invisível a um mundo pecaminoso, de que a ira de
Deus está chegando. É a chamada dos embaixadores de Deus quando a guerra é
declarada. É o preparo para o combate antes que Deus varra o mundo com Sua
artilharia. ‘Apressa-te e escapa’, disse o anjo a Ló, ‘pois nada posso fazer até
que saias’ (Gn 19.22)” (Panton).

3. Afastar Envergonhados

“E agora filhinhos, permanecei Nele, para que quando Ele se manifestar,


tenhamos confiança e não nos afastemos envergonhados Dele em Sua vinda”
(1Jo 2.28).

Essas palavras são por demais claras a respeito do que estamos falando.
João está se dirigindo aos irmãos e os chama de “filhinhos”, termos que ele
não usaria para se referir àqueles que não conhecem a Deus. Ele nos adverte
dizendo que devemos permanecer em Cristo, e a palavra permanecer significa
também “fazer morada”. Precisamos ter uma vida de comunhão íntima e
constante com nosso Senhor, se desejamos estar preparados para o
arrebatamento. Se deixarmos que os prazeres, pecados e cuidados desse
mundo sobrecarreguem o nosso coração, não teremos “confiança” e na vinda
(parousia) do Senhor nos afastaremos “envergonhados Dele”. Numa outra
versão lemos assim: “Sim, meus filhinhos, continuem unidos com Cristo,
para que possamos estar cheios de coragem no dia em que Ele vier. Assim
não precisaremos ficar com vergonha e nos esconder Dele naquele dia” (1Jo
2.28-NTLH).

Podemos ter certeza de sermos arrebatados? De modo algum. É


saudável termos uma posição como a de Paulo: “Não julgo a mim mesmo;
embora em nada me sinta culpado, nem por isso sou justificado, pois quem
me julga é o Senhor” (1Co 4.5). Proclamar que já pertencemos a um grupo
seleto que será levado primeiro é transgredir a própria lei do arrebatamento.
Perguntei a um dos homens mais espirituais que conheço se ele tinha certeza
de ser arrebatado e sua resposta foi: “Eu espero; eu espero”. O cristão que
estiver preparado para o arrebatamento manifestará um espírito humilde, e
quem é humilde não olha para si mesmo. Portanto, tiremos os olhos de nós e
os fixemos Naquele que é o Iniciador e o Consumador da fé (Hb 12.2). Ser
nascido de novo é bastante para termos a “plena certeza da fé” (Hb 10.22),
mas somente uma vida piedosa “até o fim” pode produzir a “plena certeza da
esperança” (Hb 6.11).
Capítulo 2
O ARREBATAMENTO DO FILHO VARÃO
Ap 12.1-12

Foi dito ao apóstolo João: “É necessário que profetizes de novo a


respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10.11). A Sétima
Trombeta foi mencionada no capítulo 10, mas ela só aparece no capítulo 11;
por isso, entendemos que o “profetizar de novo” inicia no capítulo 12. Nas
palavras de Scofield “João aqui recebe esclarecimentos de que vai recapitular
com maiores detalhes aqueles acontecimentos até agora expostos” (Bíblia
Anotada, pg 1292). “A primeira parte (6 a 11) dá o esboço na ordem,
enquanto que a segunda (12 a 22) fornece os detalhes” (W. Nee, Come Lord
Jesus, pg 127). Quando examinamos os quatro primeiros selos mencionamos
que o arrebatamento deve acontecer entre o quarto e o quinto selo. Porém, no
capítulo 6 não encontramos nenhuma referencia a esse arrebatamento. Se
considerarmos as palavras de Scofield e Watchman Nee de que os detalhes
são dados a partir do capítulo 12, então a colocação do capítulo 12 entre o
quarto e o quinto selo não deve ser difícil de ver e aceitar. Vejamos então os
detalhes desse arrebatamento mencionado em Apocalipse 12.

I. DESCRIÇÃO DO ARREBATAMENTO – Ap 12.1-12

Nesse capítulo encontramos vários personagens: a Mulher (v.1), o


dragão grande e vermelho, também chamado de antiga serpente, Diabo e
Satanás (vs.3,9), o Filho Varão (v.5), Miguel e seus anjos (v.7) e os
descendentes da Mulher (v.17). Alguns são identificados pelo próprio nome
com que são mencionados: o dragão é uma figura, mas depois é também
chamado de Diabo e Satanás (v.9). Miguel e seus anjos por não serem
simbólicos não podem ser interpretados. Miguel é literal e os seus anjos
também; Satanás é literal e do mesmo modo os seus anjos. Mas, em se
tratando da Mulher, do Filho Varão e dos descendentes da Mulher, estes
sim, são simbólicos e precisam ser interpretados. Por se tratar de símbolos
não podemos ser dogmáticos e inflexíveis em nosso ponto de vista, e diante
do Senhor estamos sempre abertos para receber Dele uma nova luz. Com
esse espírito desejamos examinar os doze primeiros versículos que abordam
a cena do arrebatamento do Filho Varão. Que o Senhor nos guie por Sua
Coluna de Nuvem e de Fogo!
1. Um Grande Sinal no Céu

“Viu-se grande sinal no céu” – Ap 12.1

João diz que é um sinal e aqui ele usa o termo “semeion” pela
primeira vez no Apocalipse. Esse mesmo termo ele usou para se referir
aos milagres de Jesus registrados em seu evangelho. A palavra
“semeion” indica uma figura, um símbolo de outra coisa. Quer dizer, a
Mulher aqui não é literal; ela simboliza algo que é digno de
contemplação. Ele diz também que é um “grande” sinal, isto é, aquilo
que a Mulher simboliza. É algo grande, notável, importante. O quadro
no todo é maravilhoso e extraordinário e nos leva a pensar em algo da
maior excelência.

2. A Mulher : Maria, Israel?

“Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua
debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça” – Ap 12.1

Existem várias interpretações para essa Mulher: ela representa a nação


de Israel, ou Maria, mãe de Jesus ou a cidade de Jerusalém. As duas correntes
mais populares ensinam que se trata de Israel ou Maria. Não cremos ser este
o significado dessa Mulher pelos seguintes motivos:

a. As palavras usadas para descrever a Mulher são por demais gloriosas para
serem aplicadas a Maria. Em que sentido Maria foi vestida do sol ou teve a
lua debaixo dos pés? Quando ela foi vista no céu e na terra ao mesmo tempo?
E que coroa seria esta com doze estrelas? Não precisamos de muito esforço
para concluir que esta é uma linguagem inteiramente inadequada para
descrever a humilde mãe do Salvador. Além do mais, onde foi registrado que
Maria foi perseguida pelo dragão depois que Jesus nasceu ou foi assunto ao
céu?
b. O mesmo argumento deve ser aplicado caso a Mulher seja interpretada
como sendo a nação de Israel. Em que sentido o povo de Israel estava vestido
do sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na
cabeça? Israel nunca ocupou tal posição em seu relacionamento dom Deus. E
além do mais, essa descrição é inconsistente com os fatos que cercaram o
nascimento de Jesus e o Seu arrebatamento. Quando Jesus nasceu o povo de
Israel estava espiritualmente desolado e durante todo o Seu ministério os
sacerdotes, escribas e fariseus O perseguiram e finalmente O rejeitaram para
ser crucificado. Ele foi trocado por Barrabás! Como o Espírito Santo poderia
descrever Israel dessa forma acima? “Ele veio para o que era Seu, e os Seus
não O receberam” (Jo 1.11).

3. Quem é a Mulher?

A mulher é vista no céu (12.1) e depois na terra (12.6, 13-16). Vista no


céu ela é mais abrangente do que quando vista na terra. No nível do céu ela
está “vestida do sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas
na cabeça”. Essa tríplice descrição pode nos ajudar a entender mais
claramente quem é essa Mulher. O sol é maior e mais glorioso do que a lua,
assim nos ensina a própria criação. A luz exibida pela lua não é própria, mas
recebida do sol. Aqui o sol e a lua estão relacionados com a Mulher, mas a
lua está numa posição inferior ao sol. Ela está vestida do sol e tem a lua
debaixo dos pés.

a. O Sol

Se quisermos saber quem é o sol que veste a Mulher, a melhor interpretação é


fornecida pela própria Escritura: “Mas para vós outros que temeis o meu
nome nascerá o Sol da Justiça, trazendo salvação nas Suas asas” (Ml 4.2).
Quase todos os intérpretes concordam que o Sol é Cristo; sendo assim,
podemos dizer que a Mulher está vestida de Cristo. Deus planejou manifestar
Seu Filho aos homens de forma plena, mas isso só seria possível através da
Sua graça. No registro das Escrituras as primeiras pessoas que provaram a
graça de Deus foram Adão e Eva. Basta lembrar que depois da desobediência
os dois “coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si” (Gn 3.7). Mas
depois lemos que “o Senhor Deus fez vestimenta de peles para Adão e sua
mulher e os vestiu” (3.21). Essa foi a primeira pregação do evangelho: Deus
mesmo preparou a vestimenta para o casal sacrificando uma ovelha. Essa
verdade repassada aos filhos Caim e Abel, foi aceita por um e rejeitada por
outro. Abel conheceu a graça de Deus e se tornou um criador de ovelhas
(4.2), mas naquela ocasião não era permitido comer carne. Isso só aconteceu
depois do Dilúvio (9.3,4). Ele criava ovelhas para oferecer sacrifícios a Deus.

Não apenas Abel, mas os outros onze Patriarcas provaram a maravilhosa


graça de Deus. Essa graça foi conhecida também das Doze Tribos de Israel.
Durante séculos eles aprenderam que “sem derramamento de sangue não há
remissão” (Hb 9.22). Depois veio o tempo do Cordeiro de Deus vir ao mundo
e o Seu precursor, João Batista, assim o anunciou: “Eis o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Como um Cordeiro imaculado Ele foi
levado à cruz, depois ressuscitou e subiu ao céu. No dia de Pentecostes o
Espírito Santo veio e batizou os cento e vinte discípulos em um corpo (1Co
12.12,13). Esse processo de revestir a Mulher com o Sol, isto é, Cristo,
aconteceu em etapas: primeiro os doze Patriarcas, depois as Doze Tribos de
Israel e finalmente a Igreja.

b. A Lua

A Lua tem sua importância, mas nessa ocasião a gloriosa manifestação


do Sol revestindo a Mulher alcançou seu ápice, por isso ela é vista debaixo
dos pés da Mulher. É bem provável que o significado da Lua seja a Lei
Mosaica. Ela manifestava a luz do Sol, como Paulo disse: “A Lei nos serviu
de ama para nos conduzir a Cristo” (Gl 3.24) e “a Lei tem sombra dos bens
vindouros, não a imagem real das coisas” (Hb 10.1). O Sol, Cristo, é a
realidade que projetava Sua sombra no período da Lei.

c. O Significado do Número Doze

As Doze Estrelas na coroa podem nos fornecer a chave para uma


interpretação segura de quem seja a Mulher. “Doze é o número que indica
permanência. O número sete representa a perfeição temporária ou dispensacional
e o número doze a perfeição permanente. O número sete é composto de 4
(homem) adicionado ao número 3 (Deus); o que é criado e o Criador juntos. O
número doze é o quatro multiplicado por três e portanto, indica o ser criado unido
ao Criador. O sete mostra Deus e o homem juntos, mas o doze mostra como Deus
concede graça ao homem a fim de que ele seja unido a Ele. O sete indica o
contato do que é criado com o Criador; sim, é perfeito, mas apenas temporário. O
doze, porém, manifesta a união do que é criado com o Criador, por isso não é
apenas perfeito, mas também permanente. Precisamos entender que os números
sete e doze procedem dos mesmos numerais (3 e 4). Todavia, o sete são os dois
numerais juntos, enquanto que o doze é a multiplicação dos dois. A adição é
colocar junto e a multiplicação é unir, tornando os dois um. Assim, o significado
da multiplicação é mais profundo do que o da adição” (W. Nee – Aids to
Revelation, pg 70).

d. Doze: Patriarcas, Tribos e Apóstolos

O número doze nos fala da união de Deus e o homem por meio da


regeneração. Creio que nesse fato temos a chave para uma interpretação
equilibrada de quem seja a Mulher nesse capítulo doze. O livro de Gênesis
traz o registro de doze homens conhecidos como “patriarcas” que viveram
antes do Dilúvio: Sete, Enos, Cainã, Maalalel, Jarede, Enoque, Matusalém,
Lameque, Noé, Sem, Cam e Jafé (Gn 5.4-32). Dos filhos de Jacó foram
levantadas as Doze Tribos de Israel (Nm 2), com quem Deus fez a aliança da
Lei no Sinai. Com a vinda de Cristo a era da Lei terminou e a era da Graça
foi introduzida (Jo 1.17) e com ela o nascimento da Igreja, da qual os Doze
Apóstolos do Cordeiro são os representantes: “A uns estabeleceu Deus na
Igreja primeiramente apóstolos” (1Co 12.28ª); “Os nomes dos doze apóstolos
do Cordeiro” (Ap 21.14).

e. O Sistema da Graça

As Doze Estrelas na coroa sobre a cabeça da Mulher indicam que os


Doze Patriarcas, as Doze Tribos de Israel e os Doze Apóstolos do Cordeiro
estão incluídos nela. Se levarmos em conta o significado do número doze, a
luz se torna ainda mais clara, pois esse é o número que testemunha da união
espiritual de Deus e o homem. Essa união do pecador com o Criador só é
possível por causa da graça de Deus: “Pela graça sois salvos, por meio da fé”
(Ef 2.8). Lembrando que “o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo”
(Ap 13.8), a identificação da Mulher fica mais nítida, pois ela inclui o período
dos Patriarcas, da Lei e da Igreja. A graça de Deus manifestada na morte do
Cordeiro foi conhecida e provada pelos Patriarcas, por Israel e pela Igreja.
Diante desses fatos podemos sugerir que a Mulher simboliza o sistema da
graça de Deus.
f. A Jerusalém de Cima: Nossa Mãe
Creio que os fatos acima apresentados formam uma base sólida para
aceitarmos a Mulher simbolizando o sistema da graça de Deus. Quanto a isso
podemos acrescentar um outro ponto que fortalece ainda mais essa
interpretação: “Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher
escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre,
mediante a promessa. Estas coisas são alegóricas, porque estas mulheres são
duas alianças: uma, na verdade, se refere ao Monte Sinai, que gera para a
escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o Monte Sinai, na Arábia, e corresponde
à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos” (Gl 4.22-25).
Aqui cabe uma pergunta: Por que Sara vem antes de Agar, sendo que a Lei
(Agar) veio antes da Graça (Sara)? Porque na verdade a Graça veio antes da
Lei. Está escrito que “Deus preanunciou o evangelho a Abraão” (Gl 3.8). A
aliança da Promessa que Deus fez com Abraão aconteceu antes da aliança da
Lei. Israel recusou ser tratado por Deus em graça e se colocou
voluntariamente debaixo das exigências da Lei. Isso explica a razão de Sara
estar ligada a Abraão antes de Agar surgir. A atitude de Sara ao oferecer Agar
para dela Abraão gerar um filho é a figura de Israel rejeitando a aliança da
Promessa, ou, da graça de Deus. Isaque era o filho da “promessa” e Ismael
era o filho da “carne” (Gl 4.23).
g. Sara e a Jerusalém de Cima
A escrava Agar, figura da Lei gera um filho também escravo; Sara é
livre e, portanto, gera um filho livre. Paulo faz essa comparação entre Agar e
o Monte Sinai onde a Lei foi dada e declara que o Sinai gera para a
escravidão. O interessante é que o nome de Sara desaparece na comparação e
o apóstolo usa outra figura de linguagem: “Mas a Jerusalém lá de cima é
livre, a qual é nossa mãe” (Gl 4.26). Sem sombra de dúvida essa expressão
tomou o lugar do nome de Sara. Sara é livre e gera filhos livres; a Jerusalém
lá de cima é livre e gera filhos livres. E essa Jerusalém é a nossa mãe! Agora
podemos perguntar novamente e responder com razoável segurança: Quem é
a Mulher do capítulo 12? É a nossa Mãe, a Graça de Deus, que abriga em seu
seio todos os homens e mulheres que foram redimidos pelo Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo!
h. A Jerusalém de Cima e a Nova Jerusalém
O dia se aproxima quando “a Nova Jerusalém” descerá do céu, da parte de
Deus, “ataviada como Noiva adornada para o seu Esposo” (Ap 21.2); ela é “a
santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória
de Deus” (21.10). Nessa ocasião as Doze Estrelas serão transformadas nos Doze
Fundamentos e nas Doze Portas da Nova Jerusalém (Ap 21.12,14). Nas Portas
estarão escritos os nomes das Doze Tribos dos filhos de Israel e nos Fundamentos
os nomes dos Doze Apóstolos do Cordeiro. Assim será concluído o propósito de
Deus para Sua criação. Os salvos, como pedras preciosas, formarão a Nova
Jerusalém, a Noiva do Cordeiro, que testemunhará da Graça de Deus nas eras
vindouras: “Para mostrar nas eras vindouras, a suprema riqueza da Sua graça, em
bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2.7).

4. Dores de Parto

“Que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos


para dar a luz” – Ap 12.2
Entendemos que a Mulher simboliza o sistema da graça de Deus, a
Jerusalém lá de cima, a qual é nossa mãe, e nela estão incluídos todos os
salvos da era Patriarcal, da Lei e da Igreja. Nesse tempo presente ela não tem
como se manifestar a não ser através da Igreja, porque os Patriarcas passaram
e a nação de Israel continua endurecida. Portanto, essas dores de parto se
manifestarão na parte da Mulher em existência hoje: a Igreja. Voltaremos a
tocar nesse ponto quando chegarmos ao Filho Varão.

a. Dores de Parto: Fim de Um Período

“Na visão João vê uma mulher com dores de parto. De acordo com a
figura uma mulher pode ter ou não problemas durante a gestação, mas por
pior que seja a dificuldade, ela não pode ser chamada de dores de parto. São
as dores que vão e voltam num curto espaço de tempo que caracteriza e
conclui esse momento e anuncia o nascimento. Portanto, seria insensato
aplicar essa figura da mulher com dores de parto aos longos períodos da
história da igreja. Certamente aqui temos algo relacionado com o fim da era
da Igreja” (G. H. Lang). A própria Escritura confirma essa idéia: “Sobrevirá
repentina destruição, como as dores de parto sobrevêm àquela que está
grávida” (1Tess 5.3).

b. Dores de Parto: Igreja, Israel, Gentios

Nesse contexto gostaria de lembrar que o Novo Testamento menciona a


expressão “dores de parto” em pelo menos mais três passagens. A primeira
delas tem a ver com o sofrimento dos servos de Deus que trabalham para ver
“Cristo formado” nos irmãos: “Filhinhos, por quem sinto de novo as dores de
parto, até Cristo ser formado em vós” (Gl 4.19). Creio que esse texto está
intimamente ligado com as dores de parto da Mulher (Ap 12.2). Vamos falar
mais sobre isso quando chegarmos ao Filho Varão. As outras duas passagens
deixam claro que o plano completo de Deus inclui os Gentios e os Judeus e a
Igreja. Antes de Abraão ser chamado, Deus disse a Noé que se alguém
matasse o seu semelhante, Ele requereria o sangue da mão do seu “irmão”
(Gn 9.5 – Hebraico). Nessa ocasião não havia qualquer separação entre os
homens, mas com a chamada de Abraão aconteceu a primeira separação.
Seus descendentes foram conhecidos como Israel. No dia de Pentecostes a
Igreja nasceu e outra divisão foi estabelecida na humanidade. Paulo disse que
não devemos nos tornar causa de tropeço “nem para judeus, nem para
gentios, nem tampouco para a igreja de Deus” (1Co 10.32). Hoje a
humanidade é dividida nesses três grupos: Judeus, Gentios e a Igreja. Todo
aquele que não é Judeu é Gentio. Quando um Gentio ou um Judeu crê no
Senhor ele se torna “igreja” (Gl 3.28; Col 3.11).

Por que estamos dizendo isso? Porque para muitos cristãos, Deus
colocou um fim na nação de Israel. Eles rejeitaram seu Messias, Jesus, e no
ano 70 d.C. o Templo foi destruído e a nação espalhada entre as nações. Tudo
isso é verdade, mas que Deus tenha acabado Seus tratos com Israel é o oposto
do que encontramos nas Escrituras. Por essa razão acredito que seria
importante verificarmos as três passagens que mencionam as dores de parto,
porque elas têm a ver exatamente com o plano de Deus relacionado com o
Israel, os Gentios e a Igreja.

* As Dores de Parto da Igreja: “Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma


Mulher que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo
tormentos para dar a luz” – Ap 12.1,2. Como já falamos sobre ela acima,
vamos considerar apenas as outras duas passagens.

*As Dores de Parto de Israel: “Porém, tudo isso é o princípio das dores (de
parto)” – Mt 24.8.

* As Dores de Parto dos Gentios: “Porque sabemos que toda a criação, a um


só tempo, geme e suporta dores de parto até agora” – Rm 8.22.

Nas quatro passagens citadas a palavra grega usada é “udinon”, e por


isso, em todas elas a tradução correta deve ser “dores de parto”. A idéia
transmitida por essa expressão é de que algo vai nascer. Na vida natural as
dores de parto nas mulheres é o anúncio de que o bebê vai nascer; no mundo
espiritual também é um aviso de que Deus vai fazer nascer algo. Isso indica
que as dores de parto serão sentidas pela nação de Israel, pela criação
inanimada, mas principalmente pelas pessoas, os Gentios e também pela
Igreja. Os cristãos têm aprendido que depois do Arrebatamento não haverá
mais oportunidade para arrependimento. A era da graça findará e depois da
grande tribulação virá o juízo final. Como não é nosso propósito tratar desse
assunto aqui, vamos citar apenas um texto que contraria inteiramente esse
tipo de ensinamento:

“Depois que eles terminaram (Barnabé e Paulo), falou Tiago, dizendo:


Irmãos! Atentai nas minhas palavras: expôs Simão (Pedro) como Deus,
primeiramente, visitou os Gentios, a fim de constituir dentre eles um povo
para o Seu nome. Confere com isto as palavras dos profetas, como está
escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o Tabernáculo caído
de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais
homens busquem o Senhor, e também todos os Gentios sobre os quais tem
sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas
desde séculos (eras)” (At 15.13-18).

Tiago descreveu com clareza o plano de Deus para a Igreja, Israel e os


Gentios. Consideremos ponto por ponto:

(1) Um Povo Para o Seu Nome: a Igreja


“Constituir dentre os gentios um povo para o Seu nome” – At 15.14

Pedro havia relatado como Deus visitou os Gentios e se referiu ao


acontecimento na casa de Cornélio (At 10 e 11). Naquele dia Pedro usou a
segunda chave do reino para abrir a porta da salvação aos Gentios (Mt 16.19).
Com a primeira ele abriu a porta do reino aos Judeus no dia de Pentecostes. A
expressão “um povo para o Seu nome” se refere à Igreja de Cristo.

(2) O Retorno Visível de Cristo


“Cumpridas estas coisas, voltarei” – At 15.16a

A Igreja de Cristo é formada principalmente por homens e mulheres


conhecidos como Gentios na Bíblia, e de Judeus também. Paulo usou a
expressão “até que a plenitude dos Gentios haja entrado” (Rm 11.25) dando a
entender que existe um número pré-determinado para fazer parte da Igreja. A
volta do Senhor Jesus será depois de “cumpridas estas coisas”, isto é, quando
a igreja tiver sido completada.

(3) Restauração de Israel


“E reedificarei o Tabernáculo caído de Davi” – At 15.16b

Embora a promessa tenha uma referência especial e literal a Davi, ela


inclui também a nação de Israel. No texto de Romanos citado acima, Paulo
conclui dizendo que quando a plenitude dos Gentios tiver entrado (v.25) todo
o Israel será salvo (11.26,27). Não há como ler o último capítulo de Zacarias
e não ver qual será a posição e o papel de Israel durante o Milênio aqui na
terra. O Senhor Jesus afirmou que a Figueira brotaria novamente (Mt 24.32) e
isso aconteceu em 1948 quando Israel foi reconhecido como nação pela Onu.
(4) Conversão dos Gentios
“Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os Gentios
sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor que faz estas
coisas conhecidas desde as eras” – At 15.17.18

Quando a Igreja for completada, ou quando “a plenitude dos Gentios”


tiver entrado, Deus se voltará para Israel, o Tabernáculo caído de Davi. Mas
Sua obra de salvação entre os homens não para aí, como o texto acima nos
mostra: “Para que os demais homens busquem o Senhor e também os
Gentios”. Israel crerá em Jesus como seu Messias no final da Grande
Tribulação e em seguida será inaugurado o Milênio. Isso significa que os
“demais homens” e “os gentios” terão oportunidade de conhecer o Senhor na
época do Milênio. Esse é o plano completo de Deus: salvação para a Igreja,
os Judeus e os Gentios.
5. O Grande Dragão Vermelho
“Viu-se, também, outro sinal no céu, e eis um dragão, grande, vermelho, com
sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas. A sua cauda
arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra” –
Ap 12.3,4a

a. Outro Sinal

O mesmo termo grego (semeion) é usado aqui também. Veja os


comentários sobre essa palavra no capítulo 12.1.

b. O Dragão Grande e Vermelho

Satanás é apresentado sob a figura de um grande Dragão e mais à frente


ele é visto como “a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás” (v.9). A
serpente é a mesma mencionada em Gênesis 3.1. O vermelho simboliza a
guerra e a expressão “o grande Dragão Vermelho” mostra Satanás como o
grande assassino desde o princípio até o fim (Jo 8.44; 1Jo 5.19). Os nomes
dados a ele indicam seu caráter e suas atividades:

* Grande Dragão: sua crueldade


* Antiga Serpente: o início e o fim da história humana
* Diabo: caluniador
* Satanás: adversário
* Enganador: seu método de ataque e conquista.

c. Sete Cabeças, Dez Chifres, Sete Diademas

O dragão tem sete cabeças que representam sete reis (Ap 17.9) e os dez
chifres indicam os dez reis que receberão poder junto com a Besta por uma
hora (17.12). A ligação entre a Besta (cap 13) e o Dragão (cap 12) pode vista
se compararmos os dois:

O Dragão: tem sete cabeças e dez chifres


A Besta: sete cabeças e dez chifres
O Dragão: tem sobre as suas cabeças sete diademas
A Besta: tem sobre os seus chifres dez diademas
A Besta: tem sobre as suas cabeças nomes de blasfêmia (13.1).

A relação entre o Dragão e a Besta é marcante. O Dragão é


personificado na Besta, como mostram os símbolos e números de cabeças e
chifres. A única diferença na descrição dos dois é que a Besta tem nomes de
blasfêmia sobre as suas cabeças. Mas esse assunto será tratado no segundo
volume.

d. A Terça Parte das Estrelas

Jó disse que quando Deus trazia esse mundo à existência “as estrelas da
alva, juntas alegremente cantavam e rejubilavam” (38.7). Trata-se das “hostes
angelicais e elas são chamadas de ‘estrelas’ por causa da sua beleza e glória e
são ‘estrelas do céu’, pois pertencem ao céu e são os mais sublimes
ornamentos do mundo celestial” (J. A. Seiss). Satanás continua sendo
chamado de ‘estrela’ (Ap 9.1), mas devido à sua rebelião ele perdeu a beleza
e a glória dos anjos de Deus. Isaías ao descrever a queda de Lúcifer se referiu
a ele assim: “Como caíste do céu, ó Estrela da Manhã (Lúcifer)” (Is 14.12). A
expressão “a terça parte” dá a entender que a terça parte dos anjos seguiu
Lúcifer em sua revolta contra Deus.
e. Lançados Para a Terra

O primeiro capítulo de Gênesis diz que depois de Deus ter criado os


céus e a terra houve uma catástrofe assim descrita: “E a terra era (ou, se
tornou) sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do Abismo” (1.2).
Quando Lúcifer se revoltou e levou a terça parte dos anjos com ele, todos
foram lançados na terra. Lúcifer disse em seu coração: “Subirei ao céu” (Is
14.13). Ezequiel disse que antes da queda ele estava no “Edem, jardim de
Deus” (28.13), e certamente sua localização era na terra. Ele tentou subir ao
céu, mas foi lançado de volta para a terra junto com os seus seguidores. Isso
provocou a catástrofe e a terra inicialmente criada perfeita tornou-se num
caos e vazia. O registro de Gênesis 1 a partir do verso três não descreve a
criação original da terra e sim a sua restauração. G. H. Pember acredita que
no segundo dia, quando Deus preparava a expansão, os ares, que Ele chamou
de Céus (v.8), Satanás invadiu esse espaço e talvez por essa razão a expressão
“e viu Deus que era bom” não foi mencionada, como nos outros dias. Paulo
disse que Satanás é “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2.2) e isso deve durar
até o arrebatamento do Filho Varão.

6. O Dragão e a Mulher

“E o Dragão se deteve em frente da Mulher que estava para dar a luz, a fim
de lhe devorar o filho quando nascesse” – Ap 12.4b

Quando chega o momento da Mulher dar a luz, o Dragão se posiciona


diante dela com o propósito de devorar o filho que vai nascer. O interesse de
Satanás pelo Filho que vai nascer nos dá uma indicação da sua importância
espiritual. Quando chegar esse momento o foco do Dragão não é mais a
Mulher e sim o Filho que vai nascer. A Mulher como já vimos, é um todo,
composto de Patriarcas, Israel e a Igreja. Mas o que pode ser visto dela hoje é
a Igreja; por isso o Filho Varão está sendo formado dentro da Igreja. Nenhum
dos Patriarcas ou dos salvos da dispensação da Lei fazem parte do Filho
Varão. Dele só farão parte os cristãos vencedores que estiverem vivos na
ocasião do seu arrebatamento. Os que morreram como vencedores,
ressuscitarão como vencedores, mas isso só acontece no final da Grande
Tribulação.
7. O Filho Varão

“Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com


cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até o seu trono” – Ap
12.5

Quando comentamos sobre a Mulher dissemos que os fatos históricos


não harmonizam com a interpretação de que ela seja Maria, mãe de Jesus, ou
a nação de Israel. O mesmo argumento deve ser aplicado na interpretação do
Filho Varão. No parágrafo “esclarecendo pontos divergentes” demos uma
explicação bem detalhada do Filho Varão. Por isso, vamos mencionar apenas
alguns pontos que contrariam ser Jesus o Filho Varão:

a. Jesus não foi levado para o Trono de Deus quando nasceu.

b. Satanás não foi lançado dos ares para a terra quando Jesus subiu ao céu.
Quando Paulo escreveu aos efésios, uns trinta anos mais tarde, Satanás
continuava sendo “o príncipe das potestades do ar” (Ef 2.2), indicando que
ele ainda não havia sido expulso dos ares (céu).

c. Se depois do capítulo três do Apocalipse tudo é futuro, segundo a


interpretação popular (a qual não seguimos), como o capítulo 12 pode estar
descrevendo algo que aconteceu sessenta anos atrás? Jesus subiu ao céu por
volta do ano 33 d.C. e João escreveu o Apocalipse depois do ano 90 d.C.

d. O texto narra o nascimento e o arrebatamento do Filho Varão. Se ele


representa Jesus a seguinte declaração está errada: “Eles, pois, o venceram
por causa do sangue do Cordeiro” (12.11)! Deveria ser “Ele” no singular. O
pronome no plural (eles) indica que se trata de uma coletividade: os
Vencedores.

A lei da referência anterior pode nos ajudar a identificar quem é o Filho


Varão. Está escrito que ele “reger as nações com vara de ferro” (12.5) e essa
declaração é uma repetição da promessa aos vencedores em Tiatira: “Ao
Vencedor e ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade
sobre as nações; e ele as regerá com vara de ferro, como os vasos do oleiro
são quebrados; assim como eu recebi do meu Pai” (Ap 2.26). Essa promessa
só foi dada ao Filho de Deus, o Senhor Jesus e aos Vencedores. Sobre o
Senhor Jesus está escrito: “Da sua boca saía uma espada afiada, para ferir
com ela as nações; ele as regerá com vara de ferro” (Ap 19.15a). Uma vez que
a promessa não pode ser aplicada a Cristo no capítulo 12, então o Filho Varão
deve ser os Vencedores na Igreja.

A conquista exige conflito e o nascimento é através de dores de parto.


Elas indicam as dores gerais manifestadas no Corpo de Cristo, na medida em
que o fim do seu período se aproxima. Essas dores de parto efetuarão o
nascimento do Filho Varão, os conquistadores que vencerão as batalhas dessa
triste e difícil época. “Eles escalam a subida íngreme do céu, através do
perigo, da fadiga e da dor. Ó Deus conceda-nos graça, para podermos seguir
em companhia deles” (Lang).

8. Arrebatamento Sem Ressurreição

No arrebatamento do Filho Varão não há ressurreição. Só os que


estiverem vivos na ocasião farão parte dele. Muitos confundem o que Paulo
escreveu aos Coríntios (cap 15) e aos Tessalonicenses (cap 4), mas já vimos
anteriormente, estas passagens falam da segunda fase do arrebatamento, no
final da Grande Tribulação. A última trombeta (1Co 15.52) e a trombeta de
Deus (1Tess 4.16) falam da mesma coisa: ressurreição, transformação e
arrebatamento. A expressão “a última trombeta” indica a existência de pelo
menos mais uma. Em toda a Bíblia a única seqüência de trombetas que
encontramos está nos capítulos 8 e 9 do Apocalipse. Ora, se a Grande
Tribulação começa com a quinta trombeta, que é o primeiro ai, e os crentes
são ressuscitados e arrebatados ao soar da última trombeta, forçosamente a
sétima trombeta, fica mais do que claro que parte da igreja passará pela
Grande Tribulação.

A maneira como Paulo descreve o arrebatamento e a ressurreição dos


crentes em 1 Tessalonicenses, também confirma o que estamos dizendo. A
versão revisada de Almeida diz assim: “Nós, os que ficaremos vivos para a
vinda do Senhor...” (4.15 - Melhores Textos). A Revista e Atualizada traz:
“Nós, os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor” (4.15). Vamos tentar
entender o que Paulo está querendo dizer aqui. Observe que no primeiro texto
só temos duas frases e no segundo encontramos três frases separadas por
vírgulas:

(a) Nós
(b) Os vivos
(c) Os que ficarmos até a vinda do Senhor
A construção gramatical desse texto é muito significativa, pois nos
mostra o que o apóstolo desejava transmitir. Ele estava falando da ordem em
que acontecerá a ressurreição e o arrebatamento, isto é, os vivos não
precederão os que dormem (os mortos). De modo que seria suficiente dizer
apenas: “Nós, os que ficarmos vivos”, isto é, os que não passaram pela morte.
Porém, ele prossegue dizendo: “Os que ficarmos até a vinda do Senhor”,
dando a entender que alguns “vivos” não iriam morrer, mas também não
estariam vivos no momento referido no texto. Por quê? Porque foram levados
antes, no primeiro arrebatamento. Estes seriam “os vivos, os que não
ficaram”. O Filho Varão, portanto, não será deixado para esta ocasião, bem
no final da Grande Tribulação, mas será removido para o Trono de Deus
antes de Satanás ser lançado dos ares na terra e da Besta subir do abismo.
Será algo semelhante ao que aconteceu com Enoque: “E já não era, porque
Deus o tomou para Si” (Gn 5.24), pois “antes da sua trasladação alcançou
testemunho de que agradara a Deus” (Hb 11.5).

9. O Senhor Jesus Permanece no Céu

Não encontramos qualquer indicação de que o Senhor Jesus desce do


céu para remover os Vencedores. Não é Ele que vem e sim eles que vão, para
cumprir Sua promessa: “Para que possais escapar de todas estas coisas que
hão de acontecer e estar de pé na presença do Filho do homem” (Lc 21.36).
O Filho Varão é arrebatado “para Deus e para o Seu trono” (12.5). Em outro
lugar podemos ver o Filho Varão representado pelos cento e quarenta e
quatro mil, junto com o Cordeiro no Monte Sião (14.1). Mas este é o Monte
Sião celestial e não o terreno, pois nessa ocasião Jerusalém estará nas mãos
do Anticristo. O mesmo capítulo nos mostra o momento quando o Senhor
Jesus descerá do Trono até às nuvens e então os que ficaram serão
arrebatados até os ares (Ap 14.14-16; 1Tess 4.17).

10. Quem Faz Parte do Filho Varão?

A promessa de reinar com Cristo é para todos os Vencedores de todos os


séculos, desde Adão, mas o Filho Varão não inclui todos os que irão reinar
com Cristo no Milênio. A posição do Filho Varão não será superior à dos que
foram discípulos fiéis, mas morreram antes dos Dias do Fim. Estes terão o
seu lugar na Nova Jerusalém, a cidade que Abraão buscava (Hb 11.10). O
arrebatamento do Filho Varão é um prêmio dado a todos os cristãos que
estiverem vivos por ocasião do seu arrebatamento e vivendo à luz das
advertências e conselhos encontrados nos seguintes textos: Lc 21.34-36; 1Jo
2.27,28; Ap 3.10. Eles foram comentados detalhadamente no capítulo: O
arrebatamento é condicional?
Examinando os textos acima veremos que o arrebatamento do Filho Varão
tem como alvo guardá-lo das ardentes perseguições do tempo do fim, pois os
que fizerem parte dele não precisarão delas para sua santificação. “Eles
sabiamente aproveitaram as perseguições precedentes com vistas a
‘prevalecer para escapar’ (Lc 21.36). O termo prevalecer é digno de
observação, pois no melhor texto grego aceito (Textus Receptus) ele traz o
sentido de ‘ser considerado digno de escapar’ (Lang)”.

11. A Mulher no Deserto – Ap 12.6

“A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para
nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias” – Ap 12.6

Esse evento será comentado quando chegarmos ao versículo catorze. Ali


a declaração é a mesma e só muda a figura dos 1260 dias para um tempo,
tempos e metade de um tempo.

12. A Batalha nos Ares

“Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão.


Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem
mais se achou no céu (ares) o lugar deles” – Ap 12.7,8
No momento em que o Filho Varão atravessa os ares em direção ao
Trono de Deus, uma guerra é desencadeada: Miguel e seus anjos batalharão
contra Satanás e seus anjos. Será o início do cumprimento da profecia de
Daniel: “Naquele tempo se levantará Miguel, o grande Príncipe, que se
levanta a favor dos filhos do teu povo; e haverá um tempo de tribulação, qual
nunca houve desde que existiu nação até aquele tempo” (Dn 12.1). Estas
palavras mostram claramente que os eventos do Apocalipse 12 acontecerão
antes da Grande Tribulação e introduzirão o período de três anos e meio que
a precederão. O orgulho e a ambição o corromperam, violência e rebelião o
arruinaram (Ez 28.15,16). Tornando-se desqualificado e intolerável naquela
região pura, foi lançado daquele monte santo de Deus (v.16; Lc 10.18). A
essa região mais elevada ele não teve mais permissão de acesso; mas ao trono
administrativo de Deus, no céu inferior, os ares, ele ainda tem entrada e ali
atua como Acusador dos irmãos (Ap12.10).
“O Profeta Ezequiel falou de uma ocasião quando aquele que havia sido
lançado do monte Santo de Deus seria rebaixado ainda mais no universo:
‘Por terra te lancei; diante dos reis te pus’ (v.17). Nas visões de João a hora
dessa degradação mais profunda chegou e os passos dela são dados. ‘Estes
provocaram guerra no céu’ (Ap 12.17). Por que os tradutores evitam uma
tradução literal e assim ocultam idéias importantes? A maior parte das
traduções diz: ‘Houve guerra no céu’ e provoca perguntas tais como:
Quando? Quanto tempo antes da visão concedida a João? Quanto tempo
durou? Quando terminou? O uso desse verbo (houve) nos leva a imaginar que
milhares de anos que não foram registrados se passaram. Todavia o que está
escrito é: ‘Estes despertaram guerra no céu’. É no momento em que o Filho
Varão é levado para o Trono de Deus que tal guerra acontece; isso era futuro
nos dias de João e ainda é algo que esperamos acontecer” (G. H. Lang).
Satanás não foi expulso dos ares quando Cristo nasceu, nem quando Ele
foi assunto ao céu, pois Paulo, escrevendo aos Efésios trinta anos mais tarde,
ainda declara que Satanás é “o príncipe das potestades do ar” (2.2) e que
nossa luta é contra “os principados e potestades nos lugares celestiais”
(6.12). Um dia o Diabo será lançado na terra e sua atuação será limitada ao
nosso planeta (Ap 12.12). Então irromperá a Grande Tribulação que há de
durar três anos e meio.

13. Satanás é Expulso dos Ares

“E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama Diabo e


Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele,
os seus anjos” – Ap 12.9
A queda de Satanás dos ares para a terra é apenas mais uma etapa em
sua trajetória para o Lago de Fogo:
a. Lançado do monte santo para os ares (Ez 28.14)
b. Dos ares para a terra (12.9)
c. Da terra para o abismo (20.1-3)
d. Do abismo volta para a terra (20.7,8)
e. Da terra para o Lago de Fogo e (20.10).
A queda de Satanás em Apocalipse 12 é o cumprimento das palavras do
Senhor Jesus: “Eu via Satanás cair como um raio” (Lc 10.18). Nosso Senhor
disse isso quando Seus discípulos testemunharam do poder exercido sobre os
demônios (v.17). Observe que o Senhor não disse “eu vi”, mas “eu via”.
Outra referência encontrada no Apocalipse confirma o que estamos dizendo:
“O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela do céu caída sobre a
terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo” (9.1). Já vimos que esse
capítulo dá início ao período da Grande Tribulação, pois registra o momento
em que o Anticristo é libertado do abismo para subir para a terra. Essa estrela
pode receber a chave do poço do abismo e abri-lo e certamente é uma
referência a Satanás. Observe que o texto diz: “Vi uma estrela do céu caída
sobre a terra” e não caindo, como se estivesse acontecendo naquele
momento. Em outras palavras, o evento do capítulo 12, o arrebatamento dos
Vencedores, antecede cronologicamente o evento do capítulo 9. A ordem das
informações seria assim:
(i) o Senhor Jesus via Satanás caindo como um raio – Lc 10.18
(ii) João registrou o momento em que Satanás será lançado na terra – Ap
12.7-9
(iii) Finalmente ele é visto como uma estrela caída sobre a terra – Ap 9.1

14. A Proclamação no Céu

“Então, ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o


poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o
acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante
do nosso Deus” – Ap 12.10

A grande voz ouvida vem do céu onde está o Trono de Deus, mas
Satanás foi expulso do céu, isto é, os ares, a expansão. Depois de sua queda
Satanás não tem mais direito de entrar na morada de Deus. Antes da revolta
ele podia entrar lá, mas depois ele foi lançado do Monte Santo de Deus.
Textos como 1 Reis 22.19-22, Jó 1.6; 2.1 e Salmo 82 indicam que Deus
possui um trono móvel. É diante desse trono que se diz que Satanás e os
filhos de Deus (anjos) compareceram e não no Terceiro Céu (2Co 12.2) onde
está o Trono de Deus.

Os ares foram limpos de toda autoridade e poder que são contrários a


Deus. A limpeza da terra virá em seguida, depois de um breve período em
que a fúria de Satanás se manifestará. A declaração de que o reino de Deus e
do Seu Cristo chegou não significa que o Milênio começa nesse momento.
Satanás ainda vai perseguir a Mulher e os descendentes dela e depois ainda
vem a perseguição do Dragão juntamente com a Besta que é o Anticristo.

15. O Segredo da Vitória

“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da


palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a
própria vida” – Ap 12.11

Quando dissemos que o Filho Varão não é Jesus, um dos argumentos


apresentados está nesse versículo. Os Vencedores são identificados com o
pronome “eles”; se o Filho Varão fosse Jesus, o Espírito Santo teria dito
“Ele”. Essa é uma forte indicação de que o Filho Varão é um homem
coletivo. Ele é a soma de todos os Vencedores na igreja que estiverem vivos
na ocasião do arrebatamento. A razão porque se tornaram Vencedores é
mostrada em três pontos: (1) O sangue do Cordeiro; (2) A palavra do
testemunho que deram; (3) Não amaram a própria vida (alma) até em face da
morte. Qualquer filho de Deus que cumprir estas três condições em seu viver
diário será um Vencedor com certeza. Mas, qual é o significado prático
dessas três coisas em nossa vida?

(1) “Eles o venceram (a Satanás) por causa do sangue do Cordeiro”. O


sangue é essencial porque as acusações do Diabo nem sempre são falsas. O
sangue é essencial porque nos purifica de todo pecado. Nosso descanso está
no sangue do Cordeiro. Por meio dele podemos entrar no Santo dos Santos
com toda a ousadia (Hb 10.19) e ter os corações purificados da má
consciência (Hb 10.22).

(2) “E por causa do testemunho que deram”. A consciência estando livre o


coração se torna intrépido e o testemunho é dado com ousadia e poder.
Satanás tenta nos emudecer através das acusações que muitas vezes não
podemos negar, mas se o sangue do Cordeiro tira toda mancha diante de
Deus, nosso testemunho pode ser poderoso. Não precisamos nos submeter ao
inimigo nem suspender nosso testemunho pelo Senhor. A Palavra diz que o
nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo: cremos nisso?
Então temos que testemunhar. Mas o acusador diz: ‘Seus pecados provam
que seu velho homem não foi crucificado’. Nessa hora temos que ser firmes e
declarar a Palavra do Senhor: “Fui crucificado com Cristo” (Gl 2.20).

(3) “E mesmo em face da morte, não amaram a própria vida”. O sangue


apaga os nossos pecados; a cruz de Cristo nos liberta do velho homem. Agora
temos um outro ponto importante relacionada com nossa alma, nosso Eu. O
termo usado para “vida” no grego é “psique”, que deveria ser traduzido por
“alma”. A alma inclui mente (o que penso), emoção (o que sinto) e vontade
(o que quero). Em outras palavras, a alma é a minha personalidade. Um
exemplo muito claro do que seja amar a alma em face da morte é encontrado
na experiência de Simão Pedro. Quando o Senhor Jesus disse que sofreria em
Jerusalém e depois seria morto, o apóstolo O chamou à parte e começou a
repreendê-Lo. A instrução do Senhor em seguida foi: “Se alguém quer vir
após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem
quiser salvar sua vida (alma) perdê-la-á; e quem perder a vida (alma) por
minha causa achá-la-á. Pois que proveito terá o homem se ganhar o mundo
inteiro e perder a sua alma?” (Mt 16.24-26).

A expressão “por causa do testemunho que deram” sem dúvida inclui o


nosso testemunho do Senhor Jesus em vários aspectos. Mas se o caráter não
antecede o testemunho, ele é de pouco valor. Muitos pregadores declaram
viver o que pregam, mas essa não é a ordem correta. Devemos pregar aquilo
que vivemos. Um escritor disse que um pregador anunciava o evangelho
numa praça pública. No meio da multidão se encontrava Satanás que com
ares de vitória dizia: “Você pode pregar o que quiser; não me importo. Sua
conduta testemunha que você está do meu lado”. Triste verdade! Por essa
razão o crente precisa experimentar a libertação nesses três aspectos:

(1) Da culpa do pecado através do sangue do Cordeiro


(2) Do domínio do pecado através da cruz do Salvador
(3) Do domínio do Ego através da sua própria cruz.

O Vencedor é aquele que prova a libertação da culpa do pecado, do


domínio do pecado e do domínio da alma.

16. Alegria no Céu, Lamento na Terra

“Por isso, festejai, ó céus, e vós, os que neles habitais. Ai da terra e do mar,
pois o Diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco
tempo lhe resta”. – Ap 12.12

No terceiro céu os que nele habitam festejam. Quem são eles? Os anjos
com certeza e também os Vencedores que foram arrebatados “para Deus e
para o Seu Trono”. Mas nos ares, na expansão, também há regozijo por parte
dos anjos que expulsaram Satanás e tomaram o seu lugar. Porém na terra e no
mar não haverá motivo para alegria, porque o Diabo foi forçado a descer para
a terra e está cheio de ira, por saber que pouco tempo lhe resta. Esse é o
motivo do “ai da terra e do mar”, pois dentro de pouco tempo Satanás soltará
do Abismo o Anticristo e então as palavras de Jesus se cumprirão: “Porque
nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até
agora não havido e nem haverá jamais” (Mt 24.21).

17. A Mulher Perseguida na Terra

“Quando, pois, o dragão se viu atirado para a terra, perseguiu a mulher que
dera à luz o Filho Varão”. - Ap 12.13

Agora a Mulher não é mais vista no céu, mas na terra, depois que o Filho
Varão é levado para o Trono de Deus. Aqui precisamos lembrar o que dissemos
antes: a Mulher vista no céu inclui os Patriarcas, as Tribos de Israel e a Igreja.
Mas os Patriarcas não estão mais aqui e Israel, mesmo fazendo parte da
Mulher, permanece na condição de endurecimento. Por essa razão o Filho
Varão só pode estar sendo formado no seio da Igreja, que é a parte da Mulher
que pode ser vista hoje. Nessa ocasião então é que se declara que a Mulher está
na terra. Nesse tempo ela passa a ser representada pelos cristãos que ainda
estão na terra.

Satanás agora atirado na terra vai perseguir a Mulher que deu a luz o Filho
Varão. Porém, Deus lhe preparou um lugar onde ela será sustentada durante mil
duzentos e sessenta dias (12.6). Esse tempo é igual a um tempo, dois tempos e
metade de um tempo (12.14), e a três anos e meio (13.5). Certamente isso é
uma referência à metade do Pacto de sete anos, mencionado por Daniel (9.27).
Muitos irmãos dedicados ao estudo das Escrituras não conseguiram ver que
essa perseguição do dragão não se refere ao período da Grande Tribulação. O
fio da meada se perdeu quando colocaram de lado o Sétimo Rei. João disse que
“cinco caíram, um existe (o 6º.) e o outro (o 7º.) ainda não veio” (Ap 17.10).
Quase todos os escritores que eu pude ler afirmam que Israel vai assinar um
Pacto de sete anos com o Anticristo. Mas o capítulo a pouco citado (Ap 17)
declara que o Anticristo não é o Sétimo Rei, e sim o Oitavo (17.11). Assim
sendo, o Sétimo Rei deve surgir primeiro e só depois o Oitavo, que é o
Anticristo, a Besta.

18. A Primeira ou Segunda Parte do Pacto?


“E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse até
ao deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada durante um tempo, tempos e
metade de um tempo, fora da vista da serpente”. – Ap 12.14

Nossa pergunta agora é: esse período em que a Mulher é sustentada


durante mil duzentos e sessenta dias (três anos e meio) se refere aos três anos
e meio da Grande Tribulação? O Pacto a ser assinado por Israel e o Sétimo
Rei tem a duração de sete anos (Dn 9.27), mas será rompido na metade do
tempo, isto é, três anos e meio. Temos alguma informação do que deverá
acontecer nos primeiros três anos e meio? Sim. Nesse tempo quem estará em
evidência é o Sétimo Rei, cujo governo será de pouco tempo, ou, três anos e
meio. Ele é uma das sete Cabeças da Besta que deverá sofrer uma ferida de
morte (Ap 17.9; 13.3). Não temos informação de que no tempo desse Rei
haverá perseguição. O que a Escritura parece informar é que “quando
andarem dizendo: paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina
destruição” (1Tess 5.3ª). Paulo estava falando do Dia de Jeová (5.2,4) que
terá início exatamente com a Grande Tribulação.

19. As Duas Asas da Grande Águia

“E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse até
ao deserto, ao seu lugar, aí onde é sustentada durante um tempo, tempos e
metade de um tempo, fora da vista da serpente”. – Ap 12.14
“Embora tais sofrimentos e terríveis tentações e necessidades venham
sobre os que não vigiaram, depois que seus irmãos vigilantes e fiéis entraram
nos apartamentos celestiais, eles não são totalmente abandonados” (J. Seiss).
Mesmo não sendo Vencedores os cristãos que não foram incluídos no Filho
Varão desfrutarão da proteção de Deus. Eles não deixaram de ser filhos; o
parentesco deles com o Pai não pode ser destruído. Podem ser filhos
desobedientes, mas ainda assim são filhos. E como o Senhor “corrige a quem
ama e açoita a todo aquele que recebe como filho” (Hb 12.6), estes que não
vigiaram e não fizeram do Senhor a sua morada (1Jo 2.28) terão que
participar da disciplina, para que possam ser “participantes da Sua santidade”
(Hb 12.10).
Mas o que vem a ser as duas asas da grande águia dadas à Mulher para
que pudesse voar ao deserto? Quando o Senhor tirou o Seu povo do Egito, Ele
lhes disse: “Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de
águia e vos cheguei a mim” (Ex 19.4). Quarenta anos depois Moisés disse:
“Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus filhotes, estende
as asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim, só o Senhor o guiou” (Dt
32.11,12). Estas mesmas asas aparecem aqui de novo: “E foram dadas à
Mulher as duas asas da grande águia”, isto é, a ajuda especial e direta de
Deus.

Que lugar é esse para o qual a Mulher foge? “Quando Israel foi tirado do
Egito essas mesmas asas lhe foram dadas para fugir do Dragão. Assim como
eles foram levados para o deserto, assim também com a Mulher. Habacuque
falou do Senhor vindo de Temã que é a parte sul da Iduméia e do Monte Parã
que é identificado com o Sinai e seus montes (Hab 3). Aqui é dito que é ‘o
seu lugar’, um lugar que pertence à Mulher e que Deus preparou para ela. É
interessante observarmos quantas pessoas fugiram para esse mesmo lugar:
Moisés quando fugiu da ira de Faraó; Israel quando escapou da tirania e ódio
dos egípcios; Elias quando fugiu da sangrenta Jezabel; os Judeus fiéis na
época dos Macabeus”.

“Tendo servido como lugar de abrigo para os fiéis de Deus em tantas


ocasiões e em momentos tão marcantes, é muito adequado que ele seja
chamado de “seu lugar”; uma localidade em toda a terra preparada e
consagrada como o asilo deserto do povo de Deus que sofre perseguição.
Também é dito que ali a Mulher é sustentada. A idéia é de uma alimentação
miraculosa e o passado é profecia do futuro. Foi lá que Deus mandou o Maná
para alimentar os milhares de fugitivos de Israel nos dias de Moisés. Elias foi
milagrosamente alimentado por um anjo e recebeu comida do céu que lhe deu
força para caminhar quarenta dias até o Monte de Deus” (J. A. Seiss).

Pelas palavras acima o Dr. Seiss dá a entender que a Mulher será


conduzida ao deserto do Sinai onde será protegida e alimentada em alguma
parte dele. Isso seria aceitável se a Mulher incluísse apenas os filhos de
Israel, mas já vimos que ela inclui cristãos e judeus. O versículo seguinte (17)
deixa isso mais claro, como logo veremos. Se a Mulher é simbólica, então o
deserto também deve ser; nesse caso o mais seguro é buscarmos na própria
Escritura qual é o significado do deserto. O profeta Oséias registrou as
seguintes palavras: “Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o
deserto e lhe falarei ao coração” (2.14). A expressão “naquele dia” (2.16,
18, 21) aponta para essa época que estamos considerando no Apocalipse.
Embora a aplicação seja especificamente a Israel, os cristãos que estiverem
vivos nessa ocasião também passarão pela mesma experiência.

20. A Serpente Ataca a Mulher

“Então, a serpente arrojou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio,
a fim de fazer com que ela fosse arrebatada pelo rio. A terra, porém,
socorreu a mulher; e a terra abriu a boca e engoliu o rio que o dragão tinha
arrojado de sua boca”. – Ap 12.16

Aqui a serpente é simbólica e também a Mulher; do mesmo modo a água


e o rio. É uma descrição em figura de como a serpente vai tentar destruir a
Mulher. Todavia esse plano é frustrado pela “terra” que abre sua boca engole
o rio. A terra também é figurativa. Uma coisa, porém, é certa: isso acontece
na terra e não nos ares, como foi a batalha entre Miguel e o Diabo. Não tenho
uma explicação razoável para esse acontecimento e também não li nada
escrito por outros autores. Por isso, escolho não comentar e manter silêncio.

21. Os Restantes da Descendência da Mulher

“Irou-se o Dragão contra a Mulher e foi pelejar com os restantes da sua


descendência, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de
Jesus; e se pôs em pé sobre a areia do mar”. – Ap 12.17,18

a. O Dragão e a Besta – A Grande Tribulação

Creio que esse ataque do Dragão acontece na segunda parte do Pacto de sete
anos, isto é, no período da Grande Tribulação. A perseguição mencionada
nos versículos 13-16 acontece na primeira parte do Pacto, ou, nos primeiros
três anos e meio. Depois o Dragão vai perseguir os restantes da descendência
da Mulher, mas nada é dito sobre isso. Antes de iniciar essa nova etapa da
perseguição, o Dragão se põe de pé sobre a areia do mar (12.18), como que à
espera de algo ou alguém que vai surgir dele. O capítulo treze começa
explicando quem o Dragão estava esperando: (a) A Besta que surge do mar,
ou, o Império Romano (13.1). Ela tem sete cabeças e dez chifres e uma de
suas cabeças, o Sétimo Rei, já estava na terra nessa ocasião. Como já vimos
atrás, esse Rei vai durar pouco tempo: três anos e meio (Ap 17.10). É com ele
que Israel assinará o Pacto de sete anos. Essa sétima cabeça vai sofrer um
golpe mortal, mas será curada, ou melhor, voltará a viver (Ap 13.3,4). Mas
como está escrito que a Besta, nesse caso o Anticristo, é o Oitavo Rei, o
quebra-cabeça é completado: A Besta, o Anticristo, o Oitavo Rei, toma posse
do cadáver do Sétimo Rei.

b. O Anticristo Sobe do Abismo

Alguns cristãos acham difícil ou impossível aceitar tal coisa, mas a


possessão demoníaca é a entrada de um espírito imundo no corpo de uma
pessoa. Aqui é realmente uma anomalia, mas será permitida por Deus.
Quando lemos que “a Besta está para emergir do Abismo” (17.8) a referência
é ao Anticristo. O Abismo é um lugar reservado só para “demônios”, como
deixa claro o texto de Lucas: “Rogavam-Lhe (a Jesus) que não os mandasse
para o Abismo” (8.31). A chave do poço do Abismo será entregue à “estrela
caída do céu” (Ap 9.1) que já vimos ser o próprio Satanás. Ele mesmo vai
abrir “o poço do Abismo” e de lá subirá o rei desses demônios aprisionados,
“o anjo do Abismo, cujo nome em hebraico é Abadom e em grego Apoliom”
(Ap 9.11). Na ocasião em que a Quinta Trombeta é tocada o Anticristo é solto
da sua prisão no Abismo e sobe para a terra. Então começa a Grande
Tribulação, descrita pelos três ais da quinta, sexta e sétima trombeta (Ap
8.13; 9.12).

c. Quem São os Descendentes da Mulher?

Nosso texto (12.17) diz que o Dragão foi pelejar contra os restantes da
descendência da Mulher. Quem são eles? “Os que guardam os mandamentos
de Deus e têm o testemunho de Jesus”. É bem provável que os que “guardam
os mandamentos de Deus” sejam Judeus e “os que têm o testemunho de
Jesus” os cristãos. A Mulher vista no céu inclui os doze patriarcas, as doze
tribos e os doze apóstolos (igreja). Os patriarcas passaram, mas Israel e a
igreja estão aqui até hoje e os dois fazem parte da Mulher. Todavia, nessa era
da graça quando um Judeu crê em Jesus como Messias ele deixa de ser Judeu.
Os demais de Israel que não recebem Jesus como seu Messias permanecem
na incredulidade. Por essa razão, o Filho Varão só inclui aqueles que antes
eram Judeus ou Gentios, mas agora pertencem à igreja. Durante a Grande
Tribulação o povo de Israel e os cristãos que ficaram serão perseguidos pelo
Anticristo.

d. A Conversão de Israel

Não encontramos na Bíblia qualquer indicação de que os judeus vão crer


no Senhor Jesus como seu Messias antes da volta visível Dele, que
acontecerá bem no final da Grande Tribulação. Sobre os judeus pregando o
evangelho do reino durante a Grande Tribulação só podemos dizer que isso é
algo totalmente estranho ao Novo Testamento. O texto encontrado em
Mateus é muito claro: “Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol
escurecerá; então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as
Tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as
nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com
grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro
ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.29-31). Separando as
declarações pela ordem lemos assim:
* Em seguida à Tribulação o sol escurecerá
* Aparecerá o sinal do Filho do homem no céu
* As Tribos de Israel lamentarão
* Quando o Jesus vier sobre as nuvens do céu
* Os escolhidos serão reunidos de toda parte

Veja que o texto diz “em seguida à tribulação daqueles dias”, indicando
que o Senhor aparecerá e então Israel O reconhecerá como Messias. “Eis que
vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas
as tribos da terra se lamentarão sobre ele” (Ap 1.7). É nesse momento que
as doze tribos lamentarão o que fizeram ao seu Messias. “E sobre a casa de
Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da graça e de
súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como
quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora
amargamente pelo primogênito. Naquele dia será grande o pranto em
Jerusalém” (Zc 12.10,11).

Esse assunto na verdade será tratado no segundo volume do nosso


estudo. O propósito aqui é deixar claro quem são os descendentes da Mulher.
Durante os três anos e meio da Grande Tribulação Israel continuará na
incredulidade sem reconhecer Jesus como seu Messias, mas mesmo nessa
condição o Senhor marcará os cento e quarenta e quatro mil das doze tribos
(Ap 7.1-8). O Anticristo vai tentar destruir todos os judeus e cristãos que
estiverem vivos na terra. Depois da guerra do Armagedom João declara que
viu “as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como
por causa da Palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a Besta, nem
tampouco a sua imagem e não receberam a marca na fronte e na mão; e
viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20.4). Esses que
foram decapitados pela Besta podem ser Judeus e cristãos se considerarmos
que a expressão “por causa do testemunho de Jesus” não pode ser aplicada
aos Judeus. Por outro lado não haveria necessidade de dizer que foi “por
causa da Palavra de Deus”, pois a primeira declaração inclui a última.
Acredito que o Espírito Santo quis fazer uma distinção entre os que guardam
o testemunho de Jesus (cristãos) e os que não guardam (Judeus).

O QUINTO SELO: MUDANÇA DE DISPENSAÇÃO

“Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que
tinham sido mortos por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho
que sustentavam. Clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó
Soberano Senhor santo e verdadeiro não julgas nem vingas o nosso sangue
dos que habitam sobre a terra? Então a cada um deles foi dada uma
vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo,
até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos
que iam ser mortos como igualmente eles foram” – Ap 6.9-11.

A continuação do nosso estudo do Apocalipse terá seu início com a


abertura do Quinto Selo. Como dissemos antes, o entendimento do irmão
Stephen Kaung é que o arrebatamento dos Vencedores acontece entre o
Quarto e o Quinto Selo. Esse é também o nosso ponto de vista. No momento
basta-nos lembrar que na era da graça a oração desses mártires clamando por
vingança estaria fora de ordem. O Senhor Jesus orou pelos Seus algozes
dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34).
Estêvão também orou dizendo: “Senhor, não lhes imputes esse pecado” (At
7.60). No Sermão do Monte Jesus ensinou: “Amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem” (Mt 5.44). Também está escrito que “se o teu
inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque
fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça” (Rm 12.20).
Visto que a oração dos mártires foi aceita (quinto selo), isso significa que a
dispensação foi mudada da graça para a justiça. Como não queremos e não
devemos ser dogmáticos, destacamos apenas os pontos que nos levam a crer
dessa forma.

“Nesse tempo a ressurreição dos piedosos ainda não chegou, pois o rol
dos mártires ainda não se completou. Portanto, esses irmãos ainda estão sem
seus corpos ressuscitados. Mas para João, arrebatado em espírito para aquele
mundo de alta sensibilidade (Ap 1.10 - ‘me tornei em espírito’, isto é, num
estado estático), aquelas almas eram visíveis. A morte, portanto, não põe fim
à existência da alma. Mais ainda, estes estão conscientes e se lembram do que
lhes aconteceu na terra pelas mãos dos ímpios. Eles conhecem a vingança que
o futuro há de trazer e consideram a situação e se espantam com a aparente
demora da resposta do Senhor. Apelam então, ao seu Senhor e são atendidos,
aconselhados e encorajados; recebem o sinal da aprovação do Senhor, a veste
branca, Sua recompensa por eles não terem maculado suas vestes neste
mundo sujo e a garantia Dele de que serão Seus associados pessoais e
constantes no Seu Reino (Apo 3.4, 5). Este último ponto, a concessão da veste
branca, mostra ainda mais que nem todos os santos aguardam a reunião no
Tribunal de Cristo quando finalmente Ele virá do céu. Aqui é dado a eles
conhecer a decisão e aprovação do Senhor antes da Sua vinda e da
ressurreição deles”.
“Essa visão contém algo mais que está completamente oculto da maioria
dos leitores. As almas que João viu estão ‘debaixo do altar’, mas este altar
não está no céu. Existe um altar no céu, mas ele é descrito como sendo o
‘altar de ouro’, isto é, o altar do incenso (Ex 30.3) o qual está ‘diante do
trono’ ou diante de Deus (Ap 8.3; 9.13). Neste livro ‘diante do trono’ sempre
significa os céus mais altos. Este altar, porém, é um altar de sacrifício,
embora não seja sacrifício de expiação. Nós cristãos temos um altar de
sacrifício expiatório (Hb 13.10) que é a cruz de Jesus, o Cordeiro de Deus.
Mas esse não está em vista aqui”.

“O quadro é realmente muito simples. O Altar de Bronze do sacrifício


no Tabernáculo era quadrado e fundo, com uma grelha sobre a qual ficava a
madeira e as vítimas. Quando o fogo terminava seu trabalho, os restos do
sacrifício caíam através da grelha para dentro do altar, de onde podiam ser
removidos no tempo próprio. O lugar, o altar, onde estes mártires de Cristo
sacrificaram suas vidas em Sua causa obviamente é a terra e, desse modo, a
visão declara simplesmente o que temos visto em outras passagens, que o
lugar dos mortos é debaixo da terra: ‘Ele desceu às regiões inferiores da
terra’ (Ef 4.9) de onde serão removidos na ressurreição aqueles que ainda
estão lá. Victorinus de Pettau (faleceu em 303 d.C.), conhecido como o mais
antigo comentarista latino do Apocalipse, tinha esse mesmo entendimento. F.
F. Bruce fez o seguinte resumo: ‘O altar (Ap 6.9) é a terra: o Altar de Bronze
do Holocausto e o Altar de Ouro do Incenso no Tabernáculo correspondem à
terra e ao céu respectivamente. As almas debaixo do altar, portanto, estão no
Hades, naquela divisão onde permanece o resto dos santos, livres de dor e
fogo. Isso confirma o que disse o Bispo Pearson, com respeito ao
entendimento mantido nos primeiros séculos cristãos de que ‘poucos’ (se é
que havia alguns) acreditavam que Cristo removeu os piedosos mortos do
Hades na Sua ascensão’ (The Creed, Art 5)” (G. H. Lang).

Conclusão

Concluímos aqui as duas primeiras partes do nosso estudo do


Apocalipse: Cristo Entronizado no Céu e Cristo Entronizado na Igreja. No
segundo volume partiremos do capítulo 6.9 até o final do livro quando
abordaremos a terceira e a quarta parte do Apocalipse: Cristo Entronizado na
Terra (Milênio) e Cristo Entronizado no Novo Céu e na Nova Terra.

Ao chegar nesse ponto uma voz meiga e suave fala do fundo do meu ser:
“Haverá tempo para este livro ser publicado?” Minha oração e o profundo
desejo do meu coração é que o Noivo amado possa interromper este meu
trabalho e iniciar o Dele. Ele é o centro do Apocalipse e de toda a Escritura.
Ele é o amado da nossa alma a Quem ansiamos ver face a face. Nesse
momento quando escrevo estas palavras, a angústia em meu coração é
profunda e diante da possibilidade do Arrebatamento todos os sonhos do
futuro se desmoronam como castelos de areia. Seguindo a direção da Unção
que habita em nós e sendo obediente à Sua voz, só posso declarar de todo o
meu coração:

“O Espírito e a Noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem!” Ap 22.17
“Amém! Vem, Senhor Jesus”
Ap 22.20
Outros lançamentos da Edições Ruiós:

Série A IGREJA E A OBRA


Volume 1
A Tarefa de Pastorear – Ernie Hile
Os Anciãos e os Obreiros
Autor: Watchman Nee

Volume 2
Os Ministros e os Ministérios
Autor: Watchman Nee

TEMPO DO FIM

Volume 1
O Sistema Babilonico
Autor: B. W. Newton

Volume 2
O Terceiro Templo de Israel
Autores: Chitwood - Panton - Govett

Volume 3
O Endurecimento de Israel
Autores: David Baron - A Oliveira - B. W. Newton

LIVROS DA BÍBLIA

Volume 1
Jonas - O Quebrantamento de um Profeta
Autor: Délcio Meireles

Volume 2
Levítico - As Ofertas - Anulação do Terreno
Autor: Délcio Meireles
Série CONHECEREIS A VERDADE
Volume 1
Predestinação? E o Amor de Deus?
Autor: G. H. Lang

Volume 2
O Julgamento, o Sinédrio e o Vale de Fogo
Autor: G. H. Pember

Volume 3
A Origem Divina da Bíblia - Provada pela Matemática
Autor: Ivan Panin

Volume 4
A Parábola do Fermento
Autor: G. H. Lang

Volume 5
O Espírito Santo de Habitação
Autor: G. H. Lang
O Revestimento e a Habitação do Espírito Santo
Autor: J. Penn Lewis

Volume 6
O Evangelho nas Estrelas - Os Signos do Zodíaco e a História da
Redenção
Autores: J. A. Seiss - E. W. Bullinger - Délcio Meireles

Volume 7
Profecia e História com Referencia
Aos Judeus - Primeira Parte
Aos Gentios - Segunda Parte
À Igreja – Terceira Parte
Autor: Délcio Meireles
Série DESENVOLVENDO A SALVAÇÃO
Volume 1
Endurecidos pelo Engano do Pecado
Autor: G. C. Morgan
Apostasia e Restauração
Autor: G. C. Morgan

Volume 2
A Tribulação é uma Serva
Autor: J. W. Follette
Nem Cheiro de Queimado
Autor: T. Austin Sparks
Feridas Fiéis
Autor: A. W. Tozer
Jonas: O Deficiente
Autor: Anônimo

Volume 3
Deus não poupa seus Filhos
Autor: Phil Jr.
O Quebrantamento de John Tauler
Autor: Gregory Mantle
Quando Deus se cala
Autor: Paul Thigpen
Volume 4
Os Direitos da Primogenitura
Autor: Erich Sauer
A Perda da Primogenitura
Autor: A. Chitwood
Filhos Primogênitos
Autor: G. H. Lang
Esaú e a Primogenitura
Autor: Robert Govett

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