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© 1985 Living Stream Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© 2001 Editora Árvore da Vida

Título do Original Inglês:


Life-Study of Acts

1ª Edição — Fevereiro/2002 — 5.000 exemplares


2ª Edição — Abril/2006 — 5.000 exemplares

ISBN 85-7304-261-3

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream Ministry e todos os


direitos reservados para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


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Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, 2ª


Edição, e Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas abreviações:
lit. — tradução literal do original grego ou hebraico
IBB — Rev. — Imprensa Bíblica Brasileira, versão Revisada
VRC — Versão Revista e Corrigida de Almeida
BJ— Bíblia de Jerusalém
BLH — Bíblia na Linguagem de Hoje
VRA-1ª edição — Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM TRINTA E SETE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (3)

Leitura Bíblica: At 13:13-43


Nesta mensagem chegamos a 13:13-52. Nesse
trecho de Atos, Paulo e seus companheiros chegaram
a Antioquia da Pisídia, onde pregaram o Jesus Cristo
crucificado e ressurreto como o Salvador (vs. 13-43).
Contudo, como veremos, eles foram rejeitados pelos
judeus (vs. 44-52).
Atos 13:13 diz: “E, navegando de Pafos, Paulo e
seus companheiros dirigiram-se a Perge da Panfília.
João, porém, apartando-se deles, voltou para
Jerusalém”. Baseado em 15:38, a razão de João ter-se
separado deve ter sido negativa e desse modo
desanimadora para Paulo e seus companheiros.
Entretanto, mais tarde ele novamente se juntou a
Paulo no seu ministério (Cl 4:10-11; 2Tm 4:11).

FORAM À SINAGOGA
Atos 13:14 diz: “Mas eles, atravessando de Perge
para a Antioquia da Pisídia, indo num sábado à
sinagoga, assentaram-se”. O propósito de os
apóstolos irem à sinagoga no sábado não era guardar
esse dia, e, sim, aproveitar a oportunidade para
pregar o evangelho. Assim como em 13:5, eles não
foram participar da reunião da sinagoga mas
aproveitaram esse ajuntamento para anunciar a
palavra de Deus, como fez o Senhor Jesus em Seu
ministério (Mt 4:23; Lc 4:16).
Aqui em Atos 13 vemos um modelo completo
para seguirmos hoje. Ao ir à sinagoga, Paulo seguia os
passos do Senhor Jesus, que ensinara na sinagoga. Se
em determinada cidade havia uma sinagoga, Paulo ia
lá, não porque fosse judeu, ou pretendesse guardar o
sábado ou aprender a palavra de Deus. Pelo
contrário, ele ia à sinagoga pela oportunidade de falar
o evangelho de Deus. Em toda sinagoga eram
ensinadas as Escrituras Sagradas, e havia bom
número de pessoas, tanto judeus como gentios, que
buscavam a Deus. Portanto Paulo era sábio em ir às
sinagogas.
Em 13:15 vemos que na sinagoga em Antioquia
de Pisídia, foi dada a Paulo a oportunidade de falar:
“Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da
sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes
alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a”.
Literalmente, as palavras gregas traduzidas como se
tendes alguma palavra significam se há em vós
alguma palavra. Quando se levantou para falar,
Paulo se dirigiu aos presentes dizendo: “Varões
israelitas e vós outros que também temeis a Deus” (v.
16). Aqui, os que temem a Deus são gentios que
buscavam a Deus.
A ida de Paulo à sinagoga também está de acordo
com o princípio básico de que o evangelho de Deus
deve ir primeiro aos judeus e então aos gentios (Rm
1:16).
Em João 10 o Senhor Jesus indica que o único
rebanho de ovelhas é composto tanto de judeus como
de gentios. Em João 10:16 Ele diz: “Tenho ainda
outras ovelhas, que não são deste aprisco; a essas
também Me importa conduzir; elas ouvirão a Minha
voz; então haverá um só rebanho, um só Pastor”.
Aqui, as outras ovelhas são os crentes gentios (At
11:18). O único rebanho é a igreja única, o Corpo
único de Cristo (Ef 2:1416; 3:6), gerado pela vida, a
qual é o Senhor infundido em Seus membros por
meio da Sua morte (Jo 10:10-18). Em João 10:16 o
aprisco é o judaísmo, e o rebanho é a igreja. Fora do
aprisco do judaísmo, havia outras ovelhas, os crentes
gentios, que seriam ajuntados para se tomar um só
rebanho com os crentes judeus. Como já mostramos,
esse rebanho único é a igreja.
Alguns hinos foram escritos, nos quais a igreja é
considerada como o aprisco. Esse é um conceito
errado. A igreja não é um aprisco que guarda as
ovelhas, e, sim, um rebanho, isto é, a totalidade das
ovelhas. O aprisco e o rebanho são coisas distintas,
mas a igreja e o rebanho são o mesmo. O judaísmo foi
um aprisco usado por Deus para guardar as ovelhas
temporariamente. O aprisco é um local usado para
guardar as ovelhas no inverno, mau tempo e à noite.
O Antigo Testamento era a “noite”. As ovelhas do
Senhor foram guardadas nesse aprisco até que o dia
raiou com a Sua vinda (Lc 1:78-79). Como o Pastor,
Ele as chamou para fora do aprisco, isto é, para fora
da religião judaica.
Os cristãos hoje consideram as denominações
como' igrejas. Na verdade, são apriscos que guardam
os crentes, que são membros da igreja. Enquanto
cada denominação é um aprisco, a igreja é o rebanho.
Nos tempos antigos, as sinagogas do judaísmo
eram apriscos, e muitas ovelhas de Deus eram
guardadas ali. Quando o Senhor Jesus veio, Ele
chamou os escolhidos de Deus para fora do aprisco do
judaísmo. Paulo O seguiu fazendo o mesmo. Sempre
que chegava numa cidade, ele ia ao aprisco, a
sinagoga daquele lugar, pois sabia que bom número
de ovelhas de Deus eram mantidas ali. Por isso,
quando ele pregava numa sinagoga, várias pessoas
criam. Entre os que creram havia alguns gregos. O
ministério do apóstolo Paulo não era apenas chamar
os escolhidos de Deus para fora da religião judaica,
mas também ganhar crentes gentios. Então, os
crentes judeus e gentios eram ajuntados para formar
a igreja, o único rebanho. Hoje na restauração do
Senhor não estamos edificando um aprisco, mas
cuidando do rebanho de Deus.
O fato de Paulo ir às sinagogas é um aspecto do
modelo retratado em Atos 13. Podemos aprender com
ele a ir aos lugares onde os escolhidos de Deus se
reúnem.

PREGAVAM E ENSINAVAM A PALAVRA DAS


ESCRITURAS SAGRADAS
A sinagoga era um lugar onde os que buscavam a
Deus estudavam as Escrituras Sagradas. Sempre que
ia a uma delas, Paulo pregava e ensinava pelas
Escrituras Sagradas, que naquele tempo,
naturalmente, consistia apenas do Antigo
Testamento. Paulo e Barnabé não pregavam nem
ensinavam conhecimento humano ou algo de si
mesmos. Pelo contrário, pregavam e ensinavam as
Escrituras Sagradas. Sempre que entravam numa
sinagoga, pregavam a partir da Bíblia.
As palavras de Paulo em 13:l7-22 eram
inteiramente baseadas nas Escrituras. No versículo 17
ele disse: “O Deus deste povo de Israel escolheu
nossos pais e exaltou o povo durante sua
peregrinação na terra do Egito, donde os tirou com
braço poderoso”. Aqui poderoso quer dizer erguido.
Nos versículos 18 a 20a Paulo prosseguiu: “E
suportou-lhes os maus costumes por cerca de
quarenta anos no deserto; e, havendo destruído sete
nações na terra de Canaã, deu-lhes essa terra por
herança, vencidos cerca de quatrocentos e cinqüenta
anos”. Os quatrocentos e cinqüenta anos se estendem
desde a peregrinação do povo na terra do Egito (v. 17)
até os juízes (v. 20).
Em 13:20-22 Paulo continua: “Vencidos cerca de
quatrocentos e cinqüenta anos. Depois disto, lhes deu
juízes, até o profeta Samuel. Então, eles pediram um
rei, e Deus lhes deparou Saul, filho de Quis, da tribo
de Benjamim, e isto pelo espaço de quarenta anos. E,
tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual
também, dando testemunho, disse: Achei Davi, filho
de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará
toda a minha vontade”. Davi era um homem segundo
o coração de Deus, isto é, segundo o desejo do Seu
coração, não apenas segundo as Suas palavras. Tal
homem fará toda a vontade de Deus.

PREGOU A CRISTO Centrado em Cristo


Vimos que a pregação e o ensinamento de Paulo
se baseavam no Antigo Testamento. O Antigo
Testamento, no entanto, contém muitas coisas:
história, a lei, tipos e profecias. Os judeus o
estudavam semana após semana, mas não prestavam
atenção a Cristo. Tinham alguma idéia sobre o
Messias, mas não tinham nenhum entendimento de
Cristo. Quando entrava nas sinagogas para pregar e
ensinar, Paulo não se preocupava com outra coisa
senão Cristo.
Quando alguns ouvem que Paulo pregava Cristo
e apenas Cristo, talvez digam: “Paulo não iniciou a
pregação com um relato da história do Antigo
Testamento? não falou sobre Deus tirando o Seu povo
do Egito e sobre Saul e Davi?” Sim, ele falou sobre
essas coisas, mas o fez para preparar o caminho a fim
de pregar Cristo. No versículo 22 ele citou a palavra a
respeito de Davi ser um homem de acordo com o
coração de Deus. Então, no 23 ele prosseguiu: “Da
descendência deste, conforme a promessa, trouxe
Deus a Israel o Salvador, que é Jesus”. Aqui vemos
que depois de breve introdução, ele chegou à
mensagem crucial, centrada totalmente em Cristo.
Depois de ter começado com a história até o tempo de
Davi, ele prosseguiu mostrando que da descendência
de Davi Deus gerou o Salvador, Jesus Cristo. Nele há
salvação.
Em 13:24-25 Paulo se refere a João Batista:
“Havendo João, primeiro, pregado a todo o povo de
Israel, antes da manifestação dele, batismo de
arrependimento. Mas, ao completar João a sua
carreira, dizia: Não sou quem supondes; mas após
mim vem aquele de cujos pés não sou digno de
desatar as sandálias”. A expressão grega traduzida
por antes da manifestação dele literalmente significa
antes da face da Sua entrada. Aqui Paulo mostra que
antes da vinda de Cristo João proclamou o batismo de
arrependimento. Arrependimento visa mudar a
disposição mental e o batismo visa enterrar os que se
arrependeram, pondo fim a eles, para que o Salvador
os faça germinar pela regeneração (10 3:3, 5-6).
Quando Paulo prosseguiu falando a respeito da
“palavra desta salvação”, ele enfatizou a crucificação
de Cristo. Ele mostrou que o povo de Israel O levou à
morte. No versículo 27 ele diz: “Pois os que
habitavam em Jerusalém e as suas autoridades, não
conhecendo Jesus nem os ensinos dos profetas que se
lêem todos os sábados, quando o condenaram,
cumpriram as profecias”. Eles julgaram o Senhor
Jesus sentenciando-O à morte (Lc 24:20). “Depois de
cumprirem tudo o que a respeito dele estava escrito,
tirando-o do madeiro, puseram-no em um túmulo”
(v. 29).

Ressuscitado dentre os Mortos


A partir do versículo 30, Paulo prosseguiu
falando da ressurreição de Cristo: “Mas Deus o
ressuscitou dentre os mortos”. Vimos que Atos diz
que Deus ressuscitou a Jesus (2:24, 32) e que Ele
ressurgiu dos mortos (Jo:40-41). Ao considerá-Lo
como homem, o Novo Testamento diz que Deus O
ressuscitou (Rm 8:11). Mas, ao considerá-Lo como
Deus, diz-nos que Ele mesmo ressurgiu (Rm 14:9).

O Primogénito de Deus em Ressurreição


Depois de mostrar que o Cristo ressurreto “foi
visto muitos dias pelos que, com ele, subiram da
Galiléia para Jerusalém, os quais são agora as suas
testemunhas perante o povo” (v. 31), Paulo
prosseguiu: “Nós vos anunciamos o evangelho da
promessa feita a nossos pais, como Deus a cumpriu
plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus,
como também está escrito no Salmo segundo: Tu és
meu Filho, eu, hoje, te gerei”. A ressurreição foi um
nascimento para o homem Jesus. Ele foi gerado por
Deus em ressurreição para ser o Primogênito entre
muitos irmãos (Rm 8:29). Ele era o Unigênito de
Deus desde a eternidade (Jo 1:18; 3:16). Depois da
encarnação, por meio da ressurreição, Ele foi gerado
por Deus em Sua humanidade para ser o Seu
Primogênito,
Se não fosse Paulo, não creio que seríamos
capazes de ver que o Salmo 2 fala da ressurreição de
Cristo. Ele foi capaz de ver a ressurreição do Senhor
nas palavras: “Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei”. Ele
aplicou a palavra hoje ao dia da ressurreição do
Senhor. Isso quer dizer que a ressurreição de Cristo
foi o Seu nascimento como o Primogênito de Deus.
Jesus, o Filho do Homem, nasceu para ser o Filho de
Deus ao ser ressuscitado. Portanto, o fato de Deus
ressuscitá-Lo dentre os mortos foi o Seu gerá-Lo para
ser o Seu Primogênito. Precisamos perceber que a
ressurreição do Senhor foi o Seu nascimento. Isso é
crucial.

Os Dois Nascimentos do Senhor


O Senhor Jesus teve dois nascimentos. Primeiro,
nasceu de Maria como Filho do Homem. Depois,
trinta e três anos e meio mais tarde, foi crucificado,
sepultado e ressuscitado. Por meio da ressurreição,
teve um segundo nascimento, pois, como homem, Ele
nasceu em ressurreição para ser o Filho de Deus.
Portanto, em Seu primeiro nascimento Ele nasceu de
Maria para ser o Filho do Homem, e em Seu segundo
nascimento nasceu em ressurreição para ser o Filho
de Deus.

O Unigênito e o Primogênito
Quando alguns ouvem que Cristo nasceu para ser
o Filho de Deus em ressurreição, talvez fiquem
incomodados e digam: “O nosso Senhor não era o
Filho de Deus desde a eternidade?” Sim, desde a
eternidade Ele é o Filho de Deus. Antes do primeiro
nascimento, isto é, antes de nascer de Maria para ser
o Filho do Homem, Ele já era o Filho de Deus. O
Evangelho de João enfatiza que Ele é o Filho de Deus,
e é o Filho de Deus eternamente. Como já era Filho de
Deus antes da encarnação, por que Lhe foi necessário
nascer como Filho de Deus em Sua ressurreição? Se
quisermos responder essa pergunta precisamos
estudar a Bíblia cuidadosamente.
Romanos 8:29 e Hebreus 1:6 falam de Cristo
como o Primogênito. Em Seu segundo nascimento o
Senhor nasceu para ser o Primogênito de Deus.
Segundo o Novo Testamento, Ele é o Filho de Deus
em dois aspectos. Primeiro, era o Unigênito de Deus,
segundo, é agora o Primogênito de Deus. A palavra
unigênito indica que Deus só tem um Filho. João 1:18
e 3:16 fala do Unigênito de Deus. Eternamente
falando, Cristo era o Unigênito de Deus. Esse era o
Seu status eterno. Mas por meio da ressurreição Ele,
como homem, nasceu para ser o Primogênito de
Deus. A palavra primogénito indica que Deus agora
tem muitos filhos (Hb 2:10). Os que cremos em Cristo
somos os muitos filhos de Deus e os muitos irmãos do
Senhor, os muitos irmãos do Primogênito de Deus
(Rm 8:29).

A Corporificação da Vida e a Propagação da


Vida
Como o Unigênito de Deus, o Senhor é a
corporificação da vida divina. O Evangelho de João
enfatiza que Jesus Cristo é o Filho de Deus e como tal
Ele é a própria corporificação da vida divina. (Jo 1:4).
Por meio da ressurreição, Cristo se tomou o
Primogênito de Deus como Aquele que dispensa vida
para a propagação da vida. Primeiro, Ele era o
Unigênito de Deus, como a corporificação da vida,
agora Ele é o Primogênito para a propagação da vida.
Tomando-se o Primogênito de Deus em ressurreição,
a vida divina foi dispensada a todos os crentes, para
propagar a própria vida que está corporificada Nele.
Todos precisamos ver isso.
Em Atos 13 Paulo não prega Cristo como o
Unigênito de Deus, como o Evangelho de João o faz.
Antes, ele prega Cristo como o Primogênito de Deus
para a propagação. Por isso ele prega a ressurreição
do Senhor Jesus como o Seu segundo nascimento, o
Seu nascimento em ressurreição, por meio do qual
Ele se tomou o Primogênito de Deus para propagar a
vida divina.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM TRINTA E OITO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (4)

Leitura Bíblica: At 13:13-52


Nesta mensagem continuaremos a ver Atos 13.
Vimos que Paulo foi à sinagoga para falar a palavra de
Deus tanto a judeus como a gentios que buscavam a
Deus. O que ele falou está centrado em Cristo. Em
13:27-35 ele fala especificamente sobre a morte e
ressurreição de Cristo. Vimos que a ressurreição foi
um nascimento para o Senhor Jesus. Embora Ele
fosse o Unigênito de Deus desde a eternidade (Jo
1:18; 3:16), após a encarnação e por meio da
ressurreição Ele foi gerado de Deus em Sua
humanidade para ser o Primogênito. Como o
Unigênito de Deus, Cristo é a corporificação da vida
divina, mas, como o Primogênito, é a propagação
dessa vida.

AS COISAS SANTAS E FIÉIS DE DAVI


Em 13:34 Paulo fala algo mais sobre a
ressurreição de Cristo: “E, que Deus o ressuscitou
dentre os mortos para que jamais voltasse à
corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso
favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi”. A
expressão as santas 'e fiéis promessas feitas a Davi,
literalmente é as coisas santas de Davi, as fiéis. Essa
expressão tem perturbado os tradutores do Novo
Testamento. Os versículos 33 e 34 dizem respeito ao
Cristo ressurreto. O versículo 33 diz: “Como Deus a
cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando
a Jesus, como também está escrito no Salmo
segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei”. Já
mostramos que a ressurreição de Cristo foi o Seu
segundo nascimento a fim de gerá-Lo como o
Primogênito de Deus. Deus prometeu dá-Lo ao Seu
povo, e esse Cristo ressurreto é as coisas santas e fiéis
de Davi. A expressão as coisas santas de Davi, as
fiéis, indica que Cristo era de Davi, pois foi da
descendência de Davi que Deus O suscitou. Para
Deus, o Cristo ressurreto é o Primogênito, mas para
nós Ele é o Salvador. Além disso, Ele é um grande
dom dado por Deus aos Seus escolhidos, e esse dom é
intitulado as coisas santas e fiéis de Davi.

O Cristo Ressurreto
Literalmente as palavras gregas traduzi das como
as coisas santas de Davi, as fiéis são as coisas santas
(grego hósios, plural), as fiéis ou seguras. A mesma
palavra (hósios) é usada para Santo no versículo
seguinte, mas no singular. Mas não é a palavra
geralmente usada para santo, que é hágios. Hásios é
o equivalente grego do hebraico chesed, que é
traduzido como misericórdias em Isaías 55:3; 2
Crônicas 6:42; e no Salmo 89:1, tanto na Septuaginta
como na Versão Revista e Atualizada de João Ferreira
de Almeida. No Salmo 89 chesed no versículo I para
misericórdias no plural é a mesma palavra no
versículo 19 (VRC) para Santo no singular. Esse
Santo é Cristo, o Filho de Davi, no qual as
misericórdias de Deus estão centralizadas e por meio
de quem são transmitidas. Assim, as coisas santas e
fiéis de Davi se referem ao Cristo ressurreto. Isso está
plenamente provado pelo contexto, especialmente
por teu Santo em Atos 13:35 e Isaías 55:3.
O pensamento de Paulo em 13:33-34 é muito
profundo. O Cristo ressurreto, que é o Primogênito de
Deus gerado por meio do Seu segundo nascimento, a
ressurreição, são as coisas santas e fiéis. No versículo
34 a palavra fiéis significa confiáveis. O Cristo
ressurreto é as coisas santas e confiáveis que Deus
nos dá. Aqui Paulo dá a entender que o Cristo
ressurreto não é apenas o nosso Salvador,
trazendo-nos a salvação divina, nem somente o
Primogênito de Deus. Cristo é também as coisas
santas e fiéis como um dom dado a nós por Deus.
É fácil entender que Cristo é nosso Salvador. É
mais difícil entender que Ele é o Primogênito de
Deus. Mas é muito difícil entender que o Cristo
ressurreto é as coisas santas e confiáveis. Muitos de
nós nunca fomos ensinados que o Cristo ressurreto é
as coisas santas e confiáveis dadas a nós por Deus. As
coisas santas e fiéis abrangem um universo de itens,
um universo muito maior que o abrangido pelos
títulos Salvador e Primogênito. A expressão as coisas
santas e fiéis é, na verdade, um título divino, um
título de Cristo. Nesses versículos Ele é chamado de
as coisas santas e confiáveis. O Deus Salvador
levantado da descendência de Davi tomou-se as
coisas santas e confiáveis.

Todos os Aspectos do que Cristo É


Que são essas coisas santas e confiáveis? São
todos os aspectos do que Cristo é. Segundo o Novo
Testamento, Cristo é vida, luz, graça, justiça,
santidade, santificação e justificação. Também é o
pão da vida e a água viva. Ademais, as coisas santas e
confiáveis incluem todos os aspectos de Cristo
desvendados em 1 Coríntios: poder, sabedoria,
justiça, — santificação, redenção, glória, as
profundezas de Deus,? único fundamento do edifício
de Deus, a páscoa, o pão asmo, a comida espiritual, a
bebida espiritual, a rocha espiritual, a Cabeça, o
Corpo, as primícias, o segundo homem e o último
Adão. Vemos muitos outros aspectos de Cristo no
Evangelho de João, tais como o Pastor e o pasto. Oh!
quanto Cristo é para nós como as coisas santas e
confiáveis. Como Aquele que ressuscitou, Ele é o
Primogénito, o Salvador e todas as coisas santas e
confiáveis.

Cristo como Misericórdias para Nós


No Antigo Testamento, as coisas santas e fiéis
eram consideradas como misericórdias. Isaías 55:3
fala de “as fiéis misericórdias prometidas a Davi”.
Segundo Crônicas 6:42 menciona: “As misericórdias
que usaste para com Davi”, o servo do Senhor, e o
Salmo 89: I diz: “Cantarei para sempre as tuas
misericórdias, ó Senhor”. Você sabe o que é
misericórdia? Misericórdia implica amor e graça, mas
vai mais longe do que o amor. Onde o amor e a graça
não alcançam, a misericórdia alcança. Todas as coisas
santas e fiéis são o próprio Cristo como misericórdias
para nós. A vida é uma misericórdia e a luz também é.
Semelhantemente, justiça, santidade, justificação e
santificação são misericórdias. No capítulo dez de
João temos a porta, o pasto e o Pastor, todos os quais
são misericórdias. Tente contar todos os aspectos
dessas misericórdias. Se gastar tempo contando-as,
você terá uma longa lista delas.
O amor do marido pela mulher e a submissão da
mulher ao marido são Cristo como misericórdias para
nós. Se, em Cristo, eu amo a minha mulher, isso
certamente é uma misericórdia. Meu amor por ela é o
próprio Cristo como misericórdia para mim. De
forma semelhante, se uma irmã, em Cristo, se
submeter ao marido, isso também é uma
misericórdia. A sua submissão é o próprio Cristo
como misericórdia para ela.
Posso testificar que falar a palavra de Deus ano
após ano certamente é uma misericórdia para mim.
Que misericórdia poder falar a Palavra sem cessar.
Antigamente todo ano eu passava alguns meses nas
Filipinas para ministrar a Palavra. Uma irmã de mais
idade, que era a minha hospedeira, ficou muito
surpresa que eu sempre tinha algo novo para dizer.
Ela pensou que após alguns anos eu não teria mais
nada para ministrar. Um dia, depois de uma reunião
de conferência, ela disse: “Pensei que você agora já
estivesse exaurido e não tivesse mais nada para dizer.
Mas o seu ministério está até mesmo mais fresco e
rico agora do que antes. Onde você ganha tudo isso
para falar?” Se me fizessem essa pergunta hoje, eu
diria que o meu falar a Palavra é Cristo como
misericórdia para mim. Não se trata de habilidade ou
dom, mas totalmente de misericórdia.
Não é apenas uma misericórdia para mim que eu
fale a palavra de Deus, mas até mesmo o amado
Salvador é o meu falar. Meu falar é Cristo, e, para
mim, falar Cristo é uma misericórdia. Não tenho
graduação elevada e meu falar não é eloqüente. Não
obstante, o que falo é cheio de Cristo. Isso se deve
totalmente ao fato de Cristo ser misericórdia para
mim quando falo a palavra de Deus.
O Cristo Pregado por Paulo
Todos precisamos ver que o Cristo ressurreto é o
Primogênito de Deus, o Salvador e as coisas santas e
fiéis de Davi. Todos os cristãos autênticos sabem que
Cristo é o Unigênito de Deus, e alguns percebem que
Ele é o Primogênito de Deus. Mas alguma vez você já
ouviu que o Cristo ressurreto é todas as coisas santas
e confiáveis como misericórdias dadas a nós por Deus
como dom todo-inclusivo? Talvez nunca tenhamos
ouvido isso, mas esse foi o Cristo pregado por Paulo
em Atos 13. Estou muito feliz em ver que Paulo, em
sua mensagem do evangelho, não apenas pregou o
Cristo do Antigo Testamento, mas também o Cristo
ressurreto como as coisas santas e confiáveis. Na
verdade, o que ele proclamou em sua pregação do
evangelho requer todas as Epístolas que ele escreveu
como definição. Assim, se você quer ver mais a
respeito de Cristo como as coisas santas e confiáveis,
precisa estudar as catorze Epístolas de Paulo.
Em sua pregação Paulo estabeleceu um excelente
modelo para nós em nossa pregação do evangelho
hoje. Assim como Paulo, precisamos pregar Cristo de
forma rica e elevada.
Em 13:35 a 37 Paulo continua: “Por isso, também
diz em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo
veja corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi
servido à sua própria geração, conforme o desígnio de
Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais e viu
corrupção. Porém aquele a quem Deus ressuscitou
não viu corrupção”. A palavra servido no versículo 36
indica que o reinado de Davi foi um serviço à sua
geração pelo conselho de Deus. Assim como em
13:30, Paulo em 13:37 novamente enfatiza que Deus
ressuscitou o Homem Jesus.

PERDÃO E JUSTIFICAÇÃO
Em 13:38-39 Paulo prossegue: “Tomai, pois,
irmãos, conhecimento de que se vos anuncia
remissão de pecados por intermédio deste; e, por
meio dele, todo o que crê é justificado de todas as
cousas das quais vós não pudestes ser justificados
pela lei de Moisés”. Ser perdoado de pecados (v. 38) é
negativo; visa à libertação da condenação. Ser
justificado (v. 39) é positivo; visa à reconciliação com
Deus e sermos aceitos por Ele.
Tanto no versículo 38 como no 39 Paulo fala
sobre este. Quem é este? Este é o que foi ressuscitado
para ser o Primogênito de Deus, o nosso Salvador e as
muitas coisas santas e confiáveis. Assim, por meio
desse que é as coisas santas e confiáveis como as
misericórdias de Deus para nós, somos perdoados e
justificados. Você alguma vez já ouviu tal evangelho?
Por meio Dele, que é o Primogênito, o Salvador e as
coisas santas e confiáveis, o perdão de pecados nos foi
anunciado. E por meio Dele somos justificados de
todas as coisas das quais não podíamos ser
justificados pela lei de Moisés.
Esse por meio do qual somos perdoados e
justificados não é apenas o nosso Salvador; mas Ele
mesmo é o nosso perdão e justificação. Tanto perdão
como justificação são misericórdias de Deus para nós
e essas misericórdias são aspectos do Cristo
ressurreto. Hoje Cristo em ressurreição é nosso
perdão e justificação. Nunca considere perdão e
justificação como algo à parte de Cristo. Tanto o
perdão como a justificação são aspectos do próprio
Cristo como misericórdias de Deus para nós, e essas
misericórdias são coisas santas e fiéis.
Você não considera perdão e justificação como
dons que Deus nos deu? não crê que são coisas santas
e confiáveis? Por certo, são dons de Deus, e
certamente são coisas santas e confiáveis. Se tivermos
esse entendimento, veremos que perdão e justificação
não são comuns. Mas são santos. Ademais, são fiéis,
garantidos e confiáveis.
Eu aprecio muito a maneira de Paulo pregar a
Cristo em Atos 13. Por meio da sua pregação muitos
foram salvos.

PERSEVERAR NA GRAÇA DE DEUS


Em 13:40-41 Paulo advertiu: “Notai, pois, que
não vos sobrevenha o que está dito nos profetas:
Vede, ó desprezadores, maravilhai-vos e desvanecei,
porque eu realizo, em vossos dias, obra tal que não
crereis se alguém vo-la contar”. Então, enquanto as
pessoas saíam da sinagoga “rogaram-lhes que, no
sábado seguinte, lhes falassem estas mesmas
palavras” (v. 42). O versículo 43 diz: “Despedida a
sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos piedosos
seguiram Paulo e Barnabé, e estes, falando-lhes, os
persuadiam a perseverar na graça de Deus”. Assim
como em 2:10, os prosélitos eram gentios que se
converteram ao judaísmo (6:5). A graça de Deus, na
qual os judeus e prosélitos que seguiram a Paulo e a
Barnabé foram exortados a perseverar, é o Deus
Triúno recebido e desfrutado pelos crentes e expresso
na salvação, mudança de vida e no viver santo deles.
Precisamos dar atenção especial à palavra graça
em 13:43. Precisamos até mesmo analisá-la. Embora
estejamos familiarizados com essa palavra,
precisamos perceber que graça em 13:43 é um
composto, formado por vários elementos. É composta
de todas as coisas santas e fiéis.
Se quisermos entender isso, precisamos ver que
o versículo 43 é parte da continuação do versículo 34.
No versículo 34 temos o Cristo ressurreto como as
coisas santas e fiéis. Conforme a promessa e profecia
do Antigo Testamento, essas coisas santas e fiéis são
misericórdias. Já mostramos que essas misericórdias
são aspectos do que Cristo é. No versículo 43 a
expressão muda de coisas santas e fiéis para graça.
Deus nos deu o Cristo ressurreto como as coisas
santas e fiéis e nós cremos Nele e recebemos todas
essas coisas santas e fiéis. Mas que experimentamos
na vida diária? Experimentamos a graça composta e
todo-inclusiva que é o Deus Triúno processado, o
próprio Deus que passou pelo processo de
encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição. Por isso Paulo persuadiu os crentes a
perseverar na graça de Deus.
Perseverar na graça implica que já a recebemos.
Tendo recebido a graça de Deus, precisamos
perseverar nela. Na verdade, os crentes receberam as
coisas santas e fiéis mencionadas no versículo 34.
Então tais coisas se tornam a graça de Deus no
versículo 43. Portanto, a graça de Deus é composta de
todas as coisas santas e fiéis.

REJEITADOS PELOS JUDEUS Indignos da


Vida Eterna
Em 13:44-52 vemos que Paulo e Barnabé foram
rejeitados pelos judeus. Atos 13:44-46 diz: “No
sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir
a palavra de Deus. Mas os judeus, vendo as
multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando,
contradiziam o que Paulo falava. Então, Paulo e
Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria
que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a
palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós
mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que
nos volvemos para os gentios”. O fato de alguém
rejeitar a palavra de Deus prova que ele, pelo seu
próprio julgamento, é indigno da vida eterna.
Em sua pregação, registrada nesse capítulo,
Paulo não falou da vida eterna. Mas falou do Filho de
Deus, do Salvador, das coisas santas e fiéis e da graça
de Deus. Mas agora, com respeito aos judeus que os
rejeitavam, Paulo e Barnabé disseram que eles se
julgaram indignos da vida eterna. Isso prova de fato
que tudo o que Paulo pregava com respeito ao Cristo
ressurreto, o Filho de Deus, o Salvador e as coisas
santas e fiéis, e a graça de Deus é a vida eterna.
Se quisermos ter a compreensão adequada da
vida eterna em 13:43, precisamos da experiência
espiritual adequada. Pela nossa experiência sabemos
que a vida eterna é o Salvador, o Primogênito de
Deus, as coisas santas e fiéis e a graça todo-inclusiva.
Quando rejeitaram as palavras de Paulo e Barnabé, os
judeus se julgaram indignos da vida eterna, que é o
Salvador, o Filho de Deus, as coisas santas e fiéis e a
graça de Deus,

A Luz dos Gentios


Em 13:47 Paulo disse aos judeus que os
rejeitavam: “Porque o Senhor assim no-lo
determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a
fim de que sejas para salvação até aos confins da
terra”. Essa palavra é uma citação de Isaías 49:6, a
qual se refere a Cristo como o Servo de Deus, o qual
Deus deu como luz para os gentios, para que a Sua
salvação alcance os confins da terra. Como o apóstolo
Paulo era um com Cristo em levar a cabo a salvação
de Deus em Cristo, ele aplicou essa palavra profética a
si mesmo em seu ministério de pregação do
evangelho, para a mudança de direção do evangelho
dos judeus, por causa da rejeição deles, para os
gentios. Em Seu ministério na terra o Senhor
expressou o mesmo aos judeus teimosos em Lucas
4:24-27.

Os Destinados para a Vida Eterna


Atos 13:48 continua: “Os gentios, ouvindo isto,
regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e
creram todos os que haviam sido destinados para a
vida eterna”. O termo grego traduzido como
destinados também pode ser traduzido como
designados ou ordenados. Rejeitar o evangelho é
evidência de que a pessoa é indigna da vida eterna (v.
46); crer nele é prova de que a pessoa foi designada,
ou ordenada, por Deus para a vida eterna. A
ordenação ou predestinação de Deus para a salvação
do homem é a Sua soberania. Contudo, Ele ainda
deixa o homem em seu livre arbítrio. Se o homem irá
crer na Sua salvação ou rejeitá-la cabe ao homem
decidir.
Se somos ou não designados para a vida eterna
torna-se evidente quando rejeitamos o evangelho ou
cremos nele. Se você recebe a palavra do evangelho,
isso é prova de que Deus o designou para a vida
eterna. Mas, se determinada pessoa rejeita a palavra
do evangelho, isso prova que ela não é digna da vida
eterna, de que não foi designada para a vida eterna.
Com respeito a isso, Deus tem a Sua autoridade e
jurisdição, e o homem tem o livre arbítrio. Por um
lado Deus tem o poder para designar; por outro, o
homem tem a capacidade de aceitar ou recusar.
Nesses versículos temos o Salvador, o Filho de
Deus, as coisas santas e fiéis, a graça de Deus e a vida
eterna. Quando desfrutamos a vida eterna,
desfrutamos a graça de Deus. Quando desfrutamos
essa graça, desfrutamos as coisas santas e fiéis.
Quando desfrutamos as coisas santas e fiéis,
desfrutamos o Primogênito de Deus e o Salvador.

Os Discípulos Transbordavam de Alegria e do


Espírito Santo
Atos 13:49-52 diz: “E divulgava-se a palavra do
Senhor por toda aquela região. Mas os judeus
instigaram as mulheres piedosas de alta posição e os
principais da cidade e levantaram perseguição contra
Paulo e Barnabé, expulsando-os do seu território. E
estes, sacudindo contra aqueles o pó dos pés,
partiram para Icônio. Os discípulos, porém,
transbordavam de alegria e do Espírito Santo”. No
versículo 52 a palavra grega traduzida como
transbordavam é pleróo, que significa ser enchido
interiormente. De acordo com o seu uso em Atos,
pleróo denota encher um vaso interiormente, assim
como o vento encheu a casa em 2:2. Em 13:52 os
discípulos foram enchidos interior e essencialmente
com o Espírito para o viver cristão deles. Esse encher
interior do Espírito Santo é essencial, visando à vida,
e não ao poder. A alegria, visto ser questão de vida, e
não de poder, é prova disso.
Além do Salvador, do Filho de Deus, das coisas
santas e fiéis, da graça de Deus ~ da vida eterna nos
versículos 34 a 48, agora temos o Espírito Santo no
versículo 52. O Salvador, o Filho de Deus, as coisas
santas e fiéis, a graça de Deus e a vida eterna
compõem o Espírito Santo único, todo-inclusivo e
que dá vida. Esse Espírito todo-inclusivo é agora o
“sanduíche” todo-inclusivo para a nossa experiência e
desfrute. Quando comemos esse “sanduíche”,
desfrutamos a vida eterna, a graça, as coisas santas e
fiéis, o Primogênito de Deus e o Salvador.
Nesta mensagem vimos a maneira de estudar a
Bíblia e de pregar o evangelho. Primeiro temos Cristo
Jesus e por fim temos o Espírito Santo. Temos Cristo
Jesus como o Salvador, o Primogênito de Deus, as
coisas santas e fiéis, a graça e a vida eterna. Agora
vemos que tudo isso está no Espírito Santo, e somos
enchi dos desse Espírito essencialmente. Graças ao
Senhor que no Espírito Santo todo-inclusivo temos
perdão, justificação, santificação, justiça, santidade,
poder, força, autoridade, vida e luz. Louvado seja o
Senhor por tudo o que está incluído no Espírito
todo-inclusivo!
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM TRINTA E NOVE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (5)

Leitura Bíblica: At 14:1-28

UM LIVRO DA ECONOMIA DE DEUS


Não é O meu encargo no Estudo-Vida de Atos
abranger todos os pontos menores contidos nesse
longo livro. Por exemplo, não tenho encargo de falar
de assuntos do tipo: Davi, um homem segundo o
coração de Deus. Mas meu encargo é cobrir todos os
pontos cruciais a respeito da economia
neotestamentária de Deus. Em outras palavras, estou
preocupado com todas as coisas em Atos que têm
significado “dispensacional”.
Não uso a palavra “dispensacional” para me
referir a uma era nem à maneira de Deus
relacionar-se com o povo em certa época, mas nestas
mensagens a palavra “dispensação” denota o arranjo
divino na economia eterna de Deus. No livro de Atos
há muito para se ver com respeito a esse arranjo
divino. Atos, portanto, é um livro da economia de
Deus. Muitos cristãos não têm essa compreensão.
Esse livro não diz respeito meramente aos atos, mas é
um livro que nos mostra a dispensação, a economia, o
arranjo de Deus em Sua economia eterna. a meu
encargo nestas mensagens de Estudo-Vida é abordar
a economia de Deus no livro de Atos.
Ao chegar a determinado capítulo de Atos, o meu
objetivo é ver algo com respeito ao arranjo divino da
economia de Deus ali. Esse é o meu objetivo no
capítulo catorze. Pode parecer que nesse capítulo não
podemos ver nada com respeito ao arranjo divino na
economia de Deus. Mas se o estudarmos
cuidadosamente poderemos ver algumas questões
relacionadas com esse assunto.

PARA ICÔNIO
Atos 14:1 diz: “Em Icônio, Paulo e Barnabé
entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal
modo, que veio a crer grande multidão, tanto de
judeus como de gregos”. Assim como em 13:5 e 14,
eles não foram à sinagoga para participar da reunião
deles, e, sim, para tirar vantagem desse ajuntamento
e anunciar a palavra da graça de Deus. a versículo 2
continua: “Mas os judeus incrédulos incitaram e
irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos”.
Aqui o vocábulo grego traduzido por ânimos
literalmente significa almas.

A Palavra da Graça de Deus


Atos 14:3 prossegue dizendo: “Entretanto,
demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente
no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça,
concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e
prodígios”. Como mostramos, a graça do Senhor é o
Deus Triúno recebido e desfrutado pelos crentes e
expresso na salvação, mudança de vida e viver santo
deles.
Quando o Senhor testificou a palavra da Sua
graça, Ele concedeu sinais e prodígios feitos pelas
mãos de Paulo e Barnabé. Sinais e prodígios não são
parte do testemunho central de Deus do Cristo
encarnado, crucificado, ressurreto e ascendido.
Também não são parte da Sua plena salvação. Mas
são apenas evidências de que o que os apóstolos
pregavam e ministravam era absolutamente de Deus,
e não do homem.
A expressão “a palavra da sua graça” denota
certos pontos “dispensacionais”. O povo judeu não lia
o Antigo Testamento nas sinagogas para conhecer a
palavra da graça do Senhor; liam as Escrituras para
conhecer a palavra da lei de Deus, que pertencia à
velha dispensação, ao antigo arranjo divino da
economia de Deus. Mas a palavra da graça do Senhor
substitui a lei. A mente dos judeus nas sinagogas
estava ocupada com a lei. Mas Paulo lhes pregava
Cristo como graça. Eles edificavam os novos crentes
testificando a palavra de vida e a palavra da graça do
Senhor. A palavra confirmava no versículo 3 implica
que a palavra da graça já existia e já havia sido
pregada. Como a palavra da graça tinha sido pregada,
confirmação lhe foi acrescentada.

A Palavra da Graça no Antigo Testamento


Os apóstolos podiam testificar da palavra da
graça do Senhor embora tivessem apenas o Antigo
Testamento. Será que podemos encontrar a palavra
da graça no Antigo Testamento? Em vez de achar a
palavra da graça, o povo judeu deu atenção à palavra
da lei com todos os mandamentos. O que eles tinham
era a palavra da lei de Deus, não da graça do Senhor.
Contudo, a palavra da graça do Senhor já existia no
Antigo Testamento. Isso tornou possível que os
apóstolos testificassem a respeito dela.
Vamos considerar alguns exemplos da palavra da
graça do Senhor encontrada no Antigo Testamento.
Considere Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a
mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar”. Aqui vemos que a descendência da
mulher ferirá a cabeça da serpente. Isso não é uma
palavra da graça do Senhor? Certamente é. Depois
que comeram do fruto da árvore do conhecimento do
bem e do mal, Adão e Eva tentaram esconder-se de
Deus. A voz do Senhor soou para Adão e disse: “Onde
estás?” (Gn 3:9). Adão e Eva estavam amedrontados,
talvez pensando que Deus os sentenciaria à morte.
Mas, em vez de falar uma palavra de condenação ou
juízo, o Senhor falou uma palavra de graça. Em
Gênesis 3:15 Ele • condenou a serpente e disse a Adão
e Eva uma palavra de graça. Eles devem ter ficado
muito felizes quando ouviram a palavra do Senhor
então. Devem ter odiado a serpente, e agora o Senhor
lhes dizia que a descendência da mulher iria ferir a
cabeça da serpente. Isso certamente é uma palavra de
graça.
Outro exemplo de palavra de graça encontrada
no Antigo Testamento é Gênesis 12:2-3, quando Deus
disse a Abraão: “De ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma
bênção! (...) em ti serão benditas todas as famílias da
terra”. Essa certamente não é uma palavra de lei, mas
de graça. Os judeus nas sinagogas eram
espiritualmente cegos e não podiam ver a palavra da
graça do Senhor no Antigo Testamento.
Outros exemplos da palavra da graça do Senhor
são encontrados no livro de Isaías. Considere Isaías
7:14: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho e lhe chamará Emanuel”. Essa é uma palavra de
graça. Outra palavra de graça está em Isaías 9:6:
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu;
o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome
será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz”. Esse também é um
exemplo das muitas palavras da graça do Senhor no
Antigo Testamento.

A Pregação de Pedro e a de Paulo


Vimos que no capítulo treze de Atos Paulo
aplicou as coisas santas de Davi, as fiéis ao Cristo
ressurreto (vs. 33-35). Paulo entendeu isso como uma
referência a Cristo em ressurreição. Quem, senão
Paulo, seria capaz de entender que as coisas santas e
fiéis de Davi se referem ao Cristo ressurreto? Por
certo, ele foi o melhor “minerador”, o mais capaz para
escavar as profundezas do Antigo Testamento a fim
de achar as riquezas da palavra da graça do Senhor.
Em Atos 2 Pedro deu uma excelente mensagem
com respeito ao Cristo ressurreto. Quando você lê
esse trecho, pode ficar bem impressionado com a
mensagem de Pedro. Mas você já teve antes um
apreço adequado pela pregação de Paulo em Atos 13?
Muitos leitores de Atos não têm apreço adequado por
essa mensagem porque não viram o que está revelado
nela com respeito a Cristo em ressurreição. Sim, a
pregação de Pedro no capítulo dois é excelente, mas é
um pouco superficial. Mas a pregação de Paulo em
Atos 13 é muito profunda e maravilhosa.
Em sua pregação em Atos 13, Paulo indica que,
em ressurreição, Cristo tomou-se o Primogênito de
Deus. Ele aplica o Salmo 2:7 ao Cristo ressurreto para
indicar que, para Cristo, a ressurreição foi um
nascimento. Talvez não percebamos que a
ressurreição de Cristo foi o Seu nascimento. Você já
ouviu isso antes? Segundo a Bíblia, em ressurreição,
Cristo em Sua humanidade foi gerado de Deus para
ser o Seu Primogênito. Enquanto o Unigênito de Deus
visa à corporificação da vida divina, o Primogênito
visa à propagação dessa vida. Na verdade, nós
nascemos com Cristo em Sua ressurreição. Nesse
sentido, portanto, a ressurreição Dele foi um
nascimento universal. O que enfatizamos aqui é que
Paulo “escavou” no Antigo Testamento a verdade de
que Cristo em ressurreição nasceu para ser o fator de
propagação da vida divina; Ele nasceu para ser o
Primogênito de Deus, para a reprodução propagadora
da vida divina.
Ao “escavar” a Palavra, Paulo também descobriu
que Cristo em ressurreição se tornou as coisas santas
e fiéis, as coisas confiáveis e seguras, de Davi. Ele
percebeu que “as fiéis misericórdias prometidas a
Davi” (Is 55:3) se referem a Cristo em Sua
ressurreição. Hoje alguns gostam de cantar o Salmo
89: I: “Cantarei para sempre as tuas misericórdias, ó
Senhor; os meus lábios proclamarão a todas as
gerações a tua fidelidade”. Porém, os que cantam esse
Salmo talvez não tenham uma compreensão
adequada do que seja misericórdia. Eles podem
pensar que misericórdia seja apenas um sentimento
de compaixão que Deus tem para conosco. Mas, de
acordo com o entendimento de Paulo, as
misericórdias do Senhor são Cristo em Seu segundo
nascimento, isto é, Cristo em ressurreição. O escavar
de Paulo na Palavra é maravilhoso, e admiramos o
seu estudo das Escrituras. Nisso ninguém se compara
a ele. Em Atos 13 ele pregou o Cristo todo-inclusivo.
Por muitas gerações os judeus leram o Antigo
Testamento nas sinagogas. Mas o que ouviam era a
palavra do mandamento de Deus, e não da graça do
Senhor. Contudo, quando o Senhor Jesus proclamou
o jubileu do Novo Testamento em Lucas 4, Ele
escolheu uma palavra de graça do livro de Isaías.
Precisamos ver o significado da expressão “a
palavra de Sua graça” em Atos 14:3. Essa frase é forte
indicação de “mudança de dispensação, de mudança
do arranjo de Deus em Sua economia.
No capítulo treze a pregação de Paulo aos judeus
baseou-se principalmente na revelação do Antigo
Testamento com respeito a Cristo. A pregação no
capítulo catorze, no entanto, é para os gentios. Ao
considerar esse capítulo, veremos a sabedoria de
Paulo ao pregar o evangelho aos gentios. A sua
pregação aos gentios nesse capítulo não se baseia na
revelação de Cristo do Antigo Testamento, mas na
criação de Deus.

PARA LISTRA E DERBE DA LICAÔNIA A


Reação das Multidões
Quando os apóstolos perceberam que surgia “um
tumulto dos gentios e judeus, associados com as suas
autoridades, para os ultrajar e apedrejar” (v. 5), eles
“fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia e
circunvizinhança, onde anunciaram o evangelho” (vs.
6-7). Paulo viu certo homem coxo e lhe disse:
“Apruma-te direito sobre os pés! Ele saltou e andava”
(v. 10). De acordo com os versículos 11 e 12, “quando
as multidões viram o que Paulo fizera, gritaram em
língua licaônica, dizendo: Os deuses, em forma de
homens, baixaram até nós. A Barnabé chamavam
Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, porque era este o
principal portador da palavra”. Júpiter, na mitologia
romana equivale a Zeus, o principal deus da mitologia
grega, e Mercúrio equivale a Hermes, o mensageiro
dos deuses. No versículo 12 as palavras gregas
traduzidas como “o principal portador da palavra”
literalmente significam “o líder do discurso”. No
versículo 13 é-nos dito que “o sacerdote de Júpiter,
cujo templo estava em frente da cidade, trazendo para
junto das portas touros e grinaldas, queria sacrificar
juntamente com as multidões”.

A Reação dos Apóstolos


Quando Barnabé e Paulo ouviram isso rasgaram
“as suas vestes, saltaram para o meio da multidão,
clamando: Senhores, por que fazeis isto? Nós
também somos homens como vós, sujeitos aos
mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho
para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus
vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há
neles” (vs. 14-15). As “coisas vãs” aqui referem-se a
ídolos e idolatria. Aqui Paulo e Barnabé estavam
dizendo: “Não nos considerem deus nem nos adorem!
Somos homens como vocês. Vocês devem voltar-se
dessas coisas vãs, desses ídolos, para o Deus vivo, que
fez os céus, a terra, o mar e todas as coisas que neles
há”. Aqui vemos que a pregação de Paulo a esses
gentios baseia-se na criação de Deus.

A Diferença entre a Pregação do Evangelho de


Paulo para os Judeus e para os Gentios
No versículo 16 Paulo e Barnabé prosseguiram
dizendo que Deus, “nas gerações passadas, permitiu
que todos os povos andassem nos seus próprios
caminhos”. Então, no versículo 17 ele disse palavras
tocantes, para comover o coração dos ouvintes:
“Contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si
mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e
estações frutíferas, enchendo o vosso coração de
fartura e de alegria”. Essa foi uma ótima maneira de
pregar o evangelho. Baseou-se na criação de Deus e
por fim tocou o coração dos ouvintes. Essa palavra foi
breve, mas reveladora e tocante.
Todos precisamos aprender com Paulo a pregar o
evangelho. Nesse capítulo ele não contou histórias,
mas deu uma mensagem breve que desvendou Deus
como Criador de todo o universo. Também falou algo
inspirado que tocou o coração das pessoas. Ele
parecia estar dizendo: “Por gerações Deus permitiu
que vocês andassem nos seus próprios caminhos. Ele
não vos puniu, mas lhes fez muitas coisas boas: deu
chuva do céu e estações frutíferas e encheu o coração
de vocês de fartura e alegria”. V amos aprender com
Paulo e seguir a sua forma de pregar o evangelho.
No capítulo treze de Atos Paulo pregou de acordo
com o Antigo Testamento, conhecido por diversas
gerações dos judeus. Em vez de ressaltar a criação de
Deus e as coisas boas que Deus fez por eles, ele lhes
falou a respeito de Cristo em ressurreição. Com isso
vemos que ao pregar o evangelho para os que
conhecem o Antigo Testamento, não há necessidade
de dizer-lhes que Deus é o Criador. Se dissermos isso,
eles dirão: “Já sabemos que Deus é o Criador.
Podemos até ensiná-lo sobre isso”.
É muito importante ver que a pregação do
evangelho de Paulo no capítulo catorze é diferente do
capítulo treze. Enquanto no capítulo treze ele falava
aos judeus, no capítulo catorze ele pregava aos
gentios. Ao pregar aos gentios ele lhes disse que Deus
é o Criador e sempre foi bom para eles, dando-lhes
chuva e colheitas para que o coração deles se
enchesse de alegria. Aqui vemos que Paulo pregou o
evangelho de maneira sábia e excelente.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (6)

Leitura Bíblica: At 14:21-28


Nesta mensagem vamos considerar 14:21b-28.

FORTALECERAM OS DISCÍPULOS E
DESIGNARAM PRESBÍTEROS EM CADA
IGREJA
Depois que Paulo e Barnabé trouxeram as boas
novas à cidade de Derbe e fizeram um número
considerável de discípulos (vs. 20-21a), “voltaram
para Listra, e Icônio, e Antioquia” (v. 21b). Essa não é
a Antioquia da qual foram enviados a essa viagem
ministerial (13:1); mas é a Antioquia na Pisídia, na
Ásia Menor.

Fortaleceram a Alma dos Discípulos


Atos 14:22 diz que Paulo e Barnabé estavam
“fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a
permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de
muitas tribulações, nos importa entrar no reino de
Deus”. Aqui a preocupação deles não era com o
espírito dos discípulos, e, sim, com a alma deles. A
alma do homem é composta de mente, emoção e
vontade. Fortalecer a alma dos discípulos é
fortalecê-los na mente, a fim de que conheçam e
entendam o Senhor e as coisas a respeito Dele (1Co
2:16; Fp 3:10); na emoção, para que amem ao Senhor
e tenham coração aberto para o interesse Dele (Mc
12:30; Rm 16:4); e na vontade, para que sejam fortes
em permanecer com o Senhor e façam o que Lhe
apraz (At 11:23; Cl 1:10; 1Ts 4:1). Assim, fortalecer a
alma dos discípulos é fortalecê-los em sua mente,
emoção e vontade.

Exortaram os Discípulos a Permanecer


Firmes na Fé
Conforme Atos 14:22, Paulo e Barnabé
exortaram os discípulos a permanecer firmes na fé.
Em 13:43 eles persuadiram os crentes a perseverar na
graça de Deus, mas aqui eles os exortaram a
permanecer firmes na fé. Permanecer firme na fé é
mais difícil do que perseverar na graça de Deus.
Assim como em 6:7, a fé em 14:22 é a fé objetiva.
Refere-se àquilo em que os crentes crêem com
respeito à Pessoa e obra de Cristo. A fé da economia
neotestamentária de Deus é toda a revelação do Novo
Testamento com respeito a Cristo e a Sua obra
redentora (Rm 16:26).
Se entendemos o que é fé, percebemos que
permanecer na fé é mais profundo do que
permanecer na graça. Permanecer na graça de Deus é
desfrutar o Deus Triúno. Mas para permanecer na fé
precisamos exercitar não apenas o espírito para
desfrutar o Deus Triúno, mas também a mente para
estudar a revelação do Novo Testamento, que está
totalmente incluída na fé objetiva.
Hoje muitos cristãos não sabem qual é toda a
revelação do Novo Testamento com respeito à
economia de Deus. Como é pobre a situação a esse
respeito! Se não sabemos o que é a fé objetiva,
certamente não podemos permanecer nela.
A exortação dos apóstolos em 14:22 vai além da
de 13:43. Em 13:43 os crentes foram persuadidos a
perseverar na graça de Deus; isto é, encorajados a
perseverar no desfrute do Deus Triúno como graça.
Em 14:22, são exortados a permanecer na fé; isto é,
encorajados a conhecer a plena revelação da
economia neotestamentária de Deus e a perseverar
nela, que é algo muito profundo.
Os crentes em Listra, Icônio e Antioquia tinham
se convertido havia menos de um ano. Quando Paulo
e Barnabé visitaram pela primeira vez essas cidades,
as igrejas foram levantadas. Então, eles partiram para
outros lugares e por fim retomaram para ali. Como
vimos, eles exortaram os discípulos ali a permanecer
não apenas na graça, mas também na fé. A palavra
sobre perseverar na graça de Deus fora dada no
capítulo treze para recém-convertidos. Logo depois
de salvos, eles foram persuadidos pelos apóstolos a
permanecer no desfrute do Deus Triúno. Os crentes
em Listra, Icônio e Antioquia devem ter permanecido
na graça de Deus por algum tempo. Segundo o que
indica Atos 14, eles devem ter aprendido bastante da
economia neotestamentária de Deus naquele período.
O que aprenderam tornou-se-lhes o conhecimento da
fé. Com base nisso, os apóstolos os exortaram a
permanecer firmes na fé.

Entrar no Reino de Deus através de Muitas


Tribulações

O Reino da Vida Divina


Em 14:22 vemos que Paulo e Barnabé disseram
aos discípulos que “através de muitas tribulações, nos
importa entrar no reino de Deus”. Muitos pensam
que o reino de Deus é meramente uma esfera onde
Deus pode governar as pessoas como Rei. De acordo
com esse entendimento, o reino é uma simples esfera
onde Deus governa o Seu povo. Não digo que essa
interpretação seja errada, mas é superficial e natural.
O reino de Deus era um dos assuntos principais
da pregação dos apóstolos em Atos (8:12; 19:8; 20:25;
28:23, 31). Não é um reino material visível aos olhos
humanos, mas o reino da vida divina. É a expansão de
Cristo como vida nos crentes para formar uma
atmosfera na qual Deus governa em Sua vida.

Cristo como a Semente da Vida Semeada nos


Crentes
No Estudo-Vida de Marcos enfatizamos que o
reino' de Deus é o próprio Salvador (Lc 17:21) como a
semente de vida plantada nos crentes, nos escolhidos
de Deus (Mc 4:3, 26), que se desenvolve tornando-se
a esfera na qual Ele governa como Seu reino em Sua
vida divina. A entrada no reino é a regeneração (10
3:5), e o desenvolvimento é o crescimento dos crentes
na vida divina (2 Pe
I:3-11). É a vida da igreja hoje, na qual os crentes
fiéis vivem (Rm 14:17) e resultará no reino vindouro
como herança de galardão (GI5:21; Ef 5:5) para os
vencedores no milênio (Ap 20:4, 6). Por fim,
culminará na Nova Jerusalém como o reino eterno de
Deus, a esfera eterna da bênção eterna da vida eterna
de Deus, para que todos os redimidos de Deus
desfrutem no novo céu e nova terra pela eternidade
(Ap 21:1-4; 22:1-5, 14).
Em Atos 14:22 Paulo exortou os crentes que
permaneciam na fé a perceber que através de muitas
tribulações nos importa entrar no reino de Deus.
Você acha que Paulo considerava o reino de Deus
apenas uma esfera onde o povo de Deus se submete
ao Seu governo e que para entrar nessa esfera é
preciso passar por tribulações? Talvez ele pensasse
que o reino de Deus é uma esfera na qual Deus
governa o Seu povo, mas esse certamente não era a
sua idéia principal a esse respeito. Precisamos
lembrar-nos de que Paulo estava exortando os
discípulos que já tinham avançado um pouco. Eles
não perseveravam apenas na graça de Deus, mas
também na fé. A exortação para permanecer na fé é
mais profunda e também mais elevada do que
perseverar na graça. Assim, os que Paulo estava
exortando em 14:22 já tinham aprendido algo das
coisas divinas. Ao dizer-lhes que deviam entrar no
reino de Deus através de muitas tribulações, ele
certamente considerava o reino de Deus algo mais do
que apenas uma esfera objetiva na qual Deus governa
como Rei.
Qual, então, era a idéia principal de Paulo com
respeito ao reino de Deus? Para entender isso,
precisamos perceber que, de acordo com o Novo
Testamento, o reino de Deus não é uma esfera visível
e material. Na verdade, é uma Pessoa, o próprio
Senhor Jesus Cristo. Quando inquirido pelos fariseus
sobre o reino, “Ele lhes respondeu: O reino de Deus
não vem de modo observável. Nem dirão: Ei-lo ali!
Porque eis que o reino de Deus está no meio de vós”
(Lc 17:20-21). Como o contexto prova, o reino de
Deus é o próprio Salvador, que estava entre os
fariseus. Onde quer que esteja o Salvador, lá está o
reino de Deus. Por isso é que Ele podia dizer que o
reino estava entre os fariseus. Como indica a palavra
do Senhor em Lucas 17:20, esse reino não vem de
modo observável; ou seja, é espiritual, e não material
e visível.
Nos quatro Evangelhos o Senhor Jesus
semeou-Se como semente do reino nos discípulos. O
desenvolvimento dessa semente inicia-se em Atos e
continua em todas as Epístolas. Esse
desenvolvimento atinge a sua consumação (a
colheita) em Apocalipse. De acordo com a palavra do
Senhor e o entendimento de Paulo, o reino de Deus
não é uma esfera material, e, sim, espiritual, divina e
até mesmo pessoal. O reino é Cristo como a semente
plantada no coração dos Seus escolhidos. O nosso
coração é o solo no qual a semente do reino é
plantada e se desenvolve. Como já falamos, a semente
do reino é semeada nos 'Evangelhos, se desenvolve
em Atos e nas Epístolas e se consuma com a colheita
em Apocalipse. Essa é a definição adequada do reino
de Deus.

Entrar no Pleno Desfrute do Cristo


Ressurreto como o Reino de Deus
Agora que vimos que o reino de Deus é Cristo
como a semente plantada em nós, que se desenvolve e
se consuma numa colheita, precisamos perguntar o
que significa entrar no reino. Entrar no reino de Deus
é entrar no pleno desfrute de Cristo como o reino.
Contudo, podemos não entender o que significa isso.
O mundo todo se opõe a que o povo de Deus entre no
pleno desfrute de Cristo como o reino. O judaísmo,
por exemplo, foi usurpado e utilizado por Satanás
para evitar que os crentes entrem nesse desfrute.
Através dos séculos, outras formas de religião
(catolicismo, protestantismo e islamismo) também
têm sido usadas pelo inimigo de Deus para evitar que
o povo de Deus entre no pleno desfrute do Cristo
todo-inclusivo como o reino de Deus.
Atos 1:3 nos diz que por um período de quarenta
dias o Cristo ressurreto apareceu aos apóstolos e lhes
falou “das causas concernentes ao reino de Deus”.
Pedro e todos os cento e vinte haviam sido trazidos ao
Senhor, e eles tinham recebido o Espírito essencial
para a vida, viver e existência deles. Eles eram
verdadeiros seguidores de Jesus Cristo. Contudo, no
primeiro capítulo de Atos eles ainda não tinham
entrado no pleno desfrute de Cristo como o reino de
Deus, como a esfera governamental de Deus. Ainda
lhes era necessário entrar na esfera do pleno desfrute
do Cristo ressurreto como o reino de Deus. No dia de
Pentecostes, Pedro e todos os outros certamente
entraram nessa esfera a esfera do pleno desfrute do
Cristo ressurreto e ascendido como a esfera na qual
Deus governa o Seu povo. Quando Pedro estava
pregando o evangelho em Atos 2: vemos nele e nos
outros apóstolos um quadro do reino de Deus. Em
Atos 2 os cento e vinte estavam no pleno desfrute do
Cristo ressurreto e ascendido como a esfera do
governo de Deus. Essa esfera é o reino de Deus.
Assim que os crentes entraram no pleno desfrute
de Cristo como o reino de Deus, a religião judaica se
interpôs para interromper esse desfrute. Se nos
capítulos três, quatro, e cinco, Pedra, João e os outros
crentes tivessem demonstrado alguma fraqueza, eles
teriam perdido o pleno desfrute do Cristo ressurreto,
e como resultado eles teriam perdido o reino de Deus.
À luz do que vimos com respeito ao reino de
Deus, vamos agora voltar a Atos 14 e ver se os
discípulos que Paulo estava exortando tinham
entrado na esfera do pleno desfrute de Cristo como o
reino de Deus. Não, esses crentes ainda não tinham
entrado nesse desfrute, eles ainda estavam a
caminho. Assim, Paulo os exortou a entrar na esfera
do pleno desfrute do Cristo ressurreto e ascendido
como o reino de Deus. Aqui ele parecia estar dizendo:
“Eu preguei a vocês o Cristo ressurreto como as coisas
santas e fiéis, como a graça de Deus, como vida eterna
e até mesmo como o Espírito que dá vida
todo-inclusivo. O pleno desfrute da graça, da vida
eterna, e do Espírito é uma esfera, e essa esfera é o
reino de Deus. Vocês ainda não entraram nessa esfera
— vocês estão a caminho. Assim, eu os exorto a entrar
no reino de Deus através de muitas tribulações. Vocês
devem esperar oposição e estar preparados para ela.
Vocês enfrentarão muitas tribulações. Mas através de
todas essas tribulações vocês devem se esforçar para
entrar na esfera do pleno desfrute do Cristo
ressurreto e ascendido como o reino de Deus. Quando
vocês têm o desfrute desse Cristo, vocês estão debaixo
do governo divino. Então, vocês se tomarão o reino de
Deus, que é a vida adequada da igreja”.

A Vida da Igreja Hoje


Romanos 14 indica que a vida da igreja hoje é o
reino de Deus. Nesse capítulo Paulo fala com respeito
à vida da igreja. Então, no versículo 17 ele diz: “O
reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça,
e paz e alegria no Espírito Santo”. Justiça, paz e
alegria são o resultado do desfrute do Cristo
todo-inclusivo como o reino de Deus. O reino de Deus
é a vida da igreja, e a vida da igreja é uma esfera do
desfrute do Cristo ressurreto e ascendido.
Designou Presbíteros em Cada Igreja
Atos 14:23 diz: “E, designando-lhes presbíteros
em cada igreja, depois de orar com jejuns, os
encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”
(lit.). As palavras gregas traduzidas como em cada
igreja contém a preposição kata com o uso
distributivo — de acordo com a igreja. A expressão em
cada igreja em 14:23 equivale a em cada cidade em
Tito 1:5. A comparação entre essas duas expressões
indica não apenas que a jurisdição de uma igreja local
é a da cidade na qual ela está localizada, mas também
que em uma cidade deve haver apenas uma igreja. O
presbitério de uma igreja local deve abranger toda a
cidade onde a igreja está. Esse único presbitério em
uma cidade evita que a unidade singular do Corpo de
Cristo seja danificada. Uma cidade deve ter apenas
uma igreja com um presbitério. Essa prática é
ilustrada, sem dúvida nenhuma, pelo modelo claro do
Novo Testamento (At 8:1; 13:1; Rm 16:1; 1Co 1:2; Ap
1:11), e é um pré-requisito absoluto para a
manutenção da ordem adequada numa igreja local.
Todas as igrejas aqui, nas quais os presbíteros
foram designados pelos apóstolos, haviam sido
estabelecidas no prazo de um ano. Desse modo, os
presbíteros nelas designados não podiam ser
totalmente maduros. Devem ter sido considerados
presbíteros por serem os mais maduros entre os
crentes, comparativamente falando. Não foram
eleitos por votação da congregação em que estavam,
e, sim, designados pelos apóstolos segundo a sua
maturidade de vida em Cristo. Receberam ordem dos
apóstolos de cuidar da liderança e pastoreio nas suas
igrejas.
DE VOLTA A ANTIOQUIA, CONCLUINDO A
PRIMEIRA VIAGEM

Tendo Sido Recomendados à Graça de Deus


Segundo 14:26, de Atália, Paulo e Barnabé
“navegaram para Antioquia, onde tinham sido
recomendados à graça de Deus para a obra que
haviam já cumprido”. Já enfatizamos que essa graça é
o Cristo ressurreto tornando-se o Espírito que dá vida
(1Co 15:45) para trazer o Deus processado em
ressurreição para dentro de nós, para ser a nossa vida
e suprimento de vida para podermos viver em
ressurreição. Assim, graça é o Deus Triúno
tornando-se vida e tudo para nós. Foi por meio dessa
graça que Saulo de Tarso, o principal dos pecadores
(1Tm 1:15-16), tornou-se o principal apóstolo,
trabalhando muito mais do que todos os apóstolos
(1Co 15:10). O seu ministério e o seu viver por essa
graça foram um testemunho inegável da ressurreição
de Cristo. A graça que o motivava e operava nele não
era um assunto ou alguma coisa; era uma Pessoa viva,
o Cristo ressurreto, a corporificação de Deus Pai
tornando-se o Espírito que dá vida todo-inclusivo, o
qual habitava nele como o seu tudo.

Uma Reunião para Comunhão


Atos 14:27 e 28 conclui: “Ali chegados, reunida a
igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles
e como abrira aos gentios a porta da fé: E
permaneceram não pouco tempo com os discípulos”.
No versículo 27 temos o fim da primeira viagem
ministerial de Paulo, que começou em 13:4.
Quando Paulo e Barnabé chegaram em
Antioquia, eles reuniram a igreja e relataram todas as
coisas que Deus fizera com eles. Essa reunião era para
comunhão sobre o mover de Deus na difusão do Seu
evangelho, e não para dar relatório sobre o ministério
deles.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E UM
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (7)

Leitura Bíblica: At 15:1-34


O capítulo quinze de Atos é muito crucial em
relação à dispensação de Deus, a economia divina. Ao
considerar esse capítulo não iremos dar atenção a
tópicos menos importantes, como muitos já fizeram.
Antes, iremos concentrar-nos nos tópicos
importantes com respeito às questões
dispensacionais1.
Atos 15:1-33 registra o problema que surgiu com
respeito à circuncisão. Nos versículos 1 a 21 temos o
relato de uma conferência dos apóstolos e presbíteros
ocorrida em Jerusalém. Depois, nos versículos 22 a
33 temos a descrição da solução. Nesta mensagem
vamos começar a considerar esse trecho.

UMA HERESIA COM RESPEITO À


CIRCUNCISÃO
Atos 15:1 diz: “Alguns indivíduos que desceram
da Judéia. ensinavam aos irmãos: Se não vos
circuncidardes segundo o costume de Moisés, não
podeis ser salvos”. Os indivíduos que desceram da
Judéia tinham o firme propósito de exercer influência

1
O uso da palavra “dispensacional” não se refere a lima era nem à maneira de Deus. relacionar-se com
o povo em certa época, mas nestas mensagens a palavra, “dispensação” denota o arranjo 'divino na
economia eterna de Das. (N.T.)
judaica sobre os crentes gentios.
Afirmar que se alguém não for circuncidado
segundo o costume de Moisés não pode ser salvo é
anular a fé na economia neotestamentária de Deus, e
é uma verdadeira heresia. Desse modo, esses
“indivíduos” que ensinaram os cristãos essa heresia
devem ter sido os que Paulo considerou falsos irmãos
em Gálatas 2:4.
A circuncisão era uma prática exterior herdada
pelos judeus de seus antepassados, iniciando-se com
Abraão (Gn 17:9-14). Essa ordenança fez dos judeus
um povo distinto e separado dos gentios. A
circuncisão tomou-se uma formalidade morta e
tradicional, mera marca na carne sem qualquer
significado espiritual, e também grande obstáculo
para a difusão do evangelho de Deus segundo a Sua
economia neotestamentária (GI2:3-4; 6:12-13; Fp
3:2).
A circuncisão, o guardar o sábado e a dieta
peculiar são as três maiores ordenanças segundo a lei
de Moisés que fazem dos judeus um povo distinto e
separado dos gentios, a quem os judeus consideram
impuros. Todas essas ordenanças bíblicas da
dispensação do Antigo Testamento tornaram-se um
obstáculo para a difusão do evangelho para os gentios
segundo a dispensação neotestamentária de Deus (Cl
2:16). Na economia neotestamentária de Deus, ser
circuncidado é tornar Cristo de nenhum proveito para
os crentes (Gl 5:2).
Atos 15:1 fala do costume de Moisés. Guardar o
costume de Moisés, isto é, praticar as ordenanças
exteriores da lei, não só é anular a graça de Deus e
tornar vã a morte de Cristo (Gl 2:21) como também
levar os crentes, os quais Cristo já libertou, de volta à
escravidão da lei (GI5:1; 2:4).

PAULO E BARNABÉ CONTENDEM PELA FÉ


O ensinamento de que a pessoa precisa ser
circuncidada para ser salva anula a redenção de
Cristo, a graça divina e toda a economia
neotestamentária de Deus. Por isso, Paulo e Barnabé
não podiam tolerar essa heresia, e tiveram “contenda
e não pequena discussão” (At 15:2) com os que
tinham descido da Judéia e ensinado isso aos irmãos.
No versículo 2 Paulo e Barnabé contendiam pela fé
(Jd 3) com uma das maiores heresias, para que a
verdade do evangelho permanecesse entre os crentes
(Gl 2:5).

JERUSALÉM, A ORIGEM DO PROBLEMA


Na verdade, o problema desse ensinamento
herético deveria ter sido resolvido por Pedro e Tiago
em Jerusalém. Essa heresia nunca deveria ter
chegado a Antioquia. Antes de ir para Antioquia esses
mestres hereges devem ter espalhado o seu
ensinamento em Jerusalém. Mas não há indício de
que Pedro e Tiago tivessem feito algo para lidar com
essa heresia.

A Responsabilidade de Pedro e Tiago


A origem do problema descrito em Atos 15 era
Jerusalém. O primeiro grupo de apóstolos e
presbíteros em Jerusalém deveria ter cuidado desse
ensinamento herético antes que houvesse
oportunidade de se espalhar até as igrejas gentias. O
fato de ele não ter sido resolvido em Jerusalém
demonstra que Pedro e Tiago tinham certas
deficiências. Eles devem ser responsabilizados pela
situação. Quando essa heresia se espalhou até
Antioquia, era tarde demais para que Paulo e Barnabé
lidassem com isso. Desse modo, foi necessário
subirem a Jerusalém a fim de chegar à origem do
problema.
Ao ler o livro de Atos, podemos não ter um
conceito exato com respeito a Pedro e Tiago. Talvez
os tenhamos em alta conta. Podemos exaltar muito a
Pedro e considerar Tiago muito piedoso. Se tivermos
esse conceito sobre eles, então não teremos a visão
adequada da situação registrada no capítulo quinze.
Em outras palavras, devido ao nosso conceito e
interpretação inexatos, não teremos a visão adequada
do cerne do problema em Atos 15. Na verdade, o
cerne do problema não está nos judaizantes hereges
que desceram a Antioquia, e, sim; em Pedro e Tiago.
Dizer isso é justo.
Pedro estava presente em Atos 1 quando o
Senhor Jesus continuou a preparação dos apóstolos
para o ministério. Como parte dessa preparação, Ele
lhes disse: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos
confins da terra” (1:8). Aqui Ele os designou Suas
testemunhas não apenas ao povo de Jerusalém e
Judéia e às pessoas de sangue misto em Samaria, mas
também até as partes mais remotas da terra, ou seja,
todas as terras dos gentios. A palavra do Senhor é
muito clara. Se Tiago, irmão na carne do Senhor
Jesus, não houvesse estado presente quando isso foi
falado, ele certamente devia estar familiarizado com
isso. Lucas, o escritor de Atos, veio a conhecer essa
palavra. Certamente, Tiago a conhecia antes de Lutas.
Pedro e Tiago deviam ter tomado a palavra com
respeito a ser testemunhas até os confins da terra
como base para lidar com os ensinamentos hereges
de que os gentios tinham de ser circuncidados para
ser salvos. Como o Senhor tinha falado essa palavra,
não havia necessidade de discussões nem
argumentos. Pedro e Tiago deveriam ter feito um
trabalho completo para eliminar os ensinamentos
heréticos, exterminando-os na origem, em Jerusalém.
Se formos imparciais e tivermos a perspectiva
adequada ao ler o capítulo quinze, perceberemos que
o problema era devido à negligência de Pedro e Tiago.
Eles não cumpriram a sua obrigação, não levaram a
cabo a responsabilidade deles. Como resultado, esse
ensinamento herético existia em Jerusalém e até
mesmo prevalecia ali. Se não fosse prevalecente em
Jerusalém, como é que poderia ter-se espalhado até
Antioquia? Nos tempos antigos a comunicação com
lugares distantes era muito lenta, assim, era
significativo algo se espalhar de Jerusalém até
Antioquia.

Não Guardar a Verdade


Os judaizantes eram tão zelosos que, a despeito
da dificuldade para viajar, eles desceram a Antioquia
para difundir o seu ensinamento herético. Eles
ensinavam ousadamente as pessoas dizendo: “Se não
vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não
podeis ser salvos” (15:1). Como já falamos, esse
ensinamento anula todo o Novo Testamento' anula a
morte redentora, a ressurreição, a ascensão de Cristo
e tudo o que Ele ensinou.
É muito difícil entender como Pedro e Tiago
podiam ter tolerado tal heresia em Jerusalém. Se
lermos Gálatas 2 juntamente com Atos 15, seremos
ajudados a entender qual era a situação na época.
Pedro e Tiago merecem ser culpados pelo problema,
pois não guardaram a verdade e não contenderam por
ela adequadamente. Devido a essa carência, o
problema da heresia existia em Jerusalém e então se
espalhou até as igrejas gentias.

SUBIRAM AOS APÓSTOLOS E PRESBÍTEROS


EM JERUSALÉM
Conforme 15:2, houve “da parte de Paulo e
Barnabé, contenda e não pequena discussão” com os
judaizantes. Não devemos pensar que Paulo tenha
exagerado ao contender e discutir. A situação tornou
a contenda necessária. Como é que Paulo poderia
concorda; com o ensinamento herético de que os
gentios não podiam ser salvos a não ser que fossem
circuncidados? Ele tinha de contender com os que
ensinavam essa heresia.
Devido à contenda com os mestres hereges,
Paulo e Barnabé e alguns outros foram designados
para que “subissem a Jerusalém, aos apóstolos e
presbíteros, com respeito a esta questão” (15:2). De
acordo com o versículo 26, Paulo e Barnabé foram
considerados como os que tinham “exposto a vida
pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. A igreja em
Antioquia decidiu enviá-los a Jerusalém.
Paulo, Barnabé e outros foram aos apóstolos e
presbíteros em Jerusalém não porque Jerusalém
fosse o “quartel-general” do mover de Deus, ou
porque a igreja fosse a matriz controlando as demais.
Era porque Jerusalém era a origem do ensinamento
herético sobre a circuncisão. Para resolver o
problema e arrancá-lo pela raiz, eles precisavam ir até
a origem. Diferentemente da situação com a Igreja
Católica Romana, de acordo com a economia
neotestamentária de Deus, não há quartel-general
para o mover de Deus na terra e nenhuma igreja
matriz que controle as demais. O quartel-general do
mover de Deus na Sua economia neotestamentária
está nos céus (Ap 4:2-3; 5:1), e quem rege todas as
igrejas é Cristo, a Cabeça da igreja (Cl 1:18; Ap. 2:1).
Atos 15:3-4 diz: “Enviados, pois, e até certo ponto
acompanhados pela igreja, atravessaram as
províncias da Fenícia e Samaria e, narrando a
conversão dos gentios, causaram grande alegria a
todos os irmãos. Tendo eles chegado a Jerusalém,
foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e
pelos presbíteros e relataram tudo o que Deus fizera
com eles”. O fato de Paulo, Barnabé e os outros
subirem a Jerusalém era o mover da igreja, e não o
mover deles como indivíduos. Eles não agiram
individualmente, separados da igreja, e, sim,
coletivamente na igreja e com ela. Esse era o mover
do Corpo de Cristo.
Atos 15:5 diz: “Insurgiram-se, entretanto, alguns
da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É
necessário circuncidá-los e determinar-lhes que
observem a lei de Moisés”. Os fariseus eram a mais
rigorosa seita religiosa dos judeus (26:5), formada em
torno do ano 200 a. C. orgulhavam-se da sua superior
santidade de vida, devoção a Deus e conhecimento
das Escrituras. Como já dissemos, o ensinamento dos
fariseus em 15:5 anulou a economia neotestamentária
de Deus.
Suponha que você fosse um presbítero da igreja
em Jerusalém na época de Atos 15. Que faria com os
que ensinavam que os crentes em Cristo precisavam
ser circuncidados e guardar a lei de Moisés? Será que
teria levantado e dito ousadamente que esse
ensinamento herético não é permitido na igreja? Isso
é o que os presbíteros de Jerusalém deveriam ter
feito.
O presbítero mais influente da igreja em
Jerusalém era Tiago. Há um indício disso em 12:17,
onde Pedro diz: “Anunciai isto a Tiago e aos irmãos”.
Isso indica que Tiago era um líder entre os apóstolos
e presbíteros em Jerusalém. Ademais, em Gálatas
2:12 Paulo fala de alguns que chegaram da parte de
Tiago. Em vez de dizer que vieram de Jerusalém, ele
disse que vieram de Tiago. Isso mostra que Tiago era
muito proeminente em Jerusalém, da qual era o
presbítero principal.

A RESPONSABILIDADE DOS PRESBÍTEROS


COM RESPEITO À HERESIA
A esta altura gostaria de fazer uma pergunta aos
presbíteros das igrejas. Suponha que alguns comecem
a ensinar que os crentes hoje precisam ser
circuncidados e guardar a lei de Moisés. Que você
faria? De maneira adequada você deve dizer-lhes:
“Pedimos que vocês não falem nas reuniões da igreja
e não espalhem esse ensinamento entre os santos.
Vocês estão ensinando heresia. Se continuarem a
fazer isso, não os deixaremos permanecer na igreja”.
Dizer aos crentes que eles precisam ser
circuncidados e guardar a lei de Moisés anula a
economia neotestamentária de Deus. Também anula
a morte de Cristo. Toma Cristo e a Sua morte sem
efeito. É exatamente isso que Paulo diz em Gálatas
2:21. Nesse versículo ele nos diz que ele não anula a
graça de Cristo.
A pessoa que ensina a heresia de que os crentes
precisam ser circuncidados e devem guardar a lei de
Moisés deve ser advertida a mudar de entendimento.
De outra forma, a igreja não poderá recebê-la. A
igreja só pode receber os que crêem em nosso
Salvador Jesus Cristo, em Sua morte redentora,
ressurreição e ascensão, e na economia
neotestamentária de Deus. A lei de Moisés passou, no
tocante à dispensação.
Atos 15:6 diz: “Então, se reuniram os apóstolos e
os presbíteros para examinar a questão”. Esse
versículo menciona os apóstolos e os presbíteros. Os
apóstolos são universais e os presbíteros são locais.
Por que Paulo e Barnabé foram enviados de
Antioquia para Jerusalém, quando o problema que
enfrentavam estava em Antioquia? Eles foram a
Jerusalém porque a fonte do problema estava lá.
Podemos dizer que o “fluir” do problema atingiu
Antioquia, mas a fonte estava em Jerusalém. Não
seria correto lidar com o fluir sem lidar com a fonte.
Mesmo que o fluir fosse eliminado a fonte
permaneceria. Assim, eles foram a Jerusalém para
lidar com a fonte; e não porque a igreja em Antioquia
considerasse a igreja em Jerusalém como a igreja
principal.

SEM HIERARQUIA, MAS COM O PRESIDIR


DO ESPÍRITO SANTO
Semelhantemente, Paulo e Barnabé não
consideravam Pedro e Tiago como o alto escalão. Se
fosse assim, teria havido uma hierarquia. Mas não
havia nenhuma hierarquia, e em especial Pedro não
era um “papa”, como o catolicismo falsamente
afirma.
Aqui em Atos 15 temos a única conferência entre
os apóstolos da igreja universal e os presbíteros da
igreja em Jerusalém. Esses dois grupos eram os
líderes no mover neotestamentário do Senhor na
terra. A conferência não tinha um presidente; quem
presidia era o Espírito (v. 28), o Cristo pneumático, a
Cabeça da igreja (Cl 1:18) e o Senhor de todos (At
10:36). “Havendo grande debate” (15:7) indica que
todos na conferência tinham a liberdade de falar. A
decisão foi tomada com base em:1Jo testemunho
compartilhado por Pedro (vs. 7-11), 2) os fatos
relatados por Barnabé e Paulo (v. 12) e 3) a conclusão
dada por Tiago (v. 21), o líder entre os apóstolos e
presbíteros em Jerusalém (12:17; 21:18; Gl 1:19; 2:9),
pela influência que exercia sobre os crentes por sua
piedade.

UM REGISTRO DE COMUNHÃO
Alguns pensam que a conferência em Atos 15 foi
o primeiro concílio da igreja. Esse é um entendimento
errôneo. Aqui não temos um concílio e, sim, uma
reunião de comunhão, com o Espírito Santo a
presidir. Mais tarde foi dito: “Pois pareceu bem ao
Espírito Santo e a nós” (v. 28). Não houve votação,
nem houve autocracia nem democracia. Autocracia e
democracia não devem existir na vida da igreja. Em
vez disso, deve simplesmente haver comunhão no
Espírito. Atos 15 é um registro dessa comunhão.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E DOIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (8)

Leitura Bíblica: At 15:1-34


Atos 15:1-34 registra o problema causado pelos
que insistiam que alguém não pode ser salvo sem ser
circuncidado segundo o costume de Moisés (v. 1). A
esse respeito foi realizada uma conferência dos
apóstolos e presbíteros em Jerusalém (vs. 1-21).
Nesta mensagem vamos considerar o que aconteceu
nessa conferência e qual foi a solução do problema
(vs. 22-33).

O TESTEMUNHO DE PEDRO

A Purificação do Nosso Coração pela Fé


“Havendo grande debate, Pedro tomou a palavra
e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que, desde há muito,
Deus me escolheu dentre vós para que, por meu
intermédio, ouvissem os gentios a palavra do
evangelho e cressem. Ora, Deus, que conhece os
corações, lhes deu testemunho, concedendo o
Espírito Santo a eles, como também a nós nos
concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre
nós e eles, purificando-lhes pela fé o coração” (vs.
7-9). A palavra de Pedro sobre a purificação do nosso
coração pela fé indica que Deus não se importa com
ordenanças legalistas exteriores, que não podem
purificar o ser interior do homem; mas importa-se
com a purificação do coração humano. Isso
corresponde à ênfase do Senhor em Marcos 7:1-23. A
purificação do coração do homem só pode acontecer
pelo Espírito Santo com a vida divina, e não por meio
de ordenanças exteriores de letras mortas.

Tentar a Deus
Em Atos 15:10 Pedro continua: “Agora, pois, por
que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos
discípulos um jugo que nem nossos pais puderam
suportar, nem nós?” Esse é o jugo da lei, que era um
jugo de escravidão (GI5:1). O jugo de escravidão em
Gálatas 5:1 é a escravidão da lei, que torna os que
guardam a lei escravos sob um jugo que os prende.
Exigir que as pessoas guardem a lei de escravidão não
apenas as escraviza, mas também tenta a Deus. Nem
mesmo Deus podia e também não queria fazer o
homem cumprir a lei de letras.

Salvos pela Graça


Em Atos 15:11 Pedro prossegue: “Mas cremos que
fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como
também aqueles o foram”. Essa graça compreende a
Pessoa do Senhor e a Sua obra redentora (Rm 3:24).
Pedro e os crentes judeus foram salvos por essa graça,
e não guardando a lei de Moisés. No que diz respeito à
salvação de Deus, guardar a lei nada significa, nem
para os judeus nem para os gentios.
As Deficiências do Testemunho de Pedro
Conforme 15:7, Pedro só falou depois de ter havido
muita discussão. Na verdade, Pedro não devia ter
permitido toda aquela discussão. Ele deveria ter dito
imediatamente: “Irmãos, quero lembrá-los do que o
Senhor Jesus nos disse. Ele falou que seríamos Suas
testemunhas em Jerusalém, Judéia, Samaria e até
mesmo nos confins da terra. Vocês acham que o
Senhor queria dizer que devemos circuncidar todos
os gentios? Certamente não”. Se Pedro tivesse falado
assim, os que estavam na conferência o teriam
ouvido.
O que Pedro falou em 15:7-11 foi bom, mas não
foi suficientemente forte. Por que é que ele não se
referiu à palavra do Senhor em 1:8? Por que
simplesmente lembrou-os de que Deus o tinha
escolhido para que, por meio dele, os gentios
ouvissem a palavra do evangelho e cressem? Pedro
deveria ter dito: “Vocês sabem que desde os primeiros
dias o Senhor Jesus nos disse que seríamos Suas
testemunhas até aos confins da terra”. Em Atos 15
Pedro talvez ainda estivesse meio temeroso. Ele não
foi ousado e não exerceu a autoridade que lhe fora
designada pela Cabeça. Se a tivesse exercido, teria
resolvido o problema e cortado o fluxo do “veneno” da
heresia. Teria eliminado a própria fonte do fluxo.
Contudo, ele falhou em cumprir essa tarefa
adequadamente.
Em 15:8 Pedro se refere a Deus como Aquele que
conhece os corações. Isso é uma expressão bem fraca.
Ele deveria ter dito que Deus é Aquele que planejou
Sua economia, que formou a Sua economia, a Sua
dispensação. Paulo, que era mais ousado do que
Pedro, falou de Deus dessa forma em suas Epístolas.
Será que Deus deu o Espírito Santo aos gentios
apenas porque conhecia o coração deles? Foi essa a
única razão de lhes ter purificado o coração pela fé?
Será que Ele deu a Pedro as chaves meramente para
que Ele pudesse entrar e purificar o coração dos
gentios? Sem dúvida, Pedro colocou bem alguns itens
aqui, mas a sua apresentação é fraca demais. Essa
fraqueza nos leva a perguntar se ele realmente
conhecia a economia de Deus adequadamente.
Em 15:10 Pedro perguntou: “Agora, pois, por que
tentais a Deus?” Na verdade eles não estavam apenas
tentando a Deus; estavam anulando a economia
divina. Outra vez, o que Pedro falou no versículo 10
foi bom, mas ainda foi fraco. Pedro era o apóstolo
líder e Deus lhe havia dado certa autoridade.
Contudo, em Atos 15 ele não a exerceu. Contudo,
louvamos ao Senhor pelo testemunho e comunhão de
Pedro.
Já mostramos que Pedro deveria ter lembrado
aos que estavam naquela conferência da palavra do
Senhor em 1:8. Ele também deveria ter testificado a
eles a respeito da visão que ele teve em Jope (10:9-16)
e dito: “Deixem-me contar-lhes o que me aconteceu
em Jope. Enquanto eu orava, tive uma visão de um
vaso, como um grande lençol, que continha toda sorte
de quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu.
Então o Senhor me disse que matasse e comesse.
Quando me recusei a fazê-lo, Ele me disse o mesmo
segunda e terceira vez. Ele me disse que o que Deus
tinha purificado eu não deveria considerar comum.
Depois dessa visão, fui a Cesaréia. Enquanto eu
falava, o Espírito Santo caiu sobre os que estavam na
casa”. Pedro deveria ter testificado com respeito à
palavra do Senhor em 1:8, à visão que teve e ao que
acontecera na casa de Cornélio. Pedro deveria ter
tomado essas coisas como base para dizer aos que
estavam naquela conferência que se esquecessem da
lei, circuncisão e regulamentos da dieta levítica. Mas
faltou-lhe ousadia para fazer isso.
Quando o Senhor Jesus se referiu ao caso da
viúva de Sarepta de Sidom e de Naamã, o sírio, (Lc
4:25-27), implicando que o Seu evangelho se voltaria
aos gentios, os que estavam na sinagoga se encheram
de furor e queriam matá-Lo. Em contraste com o
Senhor em Lucas 4, Pedro foi muito cauteloso, sem
coragem de mencionar a visão que tivera. O fato de
não ter mencionado a visão dada pelo Senhor, talvez
indique, não só que lhe faltava ousadia, mas também
o ambiente em Jerusalém estava muito pesado.
Na verdade, quando essa heresia a respeito da
circuncisão apareceu em Jerusalém, bem no início,
Pedro deveria ter exercitado o dom que o Senhor lhe
dera, ou seja, clarificar a situação nebulosa de
Jerusalém com respeito à economia
neotestamentária de Deus, segundo a revelação que o
Senhor dera a ele e aos outros apóstolos em Atos 1:8 e
a visão que ele teve em Jope, em Atos 10, com
respeito aos gentios. Se tivesse feito isso, a heresia
judaica teria sido cortada bem no seu início em
Jerusalém e não se teria espalhado para as igrejas do
mundo gentio. Mas ele falhou nisso, assim Paulo teve
que subir a Jerusalém para fazer a “cirurgia”,
extirpando assim o câncer racial que poderia ter
destruído a economia neotestamentária de Deus e
matado o Corpo de Cristo.

A COMUNHÃO DE TIAGO
Quando Pedro finalizou o seu testemunho, os
que estavam na conferência permaneceram em
silêncio. Então “passaram a ouvir a Barnabé e a
Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus
fizera por meio deles entre os gentios” (v. 12). Depois
disso, temos a comunhão de Tiago (vs. 14-21).
Usou o Antigo Testamento
Em 15:13-14 Tiago disse, depois que todos
ficaram em silêncio: “Irmãos, atentai nas minhas
palavras: expôs Simão como Deus, primeiramente,
visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um
povo para o seu nome”.
Nos versículos 16 e 17 Tiago cita o livro de Amós
para mostrar que as palavras dos profetas concordam
com o fato de Deus tomar dentre os gentios um povo
para o Seu nome: “Cumpridas estas cousas, voltarei e
reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e,
levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei, Para que
os demais homens busquem o Senhor, e também
todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o
meu nome”. O tabernáculo de Davi se refere ao reino
de Israel. Reedificar o tabernáculo de Davi é restaurar
o reino de Israel.

Exaltou a Nação de Israel


O fato de Tiago usar essa citação do Antigo
Testamento exalta a nação de Israel. Em Atos 1:6 os
apóstolos perguntaram ao Senhor Jesus: “Senhor,
será este o tempo em que restaures o reino a Israel?”
O reino de Israel, que os apóstolos e outros judeus
devotos buscavam, era um reino material. Difere do
reino de vida de Deus, que Cristo está edificando por
meio da pregação do Seu evangelho. Quando os
apóstolos perguntaram ao Senhor sobre a restauração
do reino de Israel, Ele respondeu: “Não vos compete
conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela
Sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a
Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (vs. 7-8).
Embora o Senhor tivesse falado essa palavra, Tiago,
para cuidar da situação em Atos 15, exaltou mais uma
vez a nação de Israel. As palavras “para que” em 15:17
indicam que primeiro o Senhor irá reedificar a nação
de Israel e então os gentios, os demais homens,
buscarão o Senhor.

Usou uma Profecia a respeito da Era


Vindoura
Na verdade, o trecho do Antigo Testamento que
Tiago cita não se aplica à situação de Atos 15, mas é
uma profecia relacionada à questão do Senhor
reedificar a nação de Israel após a Sua volta. Nesse
tempo, segundo a profecia, todas as nações buscarão
o Senhor. Em Zacarias 8 encontra-se uma profecia
similar. Segundo esse capítulo, quando a nação de
Israel for restaurada, “virão muitos povos e poderosas
nações buscar em Jerusalém ao SENHOR dos
Exércitos e suplicar o favor do SENHOR” (v. 22). Se
estudarmos as Escrituras cuidadosamente, veremos
que esses trechos da Palavra não se referem à
presente era da graça, e, sim, ao tempo após a volta
do Senhor. Na era vindoura o Senhor irá reedificar o
tabernáculo caído de Davi; isto é, irá restaurar a
nação de Israel. Então os gentios virão para buscar o
Senhor.
Quando afirmamos que o trecho usado por Tiago
em Atos 15 se aplica à era vindoura, alguns talvez
digam: “Você não deve interpretar os versículos
utilizados por Tiago dessa maneira; deve
interpretá-los apenas segundo o princípio. Aqui Tiago
estava dizendo que em princípio, mais cedo ou mais
tarde o Senhor vai incluir os gentios”. Mas, em
relação à situação de Atos 15, não é adequado dizer
que mais cedo ou mais tarde os gentios serão
incluídos. Nesse capítulo Tiago usou uma citação do
Antigo Testamento sem discernimento. Ele citou
versículos que se referem não à presente era, mas à
era vindoura. Assim ele, na verdade, tomou
emprestado uma citação do Antigo Testamento.

Uma Comparação do Uso do Antigo


Testamento Feito pelo Senhor Jesus e por
Paulo
A essa altura é-nos útil comparar a maneira de
Tiago usar o Antigo Testamento, com a maneira com
que o Senhor Jesus o faz em Lucas 4. Citando o caso
da viúva e o de Naamã, Ele dava a entender que Deus
iria pôr de lado a nação de Israel e se voltar aos
gentios. Ao se referir a esses casos Ele foi ousado, e os
que estavam na sinagoga se ofenderam e queriam
matá-Lo. Já Tiago, queria agradar aos judaizantes,
dizendo-lhes, não que Deus iria colocar de lado a
nação de Israel, mas iria primeiro reedificá-la, e então
se voltaria aos gentios. Ao comparar o uso que Tiago
faz do Antigo Testamento com o que o Senhor fez,
vemos que Tiago cita as Escrituras de maneira muito
imprecisa.
Assim como o Senhor Jesus, Paulo também era
ousado no uso do Antigo Testamento. Considere o
que ele fez em Atos 13. Quando os judeus rejeitaram a
palavra do evangelho, ele disse ousadamente:
“Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse
pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais
e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna,
eis aí que nos volvemos para os gentios” (v. 46).
Então ele cita Isaías 49:6: “Te dei como luz para os
gentios, para seres a minha salvação até a
extremidade da terra”. Como já dissemos, essa
citação se refere a Cristo como servo de Deus, a quem
Deus faz luz aos gentios, para que a Sua salvação
atinja até a extremidade da terra. Como era um com
Cristo em levar a cabo a salvação de Deus, Paulo
aplicou essa palavra a si próprio, em seu ministério
de pregar as boas novas, com vistas à mudança do
evangelho, não mais para os judeus, por causa da
rejeição deles, e, sim, para os gentios. Em Seu
ministério na terra o Senhor expressou a mesma coisa
aos judeus obstinados em Lucas 4:24-27. Em Atos 13
Paulo não disse que eles se voltariam aos gentios
porque Deus reedificara a nação de Israel. Pelo
contrário, declarou que se voltariam aos gentios,
porque os judeus rejeitaram a palavra de Deus.
Em Atos 15 a citação que Tiago fez do Antigo
Testamento foi muito bem recebida. Se ele tivesse
sido tão categórico como o Senhor Jesus e Paulo,
citando os trechos adequados do Antigo Testamento
com respeito a Deus colocar de lado Israel e visitar os
gentios, os judaizantes se teriam oposto a ele
drasticamente.
A nossa análise do uso que Tiago fez do Antigo
Testamento deve ajudar-nos a aprender o modo
adequado de estudar a Bíblia. Precisamos ver as
profundezas da palavra escrita. Se de fato
conhecemos a Bíblia, iremos criticar corretamente a
citação de Tiago. Eu realmente queria saber por que
ele não citou a clara e enfática palavra do Senhor em
Atos 1:8, em vez de citar algo indireto do Antigo
Testamento. Isso mostra que ele era muito mais pelo
Antigo Testamento do que pela economia
neotestamentária de Deus.
Deu 0 Seu Parecer
Em 15:19-20 Tiago prosseguiu em comunhão
para dar o seu parecer: “Pelo que, julgo eu, não
devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se
convertem a Deus, mas escrever-lhes que se
abstenham das contaminações dos ídolos, bem como
das relações sexuais ilícitas, da carne de animais
sufocados e do sangue”. Essa palavra é muito inferior
à exortação que Paulo fez aos crentes nos capítulos
treze e catorze. Suponha que alguém dissesse:
“Amados irmãos, vocês sabem que vivemos em uma
geração corrupta e pervertida, a qual é cheia de
idolatria e fornicação. Eu os exorto a se abster de
ídolos, de fornicação, de qualquer animal sufocado e
do sangue”. Por certo, os irmãos hoje não ficariam
satisfeitos em ouvir essa exortação. Contudo, essa foi
a comunhão de Tiago em Atos 15.
No versículo 21 Tiago diz a razão de ter julgado a
questão dessa maneira: “Porque Moisés tem, em cada
cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas
sinagogas, onde é lido todos os sábados”. Aqui temos
a base da comunhão dele. Ele nos diz que quanto a
resolver o problema causado pelos judaizantes
heréticos precisamos cuidar do fato de que a lei de
Moisés é lida nas sinagogas todos os sábados. Essa é a
razão que ele dá para exortar os gentios a se abster
dos ídolos, da fornicação, de animais sufocados e do
sangue. Essa solução não podia ser satisfatória a
Paulo, que diz em Gálatas 2:19: “Porque eu, mediante
a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para
Deus”. Em contraste com essas palavras, a comunhão
de Tiago leva os crentes do Novo Testamento a voltar
a considerar a lei. Isso indica que as palavras
conclusivas dele ainda estavam sob influência da lei
mosaica, devido a seus fortes antecedentes judaicos.
Como veremos, a influência desses antecedentes
ainda permaneciam quando Paulo fez a sua última
visita a Jerusalém (Atos 21:20-26).
De acordo com o que ele diz em sua Epístola,
Tiago deve ter sido alguém muito religioso. Deve ter
sido por isso e pela sua perfeição cristã prática que ele
foi reputado, juntamente com Pedro e João, uma
coluna, até mesmo a primeira, na igreja em
Jerusalém (Gl 2:9). Mas o forte dele não era a
revelação da economia neotestamentária de Deus em
Cristo, antes, ele ainda estava debaixo da influência
dos antecedentes da velha religião judaica: adorar a
Deus com cerimônias e ter uma vida no temor de
Deus. Atos 21:20-24 e Tiago 2:2-11 provam isso.
Tiago 2:8-11 indica que os crentes judeus naquela
época ainda praticavam e guardavam a lei do Antigo
Testamento. Isso corresponde ao que Tiago e os
presbíteros de Jerusalém disseram a Paulo em Atos
21:20. Tiago, os presbíteros de Jerusalém e milhares
de crentes judeus permaneciam numa mistura da fé
cristã com a lei mosaica. Eles até mesmo
aconselharam Paulo a praticar essa mistura
semijudaica (Atos 21:17-26). Não estavam cientes de
que a dispensação da lei passara totalmente e a
dispensação da graça deveria ser plenamente
honrada. Também não perceberam que não
considerar a distinção entre essas duas dispensações
seria contra a administração dispensacional de Deus,
e um grande prejuízo ao plano econômico de Deus de
edificar a igreja como a expressão de Cristo.
Fico muito triste pelo fato de o julgamento de
Tiago ter sido totalmente baseado em sua piedade,
em seu viver piedoso, como nos indicam os itens de
idolatria, fornicação, animais sufocados e o sangue, a
que se referiu. O seu parecer não se baseou nem um
pouco na administração da economia
neotestamentária de Deus. Isso mostra que ele estava
totalmente sob a atmosfera nebulosa do seus
antecedentes judaicos e não sob o céu claro da
economia neotestamentária de Deus.

A SOLUÇÃO
Atos 15:22-33 descreve a solução do problema.
Na verdade, essa solução era uma concessão, ou
meio-termo, mas era melhor do que nada.
Os versículos 23 a 29 dão um relato da carta
escrita pelos de Jerusalém e enviada por meio de
Paulo e Barnabé para Antioquia. No versículo 26
é-nos dito que Barnabé e Saulo eram “homens que
têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo”. Literalmente, o termo grego traduzido como
“vida” significa “alma”. Essa palavra não se refere
apenas à vida deles, mas também ao próprio ser
deles, que tinham entregue pelo nome do Senhor.
Atos 15:30-31 diz: “Os que foram enviados
desceram logo para Antioquia e, tendo reunido a
comunidade, entregaram a epístola. Quando a leram,
sobremaneira se alegraram pelo conforto recebido”.
Por um lado, os crentes em Antioquia se alegraram
porque não era necessário que se circuncidassem. Por
outro, ainda deviam observar certas exigências da lei.
A “raposa” da lei tinha sido enterrada, mas o “rabo”
ainda estava visível. A solução, portanto, na realidade
era uma concessão.
De acordo com o capítulo dezoito de Atos, nem
mesmo Paulo estava totalmente livre da influência
judaica. O versículo 18 diz: “Mas Paulo, havendo
permanecido ali ainda muitos dias, por fim,
despedindo-se dos irmãos, navegou para a Síria,
levando em sua companhia Priscila e Áqüila, depois
de ter raspado a cabeça em Cencréia, porque tomara
voto”. Esse era um voto particular que podia ser feito
em qualquer lugar pelos judeus, para ações de graças,
raspando-se a cabeça, Diferia do voto de nazireado,
que tinha de ser feito em Jerusalém passando-se a
navalha na cabeça. Paulo era judeu e fez o voto, mas
não impôs isso aos gentios. Segundo o princípio do
seu ensinamento com respeito à economia
neotestamentária de Deus, ele deveria ter desistido de
todas as práticas judaicas que pertenciam à
dispensação do Antigo Testamento. Mas ainda fez
esse voto pessoal. É-me difícil crer que Paulo, o autor
de Romanos e Gálatas, ainda tivesse feito esse voto.
Em princípio ele estava errado nessa questão. É claro
que o erro dele não chegava nem perto do erro de
Tiago em Atos 21. Como veremos, o Senhor não
tolerou o fato de Paulo juntar-se aos que tinham feito
voto de nazireu.
O que estamos enfatizando aqui é que a solução
do problema em Atos 15 foi uma concessão. O
problema foi resolvido e a tempestade foi acalmada.
Mas a raiz do veneno não foi cortada, por isso,
aparece novamente no capítulo vinte e um. A mistura
que vemos em Atos 21 já estava presente em Atos 15.
Era uma mistura religiosa, da economia
neotestamentária de Deus com a religião judaica da
velha dispensação. Essa mistura era o resultado da
concessão. Devido a essa concessão, o problema em
atos 15 não foi plenamente resolvido. Contudo, essa
solução parcial foi melhor do que nada.
COMO ENCARAR A ATUAL SITUAÇÃO DE
CONCESSÃO
Em princípio a situação hoje é a mesma que a de
Atos. Há ainda bastante concessão. Assim, estamos
estudando a Bíblia não meramente para aprender
doutrinas, mas também para ser advertidos e
treinados a fim de enfrentar a situação atual.
Em 1964 escrevi alguns hinos sobre Cristo ser o
Espírito. Um dia um amigo meu, que era cooperador,
me disse: “Sim, o Novo Testamento diz que Cristo é o
Espírito. Mas, se ensinarmos isso, os cristãos não irão
aceitar. É melhor que não ensinemos isso”. Eu lhe
disse: “A justificação pela fé foi restaurada por
Martinho Lutero. A Igreja Católica se opôs a ISSO. Se
Lutero tivesse decidido não ensinar a justificação pela
fé porque a Igreja Católica não queria aceitá-la, como
é que poderia ter ocorrido a restauração?”
Alguns que estiveram conosco na restauração do
Senhor tentaram fazer concessões em relação aos
ensinamentos do irmão Nee. Eles sabem o que ele
ensinava, mas por temer o cristianismo tradicional,
não ousam ensinar a mesma coisa. Em vez disso, eles
fizeram concessões. Ao traduzir alguns livros do
irmão Nee, o tradutor até mesmo mudou algumas
palavras para não ser condenado.
Em 1964 fui convidado para falar pela quarta ou
quinta vez para determinado grupo cristão em Dallas.
O meu anfitrião me advertiu dizendo: “Irmão Lee, por
favor, não fale sobre a igreja. As pessoas aqui não
aceitarão o seu ensinamento a esse respeito. Mas nós
lhe damos as boas vindas para ministrar sobre Cristo
como vida. Gostamos disso e somos ajudados por
essas palavras”. Sem dizer nem sim nem não ao seu
pedido, eu disse: “Irmão, uma vez que eu ministre
Cristo como vida, o resultado será a igreja. Como você
pode pedir-me que eu ministre Cristo e esperar que
isso não resulte na igreja?” Prossegui dizendo-lhe que
o meu ministério é um ministério de Cristo, e que o
resultado disso sempre será a igreja.
Fiquei uma semana ministrando para aquele
grupo cristão em Dallas. Não falei sobre a igreja até a
última noite da conferência. A voz em meu espírito já
não suportava mais que me calasse com respeito à
igreja. Não me importei se seria, convidado
novamente ou não. Eu só sabia que tinha de dizer
algo sobre a igreja. Quando pedi aos participantes
que abrissem a Bíblia em Romanos 12, o meu
anfitrião já entendeu que eu pretendia falar do Corpo
de Cristo, a igreja. As pessoas que me haviam
convidado estavam desapontadas. Contudo,
prossegui falando categoricamente com respeito à
igreja, e, por meio dessa mensagem urna pessoa foi
ganha para a restauração do Senhor.
Todos esses casos nos ensinam a tornar cuidado
com as concessões, ou meios-termos. Que todos
aprendamos com o nosso estudo de Atos a encarar a
atual situação de concessões.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO
E SEUS COMPANHEIROS
(9)

Leitura Bíblica: At 15:35-16:5


Nesta mensagem abordaremos 15:35-16:5. Atos
15:3539 relata a contenda entre Paulo e Barnabé. Em
15:40 ternos o início da segunda viagem ministerial
de Paulo. Nos versículos 40 e 41 Paulo e Silas
passaram pela Síria e Cilícia, e em 16:15 eles foram a
Derbe e a Listra.

A CONTENDA COM BARNABÉ


Em 15:36 Paulo disse a Barnabé: “Voltemos,
agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas
quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como
passam”. Barnabé queria levar com eles a João,
chamado Marcos, “mas a Paulo parecia razoável que
não tornassem consigo aquele que desde Panfília se
tinha apartado deles e não os acompanhou naquela
obra. E tal contenda houve entre eles, que se
apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a
Marcos, navegou para Chipre” (vs. 38-39 — VRC).
Barnabé e Paulo eram homens que desistiram da
própria vida por amor ao nome do Senhor (v. 26),
contudo logo após a vitória na luta pela fé com a
heresia acerca da circuncisão, levantou-se tal
contenda acirrada entre eles com respeito ao parente
de um deles, que, os levou a se separar.

A Responsabilidade de Barnabé
A responsabilidade pelo problema deve ter sido
de Barnabé, pois depois desse incidente ele não mais
aparece no relato divino de Atos do mover do Senhor
na economia neotestamentária de Deus. A razão de
sua falha pode ter sido o seu relacionamento natural
com Marcos, seu primo (Cl 4:10), que os abandonara
na primeira viagem ministerial deles, de forma
negativa (At 13:13). Marcos mais tarde foi restaurado
ao ministério de Paulo (2Tm 4:11; Fm 24), mas
Barnabé não.
Paulo foi bastante rígido em relação a Marcos.
Talvez Marcos os tenha deixado na primeira viagem
ministerial por não ser capaz de agüentar as
dificuldades desse trabalho evangélico. Contudo,
Barnabé, cujo nome significa filho do encorajamento
(4:36-lit.), queria levar Marcos com eles na segunda
viagem. Barnabé, que devia ser alguém muito bom e
paciente, queria dar outra chance a Marcos. Além do
mais, como Marcos e Barnabé eram primos, eles
tinham um relacionamento na carne. Visto que Paulo
estava inflexível em não deixar Marcos ir na segunda
viagem, isso gerou uma acirrada contenda entre
Paulo e Barnabé.

Lições a Aprender
Precisamos aprender da contenda entre Paulo e
Barnabé a respeito de Marcos a não exercitar as
virtudes naturais em relação à obra do Senhor. Talvez
você seja muito bom e paciente, mas quando entra na
obra do Senhor precisa esquecer-se da sua bondade e
paciência naturais e cuidar dos estritos regulamentos
e princípios divinos. Você não deve sacrificar os
princípios divinos em função do seu ser natural. Se
você é naturalmente bom, paciente e tolerante, isso
causará problemas na obra do Senhor. Ao se agarrar a
essas virtudes naturais, você irá sacrificar os
princípios divinos em favor das suas virtudes.
Em 15:35-39 vemos algo até mesmo pior do que
exercitar as virtudes naturais na obra do Senhor, qual
seja, a séria questão de permitir que um
relacionamento carnal penetre sorrateiramente na
obra. Isso é terrível. Barnabé estava errado em
exercitar as virtudes naturais na obra do Senhor, e,
provavelmente também ao permitir que o
relacionamento carnal com Marcos entrasse na obra.
Em 15:35-39 Paulo não era mais jovem; por certo
já tinha tido muita experiência no Senhor.
Certamente deve ter havido alguns princípios básicos
envolvidos com a questão de levar Marcos com eles
na segunda viagem ministerial, e Paulo achava que
não poderia quebrar esses princípios. Por fim,
Barnabé seguiu seu próprio caminho, levando
consigo Marcos. Depois disso, não há mais menção de
Barnabé no registro divino do mover de Deus em Sua
economia neotestamentária. Isso indica que Barnabé
estava errado.

PARA SÍRIA E CILÍCIA


Atos 15:40-41 diz: “Mas Paulo, tendo escolhido a
Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do
Senhor. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as
igrejas”. Esse foi o início da segunda viagem
ministerial de Paulo, que terminou em 18:22. O fato
de ter sido encomendado à graça do Senhor pelos
irmãos indica que, ele, e não Barnabé, tinha tomado o
caminho certo.

PARA DERBE E LISTRA Circuncidou Timóteo


Em 16:1-5 vemos que Paulo veio a Derbe e Listra:
“Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de
urna judia crente, mas de pai grego; dele davam bom
testemunho os irmãos em Listra e Icônio. Quis Paulo
que ele fosse em sua companhia e, por isso,
circuncidou-o por causa dos judeus daqueles lugares;
pois todos sabiam que seu pai era grego” (vs. lb-3). O
fato de Paulo circuncidar Timóteo por causa dos
judeus indica a forte influência dos antecedentes
judaicos que ainda permaneciam entre os crentes
judeus. Isso se tomou urna perturbação e empecilho
para o mover do evangelho do Senhor.
No capítulo quinze de Atos, a solução do
problema a respeito da circuncisão foi escrita (15:20,
23-30), e Paulo levou essa carta consigo. Atos 16:4
indica isso: “Ao passar pelas cidades, entregavam aos
irmãos, para que as observassem, as decisões
tornadas pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém”.
Por que, então, Paulo circuncidou Timóteo?
Considerando Timóteo bom material para a obra,
Paulo quis que ele fosse em sua companhia (16:3).
É-nos dito que Paulo “circuncidou-o por causa dos
judeus daqueles lugares”. Ao circuncidá-lo, Paulo
talvez estivesse exercitando a sabedoria para tomar as
coisas mais fáceis para pregar o evangelho. Doutra
forma não haveria razão para isso.

A Circuncisão de Timóteo Considerada à Luz


do Livro de Gálatas
Precisamos considerar o fato de Paulo ter
circuncidado Timóteo em Atos 16 à luz do que ele
disse com respeito à circuncisão em Gálatas. Gálatas
2:1-3 diz: “Catorze anos depois, subi outra vez a
Jerusalém com Barnabé, levando também a Tito.
Subi em obediência a urna revelação; e lhes expus o
evangelho que prego entre os gentios, mas em
particular aos que pareciam de maior influência,
para, de algum modo, não correr ou ter corrido em
vão. Contudo nem mesmo Tito, que estava comigo,
sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se”. Esses
versículos referem-se ao que está registrado em Atos
15. Em Atos 15 não há menção de Tito, mas em
Gálatas 2 Paulo nos diz que levou Tito consigo para
Jerusalém. Ademais, ele diz que Tito não foi
constrangido a circuncidar-se. Já que Tito, em
Gálatas 2, não foi circuncidado; por que Paulo em
Atos 16 circuncidou Timóteo, quando estava na
segunda viagem ministerial? Aqui vemos que ele agiu
de duas formas. Por um lado, Tito não foi
circuncidado; por outro, Paulo circuncidou Timóteo.
Gálatas 5:2 diz: “Eu, Paulo, vos digo que, se vos
deixardes circuncidar, Cristo de nada vos
aproveitará”. Como isso se aplica à circuncisão de
Timóteo? Urna vez que ele foi circuncidado; será que
Cristo de nada lhe aproveitou?
Em Gálatas 5:4 Paulo prossegue: “De Cristo vos
desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da
graça decaístes”. Essa é urna palavra séria; é ser
reduzido de Cristo a nada, destituído de toda
vantagem em Cristo e assim, separado Dele,
tomando-O sem efeito.
Em Gálatas 6:14 Paulo diz: “Mas longe esteja de
mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim,
e eu, para o mundo”. Esse versículo não se refere ao
mundo em geral, mas o mundo judeu, religioso.
Como mostra o versículo seguinte, aqui Paulo está
dizendo que o mundo religioso foi crucificado para
ele, e ele, para o mundo religioso. Em Gálatas 6:15 ele
explica: “Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem
a incircuncisão, mas o ser nova criatura”. Como já
dissemos, circuncisão é urna ordenança da lei,
enquanto nova criatura, ou nova criação, é algo da
vida divina com a 'natureza divina.
Paulo também fala da circuncisão em Gálatas
5:6: “Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão,
nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que
atua pelo amor”. Aqui a expressão têm valor indica
força ou poder prático. A circuncisão é meramente
uma ordenança exterior e não tem poder nem vida.
Como podemos conciliar o fato de Paulo
circuncidar Timóteo com o que ele diz respeito da
circuncisão em Gálatas? Quando escreveu Gálatas, a
atitude dele foi totalmente negativa. Nessa Epístola
ele nos diz que se formos circuncidados, Cristo de
nada nos aproveitará, e que em Cristo nem a
circuncisão nem a incircuncisão têm valor. Já que
essa era a sua atitude em relação à circuncisão, então
por que circuncidou Timóteo?

A Flexibilidade de Paulo
No capítulo dezoito de Atos vemos que ele ainda
teve um voto judaico (v. 18), um voto particular que
podia ser feito em qualquer lugar pelos judeus em
ação de graças, raspando-se a cabeça. Ele sabia que
havia judeus em todas as principais cidades da Ásia
Menor e percebeu que ao viajar por essas cidades
para trabalhar entre as pessoas, primeiramente iria
fazer uma obra entre os judeus. Talvez tenha pensado
que seria um grande empecilho para a sua obra
evangélica ter com ele um jovem cooperador
incircunciso. Assim, deve ter sido por causa da sua
obra evangélica que ele circuncidou Timóteo. Ele
deve ter feito isso a fim de levar a cabo a sua obra
onde a atmosfera e o ambiente judaicos ainda eram
prevalecentes. Contudo, quando foi a Jerusalém para
lutar pela verdade e contra a heresia da circuncisão,
ele propositadamente levou Tito consigo, alguém que
não havia sido circuncidado.
Ao estudar Atos 16 e Gálatas 2 ficamos
impressionados com a flexibilidade de Paulo. Quando
foi a Jerusalém para lutar contra a circuncisão, ele
levou consigo um cooperador que não era
circuncidado. Ele deve ter feito isso para mostrar que
era fortemente contra a circuncisão. Como vimos,
Gálatas 2:1-3 estava incluído nos acontecimentos de
Atos 15. Então, logo após a conferência em Atos 15,
quando estava prestes a ir pregar o evangelho na sua
segunda viagem ministerial, ele circuncidou Timóteo
e o levou consigo. Se fôssemos Silas teríamos
perguntado: “Paulo, que você está fazendo? Você é
instável. Primeiro se opõe à circuncisão e agora
circuncida Timóteo”. A favor de Paulo, no entanto,
podemos dizer que ele estava sendo flexível, e não
instável. A circuncisão de Timóteo pode não ter sido
um erro. O que ele escreveu em Gálatas, que nem a
circuncisão nada significa nem a incircuncisão, pode
ser interpretado como se aplicando ao caso de
Timóteo em Atos 16. Podemos entender essas
palavras significando que Paulo abrangeu tanto o
lado da circuncisão como o da incircuncisão.
A Influência da Tradição
Uma vez que a tradição entra nas pessoas, é
muito difícil removê-la. Além disso, é difícil escapar
da influência de uma atmosfera religiosa. Paulo
atuava no mundo gentio, principalmente na
comunidade grega. Mas os judeus residentes nas
cidades da Ásia Menor ainda mantinham a atmosfera
judaica, e era difícil, até para ele, livrar-se dessa
influência.
Será que Paulo em Atos 16 deveria ter
circuncidado Timóteo? Podemos dizer de maneira
justa que, por fim, Deus toma o caminho de não
circuncidar ninguém. O melhor que podemos dizer a
respeito de Paulo ter circuncidado Timóteo é que ele
estava sendo flexível em determinado ambiente.

Um Livro “Dispensacional”2
O livro de Atos está muito relacionado com
“dispensação”. Se não tivermos o discernimento que
advém de conhecer a economia de Deus, a
dispensação de Deus, será muito difícil entender esse
livro. Louvamos o Senhor, porque esse livro está
sendo aberto para nós, e assim podemos ver todos os
tópicos “dispensacionais” cruciais nele contidos. Ver
essas questões nos ajudará em nosso estudo do Novo
Testamento.

As Igrejas Eram Fortalecidas e Aumentavam


em Número
Atos 16:4 e 5 diz: “Ao passar pelas cidades,
2
O uso da palavra “dispensacional” não se refere a uma era nem à maneira de Deus relacionar-se com
o povo em certa época, mas, nestas mensagens a palavra “dispensação” denota o arranjo divino na
economia eterna de Deus. (N.T.)
entregavam aos irmãos, para que as observassem, as
decisões tomadas pelos apóstolos e presbíteros de
Jerusalém. Assim, as igrejas eram fortalecidas na fé e,
dia a dia, aumentavam em número”. Todas eram
igrejas locais, isto é, igrejas em várias cidades. Uma
igreja local é uma igreja estabelecida numa cidade, na
jurisdição de uma cidade. A igreja local é mostrada
pela palavra do Senhor em Mateus 18:17. O registro
sobre o estabelecimento da igreja em cada cidade é
coerente em todo o Novo Testamento (At 8:1; 13:1;
14:23; Rm 16:1; 1Co 1:2; 2Co 8:1; Gl 1:2; Ap 1:4, 11).
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E QUATRO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (10)

Leitura Bíblica: At 16:6-10


Nesta mensagem começaremos a abordar 16:6 a
10, que descreve como Paulo e seus cooperadores
foram guiados por Deus para entrar na Macedônia,
uma província do Império Romano no sudeste da
Europa. Daremos especial atenção às expressões
Espírito Santo no versículo 6 e Espírito de Jesus no
versículo 7.

A PROIBIÇÃO DO ESPÍRITO SANTO


Atos 16:6 diz: “E, percorrendo a região
frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito
Santo de pregar a palavra na Ásia”. O mover do
apóstolo Paulo e seus cooperadores para a expansão
do evangelho não foi de acordo com a decisão e
preferência deles, nem de acordo com nenhuma
programação feita por algum comitê humano, mas
pelo Espírito Santo, segundo o conselho de Deus,
como na missão de Filipe (8:29, 39). Eles. queriam
falar a palavra na Ásia, mas o Espírito Santo os
impediu. Impedir também é parte da orientação do
Espírito Santo.

O ESPÍRITO DE JESUS NÃO O PERMITIU


Atos 16:7 continua: “Defrontando Mísia,
tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não
o permitiu”. O fato de o Espírito Santo proibir e de o
Espírito de Jesus não permitir indicava que Paulo e
seus cooperadores deveriam seguir em frente. Se
olharmos no mapa, veremos que se eles fossem em
linha reta iriam para a Europa oriental, em especial,
para a Macedônia e Acaia. Paulo, contudo, não
pensava em ir para lá. Isso tornou necessário que o
Senhor lhe desse uma visão à noite, e nessa visão um
chamado macedônico veio a Paulo (v. 9).
O fato de o Espírito Santo impedir Paulo de ir
para a esquerda, para a Ásia, e do Espírito de Jesus
não deixá-lo ir para a direita, para Bitínia, indica uma
direção em linha reta, em frente, para o apóstolo e
seus cooperadores. Assim, eles foram em linha reta
para Macedônia através de Mísia e Trôade (v. 8).

DOIS TÍTULOS DIVINOS NÃO


ENCONTRADOS NO ANTIGO TESTAMENTO
Precisamos dar muita atenção a dois títulos
divinos nos versículos 6 e 7: Espírito Santo e Espírito
de Jesus. O uso intercambiado entre o Espírito de
Jesus e o Espírito Santo no versículo anterior revela
que o Espírito de Jesus é o Espírito Santo. Espírito
Santo é um título genérico do Espírito de Deus no
Novo Testamento. Espírito de Jesus é uma expressão
específica com respeito ao Espírito de Deus, e se
refere ao Espírito do Salvador encarnado, o qual,
como Jesus em Sua humanidade, passou pelo viver
humano e morte na cruz. Isso indica que no Espírito
de Jesus há, não apenas o elemento divino, mas
também o elemento humano de Jesus e os elementos
do Seu viver humano bem como a morte que Ele
sofreu. Tal Espírito todo-inclusivo era necessário
para o ministério de pregação do apóstolo, um
ministério de sofrimento entre seres humanos e para
seres humanos na vida humana.
Vimos que, em Atos 16, Lucas primeiro fala do
Espírito Santo e depois do Espírito de Jesus. No
Antigo Testamento temos o Espírito de Deus em
Gênesis 1:2b: “O Espírito de Deus pairava por sobre
as águas”. Ali o Espírito de Deus pairava por sobre as
águas de morte. Em outros lugares no Antigo
Testamento o Espírito de Deus é chamado de Espírito
de Jeová 3 (Jz 3:10; Ez 11:5). O título “o Espírito
Santo” não é usado no Antigo Testamento. No Salmo
51:11 e em Isaías 63:10-11 o “Espírito Santo” deveria
ser traduzido como “o Espírito de santidade”. Os
principais títulos do Espírito de Deus no Antigo
Testamento, portanto, são o Espírito de Deus e o
Espírito de Jeová. O Espírito de Deus nunca é
chamado de o Espírito de Elias ou o Espírito de Davi.
Com isso vemos que em Atos 16 Lucas usa dois títulos
para o Espírito de Deus que não são encontrados no
Antigo Testamento.
O título “Espírito Santo” foi usado pela primeira
vez quando da concepção do Senhor Jesus. Somente
quando chegou a ocasião de preparar o caminho para
a vinda de Cristo e de preparar um corpo humano
para Ele, a fim de iniciar a dispensação do Novo
Testamento, é que o termo “o Espírito Santo” passou
a ser usado (Lc 1:15, 35; Mt 1:18, 20). Para entender o
primeiro emprego do título “o Espírito Santo”,
precisamos ver que esse título está relacionado à
encarnação do Senhor. Daí, segundo o princípio da

3
A maioria das versões em português usa o termo “SENHOR” no Antigo Testamento para o nome
hebraico “Jeová”. (N.T.)
primeira menção, o Espírito Santo relaciona-se à
encarnação e nascimento de Cristo.
Em Atos 16:7 Lucas muda de Espírito Santo para
Espírito de Jesus. Como homem, Jesus primeiro teve
um viver humano e então foi crucificado e
ressuscitou, e ascendeu aos céus e foi feito Senhor e
Cristo. O Espírito de Jesus envolve mais coisas do que
o Espírito Santo. O Espírito Santo só envolve a
encarnação e o nascimento do Senhor Jesus, mas o
Espírito de Jesus envolve a Sua humanidade, viver
humano, morte, ressurreição e ascensão.

UM NOVO MOVER NA ECONOMIA


NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Em Atos 16 vemos que o mover dos apóstolos em
sua obra evangelística não era realizado, a rigor, por
meio do Espírito de Deus. Antes, era por meio do
Espírito Santo, que se relacionava com a encarnação e
o nascimento do Senhor, e por meio do Espírito de
Jesus, que se relacionava com a humanidade, o viver
humano, a morte, a ressurreição e a ascensão do
Senhor. Esses dois títulos divinos indicam
categoricamente que o mover de Paulo em sua obra
evangelística não foi algo à maneira da velha
dispensação. Se tivesse sido um mover segundo a
velha dispensação, então o Espírito de Deus ou o
Espírito de Jeová deveriam ter sido mencionados.
Mas em Atos 16 não há menção do Espírito de Deus
nem do Espírito de Jeová. Em vez disso, é-nos dito
que Paulo e seus cooperadores foram impedidos pelo
Espírito Santo de falar a palavra na Ásia e o Espírito
de Jesus não lhes permitiu ir a Bitínia: O fato de
Lucas falar do Espírito Santo e do Espírito de Jesus
indica que a obra evangelística dos apóstolos era um
novo mover na economia neotestamentária de Deus.
Como já dissemos, não é nosso encargo, neste
Estudo-Vida de Atos, considerar os tópicos menores.
Nosso encargo é ver o mover de Deus na terra com
vistas à Sua economia neotestamentária e todas as
mudanças de direção dispensacionais importantes
relacionadas a esse mover.
A economia neotestamentária de Deus é levada a
cabo por meio da encarnação, humanidade, viver
humano, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. O
Espírito Santo e o Espírito de Jesus incluem essas
questões. Isso significa que o Espírito, que agora é
chamado de o Espírito Santo e o Espírito de Jesus, é a
totalidade e a consumação final e máxima da
encarnação, humanidade, viver humano, morte,
ressurreição e ascensão de Cristo. Quando temos esse
Espírito Santo e o Espírito de Jesus, temos Cristo em
Sua encarnação, em Sua humanidade e viver
humano, e em Sua morte, ressurreição e ascensão.
Já comentamos em outro lugar que após a Sua
ressurreição e em Sua ressurreição Cristo se tornou o
Cristo pneumático, o qual é o mesmo que o Espírito
(1Co 15:45; 2Co 3:17). O Espírito Santo, que também
é o Espírito de Jesus, é a totalidade desse Cristo
pneumático, o qual é constituído de certos elementos:
encarnação, humanidade, viver humano, morte,
ressurreição e ascensão. Em todo o universo Ele é o
único que tem essas seis qualificações. Ele é o único
qualificado com encarnação, humanidade, viver
humano, morte, ressurreição e ascensão. Assim o
Espírito de Jesus é esse Jesus qualificado, como
realidade para nós. O Espírito de Jesus é a totalidade
desse Espírito todo-inclusivo. Em Atos 16, Paulo e
seus cooperadores moviam-se conforme a direção
desse Espírito, o Espírito que é a totalidade do Cristo
todo-inclusivo.

A VERDADE NAS PROFUNDEZAS DA


PALAVRA
Esta mensagem com respeito ao Espírito Santo e
ao Espírito de Jesus não é produto da minha
imaginação. Antes, é o resultado de mais de meio
século de estudo da Palavra e dos escritos de outros,
além de observar a experiência dos irmãos e a minha
própria. Assim, a minha comunhão a respeito desses
dois títulos do Espírito divino baseia-se em anos de
estudo, observação e experiência.
Se virmos o significado dos títulos o Espírito
Santo e o Espírito de Jesus, choraremos e
lamentaremos a triste situação existente entre os
cristãos hoje com respeito ao entendimento dessas
questões. Quem porventura sabe que o Espírito de
Jesus é a totalidade e a realidade de Cristo como o
único que foi qualificado por meio da encarnação,
humanidade, viver humano, morte, ressurreição e
ascensão? Nós certamente não nos orgulhamos do
que o Senhor, em Sua misericórdia, nos mostrou, mas
temos o encargo de mostrar a verdade aos que
buscam a Deus. As profundezas da verdade com
respeito ao Espírito não são encontradas na teologia
tradicional; pelo contrário, elas estão nas
profundezas da Palavra. Se quisermos conhecer essas
profundezas, não devemos contentar-nos em “esquiar
sobre o gelo” da superfície da Palavra. Nós, na
restauração do Senhor, não devemos mais
permanecer na superfície da Palavra.
Certamente precisamos considerar os dois títulos
divinos em Atos 16:6 e 7. Paulo e Silas foram
impedidos de falar a palavra na Ásia, não pelo
Espírito de Deus e nem pelo Espírito de Jeová, mas
pelo Espírito Santo, o qual levou a cabo a concepção
do Salvador. Quando eles tentaram ir para Bitínia,
não foi nem o Espírito de Deus nem o Espírito de
Jeová que não lhes permitiu — foi o Espírito de Jesus
que não os deixou ir. O Espírito de Jesus é o Espírito
Daquele que tem humanidade, viveu como homem na
terra por trinta e três anos e meio, teve uma morte
todo-inclusiva, ressuscitou dentre os mortos para
propagar a vida divina infundindo-a em todos os Seus
crentes, e ascendeu aos céus para ser feito Senhor e
Cristo. O Espírito que não deixou os apóstolos irem a
Bitínia foi o Espírito desse Jesus. Ele é a totalidade e a
plena percepção do Jesus todo-inclusivo. Esses
versículos provam que os apóstolos moviam-se sob a
direção e guiar de tal Espírito todo-inclusivo. Que
todos tenhamos essa revelação e não estejamos
satisfeitos com o entendimento superficial da Palavra
de Deus.

TER O ESPÍRITO SANTO E O ESPÍRITO DE


JESUS COMO PARTE DA NOSSA
CONSTITUIÇÃO
O tipo de obra que fazemos para o Senhor
depende do tipo de Espírito pelo qual somos guiados,
dirigidos, instruídos e constituídos. Paulo não tinha o
Espírito de Deus nem o Espírito de Jeová como sua
constituição e sim o Espírito Santo e o Espírito de
Jesus. Como vaso que contém o Deus Triúno, Paulo
tinha constituído em si o Espírito Santo, que se
relacionava com a encarnação e nascimento do
Senhor, e o Espírito de Jesus, que se relacionava com
a humanidade, viver humano, morte todo-inclusiva,
ressurreição que infunde vida e ascensão do Senhor.
Paulo era uma pessoa que tinha esse Espírito
todo-inclusivo constituído nele. Assim, quando ele
saiu para pregar, ele podia verdadeiramente pregar
Jesus Cristo.
Precisamos ser impressionados com o fato de
que o tipo de obra que fazemos para o Senhor
depende do Espírito pelo qual somos guiados e o qual
temos constituído em nós. Na verdade, esse Espírito
deve se tornar a nossa constituição, assim, a nossa
obra será a expressão desse Espírito. Por exemplo,
você acha que teria sido possível Elias ter sido guiado
pelo Espírito Santo, ou então fazer urna obra para o
Jesus que se encamou, com humanidade, viver
humano, morte, ressurreição e ascensão? Não, Elias
não tinha esse Espírito. Ele tinha apenas o Espírito de
Deus e o Espírito de Jeová. Ele tinha um Espírito
poderoso, mas ele não tinha o Espírito de Jesus
constituído nele. Por essa razão, ele jamais poderia
ter feito a obra de ministrar o Jesus todo-inclusivo
nem transmiti-Lo aos outros como tal.

O SIGNIFICADO DO ESPÍRITO SANTO E DO


ESPÍRITO DE JESUS
Ao ler Atos 16 a tendência é considerar a questão
da direção do Espírito de forma genérica. Como
vimos, Paulo não executou a sua obra de difusão do
evangelho de acordo com a sua decisão, preferência e
programação, mas pelo Espírito. Essa interpretação
também é genérica. Precisamos da visão celestial para
podermos ver o que implicam os dois títulos divinos:
o Espírito Santo e o Espírito de Jesus. A fim de
entender esses títulos precisamos escavar as
profundezas da Bíblia com respeito ao Espírito.
Precisamos estudar o Espírito em toda a Bíblia,
considerando o Espírito de Deus em Gênesis e o
Espírito de Jeová em outros lugares do Antigo
Testamento. Então precisamos ver por que o termo o
Espírito Santo não é usado antes de Deus se encamar.
Quando vemos isso, percebemos que o título o
Espírito Santo está relacionado com a economia
neotestamentária de Deus. Em especial, esse título
indica Deus entrando no homem para ser um com o
homem na encarnação. No Novo Testamento o título
o Espírito Santo indica que Deus está agora
mesclando-Se com o homem.
Também precisamos do discernimento adequado
para ver o significado do Espírito de Jesus. Esse título
do Espírito se refere ao Senhor como Aquele que é
todo-inclusivo, que era um homem, teve um viver
humano em Sua humanidade, foi à cruz e teve uma
morte todo-inclusiva, foi ressuscitado para a
propagação da vida divina, e ascendeu aos céus para
ser feito Senhor e Cristo. Se nos aprofundarmos nas
Escrituras e tivermos a visão celestial com respeito ao
Espírito, veremos que o Espírito de Jesus implica a
humanidade, o viver humano, a morte, a ressurreição
e a ascensão do Senhor.
É muito fácil adquirir um entendimento
superficial da Bíblia. Até mesmo lendo uma vez toda a
Bíblia você pode ganhar algum conhecimento
superficial. Mas ter a revelação celestial requer que
nos aprofundemos nas Escrituras. Também
precisamos de discernimento para ver o que está
revelado na Palavra. O Senhor Jesus tinha esse
entendimento profundo das Escrituras quando Ele
mostrou que o título “o Deus de Abraão, o Deus de
Isaque, e o Deus de Jacó” implica ressurreição (Mt
22:31-33).
Que todos aprendemos a nos aprofundar na
palavra de Deus para conhecer as verdades mais
profundas, enterradas há séculos. Em especial, que
possamos aprender o significado dos dois títulos
divinos encontrados em Atos 16:6 e 7: o Espírito
Santo e o Espírito de Jesus.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E CINCO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (11)

Leitura Bíblica: At 16:6-40


Em 16:6-40 temos a viagem de Paulo e seus
cooperadores para Filipos da Macedônia. Os
versículos 6 a 10 registram a visão que ele teve do
varão macedônio; os versículos 11 a 18, a pregação e
os seus frutos; e os versículos 19 a 40, o
aprisionamento e a libertação.

A VISÃO DO VARÃO MACEDÔNIO


Paulo e seus cooperadores foram “impedidos
pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia” (v.
6), e “tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de
Jesus não o permitiu” (v. 7). Depois que tinham
descido a Trôade, “à noite, sobreveio a Paulo uma
visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe
rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos” (v.
9). Essa visão não foi um sonho nem um êxtase. É
diferente da experiência de Pedro em 10:9-16,
quando, “sobreveio-lhe um êxtase” (v. 10). Na visão
em 16:9 um varão macedônio rogou a Paulo que fosse
à Macedônia, província do Império Romano no
sudeste da Europa, entre Trácia e Acaia, no Mar
Egeu.
Atos 16:10 prossegue dizendo: “Assim que teve a
visão, imediatamente, procuramos partir para aquele
destino, concluindo que Deus nos havia chamado
para lhes anunciar o evangelho”. Esse versículo indica
que após ter tido a visão de Deus, havia ainda a
necessidade de concluir, isto é, entender o que
significava a visão, exercitando a mente de acordo
com a situação e o ambiente reais. A mente que é
capaz de entender essa visão de Deus é uma mente
saturada e dirigida pelo espírito (Ef 4:23).
Em 16:10 o verbo é usado pela primeira vez na
primeira pessoa do plural (nós) para incluir o autor,
Lucas. Isso indica que, a partir de Trôade, Lucas se
juntou ao apóstolo Paulo em sua viagem ministerial.
Depois de concluir que Deus os tinha chamado
para levar as boas novas aos macedônios, Paulo e
seus cooperadores procuraram partir para a
Macedônia. Esse foi um grande passo no mover do
Senhor para a expansão do Seu reino para outro
continente, a Europa. Isso explica a intenção do
Espírito Santo de impedi-los de pregar o evangelho
na Ásia, e do Espírito de Jesus de não lhes permitir ir
para Bitínia, e também da vinda da visão à noite.
Levar a cabo essa orientação especial no mover
estratégico do Senhor exigiu o empenho do apóstolo e
de seus cooperadores. Eles o fizeram imediatamente.

A PREGAÇÃO E OS SEUS FRUTOS


Atos 16:11-12a diz: “Tendo, pois, navegado de
Trôade, seguimos em direitura a Samotrácia, no dia
seguinte, a Neápolis e dali, a Filipos, cidade da
Macedônia, primeira do distrito e colônia”. Trôade
era um porto marítimo no noroeste da Ásia Menor,
oposto à Macedônia no Mar Egeu. Samotrácia era
uma ilha no Mar Egeu entre Trôade e Filipos, e
Neápolis era um porto marítimo de Filipos. Atos
16:12 diz que Filipos era uma colônia. Isso significa
que era um posto avançado e fortificado do Império
Romano em um país estrangeiro, onde os cidadãos
tinham os mesmos direitos dos da capital, Roma.
Portanto, Filipos era um ponto estratégico para o
início da difusão do evangelho na Europa.

Um Lugar de Oração
O versículo 13 diz: “No sábado, saímos da cidade
para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar
de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres
que para ali tinham concorrido”. Aqui a palavra
sábado mostra como o judaísmo e sua influência se
tinham espalhado, chegando até mesmo à Europa.
Esse versículo também fala de um lugar de oração. A
oração do homem dá a Deus a oportunidade para o
Seu mover entre os homens na terra.
Em 16:13 Paulo seguiu o seu princípio de
procurar as pessoas escolhidas por Deus. Em Filipos
ele não foi à sinagoga, e, sim, a um lugar de oração, no
sábado. É bem provável que judeus e prosélitos
gregos que buscavam a Deus se reunissem nesse
lugar. Essa foi a razão de ele ir lá.

A Salvação de Lídia
Atos 16:14 prossegue: “Certa mulher, chamada
Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura,
temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o
coração para atender às coisas que Paulo dizia”. O
Senhor aqui, que abriu o coração de Lídia para
atender à pregação do evangelho, deve ser o Espírito,
que é o próprio Senhor (2Co 3:17). Não sabemos se
Lídia era judia ou uma grega que buscava a Deus,
uma vez que muitas mulheres gregas, especialmente
as de alta posição, buscavam a Deus. A primeira
pessoa ganha pelo Senhor na Europa não foi um
homem, e, sim, uma mulher.
Atos 16:15 diz: “Depois de ser batizada, ela e toda
a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou
fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E nos
constrangeu a isso”. Aqui vemos que o batismo seguiu
logo após crer, como o Senhor ordenou em Marcos
16:16. Lídia, após crer e ser batizada, entrou na
comunhão com o apóstolo e seus cooperadores, a
comunhão do Corpo de Cristo, como evidência da sua
salvação. A convite dela, eles entraram em sua casa e
lá permaneceram. Essa foi a primeira casa que o
Senhor ganhou na Europa por meio do Seu evangelho
e com vistas a ele (v. 40).

A Expulsão de um Espírito Maligno


Atos 16:16 continua: “Aconteceu que, indo nós
para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma
jovem possessa de espírito adivinhador, a qual,
adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores”. O
espírito nesse versículo não era um anjo caído, e, sim,
um demônio (Mc 1:23, 32, 34, 39; Lc 4:33), um
espírito das criaturas que viviam na era pré-adâmica
e foram julgadas por Deus quando se juntaram à
rebelião de Satanás (ver Estudo-Vida de Gênesis,
mens. 2). Os anjos caídos operam com Satanás nos
ares (Ef 2:2; 6:11-12), e os espíritos imundos, os
demônios, se movem com ele na terra. Ambos agem
malignamente sobre o homem para o reino de
Satanás. A possessão demoníaca significa Satanás
usurpando o homem, que Deus criou para o Seu
propósito.
Em Atos 16:16 a jovem tinha o espírito
adivinhador, ou de Píton4 e trazia lucro para os seus
senhores adivinhando. O nome Píton era usado para
denotar demônio profético e também para adivinhos.
Adivinhar é a arte ou prática que procura prever ou
predizer acontecimentos futuros ou descobrir algum
conhecimento oculto, pela ajuda de poderes
sobrenaturais.
Conforme os versículos 17 e 18, “seguindo a
Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são
servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho
da salvação. Isto se repetia por muitos dias. Então,
Paulo, já indignado, voltandose, disse ao espírito: Em
nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E
ele, na mesma hora, saiu”. A jovem que tinha esse
espírito maligno se tomou um obstáculo à pregação
de Paulo. Ele tolerou a situação por algum tempo,
mas, por fim expulsou o espírito maligno. Como
indica o versículo 19, depois que o demônio foi
expulso dajovem, elajá não podia mais dar lucro aos
seus senhores.

O APRISIONAMENTO E A LIBERTAÇÃO
Atos 16:19 diz: “Vendo os seus senhores que se
lhes desfizera a esperança do lucro, agarrando em
Paulo e Silas, os arrastaram para a praça, à presença
das autoridades”. Literalmente o vocábulo grego
traduzido como se desfizera aqui, significa foi
embora. Por certo, os mestres da jovem eram gentios,
e se iraram porque perderam o seu meio de obter
lucro. Eles causaram problemas a Paulo e seus
4
A expressão traduzida como espírito adivinhador literalmente é espírito de Piton, “na Antiguidade,
adivinho que previa o futuro” (Dic. Aurélio). Ver também nota na BJ. (N.T.)
cooperadores, instigando a cidade contra eles. “E,
levando-o aos preteres 5 , disseram: Estes homens,
sendo judeus, perturbam a nossa cidade, propagando
costumes que não podemos receber, nem praticar,
porque somos romanos” (vs. 20-21).
Atos 16:22-24 diz: “Levantou-se a multidão,
unida contra eles, e os pretores, rasgando-lhes as
vestes, mandaram açoitá-los com varas. E, depois de
lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere,
ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a
segurança. Este, recebendo tal ordem, levou-os para o
cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco”.
Literalmente, o termo grego traduzido como tronco
significa madeiro e denota um instrumento de
tortura com buracos para segurar os punhos,
tornozelos e o pescoço. O mesmo termo é usado para
cruz em 5:30; 10:39; Gálatas 3:13; e 1 Pedro 2:24.
Quando os apóstolos foram colocados no cárcere
interior, o Senhor teve uma excelente oportunidade
de vindicar-se como o Senhor dos reis. Atos 16:25-26
diz: “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e
cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros
de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho
terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão;
abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias
de todos”. Enquanto Paulo e Silas estavam orando e
cantando, o Senhor sacudiu a prisão, e todos os
prisioneiros foram soltos de suas cadeias. Quando o
carcereiro viu as portas da prisão abertas, “puxando
da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos
tivessem fugido” (v. 27). Mas Paulo bradou em alta
voz: “Não te faças nenhum mal, que todos aqui
5
Pretor: magistrado que, na Roma antiga, distribuía a justiça (Dic. Aurélio). (N.T.)
estamos” (v. 28).

A Salvação do Carcereiro e de Sua Casa


No versículo 30 O carcereiro disse a Paulo e
Silas: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?”
Eles responderam: “Crê no Senhor Jesus e serás
salvo, tu e tua casa” (v. 31). A palavra “casa” indica
que a farm1ia do crente é uma unidade completa para
a salvação de Deus, assim como a farm1ia de Noé (Gn
7:1), as farm1ias participando da páscoa (Ex 12:3-4), a
farm1ia da meretriz Raabe (Js 2:18-19), a farm1ia de
Zaqueu (Lc 19:9), a farm1ia de Cornélio (At 11:14), a
família de Lídia (16:15), a família do carcereiro aqui, e
a família de Crispo em 18:8.
Paulo e Silas “lhe pregaram a palavra de Deus e a
todos os de sua casa” (v. 32). Então: “Naquela mesma
hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões
dos açoites” (v. 33a). Literalmente, a expressão grega
traduzida como lavou-lhes os vergões significa
lavou-lhes dos vergões. Conforme o versículo 33b, “a
seguir, foi ele batizado, e todos os seus”. Como no
caso de Lídia, o batismo foi praticado imediatamente
depois que o carcereiro e os de sua casa creram, a fim
de que pudessem ser salvos.
O versículo 34 continua: “Então, levando-os para
a sua própria casa, lhes pôs a mesa; e, com todos os
seus, manifestava grande alegria, por terem crido em
Deus”. O carcereiro, depois de crer e ser batizado,
também entrou na comunhão com os apóstolos, a
comunhão do Corpo de Cristo, como sinal da sua
salvação.
Pode parecer-nos estranho que o carcereiro e sua
casa creram, foram batizados e introduzidos na
comunhão dos apóstolos, tudo isso na mesma noite.
Que conversão maravilhosa! Espero que possamos
ver conversões assim hoje, em que as pessoas crêem,
são batizadas e introduzidas na comunhão do Corpo
de Cristo.

Paulo Exige os Seus Direitos de Cidadão


Romano
Atos 16:35 diz: “Quando amanheceu, os pretores
enviaram oficiais de justiça, com a seguinte ordem:
Põe aqueles homens em liberdade”. Aqui os “oficiais
de justiça” eram os litores romanos, oficiais que, na
antiga Roma, acompanhavam os magistrados com
um molho de varas e uma machadinha para as
execuções da justiça.
No versículo 36 o carcereiro comunicou a Paulo
as palavras dos pretores: “Os pretores ordenaram que
fósseis postos em liberdade. Agora, pois, saí e ide em
paz”. No versículo 37 temos a incisiva resposta de
Paulo: “Sem ter havido processo formal contra nós,
nos açoitaram publicamente e nos recolheram ao
cárcere, sendo nós cidadãos romanos; querem agora,
às ocultas, lançar-nos fora? Não será assim; pelo
contrário; venham eles e, pessoalmente, nos ponham
em liberdade”. Aqui Paulo não se comportou como
um cordeiro levado ao matadouro. Pelo contrário,
exigiu os seus direitos de cidadão romano. Alguns ao
ler as palavras de Paulo aqui poderão dizer: “Parece
que nessa situação ele não foi muito espiritual. Ele
agiu como leão, e não como cordeiro. Também
podemos dizer que não era uma 'pomba', mas um
‘falcão’”. Por anos, não consegui entender o
comportamento de Paulo aqui.
Gradualmente por meio da minha própria
experiência de sofrer perseguição, críticas e oposição,
vim a perceber que nem sempre devemos ceder.
Temos tentado ser fiéis e honestos seguidores de
Jesus. Temos procurado andar nos Seus passos,
sofrendo perseguições assim como Ele sofreu. Por
fim, aprendi que isso nem sempre é ser sábio, e Deus
nem sempre quer que venhamos a reagir dessa forma
em face de perseguição e oposição.
Na verdade, em 16:35-39 a questão não é se
Paulo deveria ser uma pomba ou um falcão. O
importante era a sua obra evangélica. Ele percebeu
que, por causa do futuro da sua obra evangélica, era
necessário exigir os seus direitos de cidadão romano.
O governo romano era um governo onde a lei
prevalecia, e esse governo protegia os seus cidadãos.
Assim, Paulo foi sábio em ter a atitude descrita no
versículo 37, pois seria uma ajuda para o futuro da
sua obra. Essa atitude tornou impossível aos oficiais
romanos pensar que poderiam tratar Paulo da
maneira que quisessem por ser ele judeu.
No versículo 37 Paulo parecia estar dizendo:
“Não, nós não queremos sair secretamente. Somos
romanos, e não fomos julgados culpados de nenhum
crime. Primeiro vocês nos colocam no cárcere interior
e agora querem que saiamos secretamente. Nós nos
recusamos a fazê-lo. Que venham os pretores e nos
tirem da prisão. Não vamos 'sair de fininho' como
criminosos que fugiram. Queremos ser tirados da
prisão de maneira digna de cidadãos romanos. Assim,
peça aos pretores que venham e nos acompanhem até
a saída da prisão”.
O relato de Atos 16 indica que os pretores
romanos não tinham escolha, a não ser atender às
exigências de Paulo. “Os oficiais de justiça
comunicaram isso aos pretores; e estes ficaram
possuídos de temor, quando souberam que se tratava
de cidadãos romanos. Então, foram ter com eles e
lhes pediram desculpas; e, relaxando-lhes a prisão6,
rogaram que se retirassem da cidade” (vs. 38-39).
Aqui vemos que os pretores acompanharam a saída
de Paulo e Silas da prisão, como Paulo tinha pedido.
O versículo 40 conclui: “Tendo-se retirado do cárcere,
dirigiram-se para a casa de Lídia e, vendo os irmãos,
os confortaram. Então, partiram”.
Em 16:35-39 Paulo não foi espiritual de forma
religiosa. Nessa situação ele não foi uma pomba
religiosa; mas um falcão que exigia os seus direitos.
Por causa do futuro de sua obra evangélica, ele exigiu
os seus direitos de cidadão romano. Sem querer
justificar-nos de nenhuma maneira, podemos
testificar que aprendemos com ele a exigir os nossos
direitos como cidadãos e a apelar ao “César” de hoje
(a lei deste país 7 democrático) a fim de lidar com
livros malignos que nos caluniam. Vivemos num país
que possui leis, e neste país constitucional há leis
contra a difamação. Por causa da sua obra evangélica,
Paulo exigiu os seus direitos de cidadão romano e
apelou para César. Semelhantemente, por causa do
interesse do Senhor, e não para proveito pessoal, nós
exigimos os nossos direitos como cidadãos e
apelamos para a lei, como o nosso “César” de hoje.

6
Relaxando-lhes a prisão, ou lit.: tirando-os para fora. (N.T.)
7
Os Estados Unidos da América. (N.T.)
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E SEIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (12)

Leitura Bíblica: At 17:1-34


Nesta mensagem chegamos a 17:1-34. Nos
versículos 1 a 9, Paulo chega a Tessalônica; nos
versículos 10 a 13, a Beréia; e nos versículos 14 a 34, a
Atenas.

PARA TESSALÔNICA
Em 16:11-40 temos um relato do surgimento da
igreja em Filipos. Essa igreja foi levantada por meio
de duas pessoas incomuns. A primeira foi “certa
mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira,
vendedora de púrpura” (16:14). A segunda foi um
carcereiro. De acordo com a nossa experiência e
observação, as igrejas freqüentemente são levantadas
por meio de pessoas incomuns como essas.
Depois de permanecer em Filipos, Paulo e seus
cooperadores passaram por Anfípolis e Apolônia e
então “chegaram a Tessalônica, onde havia urna
sinagoga de judeus” (17:1). Tessalônica era outra
cidade importante, situada em um golfo, no meio da
costa da província da Macedônia.
O fato de ele arrazoar na sinagoga com respeito a
Cristo corresponde a ser guiado pelo Espírito Santo e
regido pelo Espírito de Jesus. Ele era tal pessoa.
Como estava debaixo da orientação do Espírito Santo
e do governo do Espírito de Jesus, ele executou uma
obra de apresentar, transmitir e ministrar o Cristo
todo-inclusivo a outros. Ele não ministrava a lei,
genealogias, profecias ou tipos; ministrava o Cristo
vivo e todo-inclusivo. Esse é o significado mais
profundo desse trecho da Palavra. Quando chegamos
a esses versículos de Atos, precisamos ler e estudá-los
dessa forma.

Muitos Unem-se a Paulo e Silas


Atos 17:4 continua: “Alguns deles foram
persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como
numerosa multidão de gregos piedosos e muitas
distintas mulheres”. Esses gregos piedosos talvez
fossem gregos que se converteram à religião judaica.
Dentre a grande multidão que se uniu a Paulo e Silas
estavam muitas mulheres distintas. É significativo
que em Atos as mulheres distintas entre os gregos
freqüentemente estavam entre as primeiras pessoas a
crer no evangelho. Isso indica que muitas mulheres
gregas buscavam a Deus.

A Oposição dos Judeus


Atos 17:5-7 descreve a oposição dos judeus: “Os
judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo
alguns homens maus dentre a malandragem,
ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade e, assaltando
a casa de Jasom, procuravam trazê-los para o meio do
povo. Porém, não os encontrando, arrastaram Jasom
e alguns irmãos perante as autoridades, clamando:
Estes que têm transtornado o mundo chegaram
também aqui, os quais Jasom hospedou. Todos estes
procedem contra os decretos de César, afirmando ser
Jesus outro rei”. Literalmente o vocábulo grego
traduzido como mundo no versículo 6 significa a terra
habitada. Provavelmente os apóstolos realmente
pregavam que Jesus é o Rei. Os opositores usaram
isso para acusá-los e, de forma sutil, envolver César.
Os opositores freqüentemente têm essa habilidade,
que talvez venha do treinamento que receberam do
diabo, o instigador maligno.
Em 17:5-7 podemos ver quão forte era a
influência do judaísmo. Essa influência era
prevalecente não apenas em Jerusalém, mas também
no mundo gentio, até mesmo no leste europeu.
Segundo o versículo 8, “tanto a multidão como as
autoridades ficaram agitadas ao ouvirem estas
palavras”. Aqui vemos a sutileza deles ao juntar-se à
política local, e até mesmo utilizá-la para perseguir os
apóstolos. Isso indica que a religião judaica foi
usurpada pelo inimigo de Deus, Satanás, para se opor
à economia de Deus. Em princípio a situação é a
mesma hoje. A religião se une às autoridades
mundanas para estorvar o autêntico mover de Deus
na terra.

PARA BERÉIA
Atos 17:10 diz: “E logo, durante a noite, os irmãos
enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados,
dirigiram-se à sinagoga dos judeus”. Por que os
irmãos imediatamente enviaram Paulo e Silas para
Beréia? Foi porque os apóstolos corriam perigo de
vida. Se tivessem demorado, ainda que só um pouco,
poderiam ter sido mortos.
Mais uma vez, chegando a Beréia, Paulo e Silas
“dirigiram-se à sinagoga dos judeus”. Como de
costume, a razão de agir assim era agarrar a
oportunidade de pregar o evangelho. Eles eram
ousados, entrando na fortaleza judaica. Isso era
necessário a fim de ganhar os chamados de Deus que
eram guardados no aprisco do judaísmo.
Atos 17:11-12 diz: “Ora, estes de Beréia eram mais
nobres que os de Tessalônica; pois receberam a
palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras
todos os dias para ver se as coisas eram, de fato,
assim. Com isso, muitos deles creram, mulheres
gregas de alta posição e não poucos homens”. Vine diz
que o vocábulo grego traduzido por mais nobres
indica que os de Beréia eram de intenções mais
nobres. F. F. Bruce diz que a palavra significa ser
liberal, livre de preconceitos.
Creio que as pessoas de Beréia não eram
teimosas, e, sim, bastante sábias. Sempre que formos
teimosos não podemos ser nobres. Alguém nobre
sempre é sábio. Os de Beréia eram sábios em receber
a palavra com toda a avidez, examinando as
Escrituras diariamente para ver se essas coisas eram
realmente assim.
Atos 17:13 nos diz que a oposição se expandiu de
Tessalônica para Beréia: “Mas, logo que os judeus de
Tessalônica souberam que a palavra de Deus era
anunciada por Paulo também em Beréia, foram lá
excitar e perturbar o povo”. Parece que esses
opositores se tomaram profissionais, não fazendo
outra coisa além de seguir os apóstolos e se opor à
economia de Deus. Não sabemos quem os contratou
ou patrocinou. Na verdade, foram “contratados” pelo
diabo.

PARA ATENAS Enviados pelos Irmãos


Devido à oposição que chegara à Beréia “os
irmãos promoveram, sem detença, a partida de Paulo
para os lados do mar. Porém Silas e Timóteo
continuaram ali” (v. 14). Assim como a palavra logo,
no versículo 10, as palavras sem detença são usadas
aqui para descrever que os irmãos enviaram Paulo
para fora da cidade.
O versículo 15 continua: “Os responsáveis por
Paulo levaram-no até Atenas e regressaram trazendo
ordem a Silas e Timóteo para que, o mais depressa
possível, fossem ter com ele”. Atenas era a capital da
Acaia, província do Império Romano, o centro de
iluminação na ciência, literatura e arte do mundo
antigo. Por meio da visita de Paulo a esse centro, o
evangelho do reino de Deus alcançou as pessoas da
cultura mais elevada.

O Arrazoamento com os Judeus e a


Confrontação com os Filósofos Epicureus e
Estóicos

O Espírito de Paulo se Revolta com a


Idolatria Reinante em Atenas
Atos 17:16 diz: “Enquanto Paulo os esperava em
Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria
dominante na cidade”. Espírito aqui se refere ao
espírito humano de Paulo (Zc 12:1; Jó 32:8; Pv
20:27), regenerado pelo Espírito de Deus (10 3:6),
habitado pelo Senhor, o Espírito (2Tm 4:22; Rm
8:10-11), e que testifica com o Espírito (Rm 8:16), no
qual ele adorava e servia a Deus (10 4:24; Rm 1:9).
Esse espírito ficou revoltado pelos muitos ídolos de
Atenas.
Nem mesmo a cultura mais elevada preservou os
atenienses de adorar ídolos, porque neles, como em
todos os homens, havia um espírito, capaz de adorar a
Deus, criado por Deus para que o homem O busque e
adore (cf. At 17:22). Porém, devido à cegueira e
ignorância deles, eles tomaram os objetos errados de
adoração (v. 23). Agora, o verdadeiro Deus, que criou
o universo e a eles também, enviou o Seu apóstolo a
fim de anunciar-lhes a quem deveriam adorar (vs.
23-29).
Por que a adoração a ídolos era algo prevalecente
em Atenas, a cidade mais culta? A razão é que em
todo ser humano há um espírito que quer buscar e
adorar a Deus. Naturalmente muitos não buscam
nem adoram o verdadeiro Deus. Em vez disso, têm o
objeto errado de adoração. Contudo, o fato de adorar
algo ou buscar algo para adorar é uma prova
categórica de que o homem precisa de Deus. Há no
homem, especificamente no espírito humano, uma
necessidade de Deus como o verdadeiro objeto de
adoração.

O Arrazoamento na Sinagoga e na Praça


Atos 17:17 prossegue falando sobre Paulo: “Por
isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e os
gentios piedosos; também na praça, todos os dias,
entre os que se encontravam ali”. Aqui vemos que na
sinagoga ele arrazoava com os judeus e com os que ali
adoravam, que provavelmente eram gregos que
adoravam a Deus. Além de arrazoar na sinagoga, ele
arrazoava todos os dias na praça com os que ali se
encontravam. Com isso vemos que ele arrazoava em
dois lugares: na sinagoga com os judeus e na praça
com os gregos.
Atos 17:18 diz: “E alguns dos filósofos epicureus e
estóicos contendiam com ele, havendo quem
perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? E outros:
Parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a
Jesus e a ressurreição”. Os filósofos epicureus eram
os seguidores do filósofo grego Epicuro (341-270 a.
C}, cuja filosofia era o materialismo, não
reconhecendo o Criador e a Sua providência para o
mundo, mas buscando prazeres sensuais,
especialmente quanto a comer e beber. A palavra de
Paulo aos filipenses (Fp 3:18-19 e aos coríntios (1Co
15:32) se referia a eles.
Os filósofos estóicos eram membros de uma
escola filosófica fundada por Zenão de Cício (340-265
a. c.). Eles eram panteístas, que criam que tudo era
governado pelo destino e todos os acontecimentos
resultavam da vontade divina. Dessa forma, o homem
podia aceitá-los calmamente, livre de toda paixão,
tristeza ou alegria. Eles enfatizavam que o maior bem
é a virtude e ela é uma recompensa para a alma. A
Epístola de Paulo aos Filipenses também se referiu a
eles (Fp 4:11).
De acordo com Atos 17:18, alguns disseram de
Paulo: “Que quer dizer esse tagarela?” Literalmente o
termo grego traduzido por tagarela significa catador
de semente com o bico: um pássaro que pega
sementes na rua e nas praças, assim, alguém que pega
e repassa fragmentos de notícias (M. R. Vincent).

Prega Jesus e a Ressurreição


Outros, em 17:18, disseram com respeito a Paulo:
“Parece pregador de estranhos deuses” 8 . Eles
disseram isso porque ele trazia as boas novas de Jesus
e da ressurreição. A pregação de Paulo é evidência
contundente de que ele tinha Jesus e Sua ressurreição
8
Deuses: lit.: demônios. (N.T.)
constituídos nele. O Jesus Cristo Todo-inclusivo e
Sua ressurreição faziam parte da sua constituição. Ele
era uma pessoa saturada do Espírito de Jesus. Assim,
pregava Jesus e a ressurreição.

Levado ao Areópago
Os versículos 19-21 dizem: “Então, tomando-o
consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos
saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto
que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas,
queremos saber o que vem a ser isso. Pois todos os de
Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não
cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades”.
O Areópago era a Colina de Marte, o lugar do antigo e
venerável tribunal ateniense, que julgava os
problemas mais solenes da religião. O fato de Paulo
ter sido levado lá indica que a sua pregação era muito
prevalecente e agitou a cidade, tornando-se as
últimas notícias. Como veremos, ele ficou em pé no
meio do Areópago e falou aos atenienses. Na
mensagem seguinte consideraremos o conteúdo das
palavras de Paulo faladas no Areópago.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E SETE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (13)

Leitura Bíblica: At 17:16-34


Nesta mensagem estudaremos a pregação de
Paulo no Areópago. O Areópago era a Colina de
Marte, o lugar do antigo e venerável tribunal
ateniense, que julgava os problemas mais solenes da
religião.

ACENTUADAMENTE RELIGIOSOS EM
IDOLATRIA
Atos 17:22 diz: “Então, Paulo, levantando-se no
meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em
tudo vos vejo acentuadamente religiosos”. A palavra
grega traduzida como acentuadamente religiosos
literalmente significa tementes a demônio, espírito
sobrenatural, assim, entregue à adoração de
demônios, acentuadamente religiosos. A mesma
palavra é usada na forma de substantivo em 25:19
para religião. Os atenienses eram acentuadamente
religiosos, não em relação ao verdadeiro Deus, e, sim,
à adoração a ídolos. Vimos que no versículo 16 o
espírito de Paulo “se revoltava em face da idolatria
dominante na cidade”.
No versículo 23 ele continuou: “Porque,
passando e observando os objetos de vosso culto,
encontrei também um altar no qual está inscrito: AO
DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem
conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio”.
Aqui ele parecia estar dizendo: “Eu anuncio a vocês
Aquele que vocês adoram como o Deus desconhecido.
Ele pode ser desconhecido para vocês, mas é
conhecido para mim”.

O CRIADOR E O PROVEDOR
Nos versículos 24 e 25 Paulo diz: “O Deus que fez
o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do
céu e da terra, não habita em santuários feitos por
mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas,
como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é
quem a todos dá a todos vida, respiração e tudo
mais”. A palavra do apóstolo nesses versículos foi
uma inoculação muito forte, tanto para os epicureus
ateus, que não reconheciam o Criador e a Sua
providência para o mundo, como para os estóicos
panteístas, os quais se submetiam à vontade de
muitos deuses com respeito ao seu destino (ver v. 18).
No versículo 24 ele fala do Deus que fez o mundo e
todas as coisas que nele existem. Essa palavra era
dirigida principalmente aos epicureus, que, sendo
ateus, não criam em Deus. Eles não criam nem no
Criador nem na provisão divina. Por isso,
continuando a falar contra os epicureus, ele disse
também que Deus é o Senhor dos céus e da terra.
Deus era totalmente ignorado pelos epicureus.
Ademais, ele mostrou que o próprio Deus dá vida,
fôlego e tudo mais a todos. Essas são as provisões
divinas. Deus provê todas as coisas a fim de que o
homem viva. Os epicureus não criam no Criador, o
Senhor do céu e da terra que provê todas as
necessidades da vida para os seres humanos.
A pregação de Paulo em Atos 17 é muito boa. Ao
arrazoar com os judeus nas sinagogas ele usou as
Escrituras, mas, ao pregar aos epicureus filosóficos,
ele se referiu à criação.
O que Paulo fez em 17:2 e 17:24-25 é semelhante
ao que ele fez nos capítulos treze e catorze. No
capítulo treze ele usou as Escrituras judaicas como
base para pregar o Cristo ressurreto. Mas, no capítulo
catorze a sua pregação aos ateus baseou-se na criação
de Deus. Contudo, há uma diferença no uso que Paulo
faz da criação ao pregar no capítulo catorze e no
dezessete; a maneira de se expressar nessas duas
ocasiões é um pouco diferente. No capítulo catorze ele
disse aos ateus que o “Deus vivo, que fez o céu, e a
terra, o mar e tudo o que há neles (...) não se deixou
ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem,
dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas,
enchendo o vosso coração de fartura e de alegria”
(14:15, 17). Ali a palavra dele não foi muito filosófica.
Em contraste, a palavra de Paulo para rebater os
falsos ensinamentos dos epicureus no capítulo
dezessete é bastante filosófica. Aqui ele declara que
há um Criador, o Senhor do céu e da terra, que dá
vida, fôlego e todo o necessário para a vida do homem
na terra.

DE ADÃO, FEZ TODA A RAÇA HUMANA


Em 17:26 Paulo prossegue dizendo: “De um só
fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face
da terra, havendo fixado os tempos previamente
estabelecidos e os limites da sua habitação”. Um só
aqui se refere a Adão. De Adão, Deus fez todas as
nações que habitam na face da terra.
A SOBERANIA DE DEUS SOBRE A TERRA
No versículo 26 Paulo mostra que Deus fixou os
tempos previamente estabelecidos 'e os limites da
habitação de todas as nações. Aqui vemos a
autoridade soberana de Deus. Ele é soberano sobre
toda a terra. Não apenas criou todas as nações de um
só, Adão, mas determinou os tempos e lugares das
nações. As migrações para a América em seus tempos
e limites é prova categórica dessa palavra e também
da primeira parte do versículo 27. Aparentemente
Colombo abriu o caminho da Europa para a América;
na verdade, foi Deus quem o abriu, pois determinou
as épocas para o descobrimento da nova terra.
Ademais, é Ele que determina as fronteiras de todas
as nações.
A pregação de Paulo no capítulo dezessete é
muito filosófica. Da criação dos céus e da terra e da
provisão de Deus para toda a humanidade, ele passa a
falar da existência humana. Precisamos aprender
com ele a pregar o evangelho. Podemos começar com
a criação, mas não devemos parar aí. Antes, devemos
prosseguir da criação para a vida humana. Ao fazê-lo,
tocamos a necessidade exata do homem. Em 17:26,
em sua pregação, ele chegou à questão da vida
humana na terra.

O ESPÍRITO ONIPRESENTE
Conforme o versículo 27, Deus formou as nações,
determinando os tempos previamente estabelecidos e
os limites de sua habitação “para buscarem a Deus se,
porventura, tateando, o possam achar, bem que não
está longe de cada um de nós”. Por ser o Espírito
onipresente, Deus não está longe de cada um de nós.
Isso envolve a Trindade. O Espírito divino é triúno.
Você acha que é apenas o Espírito, e não o Pai e o
Filho também? O Deus que não está longe de nós
certamente é o Espírito onipresente, e é o Deus
Triúno. O Espírito é o Deus completo: o Pai, o Filho e
o Espírito.

TODOS OS SERES HUMANOS VIVEM,


MOVEM-SE E EXISTEM EM DEUS
Na primeira parte do versículo 28 Paulo explica:
“Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”. Isso
indica que a vida e a existência do homem, e até
mesmo as suas ações são de Deus. Não significa que o
homem tenha a vida divina e viva, exista e aja em
Deus assim como o fazem os crentes em Cristo, que
são nascidos de Deus, possuem a Sua vida e natureza,
e vivem, existem e agem na Pessoa de Deus. Antes,
aqui ele ressalta que todos os seres humanos,
incluindo-se os epicureus e os demais incrédulos,
vivem, movem-se e existem em Deus.

GERAÇÃO DE DEUS
No versículo 28 Paulo também diz: “Como
alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele
também somos geração”. Esses poetas provavelmente
eram Arato (cerca de 270 a.C.) e Cleantes (cerca de
300 a.C.), pois ambos disseram as mesmas palavras
em seus poemas a Zeus (Júpiter), a quem
consideravam o Deus supremo. Nos escritos deles,
“dele” se refere a Zeus como o Deus supremo.
De acordo com os poetas a que Paulo se refere no
versículo 28, somos a geração de Deus. O homem é
geração de Deus assim como Adão é considerado filho
de Deus (Lc 3:38). Dizer que Adão é filho de Deus não
significa que tenha nascido de Deus ou possuía a vida
divina. Adão foi criado por Deus (Gn 5:1-2), e Deus
era a sua origem. Baseado nisso, foi considerado filho
de Deus, assim como os poetas ateus consideravam
toda a humanidade como geração de Deus. Eles
foram apenas criados por Deus, não regenerados
Dele. Isso é absoluta e intrinsicamente diferente de os
crentes em Cristo serem filhos de Deus . Os crentes
nasceram, e foram regenerados, de Deus e possuem a
vida e a natureza divina (Jo 1:12-13; 3:16; 2Pe 1:4).
Como Deus é o Criador, a origem, de todos os
homens, Ele é o Pai de todos eles (Ml 2:10) no sentido
natural, e não no sentido espiritual como Pai de todos
os crentes (GI4:6), regenerados por Ele no espírito
(1Pe 1:3; Jo 3:5-6).

A DISTINÇÃO ENTRE A GERAÇÃO DE DEUS


E OS FILHOS DE DEUS
Precisamos considerar detalhadamente o que
significa dizer que toda a humanidade é geração de
Deus. Alguns teólogos têm ensinado que todo ser
humano é filho de Deus, tomando como base Lucas
3:38 que diz: “Adão, filho de Deus”. Então concluíram
que, já que Adão, o primeiro da humanidade, era filho
de Deus, todos os seus descendentes também devem
ser. Acham que esse conceito é fortalecido pelas
palavras de Paulo em Atos 17 com respeito a toda a
humanidade ser a geração de Deus. Contudo, se
estudarmos a Bíblia cuidadosamente, veremos que
esse conceito está incorreto.

A Humanidade Criada e Produzida por Deus


De acordo com a Bíblia, Deus criou o homem.
Como o Criador, Deus é a origem do homem. Gênesis
2:7 diz: “Então, formou o SENHOR Deus ao homem
do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de
vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Primeiro
Deus usou o pó para formar o corpo físico do homem,
e depois soprou nesse corpo o fôlego de vida, que o fez
viver. Como resultado, o homem tomou-se alma
vivente. Em Gênesis 2:7 há um forte indício de que a
vida humana veio de Deus. Nesse sentido, o homem
não apenas foi criado por Deus, como também
produzido por Ele. Não nos é dito na Bíblia que Deus
soprou o fôlego de vida nos animais. Apenas ao criar
o homem é que Ele soprou o fôlego de vida.
Provérbios 20:27 usa para “espírito” o mesmo termo
hebraico traduzido como “fôlego” em Gênesis 2:7.
Isso revela que o fôlego de vida soprado no homem
por Deus é o elemento do espírito humano. Na
verdade, esse fôlego tomou-se o espírito do homem.
O que estamos enfatizando aqui é que o homem foi
produzido por Deus. Não estamos dizendo que na
criação o homem nasceu de Deus, mas afirmamos
categoricamente que o homem foi produzido por Ele.
Deus formou o corpo do homem, soprou nele o fôlego
de vida e o homem tomou-se alma vivente. Dessa
forma ele foi produzido por Deus, e, nesse sentido, é
geração de Deus.

Os Crentes São Nascidos de Deus


A Bíblia também revela que quando nos
arrependemos e cremos no Senhor Jesus, nós
nascemos de Deus. Ser produzido de Deus é uma
coisa, ser nascido de Deus é outra. Todos os seres
humanos são geração de Deus, pois foram produzidos
por Ele. Mas os crentes são Seus filhos pois nasceram
Dele. Não há indício na Bíblia de que a geração de
Deus, os seres humanos por Ele produzidos, tenham
a vida e a natureza divina. Mas o Novo Testamento
diz que os crentes, que nasceram de Deus, têm a vida
divina e são participantes da natureza divina (2Pe
1:4). Assim, temos de diferenciar a geração de Deus
dos filhos de Deus. Todos os seres humanos são a
geração de Deus produzida Dele, mas os crentes são
os Seus filhos nascidos Dele por meio da regeneração.
Isso é claramente enfatizado em João 1:12 e 13: “Mas
a todos quantos O receberam, deu-lhes a autoridade
para se tomarem filhos de Deus: aos que crêem no
Seu nome; os quais não foram gerados do sangue,
nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus”.

Duas Maneiras de Viver, Mover-se e Existir


em Deus
Em Atos 17:28-29 Paulo diz que, como geração
de Deus, vivemos, movemo-nos e existimos Nele. Por
que todos os seres humanos vivem, movem-se e
existem em Deus? Porque a vida humana deles foi
produzida por Deus, do fôlego insuflado no primeiro
ser humano. Tendo tal vida humana, todos os seres
humanos vivem, movem-se e existem em Deus. Mas
os crentes, que nasceram de Deus, têm a vida e a
natureza divina, vivem, movem-se e existem em Deus
não apenas por ter o fôlego soprado por Deus, mas
também por agir na Pessoa divina.
Precisamos ser impressionados com o fato de
que todos os seres humanos são geração de Deus por
ter o fôlego de vida de Deus. Portanto, vivem,
movem-se e existem em Deus nesse sentido. Mas os
crentes nasceram de Deus e têm o próprio Deus em
seu interior como a sua vida e natureza. Por isso
vivemos, movemo-nos e existimos em Deus não
apenas por ter o fôlego de vida de Deus, mas também
por agir na Pessoa de Deus. Todos os seres humanos
são a geração produzida por Deus, mas nós, que
cremos em Cristo, somos os Seus filhos, regenerados
por Ele. Todos precisamos ter muita clareza sobre
essa distinção entre a geração de Deus e os filhos de
Deus.

NÃO SUPOR QUE O SER DIVINO É COMO


PEDRA ESCULPIDA POR ARTIFÍCIO
Em 17:29 Paulo continua: “Sendo nós, pois,
geração de Deus, não havemos de cuidar que a
divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à
pedra esculpida por artifício e imaginação dos
homens” (VRC). O termo grego traduzido como
divindade aqui é theion (cf. theiátes, divindade, em
Rm 1:20), que significa o que é divino, um termo mais
vago, mais abstrato e menos pessoal que theótes, que
é traduzido como Divindade em Colossenses 2:9. Em
17:29 theion indica que o homem pode, a partir das
obras de Deus, conhecer a Sua divindade, mas não o
próprio Deus. Este só pode ser conhecido por meio da
revelação do Seu Verbo eterno, o Cristo encarnado, a
própria corporificação da Divindade.
No versículo 29 Paulo disse aos atenienses que
eles não deviam “cuidar que a divindade seja
semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida
por artifício e imaginação dos homens” (VRC). Aqui
imaginação também significa pensamento ou
invenção. Os ídolos são obras da arte e pensamento
do homem.
ARREPENDIMENTO E JULGAMENTO
Em 17:30-31 Paulo prossegue: “Ora, não levou
Deus em conta os tempos da ignorância; agora,
porém, notifica aos homens que todos, em toda parte,
se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em
que há de julgar o mundo com justiça, por meio de
um varão que destinou e acreditou diante de todos,
ressuscitando-o dentre os mortos”. O dia que Deus
estabeleceu para julgar o mundo será o dia em que
Cristo julgará os vivos no trono de Sua glória antes do
milênio (Mt 25:31-36), provavelmente não incluindo
o dia em que julgará os mortos no grande trono
branco depois do milênio (Ap 20:11-15). De acordo
com Atos 10:42, Cristo foi designado por Deus “Juiz
de vivos e de mortos”. Ele será o Juiz dos mortos
depois do milênio no grande trono branco. Segunda
Timóteo 4:1 e 1 Pedra 4:5 também dizem que Cristo
julgará tanto vivos como mortos. O dia em Atos 17:31
se refere especificamente ao dia em que Cristo julgará
os vivos, porque nesse dia Ele julgará “o mundo”, que
deve se referir apenas aos homens que estiverem
vivos. Esse dia do juízo de Cristo sobre o mundo será
por ocasião da Sua volta. Ele foi designado por Deus
para executar esse julgamento, e o fato de Deus tê-Lo
ressuscitado dentre os mortos é prova categórica
disso. Em sua pregação aos gentios, tanto Pedro em
10:42 como Paulo aqui e em 24:25 enfatizaram o
julgamento vindouro de Deus.
O vocábulo grego traduzido por acreditou no
versículo 31 também pode ser traduzido por deu fé,
certeza ou garantia. A ressurreição de Cristo é a
certeza e garantia de que Ele voltará para julgar todos
os habitantes da terra. Isso está garantido para que
creiamos, e pode levar-nos ao arrependimento (v.
30).
A palavra de Paulo com respeito a Cristo como o
varão designado por Deus e a Sua ressurreição indica
que ele tinha o Senhor e Sua ressurreição plenamente
constituídos nele. Ele foi conduzido, guiado e dirigido
absolutamente pelo Espírito de Jesus. Como tinha o
Espírito de Jesus constituído em si, o seu alvo, a
despeito do assunto de que falava, era pregar Cristo e
Sua ressurreição.

A REAÇÃO À PALAVRA DE PAULO COM


RESPEITO A RESSURREIÇÃO
Atos 17:32-34 diz: “Quando ouviram falar de
ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros
disseram: A respeito disso te ouviremos noutra
ocasião. A essa altura, Paulo se retirou do meio deles.
Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele
e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita,
uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros
mais”. Desses versículos podemos ver que ele ganhou,
não apenas líderes dentre os judeus, mas também
pessoas importantes entre os gregos. a Novo
Testamento não menciona uma igreja em Atenas,
mas Paulo realizou uma obra prevalecente ali.

A PREGAÇÃO DE PAULO EM OPOSIÇÃO AOS


EPICUREUS
A pregação de Paulo em Atos 17 certamente foi
adequada à situação dos gregos em Atenas. Muito do
que ele disse foi dirigido aos epicureus e também aos
estóicos. Vimos que os epicureus não reconheciam o
Criador e a Sua providência sobre o mundo, mas
buscavam prazeres sensuais, especialmente
relacionados a comer e beber. Os estóicos eram
panteístas que criam que tudo era governado pelo
destino e todos os acontecimentos resultavam da
vontade divina. Ao pregar no Areópago, Paulo
primeiro se referiu a Deus como o Criador de forma
objetiva, como alguém fora de nós e com o qual não
temos um relacionamento direto. Daí, do Criador,
Paulo passou a mostrar que todos os seres humanos
são a geração de Deus e vivem e existem Nele. Depois
disso, ele ainda falou do dia em que Cristo julgará os
vivos. Todos esses aspectos eram dirigidos aos
epicureus.
Os epicureus dizem que não existe nem o Criador
nem o Provedor. Também afirmam que devemos
buscar os prazeres sensuais sem preocupação com o
futuro. É provável que Paulo tivesse os epicureus em
mente quando disse: “Se os mortos não ressuscitam,
comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1Co
15:32). Isso parece ter sido a citação de uma frase da
época, uma máxima dos epicureus. Se não há
ressurreição, nós; os crentes, não temos esperança no
futuro, e nos tomamos os mais miseráveis dos
homens (1Co 15:19). Se fosse assim, seria melhor
gozar a vida hoje, esquecendo-nos do futuro, como os
epicureus.
Em sua pregação em Atos 17 Paulo parecia dizer
aos epicureus: “Há um Criador, e Ele, o Provedor, dá
a todos vida, fôlego e todas as coisas. Vocês são a
geração de Deus, pois foram produzidos Dele e a sua
vida humana vem Dele. Como vocês têm a vida
humana, vocês vivem, movem-se e existem Nele.
Vocês também precisam saber que haverá um juízo
no futuro, que se relaciona à ressurreição do Homem
Jesus. Deus O designou para ser o Juiz de todos, e
forneceu prova disso ressuscitando-O dentre os
mortos. No passado, Deus lhes permitiu andar no seu
próprio caminho, mas me enviou aqui para dizer-lhes
que vocês agora precisam arrepender-se”. Essas
palavras também devem ter sido reveladoras aos
panteístas estóicos. Quão maravilhosa foi a pregação
de Paulo aos atenienses!

A PREGAÇÃO, CHEIA DE CONHECIMENTO,


DE PAULO AOS JUDEUS E AOS GREGOS
Em Atos 17 vemos que a pregação de Paulo era
cheia do conhecimento adequado, pois ele era alguém
que conhecia tanto a cultura hebraica como a grega.
Isso o capacitou a desenvolver um ministério no qual
ele se deparou tanto com judeus como com gregos.
Quando se deparava com os judeus ele usava as
Escrituras para pregar Cristo, mostrando onde Ele é
revelado nelas. Ele pregava Cristo, não apenas como o
Messias, mas também como o Deus encarnado, que
possuía humanidade, teve um viver humano na terra
por trinta e três anos e meio e uma morte
todo-inclusiva a fim de resolver os problemas entre o
homem e Deus, foi ressuscitado para propagar a vida
divina infundindo-a nos crentes e ascendeu aos céus
onde foi feito Senhor e Cristo. Paulo encarou a
situação entre os judeus usando as Escrituras dessa
forma. Ele não apenas conhecia o Antigo Testamento
na letra, mas também tinha revelação e
discernimento para ver, nas suas profundezas, com
respeito a Cristo em Seu duplo status divino-humano,
ao Seu viver humano, à Sua morte todo-inclusiva, à
Sua ressurreição propagadora e ao Seu senhorio
como Aquele que ascendeu.
Quando estava entre os gregos, Paulo se portou
de acordo com a cultura grega. A sua pregação
baseou-se na criação de Deus. De acordo com Atos 17,
ele mostrou que Deus criou os céus e a terra, provê
vida e tudo que é necessário para mantê-la, produziu
a humanidade como Sua geração e todos os seres
humanos vivem, movem-se e existem Nele. Ele disse
aos gregos da necessidade que tinham de Deus e esse
Deus é Jesus Cristo.

QUALIFICADO PARA PREGAR CRISTO


A maneira de Paulo pregar o evangelho indica
que ele era um “vaso” estudado. Em seu ministério
ele podia enfrentar a situação dos judeus de acordo
com as Escrituras e a dos gregos filosóficos de acordo
com o fato de Deus ter criado o universo e o homem.
Não creio que um pescador galileu como Pedro
poderia ter tal responsabilidade. Apenas alguém
como Saulo de Tarso podia tê-la, pois fora educado na
religião judaica, instruído na cultura filosófica grega e
tinha vivência no ambiente da política romana.
Portanto, estava plenamente qualificado para
assumir o ministério registrado em Atos.
Embora Paulo tivesse sido educado de acordo
com as culturas hebraica, grega e romana, a sua
qualificação principal não era a educação, e, sim, a
constituição espiritual. Ele tinha o Espírito Santo e o
Espírito de Jesus constituídos nele. Por isso, ele não
pregou a religião hebraica nem a filosofia grega, e sim
o Cristo encarnado, crucificado, ressurreto e
ascendido. A despeito da educação elevada, ele não a
pregou. Ele pregava o Cristo todo-inclusivo que se
torna real como o Espírito todo-inclusivo.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E OITO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (14)

Leitura Bíblica: At 18:1-22


Em Atos 18 Paulo vai a Corinto onde encontra
Áqüila e Priscila (vs. 1-4) e prega aos judeus e
encontra a oposição deles (vs. 5-17). Em 18:18-21a ele
vai a Éfeso, e em 18:21b-22 volta a Antioquia,
concluindo assim a segunda viagem ministerial.

PARA CORINTO Encontrou Áqüila e Priscila


Em Atos 18:1-2 lemos: “Depois disto, deixando
Paulo Atenas, partiu para Corinto. Lá, encontrou
certo judeu chamado Áqüila, natural do Ponto,
recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua
mulher, em vista de ter Cláudio decretado que todos
os judeus se retirassem de Roma. Paulo aproximou-se
deles”. Cláudio foi um césar do Império Romano. O
que ele fez aqui foi usado pelo Senhor para o Seu
ministério a fim de edificar a igreja, assim como o que
César Augusto fez foi usado por Deus para o
cumprimento da profecia com respeito ao lugar do
nascimento de Cristo (Lc 2:1-7).
No versículo 3 vemos: “E, posto que eram do
mesmo ofício, passou a morar com eles e ali
trabalhava, pois a profissão deles era fazer tendas”.
Isso mostra que enquanto levava a cabo o ministério
do Senhor, Paulo ainda tinha um trabalho. Ele se
refere a isso em 1 Coríntios 4:12: “Nos afadigamos,
trabalhando com as nossas próprias mãos”. Ademais,
tanto em 1 Tessalonicenses 2:9 como em 2
Tessalonicenses 3:8 ele diz que trabalhou de dia e de
noite a fim de não ser pesado para os irmãos.
A prática de Paulo era diferente da de muitos
obreiros cristãos de hoje. Sempre que alguém se torna
ministro ou missionário, ele não faz outro trabalho.
Mas, enquanto Paulo ministrava a palavra, ele
também trabalhava com as mãos, a fim de se
sustentar, e não apenas a si mesmo, mas também aos
seus cooperadores. Com respeito a isso ele diz em
Atos 20:34-35: “Vós mesmos sabeis que estas mãos
serviram para o que me era necessário a mim e aos
que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo
que, trabalhando assim, é mister socorrer os
necessitados e recordar as palavras do próprio
Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que
receber”. Mais uma vez ele estabelece um bom
padrão.
De acordo com 1 Coríntios 9:3-15 e outros
trechos, as igrejas e os irmãos não foram fiéis em
cuidar de Paulo como servo do Senhor. Como eles não
o sustentavam adequadamente, ele era forçado a
trabalhar. Alguns dos coríntios até mesmo o
acusavam de tentar ganhar dinheiro deles para si.
Mas ele mostrou que preferia morrer a tomar algo dos
coríntios (1Co 9:15).
Os que servem o Senhor em tempo integral não
devem considerar isso como a sua profissão. Se for
necessário, alguns ainda poderão ter de trabalhar
para se sustentar. Se vamos ou não agir assim
depende de quanto o nosso encargo nos ocupa. Se o
seu encargo o ocupa totalmente e o ambiente lhe
proporciona sustento, então você certamente deve
gastar todo o seu tempo na obra do Senhor. Caso
contrário, você ainda deve trabalhar para se
sustentar, e não apenas a você mas também aos seus
cooperadores, especialmente os mais jovens.
Se Paulo não recebia sustento financeiro, como é
que os seus cooperadores mais jovens iriam receber?
Devido à necessidade de sustentar a si e aos outros,
ele foi forçado a trabalhar na sua profissão de fazer
tendas. Esse é um modelo muito bom para nós hoje.
Com respeito ao sustento financeiro, a situação
de Paulo e seus cooperadores no Novo Testamento
era diferente dos sacerdotes e levitas no Antigo
Testamento. Segundo os regulamentos levíticos, os
sacerdotes deviam viver das ofertas do povo de Deus.
Mas no Novo Testamento esse regulamento já não
existe.
Conforme Lucas 8:1-3, um grupo de irmãs
ministrava ao Senhor Jesus e aos doze com as suas
posses. Os doze discípulos seguiam o Senhor em
tempo integral e todos necessitavam de sustento.
Algumas mulheres que amavam o Senhor e que
tinham os meios de sustentar a Ele e Seus seguidores
atenderam às necessidades deles.
Nos anos iniciais em Xangai, o sustento
financeiro vinha principalmente das irmãs. Várias
delas eram enfermeiras em um dos melhores
hospitais, e supriam a igreja e os cooperadores em
Xangai. Também observei isso em outros lugares.
De fato, as irmãs amam muito mais ao Senhor do
que os irmãos. Entre os doze havia um Judas, mas
não entre as irmãs. Judas não sabia amar o Senhor,
mas certamente sabia contar dinheiro. Os que se
preocupam com dinheiro dessa forma nunca irão
suprir outros financeiramente. Quanto mais contam o
dinheiro, mais o amam e desejam guardá-lo para si.
Sob a soberania do Senhor, algumas mulheres da
Bíblia casaram-se com homens ricos. Veja o caso de
Ester, que se casou com um rei gentio. Por meio da
influência que exercia sobre o esposo, ela pôde suprir
todos os judeus.
Entre as mulheres em Lucas 8:1-3 estava “Joana,
mulher de Cuza, administrador de Herodes” (v. 3).
Embora a política romana perseguisse o Senhor
Jesus, a esposa de um oficial romano usava o
dinheiro do marido para supri-Lo. Conheci vários
casos de irmãs que usaram o dinheiro do marido para
suprir a obra do Senhor.
O que estamos enfatizando com respeito a Atos
18:3 é que os que têm encargo de servir ao Senhor em
tempo integral devem fazê-lo se o ambiente e a
situação financeira permitirem. Mas se o ambiente
não permitir que alguém sirva em tempo integral, ele
não deve abandonar o seu encargo. Antes, deve
levá-lo adiante e ao mesmo tempo ser diligente no
trabalho, para atender às suas necessidades, assim
como o fez Paulo em Atos.

Todo Sábado Discorria na Sinagoga


Em Atos 18:4 lemos que Paulo “todos os sábados
discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus
como gregos”. Ele, naturalmente, ia à reunião da
sinagoga para aproveitar a oportunidade de anunciar
a Palavra de Deus. Ele não ia lá guardar o sábado,
mas pregar o evangelho, persuadindo tanto judeus
como gregos. A menção aos gregos em 18:4 indica que
alguns gregos também iam às sinagogas para ouvir a
Palavra de Deus.
Pregou aos Judeus e Encontrou Oposição da
parte Deles
Em 18:5-17 lemos que Paulo pregou aos judeus e
encontrou oposição da parte deles. O versículo 5 diz:
“Quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia,
Paulo se entregou totalmente à palavra,
testemunhando aos judeus que o Cristo é Jesus”. Os
termos gregos traduzidos por se entregou totalmente
também podem ser traduzidos por foi pressionado ou
constrangido por.
Foi nessa ocasião, em Corinto, depois da chegada
de Silas e Timóteo da Macedônia com algumas
notícias a respeito da igreja em Tessalônica (1Ts 3:6),
que Paulo escreveu a sua primeira epístola à igreja em
Tessalônica (1Ts 1:1). De Corinto, ele escreveu tal
carta amável aos queridos irmãos em Tessalônica,
para o encorajamento deles.
Em Corinto, Paulo testificou aos judeus que
Jesus é o Cristo. “Opondo-se eles e blasfemando,
sacudiu Paulo as vestes e disse-lhes: Sobre a vossa
cabeça, o vosso sangue! Eu dele estou limpo e, desde
agora, vou para os gentios” (v. 6). A situação dos
judeus em Corinto era a mesma da dos judeus em
Antioquia da Pisídia, que lançaram fora a palavra de
Deus e se julgaram indignos da vida eterna (13:46).
Nessa situação Paulo também declarou: “Vou para os
gentios”.
Em Atos 18:7-8 lemos: “Saindo dali, entrou na
casa de um homem chamado Tício Justo, que era
temente a Deus; a casa era contígua à sinagoga. Mas
Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor, com
toda a sua casa; também muitos dos coríntios,
ouvindo, criam e eram batizados”. Como em 16:31, a
palavra casa em 18:8 indica que a família do crente é
uma unidade completa para a salvação de Deus,
assim como a família de Noé (Gn 7:1), as que
partilharam a Páscoa (Êx 12:3-4), a da prostituta
Raabe (Js 2:18-19), a de Zaqueu (Lc 19:9), e de
Cornélio (At 11:14) e a de Lídia (16:15).
Em 18:9-10 lemos: “Teve Paulo durante a noite
uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas;
pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou
contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho
muito povo nesta cidade”. Assim como em 16:9-10, a
visão na qual o Senhor falou a Paulo à noite não era
nem um sonho nem um êxtase. Nessa visão, objetos
definidos são visíveis aos olhos humanos.
Atos 18:11 nos diz que Paulo “ali permaneceu um
ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de
Deus”. Como veremos, ele ficou três anos em Éfeso.
Isso indica que a igreja em Éfeso era a igreja mais
importante da Ásia Menor. Do mesmo modo, o fato
de ele permanecer em Corinto por um ano e meio,
indica que a igreja ali era a mais importante da Acaia.
Sem dúvida, em sua estada em Corinto, ele trabalhou
bastante.
Ao ler o livro de Atos vemos que a resistência, a
oposição e o ataque dos judeus era muito forte. É-nos
dito que os judeus queriam matar Paulo (9:23;
23:12-15, 21; 25:3). Aonde quer que ele fosse, os
judeus resistiam-lhe e se lhe opunham. Em
Tessalônica eles “alvoroçaram a cidade” (17:5). Com
respeito à oposição dos judeus em Corinto contra ele,
lemos em 18:12-13: “Quando, porém, Gálio era
procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus,
concordemente, contra Paulo e o levaram ao tribunal,
dizendo: Este persuade os homens a adorar a Deus
por modo contrário à lei”. Em palavras de hoje, o
procônsul no versículo 12 era o governador. Os judeus
levaram Paulo a Gálio e o acusaram de ensinar os
homens a adorar a Deus de modo contrário à lei
mosaica.
Quando Paulo ia falar, “Gálio declarou aos
judeus: Se fosse, com efeito, alguma injustiça ou
crime da maior gravidade, ó judeus, de razão seria
atender-vos; mas, se é questão de palavra, de nomes e
da vossa lei, tratai disso vós mesmos; eu não quero
ser juiz dessas coisas! E os expulsou do tribunal” (vs.
14-16). Aqui Gálio parecia estar dizendo: “Se foi
cometido um crime, então serei o juiz. Mas não tenho
interesse em disputas a respeito de nomes,
terminologias e da lei de vocês. Não tenho tempo para
essas coisas. Vocês mesmos cuidem disso”.
Por um lado a atitude de Gálio ajudou Paulo, mas
por outro colocou-o numa situação perigosa. Depois
que Gálio expressou a sua atitude tão claramente aos
judeus, eles ficaram ousados. “Então, todos
agarraram Sóstenes, o principal da sinagoga, e o
espancavam diante do tribunal; Gálio, todavia, não se
incomodava com estas coisas” (v. 17). Daí vemos que
a situação poderia ter se tomado muito ameaçadora
para Paulo.
O Sóstenes em 18:17 provavelmente não era o
mesmo de 1 Coríntios 1:1, porque essa Epístola foi
escrita em Éfeso (1Co 16:8) pouco depois que o
apóstolo deixou Corinto, onde o outro Sóstenes era o
principal da sinagoga quando Paulo foi ali
perseguido. O Sóstenes de 1 Coríntios 1:1, como irmão
no Senhor, deve ter se juntado a Paulo em seu
ministério itinerante.
PARAÉFESO
Em Atos 18:18 lemos: “Mas Paulo, havendo
permanecido ali ainda muitos dias, por fim,
despedindo-se dos irmãos, navegou para a Síria,
levando em sua companhia Priscila e Áqüila, depois
de ter raspado a cabeça em Cencréia, porque tomara
voto”. Esse era um voto particular de ação de graças
realizado em qualquer parte pelos judeus, raspando a
cabeça. É diferente do voto do nazireado, que tinha de
ser feito em Jerusalém passando-se a navalha na
cabeça (21:24; Nm 6:1-5, 18; cf. 1Co 11:6, onde se vê
que há diferença entre raspar o cabelo e passar a
navalha sobre a cabeça). Paulo era judeu e guardou o
voto, mas não o imporia aos gentios, como de fato não
o fez.
Segundo o princípio do seu ensinamento sobre a
economia neotestamentária de Deus, Paulo devia ter
desistido de todas as práticas judaicas, que
pertenciam à dispensação do Antigo Testamento.
Entretanto, ainda fez esse voto, e parece que Deus o
tolerou, provavelmente por ser um voto levado a cabo
em particular, fora de Jerusalém, e que não teria
muito efeito nos crentes.
Algumas exposições de Atos tentaram explicar
por que ele fez o voto mencionado em 18:18.
Enquanto durava o voto, o seu cabelo era deixado
crescer. Quando findava o voto, o seu cabelo era
raspado. Conforme 18:18, o voto de Paulo foi
completado em Cencréia raspando-se o cabelo.
Alguns expositores dizem que ele o fez por estar grato
ao Senhor por preservar-lhe a vida. Como ser
humano, ele pode ter tido medo de perder a vida nas
mãos dos judeus. Ele pregava e ministrava
constantemente. Ao mesmo tempo, corria sempre o
perigo de perder a vida. Por um lado, estava disposto
a perder a vida pelo Senhor. Por outro, ainda era
humano e tinha medo. Assim, segundo alguns
expositores, ele fez um voto de ação de graças.
Essa interpretação do voto de Paulo em 18:18
deve estar correta. Quando um judeu tinha algo para
agradecer a Deus, ele fazia um voto de ação de graças.
De acordo com o contexto, Paulo devia estar
agradecido ao Senhor por protegê-lo e preservar-lhe a
vida. Por toda a Ásia Menor, Macedônia e Acaia os
judeus se lhe opunham e até queriam tirar-lhe a vida.
Mas o Senhor sempre o protegeu e preservou. Por
isso ele devia estar agradecido.
Quando falou a Paulo à noite numa visão, o
Senhor lhe disse: “Não temas”. Essas palavras
indicam que havia temor em Paulo. Por isso, o Senhor
veio a ele de forma extraordinária à noite. Alguns
poderão dizer: “Paulo não tinha o Senhor em si? não
tinha o Espírito essencial e, o econômico?”
Naturalmente, ele tinha o Senhor em si, e também
tinha o Espírito essencial e o econômico. Mas ainda
havia a necessidade de ser fortalecido e ter certeza.
Para atender a essa necessidade o Senhor veio a ele
em visão dizendo: “Não temas (...) estou contigo”
(18:9-10).
Paulo pode ter feito o voto por estar agradecido
pela proteção e preservação do Senhor. Essa pode ter
sido a razão de ter parado em Cencréia para
completar o voto, ao ir da Acaia para a Síria.
Depois que o Senhor lhe falou em visão, Paulo
permaneceu em Corinto um ano e seis meses,
ensinando a Palavra de Deus. Ele certamente
cumpriu o seu comissionamento naquela cidade e,
por fim, uma igreja grande foi levantada e
estabelecida ali.
No caminho para a Síria, Paulo também parou
em Éfeso.
Como em muitos outros lugares, “entrando na
sinagoga, pregava aos judeus” (v. 19). Eles pediram
que ele permanecesse, porém ele não concordou.
“Mas, despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei
para vós outros” (v. 21).

VOLTA PARA ANTIOQUIA CONCLUINDO A


SEGUNDA VIAGEM
Paulo, embarcando, partiu de Éfeso (v. 21b).
“Chegando a Cesaréia, desembarcou, subindo a
Jerusalém; e, tendo saudado a igreja, desceu para
Antioquia”. Esse versículo indica que ele foi a
Jerusalém (cf. 21:15) e depois desceu para Antioquia.
A sua volta para Antioquia foi o fim da segunda
viagem ministerial, iniciada em 15:40.
Podemos perguntar-nos por que Paulo não
voltou diretamente a Antioquia de Cesaréia, em vez
de ir primeiro a Jerusalém. Ele desceu a Cesaréia e
depois subiu a Jerusalém e saudou a igreja lá. Por que
subiu a Jerusalém e saudou a igreja? Ele o fez devido
ao problema resolvido no capítulo quinze. Depois de
resolvido o problema, ele saiu para a segunda viagem
ministerial. Agora no fim dela ele foi visitar a igreja
em Jerusalém.
Lucas não nos dá os detalhes dessa visita de
Paulo à igreja em Jerusalém. Mas se nos
aprofundarmos na Palavra, perceberemos que ao
fazer essa visita ele se esforçava por preservar a
unidade do' Corpo e também por manter um
sentimento agradável entre ele e todos os irmãos em
Jerusalém, especialmente Pedro e Tiago.
Paulo poderia ter ido direto para Antioquia.
Aparentemente não havia razão para ir a Jerusalém.
Contudo, de Cesaréia ele foi para o sul, a fim de
visitar a igreja em Jerusalém. Então, de Jerusalém ele
realizou a longa viagem até Antioquia. Em 18:22,
Lucas nem mesmo menciona Jerusalém pelo nome.
Provavelmente pensasse que todos entenderiam o
que indicava o verbo subindo, uma vez que ninguém
subiria a outro lugar senão Jerusalém.
Precisamos ser impressionados com o fato de
que Paulo subiu a Jerusalém em 18:22 porque se
esforçava por manter a unidade do Corpo de forma
alegre e agradável. Ele era um entusiasta, fazendo
tudo o que estivesse ao alcance para manter a
unidade do Corpo e também um sentimento
agradável com os irmãos em Jerusalém. Ele sabia que
era a causa de muitos crentes judeus se levantarem e
falarem contra a sua prática. Era a causa de uma
situação desagradável. Se não houvesse alguém como
ele pregando o evangelho aos gentios, então, a vasta
maioria de crentes seriam judeus e não haveria
problema com respeito à circuncisão. Por ser o fator
duma situação desagradável, ele fez o que pôde para
manter a unidade com todos os santos. Em especial
procurava ter um sentimento agradável com os de
Jerusalém. Assim, a despeito da longa e difícil
viagem, ele subiu para lá a fim de visitar a igreja.
Somente então voltou a Antioquia, terminando assim
a segunda viagem. Isso traz muita luz e precisamos
aprender com o empenho de Paulo a manter a
unidade do Corpo e preservar um sentimento
agradável entre os irmãos, com respeito à nossa
prática de levar a cabo o ministério do Senhor.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E NOVE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (15)

Leitura Bíblica: At 18:5, 11, 9:11, 22; 13:5; 14:1; 17:1-3

A MANEIRA DE PAULO PREGAR


A principal coisa que temos de ver no capítulo
dezoito de Atos é a maneira de Paulo pregar.
Conforme 18:5, “quando Silas e Timóteo desceram da
Macedônia, Paulo se entregou totalmente à palavra,
testemunhando aos judeus que o Cristo é Jesus”. O
versículo 11 nos diz que ele permaneceu em Corinto
“um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra
de Deus”. Ali ele primeiramente foi à sinagoga para
testificar aos judeus que Jesus é o Cristo. Quando eles
resistiram e blasfemaram “sacudiu Paulo as vestes e
disse-lhes: Sobre a vossa cabeça, o vosso sangue! Eu
dele estou limpo e, desde agora, vou para os gentios”
(v. 6). Ele então permaneceu em Corinto ensinando a
Palavra de Deus.
Atos 18:5 indica que quando estava na sinagoga,
ele foi diretamente à questão de testificar que Jesus é
o Cristo. Contudo, quando pregamos o evangelho aos
incrédulos, talvez pensemos que eles não n9s ouvirão
se lhes falarmos do Senhor imediata e diretamente.
Segundo nosso conceito, precisamos de certa
abertura para lhes pregar o evangelho, ou algum
modo de fazê-los abrir-se e ganhar a atenção deles.
Não digo que nunca devamos usar algo assim ao
pregar o evangelho, mas devemos sempre
lembrar-nos da nossa tarefa: não é fazer outra coisa, a
não ser apresentar Cristo aos pecadores e
especialmente ministrar Cristo a eles. Alguns podem
dizer que é muito difícil apresentar Cristo
diretamente aos incrédulos. Concordo que é difícil,
por isso precisamos aprender a ter o poder e o
impacto necessários.

PODER POR MEIO DA ORAÇÃO, DA


PALAVRA E DO ESPÍRITO
Se queremos ter poder e impacto ao pregar o
evangelho, precisamos orar. Não há necessidade de
orar até falar em línguas para obter o poder. Podemos
tê-lo por meio da oração sem falar em línguas.
Ademais, conheci várias pessoas que falavam em
línguas que não eram nem um pouco poderosas na
pregação do evangelho.
A esta altura deixe-me relatar uma conversa que
tive, muitos anos atrás, com um amigo cristão em
Chefoo, minha cidade natal. Esse amigo era o líder de
um grupo pentecostal. Eu já o conhecia há muitos
anos e o local de reuniões desse grupo pentecostal era
bem próximo do local de reuniões da igreja. Um dia
esse irmão veio a mim com a intenção de me
convencer a seguir a maneira pentecostal. Como
éramos amigos, encorajei-o a falar aberta e
francamente. Eu disse a ele: “Irmão, você veio me ver
com o objetivo de me convencer a praticar as coisas
pentecostais”. Quando ele me disse que essa era a sua
intenção, disse-lhe que eu estava muito contente em
conversar com ele a esse respeito.
Perguntei-lhe por que estava tão entusiasmado
com as coisas pentecostais. Ele disse que a razão era a
sua crença de que falando em línguas podemos ter
poder. Então eu disse: “Irmão, vamos prestar atenção
aos fatos. Não sou a favor das coisas pentecostais,
mas você é bastante favorável a elas e as tem
praticado por anos. Peço-lhe que compare o número
de pessoas na sua congregação com o número de
pessoas na nossa. Vocês afirmam que têm poder
porque falam em línguas, mas continuam apenas com
cerca de cinqüenta pessoas se reunindo com vocês.
Nós não praticamos o falar em línguas, mas temos
centenas de pessoas reunindo-se conosco, que foram
trazidas ao Senhor por meio da pregação do
evangelho. Onde, então, está o seu poder? Vocês
falam em línguas, mas não têm poder. Nós não
falamos em línguas, mas temos o autêntico poder.
Você sabe donde vem esse poder? Vem da oração”.
Prossegui testificando-lhe com respeito a nossa
prática de pregar o evangelho por ocasião do ano
novo chinês. Em vez de celebrar o ano novo chinês, os
irmãos da igreja em Chefoo faziam preparativos para
pregar o evangelho a parentes, vizinhos e amigos. A
última noite do ano, que era uma ocasião de festa
segundo o costume chinês, era para nós momento de
jejum e oração. Então, no dia seguinte, o primeiro dia
do ano, nós nos reuníamos com os parentes, amigos e
vizinhos para a pregação do evangelho. Essa pregação
era levada a cabo com muita oração. Enquanto eu
pregava no local de reuniões, muitos irmãos ficavam
em diversas salas orando até o fim da mensagem. O
poder que experimentamos ao pregar o evangelho
vinha de tal oração. Eu disse ao meu amigo em
Chefoo que nós confiávamos na oração e não no falar
em línguas.
Em minha conversa com esse irmão, dei-lhe mais
duas razões do nosso poder. Disse-lhe que o poder
não estava apenas na oração, mas também na
Palavra. Nós não pregamos coisas estranhas ou
esquisitas. Pelo contrário, a pregação é de acordo com
a palavra da Bíblia. Essa palavra é a verdade, e a
verdade é prevalecente. Há poder em cada palavra de
Deus.
Pregamos apenas a Palavra, e não ética chinesa
nem filosofia. Ademais, em vez de usar muitas
histórias ao falar, basicamente pregamos Cristo
segundo à revelação das Escrituras. Como a palavra
de Deus é poderosa, temos poder ao pregar o
evangelho.
Também disse a esse irmão que o nosso poder
está no Espírito e não em falar em línguas. Cremos
que temos o Espírito em nós e sobre nós também. Por
isso é que temos poder. O nosso poder, portanto, está
na oração, na Palavra e no Espírito.
Neste ponto, gostaria de dar-lhe um testemunho
do que aconteceu um dia enquanto eu falava em
Chefoo. Em dado momento tive a sensação de que
estava numa atmosfera que me sobreveio. Então,
comecei a perceber que o meu falar provinha
totalmente do autêntico poder de Deus.
Se percebemos ou não o poder para pregar o
evangelho não é importante. O que é vital é que ao
pregar o evangelho tenhamos autêntico poder.
Juntamente com os presbíteros da igreja em
Chefoo, tive uma experiência concreta do poder do
Senhor num reavivamento que aconteceu na igreja
em 1942. Muitos irmãos solicitaram a imposição de
mãos. Nós impusemos as mãos neles um a um e
também oramos por eles. Em aproximadamente uma
hora oramos por mais de duzentos irmãos. A oração
feita naquela ocasião era, na verdade, uma longa
oração que brotava continuamente. O que era
significativo é que a oração se adequava exatamente à
situação de cada irmão. De repente a oração cessou e
não impusemos mais as mãos sobre ninguém. Todos
os que estavam na reunião perceberam que o que
havia acontecido foi realmente o mover do Espírito e
que não poderíamos repeti-lo, Cito isso para ilustrar
ainda mais que a nossa confiança no poder está na
oração, na Palavra e no Espírito.
Ao buscar poder e impacto ao pregar o
evangelho, não devemos seguir nenhuma maneira
estranha nem esquisita. Tomemos o caminho da
oração, da Palavra e do Espírito.
Cremos que hoje o Senhor é o Espírito
processado que habita em nós e também está sobre
nós. Não importa se O percebemos. Cremos que
enquanto O servimos e falamos por Ele, em especial
quando O declaramos, Ele está conosco. Temos a
presença do Senhor em nós como a unção. Por meio
da oração, da Palavra, e do Espírito, podemos ter
verdadeiro poder e impacto.
Pratiquei o falar em línguas por um ano e meio.
Quanto mais o fazia, menos poder eu tinha. Por fim,
abandonei essa prática e voltei à maneira normal de
oração. Embora não tivesse muito tempo para me
ajoelhar e orar, o dia todo eu tinha um espírito de
oração. Por experiência posso testificar que a oração
traz poder.
Além disso, através dos anos o meu ministério
tem sido sempre com a Palavra. Nos anos em que
tenho pregado e ensinado nesse país, tenho me
preocupado exclusivamente com a Palavra. A Palavra
é inesgotável, e é poder.
O NOSSO PODER: O DEUS TRIÚNO COMO O
ESPÍRITO
Na verdade, o nosso poder é o Deus Triúno como
o Espírito. Você não crê que o Deus Triúno está
conosco? Eu creio que Ele está comigo em meu falar.
Quando vou ministrar a Palavra, geralmente oro:
“Senhor, vindica o fato de que Tu és um espírito
comigo. Quero praticar ser um espírito Contigo.
Torna real o fato de que em meu falar Tu és um
espírito comigo. Fala a Tua palavra em meu falar”. É
desse modo que oro antes de dar uma mensagem. Por
isso creio que, enquanto falo, Ele é um espírito
comigo e fala em meu falar. Esse é o verdadeiro
poder.
Não devemos confiar em outra coisa que não seja
a oração, a Palavra e o Espírito. Talvez algum
professor seja capaz de dar uma mensagem sobre
Ciências a fim de convencer os alunos de Ciências a
crer em Deus. Embora não haja nada de errado nisso,
não devemos confiar nisso. Pelo contrário, devemos
confiar total e absolutamente na oração, na Palavra e
na unção, que é o próprio Deus Triúno.

PAULO FALA DIRETAMENTE A PALAVRA


Vemos no livro de Atos que o apóstolo Paulo não
usava artifícios para pregar o evangelho. Antes,
“pregava, nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este
é o Filho de Deus” (9:20). Quando Saulo estava em
Damasco, ele “mais se fortalecia e confundia os
judeus que moravam em Damasco, demonstrando
que Jesus é o Cristo” (9:22). Em mensagem anterior
enfatizamos que em Tessalônica ele arrazoou com os
que estavam na sinagoga a partir das Escrituras com
respeito a Cristo: “E este, dizia ele, é o Cristo, Jesus,
que eu vos anuncio” (17:2-3). Da mesma forma, vimos
que em Corinto ele solenemente testificou aos judeus
que Jesus é o Cristo (18:5). Assim, em vez de usar
subterfúgios, ele sempre falou a palavra diretamente.

IRMÃOS JOVENS PREGAM COM PODER


Talvez você diga: “Irmão Lee, você tem estado
envolvido com a Palavra por mais de cinqüenta anos.
Como podemos ser poderosos na pregação do
evangelho se ainda somos jovens no Senhor?” Quero
testificar que, mesmo ainda jovem, o meu falar era
poderoso devido a estes três itens: a oração, a Palavra
e o Espírito (a unção). Isso quer dizer que até mesmo
os jovens podem pregar o evangelho com poder e
impacto se confiarem nesses três itens.
Jovens, vocês podem escolher um trecho da
Palavra e pregá-lo aos outros. Só não confiem na
eloqüência que vocês possam ter. Os que são
eloqüentes podem não ter nenhum poder nem
impacto. Mas os que não são eloqüentes, e talvez até
não pronunciem direito as palavras, podem ter
impacto e poder na pregação do evangelho. Se
confiarmos na oração, na Palavra e no Espírito, o
Senhor pode até mesmo usar a pronúncia errada para
salvar os outros.

O EXEMPLO DE D. L. MOODY
Como você já deve saber, D. L. Moody era
prevalecente na pregação do evangelho. Ele era um
jovem aprendiz na loja de sapatos do seu tio, quando
ganhou encargo de pregar o evangelho. Um dia,
depois de dar uma mensagem de evangelho, ele foi
abordado por uma pessoa culta que estava na
congregação. Essa pessoa lhe disse que ele
freqüentemente usava a gramática de forma errada
ao falar. A resposta de Moody foi mais ou menos
assim: “A sua gramática é correta. V á você e pregue e
vamos ver qual será o resultado. Posso ser pobre na
gramática, mas por meio da minha pregação as
pessoas são salvas”.

TER O CRISTO TODO-INCLUSIVO


CONSTITUÍDO EM NÓS
Se temos ou não poder ao pregar o evangelho
depende do nosso ser, da nossa pessoa. Se queremos
ter poder, precisamos ter o Cristo todo-inclusivo
constituído em nós. Por tê-Lo constituído em si dessa
forma, Paulo em suas mensagens sempre pregou
Cristo. Em 18:5 ele testificou que Jesus é o Cristo, e
no versículo 11, que no ano e meio em que esteve em
Corinto ele ensinou a Palavra de Deus. Todos
precisamos aprender com ele a testificar de Cristo e
ensinar a Palavra.

SER UM ESPÍRITO COM O SENHOR AO


PREGAR O EVANGELHO
Não existem atalhos quanto a ter poder para
pregar o evangelho. Precisamos orar, precisamos
aprender a Palavra e precisamos ser um espírito com
o Senhor. Em 1 Coríntios 6:17 Paulo diz: “Mas aquele
que se une ao Senhor é um espírito com ele”.
Precisamos basear-nos nessa palavra, reivindicar o
fato e praticá-la. Devemos dizer: “Senhor, essa é a
Tua Palavra. Eu me apoio nela e invoco o fato de que
sou um espírito Contigo. Peço-Te que vindiques a Tua
palavra de que és de fato um comigo. Quero falar por
Ti, e até mesmo Te declarar. Vindica a palavra e
mostra que realmente és um com os teus seguidores”.
Todos precisamos fazer essa oração. Essa é a oração
que será ouvida nos céus e por todos os demônios. Se
formos um espírito com o Senhor ao pregar o
evangelho, teremos poder e impacto. Assim sendo,
não confiemos na eloqüência, mas na oração, na
Palavra e no Espírito.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (16)

Leitura Bíblica: At 18:23-19:20


Em 18:19-21 Paulo fez uma rápida visita à
estratégica cidade de Éfeso. Quando saiu de lá disse:
“Se Deus quiser, voltarei para vós outros” (v. 21).
Como veremos, na terceira viagem ministerial
(18:23-21:17), ele voltou e permaneceu ali por três
anos (18:24-19:41).
Em Atos 18:23 lemos: “Havendo passado ali
algum tempo, saiu, atravessando sucessivamente a
região da Galácia e Frigia, confirmando todos os
discípulos”. Esse foi o início da sua terceira viagem
ministerial, que terminou em 21:17.

O MINISTÉRIO DE APOLO

Instruído no Caminho do Senhor, mas


Conhecia Somente o Batismo de João
Em Atos 18:24-25 lemos: “Nesse meio tempo,
chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria,
chamado Apolo, homem eloqüente e poderoso nas
Escrituras. Era ele instruído no caminho do Senhor;
e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com
precisão a respeito de Jesus, conhecendo apenas o
batismo de João”. No versículo 25 o caminho do
Senhor não é a doutrina com respeito ao Senhor, mas
o caminho prático no qual os crentes do Novo
Testamento devem andar.
De acordo com 18:25, Apolo só conhecia o
batismo de João. Isso indica que ele não tinha
revelação completa da economia neotestamentária de
Deus, embora fosse instruído no caminho do Senhor.
Assim, havia uma deficiência no resultado do seu
ministério (19:2).
O versículo 26 continua: “Ele, pois, começou a
falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém,
Priscila e Áqüila, tomaram-no consigo e, com mais
exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus”. Em
Atos, o caminho (9:2; 19:9, 23; 22:4; 24:14, 22)
denota a plena salvação do Senhor na economia
neotestamentária de Deus. É a maneira pela qual
Deus se dispensa nos crentes por meio da redenção
de Cristo e da unção do Espírito; é a maneira com que
os crentes participam de Deus e O desfrutam; é a
maneira pela qual adoram a Deus em seu espírito
desfrutando-O e seguem o Jesus perseguido, sendo
um com Ele, e é a maneira pela qual são introduzidos
na igreja e edificados no Corpo de Cristo, a fim de dar
o testemunho de Jesus.

Auxiliou os Crentes por meio da Graça


Em Atos 18:27-28 lemos: “Querendo ele
percorrer a Acaia, animaram-no os irmãos e
escreveram aos discípulos para o receberem. Tendo
chegado, auxiliou muito aqueles que, mediante a
graça, haviam crido; porque, com grande poder,
convencia publicamente os judeus, provando, por
meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus”. Graça no
versículo 27 representa a graça especial que Apolo
desfrutava no Senhor. É simplesmente o próprio
Deus em Cristo como a porção dos crentes em Cristo.
Como já comentamos, essa graça é o Cristo ressurreto
que se tornou o Espírito que dá vida (1Co 15:45) a fim
de introduzir em nós o Deus processado em
ressurreição, para ser a nossa vida e suprimento de
vida, a fim de que vivamos em ressurreição. Assim,
graça é o Deus Triúno como vida e tudo para nós.

O que Podemos Aprender com o Caso de


Apoio
Podemos ver com o relato em Atos 18 que Apolo
era muito bom. Não apenas era piedoso como
Gamaliel; mas também conhecia o caminho do
Senhor. Contudo, embora conhecesse o caminho do
Senhor, ele não conhecia plenamente a economia de
Deus. Essa falha é indicada pelo fato de ele conhecer
apenas o batismo de João. Naturalmente, João
Batista testificou do Senhor a quem Apolo recebeu e
cujo caminho conhecia até certo ponto. O caminho
neotestamentário do Senhor já estava sendo
praticado por muitos anos, mas Apolo não conhecia a
economia de Deus além do ministério de João
Batista. Ele conhecia muito as Escrituras e era
considerado grande mestre, mas em seu
conhecimento acerca do mover do Senhor ele não
tinha ido além do ministério de João Batista.
Há uma lição para se aprender com o caso de
Apolo em Atos 18. Talvez pensemos que estamos no
caminho do Senhor, mas, na verdade, podemos não
estar bem atualizados com o mover do Senhor. Pode
ser que não tenhamos a visão com respeito ao Seu
mover atual na terra. Apolo era bom, bíblico e
poderoso para expor a Palavra, mas estava atrasado
no que diz respeito ao mover do Senhor. Essa é a
situação entre muitos cristãos hoje. Eles amam o
Senhor e conhecem as Escrituras até certo ponto, mas
não estão atualizados no mover do Senhor. Em minha
vida cristã encontrei muitos irmãos assim. Eles não
perceberam que o Senhor havia avançado em Seu
mover. A visão deles estava aquém do mover do
Senhor.
Ao considerar o caso de Apolo, todos precisamos
humilhar-nos e esvaziar o nosso espírito. O Senhor
Jesus disse: “Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos céus” (Mt 5:3). Ser pobre
em espírito não é apenas ser humilde, mas também
ser esvaziado em nosso espírito, ser esvaziado nas
profundezas do nosso ser. Muitos líderes judeus
conheciam o mover de Deus do Antigo Testamento,
mas não viram que Deus queria ter um novo início
para a Sua economia neotestamentária. Eles estavam
cheios em seu espírito. Assim, o Senhor Jesus
mostrou que todos precisamos ser pobres no espírito
a fim de ver o mover atual do Senhor.
Se lermos toda a Bíblia cuidadosamente,
veremos que desde a época de Gênesis 4, o Senhor se
tem movido passo a passo. Ele se moveu de certa
forma no tempo de Enos e de Enoque; de outra no
tempo de Noé; e ainda de outras formas no tempo de
Abraão, Moisés, Davi, Elias e Zacarias. O Senhor
ainda teve outro mover com João Batista.
Como o Senhor está sempre avançando em Seu
mover, não devemos estar satisfeitos com o lugar
onde estamos. Antes, devemos humilhar-nos e
esvaziar-nos de tudo que enche o nosso espírito para
ele receber algo novo com respeito ao mover do
Senhor.

SUPRIU A DEFICIÊNCIA DO MINISTÉRIO


DE APOLO
Em Atos 19:1-2 vemos: “Aconteceu que, estando
Apolo em Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões
mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns
discípulos, perguntou1hes: Recebestes, porventura, o
Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe
responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos
que existe o Espírito Santo”. Aqui vemos a deficiência
no resultado do ministério de Apolo, que carecia de
revelação plena da economia neotestamentária de
Deus. Embora Apolo fosse muito bom, havia uma
deficiência no resultado do seu ministério e isso
gerou um problema. Assim, quando Paulo chegou a
Éfeso, foi necessário suprir a deficiência do
ministério de Apolo,
Precisamos aprender com a situação em 19:1-7:
podemos não ser completos em nosso ministério, e
essa falta pode gerar uma deficiência que precisará
ser suprida por outros. Contudo, antes que essa
deficiência seja suprida, talvez haja problemas em
função de nosso ministério imperfeito. Como esse
pode ser o caso em nosso ministério, precisamos
humilhar-nos e orar para não se dar nenhuma base
para o inimigo entrar e danificar a vida da igreja.

A Última Menção de João Batista


Em 19:3-7 vemos que a deficiência foi suprida
por meio de Paulo. No versículo 3 ele perguntou aos
discípulos em Éfeso: “Em que, pois, fostes batizados?
Responderam: No batismo de João”. Essa é a última
menção de João Batista no Novo Testamento. “Aqui,
finalmente, ele dá lugar inteiramente a Cristo”
(Bengel). Havia nos discípulos de João a idéia de
rivalidade entre João e Cristo (10 3:26). O ministério
de João visava introduzir Cristo (At 19:4). Uma vez
que Cristo fora introduzido, o ministério de João
deveria ter cessado e sido substituído por Cristo. João
deveria ter diminuído, e Cristo crescido (10 3:30).
Em Atos 19:4 Paulo disse aos efésios: “João
realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo
que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em
Jesus”. A expressão grega traduzida por naquele
literalmente significa para dentro daquele.

Batizados em o Nome do Senhor Jesus


Quando os discípulo. s ouviram as palavras de
Paulo: “Foram batizados em o nome do Senhor
Jesus” (v. 5). Ser batizado em o nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo (Mt 28:19), ou em o nome do
Senhor Jesus (At 8:16; Rm 6:3; Gl 3:27), é ser
batizado em uma união espiritual com o Cristo
todo-inclusivo, que é a corporificação do Deus
Triúno. O nome denota a pessoa. Ser batizado em o
nome do Senhor Jesus é ser batizado na Sua Pessoa,
ser identificado com o Cristo crucificado, ressurreto e
ascendido, ser posto em união orgânica com o Senhor
vivo.

Foram Identificados com o Corpo e


Receberam o Espírito Santo Exteriormente
Em Atos 19:6-7 lemos: “E, impondo-lhes Paulo
as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto
falavam em línguas como profetizavam. Eram, ao
todo, uns doze homens”. Por meio da imposição de
mãos, Paulo os identificou com o Corpo de Cristo. O
Espírito Santo honrou isso e veio sobre eles, o que
representa a sua identificação com o Corpo. O caso
desses doze discípulos em Éfeso, como os casos dos
crentes samaritanos e de Saulo de Tarso foram
extraordinários, pois foi necessário que um membro
do Corpo de Cristo os identificasse com o Corpo por
meio da imposição de mãos.
Conforme 19:6, o Espírito Santo veio sobre esses
discípulos em Éfeso. O termo sobre aqui é
economicamente diferente do essencial em em João
14:17. Em está relacionado à essência intrínseca para
vida, sobre está relacionado ao elemento exterior
para poder. Aqui os crentes efésios receberam o
Espírito Santo exteriormente.
Quando o Espírito Santo veio sobre eles “tanto
falavam em línguas como profetizavam” (v. 6). Isso
indica que falar em línguas não foi o único resultado
de receber o Espírito Santo economicamente, pois
profetizar também foi um dos resultados nesse caso,
assim como engrandecer a Deus no caso dos da casa
de Cornélio (10:44-46). Portanto, falar em línguas
não é a única evidência de se receber o Espírito
economicamente, nem é uma evidência necessária,
pois há pelo menos um caso em que se recebeu o
Espírito Santo economicamente que não menciona o
falar em línguas: o caso dos crentes samaritanos
(8:15-17).

O MINISTÉRIO E OS SEUS FRUTOS


Em 19:8-20 temos um registro do ministério de
Paulo em Éfeso e seus frutos. De acordo com o livro
de Atos, essa foi a cidade em que ele mais trabalhou.

Dissertar e Persuadir com respeito ao Reino


de Deus
Em Atos 19:8 lemos: “Durante três meses, Paulo
freqüentou a sinagoga, onde falava ousadamente,
dissertando e persuadindo com respeito ao reino de
Deus”. Como de hábito, o objetivo dele em ir à
sinagoga era tirar proveito da reunião para anunciar a
Palavra de Deus, usar a oportunidade para pregar o
evangelho. Por três meses ele falou ousadamente na
sinagoga com respeito ao reino de Deus. Foi pela
soberania do Senhor que se criou um ambiente tal na
sinagoga que ele pôde ministrar por três meses. Por
certo, o seu ministério não era apenas pregar, mas
também ensinar. Na maioria, os ouvintes eram
judeus, mas alguns gregos também deviam estar
presentes. Alguns que eram da sinagoga, por fim se
tomaram membros da igreja em Éfeso.
No versículo 8 é-nos dito especificamente que
Paulo dissertava e persuadia os que estavam na
sinagoga com respeito ao reino de Deus. O reino de
Deus era o assunto principal da pregação dos
apóstolos em sua comissão depois do Pentecostes
(1:3; 8:12; 14:22; 20:25; 28:23, 31). O reino de Deus
não é um reino material visível aos olhos humanos;
antes, é o reino da vida divina. É a expansão de Cristo
como vida para os crentes, para formar uma esfera na
qual Deus governa em Sua vida.

Discorria na Escola de Tirano


Atos 19:9 diz: “Visto que alguns deles se
mostravam empedernidos e descrentes, falando mal
do Caminho diante da multidão, Paulo, apartando-se
deles, separou os discípulos, passando a discorrer
diariamente na escola de Tirano”. a nome latino
Tirano vem do grego. Deve ter sido um professor e
Paulo deve ter alugado e usado a sua escola como
local de reuniões (separadamente da sinagoga dos
judeus que se lhe opunham), para pregar e ensinar a
palavra do Senhor tanto a judeus como a gregos por
dois anos (v. 10).
Quando os judeus dissidentes começaram a falar
mal do caminho do Senhor, Paulo tirou todos os
crentes da sinagoga e passou a se reunir na escola de
Tirano por dois anos, “dando ensejo a que todos os
habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor,
tanto judeus como gregos” (v. 10). Aqui temos outro
modelo para seguir hoje. No início do seu ministério,
especialmente na primeira viagem ministerial, Paulo
não ficava muito tempo num lugar específico. Mas,
agora, na terceira viagem, ele permaneceu muito mais
tempo em Éfeso. Primeiro dissertou na sinagoga por
três meses. Depois discorreu na escola de Tirano por
dois anos. Atos 20:31 indica que ele esteve em Éfeso
por três anos. Talvez essa tenha sido a razão de ter
escrito a Epístola aos Efésios e dirigi-la a essa igreja.
A igreja em Éfeso foi a igreja que recebeu de Paulo a
educação espiritual mais elevada, uma vez que ele
permaneceu lá por mais tempo do que em qualquer
outro lugar. Nos seus três anos em Éfeso, ele pôde
realizar muito em seu ministério espiritual.
Precisamos aprender, com a estada de Paulo em
Éfeso por três anos, que às vezes também é necessário
permanecer em um lugar estratégico por causa do
interesse do Senhor. Éfeso era uma cidade estratégica
na Ásia Menor. Por isso ele permaneceu ali por longo
tempo, para estabelecer um forte testemunho para o
Senhor.
a Senhor honrou a estada de Paulo em Éfeso e o
usou grandemente. a seu ministério era prevalecente,
e muitos milagres foram feitos (vs. 11-17).
Espontaneamente Clarificaram a Vida
Passada
Atos 19:18 diz: “Muitos dos que creram vieram
confessando e denunciando publicamente as suas
próprias obras”. Aqui confessar e denunciar denota a
mais cabal e aberta confissão. a termo grego
traduzido como obras também possui significado
técnico de encantamentos mágicos, e esse pode ser o
sentido aqui.
De acordo com 19:19, espontaneamente, “muitos
dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os
seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados
os seus preços, achou-se que montavam a cinqüenta
mil denários”. a objetivo disso era clarificar a vida
passada, que era pecaminosa e demoníaca. a preço
dos livros queimados era de cinqüenta mil denários.
Como cada denário equivalia aproximadamente ao
salário de um dia, podemos ver que esses livros
valiam bastante dinheiro. Contudo, foram
publicamente queimados.
Em Atos 19:20 temos a conclusão: “Assim, a
palavra do Senhor crescia e prevalecia
poderosamente”. Esse versículo também pode ser
traduzido: “Assim, pelo poder do Senhor, a palavra
crescia e prevalecia”.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E UM
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (17)

Leitura Bíblica: At 19:21-22

PROPÔS EM SEU ESPÍRITO IR A


JERUSALÉM E A ROMA
Em 19:21 e 22 Paulo propôs ir a Jerusalém e a
Roma.
“Cumpridas estas coisas, Paulo resolveu, no seu
espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e
Acaia, considerando: Depois de haver estado ali,
importa-me ver também Roma. Tendo enviado à
Macedônia dois daqueles que lhe ministravam,
Timóteo e Erasto, permaneceu algum tempo na Ásia”.
Erasto era tesoureiro da cidade de Corinto (Rm 16:23;
cf. 2Tm 4:20), alguém de alta posição social. Ele deve
ter se convertido por meio da pregação de Paulo ali
(cf. At 18:8) e se tornou seu cooperador.
Conforme 19:22, depois que enviou Timóteo e
Erasto à Macedônia, Paulo permaneceu na Ásia um
tempo. Foi nessa ocasião, em Éfeso, que o apóstolo
escreveu a primeira Epístola à igreja em Corinto (1Co
16:3-10, 19; 4:17; cf. At 19:20-23, 8-10, 17; 20:1).
O propósito de Paulo em 19:21 era levar a cabo a
sua preocupação amorosa com a necessidade dos
santos pobres de Jerusalém. Nessa época, ele estava
em Éfeso na terceira viagem ministerial, ocupado
com o pesado encargo de levar a cabo o seu ministério
na Ásia (1Co 16:8-9), Macedônia e Acaia (1Co 16:5-7;
At 20:1-3). Não obstante, ainda tinha encargo de
separar parte do tempo para os santos necessitados
de Jerusalém. Quando chegou a Corinto, escreveu a
Epístola aos santos de Roma, expressando o
propósito da sua viagem e rogando-lhes que orassem
por ele sobre esse propósito (Rm 15:25-31). Embora
fosse um apóstolo separado por Deus para os gentios
(At 22:21; Gl 2:8), ele ainda se preocupava com o
interesse do Senhor entre os judeus. A sua
preocupação primária era com o Corpo de Cristo
universalmente, e não só com a sua parte do
ministério neotestamentário entre os gentios.
Além disso, o propósito de ir a Jerusalém a essa
altura pode também ter sido ter comunhão com Tiago
e os demais apóstolos e presbíteros em Jerusalém
sobre a influência judaica na igreja ali. De acordo com
os ensinamentos de Paulo na Epístola aos Gálatas e
aos Romanos, a decisão tomada na conferência dos
apóstolos e presbíteros no capítulo 15, para resolver o
problema com relação à circuncisão, não foi
plenamente satisfatória para ele. Isso sem dúvida o
deixou incomodado por causa da sua preocupação
com a economia neotestamentária de Deus, que é
edificar o Corpo de Cristo. As palavras de Tiago em
21:20-22, após Paulo ter chegado a Jerusalém
(21:17-18), e a proposta de Paulo participar do voto do
nazireado de quatro crentes judeus (21:23-24)
parecem confirmar isso.
Em 19:21 vemos que foi em seu espírito que
Paulo quis ir a Jerusalém. Visto que o Senhor Espírito
habitava no seu espírito (2Tm 4:22; Rm 8:10-11),
Paulo deve ter feito esse propósito segundo a direção
do Senhor Espírito. a espírito humano de Paulo (Zc
12:1; Jó 32:8; Pv 20:27) foi regenerado pelo Espírito
de Deus (10 3:6) e era habitado pelo Senhor Espírito.
a seu espírito testificava com o Espírito (Rm 8:16), e
nele ele adorava a Deus e a servia (Jo 4:24; Rm 1:9).
O propósito de Paulo de ir a Jerusalém e o desejo
de ver Roma foram cumpridos. Ele de fato foi a
Jerusalém (21:17) e também viu Roma (28:14, 16).
Isso foi cumprido pelo Senhor quando o levou a
Roma para apelar a César (23:11; 25:11).

UM MOMENTO CRUCIAL PARA PAULO


O momento em Atos 19:21 foi um período tanto
difícil como excelente para Paulo. Difícil, porque os
judeus se lhe opunham e queriam até mesmo
matá-lo. Excelente porque as portas se tinham aberto
para ele ganhar muitos para o Senhor. Com respeito a
esse período ele diz: “Ficarei, porém, em Éfeso até ao
Pentecostes; porque uma porta grande e oportuna
para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários”
(1Co 16:8-9). Essas palavras dirigidas à igreja em
Corinto foram escritas em Éfeso, onde ele ficou por
três anos na terceira viagem ministerial. Por isso, a
ocasião em 19:21 era crucial; era um tempo tanto de
oposição como de grande oportunidade para levar a
cabo uma obra frutuosa para o Senhor.
O fato de Paulo resolver em seu espírito ir a
Jerusalém indica que ele era absolutamente pelo
Corpo de Cristo. Por ser pelo Corpo, ele estava muito
preocupado. Com isso vemos que ele certamente era
um vaso qualificado para levar o testemunho da
economia neotestamentária de Deus. Ele sustentou
esse testemunho de forma atualizada.

O ENCARGO DE PAULO POR JERUSALÉM


Numa época em que Paulo estava numa situação
muito difícil e também tinha excelente oportunidade
de levar a cabo a economia neotestamentária de
Deus, ele resolveu em seu espírito ir a Jerusalém.
Embora estivesse muito ocupado com a obra em
Éfeso, o seu espírito tinha encargo por Jerusalém. Se
lermos Romanos 15:25-31, veremos que ele tinha
encargo de levar auxílio financeiro das igrejas da
Macedônia e Acaia para os santos pobres da Judéia.
Ele também se refere a isso em 2 Coríntios 8, onde
indica que dar coisas materiais é totalmente uma
questão de graça. Assim, o objetivo dele ao ir a
Jerusalém aparentemente era ministrar aos santos
necessitados. Na verdade, ele tinha uma razão mais
profunda para ter esse propósito em seu espírito.
Creio que desde Atos 15 Paulo não tinha paz com
respeito à situação em Jerusalém. Se estudarmos o
livro de Atos e todas as Epístolas de Paulo, teremos
uma visão clara do mover do Senhor na terra em Sua
economia neotestamentária. Tal mover iniciou-se em
Jerusalém e, por fim, alcançou Antioquia. O “fluir”
desse mover foi de Jerusalém para Antioquia, e de lá
voltou-se para o mundo gentio. Porém a origem, a
fonte, dele em Jerusalém fora “envenenada”. Como a
fonte foi envenenada, o veneno seria levado pelo fluir
aonde quer que ele fosse. Essa foi a razão de Paulo
não ter paz com a situação de Jerusalém.
É provável que Paulo tivesse encargo de ajudar
Pedro e Tiago a melhorar ou ajustar a situação da
igreja em Jerusalém. A situação ali era uma mistura:
da economia neotestamentária de Deus com os itens
da dispensação do Antigo Testamento. Como vimos,
essa mistura é evidente na comunhão de Tiago em
15:13-21. Como veremos, a mistura da economia
neotestamentária de Deus com a velha dispensação é
muito óbvia em Atos 21. Essa mistura ofendia muito
ao Senhor. Vendo que o problema persistia em
Jerusalém, Paulo não tinha paz com respeito à igreja
ali.
Vimos que no fim da sua segunda viagem
ministerial, Paulo foi a Jerusalém e saudou a igreja ali
(18:22). Ele foi até lá porque sempre se empenhava
em manter a unidade do Corpo e um sentimento
agradável entre ele e os santos em Jerusalém. Com
isso vemos que sempre que havia oportunidade, ele ia
a Jerusalém visitar a igreja para manter um
relacionamento agradável entre ele e a igreja, e
também buscar ajudar na situação ali existente. Por
estar preocupado com Jerusalém, ele teve o propósito
em seu espírito, a despeito da situação difícil e
promissora em que estava, de ir a Jerusalém.

UM CORAÇÃO ALARGADO PELO


INTERESSE DO SENHOR
Atos 19:21 indica que Paulo possuía um coração
alargado pelo interesse do Senhor. Enquanto era
atacado em Éfeso e levava a cabo o seu ministério, ele
ainda resolveu em seu espírito ir a Jerusalém, e de lá
ele estava ansioso para ir a Roma. A esse respeito ele
disse: “Importa-me ver também Roma”. Se você olhar
o mapa verá que Éfeso, na Ásia Menor, estava no
meio do caminho entre Jerusalém, a leste, e Roma ~
oeste. Enquanto trabalhava e enfrentava os ataques
em Éfeso, ele tinha desejo de cuidar da situação em
Jerusalém e também de ver Roma. Que coração
alargado ele tinha!
Poucos de nós têm tal coração alargado. Antes,
freqüentemente os que trabalham em certo lugar
dirão: “Estou muito ocupado aqui. Não tenho desejo
de cuidar de nenhum outro lugar. Ademais, estou
enfrentando muita oposição. Como posso ter encargo
por outros lugares?”
A atitude de Paulo foi totalmente diferente. No
meio de sua situação, ele ainda conseguia propor em
seu espírito ir a Jerusalém, e depois expressar o
desejo de ver Roma. Conforme já comentamos, ele
por fim foi a Roma e, de forma maravilhosa e
soberana, realmente a viu.
Conforme Gálatas 2:8, a parte que coube a Paulo
do ministério do Novo Testamento era entre os
gentios. Embora o seu encargo fosse pelo ministério
entre os gentios, ele ainda estava preocupado com o
interesse universal do Senhor. A sua preocupação
primária era com todo o Corpo de Cristo, não apenas
com a parte que lhe cabia do ministério do Novo
Testamento. Ele percebeu que seria muito difícil o
Corpo de Cristo ser edificado plenamente enquanto
se deixasse permanecer a mistura religiosa em
Jerusalém. Por ter visão clara com respeito ao mover
neotestamentário do Senhor, ele se preocupava com a
situação reinante em Jerusalém, especialmente por
ser relacionada à economia neotestamentária de Deus
de edificar o Corpo de Cristo.

A ECONOMIA DE DEUS E O MOVER ATUAL


DO SENHOR
Na quarta mensagem deste Estudo-Vida de Atos
mostramos que havia a necessidade de uma
transferência dispensacional, isto é, uma
transferência da velha dispensação para a economia
neotestamentária de Deus. Ao estudar Atos é
importante ver todas as questões cruciais
relacionadas a essa transferência. Se tivermos clareza
com respeito a essas questões, então entenderemos a
situação hoje, e veremos onde devemos estar e o que
devemos fazer. Não devemos permanecer onde Apolo
estava no capítulo dezoito, mas avançar e seguir o
apóstolo Paulo, aquele cujos olhos foram abertos para
ver plenamente a economia neotestamentária de
Deus. Assim, ao estudar esse livro não tenho interesse
em outras questões. O meu encargo está na economia
neotestamentária de Deus. Se, pela misericórdia do
Senhor, formos ajudados a ver os itens cruciais com
respeito à mudança de rumo da dispensação de Deus,
estarei satisfeito. Meu desejo é que a luz acerca da
economia neotestamentária de Deus penetre em
nosso ser. Se isso acontecer, teremos uma visão do
mover atual do Senhor em Sua economia.
Creio que este estudo de Atos será útil para nós
na restauração do Senhor. Precisamos ver que não
estamos executando uma obra cristã comum. Antes,
estamos aqui no mover atual da economia
neotestamentária de Deus. Por isso, precisamos ter a
visão dessa economia. Se a tivermos, seremos
dirigidos e levados adiante por ela no caminho
correto. Se tivermos tal visão, não seremos distraídos
pela situação de hoje, a despeito de qual seja. Se a
tivermos, saberemos onde estamos e aonde estamos
indo. Com visão clara com respeito à economia divina
nesta era, saberemos qual é a nossa meta. Cremos que
Deus continua a se mover, continua a avançar.
Portanto, precisamos estar em Seu mover atual.
Podemos comparar a visão da economia de Deus
mostrada em Atos com um quebra-cabeças: quando
as peças se juntam, temos uma cena completa.
Semelhantemente, ao longo do livro de Atos temos
várias “peças” de um “quebra-cabeças” completo.
Quando as ajuntamos adequadamente, temos uma
visão clara e completa da economia divina. Quando
chegarmos ao final deste Estudo-Vida teremos todas
as peças necessárias, iremos encaixá-las todas
adequadamente e veremos o “cenário” completo da
economia neotestamentária de Deus. Tenho especial
encargo de que os jovens tenham a visão dessa
economia apresentada neste livro.
Para que o Senhor Jesus volte, a Sua noiva
precisa estar preparada. Considere a situação atual
em relação à prontidão da noiva. De fato, ela ainda
não está pronta. A única maneira pela qual ela pode
preparar-se é a economia neotestamentária de Deus.
Digo isso para que todos saibamos o que o Senhor
está fazendo em Sua restauração. Se o soubermos,
saberemos onde estamos e qual deve ser o nosso alvo.
Que todos sejamos ajudados por meio deste estudo de
Atos a estar totalmente atualizados no mover do
Senhor para levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus.
ESTUDO-VIDA DE A TOS
MENSAGEM CINQÜENTA E DOIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (18)

Leitura Bíblica: At 19:23-20:12


Nesta mensagem consideraremos 19:23-20:12.
Em 19:23-41 temos um registro do grande alvoroço
em Éfeso. Em 20:1-12 temos uma descrição da
viagem de Paulo através da Macedônia e da Grécia até
Trôade.

UM GRANDE ALVOROÇO EM ÉFESO


Em Atos 19:23 lemos: “Por esse tempo, houve
grande alvoroço acerca do Caminho”. Como já
dissemos, em Atos, “o Caminho” se refere à plena
salvação do Senhor na economia neotestamentária de
Deus.

A Luta de Satanás contra a Expansão do


Reino de Deus
Nos versículos 24 a 26 lemos: “Pois um ourives,
chamado Demétrio, que fazia, de prata, nichos de
Diana e que dava muito lucro aos artífices,
convocando-os juntamente com outros da mesma
profissão, disse-lhes: Senhores, sabeis que deste
ofício vem a nossa prosperidade e estais vendo e
ouvindo que não só em Éfeso, mas em quase toda a
Ásia, este Paulo tem persuadido e desencaminhado
muita gente, afirmando não serem deuses os que' são
feitos por mãos humanas”. O Demétrio do versículo
24 não é o mesmo mencionado em 3 João 12. Esse era
ourives e fazia nichos de prata de Ártemis, a deusa
dos efésios. Em latim, essa era Diana, a deusa
romana. Esse era um comércio sujo e demoníaco. Os
que praticavam tal comércio cooperavam com os
demônios para possuir e usurpar as pessoas para o
reino maligno de Satanás (Mt 12:26). Por detrás da
adoração aos ídolos havia os demônios, que
instigaram o tumulto contra o apóstolo para
perturbar e tentar impedir a pregação do evangelho.
Era Satanás lutando com a difusão do reino de Deus
na terra.
A pregação de Paulo em Éfeso foi prevalecente e
fez com que as pessoas falassem sobre os ídolos na
cidade. Os artífices estavam preocupados pois o seu
ofício poderia cair em descrédito (v. 27). Como
resultado, houve grande alvoroço. Os que Demétrio
havia reunido encheram-se de furor e “clamavam:
Grande é a Diana dos efésios! Foi a cidade tomada de
confusão, e todos, à uma, arremeteram para o teatro,
arrebatando os macedônios Gaio e Aristarco,
companheiros de Paulo” (vs. 28-29). O Gaio
mencionado no versículo 29 não é o Gaio de Derbe,
em 20:4, nem o de Corinto, em 1 Coríntios 1:14 e
Romanos 16:23, nem o Gaio a quem João se dirigiu
em 3 João 1. Esse nome era muito comum naquele
tempo.

Um Ministério Prevalecente Causa Problemas


Em Atos 19:23-41 vemos um princípio
importante: se permanecermos em um lugar por mais
tempo, devemos ter um ministério prevalecente, um
ministério capaz de perturbar os outros. Em certo
sentido, quando esteve em Éfeso, Paulo causava
problemas. Antes de ele chegar, a cidade estava “em
paz” adorando o ídolo de Ártemis. Mas a presença de
Paulo ali causou grande alvoroço. Ele não atacou
Ártemis nominalmente, e, sim, desenvolveu um
ministério prevalecente, que alvoroçou toda a cidade,
afetando a sociedade. Isso indica que se
permanecermos numa cidade, o nosso ministério
deve ser tão prevalecente que alvoroce a situação ali,
da maneira correta.
Em 19:23-41 temos outro modelo: de causar
problemas por meio de um ministério prevalecente.
Se seguirmos esse modelo, causaremos problemas
por meio da pregação prevalecente do evangelho.
Antes de chegarmos a certo lugar, as pessoas podem
estar vivendo pacificamente e adorando ídolos. Mas,
após ficarmos ali certo tempo, a cidade poderá estar
em tumulto, devido ao nosso ministério prevalecente.
Algumas questões relativas ao alvoroço em Éfeso
são quase humorísticas. É-nos dito que “Uns, pois,
gritavam de uma forma; outros, de outra; porque a
assembléia caíra em confusão. E, na sua maior parte,
nem sabiam por que motivo estavam reunidos” (v.
32). Ademais, “tiraram Alexandre dentre a multidão,
impelindo-o os judeus para a frente. Este, acenando
com a mão, queria falar ao povo. Quando, porém,
reconheceram que ele era judeu, todos, a uma voz,
gritaram por espaço de quase duas horas: Grande é a
Diana dos efésios!” (vs. 33-34). Provavelmente
Alexandre não se convertera com a pregação de
Paulo. Esse Alexandre não é o mesmo de 1 Timóteo
1:20 e 2 Timóteo 4:14. Com respeito ao alvoroço, o
escrivão da cidade disse: “Porque também corremos
perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição,
não havendo motivo algum que possamos alegar para
justificar este ajuntamento” (v. 40). Com isso vemos
como foi grande o tumulto causado pelo ministério
prevalecente de Paulo.
Quando alguns lêem o relato do alvoroço em
Éfeso, talvez digam: “Quando vou para um lugar
trabalhar para o Senhor, não quero ver esse tipo de
alvoroço”. Contudo, se a sua obra for realmente
prevalecente, por fim irá tocar o centro do poder das
trevas. Em Éfeso o centro do poder das trevas era o
templo da deusa Ártemis. Quanto mais os efésios
criam no Senhor, menos influência esse templo tinha.
Aparentemente, o alvoroço foi causado por alguns
artífices; na verdade, foi instigado pelos demônios
que estavam por detrás da cena.
Nosso ministério é propagar o Cristo ressurreto
como o reino de Deus. Mas, hoje, cada cidade é o
reino do diabo. Portanto, o ministério prevalecente
para a propagação de Cristo é uma luta, uma batalha,
pelo reino de Deus. A terra toda é o reino das trevas.
Se formos bastante amáveis e gentis ao executar a
obra, procurando agradar a todos, não será levantada
nenhuma oposição, a despeito de quanto tempo
fiquemos em certo lugar. Se o nosso ministério for de
fato prevalecente, certamente haverá oposição.
Mas não devemos fazer nada em nós mesmos
para causar problemas, pensando que isso seja prova
de que o nosso ministério é poderoso e prevalecente.
Agir desse modo é terrível, pois será usado pelo poder
das trevas, e, assim, em vez de ser parte da
propagação de Cristo, seremos, na prática, parte do
reino das trevas.
Todos precisamos ver que hoje há uma batalha
entre Deus e Satanás. Assim, precisamos estar
seguros de que o que estamos fazendo está
absolutamente do lado do reino de Deus, e nada disso
está envolvido com o reino das trevas.
Por causa dessa batalha entre Deus e Satanás,
devemos estar preparados para o ataque do inimigo.
Se desenvolvermos um ministério prevalecente, por
fim, seremos atacados. Os “dardos” demoníacos terão
a nós como alvo. Mas, em vez de ficar desanimados
com isso, nós, assim como Paulo, devemos ficar
encorajados.
Paulo era forte em enfrentar os ataques. Ele não
fugiu do alvoroço demoníaco em Éfeso. Na verdade,
ele queria ir até a multidão, mas os discípulos não
deixaram (v. 30). “Também asiarcas, que eram
amigos de Paulo, mandaram rogar-lhe que não se
arriscasse indo ao teatro” (v. 31). Esses asiarcas eram
pessoas importantes da província da Ásia. Aqui
vemos que até mesmo os amigos de Paulo do círculo
político estavam preocupados com a sua segurança.
Se ele tivesse ido ao teatro, os judeus que se lhe
opunham, provavelmente, teriam aproveitado a
oportunidade para matá-lo.
Atos 19:35-41 descreve como a multidão foi
acalmada.
Depois que falou à multidão, o escrivão da cidade
dissolveu a assembléia (v. 41). Isso foi a soberania do
Senhor, preservando o Seu apóstolo do tumulto
demoníaco.

A Soberania do Senhor Preserva Paulo


Em seu ministério Paulo estava constantemente
lutando com o poder das trevas. Conforme já
enfatizamos, o poder das trevas estava por trás da
adoração aos ídolos em Éfeso. Humanamente
falando, não havia razão para que as pessoas em
Éfeso agissem tão tolamente, gritando sem saber o
que faziam. O seu comportamento foi provocado por
demônios. Os demônios, que estavam nos idólatras,
os instigaram a fazer algo contra o ministério
propagador de Deus. Foi por meio da soberania do
Senhor que esse alvoroço aconteceu no fim da estada
de três anos de Paulo em Éfeso. Como lemos em 20:1:
“Cessado o tumulto, Paulo mandou chamar os
discípulos, e, tendo-os confortado, despediu-se, e
partiu para a Macedônia”.

PARA TRÔADE, ATRAVÉS DA MACEDÔNIA E


GRÉCIA
Em 20:1-3 podemos ver com mais clareza a
situação em que Paulo estava. O versículo 1 diz que
ele se despediu dos discípulos e partiu para a
Macedônia. Foi ali que ele escreveu a sua segunda
epístola à igreja em Corinto (2Co 2:13; 7:5-6; 8:1; 9:2,
4). A primeira (1Co 16:3-10, 19) foi escrita em Éfeso
no tempo de Atos 19:22. Também vimos que na época
de 18:5 ele escreveu a sua primeira Epístola aos
Tessalonicenses. É provável que a sua segunda
Epístola aos Tessalonicenses tenha sido escrita não
muito depois da primeira. Ademais, nessa época, ele
talvez tenha escrito a Epístola aos Gálatas.
De acordo com Atos 20:2-3, depois de passar
pela Macedônia, ele veio à Grécia e ali permaneceu
por três meses. Nesse tempo, em Corinto, o apóstolo
escreveu a Epístola aos santos em Roma (Rm
15:22-32; cf. At 19:21; 1Co 16:3-7).

Um Encargo Quádruplo
Ao ler Atos 18 a 20 vemos que Paulo tinha, no
mínimo, um encargo quádruplo: pela igreja em
Corinto, pela igreja em Éfeso e um ainda mais forte
pela situação em Jerusalém, e também pela igreja em
Roma. Numa mensagem anterior enfatizamos que o
coração dele estava posto em Jerusalém. Ele propôs
em seu espírito ir a Jerusalém e então ver Roma.
Devido ao seu encargo, ele escreveu as duas Epístolas
aos Coríntios e a Epístola aos Romanos. Embora
tivesse um pesado encargo pela obra na região do
Mediterrâneo, ele também tinha bastante encargo
pela situação da igreja em Jerusalém.
Em Atos 20:3 lemos: “Onde se demorou três
meses. Tendo havido uma conspiração por parte dos
judeus contra ele, quando estava para embarcar rumo
à Síria, determinou voltar pela Macedônia”. Paulo
tencionava originalmente ir da Acaia na Grécia para
Jerusalém passando pela Síria (19:21; 1Co 16:3-7).
Por causa da conspiração dos judeus contra ele,
mudou a rota, indo em direção ao norte para a
Macedônia. Dali, retomou a Jerusalém. Ele sabia que
os judeus conspiravam contra ele e que sofreria por
causa disso (At 20:19). Portanto, rogou aos santos em
Roma que orassem por ele acerca da sua volta para
Jerusalém (Rm 15:25-26, 30-31). Essa também deve
ter sido a razão de estar constrangido no espírito para
ir a Jerusalém (At 20:22). Por fim, após voltar para lá,
foi preso pelos judeus (21:27-30), que procuravam
matá-lo (21:31; 23:12-15).
Paulo foi muito cauteloso com respeito aos
judeus que planejavam matá-lo, Quando ficou
sabendo da trama, ele sabiamente mudou de rota.
Com isso podemos ver a difícil situação em que se
encontrava. Embora estivesse nessa situação, ele
ainda tinha encargo de cuidar dos interesses do
Senhor universalmente, não apenas em Corinto e na
Macedônia, mas também em Jerusalém e em Roma.
É muito importante que vejamos o seu encargo
quádruplo por Corinto, Éfeso, Jerusalém e Roma.

Partiu o Pão em Trôade


Conforme 20:5-6, Paulo e seus companheiros
chegaram a Trôade, onde ficaram por sete dias. “No
primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o
fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no
dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à
meia-noite” (v. 7). O primeiro dia da semana era o
domingo, ou o dia do Senhor (Ap 1:10). Ele ficou em
Trôade por sete dias, mas foi somente no primeiro dia
da semana que se ajuntaram para partir o pão em
memória do Senhor. Isso indica que naquela época, o
apóstolo e a igreja consideravam o primeiro dia da
semana um dia para reunir-se para o Senhor.
O Novo Testamento não diz explicitamente que
havia uma igreja em Trôade. Mas, lendo esse curto
trecho da Palavra, podemos facilmente deduzir que
havia uma boa igreja ali. Embora estivesse muito
ocupado, Paulo permaneceu com os santos em
Trôade por sete dias, e, no dia do Senhor, aproveitou
a oportunidade para ministrar-lhes até tarde da noite.
Com isso vemos que ele realmente tinha encargo pelo
Corpo do Senhor.
Enquanto se reunia com os santos em Trôade no
dia do Senhor, Paulo prolongou a mensagem até a
meia-noite. Então, depois da situação envolvendo o
jovem que caiu da janela, partiram o pão (vs. 8-lla).
Depois disso, ele “ainda lhes falou largamente até ao
romper da alva. E, assim, partiu” (v. 11 b). Isso indica
que ele estava cheio de encargo pela economia
neotestamentária de Deus.

A Preocupação de Paulo com a Situação de


Jerusalém
Precisamos ver o quadro do apóstolo Paulo
apresentado nesses capítulos de Atos e também em
Epístolas como Gálatas, Romanos e 1 e 2 Coríntios.
Ao estudar esses trechos do Novo Testamento,
podemos ver que em Paulo o Senhor havia obtido um
vaso excelente. Ele era alguém que tinha a economia
neotestamentária de Deus plenamente constituída
nele. Por isso ele tinha encargo pela igreja em
Jerusalém.
Na verdade, a igreja em Jerusalém e as igrejas na
Judéia não haviam sido designadas a Paulo, para que
tivesse encargo por elas. Em Gálatas 2:8 ele diz
claramente que o Senhor designou Pedro apóstolo da
circuncisão, incluindo as igrejas na terra judaica, e
Paulo apóstolo para a incircuncisão, isto é, para os
gentios. Assim, parece que teria sido suficiente se ele
tivesse o encargo pelas igrejas gentias, desde
Antioquia até a Ásia, e da Macedônia até Roma.
Aparentemente não havia necessidade de ter encargo
por Jerusalém. Contudo, ele tinha visto a situação lá.
Como alguém que viu a situação e que era fiel, ele não
conseguia ficar em paz com respeito a Jerusalém. Ele
se preocupava com que o “veneno” da origem, da
fonte, em Jerusalém, contaminasse todo o Corpo de
Cristo.
Mesmo nos tempos antigos, havia muito trânsito
na área do Mediterrâneo. O governo romano tinha
construído muitas estradas. Em especial, havia muito
trânsito para Jerusalém de muitas cidades,
especialmente por ocasião das festas. Devido a esse
trânsito, a mistura religiosa em Jerusalém poderia
facilmente se espalhar para o mundo gentio.
Como vimos, Pedro e Tiago deveriam ter
resolvido o problema em Jerusalém. Contudo, eram
um tanto fracos e temerosos, e não cuidaram da
questão. Como resultado, por fim, Paulo teve encargo
de cuidar da situação ali.
No capítulo quinze de Atos, Paulo e Barnabé
subiram a Jerusalém propositadamente para lidar
com o problema envolvendo a circuncisão. O
problema foi resolvido, mas a solução não foi
absoluta. Devido à solução transigente, o problema
não foi desarraigado, antes, a raiz foi deixada. Assim,
Paulo não teve paz com respeito à situação de
Jerusalém.
Tiago era de fazer concessões e Pedro era fraco.
Devido a isso, uma situação lamentável persistia em
Jerusalém. Por isso, Paulo, um servo fiel do Senhor,
tinha encargo e muita preocupação. Ele não teve paz
para prosseguir em seu ministério no mundo gentio
porque o veneno da fonte em Jerusalém estava
fluindo em direção à Ásia, Europa e até mesmo
Roma. Essa foi a razão de ele não ter paz, segurança
nem conforto para prosseguir levando a cabo a
economia neotestamentária de Deus no mundo
gentio. O seu coração era por Jerusalém e ele propôs
em seu espírito ir até lá, a fim de clarificar a fonte da
mistura.
Paulo foi a Jerusalém no capítulo quinze e
novamente no capítulo dezoito, no fim da segunda
viagem ministerial (v. 22). Depois que completou a
segunda viagem, ele chegou a Cesaréia. De acordo
com o itinerário da viagem, ele deveria ter voltado
diretamente para Antioquia, mas propositadamente
foi a Jerusalém, a fim de fazer algo gradualmente
para acabar com o veneno que estava ali. Agora, ele
propôs em seu espírito ir a Jerusalém uma vez mais.
Ao ver o quadro retratado em Atos, vemos que
enquanto Paulo laborava para cuidar do mover do
Senhor na área do Mediterrâneo, ele ainda tinha
encargo por Jerusalém, porque ali era a fonte do
veneno que se espalhava até o mundo gentio. Assim,
não tendo paz para continuar a sua obra na Europa e
Ásia, ele se empenhou, em sua fidelidade, para ir a
Jerusalém a fim de lidar com a fonte do veneno da
mistura religiosa que fluía de Jerusalém para o
mundo gentio.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E TRÊS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (19)

Leitura Bíblica: At 20:13-38


Nesta mensagem começaremos a considerar
20:13-38. Nesse trecho de Atos Paulo vai a Mileto e
ali se reúne com os presbíteros da igreja em Éfeso.
O versículo 16 diz: “Porque Paulo já havia
determinado não aportar em Éfeso, não querendo
demorar-se na Ásia, porquanto se apressava com o
intuito de passar o dia de Pentecostes em Jerusalém,
caso lhe fosse possível”. Provavelmente Paulo
quisesse estar em Jerusalém no dia de Pentecostes
para poder encontrar muitas pessoas de diferentes
países que para ali afluíam nesse dia (cf. 2:1, 5).

ANUNCIOU TODO O DESÍGNIO DE DEUS


Paulo, “de Mileto, mandou a Éfeso chamar os
presbíteros da igreja” (v. 17). “E, quando se
encontraram com ele, disse-lhes: Vós bem sabeis
como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo,
desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo
ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e
provações que, pelas ciladas dos judeus, me
sobrevieram, jamais deixando de vos anunciar coisa
alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e
também de casa em casa” (vs. 18-20). No versículo 20
ele diz que não deixou de anunciar aos santos de
Éfeso coisa alguma proveitosa, e no 27 diz que não
deixou de lhes anunciar todo o desígnio de Deus.
Esses versículos se referem aos três anos de
ensinamento em Éfeso e indicam a extensão desse
ensinamento.
De acordo com o versículo 20, ele ensinou os
santos em Éfeso tanto publicamente como de casa em
casa. Isso mostra que na época dele havia reuniões
nas casas. Ele não apenas ensinava publicamente
num local de reuniões maior, como também de casa
em casa. Isso indica que as igrejas tinham pequenas
reuniões nas casas assim como reuniões grandes em
lugares públicos.

TESTIFICOU O ARREPENDIMENTO E A FÉ
Em 20:21 Paulo continua: “Testificando tanto a
judeus como a gregos o arrependimento para com
Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”. Uma vez
mais o verbo testificar é usado. Testificar requer
experiências de ver, participar e desfrutar. É diferente
de mero ensinamento. O fato de ele ter usado esse
termo aqui indica que ele mesmo tinha
experimentado arrependimento para com Deus e fé
no Senhor Jesus. Assim, podia testificar com respeito
ao que havia experimentado. Ele não apenas pregava
e ensinava, mas testificava do que experimentara
quanto ao arrependimento e fé.

CONSTRANGIDO EM SEU ESPÍRITO, V AI A


JERUSALÉM
No versículo 22, ele prossegue: “E, agora,
constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém,
não sabendo o que ali me acontecerá”. Vimos que ele
primeiramente tencionava ir da Acaia, na Grécia,
para Jerusalém através da Síria (19:21; 1Co 16:3-7).
Devido à conspiração dos judeus contra ele, mudou a
sua rota para o norte, para a Macedônia, e dali
retomou a Jerusalém. Ele estava ciente das
conspirações dos judeus e sofria com elas (v. 19).
Provavelmente era por isso que estava constrangido
no espírito a ir a Jerusalém. O espírito no versículo
22 é o espírito regenerado de Paulo, no qual ele servia
a Deus. No seu espírito, que era unido ao Senhor
Espírito (1Co 6:17), ele sentia de antemão que algo lhe
aconteceria em Jerusalém, e o Espírito Santo
testificou-lhe isso (v. 23).
Paulo sabia que problemas o aguardavam. Ele
percebeu isso em seu espírito. Os judeus em toda
região do Mediterrâneo conspiravam para prendê-lo.
Não apenas os de Jerusalém, mas também os da Ásia,
da Macedônia e da Acaia estavam determinados a
pegá-lo. Talvez trabalhassem todos juntos e tivessem
um plano comum. Por fim, na úl! ima visita a
Jerusalém, Paulo foi preso por judeus vindos da Ásia
Menor.
Ciente da conspiração dos judeus, ele,
literalmente, não tinha para onde ir. Se fosse à Ásia
Menor, lá estavam os judeus. Se fosse à Macedônia e
Acaia, lá estavam os judeus. Se voltasse para a Judéia,
lá havia ainda mais judeus. Como, então, poderia não
ser preso? Aonde poderia ir? Precisamos entender a
situação de Paulo.
Não foi por fazer algo errado que Paulo provocou
a oposição dos judeus. Antes, a oposição deles foi
gerada por ele ser fiel à economia neotestamentária
de Deus, foi provocada pela sua obediência à visão
celestial. Havia oposição a ele aonde quer que fosse,
simplesmente porque ele era fiel à visão que recebera
do Senhor, com respeito à economia
neotestamentária de Deus.
Nem Pedro nem Tiago enfrentaram a oposição
que Paulo enfrentou. Tiago era transigente e Pedro
era um tanto fraco. Na verdade, uma vez que o
ministério de Pedro iniciou antes que o de Paulo,
deveria ter gerado a oposição dos judeus. Mas isso
não ocorreu. Sem dúvida, Pedro sofreu, mas o seu
sofrimento veio dos de fora, enquanto os de Paulo
vinha dos de dentro e dos de fora.
Se lermos Gálatas 2 cuidadosamente, veremos
que até mesmo Tiago e Pedra foram motivo de
sofrimento para Paulo. Ao escrever Gálatas ele foi
franco. Disse-lhes que tinha até mesmo repreendido
Pedro face a face. Pedra não teria necessitado dessa
repreensão se tivesse sido fiel. Se tivesse sido fiel, ele
teria participado de muitos dos sofrimentos de Paulo.
Ao dizer isso acerca de Pedro não o estou
depreciando. Era muito difícil resistir à pesada
atmosfera judaica em Jerusalém. Como veremos,
quando Paulo foi até lá pela última vez, mesmo ele foi
subjugado pela atmosfera reinante ali. Embora
tivesse escrito os livros de Gálatas e Romanos, ele
ainda concordou em juntar-se aos que tinham feito
voto e em ir ao templo para ser purificado.
A atmosfera em Jerusalém era tão pesada e forte
que ninguém conseguia resistir a ela. Tanto Pedro
como Tiago foram vencidos por ela. Pedro foi vencido
por não fazer nada a respeito da situação, e Tiago por
ser transigente com a situação. Como veremos, em
Atos 21 Tiago disse enfaticamente a Paulo que em
Jerusalém havia muitos milhares dentre os judeus
que creram e eram zelosos da lei (21:20). Isso indica
que esses crentes estavam sob forte influência
judaica, misturando a economia neotestamentária de
Deus com a dispensação do Antigo Testamento. Se
considerarmos essa questão, veremos que Paulo
estava numa situação muito difícil.

CADEIAS E TRIBULAÇÕES O AGUARDAVAM


Vamos considerar novamente 20:22 juntamente
com o 23: “E, agora, constrangido em meu espírito,
vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me
acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em
cidade, me assegura que me esperam cadeias e
tribulações”. Paulo não sabia o que encontraria em
Jerusalém, mas sabia uma coisa: o Espírito Santo
solenemente lhe testificava que cadeias e aflições o
esperavam. O testificar do Espírito Santo era somente
uma profecia, uma predição, e não uma ordem. Por
isso, ele não deve tê-lo tomado como ordem, e, sim,
como advertência. Embora não soubesse exatamente
o que lhe aguardava em Jerusalém, ele sabia, pela
advertência do Espírito Santo, que cadeias e
tribulações o aguardavam.
No versículo 24 ele continua: “Porém em nada
considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto
que complete a minha carreira e o ministério que
recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho
da graça de Deus”. O que ele disse aqui relaciona-se
com o mover neotestamentário do Senhor, de
propagar o Cristo ressurreto por meio do evangelho.
Em 20:24 o termo grego traduzido por “vida”
também significa “alma”. O que ele disse nesse
versículo implica que ele sentiu que seria martirizado.

A ABRANGÊNCIA DO ENSINAMENTO DE
PAULO
O versículo 25 continua: “Agora, eu sei que todos
vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis
mais o meu rosto”. Esse versículo indica que em Éfeso
ele proclamou o reino de Deus. Vimos que o reino de
Deus é o principal assunto da pregação dos apóstolos
em Atos (1:3; 8:12; 14:22; 19:8; 28:23, 31). Não é um
reino material visível aos olhos humanos, mas o reino
da vida divina.
Em 20:25 ele diz aos presbíteros da igreja em
Éfeso que eles não mais veriam a sua face. Isso indica
que ele percebeu de antemão que seria martirizado.
Em Atos 20:26-27 lemos: “Portanto, eu vos
protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue
de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o
desígnio de Deus”. A expressão grega traduzida por
no dia de hoje é muito enfática. As palavras de Paulo
no versículo 27, sobre jamais deixar de anunciar todo
o desígnio de Deus, indicam que ele levou a cabo uma
grande obra em Éfeso. Aqui temos uma indicação da
abrangência do ensinamento de Paulo aos queridos
irmãos ali.

O ESPÍRITO SANTO CONSTITUI


SUPERVISORES ENTRE O REBANHO
O que Paulo diz em 20:28 é muito importante:
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para
pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou
com o seu próprio sangue”. Assim como em 1 Pedro
5:2, o termo grego para rebanho literalmente
significa pequeno rebanho. Esse rebanho é pequeno
em número (Lc 12:32) comparado com o mundo. É
uma pequena erva para suprir vida, e não uma grande
árvore para as aves se aninharem (Mt 13:31-32 e
notas), isto é, uma grande religião como a
cristandade.
Em 20:28 Paulo diz aos presbíteros da igreja em
Éfeso que o Espírito Santo os havia constituído
supervisores entre o rebanho. Os apóstolos é que
designavam os presbíteros em cada igreja (14:23).
Mas aqui, Paulo, o principal, o que designava, disse
que o Espírito Santo o fizera, o que indica que quando
os apóstolos designavam presbíteros o Espírito Santo
era um com eles, e que o faziam de acordo com a
direção do Espírito.
Por meio do que Paulo disse nesses versículos,
vemos que a existência das igrejas deve-se totalmente
ao Espírito Santo, e não aos apóstolos. Embora os
apóstolos tivessem designado os presbíteros, Paulo
aqui diz que isso foi obra do Espírito Santo. Isso nos
revela que uma igreja só vem à existência por meio da
obra do Espírito Santo. Em outras palavras, a obra
dos apóstolos com respeito às igrejas deve ser
absolutamente a obra do Espírito Santo. Como é o
Espírito Santo que estabelece os presbíteros, é Ele
que estabelece as igrejas.
Os supervisores no versículo 28 são os
presbíteros no versículo 17, o que prova que
supervisor e presbítero são sinônimos, denotando a
mesma pessoa. Fazer de um supervisor um bispo
distrital para governar os presbíteros de várias
localidades nesse distrito é erro grave. Foi isso o que
ensinou Inácio. Seu ensinamento errôneo tomou-se a
base para o estabelecimento das posições e introduziu
a hierarquia.
O vocábulo grego para supervisor é episkopos,
de epí, que significa sobre, e skopós, que significa
aquele que vê; daí, supervisor (bispo, do latim
episcopus). Um supervisor (1Tm 3:2) numa igreja é
um presbítero. Os dois títulos se referem à mesma
pessoa: presbítero denota alguém com maturidade;
supervisor denota a função de presbítero. Foi Inácio
no segundo século que ensinou que supervisor, ou
bispo, é mais elevado do que presbítero. Desse
ensinamento errôneo veio a hierarquia dos bispos,
arcebispos, cardeais e papa. Esse ensinamento
também é a origem do sistema episcopal de governo
eclesiástico. Tanto a hierarquia como o sistema são
abomináveis aos olhos de Deus.

PASTOREAR O REBANHO
Em Atos 20:28 Paulo fala que os presbíteros
devem pastorear o rebanho. A principal
responsabilidade dos presbíteros como supervisores
não é governar, e, sim, pastorear, tomar conta de
todos os aspectos do rebanho, a igreja de Deus, de
modo temo e todo-inclusivo. Os presbíteros não são
colocados na igreja pelo Espírito Santo como
governantes, e, sim, como pastores. Pastorear o
rebanho de Deus exige sofrimento pelo Corpo de
Cristo como Cristo sofreu (Cl 1:24). Esse pastoreio
com sofrimento será recompensado com a
imarcescível coroa de glória (1Pe 5:4).
De acordo com 1 Pedra 5:1-3, os presbíteros não
são senhores do rebanho, isto é, não devem exercer o
senhorio sobre os governados (Mt 20:25). Entre os
crentes, além de Cristo, não deve haver outro senhor,
todos devem ser servos, até mesmo escravos (Mt
20:26-27; 23:10-11). Os presbíteros na igreja só
podem tomar a liderança (não o senhorio), que todos
os crentes devem honrar e seguir (1Ts 5:12; 1Tm
5:17).

VALOR DA IGREJA COMO TESOURO PARA


DEUS
Em Atos 20:28 Paulo diz que a igreja de Deus foi
adquirida “com o seu próprio sangue”. Isso indica o
precioso amor de Deus pela igreja e a preciosidade, o
valor extraordinário, dela aos Seus olhos. Aqui, o
apóstolo não falou sobre a vida e natureza divina da
igreja como em Efésios 5:23-32, e, sim, sobre o valor
dela como tesouro de Deus, tesouro esse que Ele
adquiriu com o Seu próprio sangue precioso. Paulo
esperava que, como supervisares, os presbíteros
tivessem a igreja em alta conta, como Deus a tinha.
Tanto o Espírito Santo como o próprio sangue de
Deus são provisões divinas para a igreja que Ele tanto
estima. O Espírito Santo é Deus mesmo, e o sangue de
Deus denota a Sua obra. A obra redentora de Deus
adquiriu a igreja; agora Deus mesmo, o Espírito
todo-inclusivo que dá vida (1Co 15:45), cuida dela por
meio dos supervisares.
O sangue de Deus é o sangue de Jesus Cristo (1Jo
1:7). Isso implica que o Senhor Jesus é Deus. Na
mensagem seguinte iremos considerar com mais
detalhes o significado de Deus ter obtido a igreja por
meio do Seu próprio sangue.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E QUATRO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (20)

Leitura Bíblica: At 20:13-38

A IGREJA COMPRADA

COM O PRÓPRIO SANGUE DE DEUS


Em 20:28 Paulo ordena que os presbíteros da
igreja em Éfeso pastoreiem “a igreja de Deus, a qual
ele comprou com o seu próprio sangue”. Sempre que
compramos algo, nós o adquirimos ou obtemos. Deus
adquiriu ou obteve a igreja, comprando-a. Ao
comprar qualquer coisa precisamos pagar o preço por
aquilo. Qual foi o preço que Deus pagou para comprar
a igreja? De acordo com a palavra de Paulo em 20:28,
Deus a obteve pagando o preço do “seu próprio
sangue”.
A frase “seu próprio sangue” no versículo 28 é
muito incomum. É perturbante. Deus tem sangue?
Deus é Deus, e não homem ou criatura. Como, então,
pode Deus, o Criador, ter sangue?
Alguns podem tentar explicar isso dizendo que o
sangue em 20:28 é o sangue de Jesus. Mas como
pode o sangue de Jesus ser o sangue de Deus? O
Senhor Jesus é Deus, mas 20:28 não fala de Jesus, e,
sim, de Deus. Ao considerar isso, percebemos que é
muito difícil explicá-lo teologicamente.
Há mais de dois séculos, Charles Wesley escreveu
um hino que fala de Deus morrendo por nós. Nesse
hino Wesley diz:
Grandioso amor! Que ocorreu?!
Por mim morreste, ó meu Deus?9
Nesse hino Wesley prossegue: “Mistério: Morre o
Imortal!” Aqui ele declara que Deus morreu por nós.
Quando traduzi esse hino para o chinês, anos atrás,
fiquei perturbado com isso. Não tinha certeza se seria
tão ousado ao ponto de traduzi-lo literalmente,
mostrando que Deus morreu por nós. Você tem
coragem de dizer que Deus morreu por você? Charles
Wesley teve visão com respeito a isso e declarou nesse
hino que Deus morreu por nós.

O HOMEM-DEUS
O Deus que morreu por nós não é o Deus anterior
à encarnação. Antes da encarnação, Ele certamente
não tinha sangue, e não poderia ter morrido por nós.
Foi depois da encarnação, na qual Se mesclou com a
humanidade, que Ele morreu por nós. Por meio da'
encarnação o nosso Deus, o Criador, o Eterno, Jeová,
mesclou-Se ao homem. Como resultado, Ele já não
era apenas Deus; tornou-se um Homem-Deus. Como
tal, Ele certamente tinha sangue e pôde morrer por
nós.
Quando morreu na cruz, o Homem-Deus não
morreu somente como homem, mas também como
Deus. Quem morreu na cruz foi o que foi concebido
de Deus e nasceu com Deus. Por ser um
Homem-Deus, o próprio elemento divino estava Nele,
mesclado com a Sua humanidade.
9
Hino 157 do hinário publicado por esta editora. (N.T.)
Na concepção do Senhor Jesus, o homem-Deus,
a essência divina provinda do Espírito Santo (Mt
1:18-20; Lc 1:35) foi gerada no ventre de Maria. Essa
concepção do Espírito Santo na virgem humana,
realizada tanto com a essência divina como com a
essência humana, foi uma mescla da natureza divina
com a humana e produziu o homem-Deus, que é
tanto o Deus completo como um homem perfeito,
possuindo a natureza divina e a humana
distintamente, sem que uma terceira natureza fosse
produzida. Essa é a Pessoa mui maravilhosa e
excelente de Jesus.
A concepção e nascimento do Senhor Jesus foi a
encarnação de Deus (Jo 1:14), constituída da essência
divina adicionada à essência humana, portanto,
produzindo o Homem-Deus formado de duas
naturezas: divindade e humanidade. Dessa forma,
Deus uniu-Se à humanidade para manifestar-se na
carne (1Tm 3:16) e também ser o Salvador (Lc 2:11),
que morreu e derramou o Seu sangue por nós.

O SANGUE DE JESUS, O FILHO DE DEUS


O sangue que redimiu os seres humanos caídos
foi o sangue de Jesus, o Filho de Deus. Como seres
humanos, necessitamos de autêntico sangue humano
para a nossa redenção. Por ser um homem, o Senhor
Jesus podia preencher esse requisito. Como homem,
Ele derramou sangue humano para redimir os seres
humanos caídos. Ele também é o Filho de Deus, até
mesmo o próprio Deus. Assim, no Seu sangue há o
elemento da eternidade, que garante a sua eterna
eficácia. Portanto, como homem, Ele tinha autêntico
sangue humano e como Deus, tem o elemento que dá
ao Seu sangue eficácia eterna.
Primeira João 1:7 diz que “o sangue de Jesus, seu
Filho, nos purifica de todo pecado”. O nome Jesus
denota a humanidade do Senhor, necessária para o
derramamento do sangue redentor, e o título “seu
Filho” denota a Sua Divindade, necessária para a
eficácia eterna do sangue redentor. Assim, “o sangue
de Jesus seu Filho” indica que esse é o sangue
adequado, de um homem autêntico, para redimir as
criaturas caídas de Deus com a garantia divina de
eficácia eterna, totalmente prevalecente no espaço, e
eterna no tempo.
O sangue que o Senhor derramou na cruz foi o
sangue de Jesus, o Filho de Deus. Não era apenas o
sangue de Jesus, mas era também do Filho de Deus.
Por isso, a redenção realizada pelo Homem-Deus, que
era mesclado com Deus, é eterna.
Se a redenção realizada na cruz tivesse sido
realizada meramente por um homem, não teria
eficácia eterna. Embora pudesse ser eficaz para a
redenção de uma pessoa, não seria eficaz para a
redenção de milhões de crentes. Como o homem é
limitado, um só homem não pode morrer por milhões
de pessoas. Mas, embora o homem seja limitado,
Deus não é. Do mesmo modo, embora o homem seja
temporal, Deus é eterno. Assim, na redenção de
Cristo há o elemento eterno e ilimitado de Deus. Por
isso em Hebreus 9:12 essa redenção é chamada de
eterna redenção.
Precisamos ver que o sangue derramado pelo
Senhor Jesus na cruz é sangue eterno. Não é
meramente o sangue de um homem, e, sim, de um
homem mesclado com o elemento divino. Portanto,
esse sangue, o sangue de Jesus, o Filho de Deus, é
eterno. Em Atos 20:28 Paulo teve a ousadia de falar
desse sangue como sendo o próprio sangue de Deus.

O DEUS REVELADO NO NOVO


TESTAMENTO
Alguns cristãos hoje têm um conceito a respeito
de Deus que se assemelha muito ao conceito judaico,
que diz que Deus é Deus e Nele não há nenhum
elemento humano. Mas, de acordo com a Bíblia, o
próprio Deus do Antigo Testamento tornou-se o Deus
revelado no Novo Testamento. No Antigo Testamento
Ele era meramente Deus, sem nenhum elemento
humano. Mas no Novo Testamento vemos o
Homem-Deus. Por meio da encarnação, o Deus do
Antigo Testamento vestiu a natureza humana e se
tomou o Homem-Deus. Como tal, Ele se tomou o
Deus manifestado na carne (1Tm 3:16).
Deus tomou-se o Homem-Deus por meio da
concepção no ventre de uma virgem humana e do
nascimento humano. Dessa forma o elemento
humano foi adicionado ao elemento divino, contudo,
isso não significa que, como Homem-Deus, Ele seja
duas pessoas. Não, o Senhor Jesus, o Salvador, é uma
pessoa com duas naturezas: a divina e a humana.
Embora isso seja muito difícil de entender, esse é um
fato revelado na Bíblia.
Agora podemos ver que nosso Deus é o Deus
revelado no Novo Testamento e não meramente o
Deus revelado no Antigo Testamento. Os judeus, no
entanto, têm apenas o Deus visto no Antigo
Testamento. Qual é a diferença entre o Deus judaico e
o nosso? A diferença é que o Deus judaico é apenas
Deus, sem o elemento humano, enquanto o nosso
Deus, de acordo com o Novo Testamento, já não é
meramente Deus; é o Homem-Deus. Nosso Deus tem
duas naturezas: a divina e a humana. Isso quer dizer
que, como Homem-Deus, Ele é tanto o Deus
completo como o homem perfeito, mas não são duas
pessoas, e sim, uma pessoa só.
Embora sempre tenhamos crido e ensinado que o
Homem-Deus, Jesus Cristo, é uma pessoa com a
natureza divina e humana, e é tanto o Deus completo
como o homem perfeito, alguns opositores nos têm
acusado falsamente de ensinar que Cristo não era
nem plenamente Deus nem plenamente homem.
Também nos acusam de dizer que as duas naturezas,
a divina e a humana, estão mescladas em Cristo
gerando uma terceira. Essa acusação é totalmente
falsa e sem base, e nós a repudiamos.
Esses que nos acusaram falsamente, o fazem
distorcendo as nossas palavras no livrete The Four
Major Steps of Christ (Os Quatro Principais Passos
de Cristo). Nesse livrete dizemos clara e
enfaticamente que o nosso Salvador é tanto o
verdadeiro Deus como um homem de verdade. Pela
encarnação nem a natureza divina nem a humana são
perdidas. Pelo contrário, embora estejam mescladas
para formar o Homem-Deus, tanto a natureza divina
como a humana permanecem e, de maneira
nenhuma, forma-se uma terceira natureza. Embora
essa verdade tenha sido claramente definida e
apresentada, ela foi distorcida de forma maligna,
numa tentativa de acusar-nos de heresia com respeito
à Pessoa de Cristo. De acordo com a Bíblia, cremos
definitivamente que nosso Salvador, que derramou
Seu sangue pela nossa redenção, morreu na cruz
como o Homem-Deus.

ABANDONADO ECONOMICAMENTE POR


DEUS
Uma vez que mostramos que o Senhor Jesus
morreu na cruz como o Homem-Deus, alguns podem
perguntar sobre Marcos 15:34: “À hora nona clamou
Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que
traduzido significa: Deus Meu, Deus Meu, porque Me
desamparaste?” Esse foi o clamor do Senhor
enquanto carregava os nossos pecados (1Pe 2:24),
tendo sido feito pecado por nós (2Co 5:21), e tomava
o lugar dos pecadores (1Pe 3:18). Isso significa que
Deus O julgou como nosso substituto por causa dos
nossos pecados. Aos olhos de Deus, Cristo se tornou
um grande pecador. Por ser o nosso substituto e por
ter sido feito pecado aos olhos de Deus, Deus O julgou
e até mesmo O abandonou.
De acordo com Mateus 1 e Lucas 1, o Senhor
Jesus foi concebido do Espírito Santo. Mais tarde,
para o Seu ministério, Ele foi ungido com o Espírito
Santo, que desceu sobre Ele (Lc 3:22). Precisamos
perceber que antes de o Espírito que unge descer
sobre o Senhor economicamente, Ele já tinha em Seu
interior, essencialmente, o Espírito Santo que O
concebeu como a essência divina, como uma das duas
essências do Seu ser. Agora precisamos ver que o
Espírito que O concebeu, como a essência divina,
nunca O deixou essencialmente. Mesmo quando
estava na cruz clamando “Deus Meu, Deus Meu,
porque Me desamparaste?”, Ele ainda tinha o
Espírito que O concebeu, como a essência divina.
Então, quem O deixou? Foi o Espírito que o ungiu,
por meio do qual Ele se apresentou a Deus (Hb 9:14),
que O deixou economicamente. Depois que Deus O
aceitou como oferta todo-inclusiva, o Espírito que
unge O deixou. Mas, embora o Espírito que o ungiu O
tenha deixado economicamente, Ele ainda tinha o
Espírito que O gerou, essencialmente.
Quando o Senhor Jesus, o homem-Deus, morreu
na cruz sob o juízo de Deus, Ele tinha Deus em Si
essencialmente como o Seu ser divino. Contudo, foi
desamparado economicamente pelo Deus justo e
julgador. Ele foi gerado e nasceu do Espírito Santo
essencialmente, e assim, o Espírito Santo era uma das
essências do Seu ser. Enquanto crescia e vivia na
terra, o Senhor tinha o Espírito Santo em Si
essencialmente. Mais tarde, ao ser batizado, Ele ainda
tinha o Espírito Santo como parte essencial do Seu
ser. Contudo, por ocasião do Seu batismo, o Espírito
Santo desceu sobre Ele economicamente. Isso quer
dizer que o Senhor Jesus tinha o Espírito Santo como
uma das essências do Seu ser essencialmente e
também que o Espírito Santo desceu sobre Ele
economicamente. Isso não significa, naturalmente,
que haja dois Espíritos Santos, e, sim, que o único
Espírito Santo tem dois aspectos: o essencial e o
econômico. O aspecto essencial visava ao ser, à
existência do Senhor Jesus, e o aspecto econômico
visava a Sua obra, o Seu ministério.
Precisamos ser impressionados com o fato de
que quando o Senhor Jesus estava morrendo na cruz
pelos nossos pecados, Deus estava Nele
essencialmente. Assim, quem morreu pelos nossos
pecados era o Homem-Deus. Mas a certa altura o
Deus justo, ao julgar esse Homem-Deus, deixou-O,
economicamente. O fato de Deus tê-Lo deixado foi
uma questão econômica, relacionada à execução do
juízo de Deus.
Por ter sido concebido do Espírito Santo e ter
nascido de Deus e com Deus, Ele tinha o Espírito
Santo como a essência intrínseca do Seu divino ser.
Por isso não era possível Deus deixá-Lo,
desampará-Lo, essencialmente. No entanto, Ele foi
desamparado por Deus economicamente, quando o
Espírito, que descera sobre Ele como poder
econômico para a execução do Seu ministério, O
deixou. Mas a essência de Deus permaneceu em Seu
ser. Assim, Ele morreu na cruz como o Homem-Deus,
e o sangue derramado ali pela nossa redenção não era
apenas o sangue do homem Jesus, mas também do
Homem-Deus. Portanto, esse sangue, por meio do
qual Deus comprou a igreja, é o próprio sangue de
Deus.

A PRECIOSIDADE DA IGREJA
Vamos ler Atos 20:28 novamente: “Atendei por
vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de
Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”.
Ao exortar os presbíteros da igreja em Éfeso, Paulo
fala do Espírito Santo e do sangue de Deus, a fim de
mostrar o seu sentimento com respeito à preciosidade
da igreja. De acordo com o entendimento dele, a
igreja é totalmente preciosa. Ela está sob os cuidados
do Espírito Santo, e foi comprada por Deus com o
próprio sangue. Assim, ela é um tesouro aos olhos de
Deus. Paulo a valorizava tanto quanto Deus.
Em 20:28 Paulo exortou os presbíteros a
valorizar a igreja, tanto quanto Deus a valoriza e ele a
valorizava. O fato de Deus ter comprado a igreja com
o próprio sangue mostra a preciosidade dela aos Seus
olhos. Tendo pago tão alto preço pela igreja, ela
certamente Lhe é querida. Ademais, ela está sob os
cuidados do Espírito Santo. Segundo a palavra de
Paulo no versículo 28, os presbíteros devem
considerá-la muito preciosa, como um tesouro aos
olhos de Deus. Ao pastoreá-la, os presbíteros devem
ter para com ela o mesmo sentimento que Deus tem.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E CINCO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (21)

Leitura Bíblica: At 20:13-38


Nesta mensagem continuaremos a considerar a
exortação de Paulo aos presbíteros de Éfeso,
registrada em 20:13-38.

LOBOS E PERVERTIDOS
O versículo 29 diz: “Eu sei que, depois da minha
partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não
pouparão o rebanho”. Ele aqui mostra que os lobos
viriam de fora para danificar o rebanho, a igreja de
Deus. No versículo 29, ele não se importava com a
própria vida, mas estava muito preocupado com o
futuro da igreja, que era um tesouro para ele e para
Deus.
No versículo 30 ele prossegue: “E que, dentre vós
mesmos, se levantarão homens falando coisas
pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles”.
Os pervertidos entre os crentes na igreja são sempre
usados pelo diabo, que odeia a igreja, para arrastar as
ovelhas embora, a fim de formar outro “rebanho”.
Em nossos muitos anos de vida da igreja, tivemos
experiências tanto com os lobos como com os
pervertidos. Os lobos vêm de fora da igreja e os
pervertidos se levantam dentro dela.
Quando os pervertidos se levantam na igreja,
podemos pensar que isso mostra que não fomos
cuidadosos em nossa obra e trouxemos sementes que
produziram os pervertidos. Muitos de nós pensariam
assim, ao vê-los surgir. No entanto, é possível que não
tenhamos nada a ver com o aparecimento deles.
Considere a obra de Paulo em Éfeso. A igreja ali foi
levantada, estabelecida e levada adiante pelo
ministério dele por três anos. Por certo, ele fez a sua
obra com muito cuidado. No entanto, ele mesmo
anteviu que alguns se levantariam para falar coisas
pervertidas, a fim de arrastar os irmãos atrás de si
para formar outro “rebanho”.
Uma das parábolas do Senhor em Mateus 13 fala
de semear joio entre o trigo (vs. 24-30, 36-43).
Estudei essa parábola por anos tentando entender de
onde vinha o joio. Há quem diga que as sementes do
joio são trazidas pelo vento. Embora eu não saiba de
onde vem o joio, sei que onde houver trigo, ali
também haverá joio. Isso indica que onde quer que
haja verdadeiros crentes, ali também haverá falsos
crentes. Isso é inevitável. Foi inevitável na obra de
Paulo, e o será em nossa obra hoje.
Depois de trabalhar em Éfeso por três anos,
Paulo advertiu os presbíteros da igreja ali que no
meio deles penetrariam lobos e se levantariam alguns
para falar coisas pervertidas. Vimos isso acontecer
tanto no Oriente como no Ocidente. Não devemos
esperar que haja trigo sem haver joio. É possível que
em uma igreja levantem-se pervertidos. Quando
alguns ouvem isso talvez digam: “Oh! por favor, não
prediga tal coisa. Entre os irmãos da nossa cidade
nunca haverá nenhum pervertido”. No entanto,
precisamos receber a palavra de Paulo. Embora não
soubesse quem seriam, ele predisse que pervertidos
iriam surgir.
De acordo com a palavra de Paulo no versículo
30, o objetivo dos pervertidos é arrastar os discípulos
atrás de si. A intenção deles é arrastar os santos para
formar outro “rebanho”. Temos observado isso
através dos anos. Temos visto que a intenção deles é
separar um grupo de crentes para que sejam os seus
seguidores. Assim, devemos atentar à palavra de
Paulo com respeito a lobos vindo de fora e
pervertidos levantando-se dentro do rebanho.

A PALAVRA DA GRAÇA DE DEUS


Nos versículos 31-32 Paulo continua: “Portanto,
vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e
dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada
um. Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à
palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar
e dar herança entre todos os que são santificados”.
Aqui ele encomenda os crentes a Deus e à palavra da
Sua graça. Graça é o Deus Triúno recebido e
desfrutado pelos crentes. Creio que nos três anos em
que esteve em Éfeso, ele falava a palavra da graça de
Deus aos santos diariamente.
Podemos testificar que, pela misericórdia do
Senhor, a palavra da graça de Deus pode ser
encontrada nas mensagens de Estudos-Vida.
Recentemente um jovem conclamou os jovens na
restauração do Senhor a ter todas as riquezas dos
Estudos-Vida constituídas neles. Eu concordo com a
palavra desse irmão. Se os jovens tiverem tal
constituição, haverá uma grande transferência de
dispensação na restauração. Encorajo os jovens a
usar o tempo, nos próximos anos, para ter todas as
mensagens dos Estudos-Vida constituídas neles. Se
nos próximos anos ficarem saturados delas, plenos da
palavra a respeito da economia neotestamentária de
Deus, muitos serão úteis para servir ao Senhor em
tempo integral. Eles poderão ir a outras cidades e
outros países e transmitir a outros a economia
neotestamentária de Deus. Isso transformará a
situação entre os cristãos. Dessa forma, as riquezas
dos Estudos-Vida se tomarão conhecidas de toda a
comunidade cristã. Mas, o principal é que, entre nós,
muitos vasos vivos se levantem e tenham a economia
neotestamentária de Deus constituída neles.
Não devemos achar que apenas os jovens
precisam ter as mensagens dos Estudos-Vida
constituídas neles. Mesmo os mais velhos ainda têm
tempo para isso e então terão anos para servir o
Senhor, levando a economia neotestamentária de
Deus por toda a terra.

Edificar os Santos
Em 20:32 vemos a função da palavra da graça de
Deus. Primeiro, ela é capaz de edificar os santos.
Edificar os santos requer crescimento na vida divina,
e para crescer nessa vida é preciso ser suprido com o
elemento divino e aperfeiçoado e equipado com o
conhecimento divino. Tudo isso só pode ser
conseguido pela palavra da abundante graça de Deus,
que é o próprio Deus Triúno, que passou pelos
processos de encarnação, viver humano, crucificação,
ressurreição e ascensão e foi dado aos santos para o
desfrute deles.

Dar-nos Herança
Segundo, a palavra da graça de Deus dá-nos
“herança entre todos os que são santificados”. A
herança divina é o próprio Deus Triúno com tudo o
que Ele tem, fez e fará por Seus redimidos. Esse Deus
Triúno está corporificado no Cristo todo-inclusivo (Cl
2:9), que é a parte que cabe aos santos como sua
herança (Cl 1:12). O Espírito Santo dado aos santos é
o antegozo, o penhor e a garantia dessa herança
divina (Rm 8:23; Ef 1:14), que hoje compartilhamos e
desfrutamos no jubileu neotestamentário de Deus
como antegozo, e iremos compartilhar e desfrutar em
plenitude na era vindoura e pela eternidade (1Pe 1:4).
A nossa herança eterna se relaciona à vida divina,
que recebemos por meio da regeneração e
experimentamos e desfrutamos por toda a vida cristã.
“Essa herança é a posse plena do que foi prometido a
Abraão e a todos os crentes (Gn 12:3; ver Gl 3:6 e
segs.), uma herança, tanto mais elevada do que a que
foi designada para os filhos de Israel na posse de
Canaã, assim como a filiação dos regenerados, que já
receberam a promessa do Espírito pela fé como
penhor da herança deles é mais elevada do que a
filiação de Israel (cf. Gl 3:18-29; 1Co 6:9; Ef 5:5; Hb
9:15)” (Wiesinger, citado por Alford).
Uma herança é uma posse adequada e legal. Não
é a1cançada pela nossa energia, habilidade ou obras.
Pelo contrário, é-nos concedida por alguém de forma
legítima. Nós não trabalhamos por ela; nós a
recebemos.
No dia em que fomos regenerados, recebemos o
direito de partilhar uma herança, que inclui todas as
bênçãos relacionadas à vida eterna. Diariamente
precisamos tomar posse dela e desfrutá-la. Ela é legal,
devida e legítima, pois Cristo morreu para adquiri-la
para nós, pagando o preço do Seu precioso sangue.
Dia a dia podemos participar dela e desfrutá-la. É
nossa hoje e o será pela eternidade.
Segundo o que diz Paulo em 20:32, a herança de
Deus está entre os que foram santificados. Participar
dela exige que sejamos santificados, e isso requer a
palavra da graça de Deus. Em João 17:17 o Senhor
Jesus orou: “Santifica-os na verdade; a Tua palavra é
a verdade”. Ser santificado (Ef 5:26; 1Ts 5:23) é ser
separado do mundo e sua ocupação, para Deus e Seu
propósito, não apenas em posição (Mt 23:17, 19), mas
também em disposição (Rm 6:19, 22). A palavra viva
de Deus opera nos crentes a fim de separá-los de tudo
o que é mundano. Isso é ser santificado na palavra de
Deus como a verdade, a realidade.

TRABALHOU PARA SE SUSTENTAR E


AJUDAR OS SEUS COOPERADORES
Em 20:33-34 Paulo continua: “De ninguém
cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos
sabeis que estas mãos serviram para o que me era
necessário a mim e aos que estavam comigo”. Ele
trabalhava com as mãos fazendo tendas (18:3) para
sustentar tanto a si mesmo como também aos que
estavam com ele. Ele trabalhava a fim de ajudar os
seus jovens cooperadores. Isso nos mostra que a
maneira dele não era a do clero de hoje, que faz da
pregação uma profissão.
Assim como Paulo, devemos levar a economia
neotestamentária aonde quer que estejamos. Se a
situação permitir, podemos despender todo o tempo
na obra do ministério. Doutra forma, devemos fazer
algo para nos sustentar e também para ajudar os
outros.
Em 20:35 ele disse: “Tenho-vos mostrado em
tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os
necessitados e recordar as palavras do próprio
Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que
receber”. Os termos gregos traduzidos por “os
necessitados”, também podem ser traduzidos por “os
fracos”, referindo-se aos fracos fisicamente (1Co
11:30); portanto, os pobres.
No versículo 35 Paulo pediu aos presbíteros que
se lembrassem da palavra do Senhor Jesus: “Mais
bem-aventurado é dar que receber”. Isso não está
registrado nos Evangelhos; deve ter sido recebida por
comunicação oral.
Se lermos cuidadosamente a palavra de Paulo
aos presbíteros da igreja em Éfeso, veremos que ele
não considerou o pregar como uma profissão. Antes,
tinha um encargo autêntico de levar a cabo a
economia neotestamentária de Deus.

UM ENCARGO AUTÊNTICO DE LEVAR A


CABO A ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA
DE DEUS
A situação na terra hoje requer um forte
testemunho, e um forte testemunho requer muito
labor. Assim, há a grande necessidade de que muitos
sirvam o Senhor em tempo integral. Mas, para
laborar pelo Senhor, a Palavra precisa estar
plenamente constituída em você.
Gostaria de enfatizar novamente que a
restauração do Senhor não é uma obra cristã comum.
Pelo contrário, é o mover atual do Senhor a fim de
levar a cabo a Sua economia neotestamentária, que
não foi plenamente levada a cabo no passado. Como
aqueles que ouviram a Sua palavra com respeito à Sua
economia neotestamentária, devemos dizer-Lhe:
“Senhor, estamos aqui para o Teu mover na terra.
Não queremos apenas adquirir o conhecimento dos
ensinamentos bíblicos. Queremos ter o encargo de ter
todos os ensinamentos neotestamentários
constituídos em nós para que, como Paulo, sejamos
vasos para levar a cabo a Tua economia. Até mesmo
estamos dispostos a servir em tempo integral”. Se a
situação exigir que tenhamos um emprego para
sustentar a nós e a outros, devemos fazê-lo. Doutra
forma, devemos estar dispostos a dedicar todo o
nosso tempo ao ministério do Senhor.
Com respeito à economia neotestamentária de
Deus, a necessidade na terra hoje é muito grande. É
muito maior agora do que nos séculos passados,
quando os missionários saíram para pregar o
evangelho e ensinar a Bíblia, por grande extensão
territorial, de forma superficial. A pregação do
evangelho e o ensino bíblico superficiais nunca
levarão a cabo a economia neotestamentária de Deus.
Isso não abre caminho para Deus levar a cabo o Seu
plano eterno.
Como o Senhor nos iluminou com respeito à Sua
economia e até mesmo nos deu encargo e nos
comissionou para levá-la a cabo, todos precisamos
considerar isto seriamente. Não devemos pensar
assim: “Já visitei diversos grupos e denominações,
mas nenhum deles me pôde satisfazer. Agora sinto
que as igrejas na restauração do Senhor são muito
boas, e estou satisfeito simplesmente em desfrutar a
vida da igreja aqui”. Essa atitude é totalmente
inadequada. Todos os irmãos na restauração do
Senhor precisam ser edificados no encargo da
economia neotestamentária.
Quando alguns ouvem sobre a necessidade de ter
encargo para levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus, talvez pensem que não são
talentosos ou que não têm dons e assim não podem
fazer muito. No entanto, se forem sérios com o
Senhor e ficarem saturados das riquezas da economia
divina, especialmente como são transmitidas nas
mensagens dos Estudos-Vida, então poderão cuidar
de várias pessoas entre parentes, vizinhos, amigos,
conhecidos e colegas de classe. No mínimo, cada um
de nós pode cuidar de dez pessoas, não pregando um
evangelho raso e superficial, nem apresentando um
ensinamento comum, mas ministrando as verdades
profundas da economia neotestamentária. Se formos
saturados de tal economia, sempre que falarmos a
respeito dela, a verdade fluirá. Ademais, as pessoas
poderão entender o que estamos dizendo. Se todos os
santos na restauração do Senhor cuidarem de
ministrar as verdades da economia divina para dez
pessoas, haverá um excelente resultado para o
interesse do Senhor. Essas pessoas terão a verdade
constituída nelas por meio de nós e, por sua vez, a
passarão para outros. Isso resultará numa
maravilhosa multiplicação.
Precisamos perceber que em todas as nações as
pessoas estão à procura da verdade. Talvez sejam más
e mundanas, mas ainda desejam a verdade. Querem
saber o verdadeiro significado da vida humana.
Assim, todos precisamos ter o encargo de difundir a
verdade com respeito à economia neotestamentária
de Deus. Ao levar a cabo esse encargo não devemos
seguir a tendência do cristianismo de hoje. Antes,
devemos seguir o modelo do apóstolo Paulo,
apresentado em Atos. Por causa da propagação do
Senhor, vamos todos saturar-nos com a economia de
Deus e ajudar os outros a ser saturados dela.
Encorajo os jovens a separar dois anos, depois de
formados na faculdade, para servir ao Senhor em
tempo integral. Sugiro que gastem metade do dia
para fazer um estudo completo do Novo Testamento
com a ajuda da Versão Restauração, notas de rodapé
e mensagens de Estudos-Vida. Dessa forma,
continuando ou não a servir em tempo integral
depois dos dois anos, estarão plenamente saturados
da verdade da economia neotestamentária de Deus e
firmados nela. Além do seu estudo pela manhã,
poderão usar o restante do tempo para pregar o
evangelho e contatar as pessoas. Encorajo os jovens a
considerar seriamente essa questão.
Nós, na restauração do Senhor, não estamos aqui
para ser membros comuns de uma igreja, fazendo
uma obra cristã comum. Como Paulo, a nossa obra
deve revolucionar a situação na terra. Ele é um
excelente modelo para nós hoje: não apenas levou o
encargo da economia neotestamentária de Deus,
como também trabalhou com as próprias mãos
fazendo tendas, a fim de sustentar a si e ajudar a
outros. Se também formos fiéis em trabalhar para o
propósito do Senhor, Ele irá cuidar do nosso
sustento. Então, poderemos sustentar muitos
obreiros em tempo integral, não apenas neste país,
mas também em muitos outros. Por exemplo, se dez
irmãos forem fiéis em prover sustento financeiro para
um obreiro, de cada mil irmãos cem poderão sair para
servir em tempo integral. Isso é verdadeiro
especialmente nos Estados Unidos, onde, segundo a
soberania do Senhor, a economia é muito forte.
Os que têm encargo de servir em tempo integral
para levar a cabo a economia neotestamentária de
Deus não devem ir de mãos vazias. Antes, devem sair
com o pleno conhecimento da verdade, pelo menos
com o pleno conhecimento do Novo Testamento.
Agradecemos ao Senhor por abrir-nos o Novo
Testamento. Creio que nos próximos anos os santos
verão mais riquezas na Palavra. Que todos os santos
na restauração do Senhor possam ser saturados das
riquezas da economia de Deus e então aprofundar-se
na Palavra para encontrar mais riquezas.
Ao prosseguir levando o encargo da economia de
Deus, não nos devemos preocupar com a oposição.
Freqüentemente os que constroem uma auto-estrada
encontram oposição. No entanto, eles prosseguem,
retirando os obstáculos e preenchendo os buracos, a
fim de que a autoestrada possa ser construída. Vamos
avançar com esse espírito para levar a cabo a
economia neotestamentária de Deus, apresentando
os ensinamentos dela aos necessitados. Muitos, ao
ouvir isso, serão convencidos e os receberão. Outros
talvez se oponham. No entanto, em vez de discutir,
simplesmente apresente-lhes a verdade. Embora
talvez a rejeitem uma vez e o façam outras vezes, por
fim, o Senhor irá ganhá-los por meio da nossa
fidelidade.
Vamos todos encher-nos das riquezas da
economia neotestamentária de Deus e então levar a
cabo, positiva e agressivamente o encargo por ela.
Todos podemos tornar-nos agressivos se estivermos
enchidos e saturados. Espero que nos dias vindouros
haja grande aumento para a propagação do Senhor.
Que haja um verdadeiro avivamento por toda a terra!
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E SEIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (22)

Leitura Bíblica: Atos 21:1-26


Depois da solene e preciosa comunhão com os
presbíteros da igreja em Éfeso (20:13-35), Paulo
“ajoelhando-se, orou com todos eles” (20:36). Por
fim, eles o acompanharam até o navio. Em Atos 21:1
lemos: “Depois de nos apartarmos, fizemo-nos à vela
e, correndo em direitura, chegamos a Cós; no dia
seguinte, a Rodes, e dali, a Pátara”.
Em Pátara, Paulo e seus companheiros
encontraram um navio que ia para a Fenícia,
embarcaram nele e seguiram viagem (v. 2). Eles
navegaram até a Síria e desceram a Tiro.
“Encontrando os discípulos, permanecemos lá
durante sete dias; e eles, movidos pelo Espírito,
recomendavam a Paulo que não fosse a Jerusalém”
(v. 4). Em 20:23 o Espírito Santo mostrou a Paulo
que cadeias e aflições o esperavam em Jerusalém. O
testemunho do Espírito Santo a esse respeito foi
apenas uma profecia, ou predição, e não uma ordem.
Assim, ele deveria ter tomado essa palavra não como
ordem, mas como advertência. Agora, ~m 21:4, o
Espírito deu um passo além dizendo-lhe por meio de
alguns membros do Corpo que não fosse a Jerusalém.
Ao praticar a vida do Corpo, Paulo deveria ter tomado
essa palavra e obedecido a ela como uma palavra da
Cabeça.
PARA PTOLEMAIDA E CESARÉIA
Em Atos 21:7 e 8 lemos: “Quanto a nós,
concluindo a viagem de Tiro, chegamos a Ptolemaida,
onde saudamos os irmãos, passando um dia com eles.
No dia seguinte, partimos e fomos para Cesaréia; e,
entrando na casa de Filipe, o evangelista, que era um
dos sete, ficamos com ele”. Aonde quer que Paulo
fosse ele visitava os irmãos e ficava com eles (vs. 4-7).
Ele estava, na verdade, praticando a vida corporativa
da igreja, vivendo de acordo com o que ensinava a
respeito do Corpo de Cristo.
Atos 21:10 e 11 diz: “Demorando-nos ali alguns
dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo; e,
vindo ter conosco, tomando o cinto de Paulo, ligando
com ele os próprios pés e mãos, declarou: Isto diz o
Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, farão
ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos
gentios”. Aqui novamente o Espírito Santo disse a
Paulo, não diretamente, mas por meio de um
membro do Corpo, o que iria lhe acontecer em
Jerusalém. Isso foi novamente uma advertência com
caráter profético, e não uma ordem. Foi novamente a
Cabeça falando por meio do Corpo, a qual Paulo
deveria ter ouvido na prática da vida corporativa.
O versículo 12 continua: “Quando ouvimos estas
palavras,
tanto nós como os daquele lugar, rogamos a
Paulo que não subisse a Jerusalém”. O nós inclui
Lucas, o autor. Aqui o Corpo, por meio de muitos
membros, expressou o seu sentimento, rogando a
Paulo que não fosse a Jerusalém. Mas, devido à sua
vontade irredutível de estar pronto até mesmo para
sacrificar a vida pelo Senhor, ele não se deixou
persuadir. Com respeito a isso lemos no versículo 13:
“Então, ele respondeu: Que fazeis chorando e
quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não
só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém
pelo nome do Senhor Jesus”. Como ele não se deixou
persuadir, os membros do Corpo foram forçados a
deixar essa questão para a vontade do Senhor. O
versículo 14 diz: “Como, porém, não o persuadimos,
conformados, dissemos: Faça-se a vontade do
Senhor!”

PARA JERUSALÉM, TERMINANDO A


TERCEIRA VIAGEM
Em Atos 21:15-16 lemos: “Passados aqueles dias,
tendo feito os preparativos, subimos para Jerusalém;
e alguns dos discípulos também vieram de Cesaréia
conosco, trazendo consigo Mnasom, natural de
Chipre, velho discípulo, com quem nos deveríamos
hospedar”. No versículo 16 vemos que eles deveriam
ter-se hospedado com Mnasom em Jerusalém.
No versículo 17 lemos: “Tendo nós chegado a
Jerusalém, os irmãos nos receberam com alegria”.
Essa chegada a Jerusalém foi o término da terceira
viagem ministerial de Paulo, iniciada em 18:23.

A INFLUÊNCIA DO JUDAÍSMO

Uma Mistura da Economia Neotestamentária


de Deus com a Dispensação do Antigo
Testamento
De acordo com 21:17, quando Paulo e seus
companheiros vieram a Jerusalém, os irmãos os
receberam com alegria. O versículo 18 diz: “No dia
seguinte, Paulo foi conosco encontrar-se com Tiago, e
todos os presbíteros se reuniram”. O termo conosco
nesse versículo indica que Lucas estava presente.
Em 21:18 vemos que Paulo foi encontrar-se com
Tiago, a figura central no que diz respeito ao
problema em Jerusalém, pois era líder dos apóstolos
e dos presbíteros ali. Quando Paulo e seus
cooperadores foram encontrar-se com Tiago, todos os
presbíteros estavam presentes. Isso indica que Tiago
era o líder dos presbíteros.
Depois de saudar os presbíteros “contou
minuciosamente o que Deus fizera entre os gentios
por seu ministério” (v. 19). Ele sabiamente não os
ensinou, em vez disso, contou as coisas que Deus
havia feito por seu ministério. Quando' ouviram isso,
eles glorificaram a Deus (v. 20).
Mas, embora tenham dado glória a Deus pelo que
Ele tinha feito entre os gentios por meio do ministério
de Paulo, disseram-lhe: “Bem vês, irmão, quantas
dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e
todos são zelosos da lei”. O vocábulo traduzido por
dezena de milhares em grego é miríades. Essas
dezenas de milhares de judeus que creram eram
todos zelosos da lei.
A palavra em 21:20, de que dezenas de milhares
de judeus crentes eram zelosos da lei, indica como os
crentes judeus em Jerusalém ainda guardavam a lei
de Moisés, ainda permaneciam na dispensação do
Antigo Testamento e ainda estavam sob forte
influência judaica, misturando a economia
neotestamentária de Deus com a obsoleta economia
do Antigo Testamento.
Tiago dirigiu a sua epístola' “às doze tribos que se
encontram na Dispersão” (Tg 1:1), o que indica que
ela foi escrita para judeus cristãos. No entanto,
chamar esses crentes em Cristo de as doze tribos,
como o povo escolhido de Deus em Sua economia do
Antigo Testamento, pode indicar a falta de visão clara
com respeito à distinção entre cristãos e judeus, entre
a economia neotestamentária de Deus e a
dispensação do Antigo Testamento. Também pode
indicar que Tiago não percebeu que Deus, no Novo
Testamento, tinha libertado e separado os crentes
judeus em Cristo da nação judaica, então considerada
por Deus como “geração perversa” (At 2:40). Em Sua
economia neotestamentária, Deus não mais
considera os crentes judeus como judeus para o
judaísmo, e, sim, como cristãos para a igreja. Assim,
os crentes judeus, como a igreja de Deus, devem ser
tão distintos e separados dos judeus quanto dos
gentios (1Co 10:32). Contudo, Tiago, como coluna da
igreja (Gl 2:9), em sua Epístola aos cristãos, ainda os
chamou de as doze tribos. Isso era contrário à
economia neotestamentária de Deus.
Em sua Epístola, Tiago também usa o termo
sinagoga (Tg 2:2). O fato de usar esse termo pode
indicar que os crentes judeus consideravam a sua
assembléia e o seu local de reuniões como uma
sinagoga entre os judeus. O uso desse termo na
Epístola de Tiago pode indicar que os cristãos judeus
ainda se consideravam como parte da nação judaica,
como povo escolhido de Deus segundo o Antigo
Testamento e careciam de visão clara com respeito à
distinção entre o povo escolhido de Deus do Antigo
Testamento e os crentes em Cristo do Novo
Testamento.
Tiago 2:8-11 indica que os crentes judeus no seu
tempo ainda guardavam a lei do Antigo Testamento.
Esses versículos correspondem ao que Tiago e os
presbíteros de Jerusalém falaram a Paulo em Atos
21:20, com respeito ao zelo que os milhares de judeus
que creram tinham pela lei. Tiago, os presbíteros de
Jerusalém e muitos milhares de crentes judeus ainda
permaneciam numa mistura entre a fé cristã e a lei
mosaica. Eles até mesmo aconselharam Paulo a
praticar essa mistura semijudaica (21:20-26). Não
estavam cientes de que a dispensação da lei passara
totalmente e a dispensação da graça devia ser
totalmente honrada, e desconsiderar a distinção entre
essas duas dispensações seria contrário ao plano
econômico de Deus de edificar a igreja como a
expressão de Cristo.
Em Atos 21 vemos que Tiago e os presbíteros de
Jerusalém tinham formado uma mistura da economia
neotestamentária de Deus com a velha dispensação.
Na verdade, ele e os presbíteros até mesmo
promoviam essa mistura. Naturalmente, não
negligenciaram a fé em Cristo, mas ainda eram
zelosos pelo Antigo Testamento. Como resultado,
havia uma mistura religiosa em Jerusalém. Todos
precisamos entender bem isso.

Paulo É Acusado de Apostasia


Referindo-se às dezenas de milhares de judeus
que creram e eram zelosos da lei, Tiago ainda disse a
Paulo: “E foram informados a teu respeito que
ensinas todos os judeus entre os gentios a
apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem
circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes
da lei” (v. 21). Abandonar a lei de Moisés, não
circuncidar-se e não andar segundo os costumes das
letras mortas estão, na verdade de acordo com a
economia neotestamentária de Deus. Mas essas
coisas eram consideradas pelos judeus incrédulos, e
até mesmo pelos judeus crentes em Cristo, como
apostasia da dispensação de Deus do Antigo
Testamento. Colocar de lado a economia de Deus do
Antigo Testamento certamente não é apostasia.
Antes, é parte da concretização da verdade. No
entanto, Tiago e os outros presbíteros usaram a
situação entre os milhares de crentes judeus em
Jerusalém para persuadir Paulo.
Esses crentes judeus foram informados
corretamente dos fatos a respeito de Paulo, mas
estavam errados em acusá-lo de apostasia. Na
Epístola aos Gálatas Paulo diz claramente que a lei foi
colocada de lado e ele estava morto para a lei:
“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a
fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo”
(GI2:19). Isso quer dizer que ele nada mais tinha a ver
com a lei. O fato de ele ter morrido para a lei significa
que a obrigação para com a lei, o relacionamento com
ela, teve fim. Assim, antes de vir a Jerusalém pela
última vez, em Atos 21, ele havia escrito claramente
aos Gálatas que estava morto para a lei e nada tinha a
ver com ela.
Os judeus estavam certos a respeito dos fatos,
mas distorceram os fatos ao acusar Paulo de ensinar
apostasia. Apostasia é heresia. O fato de Paulo
abandonar a lei não era nem apostasia nem heresia,
mas a prática da verdade da economia
neotestamentária de Deus. No entanto, os opositores
tomaram os fatos e os distorceram. Os nossos
opositores fazem o mesmo hoje.
Conforme 21:21, Paulo ensinava que
apostatassem de Moisés, dizendo aos judeus que não
circuncidassem os filhos nem andassem segundo os
costumes. Creio que ele ensinou de fato que não havia
mais necessidade de se praticar a circuncisão. Mas,
como já mostramos, ele circuncidou Timóteo (16:1-3).
Assim, a crítica dos seus opositores não era justa.
Os judeus também reclamavam que Paulo
ensinava as pessoas a não andar segundo os
costumes. Nessa questão eles estavam corretos. No
entanto, as notícias que chegaram a Jerusalém com
respeito ao ministério de Paulo eram apenas
parcialmente verdadeiras. A situação é a mesma
conosco hoje.

A Exigência de que Paulo Fosse Purificado


com os que Tinham Voto
Em 21:22-23a Tiago e os presbíteros disseram a
Paulo: “Que se há de fazer, pois? Certamente saberão
da tua chegada. Faze, portanto, o que te vamos dizer”.
Literalmente o vocábulo grego traduzido por o que
significa isso que. No versículo 23 Tiago e os
presbíteros não propuseram algo a Paulo, antes, eles
o exigiram dele, dizendo-lhe que fizesse o que lhe
diziam.
Tiago e os presbíteros prosseguiram: “Estão
entre nós quatro homens que, voluntariamente,
aceitaram voto; toma-os, purifica-te com eles e faze a
despesa necessária para que raspem a cabeça; e
saberão todos que não é verdade o que se diz a teu
respeito; e que, pelo contrário, andas também, tu
mesmo, guardando a lei” (v. 23b e 24). O voto
mencionado no versículo 23 era o voto de nazireu
(Nm 6:2-5). Para Paulo, ser purificado com os
nazireus era tomar-se nazireu com eles, unindo-se a
eles no cumprimento do seu voto. A palavra
puramente é usada na Septuaginta 10 em Números
6:3 ao descrever as obrigações do nazireu. Fazer o
voto do nazireado era uma purificação perante Deus.
Além de dizer a Paulo que se purificasse com os
quatro que tinham voto, disseram-lhe que pagasse as
despesas a fim de que eles pudessem raspar a cabeça.
Pagar as despesas deles se referia ao custo das
ofertas, que um nazireu tinha de pagar para a
completação da sua purificação (Nm 6:13-17). Saía
bem caro para os nazireus pobres. Era costume entre
os judeus, e considerado prova de grande piedade,
que um rico pagasse pelos pobres as despesas das
ofertas.
Raspar a cabeça devia ser feito na completação
do voto do nazireado (Nm 6:18). Esse raspar é
diferente do raspar em Atos 18:18, que visava a um
voto particular. Já enfatizamos que esse voto em
18:18 era um voto particular feito em qualquer lugar
pelos judeus em ação de graças, raspando-se a
cabeça. Diferia do voto de nazireado, o qual precisava
ser realizado em Jerusalém passando-se a navalha na
cabeça. Em Atos 18 Paulo fez um voto particular, e
parece que Deus o tolerou, provavelmente porque,
sendo particular não precisava ser realizado em
Jerusalém, e não teria tido muito efeito nos crentes.
Atos 21:26 diz: “Então, Paulo, tomando aqueles
homens, no dia seguinte, tendo-se purificado com
eles, entrou no templo, acertando o cumprimento dos
dias da purificação, até que se fizesse a oferta em
favor de cada um deles”. Aqui vemos que ele
participou do voto de nazireado deles. Para fazer isso,
ele tinha de entrar no templo e permanecer lá com os
10
Septuaginta: versão grega do Antigo Testamento. (N.T.)
nazireus até a completação dos sete dias do voto;
então o sacerdote faria as ofertas em favor de cada um
deles, inclusive por ele. Certamente ele tinha clareza
de que tal prática era da dispensação já ultrapassada,
que, segundo o princípio do seu ensinamento no
ministério do Novo Testamento, deveria ser
repudiada na economia neotestamentária de Deus.
Contudo, ele passou por isso, provavelmente por
causa dos seus antecedentes judaicos, que também
haviam-se manifestado anteriormente no voto
particular que fizera em 18:18, e provavelmente por
estar ele praticando o que disse em 1 Coríntios 9:20.
Entretanto, a tolerância dele pôs em risco a economia
neotestamentária de Deus; isso Deus não toleraria.
Como veremos, bem na hora em que o voto dele ia ser
concluído, Deus permitiu que se levantasse um
tumulto contra ele, e o que pretendiam realizar
fracassou (v. 27).

Como Deus Resolveu o Problema da Mistura


em Jerusalém
A mistura das práticas judaicas com a economia
neotestamentária de Deus não era apenas errônea em
relação à dispensação de Deus, mas também
abominável aos Seus olhos. Ele pôs fim a essa mistura
grosseira cerca de dez anos depois com a destruição
de Jerusalém e do templo, o centro do judaísmo, por
meio de Tito e o exército romano. Isso resgatou e
absolutamente separou a igreja da devastação do
judaísmo.
Deus podia ter tolerado o voto particular de
Paulo em 18:18, mas não permitiria que ele, um vaso
escolhido não somente para a completação da Sua
revelação neotestamentária (Cl 1:25) mas também
para levar a cabo a Sua economia neotestamentária
(Ef 3:2, 7-8), participasse do voto do nazireado,
prática judaica muito séria. Ao ir para Jerusalém, a
intenção de Paulo pode ter sido a de clarificar a
influência judaica na igreja ali, mas Deus sabia que a
situação ali era incurável. Por isso, na Sua soberania,
Ele permitiu que Paulo fosse agarrado pelos judeus e
aprisionado pelos romanos, para que escrevesse as
suas últimas oito Epístolas, que completaram a
revelação divina (Cl 1:25) e deram à igreja uma visão
mais clara e profunda da economia neotestamentária
de Deus (Ef 3:3-4). Assim, Deus deixou que a igreja
em Jerusalém, influenciada pelo judaísmo,
permanecesse como estava até que a mistura
devastadora teve fim com a destruição de Jerusalém.
Era muito mais importante e necessário que Paulo
escrevesse as suas oito Epístolas para completar a
revelação neotestamentária de Deus do que realizar
algumas obras exteriores pela igreja.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E SETE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (23)

Leitura Bíblica: At 21:18-26


Nesta mensagem continuaremos a considerar a
situação de Paulo em 21:18-26.

PURIFICADO COM OS NAZIREUS


Vimos que, por um lado, Tiago e todos os
presbíteros glorificaram a Deus quando ouviram as
coisas que Deus tinha feito entre os gentios por meio
do ministério de Paulo (vs. 1820a). Por outro lado,
disseram a Paulo que em Jerusalém milhares de
judeus criam e eram zelosos da lei (v. 20). Ademais,
esses judeus crentes haviam sido informados a
respeito de Paulo, que ele ensinava “apostatarem de
Moisés, dizendo-lhes que não devem circuncidar os
filhos, nem andar segundo os costumes da lei” (v. 21).
Tiago e os presbíteros prosseguiram fazendo a
seguinte exigência a Paulo: “Estão entre nós quatro
homens que, voluntariamente, aceitaram voto;
toma-os, purifica-te com eles e faze a despesa
necessária para que raspem a cabeça; e saberão todos
que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que,
pelo contrário, andas também, tu mesmo, guardando
a lei” (vs. 23-24). Como vimos, o voto mencionado
aqui é o voto de nazireado (Nm 6:2-5). Ser purificado
com os nazireus era tornar-se nazireu com eles,
unindo-se a eles em seu voto.
De acordo com o versículo 24, disseram a Paulo
que se purificasse com os quatro homens que
aceitaram voto e pagasse as suas despesas. A primeira
coisa que um nazireu deveria fazer era purificar-se na
presença de Deus. Segundo o costume da época, os
ricos freqüentemente pagavam as despesas das
ofertas necessárias para um nazireu completar a sua
purificação. Às vezes os nazireus pobres não tinham
condições de pagar todas as ofertas. Assim,
necessitavam de alguém que os ajudasse nas
despesas. Os que os ajudavam dessa forma uniam-se
a eles.
Em Atos 21, o fato de Paulo ser purificado junto
com os nazireus e pagar as despesas deles era unir-se
a eles, de forma que os quatro se tornariam cinco. Nas
palavras de Tiago e dos presbíteros de Jerusalém, se
ele se purificasse com os nazireus e lhes pagasse as
despesas, todos os judeus crentes saberiam que ele
também andava guardando a lei. Mas estava Paulo
guardando a lei? Certamente não. No entanto, Tiago e
os presbíteros lhe disseram que se unisse aos quatro
nazireus para que os crentes judeus vissem que ele a
guardava. Era uma exigência séria, terrível e errada,
feita por Tiago e os presbíteros.
Em 21:25 Tiago e os presbíteros disseram a
Paulo: “Quanto aos gentios que creram, já lhes
transmitimos decisões para que se abstenham das
coisas sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de
animais sufocados e das relações sexuais ilícitas”. A
palavra deles aqui tem o mesmo tom velho do
capítulo quinze.
Atos 21:26 diz: “Então, Paulo, tomando aqueles
homens, no dia seguinte, tendo-se purificado com
eles, entrou no templo, acertando o cumprimento dos
dias da purificação, até que se fizesse a oferta em
favor de cada um deles”. O cumprimento mencionado
aqui é o do voto do nazireado (Nm 6:13).
Gostaria de chamar sua atenção para as palavras
tendo-se purificado. Aqui vemos que Paulo já se tinha
purificado com os quatro nazireus. Ele então os
tomou e entrando no templo aguardava com eles pela
oferta a ser feita em favor de cada um deles. Essa
espera está indicada pela palavra até. Tendo-se
purificado com os quatro, ele esperava no templo com
eles que o sacerdote viesse no fim do cumprimento do
sétimo dia para oferecer sacrifícios por todos eles,
inclusive por Paulo.

A CONCESSÃO DE PAULO E A SUA


LIBERTAÇÃO
É muito difícil crer que Paulo se tenha
purificado, entrado no templo e esperado que o
sacerdote fizesse as ofertas. Ele o fez depois de
escrever as Epístolas aos Gálatas e aos Romanos,
livros escritos pouco antes de ele ir a Jerusalém.
Embora seja difícil acreditar que ele tenha cumprido
as palavras de Tiago e dos presbíteros, é fato que ele
se juntou aos nazireus e entrou com eles no templo.
Como veremos em mensagem posterior, houve
um alvoroço contra Paulo (21:27-23:15), e ele foi
agarrado pelos judeus em Jerusalém (21:27-30). Com
respeito a isso lemos em 21:27-28: “Quando já
estavam por findar os sete dias, os judeus vindos da
Ásia, tendo visto Paulo no templo, alvoroçaram todo
o povo e o agarraram, gritando: Israelitas, socorro!
Este é o homem que por toda parte ensina todos a
serem contra o povo, contra a lei e contra este lugar;
ainda mais, introduziu até gregos no templo e
profanou este recinto sagrado”. Esse alvoroço
aconteceu “quando já estavam por findar os sete
dias”, isto é, no sétimo dia. Humanamente falando, a
intenção de Paulo ao ir ao templo era evitar
problemas. Na verdade, a sua ida ao templo com os
quatro nazireus causou-lhe muitos problemas.
Suponha que ele tivesse decidido não ir ao
templo, mas simplesmente ficar com os irmãos na
casa de Mnasom, onde ele e seus companheiros
deveriam hospedar-se em Jerusalém. Suponha ainda
que ele tivesse dito aos irmãos: “Eu não me importo
com o templo, porque Deus já não se importa com
ele. Irmãos, o Senhor Jesus não nos disse que Deus
abandonou o templo? Estou praticando a palavra do
Senhor no nosso caso. O sacerdócio e todos os
sacrifícios também já passaram. Assim, não posso
voltar ao templo para participar das ofertas e do
sacerdócio. Irmãos, eu gostaria de ficar aqui para ter
comunhão com vocês”. Não teria sido bem diferente a
situação se ele tivesse decidido não ir ao templo e, em
vez disso, tivesse passado o tempo em comunhão com
os irmãos? Por certo a situação teria sido bem
diferente.
No capítulo vinte e um de Atos, Paulo estava
fazendo transigências. Ele era o autor das Epístolas
aos Gálatas e aos Romanos, no entanto, pouco depois
que elas foram escritas, ele deu o passo descrito nesse
capítulo. Ter dado esse passo foi uma grande
transigência da parte dele.
Conforme 21:26-27, Paulo estava no templo
esperando pelo cumprimento dos dias da purificação.
Ele devia permanecer no templo até que o sacerdote
viesse fazer as ofertas por ele e pelos quatro outros.
Como é que ele agüentou ficar no templo esse tempo?
Você acha que ele' estava feliz? acha que estava cheio
de alegria louvando o Senhor? Ele pôde louvar ao
Senhor na prisão em Filipos (16:23-25). Mas você
acha que ele conseguia louvar o Senhor ali no templo
em Jerusalém? Aparentemente o templo era um lugar
muito melhor do que a prisão. No entanto, aquela
prisão em Filipos, na verdade, tornou-se um lugar
santo, até mesmo os céus, para ele, enquanto o
templo em Jerusalém era uma prisão.
Verdadeiramente, ele havia sido aprisionado ali no
templo, incapaz de se libertar. Nessa situação ele
tinha caído numa armadilha.
Embora Paulo tivesse sido aprisionado no
templo, o Senhor tinha como libertá-lo dessa prisão.
O Senhor usou os judeus para realizar essa libertação.
Em especial, usou o tumulto causado pelos judeus
para tirar Paulo do templo. Por um lado, Paulo agora
estava em dificuldade maior, por outro, foi liberto,
não apenas do templo, como também da mistura
existente em Jerusalém e condenada por Deus: a
mistura da graça do Novo Testamento com a lei do
Antigo Testamento. Em Sua soberania o Senhor
protegeu o Seu fiel servo dessa terrível mistura.

A DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM
Já ressaltamos que Paulo foi a Jerusalém pela
última vez, não apenas para levar a cabo a sua
preocupação amorosa pela necessidade dos santos
pobres de lá, mas também para ter comunhão com
Tiago e os demais apóstolos e presbíteros em
Jerusalém com respeito à influência judaica sobre a
Igreja ali. A decisão tomada pela conferência dos
apóstolos e presbíteros em Atos 15 para resolver o
problema da circuncisão não lhe era plenamente
satisfatória. Assim, ao ir a Jerusalém, ele pode ter
tido a intenção de limpar a influência judaica sobre a
igreja nessa cidade. Contudo, Deus tinha a Sua
própria maneira de lidar com a situação. Em Sua
soberania Ele permitiu que Paulo fosse agarrado
pelos judeus e aprisionado pelos romanos. Então
permitiu que a terrível mistura da graça com a lei, em
Jerusalém, permanecesse até que a cidade fosse
destruída por Tito com o exército romano em 70 d.C.
Essa mistura foi extinta aproximadamente dez anos
depois dos acontecimentos registrados em Atos 21.
No Evangelho de Mateus o Senhor Jesus
profetizou que Jerusalém seria destruída. Por
exemplo, na parábola de Mateus 21:33-46 com
respeito à transferência do reino de Deus, o Senhor
retratou os líderes dos israelitas como lavradores
maus (vs. 33-35, 38-41), indicando que Deus iria
destruir horrivelmente esses malvados e arrendar a
vinha a outros lavradores, que Lhe entregariam os
frutos nos seus devidos tempos. Essa palavra com
respeito à destruição foi cumprida quando Tito
destruiu Jerusalém. O Senhor também predisse a
destruição de Jerusalém na parábola de Mateus
22:1-14. Em Mateus 22:7 Ele diz: “O rei ficou irado e,
enviando os seus exércitos, destruiu aqueles
assassinos e lhes incendiou a cidade”. Esses
“exércitos” eram os soldados romanos sob comando
de Tito que destruíram Jerusalém.
Em Mateus 23:37-39 vemos o Senhor
abandonando Jerusalém com o templo. Quanto à
destruição vindoura do templo o Senhor disse aos
Seus discípulos: “Não vedes tudo isto? Em verdade
vos digo: De modo nenhum ficará aqui pedra sobre
pedra que não seja derrubada” (Mt 24:2). Isso
também foi cumprido quando Tito destruiu a cidade.
De acordo com a descrição de Josefo, a destruição de
Jerusalém e do templo foi completa e absoluta.
Milhares de judeus foram mortos, talvez também
muitos crentes judeus. Em sua ira Deus não apenas
destruiu a nação rebelde de Israel, como também pôs
fim ao judaísmo e à mistura de judaísmo e
cristianismo. Quando Jerusalém foi destruída, a fonte
do “veneno” que dali fluía também teve fim. Assim, o
Senhor tinha a Sua maneira maravilhosa de lidar com
a situação em Jerusalém.

O SENHOR SOBERANAMENTE LIVRA


PAULO E O TRANSFERE
O Senhor sabia o que estava no coração de Paulo.
Ele também sabia que Paulo era fiel, mas incapaz de
mudar a situação. Em vez de mudá-la, Paulo caiu na
armadilha sendo transigente. Mas o Senhor usou o
tumulto descrito em 21:2723:15 para resgatar Paulo.
Os judeus o agarraram e procuravam matá-lo
(21:30-31). Mas o comandante da força romana
interveio, apoderou-se dele, ordenou que fosse
amarrado com correntes e inquiriu a respeito da
situação (21:31-33). Não era a intenção do
comandante proteger Paulo; ele estava simplesmente
cumprindo a sua obrigação de manter a ordem na
cidade. Ele não podia permitir que esse tumulto
continuasse. Assim, ele interveio e, por meio da sua
intervenção, Paulo foi resgatado. Na verdade, a
intervenção do comandante foi uma proteção para
Paulo da conspiração dos judeus.
Por meio da intervenção do comandante romano
Paulo obteve a oportunidade de defender-se diante
dos judeus alvoroçados (21:40-22:21). Depois disso
ele foi amarrado pelos romanos (22:22-29) e se
defendeu diante do Sinédrio (22:30-23:10). Devido à
conspiração dos judeus (23:1215), ele foi transferido
para o governador romano em Cesaréia
(23:16-24:27), onde permaneceu sob custódia por
muito tempo. Se não fosse a soberania de Deus em
usar o comandante romano para protegê-lo, ele teria
sido morto. Deus soberanamente o livrou daquela
situação ameaçadora.
Em Sua soberania o Senhor fez com que Paulo
tivesse uma transferência dispensacional. Paulo
queria essa transferência. Ele tinha vindo a Jerusalém
com a intenção positiva e com o firme propósito de
ajudar os crentes ali a experimentar essa
transferência dispensacional. Mas, em vez de
ajudá-los, ele mesmo, por fim, caiu numa armadilha,
numa situação de mistura e transigência.
Paulo devia estar descontente enquanto estava
no templo com os quatro nazireus, pois não tinha
como sair da situação. Ele devia estar muito pesaroso
por ter-se unido aos que tinham feito o voto de
nazireu. Ele deve ter lamentado ter ido ao templo em
vez de permanecer na casa de Mnasom com os seus
cooperadores, mantendo-se fora da atenção dos
judeus. No entanto, ele se uniu aos nazireus e foi com
eles ao templo, onde foi visto pelos judeus da Ásia e
apanhado por eles. A intenção deles era matá-lo.
Quem, além do Senhor, poderia intervir na situação?
O Senhor foi soberano e o ajudou a ter uma
transferência completa da mistura judaica em
Jerusalém.
Como resultado do que aconteceu em Jerusalém,
Paulo foi levado a Cesaréia e provavelmente mantido
lá por dois anos. Podemos inferir que esses dois anos
tenham sido um tempo proveitoso e excelente para
ele. Que você acha que ele fez nesses anos em
Cesaréia? Que fez ele afastado tanto da sua obra como
do problema causado pelos judeus em conspiração?
Talvez se preparasse para escrever os livros cruciais
de Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus.
Enquanto estava sob custódia em Cesaréia, ele pode
ter considerado como escrever esse material que
completaria o seu ministério. Até esse momento ele
só havia escrito seis de suas catorze Epístolas:
Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios, e 1 e 2
Tessalonicenses. Embora sejam básicos, esses livros
não são tão cruciais como Efésios, Filipenses,
Colossenses e Hebreus. Esses quatro livros cruciais
foram escritos antes de 1 e 2 Timóteo, Tito e
Filemom e depois da custódia em Cesaréia. Assim
como o tempo de Paulo na Arábia teve muito a ver
com a primeira parte do seu ministério, os dois anos
em Cesaréia tiveram muito a ver com os seus escritos
seguintes na completação do seu ministério.
Precisamos ser impressionados com a soberania
do Senhor em completar a transferência de Paulo da
velha dispensação para a nova. Louvado seja o
Senhor que isso aconteceu! Em Sua soberania e
sabedoria o Senhor levou a cabo essa transferência
completa em Paulo, a qual está totalmente registrada
na Bíblia. Tendo esse registro em nossas mãos,
podemos agora ver um modelo completo com
respeito à transferência plena da economia do Antigo
Testamento para a economia neotestamentária de
Deus.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E OITO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (24)

Leitura Bíblica: At 21:18-39

UM RESUMO DA REVELAÇÃO NA BÍBLIA


A Bíblia revela que Deus tinha um plano eterno e
esse plano por fim se tornou a Sua economia. O plano
de Deus é ter um grupo de seres humanos
regenerados com a vida divina, tornando-se os Seus
filhos e membros de Cristo, para que o Deus Triúno
em Cristo tenha um Corpo por meio do qual Se
expresse.
O plano de Deus é levado a cabo por meio da
encarnação, viver humano e morte todo-inclusiva de
Cristo para pôr fim à velha criação, a fim de fazer os
Seus escolhidos germinar em ressurreição. Em Sua
ressurreição, Cristo se tornou o Espírito que dá vida
(1Co 15:45) para Se propagar como o Deus Triúno
processado a fim de produzir o Corpo. Depois da
ressurreição Cristo ascendeu aos céus e ali foi feito
Senhor e Cristo (At 2:36). Em ressurreição Ele já Se
tinha insuflado em Seus escolhidos essencialmente
como o Espírito (Jo 20:22). Então em ascensão Ele Se
derramou economicamente sobre eles como o
Espírito todo-inclusivo consumado. Assim, tudo foi
cumprido e realizado: encarnação, viver humano,
morte todo-inclusiva, ressurreição que dá vida e que
se propaga, fôlego essencial do Espírito que dá vida,
ascensão e derramamento econômico do Espírito
consumado. Como tudo isso foi realizado, a igreja foi
produzida.
Antes de Cristo ter passado pelos processos para
cumprir o plano de Deus, os itens relacionados com
ele foram colocados no Antigo Testamento na forma
de promessas, profecias, tipos, figuras e sombras.
Então, na plenitude dos tempos, o Deus Triúno no
Filho se tornou um homem (Gl 4:4). Em Sua
humanidade Ele passou pelos processos de viver
humano, crucificação, ressurreição e ascensão
realizando tudo para o cumprimento do plano de
Deus. Tendo-se tornado o Espírito todo-inclusivo, Ele
agora entra nos escolhidos de Deus para aplicar neles
tudo o que o Deus Triúno realizou no Filho. Dessa
forma, o povo de Deus se torna testemunhas vivas do
Cristo encarnado, crucificado, ressurreto e ascendido
(At 1:8).
Como pessoas que têm o Espírito todo-inclusivo
em si, que devemos fazer? Devemos simplesmente ser
testemunhas vivas, contendo, levando e transmitindo
o Cristo encarnado, crucificado, ressurreto e
ascendido, para que Ele Se propague por toda a terra
para o cumprimento da economia divina. Esse é um
breve resumo de toda a revelação do Novo
Testamento.

A SITUAÇÃO DE MISTURA EM JERUSALÉM


Desde que Cristo veio e passou pelos processos
de encarnação, viver humano, crucificação,
ressurreição e ascensão, insuflou o Espírito nos
escolhidos de Deus essencialmente e derramou sobre
eles o Espírito economicamente, muitas promessas,
profecias, tipos, figuras e sombras do Antigo
Testamento relacionadas com isso estão agora
obsoletas. O povo de Deus não se deve agarrar a elas.
Entretanto, o judaísmo degradado, como religião,
continua preso a essas coisas que se tornaram
obsoletas.
Entre os membros no judaísmo degradado e os
crentes havia a situação de mistura em Jerusalém. Ali
estava o primeiro grupo de vasos escolhidos por Deus
para conter Cristo. Esse grupo incluía os apóstolos,
entre os quais Pedro era o líder e Tiago, o mais
influente. De acordo com Atos 21, com esses
apóstolos havia dezenas de milhares de judeus que
criam em Cristo (v. 20). Embora tivessem se tornado
crentes em Cristo, eles ainda eram muitíssimo
influenciados por seus antecedentes judaicos. Devido
a essa influência era-lhes impossível abandonar os
seus antecedentes e desistir da atmosfera que
prevalecia em Jerusalém.
Os crentes judeus em Jerusalém insistiam em ter
tanto a fé em Cristo como também as coisas velhas do
Antigo Testamento. Queriam conciliar essas duas
coisas. De acordo com o meu estudo do Novo
Testamento, eu diria que Tiago foi o líder dessa
tendência. Parece que ele foi o primeiro a dizer: “Não
há a necessidade de brigar. Podemos manter a nossa
fé em Cristo e ao mesmo tempo também guardar as
leis, costumes e práticas do Antigo Testamento.
Podemos continuar praticando a circuncisão”.
Ao não querer brigar nem ofender os outros,
Tiago pode ter tido ótima intenção. Talvez tenha tido
um bom coração ao querer mesclar a dispensação do
Antigo Testamento com a fé em Cristo. Também
precisamos perceber que ele tinha um coração
alargado. Isso é indicado pelo fato de que ele não
propôs que os crentes gentios fossem circuncidados.
Considere a solução que ele propôs aos problemas
com respeito à circuncisão no curso da comunhão
registrada em Atos 15: “Pelo que, julgo eu, não
devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se
convertem a Deus, mas escrever-lhes que se
abstenham das contaminações dos ídolos, bem como
das relações sexuais ilícitas, da carne de animais
sufocados e do sangue. Porque Moisés tem, em cada
cidade, desde tempos antigos, os que o pregam nas
sinagogas, onde é lido todos os sábados” (vs. 19-21).
Ele deixou claro que não havia necessidade de que os
gentios se circuncidassem ou guardassem a lei.
Apenas exigiu que se abstivessem da adoração a
ídolos, fornicação, coisas sufocadas e sangue.
Tiago, no entanto, continuava achando que seria
melhor se os crentes judeus praticassem as coisas do
Antigo Testamento e guardassem a lei. Ele parecia
dizer: “Os gentios não precisam guardar a lei nem ser
circuncidados, mas os judeus devem praticar os dois.
Precisamos praticar o viver idêntico ao dos nossos
antepassados no Antigo Testamento. Naturalmente
agora temos fé em Cristo, assim, vamos guardar tanto
as coisas do Antigo Testamento como a nossa fé em
Cristo”. Creio que esse era o conceito de Tiago.

UMA VISÃO CLARA DO CORPO


Se o conceito de Tiago fosse amplamente aceito
na Ásia Menor e Europa, como poderia haver um
Corpo para Cristo de forma prática? Será que haveria
dois tipos de igrejas: uma judaica para os crentes
judeus e uma gentia para os crentes gentios? Isso é
totalmente impossível.
Com respeito ao Corpo, Paulo teve uma visão
clara. Ele falou de um Corpo em Romanos 12:5, e em
1 Coríntios 12:13 ele disse: “Pois, em um só Espírito,
todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus,
quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós
foi dado beber de um só Espírito”. Ademais, em
Gálatas 3:27-28 ele disse: “Porque todos quantos
fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes.
Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem
escravo nem liberto; nem homem nem mulher;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Embora
tivesse uma visão clara, essa visão ainda não fora
apresentada de maneira plena em suas primeiras seis
Epístolas (Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios e 1 e 2
Tessalonicenses). Sem dúvida ele estava aguardando
uma ocasião para escrever sobre a visão que ele
tivera.

O SENHOR RESGATA PAULO POR MEIO DA


SUA SOBERANIA
Quando Paulo viu a situação de mistura em
Jerusalém, deve ter ganho um pesado encargo por
ela. Talvez quando Tiago fez a sua apresentação em
Atos 21 com respeito às dezenas de milhares de
judeus que creram e eram zelosos da lei, e com
respeito a Paulo unir-se aos que tinham feito voto do
nazireado, Paulo tenha hesitado, pensando o que iria
fazer. Talvez tenha pensado: “Humanamente falando,
devo simplesmente fazer o que Tiago diz. Depois de
passar por esse momento crítico, poderei ter outra
oportunidade de ajustar ou clarificar a situação em
Jerusalém”. Esse pode ter sido o pensamento de
Paulo ao aceitar a proposta de Tiago (21:23-26).
O Senhor, no entanto, não permitiu que ele
completasse os dias da purificação. Paulo, um vaso
escolhido, era alguém singular usado por Deus para
levar a cabo a Sua economia neotestamentária. Como
Deus poderia deixar tal pessoa completar os dias da
purificação, que envolviam o templo, o sacerdócio e a
oferta de sacrifícios de animais com o derramamento
de sangue? Tudo isso teve fim com a economia
neotestamentária de Deus. O Senhor não podia
tolerar isso. Portanto, quase no último minuto, no
momento em que o voto de Paulo iria se completar, o
Senhor entrou em cena, e houve grande tumulto. Foi
o Senhor que exerceu a Sua soberania com respeito a
Paulo, a fim de resgatá-lo desse dilema.
Em Atos 21 Paulo corria perigo de ser morto, e
ele certamente devia estar com medo disso. Se o
comandante romano não tivesse interferido naquele
momento, Paulo certamente teria sido morto. Mas a
mão soberana do Senhor controlou tudo para
resgatá-lo daquela situação e preservar a sua vida.
Mais tarde, depois que se defendeu diante dos judeus
revoltosos (21:40-22:21), Paulo foi amarrado pelos
romanos (22:22-29) e se defendeu diante do Sinédrio
(22:30-23:10), ele foi encorajado pelo Senhor. De
acordo com 23:11 “o Senhor, pondo-se ao lado dele,
disse: Coragem! Pois do modo por que deste
testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim
importa que também o faças em Roma”. Esse foi um
grande encorajamento para ele e lhe assegurou que
não seria morto pelos judeus. Todos precisamos ter
uma visão clara da situação de Paulo nesse trecho de
Atos.

A NECESSIDADE DE VER A ECONOMIA DE


DEUS E TER UMA TRANSFERÊNCIA DE
DISPENSAÇÃO
Nesse momento precisamos prosseguir e
considerar a situação atual. Como um todo, o
cristianismo não é um testemunho do Cristo
encarnado, crucificado, ressurreto e ascendido, pois
há nele muita mistura, não apenas do elemento do
judaísmo mas também de muitos outros. A mistura
chegou a tal ponto que entre os milhões de cristãos,
poucos sabem o que é a economia divina. Na sua
maioria, os cristãos fundamentalistas conhecem a
redenção de Cristo de maneira bem superficial.
Ademais, ensinam ética e moral a fim de glorificar a
Deus. Quem entre os seus amigos cristãos conhece a
economia de Deus de propagar o Cristo ressurreto e
infundi-Lo nos crentes, para que sejam membros
vivos que formam o Corpo de Cristo nesta era, a fim
de expressar o Deus Triúno? Onde é possível achar
crentes que conheçam isso?
Como a maioria dos cristãos hoje não teve a visão
com respeito à economia neotestamentária de Deus
na Palavra, eu tenho encargo neste Estudo-Vida de
Atos de enfatizá-la. Não é meu encargo tocar os
muitos pontos secundários nesse livro. Por exemplo,
alguém me perguntou por que em Atos 18:18 e 26
Priscila é mencionada antes de Áqüila mas em 1
Coríntios 16:19 Áqüila é mencionado primeiro e
depois Priscila. Simplesmente não tenho motivação
para abordar esses tópicos menores. No meu coração
há a preocupação pela questão da transferência de
dispensação. Enquanto estudamos o livro de Atos
precisamos aprender a dizer: “Senhor, precisamos de
uma grande transferência, uma transferência de
dispensação. Precisamos ser transferidos do
judaísmo degradado, do catolicismo e do
protestantismo para a economia neotestamentária de
Deus. Precisamos de uma transferência de todas as
coisas religiosas para a pura revelação da economia
de Deus”.
Precisamos ver que a intenção de Deus é
propagar o Cristo ressurreto infundindo-O em nós, a
fim de que nos tornemos os Seus membros vivos
saturados Dele e tendo-O constituído em nós, a fim
de que Cristo tenha um Corpo na terra que O
expresse. Então Ele introduzirá o Seu reino e depois
disso haverá a consumação final e máxima da
economia neotestamentária de Deus. A nossa
necessidade é ver isso e ter uma transferência de
dispensação, para que estejamos nela de maneira
prática.
Nestas mensagens, meu encargo não é apenas
ensinar a Bíblia, antes, é apresentar o que o Senhor,
em Sua misericórdia, nos mostrou na Palavra com
respeito à economia neotestamentária de Deus. Se
tivermos essa visão, não nos preocuparemos com
oposição ou com ataque. Os que se opõem à
restauração do Senhor não têm a visão com respeito à
economia neotestamentária de Deus. Não podemos
negar que a temos, e o nosso testemunho a esse
respeito está se tornando cada vez mais forte. Que em
nossa leitura de Atos dediquemos toda a atenção e
concentremos todo o nosso ser na visão da economia
neotestamentária de Deus.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E NOVE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (25)

Leitura Bíblica: At 21:18-39; Mt 17:1-8; Hb 1:1-3;


2:14; 3:1; 8:6; 9:15; Ef 1:17-23; 2:14-16; 3:8, 17-21;
4:4-6, 24; 5:18; 6:11; Fp 3:4-14; Cl 1:12, 15, 18; 2:2, 9,
16-17; 3:4, 10-11; Ap 2:7, 17; 3:5, 20
Antes de prosseguir neste Estudo-Vida para
outra seção do livro de Atos, gostaria de falar um
pouco mais sobre a necessidade da transferência de
dispensação, da economia do Antigo Testamento para
a economia de Deus do Novo Testamento.

O DESAPARECIMENT{) DA ECONOMIA DO
ANTIGO TESTAMENTO
Com respeito à transferência de dispensação,
vamos considerar o caso de Pedro. No monte da
transfiguração ele tomou a liderança em propor ao
Senhor construir três tabernáculos, um para Moisés,
um para Elias e um para o Senhor Jesus (Mt 17:4).
“Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os
cobriu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este
é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo; a Ele
ouvi” (v. 5). Quando os discípulos ouviram isso,
caíram com o rosto em terra. Quando levantaram os
olhos, “a ninguém viram, senão só a Jesus” (v. 8).
Moisés e Elias tinham desaparecido e apenas Jesus
permaneceu. Pedro tinha proposto manter Moisés e
Elias, isto é, a lei e os profetas, com Cristo, mas Deus
tirou Moisés e Elias, não deixando ninguém, “senão
só a Jesus”. Ninguém, exceto o próprio Jesus deve
permanecer no Novo Testamento. Ele é o Moisés de
hoje, infundindo a lei da vida nos crentes, e também o
Elias de hoje, falando por Deus e infundindo-O nos
crentes. Essa é a economia neotestamentária de Deus.
Em Mateus 17:1-8 temos uma revelação clara de
que com a vinda de Jesus, tanto Moisés como Elias
passaram. Moisés e Elias representam todo o Antigo
Testamento: Moisés representa a lei, e Elias os
profetas. De acordo com o costume judeu,
considerava-se que o Antigo Testamento tinha duas
partes principais: a lei e os profetas. Até mesmo os
Salmos eram considerados parte da lei. Assim, o fato
de Moisés e Elias terem passado indica que todo o
Antigo Testamento, consistindo na lei e nos profetas,
passou.
Pedro teve a visão no monte da transfiguração, e
mais tarde, na sua segunda Epístola, ele se referiu ao
que acontecera ali (1:16-18). Por que, então, ele não
disse nada a respeito dessa visão quando Tiago
insistia em manter a economia do Antigo Testamento
junto com a do Novo Testamento? Considero isso de
difícil entendimento. Será que em Atos 21 Pedro não
tinha nenhuma lembrança da visão que teve em
Mateus 17 e sobre a qual escreveu mais tarde em 2
Pedro 1?
Pedro certamente sabia do desaparecimento da
economia do Antigo Testamento. No monte da
transfiguração ele deve ter ficado impressionado com
isso. Ele ouviu a voz vinda da nuvem declarar: “Este é
o Meu Filho amado, em quem Me comprazo; a Ele
ouvi” (Mt 17:5). Também havia visto Moisés e Elias
juntamente com Jesus, e então viu que Moisés e Elias
desapareceram e Jesus permaneceu sozinho. Por que,
tendo ouvido essa palavra e tendo tido essa visão,
Pedro se calou em Atos 21? Por que ele não se
levantou e disse: “Irmão Tiago, deixe-me dizer-lhe o
que eu ouvi e vi no monte da transfiguração. Moisés e
Elias, a lei e os profetas, passaram. Não devemos
mais permanecer na economia do Antigo
Testamento, pois isso é contrário ao mover de Deus
em Sua economia neotestamentária”. No entanto,
Pedro se manteve em silêncio e não falou desse jeito
com Tiago em Atos 21. Da mesma forma, não há
indicação de que João, que estava com Pedro no
monte da transfiguração, tenha dito algo a Tiago a
esse respeito na ocasião. Nem Pedro nem João se
levantaram para testificar com respeito à visão que
tiveram e à ordem que receberam no monte da
transfiguração.

TRÊS ORDENS ENFÁTICAS


Em Mateus 28:19-20a o Cristo ressurreto disse
aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os no nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a observar
todas as coisas que vos tenho ordenado”. Nações se
refere aos gentios. Os discípulos foram encarregados
de fazer dos gentios discípulos, batizando-os no Deus
Triúno. A ordem do Senhor em Mateus 28:19 é
bastante enfática.
Conforme Marcos 16:15, o Senhor, depois da
ressurreição e antes da ascensão, ordenou aos onze,
dizendo: “Ide por todo o mundo e proclamai o
evangelho a toda a criação”. Nesse versículo, criação
denota principalmente diferentes povos, embora
inclua mais do que isso. Como em Mateus 28:19, aqui
o Senhor ordena aos discípulos que preguem o
evangelho a todos os povos, a todas as nações.
Depois da ressurreição e antes da ascensão, o
Senhor ainda falou aos discípulos dando a entender
que o evangelho deveria ser pregado a todas as
nações. Em Lucas 24:47 Ele lhes disse que “em Seu
nome se proclamasse arrependimento para perdão de
pecados a todas as nações, começando de Jerusalém”.
Se considerarmos essas três ordens, no fim de
Mateus, Marcos e Lucas, veremos como elas são
categóricas, definitivas, enfáticas e absolutas.

A SITUAÇÃO DE MISTURA EM JERUSALÉM


Com respeito à situação de mistura em
Jerusalém, Pedro e João permaneceram calados. Não
há registro de que tenham feito algo para diminuir
essa mistura, antes, de acordo com o relato de Lucas
em Atos, apenas Paulo levou o encargo da questão.
Parece que Pedro e João não estavam preocupados
com isso. Se tivessem essa preocupação, deveriam ter
falado a Tiago dizendo categoricamente: “Tiago, antes
de você ter sido salvo, nós ouvimos uma palavra e
tivemos uma visão sobre o término da economia da
Antigo Testamento”.
Segundo o registro do Novo Testamento, o Tiago
em Atos 21 era o irmão na carne do Senhor Jesus.
Juntamente com os outros irmãos do Senhor, ele foi
salvo logo após ou pouco antes da Sua ressurreição.
Assim, pode ser que ele estivesse presente quando
uma ou mais dessas ordens registradas no final de
Mateus, de Marcos e de Lucas foram dadas. Ele devia
saber que o Senhor ordenara aos discípulos que
pregassem o evangelho a todas as nações.
Por que será que os discípulos, incluindo Tiago,
aparentemente desconsideraram a palavra do Senhor
sobre pregar o evangelho a todas as nações e tiveram
tanta consideração pelo Antigo Testamento? Tanto a
revelação dada aos discípulos como a ordem do
Senhor eram claras, definitivas, enfáticas e absolutas.
Todos os discípulos, portanto, deviam ter clareza com
respeito à economia de Deus. Mas na situação
reinante em Jerusalém, nenhum deles se preocupou
com a ordem do Senhor. Em vez disso, eram
favoráveis a uma mistura da dispensação do Antigo
Testamento com a economia neotestamentária de
Deus.
Atos 21:19 diz que Paulo, depois de ter saudado
Tiago e todos os presbíteros “contou minuciosamente
o que Deus fizera entre os gentios por seu ministério”.
Ouvindo-o, deram eles glória a Deus (v. 20). Então
Tiago tomou a liderança em dizer a Paulo: “Bem vês,
irmão, quantas dezenas de milhares há entre os
judeus que creram, e todos são zelosos da lei” (v. 20).
Foi uma vergonha Tiago ter falado essa palavra. Se eu
fosse Pedro, ao ouvir aquilo, teria tido um profundo
sentimento de vergonha.
Nos primeiros capítulos de Atos, Pedro era
ousado. Ele e João eram firmes ao enfrentar a
oposição do Sinédrio. Todavia, nos capítulos quinze a
vinte e um, Pedro parece ter perdido a ousadia. De
acordo com a palavra de Paulo em Gálatas 2, Pedro
até mesmo usou de hipocrisia com respeito a essa
mistura. Quão lamentável era a situação em
Jerusalém em Atos 21! Todos precisamos ser
impressionados com o quadro dessa situação. Mas,
não devemos culpar Pedro, pois, em princípio,
estamos hoje na mesma situação.
É correto dizer que desde o tempo de Atos 15
Paulo estava profundamente angustiado em seu
espírito sobre a situação de Jerusalém. Devido ao seu
pesado encargo sobre isso, no trajeto da terceira
viagem ministerial, ele foi incapaz de esquecer
Jerusalém. Em 19:21 ele propôs em seu espírito ir até
lá. O objetivo dele não era apenas levar a cabo o
cuidado amoroso para com a necessidade dos santos
pobres de Jerusalém, mas também ter comunhão
com Tiago e os outros com respeito à mistura que lá
havia. Aparentemente, ele queria ir a Jerusalém para
levar ajuda financeira dos crentes gentios para os que
estavam na Judéia. Na verdade, no, espírito e no
coração dele estava a preocupação com a situação
terrível de Jerusalém, que era a origem do mover do
Senhor na terra. De acordo com o entendimento de
Paulo, essa fonte tinha sido poluída. Assim, ele não
teve paz para ir adiante com o mover do Senhor. Ele
sabia que, a despeito de quanta obra realizasse no
mundo gentio, a corrente poluída de Jerusalém iria
fluir ali. Percebendo isso, ele propôs em seu espírito
voltar à fonte, com a intenção de tentar limpar a
situação, livrar-se da poluição. Também era o seu
desejo prosseguir de lá para Roma e até mesmo para
a Espanha, para o avanço do evangelho, a fim de levar
a cabo a economia neotestamentária de Deus.

A INTOLERÂNCIA, SOBERANIA E
COMPAIXÃO DO SENHOR
Parece que quando Paulo foi a Jerusalém pela
última vez, ele não teve oportunidade de ajudar nas
questões de lá. Antes, a porta estava firmemente
fechada, e ele foi pressionado por Tiago e pelos
presbíteros a entrar numa situação muito difícil. Não
tendo saída, ele aceitou a proposta de ir ao templo
para ser purificado com os quatro homens que
tinham voto de nazireu. Contudo, como vimos, o
Senhor não tolerou isso.
Em 21:23-24 Tiago disse a Paulo: “Estão entre
nós quatro homens que, voluntariamente, aceitaram
voto; toma-os, purifica-te com eles e faze a despesa
necessária para que raspem a cabeça; e saberão todos
que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que,
pelo contrário, andas também, tu mesmo, guardando
a lei”. Vimos que o voto no versículo 23 era o voto do
nazireado (Nm 6:2-5) e ser purificado com os
nazireus era tomar-se nazireu com eles e unir-se a
eles em seu voto.
Em Atos 21:26 lemos: “Então, Paulo, tomando
aqueles homens, no dia seguinte, tendo-se purificado
com eles, entrou no templo, acertando o
cumprimento dos dias da purificação, até que se
fizesse a oferta em favor de cada um deles”. Isso era
muito sério. Um voto do nazireado não era algo
comum; antes, era algo especial, particular e
extraordinário. Ademais, as ofertas relacionadas a
esse voto eram especiais. Por isso, é difícil acreditar
que o apóstolo Paulo iria voltar ao templo, participar
do voto e esperar que os sacerdotes oferecessem
sacrifícios por ele e pelos outros.
Segundo o que Paulo escreveu nas Epístolas aos
Romanos e aos Gálatas, ele não deveria ter voltado ao
templo e certamente não deveria ter participado
desse voto. Não é surpresa, então, que o Senhor não
tenha tolerado essa situação. Paulo talvez quisesse
manter a paz, mas o Senhor permitiu que ocorresse
grande tumulto contra ele.
Era muito sério um apóstolo como Paulo, depois
de escrever as Epístolas aos Romanos e aos Gálatas,
unir-se aos que tinham o voto do nazireado e ir com
eles ao templo para ser purificado e ali permanecer
até que o sacerdote oferecesse os sacrifícios. O Senhor
tolerou o voto particular de Paulo em 18:18, mas não
tolerou o fato de Paulo unir-se aos que tinham voto
do nazireado no capítulo vinte e um.
Na verdade, Paulo não deveria nem ter feito o
voto no capítulo dezoito. Em Gálatas 2:20 ele tinha
declarado que havia sido crucificado com Cristo. Ali
ele parecia estar dizendo: “Eu, o Paulo judeu, fui
crucificado com Cristo. Agora, já não sou eu quem
vive, mas Cristo vive em mim”. Mas, ao fazer um voto
da forma judaica, ele não estava vivendo como
cristão, e, sim, como judeu, pois seguia uma prática
judaica, e não cristã.
Todos os cristãos em Jerusalém eram judeus. Foi
em Antioquia que os crentes foram chamados de
cristãos pela primeira vez (11:26). Será q. ue Paulo se
esquecera do termo cristão quando, em Atos 18,
praticou o judaísmo? Será que um cristão deveria
fazer um voto de ação de graças da maneira judaica?
Caso contrário, então por que Paulo continuava a
praticar algo judaico? Embora o Senhor tivesse
tolerado aquela prática, Ele não teve tolerância com o
que ocorreu em Atos 21, quando Paulo esperava o
momento de os sacerdotes oferecerem os sacrifícios
da completação dos dias da purificação.
A partir de 21:27 vemos a soberania do Senhor de
forma especial. Também vemos a Sua compaixão. Por
um lado Paulo era fiel. Ele estava até disposto a
arriscar a vida pelo nome do Senhor (20:24; 21:13).
Estava pronto “para morrer em Jerusalém pelo nome
do Senhor Jesus” (21:13). Por outro lado, ele ainda
era humano e não conseguiu escapar em Atos 21. O
Senhor não tinha ninguém melhor nem mais fiel do
que ele. Por isso, Ele interferiu primeiro para resgatar
Paulo da mistura em Jerusalém e depois dos judeus
que planejavam matá-lo. Por fim, ele foi colocado sob.
custódia romana, separado dos problemas e
perturbações. Dessa forma o Senhor lhe deu
tranqüilidade para escrever as últimas Epístolas. Em
especial, foi-lhe dada a oportunidade de escrever as
quatro Epístolas cruciais de Hebreus, Efésios,
Filipenses e Colossenses. Vamos agora considerar
brevemente essas quatro Epístolas, que devem ser
colocadas juntas.

QUATRO EPÍSTOLAS CRUCIAIS Hebreus


Em Hebreus, vemos que Cristo é muito superior
a tudo no judaísmo. No judaísmo existe Deus.
Conforme Hebreus 1, Cristo é o próprio Deus. Além
disso, em Hebreus 2 vemos que Cristo também é
homem. O Deus do judaísmo é meramente Deus, mas
o Deus do Novo Testamento é tanto Deus como
homem, o Homem-Deus. Como tal, Cristo é superior
aos anjos, outro item importante do judaísmo.
Ademais, o livro de Hebreus revela que Cristo é
superior a Moisés, a Josué e a Arão, o sacerdote.
De acordo com Hebreus, a nova aliança
instituída por Cristo é superior à velha aliança
instituída por Moisés (8:6-13), e o sacrifício singular
de Cristo é superior aos antigos sacrifícios (10:9-10,
12, 14). Deus agora só se importa com o sacrifício
único de Cristo, pôs fim a todos os sacrifícios do
Antigo Testamento e os substituiu.
Em Hebreus Paulo apresenta uma figura clara,
mostrando-nos que os itens do Antigo Testamento
passaram. O que permanece agora na economia
neotestamentária de Deus é Jesus Cristo, que é
todo-inclusivo. Tendo tal visão, Paulo não podia
tolerar a mistura desse Cristo todo-inclusivo com as
coisas inferiores da obsoleta economia do Antigo
Testamento.

Efésios
No livro de Efésios Paulo indica que todos os
crentes, tanto judeus como gentios, precisam de
espírito de sabedoria e de revelação para ver o
chamamento do Senhor, o qual resulta na igreja, o
Corpo de Cristo, a plenitude Daquele que a tudo
enche em todas as coisas (1:17-23). Em Efésios 2 ele
também mostra que todas as ordenanças da lei do
Antigo Testamento foram abolidas por meio da morte
de Cristo na cruz, para que Nele, a partir de judeus e
gentios, fosse criado um novo homem (vs. 14-16). No
capítulo três vemos que as riquezas de Cristo
precisam tomar-se o constituinte da vida da igreja, e
que precisamos que Cristo habite em nosso coração
para que sejamos tomados até a plenitude do Deus
Triúno, a fim de nos tomar a Sua plena expressão (vs.
8, 17-19). No capítulo quatro ele fala de um só Corpo,
um só Espírito, um só Senhor e um só Deus (vs. 4-6).
O Corpo tem o Deus Triúno constituído em si e é
mesclado com Ele para tomar-se o novo homem (v.
24). Depois disso, no capítulo cinco, Paulo indica que
o novo homem deve ser enchido no espírito com o
Deus Triúno a fim de ter uma vida que seja a
expressão do Deus Triúno em Cristo (v. 18).
Finalmente, em Efésios 6 vemos que devemos lutar a
batalha espiritual pelo reino de Deus (v. l1). Esse é um
resumo breve da revelação em Efésios.
Filipenses
Em Filipenses 3:7 Paulo diz: “Mas o que, para
mim, era lucro, isto considerei perda por causa de
Cristo”. Paulo era hebreu de hebreus, quanto à lei,
fariseu (3:5). Todavia, considerava todas as coisas
judaicas, as coisas do Antigo Testamento, como
refugo para ganhar Cristo (3:8). Ele sabia que na
economia neotestamentária de Deus, Cristo deve ser
tudo. Assim, ele buscava Cristo a fim de ter um viver
que fosse achado em Cristo (3:9-14).

Colossenses
De acordo com a revelação de Colossenses, Cristo
é a realidade de todas as coisas positivas. Ele é a
porção que Deus deu aos santos (1:12), a imagem de
Deus (v. 15), o Primogênito de toda a criação (v. 15), o
Primogênito de entre os mortos (v. 18), o mistério de
Deus (2:2), a corporificação da Divindade (2:9), a
nossa festa, lua nova e sábado (2:16-17) e nossa vida
(Cl 3:4). Em Colossenses vemos que Cristo deve ser
tudo para nós. Esse livro também diz claramente que
no novo homem, composto de todos os crentes, não
pode haver grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, mas Cristo é tudo e em todos.
Se considerarmos juntos Hebreus, Efésios,
Filipenses e Colossenses, veremos que para alguém
tão iluminado como Paulo, na economia
neotestamentária de Deus não há nada além de
Cristo. Porém, o que ele viu em Jerusalém na sua
última visita ali foi uma mistura. Algo de Cristo
estava misturado com as coisas da economia do
Antigo Testamento.
VOLTAR PARA CRISTO COMO A NOSSA
ÁRVORE DA VIDA, MANÁ E FESTA
Por meio do ministério completivo de Paulo (Cl
1:25Jo Cristo todo-inclusivo é revelado de forma
plena. Nas suas catorze Epístolas, especialmente em
Hebreus, Efésios, Filipenses e Colossenses, Cristo é
revelado como tudo para a igreja e para os santos.
Mas quando o livro de Apocalipse foi escrito essa
visão do Cristo todo-inclusivo tinha sido perdida.
Essa perda está indicada pelas sete epístolas em
Apocalipse 2 e 3. Cristo, a cabeça do Corpo, fez um
chamado aos vencedores, a fim de que vençam a
situação degradada. Os vencedores em Apocalipse
não apenas vencem o pecado, o mundo e a carne; eles
vencem principalmente a situação degradada na qual
a visão clara do Cristo todo-inclusivo foi perdida.
Em Apocalipse 2:7 o Senhor Jesus diz: “Ao
vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da
vida que se encontra no paraíso de Deus”. Em 2:17
Ele ainda diz: “Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná
escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca,
e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual
ninguém conhece, exceto aquele que o recebe”. Além
disso em 3:20 o Senhor diz: “Eis que estou à porta e
bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”.
Nesses versículos vemos a árvore da vida, o maná
escondido e o festejar com o Senhor. Aqui o Senhor
parece estar dizendo: “Você precisa desfrutar-Me e
esquecer as práticas e formas exteriores. Volte
diretamente para Mim como a sua árvore da vida,
maná e festa. Volte-se de todas as misturas e coisas
que Me substituem nas igrejas degradadas, volte para
Mim como o seu tudo”.
O problema da situação degradada hoje é que
muitas coisas estão substituindo o Cristo
todo-inclusivo. Precisamos voltar-nos de todos os
substitutos diretamente para o Cristo todo-inclusivo
como a nossa árvore da vida, maná escondido, festa e
tudo para nós. Precisamos voltar-nos a Ele como
desfrute, não meramente como doutrina. Precisamos
voltar-nos a Ele não apenas conhecendo-O
objetivamente, mas desfrutando-O como árvore da
vida, maná escondido e festa.
Vencer a situação degradada entre os cristãos de
hoje e voltar diretamente ao Cristo desfrutável como
a nossa árvore da vida, maná escondido e festa é ter a
verdadeira transferência. É uma transferência da
velha religião degradada para a restauração
atualizada, a restauração do desfrute do Cristo
todo-inclusivo. Hoje esse Cristo é não apenas o
Espírito que dá vida (1Co 15:45), mas o Espírito sete
vezes intensificado (Ap 5:6).
Precisamos ter uma visão geral para enxergar a
situação degradada de hoje e também entender que a
intenção do Senhor é conduzir-nos de volta para Si
mesmo, para que sejamos plenamente restaurados ao
desfrute Dele. Cada dia devemos saber apenas uma
coisa: desfrutar Cristo como árvore da vida, maná
escondido e festa. Precisamos desfrutá-Lo como
nosso tudo, até mesmo como as nossas vestes brancas
(Ap 3:5) e a pedrinha branca (2:17) para fazer de nós
material para a edificação da eterna habitação de
Deus. A nossa necessidade hoje é experimentar a
transferência da religião degradada para a realidade
do Cristo todo-inclusivo como desfrute.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (26)

Leitura Bíblica: At 21:27 — 22:29


Atos 21:27 — 26:32 é uma seção longa que
registra a perseguição final e máxima dos judeus. Em
21:27-23:15 temos o relato de um alvoroço contra
Paulo. Nesta mensagem veremos que ele foi agarrado
pelos judeus em Jerusalém (21:27-30), que o
comandante romano interveio (21:31-39), e que foi
dada a oportunidade para Paulo se defender diante
dos judeus revoltosos (21:40-22:21). Depois de fazer
sua defesa, Paulo foi amarrado pelos romanos
(22:22-29).

AGARRADO PELOS JUDEUS EM


JERUSALÉM
Em Atos 21:27 — 28 lemos: “Quando já estavam
por findar os sete dias, os judeus vindos da Ásia,
tendo visto Paulo no templo, alvoroçaram todo o
povo e o agarraram, gritando: Israelitas, socorro! Este
é o homem que por toda parte ensina todos a serem
contra o povo, contra a lei e contra este lugar; ainda
mais, introduziu até gregos no templo e profanou este
recinto sagrado”. Sim, o ensinamento
neotestamentário de Deus de acordo com a Sua
economia do Novo Testamento é realmente contra os
judeus que se opõem a tal economia (Mt 21:41, 43-45;
22:7; 23:32-36; At 7:51; 13:40-41), contra a lei de
letras mortas (Rm 3:20, 28; 6:14; 7:4, 6; 012:19, 21;
5:4) e contra o lugar santo, o templo (Mt 23:38; 24:2;
At 7:48). Como o ministério de Paulo era levar a cabo
a economia neotestamentária de Deus, ele não podia
agradar os judeus que eram possuídos e usurpados
por Satanás, o inimigo de Deus, com a religião
tradicional deformada deles, o que os levava a se opor
ao mover neotestamentário de Deus e a assolá-lo.
Antes, o ministério de Paulo os ofendia e estimulava a
inveja e ódio deles ao máximo, de modo que fizeram
uma conspiração (20:3) para matá-lo (21:31, 36).
Em 21:28 este lugar e este recinto sagrado se
referem ao templo. Nos versículos 29 e 30 lemos:
“Pois, antes, tinham visto Trófimo, o efésio, em sua
companhia na cidade e julgavam que Paulo o
introduzira no templo. Agitou-se toda a cidade,
havendo concorrência do povo; e, agarrando a Paulo,
arrastaram-no para fora do templo, e imediatamente
foram fechadas as portas”. Literalmente os termos
gregos traduzidos havendo concorrência do povo
significam um ajuntamento do povo aconteceu.

A INTERVENÇÃO DO COMANDANTE
ROMANO
Atos 21:31-33 diz: “Procurando eles matá-lo,
chegou ao conhecimento do comandante da força que
toda a Jerusalém estava amotinada. Então, este,
levando logo soldados e centuriões, correu para o
meio do povo. Ao verem chegar o comandante e os
soldados, cessaram de espancar Paulo.
Aproximando-se o comandante, apoderou-se de
Paulo e ordenou que fosse acorrentado com duas
cadeias, perguntando quem era e o que havia feito”.
Esse comandante era um quiliarca, no comando de
mil soldados ou uma coorte. A coorte era uma das dez
divisões da antiga legião romana. Em Sua soberania,
o Senhor usou a intervenção desse comandante
romano a fim de resgatar Paulo dos judeus, que
procuravam matá-lo.

DEFENDEU-SE DIANTE DOS JUDEUS


REVOLTOSOS A Necessidade de Paulo Fazer
Sua Defesa
Paulo pediu permissão ao comandante romano
para falar ao povo (v. 39). Concedida a permissão, ele
se dirigiu ao povo no dialeto hebraico. Esse dialeto
era aramaico, a língua falada naquela época na
Palestina.
Em 22:1 ele disse: "Irmãos e pais, ouvi, agora, a
minha defesa perante vós". Ele enfrentou os seus
oponentes de modo diferente de Cristo. Cristo era um
cordeiro trazido ao matadouro, e como ovelha muda
diante dos seus tosquiadores para o cumprimento da
Sua redenção, Ele não abriu a boca quando foi
julgado pelos homens (Is 53:7; Mt 26:62-63; 27: 12,
14). Mas Paulo, um apóstolo fiel e ousado enviado
pelo Senhor, precisava fazer sua defesa e exercitar a
sabedoria para salvar sua vida dos perseguidores, a
fim de cumprir o curso do seu ministério. Embora
estivesse disposto e pronto a sacrificar a vida pelo
Senhor (20:24; 21:13), ele ainda se empenhava em
viver mais para levar a cabo o ministério do Senhor
tanto quanto possível.

Perseguiu Este Caminho


Em 22:3 e 4 Paulo prosseguiu: “Eu sou judeu,
nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e
aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a
exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso
para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de
hoje. Persegui este Caminho até à morte, prendendo e
metendo em cárceres homens e mulheres”. Como
vimos, este caminho denota o caminho da plena
salvação do Senhor na economia neotestamentária de
Deus.
No versículo 5 (VRC) ele também disse que o
sumo sacerdote e todo o conselho de presbíteros
podiam testificar por ele. O termo grego para
conselho aqui é presbytérion, presbitério (do
Sinédrio), portanto o Sinédrio, a mais alta corte dos
judeus composta dos principais sacerdotes, anciãos,
doutores da lei e escribas.

A Experiência de Paulo na Estrada para


Damasco
Em 22:6-7 ele diz: “Ora, aconteceu que, indo de
caminho e já perto de Damasco, quase ao meio-dia,
repentinamente, grande luz do céu brilhou ao redor
de mim. Então, caí por terra, ouvindo uma voz que
me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”
Literalmente, o termo grego para grande no versículo
6 significa considerável. Conforme já enfatizamos, o
me do versículo 7 era um me corporativo, que incluía
o Senhor Jesus e todos os crentes, os membros do Seu
Corpo. A partir desse momento ele passou a ver que o
Senhor Jesus e os Seus são uma grande pessoa, um
maravilhoso me.
No versículo 8 lemos: “Perguntei: quem és tu,
Senhor? Ao que me respondeu: Eu sou Jesus, o
Nazareno, a quem tu persegues”. Mesmo sem
conhecer o Senhor Jesus, ele O chamou de Senhor.
Então o Senhor indicou que, ao perseguir os Seus
seguidores, unidos a Ele pela fé, Paulo, na verdade, O
estava perseguindo.
No versículo 9 ele diz: “Os que estavam comigo
viram a luz, sem, contudo, perceberem o sentido da
voz de quem falava comigo”. Dizer que eles não
perceberam o sentido da voz significa que não
entenderam, como em Marcos 4:33 e 1 Coríntios 14:2.
Eles ouviram a voz (At 9:7), mas não a entenderam,
assim como viram a luz, mas não viram ninguém.
No versículo 10, Paulo prosseguiu: “Então,
perguntei: que farei, Senhor? E o Senhor me disse:
Levanta-te, entra em Damasco, pois ali te dirão
acerca de tudo o que te é ordenado fazer”. Aqui vemos
que, logo após a conversão de Paulo, o Senhor não lhe
disse diretamente o que queria que ele fizesse, pois
precisava de um membro do Corpo para iniciá-lo na
identificação com o Corpo.
Atos 22:11 diz: “Tendo ficado cego por causa do
fulgor daquela luz, guiado pela mão dos que estavam
comigo, cheguei a Damasco”. Esse foi o modo de o
Senhor lidar com Paulo, que, antes da conversão,
considerava-se conhecedor do homem e de Deus.

Iniciado na Identificação com o Corpo de


Cristo
Nos versículos 12 a 13 lemos: “Um homem,
chamado Ananias, piedoso conforme a lei, tendo bom
testemunho de todos os judeus que ali moravam, veio
procurar-me e, pondo-se junto a mim, disse: Saulo,
irmão, recebe novamente a vista. Nessa mesma hora,
recobrei a vista e olhei para ele”. Sabemos por meio
de 9:11-17 que o Senhor enviou Ananias, um membro
do Seu Corpo, para que Paulo fosse introduzido na
identificação com o Corpo. Com isso ele deve ter
ficado impressionado com a importância do Corpo de
Cristo e deve ter sido ajudado a perceber que um
crente necessita dos membros do Corpo.
De acordo com 22:14-16, Ananias lhe disse: “O
Deus de nossos pais, de antemão, te escolheu para
conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires
uma voz da sua própria boca, porque terás de ser sua
testemunha diante de todos os homens, das coisas
que tens visto e ouvido. E agora, por que te demoras?
Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados,
invocando o nome dele”. Dele é significativo aqui,
pois denota especialmente o nome Daquele a quem
Paulo odiava e perseguia (v. 8).
O vocábulo grego traduzido por invocando é
epikaléo, composto de epi, sobre, e kaléo, chamar
pelo nome; isto é, chamar audivelmente, até mesmo
em alta voz, como o fez Estêvão em 7:59-60.
Invocar o nome do Senhor em 22:16 era um meio
de Paulo lavar-se dos pecados de prender tantos
crentes que invocavam o nome do Senhor. Todos os
crentes sabiam que ele considerava invocar o nome
do Senhor um sinal daqueles a quem deveria prender
(9:14, 21). Agora ele se havia voltado ao Senhor. A fim
de lavar-se dos pecados de perseguir e prender os que
invocavam o nome do Senhor, não apenas diante de
Deus mas também diante de todos os crentes,
Ananias ordenou-lhe que efetuasse no seu batismo o
mesmo invocar, que ele tinha condenado, uma
confissão pública do Senhor ao qual perseguira.

Enviado aos Gentios


Em 22:17-18 Paulo continua: “Tendo eu voltado
para Jerusalém, enquanto orava no templo,
sobreveio-me um êxtase, e vi aquele que falava
comigo: Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque
não receberão o teu testemunho a meu respeito”. O
termo grego traduzido por êxtase é ékstasis, e
significa ser tirado do lugar, portanto, refere-se a um
estado no qual o homem sai de si e do qual ele volta a
si (12:11), como num sonho, mas sem dormir. Difere
de visão, na qual objetos definidos são visíveis.
Em 22:19-20 Paulo disse ao Senhor: “Senhor,
eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas
sinagogas, açoitava os que criam em ti. Quando se
derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu
também estava presente, consentia nisso e até
guardei as vestes dos que o matavam”. No entanto o
Senhor lhe disse: “Vai, porque eu te enviarei para
longe, aos gentios” (v. 21). É-nos dito que o povo o
ouviu “até essa palavra” (v. 22). Mas ao ouvir a
palavra gentios, eles começaram a gritar: “Tira tal
homem da terra, porque não convém que ele viva!” (v.
22). Na verdade a palavra gentios falada por Paulo no
versículo 21 está relacionada com a questão da
transferência de dispensação. Assim que ele falou
essa palavra, parece que um furacão chegou para
instigar as pessoas. Eles foram provocados por essa
palavra e não queriam ouvir mais nada.
Em Atos 22 Paulo foi um tanto cauteloso ao
apresentar a sua experiência no caminho para
Damasco. Contudo, ele não poderia deixar de falar de
um aspecto específico da verdade: a palavra do
Senhor quanto a ir para longe, para os gentios. Como
o Senhor lhe tinha dito isso, como é que ele podia não
testificar isso às pessoas? Eles, no entanto, não
tinham ouvidos para ouvir tal palavra. O princípio é o
mesmo entre muitos cristãos hoje. Assim como os
judeus em Atos 22 não queriam ouvir nada sobre os
gentios, esses cristãos não querem ouvir-nos falar a
respeito das denominações, da igreja, da base da
igreja e de Cristo como o Espírito que dá vida. Por
experiência sabemos que se falarmos a certos crentes
sobre essas questões, eles se ofenderão.

AMARRADO PELOS ROMANOS


Em Atos 22:23-24 diz: “Ora, estando eles
gritando, arrojando de si as suas capas, atirando
poeira para os ares, ordenou o comandante que Paulo
fosse recolhido à fortaleza e que, sob açoite, fosse
interrogado para saber por que motivo assim
clamavam contra ele”. Mas, quando o estavam
amarrando com correias, ele disse ao centurião
presente: “Ser-vos-á, porventura, lícito açoitar um
cidadão romano, sem estar condenado?” (v. 25). Aqui
vemos a sabedoria de Paulo. Ele utilizou a cidadania
romana para salvar-se de sofrer perseguição.
Nesses capítulos de Atos vemos que a mão
soberana do Senhor certamente estava com Paulo.
Em Sua soberania, sabedoria e bondade o Senhor o
resgatou e protegeu. No capítulo vinte e um ele foi
posto numa situação muito difícil e não tinha meios
de se livrar dela. O Senhor, contudo, levantou o
ambiente por meio do qual ele foi resgatado daquela
situação. Porém Paulo, então, corria o risco de ser
morto. Mas o Senhor interveio por meio do
comandante romano para protegê-lo dos judeus que
queriam matá-lo.
Como veremos, depois de ter sido colocado sob
custódia romana “os judeus se reuniram e, sob
anátema, juraram que não haviam de comer, nem
beber, enquanto não matassem Paulo. Eram mais de
quarenta os que entraram nesta conspirata” (vs.
23:12-13). Mas o filho da irmã dele, tendo ouvido a
trama, avisou-o (23:16). Ele, então, chamou um dos
centuriões e lhe disse que levasse o jovem ao
comandante. Quando o comandante ouviu sobre a
conspirata, disse a dois dos centuriões: “Tende de
prontidão, desde a hora terceira da noite, duzentos
soldados, setenta de cavalaria e duzentos lanceiros
para irem até Cesaréia; preparai também animais
para fazer Paulo montar e ir com segurança ao
governador Félix” (23:23-24). Pode surpreender-nos
que tantos soldados, cavaleiros e lanceiros estavam
envolvidos na transferência de Paulo de Jerusalém
para Cesaréia. O comandante deve ter ordenado isso
devido ao grande número de judeus envolvidos no
tumulto contra Paulo. O que queremos ressaltar é que
aqui vemos a soberania do Senhor protegendo Paulo.
Em Cesaréia ele foi mantido sob custódia por
dois anos. Nesse tempo ele estava seguramente
guardado, protegido dos judeus em conspirata. Essa
se tomou a ocasião ideal para ele considerar o seu
futuro. Em especial, foi a ocasião de considerar as
questões sobre as quais escreveria mais tarde nos
livros de Hebreus, Efésios, Filipenses e Colossenses.
Soberanamente o Senhor preparou um ambiente para
guardá-lo e prepará-lo para levar a cabo seu
ministério epistolar, a fim de completar o seu
ministério e a revelação do Novo Testamento.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E UM
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (27)

Leitura Bíblica: At 22:1-21

O BATISMO DE PAULO
Em 22:1-21 Paulo defende-se diante dos judeus
revoltosos. Nesta mensagem iremos concentrar-nos
na palavra de Ananias para Paulo no versículo 16: “E
agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o
batismo e lava os teus pecados, invocando o nome
dele”.
No caso de Paulo, assim como no caso do eunuco
etíope, enfatiza-se o batismo em água. Precisamos
dar atenção tanto ao batismo em água como ao
batismo no Espírito. O batismo em água significa a
identificação dos crentes com a morte e ressurreição
de Cristo (Rm 6:3-5; Cl 2:12), e o batismo no Espírito
significa a realidade da união dos crentes com Cristo
em vida essencialmente, e em poder
economicamente. O batismo em água é a afirmação
dos crentes da realidade do Espírito. Ambos são
necessários, e um não substitui o outro. Todos os
crentes em Cristo devem ter os dois adequadamente.
De acordo com a palavra do Senhor em Marcos
16:16, para ser salva, a pessoa precisa crer e ser
batizada. Crer é receber o Senhor (10 1:12), não
apenas para o perdão dos pecados (At 10:43) mas
também para regeneração (1Pe 1:21, 23), a fim de que
os que crêem se tomem filhos de Deus (10 1:12-13) e
membros de Cristo (Ef 5:30) numa união orgânica
com o Deus Triúno (Mt 28:19). Ser batizado é afirmar
isso sendo sepultado para pôr fim à velha criação por
meio da morte de Cristo e sendo levantado para ser a
nova criação de Deus por meio da ressurreição de
Cristo. Esse batismo é muito mais avançado do que o
batismo de arrependimento de João (Mc 1:4; At
19:3-5).
Crer e ser batizado são duas partes de um passo
completo para receber a plena salvação de Deus. Ser
batizado sem crer é meramente um ritual vazio; crer
sem ser batizado é ser salvo apenas interiormente
sem afirmação exterior da salvação interior. Os dois
devem andar juntos.

TRANSFERIDOS DE ADÃO PARA CRISTO


O batismo, em verdade, é uma grande
transferência. Por essa razão, o ministério do Novo
Testamento iniciou-se com isso. Já ressaltamos que o
batismo envolve primeiro o término e depois a
germinação. Por meio do término e da germinação
ocorre uma verdadeira transferência. Não nos
surpreende, então, que o Novo Testamento se inicie
com batismo para indicar que as coisas do Antigo
Testamento devem ter fim, para haver um novo
início. No entanto, entre muitos cristãos hoje, o
batismo não passa de um ritual de ingresso em outra
religião.
Quando fomos batizados, fomos transferidos de
Adão para Cristo. Muitos cristãos nunca receberam o
ensino adequado a esse respeito. Outros sabem que
no batismo foram transferidos de Adão para Cristo,
mas para eles isso não passa de doutrina; não é algo
prático na vida cristã. Em nosso viver como cristãos
devemos estar fora de Adão e em Cristo. Não mais
devemos viver na esfera de Adão; em vez disso, o
nosso viver deve estar absolutamente na esfera de
Cristo.

INVOCAR O NOME DO SENHOR


Em 22:16 Ananias disse a Paulo que fosse
batizado e se lavasse dos pecados invocando o nome
do Senhor. Nesse versículo invocando o seu nome
modifica tanto recebe o batismo como lava. Ananias
parecia estar dizendo: “Paulo, levante-se e receba o
batismo. Ao ser batizado, você deve invocar o nome
do Senhor. Essa é a condição para você ser batizado”.
É uma boa prática para nós, ao batizar novos
crentes, encorajá-los a invocar o nome do Senhor
Jesus. Isso significa que, enquanto estão sendo
batizados, eles invocam o nome do Senhor. Assim
como respiramos e comemos ao mesmo tempo, assim
também se pode ser batizado e invocar o nome do
Senhor ao mesmo tempo. A transferência que ocorre
por meio do batismo é fortalecida ao se invocar o
nome do Senhor. Assim, vamos encorajar os que
batizamos a invocar o nome do Senhor Jesus e assim
ter uma transferência mais definida de Adão para
Cristo.

Uma Condição para o Batismo e para


Lavar-se dos Pecados
Em 22:16 Ananias disse a Paulo que se
levantasse, recebesse o batismo e se lavasse dos
pecados. Vimos que invocando o nome dele modifica
tanto recebe o batismo como lava. Invocar é um
requisito para ser batizado e lavar-se dos pecados.
Invocar o nome do Senhor era o meio de Paulo
lavar-se dos pecados.
Segundo o entendimento de Ananias, de quais
pecados Paulo precisava ser lavado? Sem dúvida, o
mais sério, segundo Ananias, era o de perseguir e
prender os que invocavam o nome de Jesus. O fato de
Paulo sair para prender os que invocavam o nome do
Senhor era o seu maior pecado. Nessa questão ele
estava condenado não apenas por Deus mas também
pelos crentes, tanto em Jerusalém como em outros
lugares. Todos os crentes o condenavam como
perseguidor. Paulo considerava invocar o nome do
Senhor um sinal dos crentes. Assim, aonde quer que
fosse, ele procurava os que invocavam o nome do
Senhor.
Em 22:16 Ananias parecia estar dizendo: “Paulo,
aos olhos dos crentes o seu pecado mais sério foi
perseguir e prender os que invocavam o Senhor.
Agora que você se arrependeu e se converteu, precisa
lavar-se dos pecados. Em especial precisa lavar-se do
pecado de perseguir os santos. A fim de lavar-se dos
pecados, você precisa invocar o nome do Senhor. Se
invocar: “Ó Senhor Jesus” várias vezes, os irmãos o
perdoarão. O seu invocar é a condição para lavar-se
dos pecados. Paulo, você não pode ser um crente
silencioso, que não invoca o nome do Senhor de
forma audível. Se você ficar em silêncio, os crentes
não o reconhecerão como um deles, e não o
perdoarão. Assim, agora você deve praticar o que
condenava: invocar o nome do Senhor Jesus. Antes
você tomava isso como sinal dos que eram
perseguidos e presos por você. Agora isso será um
sinal de que você creu no Senhor Jesus e foi salvo.
Paulo, levante-se, receba o batismo e lave-se dos
pecados invocando o nome Dele. Quando o fizer, você
será perdoado por todos os que amam o Senhor
Jesus”.

O Passo Inicial da Transferência de Paulo


O fato de Paulo invocar o nome do Senhor Jesus
foi o passo inicial da sua transferência. Ele foi
transferido de condenar esse invocar para praticá-lo.
Alguns talvez digam que invocar o nome do Senhor
foi parte da conversão de Paulo. Sim, mas não foi
apenas parte da sua conversão; foi também o início da
sua transferência de uma esfera para outra.
É difícil entender por que os judeus se opunham
a invocar o nome do Senhor. Para eles o importante
era guardar a lei, praticar a circuncisão e seguir os
costumes. Não obstante, antes de ser transferido,
Paulo especialmente se opunha à prática de invocar o
nome do Senhor.
O princípio é o mesmo hoje entre os que se
opõem à prática de invocar o nome do Senhor Jesus.
Alguns nos condenam por isso. Na verdade eles não
têm razão para se opor a essa prática. No entanto,
alguns falsamente dizem que é mera gritaria. Porém
que há de errado em crentes no Senhor invocar o Seu
nome? Essa prática é enfaticamente revelada na
Bíblia. É melhor invocar o nome do Senhor do que
ficar em silêncio, morto e sem nenhum contato de
fato com o Senhor.
Alguns que se opõem a invocar o nome do
Senhor Jesus dizem: “O cristianismo está na terra há
mil e novecentos anos, mas nunca ouvimos esse
ensinamento de que os crentes devam invocar o nome
do Senhor”. A isso podemos responder: “Talvez você
nunca tenha ouvido esse ensinamento, mas
certamente você já ouviu crentes invocarem o nome
do Senhor. Na verdade, é provável que nos seus anos
de vida cristã, você mesmo tenha tido pelo menos
alguma experiência de invocar o nome de Jesus”.
Tem havido muitos casos de pessoas que
invocam o nome do Senhor sem ter recebido nenhum
ensinamento a esse respeito. Certa pessoa se opunha
fortemente a invocar o nome do Senhor. Um dia,
quando andava de bicicleta, um carro bateu nela e a
bicicleta foi jogada para cima. Enquanto caía, ela
espontaneamente invocou: “Ó Senhor Jesus!”
Também sei de um marido cristão que nunca
orava. Um dia a mulher teve um acidente. Sabe o que
ele fez? Invocou o nome do Senhor.
Você conhece algum cristão de verdade que diga
que nunca invocou o nome do Senhor Jesus?
Certamente todo cristão verdadeiro já invocou o
nome do Senhor alguma vez. O irmão que foi atingido
por um carro enquanto andava de bicicleta passou
alguns dias no hospital, e dia a dia invocava: “Ó
Senhor Jesus”. Ninguém o ensinou; ele o fez
automaticamente. Muitos podemos testificar que
quando invocamos o nome do Senhor Jesus, nós de
fato O contatamos.
Alguma vez você já teve a experiência de pegar no
sono ao tentar orar? Isso me aconteceu várias vezes,
especialmente tarde da noite. Por experiência
sabemos que a oração silenciosa freqüentemente nos
leva a dormir. Ademais, com essa oração
provavelmente haja pouco desfrute do Senhor, se é
que há algum. No entanto, nós O desfrutamos ao
invocar o Seu nome. Podemos invocar baixinho a fim
de não perturbar os outros, mas ainda O desfrutamos
invocando o Seu nome.

Uma Necessidade em Nossa Vida Cristã


Eu me preocupo com os que se perturbam com a
nossa ênfase em invocar o nome do Senhor. Não é
verdade dizer que enfatizamos isso demais. Na
verdade, invocar o Senhor é uma necessidade em
nossa vida cristã. Se você tiver a prática de invocar o
nome do Senhor, você estará no estágio inicial da
transferência dispensacional. Eu lhe asseguro que
quanto mais invocar o nome do Senhor Jesus, mais
você será tirado das coisas velhas e inserido nas
novas.
Alguns já são cristãos há muito. Com o passar
dos anos, a vida cristã deles se tomou bastante velha.
Devido a essa velhice eles precisam experimentar
uma transferência de forma prática. A melhor
maneira de tê-la é invocar: “Ó Senhor Jesus!” Eu
encorajo você a praticar isso. Se invocar o nome do
Senhor dia a dia, você poderá testificar muitas coisas
a respeito da sua experiência com o Senhor.
Invocar o nome do Senhor é uma grande ajuda
para os maridos cristãos. Os casados sempre têm
dificuldades para amar a esposa. Se um irmão casado
invocar o nome do Senhor Jesus, irá experimentar
uma autêntica mudança em relação à esposa e a
amará de fato.
Da mesma forma, uma irmã casada pode ser
ajudada, invocando o nome do Senhor, a se submeter
ao marido. Se ela não contatar o Senhor invocando-O,
talvez pense: “Não é justo que eu tenha de me
submeter ao meu marido. Por que é que deveria
submeter-me a ele? Deus não é justo em ordenar que
ele seja o cabeça e não eu”. No entanto, a palavra de
Deus não pode ser mudada. Nem essa irmã pode
ignorar a exigência de que deve submeter-se ao
marido. Como, então, ela pode ser ajudada nessa
questão? A melhor maneira é invocar o nome do
Senhor. Se ela o invocar dia a dia, poderá submeter-se
ao marido.
Quando invocamos o nome do Senhor
experimentamos a verdadeira transferência. Somos
levados para outra esfera, introduzidos no reino de
Deus, que na verdade é o próprio Cristo propagado.
Se percebermos isso, entenderemos por que invocar o
nome do Senhor é tão enfatizado na Bíblia.
Sempre que invocarmos o Senhor Ele tem a
oportunidade e a base para se espalhar em nosso
interior. Isso não é mera doutrina; é bastante prático
para a nossa experiência cristã. Hoje o Senhor é o
Espírito todo-inclusivo. Como tal, Ele é onipresente, e
agora trabalha em nós e aguarda a oportunidade de se
espalhar em nós. Quando invocamos o Seu nome,
damos-Lhe o caminho para que Ele cresça em nós.

Para Participar das Riquezas do Senhor


Um versículo importante relacionado com
invocar o Senhor é Romanos 10:12; “Pois não há
distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é
o Senhor de todos, rico para com todos os que o
invocam”. Por anos eu só conhecia este versículo de
Romanos 10: “Porque: Todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo” (v. 13). Haviam-me dito
que todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo, mas eu nunca tinha ouvido que o Senhor é rico
para com todos os que O invocam. Ele é rico não
apenas na salvação inicial, mas em todas os itens
divinos e espirituais. Se quisermos participar das
riquezas do Senhor, precisamos invocá-Lo. Dia e
noite devemos invocar o Seu nome. Embora
invoquemos em silêncio para não perturbar os
outros, ainda podemos invocar suavemente: “Ó
Senhor Jesus”.

Para Ser Levados ao Nosso Espírito


Uma vez que invocamos o nome do Senhor, não
podemos permanecer nos pensamentos e
arrazoamentos naturais. Por experiência sabemos
que quando o invocamos somos introduzidos nas
profundezas do nosso ser, isto é, no nosso espírito.
Não conseguimos invocar o nome do Senhor e ao
mesmo tempo permanecer na mente. Os que
argumentam sobre invocar talvez digam: “É correto
invocar o nome do Senhor? essa prática é bíblica? se é
bíblica, por que não foi ensinada por outros nos
últimos dezenove séculos?” Se essa pessoa invocar o
Senhor, será salva dos pensamentos e arrazoamentos
naturais. Quando nos recusamos a invocar,
permanecemos na mente natural. Todavia, quando O
invocamos, somos introduzidos no espírito. Oh! como
precisamos invocar o Senhor para desfrutá-Lo!

Para Experimentar a Proximidade do Senhor


Invocar o Senhor é realidade, pois quando O
invocamos nós O tocamos. Em um versículo
relacionado com o invocar, Paulo diz: “A palavra está
perto de ti, na tua boca” (Rm 10:8). Num sentido bem
prático, a palavra aqui equivale ao Senhor. Assim,
dizer que a palavra está perto significa que o Senhor
está perto. Sempre que invocarmos o Seu nome,
experimentaremos a Sua proximidade, a Sua
presença íntima.
Como sabemos que o Senhor está perto de nós?
Nós sabemos disso invocando o Senhor. Não se pode
convencer alguém de que o Senhor está perto dele,
discutindo ou debatendo com ele. Quanto mais
discutimos, mais longe parece que o Senhor está. Mas
se, em vez de discutir, nós invocarmos o Seu nome
algumas vezes, sentiremos que Ele está perto. Se
continuarmos a invocá-Lo, iremos perceber que Ele
não apenas está perto mas até mesmo em nós.
Quanto mais O invocamos, mais Ele se torna o nosso
desfrute. Invocando-O, Ele também se torna a nossa
paz, descanso, conforto e solução em todos os tipos de
situação. Isso não é mera doutrina nem ensinamento
superficial; é uma verdade para a nossa experiência.

PERMANECER NA TRANSFERÊNCIA SENDO


FIÉIS À VISÃO
Todos precisamos aprender com Paulo a invocar
o nome do Senhor Jesus para ter urna transferência
completa. Também precisamos aprender com ele a
ser fiéis à visão. Como veremos, ele pôde testificar:
“Não fui desobediente à visão celestial” (26:19).
Vemos a fidelidade dele quando não evitou o uso da
palavra gentios em 22:21. Que todos aprendamos a
ser fiéis à visão que ganhamos com respeito à igreja e
a Cristo como o Espírito que dá vida.
Precisamos aprender com Paulo a apresentar
bem a verdade. No entanto, isso não quer dizer que
sempre poderemos evitar oposição e ataque. Não
importa como seja a nossa apresentação da verdade,
alguns ainda irão opor-se. Contudo, devemos ser fiéis
. Se em algum momento não formos fiéis à visão do
Senhor, então não estaremos mais na transferência
de dispensação. A maneira de nos manter nessa
transferência é ser fiéis. Primeiro, fazemos a
transferência invocando o nome do Senhor. Depois,
permanecemos nela sendo fiéis à visão.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E DOIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (28)

Leitura Bíblica: At 22:30 — 23:35

DEFENDE-SE DIANTE DO SINÉDRIO


Vimos que em 21:31-39 o comandante romano
interveio para resgatar Paulo dos judeus que
procuravam matá-lo. Então foi-lhe dada a
oportunidade de se defender diante dos judeus
revoltosos (21:40-22:21). Os judeus o ouviram até
certo ponto, mas por fim iniciaram outro tumulto. Ele
então foi amarrado pelos romanos (22:22-29). Em
sua sabedoria, ele usou a sua cidadania romana para
poupar-se da perseguição (vs. 25-29). O comandante
romano então deu-lhe a oportunidade de se defender
diante do Sinédrio (22:30 — 23:10). Atos 22:30 diz:
“No dia seguinte, querendo certificar-se dos motivos
por que vinha ele sendo acusado pelos judeus,
soltou-o, e ordenou que se reunissem os principais
sacerdotes e todo o Sinédrio, e, mandando trazer
Paulo, apresentou-o perante eles”. V amos considerar
agora a defesa de Paulo diante do Sinédrio.

Andou com Toda a Boa Consciência


Atos 23:1 diz: “Fitando Paulo os olhos no
Sinédrio, disse: Varões, irmãos, tenho andado diante
de Deus com toda a boa consciência até ao dia de
hoje”. Depois da queda de Adão e de ele ter sido
expulso do jardim do Éden (Gn 3:23), Deus queria
que o homem, em Sua dispensação, fosse responsável
diante da própria consciência. Mas o homem falhou
em viver e andar segundo a consciência e caiu ainda
mais na maldade (Gn 6:5). Depois do juízo do dilúvio,
Deus ordenou ao homem estar sob o governo humano
(Gn 9:6). O homem também falhou nisso. Então,
antes de cumprir a Sua promessa a Abraão com
respeito à bênção das nações em Cristo (Gn 12:3; Gl
3:8), Deus pôs o homem sob a prova da lei (Rm 3:20;
5:20). O homem falhou totalmente nessa prova.
Todos esses fracassos indicam que o homem decaiu
de Deus para a consciência, da consciência para o
governo humano e do governo humano para a
iniqüidade. Assim, o homem caiu ao máximo.
Andar “diante de Deus com toda a boa
consciência”, como Paulo o fez, era uma grande volta
da queda do homem para Deus. Paulo disse isso para
se defender perante os que o acusavam de ser alguém
sem lei e até mesmo negligente. Ele novamente se
referiu à sua consciência em 24:16. Isso mostrou o
seu alto padrão moral em contraste com a hipocrisia
dos religiosos judeus e da corrupção dos políticos
romanos (gentios).
Em sua defesa perante o Sinédrio, na presença
dos representantes do governo romano, Paulo podia
dizer que não havia nada de errado em sua conduta
pessoal. Ele fez todas as coisas de acordo com a
consciência, agindo no mais alto padrão moral.

A Ousadia e Sabedoria de Paulo


Em Atos 23:2 e 3 lemos: “Mas o sumo sacerdote,
Ananias, mandou aos que estavam perto dele que lhe
batessem na boca. Então, lhe disse Paulo: Deus há de
ferir-te, parede branqueada! Tu estás aí sentado para
julgar-me segundo a lei e, contra a lei, mandas
agredir-me?” Aqui vemos a franqueza e ousadia de
Paulo ao lidar com os perseguidores. Os que estavam
ao seu lado disseram-lhe: “Estás injuriando o sumo
sacerdote de Deus?” (v. 4). Ele respondeu: “Não
sabia, irmãos, que ele é sumo sacerdote; porque está
escrito: Não falarás mal de uma autoridade do teu
povo” (v. 5).
Atos 23:6 diz: “Sabendo Paulo que uma parte do
Sinédrio se compunha de saduceus e outra, de
fariseus, exclamou: Varões, irmãos, eu sou fariseu,
filho de fariseus! No tocante à esperança e à
ressurreição dos mortos sou julgado!” Os fariseus
eram a seita religiosa mais rigorosa dos judeus (26:5),
formada aproximadamente em 200 a. C.
Orgulhavam-se de sua superior santidade de vida,
devoção a Deus e conhecimento das Escrituras. Na
verdade, haviam-se degradado em fingimento e
hipocrisia (Mt 23:2-33). Os saduceus eram outra seita
do judaísmo. Não criam na ressurreição, em anjos ou
em espíritos. Enquanto os fariseus eram
considerados ortodoxos, os saduceus eram os antigos
modernistas.
Quando Paulo declarou ser fariseu e estar sendo
julgado a respeito da esperança e da ressurreição dos
mortos “levantou-se grande dissensão entre fariseus e
saduceus, e a multidão se dividiu. Pois os saduceus
declaram não haver ressurreição, nem anjo, nem
espírito; ao passo que os fariseus admitem todas
essas coisas. Houve, pois, grande vozearia. E,
levantando-se alguns escribas da parte dos fariseus,
contendiam, dizendo: Não achamos neste homem
mal algum; e será que algum espírito ou anjo lhe
tenha falado?” (vs. 7-9). Paulo sabiamente usou essa
situação em benefício próprio, sabendo que os
fariseus ficariam do seu lado e iriam, então, brigar
com os saduceus.
Quando percebeu que lhe era útil usar o seu
status de cidadão romano, Paulo o fez, e isso
amedrontou as autoridades romanas. Aqui ele gritou
ser fariseu, sabendo que isso causaria briga entre
fariseus e saduceus. Mais uma vez ele exercitou a
sabedoria para evitar perseguição. Como vimos, ele
enfrentou os opositores de forma diferente da de
Cristo. Quando Cristo foi julgado pelos homens para
a realização da redenção, Ele não abriu a Sua boca (Is
53:7; Mt 26:62-63; 27:12, 14). Mas Paulo, como
apóstolo fiel e ousado enviado pelo Senhor, exercitou
a sabedoria para salvar a própria vida das mãos dos
perseguidores, a fim de cumprir o curso do seu
ministério. Para levar a cabo esse ministério, ele se
esforçou por viver tanto quanto possível.
Em Atos 23:10 lemos: “Tomando vulto a
celeuma, temendo o comandante que fosse Paulo
espedaçado por eles, mandou descer a guarda para
que o retirassem dali e o levassem para a fortaleza”.
Isso era a soberania do Senhor resgatando Paulo das
mãos dos judeus.

ENCORAJADO PELO SENHOR


Atos 23:11 diz: “Na noite seguinte, o Senhor,
pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo
por que deste testemunho a meu respeito em
Jerusalém, assim importa que também o faças em
Roma”. O Senhor estava vivendo todo o tempo em
Paulo essencialmente (Gl 2:20). Agora, para
fortalecê-lo e encorajá-lo, Ele se pôs ao lado dele
economicamente. Isso mostra a fidelidade e o bom
cuidado do Senhor para com o Seu servo.
A palavra do Senhor em 23:11, sobre Paulo
testificar solenemente a respeito Dele em Jerusalém,
indica que o Senhor admitiu que o apóstolo tinha
dado testemunho solene a Seu respeito em
Jerusalém. Testemunho difere de mero ensinamento.
Dar testemunho exige experiências de ver, participar
e desfrutar.
O Cristo ascendido não queria usar um grupo de
pregadores treinados pelo ensinamento do homem,
fazendo uma obra de pregação para levar a cabo o Seu
ministério celestial, com vistas à Sua propagação, a
fim de que o reino de Deus fosse estabelecido para a
edificação das igrejas, para a Sua plenitude. Ele
queria usar um Corpo de testemunhas Suas, mártires,
que levassem um testemunho vivo do Cristo
encarnado, crucificado, ressurreto e ascendido.
Testemunhas levam um testemunho vivo do Cristo
ressurreto e ascendido em vida. Diferem dos
pregadores que pregam meras doutrinas em letras.
Em Sua encarnação, Cristo levou a cabo o Seu
ministério na terra, como registram os Evangelhos.
Ele o fez semeando-Se como semente do reino de
Deus, apenas na terra judaica. Em ascensão Ele leva a
cabo o Seu ministério nos céus, como registra Atos,
por meio de testemunhas em Sua vida de ressurreição
e com o poder e autoridade da Sua ascensão para
espalhar-Se como o desenvolvimento do reino de
Deus, desde Jerusalém até aos confins da terra, como
a consumação do Seu ministério no Novo
Testamento. Todos os apóstolos e discípulos em Atos
eram tais testemunhas de Cristo.
Como veremos, em 26:16 Paulo testificou que o
Senhor o constituíra ministro e testemunha. Um
ministro visa ao ministério; uma testemunha visa ao
testemunho. O ministério se relaciona
principalmente à obra, ao que o ministro faz; o
testemunho se relaciona à pessoa, ao que a
testemunha é.
Satanás podia instigar os religiosos judeus e
utilizar os políticos gentios para amarrar os apóstolos
e seus ministérios evangélicos, mas não conseguia
amarrar as testemunhas vivas de Cristo e seus
testemunhos vivos. Quanto mais os religiosos judeus
e políticos gentios amarravam os apóstolos e seu
ministério evangélico, mais fortes e mais brilhantes
se tomavam esses mártires, essas testemunhas, de
Cristo e seus testemunhos vivos. O Senhor em 23:11,
ao aparecer ao apóstolo, indicou que então não iria
resgatá-lo das cadeias, mas o deixaria em cadeias e o
levaria a Roma, a fim de que testificasse a Seu
respeito assim como fizera em Jerusalém. O Senhor o
encorajou a fazer isso.
Em 23:11 o Senhor disse a Paulo que ele
testificaria Dele em Roma. Isso cumpriria o desejo de
Paulo, expresso em 19:21, de ver Roma. Mais tarde,
tanto a promessa do Senhor como o desejo de Paulo
se cumpriram.
Paulo foi fortalecido e encorajado pela palavra do
Senhor no versículo 11. Essa palavra garantiu-lhe que
o Senhor o levaria em segurança de Jerusalém para
Roma. Assegurado por essa palavra clara da boca do
Senhor, ele sabia que iria a Roma e ali daria
testemunho do Senhor Jesus.

A CONSPIRATA DOS JUDEUS


Atos 23:12-15 descreve a conspirata dos judeus
contra Paulo. Nos versículos 12 e 13 lemos: “Quando
amanheceu, os judeus se reuniram e, sob anátema,
juraram que não haviam de comer, nem beber,
enquanto não matassem Paulo. Eram mais de
quarenta os que entraram nesta conspirata”. A
conspirata nos versículos 12 a 15 manifestou a
falsidade e o ódio satânico (Jo 8:44; Mt 23:34)
existentes nos religiosos hipócritas do judaísmo.
Nesses versículos vemos quão furiosos estavam
os judeus contra Paulo e o ódio que tinham dele. Os
quarenta judeus que entraram em conspirata talvez
fossem jovens; eles foram aos principais sacerdotes e
anciãos e disseram: “Juramos, sob pena de anátema,
não comer coisa alguma, enquanto não matarmos
Paulo. Agora, pois, notificai ao comandante,
juntamente com o Sinédrio, que vo-lo apresente
como se estivésseis para investigar mais
acuradamente a sua causa; e nós, antes que ele
chegue, estaremos prontos para assassiná-lo” (vs.
14-15). Literalmente os termos gregos traduzidos
“juramos, sob pena de anátema”, significam “nós nos
amaldiçoamos com maldição”. É uma expressão
muito enfática. Parece que os quarenta conspiradores
queriam dizer que se não conseguissem matar Paulo,
então eles mesmos não viveriam mais. É provável que
tivessem a intenção de matá-lo em vinte e quatro
horas. O plano deles era fazer-lhe uma emboscada
quando ele fosse trazido aos principais sacerdotes e
anciãos para mais investigação.

TRANSFERIDO SECRETAMENTE PARA


FÉLIX, O GOVERNADOR ROMANO EM
CESARÉIA
Em 23:16-24:27 vemos que Paulo foi transferido
para Félix, o governador romano em Cesaréia. De
acordo com 23:16-25, essa transferência foi levada a
cabo secretamente. Atos 23:16-18 diz: “Mas o filho da
irmã de Paulo, tendo ouvido a trama, foi, entrou na
fortaleza e de tudo avisou a Paulo. Então, este,
chamando um dos centuriões, disse: Leva este rapaz
ao comandante, porque tem alguma coisa a
comunicar-lhe. Tomando-o, pois, levou-o ao
comandante, dizendo: O preso Paulo, chamando-me,
pediu-me que trouxesse à tua presença este rapaz,
pois tem algo que dizer-te”. Isso também mostra a
soberania do Senhor para resgatar a vida de Paulo.
Quando o comandante romano ouviu sobre a
conspirata contra Paulo, exerceu a sua autoridade e
sabedoria para enviá10 para Cesaréia, onde estava o
governador da província da Judéia. Com respeito a
isso lemos nos versículos 23 e 24: “Chamando dois
centuriões, ordenou: Tende de prontidão, desde a
hora terceira da noite, duzentos soldados, setenta de
cavalaria e duzentos lanceiros para irem até Cesaréia;
preparai também animais para fazer Paulo montar e
ir com segurança ao governador Félix”. Esses
lanceiros podem ter sido fundeiros, ou atiradores de
funda, isto é, soldados com armamento leve. A
terceira hora da noite era vinte e uma horas. Félix, a
quem Paulo devia ser levado em segurança, era o
governador romano da província da Judéia.
O comandante romano exerceu a sua autoridade
a ponto de usar duzentos soldados, setenta
cavalarianos e duzentos lanceiros para transferir
Paulo de Jerusalém para Cesaréia. Os que
conspiravam contra ele nunca imaginaram que o
comandante romano fosse tomar tal atitude. Eles
esperavam poder matá-lo no dia seguinte. Mas,
durante a noite, o comandante romano o tirou de
Jerusalém, numa procissão de quatrocentos e setenta
soldados. Aqui novamente vemos a soberania do
Senhor.
Em Atos 23:31 lemos: “Os soldados, pois,
conforme lhes foi ordenado, tomaram Paulo e,
durante a noite, o conduziram até Antipátride”.
Antipátride era um lugar que distava cerca de
quarenta milhas romanas de Jerusalém e cerca de
vinte e seis de Cesaréia.
Atos 23:33-35 relata o que aconteceu uma vez
que Paulo foi levado a Cesaréia: “Chegando a
Cesaréia, entregaram a carta ao governador e
também lhe apresentaram Paulo. Lida a carta,
perguntou o governador de que província ele era; e,
quando soube que era da Cilícia, disse: Ouvir-te-ei
quando chegarem os teus acusadores. E mandou que
ele fosse detido no pretório de Herodes”. O pretório,
construído por Herodes, o Grande, era o palácio dos
antigos reis. Tornou-se a residência oficial do
governador da província romana da Judéia. Paulo foi
mantido ali com brandura, não como em prisão
comum. Na mensagem seguinte veremos o que
aconteceu a Paulo sob Félix, o governador romano,
em Cesaréia.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E TRÊS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (29)

Leitura Bíblica: At 24:1-27


Nesta mensagem chegamos a 24:1-27, trecho de
Atos em que Paulo é acusado pelo advogado dos
judeus (vs. 1-9), defende-se diante de Félix (vs. 10-21)
e é conservado detido pelo político romano injusto e
corrupto (vs. 22-27).

ACUSADO PELO ADVOGADO DOS JUDEUS


Em Atos 24:1 lemos: “Cinco dias depois, desceu o
sumo sacerdote, Ananias, com alguns anciãos e com
certo orador, chamado Tértulo, os quais
apresentaram ao governador libelo contra Paulo”. O
orador Tértulo era um advogado, um legista, que
conhecia os procedimentos legais romanos.
Nos versículos 2 a 4 temos a continuação: “Sendo
este chamado, passou Tértulo a acusá-lo, dizendo:
Excelentíssimo Félix, tendo nós, por teu intermédio,
gozado de paz perene, e, também por teu providente
cuidado, se terem feito notáveis reformas em
benefício deste povo, sempre e por toda parte, isto
reconhecemos com toda a gratidão. Entretanto, para
não te deter por longo tempo, rogo-te que, de
conformidade com a tua clemência, nos atendas por
um pouco”. A palavra de Tértulo aqui demonstra a
sua vileza; ele era totalmente desprovido de qualquer
padrão ético.
Em 24:5 Tértulo disse com respeito a Paulo:
“Porque, tendo nós verificado que este homem é uma
peste e promove sedições entre os judeus esparsos
por todo o mundo, sendo também o principal
agitador da seita dos nazarenos”. Temos aqui uma
acusação tríplice. Primeiro, Tértulo acusou Paulo de
ser uma peste. Uma peste é algo cheio de “germes”
malignos. Paulo, no entanto, era cheio de germes
positivos: os germes do Cristo ressurreto para a Sua
propagação infundindo-O nas pessoas. Todos
devemos ser esse tipo de “peste”.
Segundo, Tértulo deu a Paulo o título de alguém
que “promove sedições”. Ele acusou Paulo de ser um
agitador de insurreições entre os judeus por toda a
terra habitada.
Terceiro, Tértulo também afirmou que Paulo era
o principal agitador da seita dos nazarenos. A palavra
de Tértulo indica que os judeus consideravam os
crentes no Senhor Jesus como nazarenos. No capítulo
treze de Atos os crentes foram pela primeira vez
chamados de cristãos, em Antioquia. Cristãos são
homens de Cristo, os que vivem Cristo. Aqui o
advogado judeu dá aos crentes outro apelido:
nazarenos. O uso desse apelido indica que os crentes
eram considerados seguidores do Nazareno, Jesus.

DEFENDE-SE DIANTE DE FÉLIX


Em 24:10 Paulo inicia a sua defesa diante de
Félix: “Paulo, tendo-lhe o governador feito sinal que
falasse, respondeu: Sabendo que há muitos anos és
juiz desta nação, sinto-me à vontade para me
defender”. Vimos que, em contraste com o modo
como o Senhor encarava os Seus opositores, era
necessário que Paulo se defendesse e exercitasse a
sabedoria para salvar a própria vida da mãos dos
perseguidores, a fim de cumprir o curso do seu
ministério.

Servia a Deus e Andava de acordo com as


Escrituras
Nos versículos 11 a 14 Paulo prossegue: “Visto
poderes verificar que não há mais de doze dias desde
que subi a Jerusalém para adorar; e que não me
acharam no templo discutindo com alguém, nem
tampouco amotinando o povo, fosse nas sinagogas ou
na cidade; nem te podem provar as acusações que,
agora, fazem contra mim. Porém confesso-te que,
segundo o Caminho, a que chamam seita, assim eu
sirvo ao Deus de nossos pais, acreditando em todas as
coisas que estejam de acordo com a lei e nos escritos
dos profetas”. Aqui vemos que o que os opositores
judeus chamavam de seita, Paulo chamava de “o
Caminho”. Como já comentamos, o Caminho,
mencionado várias vezes em Atos (9:2; 18:25-26;
19:9, 23; 22:4), denota a plena salvação do Senhor na
economia neotestamentária de Deus.
No versículo 14 ele testificou que, de acordo com
o Caminho, que os opositores chamavam de seita, ele
servia ao Deus dos seus pais. Literalmente, o
vocábulo grego traduzido “sirvo” significa “sirvo
como sacerdote”. O modo de Paulo servir a Deus era
conforme a economia neotestamentária. Assim, a sua
forma de servir era diferente da dos outros judeus.
No versículo 14 ele também diz que acreditava
em todas as coisas que estavam de acordo com a lei e
nos escritos dos profetas. Aqui ele está dizendo que
agia de acordo com o Antigo Testamento, composto
da lei e dos profetas. Portanto, ele se vindicou como
alguém que andava de acordo com as Escrituras.

A Ressurreição dos Justos e dos Injustos


Em 24:15 ele fala da ressurreição: “Tendo
esperança em Deus, como também estes a têm, de
que haverá ressurreição, tanto de justos como de
injustos”. A ressurreição dos justos será antes do
milênio, quando o Senhor voltar (1Co 15:23; 1Ts
4:16). Será a ressurreição da vida (10 5:28-29a; Dn
12:2). A ressurreição da vida é a dos crentes antes do
milênio. Os crentes mortos serão ressuscitados para
desfrutar a vida eterna quando o Senhor voltar. Por
isso, é chamada de ressurreição da vida. Também é a
ressurreição do galardão (Lc 14:14), quando Deus
galardoará os santos (Ap 11:18) na volta do Senhor
(1Co 4:5).
A ressurreição dos justos, que é a da vida,
também inclui a primeira ressurreição, ou a melhor
(Ap 20:4-6). Apocalipse 20:5-6 fala da primeira
ressurreição, ou da melhor. A primeira ressurreição é
a melhor. Não é apenas a ressurreição da vida, mas
também do galardão, a ressurreição extraordinária,
que o apóstolo Paulo buscava (Fp 3:11, lit.),
relacionada com o reino, como recompensa aos
vencedores, a fim de que reinem como reis
juntamente com Cristo no reino milenar (Ap 20:4, 6).
Quem terá “parte na primeira ressurreição” (Ap 20:6)
não serão apenas os vencedores ressurretos, tais
como o filho varão (Ap 12:5) e os mártires tardios (Ap
15:2), mas também os arrebatados vivos, como as
primícias (Ap 14:1-5).
Em Filipenses 3:11 Paulo se refere à primeira, ou
melhor, ou ainda a ressurreição extraordinária:
“Para, de algum modo alcançar a ressurreição dentre
os mortos”. O vocábulo ressurreição nesse versículo
também pode ser traduzido como ressurreição
extraordinária. Será um galardão para os crentes
vencedores. Todos os crentes que estão mortos em
Cristo participarão da ressurreição dentre os mortos
quando Ele voltar (1Ts 4:16; 1Co 15:52). Entretanto,
os vencedores desfrutarão uma porção especial,
chamada de “superior ressurreição” em Hebreus
11:35.
Chegar à ressurreição extraordinária significa ter
todo o nosso ser gradual e continuamente
ressuscitado. Deus primeiro ressuscitou o nosso
espírito amortecido (Jo 5:25; Ef 2:5-6). Depois, do
nosso espírito Ele ressuscita a nossa alma (Rm 8:6) e
o nosso corpo mortal (Rm 8:11), até que todo o nosso
ser (espírito, alma e corpo) seja plenamente
ressuscitado, a partir do nosso velho ser, por meio da
Sua vida e com ela. É um processo em vida pelo qual
devemos passar e é também uma carreira que
devemos correr até alcançar a ressurreição
extraordinária como prêmio. Assim, a ressurreição
extraordinária deve ser o alvo e destino da vida cristã.
Só conseguimos atingi-lo sendo conformados à morte
de Cristo (Fp 3:10), tendo um viver crucificado. Na
morte de Cristo passamos por um processo em
ressurreição da velha para a nova criação.
Já enfatizamos que em Atos 24:15 Paulo diz que
haverá uma ressurreição tanto dos justos como dos
injustos. A ressurreição dos injustos ocorrerá depois
do milênio (Ap 20:5). Será a ressurreição do juízo (10
5:29), da vergonha e do horror eterno (Dn 12:2b).
Essa será a ressurreição dos incrédulos que
morreram, e ocorrerá depois do milênio (Ap 20:5,
12). Todos os incrédulos mortos serão ressuscitados
depois dos mil anos, a fim de ser julgados no grande
trono branco (Ap 20:11-15). Portanto, é chamada de
ressurreição do juízo. Em Apocalipse 20:12 a
expressão “em pé” indica que os mortos foram
ressuscitados. Essa é a ressurreição do juízo para a
perdição eterna sobre os injustos depois do milênio. É
a ressurreição da qual o apóstolo Paulo advertiu o
injusto Félix em Atos 24:25.
Todos os não-salvos estarão na ressurreição do
juízo. Como serão condenados à perdição eterna, a
ressurreição deles será de vergonha e horror eterno.
Paulo, em sua sabedoria, mencionou essa
ressurreição como um advertência para Félix. O que
ele disse implica que Félix deveria preparar-se para
enfrentar a ressurreição do juízo vindouro. Como
veremos, mais tarde ele lhe falou diretamente com
respeito ao juízo vindouro.

O Esforço de Paulo por Ter Consciência sem


Ofensa
Em 24:16 Paulo disse a Félix: “Por isso, também
me esforço por ter sempre consciência pura diante de
Deus e dos homens”. O vocábulo puro também pode
ser traduzido por “sem ofensa”. Paulo falou algo
semelhante ao se defender diante do Sinédrio:
“Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com
toda a boa consciência até ao dia de hoje” (23:1).
Vimos que o fato de ele andar diante de Deus com
toda a boa consciência era retomar da queda do
homem para Deus. Ele falou isso a fim de se vindicar
perante os que o acusavam de ser alguém sem lei e até
mesmo negligente. O testemunho de Paulo em 23:1 e
24:16 com respeito à sua consciência mostrou o seu
alto padrão moral em contraste com a hipocrisia dos
religiosos judeus e com a desonestidade dos políticos
romanos. Ao prosseguir em Atos 24, veremos mais
com respeito à corrupção da política romana.

CONSERVADO DETIDO PELO POLÍTICO


ROMANO INJUSTO E CORRUPTO
Em Atos 24:22-23 lemos: “Então, Félix,
conhecendo mais acuradamente as coisas com
respeito ao Caminho, adiou a causa, dizendo: Quando
descer o comandante Lísias, tomarei inteiro
conhecimento do vosso caso. E mandou ao centurião
que conservasse a Paulo detido, tratando-o com
indulgência e não impedindo que os seus próprios o
servissem”. A expressão grega traduzi da por “adiou a
causa” no versículo 22 literalmente significa
“adiou-as”. O termo grego para “indulgência” no
versículo 23 também significa alívio, conforto.
Segundo o versículo 24, “passados alguns dias,
vindo Félix com Drusila, sua mulher, que era judia,
mandou chamar Paulo e passou a ouvi-lo a respeito
da fé em Cristo Jesus”. Drusila era filha do Rei
Herodes Agripa. Ela foi convencida por Félix, que se
enamorou dela, a deixar o marido e casar-se com ele.
Isso mostra a intemperança e corrupção de Félix, um
político romano. Ele era uma pessoa imoral sem
domínio próprio.
O versículo 24 diz que Félix ouviu Paulo a
respeito da fé em Cristo Jesus.

Disserta acerca da Justiça, Domínio Próprio e


Juízo Vindouro
Em 24:25 lemos: “Dissertando ele acerca da
justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro, ficou
Félix amedrontado e disse: Por agora, podes
retirar-te, e, quando eu tiver vagar, chamar-te-ei”.
Literalmente, o termo grego traduzido dissertar
significa arrazoar, discutir (com argumentos ou
exortação), debater; o mesmo que em 17:2 e 18:4, 19.
Percebendo a injustiça (vs. 26-27) e
intemperança de Félix, o apóstolo dissertou com ele
sobre justiça e domínio próprio, o controle sobre
paixões e desejos, aqui especialmente com respeito
aos desejos sexuais. O juízo vindouro se relaciona à
ressurreição dos injustos, que o apóstolo pregou no
versículo 15. O apóstolo também arrazoou com Félix
sobre o juízo vindouro como advertência. Com isso
Félix ficou amedrontado.
Félix certamente era um político injusto. Como
indica o versículo 26, ele esperava receber dinheiro de
Paulo. Esperava suborno, o ganho injusto de
dinheiro. Com base nisso, Paulo arrazoou com ele
com respeito à justiça.
Vimos que a Félix também faltava domínio
próprio. Devido à lascívia descontrolada de Félix,
Paulo, a fim de mostrar a pecaminosidade dele,
também arrazoou com ele sobre domínio próprio.
Por fim, em seu arrazoamento com Félix, Paulo
chegou à questão do juízo vindouro para a perdição.
Em sua pregação aos gentios, tanto Pedro em 10:42,
como Paulo aqui e em 17:31 enfatizaram o juízo
vindouro de Deus. O Cristo ressurreto na Sua volta
será o Juiz dos vivos antes do milênio no Seu trono de
glória (Mt 25:31-46). Isso está relacionado com a Sua
segunda vinda (2Tm 4:1). Ele também será o Juiz dos
mortos depois do milênio no grande trono branco (Ap
20:11-15).
A palavra de Paulo a Félix foi uma advertência
categórica. Ele ficou amedrontado, mas não foi
comovido. Mandando Paulo retirar-se, ele disse: “Por
agora, podes retirar-te, e, quando eu tiver vagar,
chamar-te-ei” (v. 25).
Félix realmente mandou chamar Paulo várias
vezes. A esse respeito, 24:26 diz: “Esperando
também, ao mesmo tempo, que Paulo lhe desse
dinheiro; pelo que, chamando-o mais
freqüentemente, conversava com ele”. Isso mostra a
corrupção desse político romano. A intenção dele ao
chamar Paulo não era ouvir o evangelho, e, sim,
ganhar dinheiro.

Dois Anos em Cesaréia


No versículo 27 temos a conclusão: “Dois anos
mais tarde, Félix teve por sucessor Pórcio Festo; e,
querendo Félix assegurar o apoio dos judeus,
manteve Paulo encarcerado”. Pórcio Festo foi o
sucessor de Félix no governo da Judéia. O fato de
Félix ter deixado Paulo preso mostra novamente a
corrupção da política romana.
Lucas não nos diz o que o apóstolo fez nesses
dois anos. Talvez tenha usado esse tempo para estar
na presença do Senhor rogando pelo Seu mover na
terra. Se isso ocorreu, deve ter influenciado as
Epístolas escritas ao tempo do seu apelo em Roma
(Colossenses, Efésios e Filipenses) que são as mais
misteriosas, profundas e ricas quanto à revelação
divina.

UM QUADRO DE HIPOCRISIA E
CORRUPÇÃO
Nesses capítulos de Atos temos um quadro da
hipocrisia da religião e corrupção na política. Que
hipocrisia havia no judaísmo! Os judeus fingiam
servir a Deus, agradá-Lo e glorificá-Lo, no entanto
faziam muitas coisas malignas. Esses capítulos
expõem as coisas malignas do povo judeu. Eram
religiosos de maneira maligna, até mesmo planejando
matar Paulo. Embora fossem malignos, ainda fingiam
adorar a Deus e agradá-Lo. Portanto, no judaísmo
havia hipocrisia.
Na política romana vemos corrupção e injustiça.
Félix sabia que Paulo nada tinha feito de errado,
assim, por justiça deveria tê-lo libertado. Contudo,
para ganhar o favor dos judeus e com a esperança de
ganhar dinheiro de Paulo e seus amigos, ele o
conservou detido por dois anos. Na mensagem
seguinte iremos considerar o que Paulo pode ter feito
nesses anos.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (30)

Leitura Bíblica: At 24:22-27; Gl 1:17; Cl 1:25; 1Tm


1:3-4; 2Tm 1:14; 2:2, 22
Em 24:1-9 Paulo foi acusado pelo advogado dos
judeus, e em 24:10-21 defendeu-se perante Félix, o
governador romano da Judéia. Então, em 24:22-27,
foi conservado detido pelo político romano injusto e
corrupto. Em Atos 24:27 lemos: “Dois anos mais
tarde, Félix teve por sucessor Pórcio Festa; e,
querendo Félix assegurar o apoio dos judeus,
manteve Paulo encarcerado”. Lucas não nos revela o
que Paulo fez nesses dois anos. Nesta mensagem
iremos considerar o que ele pode ter feito nesse
período.

RECEBEU REVELAÇÃO POR MEIO DO


CONHECIMENTO DO ANTIGO TESTAMENTO
Lucas não nos diz nada sobre os dois anos em
que Paulo foi conservado detido em Cesaréia, nem
sobre o tempo em que ele ficou na Arábia após a
conversão. A esse respeito Paulo diz: “Nem subi a
Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de
mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei,
outra vez, para Damasco” (GIl:17). É difícil descobrir
aonde na Arábia Paulo foi depois da sua conversão e
quanto tempo permaneceu. Contudo deve ter sido um
lugar apartado dos cristãos, e o tempo que
permaneceu lá não deve ter sido curto. O seu objetivo
ao se referir a isso era testificar que não recebera o
evangelho de homens (Gl 1:12). Ali ele deve ter
recebido alguma revelação com respeito ao evangelho
diretamente do Senhor.
Sem dúvida, a revelação divina que Paulo
recebeu do Senhor na Arábia veio por meio do seu
conhecimento do Antigo Testamento, do qual ele era
excelente estudioso. Isso é evidente pelo modo pelo
qual o expôs nos livros de Romanos, Gálatas e
Hebreus. Ao ler esses livros vemos que ele tinha um
conhecimento profundo do Antigo Testamento.
Ademais, ele tinha discernimento das Escrituras. Um
exemplo disso é a alegoria de Sara, esposa de Abraão,
e Hagar, concubina de Abraão, como sendo duas
alianças (GI4:22-26). Se ele não as tivesse
alegorizado em Gálatas 4, poderíamos ler Gênesis
várias vezes sem ver que Sara e Hagar representam
duas alianças. Mas Paulo, que era grande conhecedor
da verdade do Antigo Testamento, tinha o
discernimento para ver isso. Por meio do seu
conhecimento a luz divina veio a ele. Assim, como
vemos em seus escritos, ele conseguia entender os
tipos do Antigo Testamento a respeito da Pessoa e
obra de Cristo. O conhecimento que ele tinha das
Escrituras era uma das razões de receber tanta
revelação divina.

RECEBEU REVELAÇÃO DIRETAMENTE DO


SENHOR
Embora Paulo tenha recebido muita revelação do
Senhor por meio do seu conhecimento do Antigo
Testamento, alguns aspectos dessa revelação não se
baseiam no Antigo Testamento. Podemos tomar
como exemplo o que ele diz com respeito às
diferentes leis em Romanos 7 e 8. Em Romanos 8:2
ele diz: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo
Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte”. Aqui
ele fala de duas leis: a lei do pecado e da morte e a lei
do Espírito da vida. Em Romanos 7, além da lei de
Deus (v. 22), ele fala da “lei da minha mente” (v. 23),
que é a lei de fazer o bem. Em Romanos 7:23 ele
também menciona “a lei do pecado que está nos meus
membros”. Assim, nesses dois capítulos ele fala de
quatro leis: a lei escrita de Deus, a lei de fazer o bem,
a lei do pecado e da morte e a lei do Espírito da vida.
Em contraste com a lei de Deus, a lei de fazer o bem, a
lei do pecado e da morte e a lei do Espírito da vida
não são leis escritas; antes, são princípios fixos de
vida.
Cada vida têm a sua própria lei. A lei de fazer o
bem é a lei da vida humana. A lei do pecado e da
morte é a lei da vida pecaminosa, da vida satânica. A
lei do Espírito da vida é a lei da vida divina. Essas três
leis se baseiam nos princípios fixos dessas vidas. A
vida humana tem a sua própria lei, a vida satânica
tem uma lei pecaminosa, e a vida divina, que é a vida
mais elevada, certamente tem uma lei divina.
Qual foi a fonte da revelação dada a Paulo a
respeito dessas três leis? Estudei essa questão para
ver se descobria a fonte, mas não consegui.
Provavelmente ele a recebeu diretamente do Senhor.
Além do mais, o seu conhecimento dessas leis se
baseava na sua experiência. Ele experimentou a lei da
mente, a lei de fazer o bem. Também experimentou a
lei do pecado e da morte. Quanto a isso, ele podia
dizer: “Mas vejo, nos meus membros, outra lei que,
guerreando contra a lei da minha mente, me faz
prisioneiro da lei do pecado que está nos meus
membros” (Rm 7:23). Antes disso, em Romanos 7
Paulo disse: “Porque eu sei que em mim, isto é, na
minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer
o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque
não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero,
esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou
eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.
Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o
mal reside em mim” (vs. 18-21). Assim, pela sua
experiência ele aprendeu que há tal lei, como a lei do
pecado e da morte. Por certo, pela sua experiência
cristã ele descobriu que nele havia uma lei mais
elevada: a lei da vida divina. Ele certamente recebeu a
revelação com respeito a essas quatro leis.
Por ter recebido tanta revelação do Senhor,
quando ia pregar, ele podia ministrar aos outros as
riquezas dessas revelações. Ele pôde escrever cartas
tais como 1 e 2 Tessalonicenses, Romanos, Gálatas e 1
e 2 Coríntios. Ao ler os seus escritos, vemos que são
todos cheios de revelação divina. O que estamos
enfatizando aqui é que ele deve ter recebido muita
revelação do Senhor enquanto esteve na Arábia.

PAULO EM CESARÉIA
Conforme Atos 24:27, o Senhor separou um
período de dois anos no qual Paulo ficou detido em
Cesaréia. Nesses anos ele deve ter pensado sobre o
que acontecera em Atos 15 e 21.
Em Atos 21 vimos a fraqueza de Paulo ao
enfrentar a mistura religiosa em Jerusalém. Embora
tivessem estado com o Senhor no monte da
transfiguração, Pedro e João permaneceram calados
em Atos 21, com respeito à economia
neotestamentária de Deus. Como vimos, Tiago falou a
favor dos crentes judeus que ainda eram zelosos da lei
(21:20). Será que Tiago não tinha luz a respeito da
economia neotestamentária de Deus? Parece que ele
era muito fraco em seu entendimento disso. Embora
Pedro e João tivessem sido iluminados com respeito à
economia neotestamentária de Deus, eles nada
fizeram a respeito da mistura da graça do Novo
Testamento com a lei do Antigo Testamento em
Jerusalém. Parece que Paulo era o único que tinha
encargo pela situação.
Ao considerar a cena retratada nesses capítulos
de Atos, vemos que a figura central, na verdade, era o
próprio Senhor. Ele foi a figura central nesses
capítulos, como alguém soberano sobre todas as
coisas. Por fim, Ele livrou Paulo da difícil situação em
Jerusalém, preservando a sua vida dos judeus
revoltosos, e colocando-o sob custódia do governo
romano em Cesaréia. Embora estivesse detido, Paulo,
na verdade, não estava na prisão. Félix “mandou ao
centurião que conservasse a Paulo detido, tratando-o
com indulgência e não impedindo que os seus
próprios o servissem” (24:23). Como indica 24:26, o
objetivo de Félix em permitir que os amigos de Paulo
o visitassem era conseguir dinheiro para si. Porém o
Senhor tinha o Seu próprio propósito em manter
Paulo sob custódia em Cesaréia. Ali ele não tinha o
que fazer, e foi guardado seguramente de problemas.

PREPARADO PARA ESCREVER MAIS


EPÍSTOLAS
Que você acha que Paulo fez naqueles dois anos
detido em Cesaréia? Você acha que, depois de ter
passado por tantos tumultos, ele tenha feito outra
coisa além de ler as Escrituras? Ele certamente deve
ter-se lembrado de suas experiências nos capítulos
quinze e vinte e um. Deve ter pensado a respeito das
coisas pelas quais passara. Talvez tenha comparado
as suas experiências recentes com a revelação que
recebera antes, especialmente a que recebera na
Arábia. Creio que ele revisou toda a situação a partir
de Atos 15, à luz da revelação que lhe fora dada. Ao
revisar as questões dessa forma, a luz deve ter-se
tomado cada vez mais clara. Isso, obviamente, é
inferência nossa, baseada no estudo do Novo
Testamento.
Ao considerar a situação em Atos 21, ele talvez
tenha ficado descontente com Tiago e também com
Pedro e João. Deve ter lamentado o que acontecera.
Então, pode ter percebido que lhe era necessário
escrever mais epístolas. O conteúdo de Hebreus,
Efésios, Filipenses e Colossenses deveria estar
profundamente em seu interior naqueles anos em
Cesaréia.
Gastei tempo estudando o que Paulo fez por dois
anos em Cesaréia. Creio que nesse tempo ele tenha
revisado a sua experiência de Atos 15 e 21,
comparando-a com a revelação que havia recebido do
Senhor, e com a situação que vira em Jerusalém com
Tiago, Pedro e João. Creio que quanto mais revisava a
sua experiência, mais encargo ganhava para escrever.
Talvez tenha percebido que não seria solto tão cedo
da detenção do governo romano. Deve ter previsto
que ficaria bastante tempo em Cesaréia. Creio que
nos dois anos em que esteve lá, ele foi preparado pelo
Senhor para escrever as oito Epístolas: Hebreus,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e
Filemom.
Livros como Hebreus e Efésios não poderiam ter
sido escritos sem preparação adequada. Para se
escrever essas epístolas havia a necessidade de muita
preparação. Antes de poder escrevê-las, ele primeiro
tinha de aprofundar-se na revelação de Deus, e
necessitava de um tempo de muita consideração. Esse
tempo lhe foi dado, um tempo de preparação, nos
dois anos em que esteve detido em Cesaréia. Mais
tarde, quando foi transferido de Cesaréia para Roma,
ele teve a oportunidade de escrever os livros de
Hebreus, Efésios, Filipenses e Colossenses.
Naturalmente, também estava capacitado a escrever 1
e 2 Timóteo, Tito e Filemom. Seria de muita ajuda
revisar especialmente Hebreus, Efésios, Filipenses e
Colossenses com o pano de fundo de Atos 15 a 24. Se
o fizermos, visualizaremos essas quatro Epístolas de
maneira nova, com mais luz.

COM ENCARGO PELA ECONOMIA


NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Paulo tinha um pesado encargo com respeito à
economia neotestamentária de Deus. Embora não
tenha tido a oportunidade de continuar a levá-la a
cabo pessoalmente, foi-lhe dada a oportunidade de
escrever a revelação divina. Em Colossenses 1:25 ele
diz: “Da qual me tornei ministro de acordo com a
dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a
vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de
Deus”. O verbo dar cumprimento pode ser traduzido
por completar. Aqui vemos que ele escreveu
Colossenses para completar a economia
neotestamentária de Deus. Sem os livros de
Colossenses, Filipenses, Efésios e Hebreus não
teríamos uma visão clara da economia divina.
Na verdade, o vocábulo grego para “economia”
(oikonomía) é um termo usado particularmente por
Paulo, especialmente no livro de Efésios. Embora use
esse termo em 1 Coríntios 9:17, ele não o faz com o
objetivo específico de revelar a economia
neotestamentária de Deus. Contudo, em Efésios ele o
usa com esse objetivo. Efésios, nós sabemos, é um
livro sobre a igreja. Mas, se temos apenas esse
entendimento de Efésios, a nossa compreensão é
superficial demais. Precisamos ver que Efésios trata
da economia de Deus.
Já enfatizamos que, com respeito à situação em
Atos, podemos ver a soberania do Senhor. Nem o
judaísmo nem a política romana podiam derrotar o
soberano Senhor. Pelo contrário, tudo servia ao Seu
propósito. Até mesmo o temor de Pedro (Gl 2:12) e as
conspirações dos judeus serviam ao propósito do
Senhor. Aparentemente, essas coisas impediam o Seu
mover. Na verdade, elas serviam ao Seu propósito em
revelar e então levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus.
Hoje temos encargo de levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus. Essa é a razão pela qual
freqüentemente tenho dito que na restauração do
Senhor não fazemos uma obra cristã comum. Pelo
contrário, pela misericórdia e graça do Senhor
estamos aqui para levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus.

TER A VISÃO DA ECONOMIA


NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Depois de estudar todos os livros da Bíblia por
muitos anos, começamos a ver a revelação geral da
Bíblia com respeito à economia neotestamentária de
Deus. Por meio da Palavra, o Senhor mostrou-nos
que nessa economia o Deus Triúno se tornou um
homem no Filho. Isso significa que a realização dessa
economia iniciou-se com a encarnação. Por meio do
viver humano, morte, ressurreição e ascensão de
Cristo todas as coisas necessárias para o
cumprimento da economia divina foram realizadas.
Depois de insuflar o Espírito nos discípulos
essencialmente (10 20:22), o Senhor, em ascensão,
derramou o Espírito sobre o Seu Corpo
economicamente (At 2:17). Esse derramamento do
Espírito foi a completação da realização da economia
neotestamentária de Deus. Agora o Deus Triúno,
como o Espírito todo-inclusivo processado, está nos
Seus escolhidos, sobre eles e com eles levando a cabo
a Sua economia. O Senhor Se propaga infundindo-Se
nos crentes para fazê-los membros vivos de Seu
Corpo universal como o Seu vaso corporativo para a
Sua expressão. Hoje esse vaso corporativo é expresso
em várias cidades como igrejas, e todas elas são
candelabros brilhando nesta era de trevas. Por fim,
todas elas culminarão na Nova Jerusalém, a
consumação final e máxima do mover de Deus em
Sua economia neotestamentária.
O foco crucial da economia neotestamentária de
Deus é o Cristo todo-inclusivo como nossa vida, nossa
pessoa e nosso tudo. A economia divina não se
centraliza numa lei, regulamento, ensinamento,
filosofia ou prática, e, sim, numa Pessoa
todo-inclusiva e maravilhosa. Essa Pessoa é a
corporificação do Deus Triúno processado, e é
percebido como o Espírito que dá vida todo-inclusivo,
que está em nós e sobre nós. Esse Espírito opera em
nós para que sejamos conduzidos de volta
diretamente a Cristo a fim de desfrutá-Lo como tudo.
Espero que venhamos a ter uma visão clara a esse
respeito.
Se tivermos a visão da economia divina,
louvaremos ao Senhor pelos dois anos que Ele
manteve Paulo detido em Cesaréia. Esse foi um
tempo de preparação para que Paulo, um vaso
escolhido, escrevesse a revelação completadora que
recebeu do Senhor. Depois da preparação em
Cesaréia, ele foi transferido para Roma. Então
escreveu as excelentes e completadoras Epístolas aos
Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus. Se
quisermos ter o ministério de Paulo constituído em
nós, precisamos estudar esses quatro livros.
Além de escrever essas quatro Epístolas, Paulo
também escreveu 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom. Em 1
Timóteo 1:3-4 Paulo disse a Timóteo: “Quando eu
estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei
permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a
certas pessoas, a fim de que não ensinem outra
doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias
sem fim, que, antes, promovem discussões do que o
serviço de Deus, na fé”. A expressão ensinar outra
doutrina significa ensinar diferentemente e o termo
serviço é, no original, economia. Aqui Paulo nos
exorta a não ensinar diferentemente, mas ensinar a
economia de Deus. De acordo com 1 Timóteo, a
economia de Deus está centrada em Deus
manifestado na carne (3:16). De acordo com 1
Timóteo 3:15, a igreja do Deus vivo, a casa de Deus, é
a coluna e a base da verdade, e essa verdade é, de fato,
a realidade da economia neotestamentária.
Em 2 Timóteo 1:14 temos esta ordem: “Guarda o
bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita
em nós”. Então, em 2 Timóteo 2:2 ele prosseguiu: “E
o que de minha parte ouviste através de muitas
testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e
também idôneos para instruir a outros”. Aqui ele
ordenou que Timóteo passasse o que recebera a
outros para que estes, por sua vez, ensinassem outros.
Ademais, Paulo disse a Timóteo que seguisse “a
justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração
puro, invocam o Senhor” (2Tm 2:22). Aqui vemos que
invocar o nome do Senhor tem um lugar definido no
que diz respeito a levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus. Para levá-la precisamos
invocar o nome do Senhor continuamente. Não
apenas devemos invocar individualmente; também
devemos invocá-Lo com os que de coração puro
invocam o Senhor.
Agradecemos ao Senhor pelas oito últimas
Epístolas escritas por Paulo. Se não as tivéssemos,
não sei onde estaríamos, no que diz respeito à
economia neotestamentária de Deus. Também
agradecemos ao Senhor pelo quadro que nos é
apresentado em Atos. Depois de considerar os
capítulos remanescentes desse livro, teremos visão
mais clara ainda de como levar a cabo a economia
neotestamentária de Deus.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E CINCO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (31)

Leitura Bíblica: At 25:1-27


Nos últimos quatro capítulos de Atos (25-28),
Paulo se defendeu duas vezes: primeiro diante de
Festa (25:6-8), depois diante de Agripa (26:1-29).
Após a sua defesa diante de Agripa, ele fez a sua
quarta jornada (27:1-28:31). Nesses capítulos temos
uma figura dos religiosos judeus, dos políticos
romanos e dos membros da igreja.

OS RELIGIOSOS JUDEUS
Vamos primeiro considerar o retrato dos
religiosos judeus. O judaísmo foi formado de acordo
com a Palavra de Deus. Assim, a religião judaica era
de acordo com as Escrituras. Os religiosos judeus
tinham a Bíblia santa, a terra santa, a cidade santa, o
templo santo, o sacerdócio santo e todos os demais
itens santos. No entanto, o que esses religiosos
fizeram, como registra o livro de Atos, foi
absolutamente de Satanás, e não de Deus.
Atos 25:1-3 diz: “Tendo, pois, Festa assumido o
governo da província, três dias depois, subiu de
Cesaréia para Jerusalém; e, logo, os principais
sacerdotes e os maiorais dos judeus lhe apresentaram
queixa contra Paulo e lhe solicitavam, pedindo como
favor, em detrimento de Paulo, que o mandasse vir a
Jerusalém, armando eles cilada para o matarem na
estrada”. Aqui vemos que os religiosos judeus
queriam armar uma cilada a fim de matar Paulo.
Ademais, eles mentiram e foram hipócritas. Neles
não havia nada de santo nem de justo. Nada havia
neles de que se pudesse dizer que era por Deus. Nessa
religião não conseguimos ver nada de espiritual ou
divino, pelo contrário, o que era praticado pelos
religiosos judeus no caso de Paulo não apenas era
carnal e pecaminoso como também diabólico e
infernal. A origem do que fizeram era o diabo.

OS POLÍTICOS ROMANOS
Em Atos também temos um retrato dos políticos
romanos. Em especial, temos um relato a respeito do
comandante, de Félix, de Festo e de Agripa. Quanto
mais elevados eram os políticos romanos, mais
corruptos eram. Félix era mais corrupto que o
comandante, Festo era mais corrupto que Félix, e
Agripa era mais corrupto que Festo. De acordo com o
registro da Bíblia, no círculo político romano havia
muita corrupção. Como já comentamos, juntamente
com a religião judaica e a cultura grega, a política
romana era um dos três pilares da cultura ocidental.
Mas, conforme Atos, a política romana era corrupta.
Atos 24:24 fala de Félix e Drusila, sua mulher.
Drusila era filha do rei Herodes Agripa. Félix
enamorou-se dela, persuadiu-a a deixar o marido e se
casar com ele. Isso mostra a intemperança e a
corrupção de Félix, um político romano. A sua
corrupção também é vista no fato de ele sempre
chamar Paulo na esperança de obter dinheiro
(24:26).
Em Atos 25:13 lemos sobre Agripa e Berenice.
Berenice era irmã de Drusila, esposa de Félix.
Também era irmã de Agripa, com quem vivia
incestuosamente. Talvez essa seja a razão de Berenice
não ser identificada como mulher de Agripa em 25:13.
A política romana certamente era trevosa e corrupta,
cheia de imoralidade sexual e do amor ao dinheiro. O
registro de Atos expõe a corrupção dos políticos
romanos.

A SITUAÇÃO DESALENTADORA DA IGREJA


EM JERUSALÉM
Em 1 Coríntios 10:32 Paulo fala dos judeus, dos
gregos e da igreja de Deus. Isso mostra que nos
tempos do Novo Testamento havia três classes de
pessoas: os judeus (o povo escolhido de Deus), os
gregos (gentios incrédulos) e a igreja (composta dos
crentes em Cristo). Vimos que, de acordo com o
quadro retratado em Atos, os judeus religiosos eram
hipócritas e até mesmo diabólicos e os políticos
romanos eram trevosos e corruptos. Qual então era a
situação da igreja? Quando Paulo ficou detido por
dois anos em Cesaréia, ele devia estar desapontado
com a igreja em Jerusalém. O que ele viu na igreja lá
foi fraqueza e concessões.
Paulo, como vaso escolhido por Deus, foi
iluminado ao máximo com respeito ao universo. Em 2
Coríntios, escrita pouco antes da sua última viagem a
Jerusalém, ele dá testemunho de que foi arrebatado
ao terceiro céu (2Co 12:2) e também ao paraíso (v. 4),
a seção agradável do Hades. Tendo recebido muita
revelação, ele foi iluminado com respeito aos
segredos do universo. Naturalmente, recebeu muita
revelação, em especial com respeito à economia
neotestamentária de Deus. Agora, nos últimos
capítulos de Atos, ele se encontrava rodeado pelos
religiosos judeus, pelos políticos romanos e por seus
cooperadores na vida da igreja. Ele deve ter
considerado essa situação muito decepcionante.

Fraqueza, Concessões e Falta de Revelação


Como alguém que tinha abundância da revelação
divina armazenada em seu ser, Paulo se deparou com
a situação entre os judeus, entre os políticos romanos
e as pessoas da igreja. Entre os religiosos judeus ele
viu hipocrisia e entre os políticos romanos viu
corrupção. Ademais, na vida da igreja ele viu a
fraqueza, as concessões e a falta de luz e revelação.
Parecia que ninguém na igreja era suficientemente
ousado para defender a revelação e visão que haviam
ganho. No meio dessa situação Pedro deveria ter
defendido ousadamente a revelação que recebera do
Senhor, mas não o fez.
Nos capítulos dois a cinco de Atos, Pedro e João
eram muito fortes e ousados. Como resultado da
ousadia deles, foram levados diante do Sinédrio no
capítulo quatro, e colocados pelo Sinédrio em prisão
pública, no capítulo cinco. Neles não havia sinal de
fraqueza ou concessão nesses primeiros capítulos.
Não há indício de que estivessem com medo dos
religiosos judeus ou tivessem de alguma forma sido
transigentes com eles. No entanto, ao ler do capítulo
15 em diante e também Gálatas 2, vemos que Pedro
por fim foi desmascarado em sua fraqueza e até
mesmo hipocrisia.

A Destruição de Jerusalém
Devido à forte atitude e posicionamento tomados
por Pedro, João e os demais crentes, os judeus
perseguiram os santos a tal ponto que, com exceção
dos apóstolos, todos deixaram Jerusalém (8:1). Mas
quando Paulo fez a sua última visita àquela cidade em
Atos 21, Tiago podia falar de “quantas dezenas de
milhares há entre os judeus que creram, e todos são
zelosos da lei” (v. 20). Esses milhares de crentes
tinham permanecido ali. Se Pedro e João tivessem
tido a atitude e posição enérgica no capítulo vinte e
um como nos capítulos dois a cinco, a maioria desses
crentes judeus teriam sido espalhados, e isso teria
sido a salvação deles, quanto à mistura religiosa de
Jerusalém. No entanto, esses milhares de crentes,
ainda zelosos da lei, permaneceram em Jerusalém, e
isso os colocou em grande perigo. Pouco depois da
última visita de Paulo ali, talvez em menos de dez
anos, Tito e o exército romano destruíram Jerusalém
e mataram os que ali moravam. Provavelmente
muitos cristãos foram mortos nessa ocasião.
Nas parábolas de Mateus 21:33-46 e 22:1-14 o
Senhor Jesus expressou a ira de Deus com respeito à
situação em Jerusalém. Ele disse que Deus, “o senhor
da vinha”, destruiria horrivelmente os maus
lavradores. Isso se cumpriu quando Tito, o general
romano, e o seu exército destruíram Jerusalém em 70
cf. e. Em Mateus 22:7 o Senhor profetizou que Deus
enviaria “os seus exércitos”, as tropas romanas
lideradas por Tito, e destruiria a cidade de Jerusalém.
Essa destruição deve ter incluído a igreja ali. Devido à
atitude transigente de Tiago e a fraqueza de Pedro, a
igreja em Jerusalém pode ter sido destruída
juntamente com a cidade. No entanto, a situação da
igreja teria sido diferente se Pedro e João tivessem
sido tão ousados em Atos 21 como foram no início. Se
tivessem continuado a ser enérgicos e ousados, os
santos teriam sido dispersos ou perseguidos até a
morte pelos religiosos judeus.

O Martírio de Tiago
Segundo a história, o Tiago de Atos 21 foi
martirizado nas mãos dos opositores judeus. Os
líderes do Sinédrio pensavam que ele fosse muito
favorável ao judaísmo. Convocaram uma reunião e
pediram que ele lhes falasse, pensando que falaria
positivamente sobre o judaísmo. Tiago, no entanto,
foi fiel em pregar a Cristo de maneira enfática. Os
líderes do Sinédrio se ofenderam e o mataram. Eles
tinham recebido uma impressão errônea dele, pois
tantos judeus crentes em Jerusalém eram zelosos da
lei. Isso pode tê-los feito pensar que ele fosse a favor
do judaísmo.
No registro em Atos 21, vemos que Tiago chegou
ao ponto de forçar Paulo a cair na “armadilha” de
uma situação extremamente difícil. Como
ressaltamos, o Senhor não tolerou essa situação
transigente em Jerusalém.

A ÚLTIMA JORNADA DE PAULO A


JERUSALÉM
É difícil crer que Pedro e João tenham
permanecido calados sobre a situação em Jerusalém.
Eles deveriam ter tomado o encargo de esclarecer a
questão. Não deveria ter sido necessário Paulo fazer
isso. Mas eles não cumpriram a sua obrigação em
Jerusalém. Antes, a igreja lá foi deixada numa
condição declinante e Paulo deve ter ficado muito
descontente com isso. Embora tivesse um pesado
encargo de levar a cabo a economia neotestamentária
de Deus no mundo gentio, ele percebeu que a fonte
em Jerusalém havia sido contaminada e o veneno se
espalhava no mundo gentio. Como as Epístolas de
Paulo nos mostram, ele tinha de enfrentar os
judaizantes em toda parte. De acordo com o livro de
Gálatas, as igrejas na Galácia foram perturbadas por
eles. Assim, ele sabia que não poderia continuar a sua
obra no mundo gentio até que a situação em
Jerusalém fosse resolvida. Sabendo que o que mais
danificava a vida da igreja no mundo gentio era o
judaísmo, ele tinha encargo de voltar a Jerusalém.
Essa foi a razão de resolver em seu espírito ir para lá
(19:21). Ele tinha encargo de purificar a fonte da
contaminação.
Ao ler os capítulos dezoito a vinte e um de Atos, é
difícil dizer se Paulo estava certo ou não em ir a
Jerusalém pela última vez. Atos 19:21 diz:
“Cumpridas estas coisas, Paulo resolveu, no seu
espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e
Acaia, considerando: Depois de haver estado ali,
importa-me ver também Roma”. Em 20:22-23 ele
disse: “E, agora, constrangido em meu espírito, vou
para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá,
senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me
assegura que me esperam cadeias e tribulações”. O
testemunho do Espírito Santo era uma profecia, uma
predição, e não uma ordem. Quando ele estava em
Tiro, os discípulos “movidos pelo Espírito,
recomendaram-lhe que não fosse a Jerusalém” (21:4).
Aqui, havendo já feito Paulo saber que cadeias e
aflições o esperavam em Jerusalém, o Espírito deu
um passo além, dizendo-lhe, por meio de alguns
membros do Corpo que não fosse a Jerusalém.
Ademais, o profeta Ágabo “tomando o cinto de Paulo,
ligando com ele os próprios pés e mãos, declarou: Isto
diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém,
farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos
gentios” (21:11). Lucas também diz: “Quando
ouvimos estas palavras, tanto nós como os daquele
lugar, rogamos a Paulo que não subisse a Jerusalém.
Então, ele respondeu: Que fazeis chorando e
quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não
só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém
pelo nome do Senhor Jesus. Como, porém, não o
persuadimos, conformados, dissemos: Faça-se a
vontade do Senhor!” (vs. 12-14). Quanto mais
consideramos todos esses versículos, mais
percebemos quão difícil é definir se Paulo estava
certo ou não em ir a Jerusalém pela última vez. Por
um lado o Espírito indicou-lhe que cadeias e aflições
o aguardavam ali. Por outro, por meio de membros
do Corpo, o Espírito lhe disse que não fosse. O Senhor
tinha muita clareza sobre a situação ali existente.

ENCORAJADO PELO SENHOR


Pela misericórdia do Senhor, Paulo foi resgatado
das mãos dos judeus revoltosos para as mãos do
comandante romano (21:27-39). Depois que se
defendeu diante dos judeus (21:40-22:21), foi
amarrado pelos romanos (22:22-29) e se defendeu
diante do Sinédrio (22:30-23:10), ele foi encorajado
pelo Senhor. A esse respeito, 23:11 diz: “Na noite
seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse:
Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a
meu respeito em Jerusalém, assim importa que
também o faças em Roma”. Essa foi uma confirmação
categórica para Paulo, que certamente estava com
medo. Se não estivesse com medo, não teria havido
necessidade de o Senhor dizer-lhe que tivesse
coragem. Ele certamente tinha estado numa situação
amedrontadora. Mas soberanamente o Senhor o
resgatou daquela situação, e então veio para
assegurar a Paulo que ele iria testificar Dele em
Roma. Dessa forma, o desejo de Paulo de ver Roma
seria cumprido.

A VISÃO QUE PAULO TINHA DA ECONOMIA


NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Vamos considerar novamente o quadro da
situação na qual Paulo se achava. A igreja era fraca,
transigente e com pouca luz. Na igreja em Jerusalém
não havia um testemunho autêntico. As pessoas
religiosas do judaísmo eram cegas, diabólicas e cheias
de ódio e os políticos romanos eram corruptos. Com
esse pano de fundo vemos Paulo, um homem com
encargo pela economia neotestamentária de Deus e
saturado dela. Ao considerar a situação que envolvia a
igreja, o judaísmo e o governo romano, ele sabia que o
mais necessário era tal economia.
Que é a economia neotestamentária de Deus? É a
propagação do Deus Triúno processado na Pessoa do
Cristo todo-inclusivo ressurreto. Somente a
propagação desse Cristo ressurreto é a resposta à
situação lamentável na terra. É necessário que
permitamos a Deus levar a cabo tal economia de
propagar o Cristo ressurreto. Paulo deve ter
considerado muito a esse respeito nos dois anos em
que esteve preso em Cesaréia. Assim, ao ser levado a
Roma, ele começou a escrever as últimas oito de suas
Epístolas: Colossenses, Efésios, Filipenses, Filemom,
I Timóteo, Tito, Hebreus e 2 Timóteo. Elas nos dão
uma visão clara de como levar a cabo a economia de
Deus.
Pouco depois de apresentar a visão clara da
economia neotestamentária de Deus ao completar os
seus escritos da revelação divina, ele foi martirizado.
Aproximadamente um quarto de século mais tarde, o
livro de Apocalipse foi escrito. Nas sete epístolas de
Apocalipse 2 e 3 podemos ver que as igrejas, que
foram estabelecidas principalmente por Paulo para o
cumprimento da economia de Deus propagando o
Cristo ressurreto, tinham-se degradado. A
degradação constituiu a perda do Cristo
todo-inclusivo e a entrada de outras coisas como
substitutos de Cristo. Com exceção da epístola à
igreja em Filadélfia, vemos que nessas sete igrejas
várias coisas tinham penetrado sorrateiramente para
substituir Cristo.
Quase dezenove séculos se passaram desde que o
livro de Apocalipse foi escrito. Nesses séculos tem
havido uma batalha entre Satanás e Deus. Satanás
tem tentado substituir Cristo de diferentes maneiras.
Como resultado, muitos de nós, inclusive eu,
nascemos num cristianismo organizado com muito
pouco de Cristo. Por exemplo, quanto de Cristo há na
celebração do Natal? No cristianismo de hoje há uma
mistura de verdade e falsidade. Pouquíssimos crentes
conhecem a verdade de forma profunda e completa.
Depois de salvo, imediatamente comecei a amar
a Bíblia e a estudá-la. Gradativamente a luz a respeito
da economia neotestamentária de Deus veio por meio
da Palavra. Pela iluminação de Deus podemos ver que
Paulo tinha encargo pela plena revelação da
economia neotestamentária de Deus. o cumprimento
da economia divina envolveu a encarnação, o viver
humano, a morte, a ressurreição e a ascensão de
Cristo, a fim de Se propagar infundindo-Se nos
escolhidos de Deus. Dessa forma o povo de Deus pode
tomar-se os Seus filhos e os membros de Cristo, para
ser um Corpo a fim de expressá-Lo. Essa expressão
está nas igrejas locais nesta era e continuará na Nova
Jerusalém na eternidade.
Essa é a visão que Paulo ganhou, e é isso que
precisamos ver hoje. A visão de Paulo a respeito da
economia neotestamentária de Deus está plenamente
revelada e desenvolvida em suas últimas oito
Epístolas. Assim, com o auxílio das mensagens dos
Estudos-Vida, precisamos estuda-las, especialmente
Efésios e Hebreus. Assim seremos enriquecidos em
experiências do Cristo que Se propaga na economia
neotestamentária de Deus.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E SEIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (32)

Leitura Bíblica: At 25:1-27


Na mensagem anterior consideramos a situação
de Paulo em relação à situação da religião judaica, da
política romana e da vida da igreja. Agora iremos
considerar várias questões em 25:1-27, trecho em que
Lucas apresenta outro quadro do judaísmo, do
governo romano e da vida da igreja.

O PEDIDO DOS LÍDERES JUDEUS É


REJEITADO
De acordo com 24:27 “dois anos mais tarde, Félix
teve por sucessor Pórcio Festo; e, querendo Félix
assegurar o apoio dos judeus, manteve Paulo
encarcerado”. Pórcio Festo era o sucessor de Félix no
governo da Judéia. Em 25:1-26:32 vemos que Paulo
foi deixado para Festo, o sucessor de Félix.
Em Atos 25:1-3 lemos: “Tendo, pois, Festo
assumido o governo da província, três dias depois,
subiu de Cesaréia para Jerusalém; e, logo, os
principais sacerdotes e os maiorais dos judeus lhe
apresentaram queixa contra Paulo e lhe solicitavam,
pedindo como favor, em detrimento de Paulo, que o
mandasse vir a Jerusalém, armando eles cilada para o
matarem na estrada”. Aqui vemos que os líderes
judeus rogaram a Festo que trouxesse Paulo de volta
de Cesaréia para Jerusalém. Dois anos antes, o
comandante romano tinha usado quatrocentos e
setenta soldados para levar Paulo de Jerusalém para
Cesaréia. Agora esses líderes judeus pediram a Festo
para trazer Paulo de volta a fim de que eles pudessem
armar uma cilada para matá-lo.
Nos versículos 4 e 5 lemos: “Festo, porém,
respondeu achar-se Paulo detido em Cesaréia; e que
ele mesmo, muito em breve, partiria para lá.
Portanto, disse ele, os que dentre vós estiverem
habilitados que desçam comigo; e, havendo contra
este homem qualquer crime, acusem-no”. O termo
grego traduzido por “crime” no versículo 5 também
pode ser traduzido por “algo fora de lugar”, “defeito”.
Já comentamos em mensagens anteriores que o
registro de Atos indica que a política romana era
corrupta, mas a lei romana era muito forte. Embora
os políticos do governo romano fossem corruptos,
eles ainda respeitavam a lei. Assim, quando pediram
a Festo para trazer Paulo de volta a Jerusalém, ele
considerou que isso não estava de acordo com a lei
romana, e ele rejeitou o pedido dos líderes judeus.

DEFENDE-SE DIANTE DE FESTO


Já comentamos que, em contraste com o Senhor
Jesus, era necessário que Paulo apresentasse a sua
defesa a fim de salvar a própria vida das mãos de seus
perseguidores, para que ele pudesse cumprir o curso
do seu ministério. Em 25:6-8 Paulo defende-se diante
de Festo. Nos versículos 6 e 7 diz-se: “E, não se
demorando entre eles mais de oito ou dez dias,
desceu para Cesaréia; e, no dia seguinte,
assentando-se no tribunal, ordenou que Paulo fosse
trazido. Comparecendo este, rodearam-no os judeus
que haviam descido de Jerusalém, trazendo muitas e
graves acusações contra ele, as quais, entretanto, não
podiam provar”. Aqui vemos que os líderes judeus
atenderam ao pedido de Festo no versículo 5.
Na verdade, ao defender-se diante de Festo,
Paulo não disse muitas coisas. Ele simplesmente
negou que tivesse feito qualquer coisa contra a lei
judaica ou contra a lei romana: “Paulo, porém,
defendendo-se, proferiu as seguintes palavras:
Nenhum pecado cometi contra a lei dos judeus, nem
contra o templo, nem contra César” (v. 8).

APELA PARA CÉSAR


Ao lidar com Paulo, Festo era uma raposa e
propôs que Paulo fosse a Jerusalém para ser julgado
lá diante dele. A esse respeito, lemos em 25:9: “Então,
Festo, querendo assegurar o apoio dos judeus,
respondeu a Paulo: Queres tu subir a Jerusalém e ser
ali julgado por mim a respeito destas coisas?”. Essa
proposta expôs a corrupção de mais um político
romano. Aqui vemos novamente a corrupção dos
políticos romanos.
Paulo era sábio e percebeu a sutileza da proposta
de Festo. De acordo com o versículo 10 Paulo
respondeu fortemente: “Estou perante o tribunal de
César, onde convém seja eu julgado; nenhum agravo
pratiquei contra os judeus, como tu muito bem
sabes”. A palavra de Paulo a respeito do “tribunal de
César” indicou a Festo que ele pretendia apelar para
César.
No versículo 11 Paulo prosseguiu dizendo: “Caso,
pois, tenha eu praticado algum mal ou crime digno de
morte, estou pronto para morrer; se, pelo contrário,
não são verdadeiras as coisas de que me acusam,
ninguém, para lhes ser agradável, pode entregar-me a
eles. Apelo para César”. O césar para o qual Paulo
apelou era Nero.
Para sua defesa Paulo queria apelar para César.
Sem esse apelo, o apóstolo Paulo poderia ter sido
morto pelos judeus por meio do tratamento injusto de
Festo para com ele, e assim a sua vida poderia não ter
sido preservada para o término do curso do seu
ministério. O apelo de Paulo para César cumpriria o
seu desejo de ver Roma para o avanço do testemunho
do Senhor (19:21; 23:11). Sem esse apelo, ele teria
sido morto pela conspirata dos judeus (23:12-15;
25:1-3, 9), e não teria sido capaz de escrever as
últimas oito Epístolas.
Antes de seu apelo para Roma, Paulo havia
escrito apenas seis Epístolas:1 e 2 Tessalonicenses,
Gálatas, Romanos e 1 e 2 Coríntios. Foi durante a sua
primeira prisão em Roma que ele escreveu
Colossenses, Efésios, Filipenses e Filemom. Foi
depois da primeira vez em que foi preso que ele
escreveu 1 Timóteo, Tito e Hebreus. Então, no seu
segundo aprisionamento ele escreveu 2 Timóteo. Que
falta haveria na revelação divina e que perda a igreja
teria sofrido se não houvesse essas oito últimas
Epístolas! O seu apelo realmente trouxe grande
proveito e benefício ao interesse do Senhor.
Em Atos 25:12 lemos: “Então, Festo, tendo falado
com o conselho, respondeu: Para César apelaste, para
César irás”. O conselho aqui era o conselho da
província romana, composta de conselheiros ou
assessores escolhidos pelo governador da província,
os quais o governador geralmente consultava com
respeito a um apelo como o de Paulo.
Por que Paulo foi tão ousado em apelar para
César? Paulo foi ousado nessa questão, porque, como
romano, ele conhecia a lei romana. Ele sabia que se
ele apelasse para a lei romana, Festo não teria escolha
a não ser honrar o apelo dele. Sem dúvida, os
políticos romanos eram corruptos, mas o governo
romano tinha leis fortes que davam base para Paulo
apelar para César.
Em duas ocasiões anteriores Paulo usou a
cidadania romana. No capítulo dezesseis Paulo disse
aos que o prenderam: “Sem ter havido processo
formal contra nós, nos açoitaram publicamente e nos
recolheram ao cárcere, sendo nós cidadãos romanos;
querem agora, às ocultas, lançar-nos fora? Não será
assim; pelo contrário, venham eles e, pessoalmente,
nos ponham em liberdade. Os oficiais de justiça
comunicaram isso aos pretores; e estes ficaram
possuídos de temor, quando souberam que se tratava
de cidadãos romanos” (vs. 37-38). Mais tarde,
quando Paulo estava para ser interrogado com
açoites, ele disse ao centurião que ali estava:
“Ser-vos-á, porventura, lícito açoitar um cidadão
romano, sem estar condenado? Ouvindo isto, o
centurião procurou o comandante e lhe disse: Que
estás para fazer? Porque este homem é cidadão
romano” (22:25-26). Paulo sabia o valor da cidadania
romana. Ele sabia que a lei romana protegia os
cidadãos romanos. A lei não dava a ninguém o direito
de tratar mal um cidadão romano. Agora, no capítulo
vinte e cinco Paulo, de acordo com a lei romana,
apelou para César.

APRESENTADO AO REI AGRIPA


Em 25:13-27 o caso de Paulo é apresentado ao
Rei Agripa. No versículo 13 lemos: “Passados alguns
dias, o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesaréia a
fim de saudar a Festo”. Esse Agripa era Herodes
Agripa 11, que reinou sobre a região norte e leste da
Galiléia. Ele era filho do Herodes do capítulo doze e o
judaísmo era sua religião.
Berenice, que veio com Agripa, era a irmã de
Drusila, esposa de Félix (24:24). Ela também era
irmã de Agripa, com quem vivia incestuosamente.
Isso novamente mostra a corrupção dos políticos no
círculo da política romana.
O status de Agripa era bastante complicado. Ele
tinha ou pai judeu ou mãe judia. A sua irmã Drusila é
chamada de judia em 24:24. Como Agripa era da
religião judaica, Festo foi cauteloso ao falar com ele
sobre questões judaicas. Em 25:19 Festo disse a
Agripa com respeito a Paulo e aos judeus: “Traziam
contra ele algumas questões referentes à sua própria
religião e particularmente a certo morto, chamado
Jesus, que Paulo afirmava estar vivo”. Aqui vemos
que Festa foi cauteloso ao se referir ao judaísmo.
Embora Festa tivesse apresentado o caso de
Paulo a Agripa e o consultado sobre essa questão,
esse caso, na verdade, não estava sob a jurisdição de
Agripa. Festa governava a Judéia, tendo Cesaréia
como centro, e Agripa governava outra região. Mas
eles eram parentes e se conheciam bem, assim,
quando Agripa veio a Cesaréia para visitar Festa, este
lhe apresentou o caso de Paulo.
Ao ler 25:13-22 vemos que Festa e Agripa,
autoridades do governo romano, estavam
“brincando” com o caso de Paulo. Quando Festa disse
a Agripa que os judeus tinham questões contra Paulo
“referentes à sua própria religião e particularmente a
certo morto, chamado Jesus, que Paulo afirmava
estar vivo” (v. 19), ele estava meramente fazendo um
jogo de palavras. A sua maneira de falar expôs o tipo
de pessoa que ele era. Depois que Festa disse a Agripa
que Paulo havia apelado para permanecer sob
custódia para a decisão do imperador e que Festa
havia ordenado que ele permanecesse sob custódia
até que fosse enviado a César (v. 21), Agripa disse a
Festa: “Eu também gostaria de ouvir este homem” (v.
22). Então Festa respondeu que Agripa o ouviria no
dia seguinte. Quanto mais estudamos a conversa
entre Festa e Agripa, mais percebemos que esses
políticos romanos eram malignos.
Em Atos 25:23 lemos: “De fato, no dia seguinte,
vindo Agripa e Berenice, com grande pompa, tendo
eles entrado na audiência juntamente com oficiais
superiores e homens eminentes da cidade, Paulo foi
trazido por ordem de Festa”. A descrição de Lucas da
maneira como Agripa e Berenice entraram na
audiência, indica 6 tipo de pessoa que eles eram. Mais
uma vez, nenhum título é dado a Berenice. Não nos é
dito se ela é a rainha ou não. Lucas simplesmente diz
que eles entraram na audiência com grande pompa.
Depois que Paulo foi trazido, Festa disse: “Rei
Agripa e todos vós que estais presentes conosco,
vedes este homem, por causa de quem toda a
multidão dos judeus recorreu a mim tanto em
Jerusalém como aqui, clamando que não convinha
que ele vivesse mais. Porém eu achei que ele nada
praticara passível de morte; entretanto, tendo ele
apelado para o imperador, resolvi mandá-la ao
imperador. Contudo, a respeito dele, nada tenho de
positivo que escreva ao soberano; por isso, eu o
trouxe à vossa presença e, mormente, à tua, ó rei
Agripa, para que, feita a argüição, tenha eu alguma
coisa que escrever; porque não me parece razoável
remeter um preso sem mencionar, ao mesmo tempo,
as acusações que militam contra ele” (v. 24-27). No
versículo 26 o pronome grego traduzido por “vossa”
se refere aos comandantes e homens proeminentes ali
presentes (v. 23). Como veremos, Agripa então deu
permissão a Paulo para falar em seu favor, e ele
passou a defender-se diante de Agripa (26:1-29).

UMA TESTEMUNHA DE CRISTO


No capítulo vinte e cinco de Atos temos um
quadro da situação na qual Paulo estava. Como
aquele que estava no centro daquela situação, Paulo
era diferente do povo judeu em sua religião, dos
políticos romanos, e também da igreja em Jerusalém.
Esse quadro revela que Paulo era alguém que vivia
Cristo. Paulo era uma genuína testemunha de Cristo.
Não é de se admirar, então, que o Senhor Jesus
considerou-o uma testemunha quando Ele disse a
Paulo: “Coragem! Pois do modo por que deste
testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim
importa que também. o faças em Roma” (23:11). De
acordo com 26:16, o Senhor tinha designado Paulo
como ministro e testemunha. Na verdade, em todas
as suas defesas Paulo não disse muito a respeito de
Cristo. No entanto, o Senhor Jesus reconheceu que
Paulo estava testemunhando solenemente a Seu
respeito.
Paulo podia testificar do Senhor porque ele vivia
Cristo. Como alguém que vivia Cristo e era um
testemunho vivo Dele, Paulo era absolutamente
diferente dos religiosos judeus, dos políticos romanos
e dos crentes da igreja em Jerusalém.
Precisamos ser profundamente impressionados
com o fato de que, nesses capítulos de Atos, Paulo era
uma verdadeira testemunha de Cristo. Vimos que
esses capítulos descrevem três tipos de pessoas: os
religiosos judeus, os políticos romanos e os crentes da
igreja em Jerusalém que eram fracos e faziam
concessões. Agora em Paulo temos um quarto tipo.
Nessa categoria Paulo está sozinho como uma pessoa
que vivia Cristo. Paulo não apenas pregava a
propagação do Cristo ressurreto, Ele vivia esse Cristo.
Paulo tinha um viver que era a propagação do Cristo
ressurreto. Que glória! que vitória! que ganho para o
Senhor e que vergonha para o inimigo, pois Paulo
tanto pregava como vivia Cristo! No centro de
atividades do inimigo, ali estava Paulo, uma pessoa
que vivia Cristo. O Cristo ressurreto Se tinha
propagado entrando em Paulo e fazendo dele Sua
testemunha viva.
ESTUDO-VIDA DE A TOS
MENSAGEM SESSENTA E SETE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (33)

Leitura Bíblica: At 26:1-32; Ef 2:14-16; 3:8, 17; Fp


3:4-8; Cl 3:10-11; Hb 10:14, 18; At 21:20, 23-24
Em 26:1-29 Paulo defende-se diante de Agripa.
Depois, em 26:30-32, temos o juízo proferido por
Agripa. Antes de chegar a 26:1-32, ainda gostaria de
falar algo quanto ao encargo de Paulo nas Epístolas
de Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus.

QUATRO EPÍSTOLAS CRUCIAIS COM


RESPEITO À TRANSFERÊNCIA
DISPENSACIONAL
Nos capítulos vinte e um a vinte e seis de Atos,
Paulo passou por muito sofrimento, testes e
tribulações. As Epístolas de Efésios, Filipenses,
Colossenses e Hebreus são a expressão do que estava
no coração dele naquela época.
Conforme já dissemos, Paulo escreveu Efésios,
Colossenses e Filipenses quando foi para a prisão em
Roma pela primeira vez. Deve ter sido depois disso
que ele escreveu Hebreus. Não devemos pensar que
essas Epístolas tenham sido escritas por acidente.
Pelo contrário, foram escritas depois de longa
consideração e preparação. Creio que os dois anos
detido em Cesaréia foram um tempo de preparação
para Paulo. Quanto mais-via a situação da religião
judaica, da política romana e da igreja, e a comparava
com o que tinha recebido do Senhor, mais ele tinha
encargo de escrever a revelação que ganhara. Ele não
teve oportunidade de falar o que estava no seu
coração. Sem dúvida, queria achar tempo num
ambiente calmo onde pudesse escrever a revelação
com respeito à economia neotestamentária de Deus.
Ele devia estar procurando a oportunidade para
escrever tudo o que ganhara do Senhor com respeito
à economia divina, e então enviar esses escritos para
as igrejas, onde seriam preservados.
Agradecemos ao Senhor por ter dado a Paulo o
tempo e o lugar para escrever Efésios, Filipenses,
Colossenses e Hebreus; e também porque temos
essas quatro Epístolas hoje, nas quais vemos vários
itens cruciais a respeito da transferência
dispensacional que temos enfatizado nestas
mensagens. Essa transferência dispensacional é algo
grandioso.

ABOLIR AS ORDENANÇAS
Em Efésios 2:14-16 Paulo diz: “Porque ele é a
nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado
a parede da separação que estava no meio, a
inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças, para que dos
dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo
a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com
Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a
inimizade”. Aqui vemos que na cruz Cristo aboliu
todas as ordenanças. Sem dúvida, isso inclui as que
dizem respeito à circuncisão, à dieta e ao sábado.
Embora Cristo tenha abolido essas ordenanças,
Tiago ainda as promovia em Atos 21. Por certo, as
ordenanças abolidas por Cristo na cruz incluem o
voto do nazireado. Você não crê que quando Cristo
aboliu as ordenanças ele incluiu as relativas aos
votos? Se tivermos a compreensão adequada de
Efésios 2 e Atos 21, veremos que o que Tiago fez em
Atos 21 foi contrário ao que Cristo realizou na cruz.
Cristo aboliu as ordenanças, mas Tiago as manteve e
as promoveu.
Podemos dizer que a questão de abolir as
ordenanças é um aspecto negativo da revelação em
Efésios. Do lado positivo temos a palavra de Paulo
com respeito às insondáveis riquezas de Cristo: “A
mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta
graça de pregar aos gentios o evangelho das
insondáveis riquezas de Cristo” (3:8). Por hora, no
entanto, enfatizaremos que em Efésios Paulo diz
claramente que na cruz Cristo aboliu todas as
ordenanças judaicas do Antigo Testamento.

CONSIDERAR AS COISAS DO JUDAÍSMO


COMO REFUGO
Em Filipenses 3 vemos que Paulo considerava
como refugo todas as coisas do judaísmo. Embora
fosse “hebreu de hebreus” e, “quanto à lei, fariseu” (v.
5), ele podia testificar: “Mas o que, para mim, era
lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim,
deveras considero tudo como perda, por causa da
sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as
considero como refugo, para ganhar a Cristo” (vs. 7-8
— VRA — 1 a edição). Ele percebeu que, aos olhos de
Deus e na economia do Novo Testamento, todas as
coisas do judaísmo eram refugo. O que ele falou em
Filipenses 3 indica a visão que ele tinha. No entanto,
embora Paulo considerasse as coisas do judaísmo
como refugo, Tiago, para sua vergonha, continuava a
promovê-las.

O NOVO HOMEM
Em Colossenses 3:10 e 11 Paulo fala do novo
homem: “E vos revestistes do novo homem que se
refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou; no qual não pode haver grego
nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro,
cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”.
Aqui vemos que no novo homem só há lugar para
Cristo. No versículo 11 “todos” se refere a todos os
membros que compõem o novo homem. Cristo é
todos os membros do novo homem e está em todos
eles. Ele é tudo no novo homem. Que tremenda
revelação é essa! De acordo com a palavra de Paulo
em Colossenses 3:10-11, já não há a mínima base para
o judaísmo.

A OFERTA ÚNICA
O livro de Hebreus revela que Cristo é tudo. Ele é
tanto Deus como homem, e é superior a Moisés,
Josué e Arão. Como nosso Sumo Sacerdote, Ele, como
a única oferta, substituiu todas as ofertas do Antigo
Testamento. Ele é a única oferta com a qual Deus se
importa, da qual todas as ofertas do Antigo
Testamento eram apenas prefigurações. Agora que
Cristo veio, todas as outras ofertas deveriam ter fim, e
de fato foram substituídas e tiveram fim. A respeito
disso Hebreus 10:14 diz: “Porque, com uma única
oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo
santificados”. E o versículo 18 prossegue: “Ora, onde
há remissão destes, já não há oferta pelo pecado”.
Ademais, a velha aliança foi substituída pela nova
aliança. Assim, as coisas do Antigo Testamento
acabaram.
Eu gostaria que você comparasse a revelação em
Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus com a
palavra de Tiago em Atos 21. Em 21:20, Tiago disse a
Paulo: “Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares
há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da
lei”. Depois, Tiago ainda pediu a Paulo que pagasse as
despesas de quatro homens que aceitaram o voto do
nazireado: “Estão entre nós quatro homens que,
voluntariamente, aceitaram voto; toma-os, purifica-te
com eles e faze a despesa necessária para que raspem
a cabeça; e saberão todos que não é verdade o que se
diz a teu respeito; e que, pelo contrário, andas
também, tu mesmo, guardando a lei” (vs. 23-24). Que
contraste há entre a palavra de Tiago e a revelação de
Paulo com respeito à economia neotestamentária de
Deus! Essa comparação deve capacitar-nos a ter uma
visão clara da situação de Paulo nesses capítulos de
Atos.

O USO INADEQUADO DE EFÉSIOS,


FILIPENSES, COLOSSENSES E HEBREUS
Que mensagens você ouviu sobre o livro de
Efésios antes de vir para a restauração do Senhor? O
versículo favorito dos que enfatizam a pregação do
evangelho é Efésios 2:8. Esse versículo nos diz que
pela graça somos salvos, mediante a fé. Também são
dadas muitas mensagens sobre 5:22-25 acerca de a
mulher se submeter ao marido e o marido amar a
mulher. Freqüentemente, num casamento, o pastor
cita esses versículos de Efésios 5. Mas alguma vez
você ouviu uma mensagem dizendo que na cruz
Cristo aboliu todas as ordenanças, em particular as
diferenças entre as raças? Embora as ordenanças e
todas as diferenças raciais tenham sido abolidas por
Cristo na cruz, quem prega isso hoje? Na verdade,
mesmo no século XX, as diferenças raciais ainda são
promovidas a fim de se manter a separação das raças.
Disso vemos que Efésios não é usado adequadamente
por muitos crentes. Eles escolhem alguns versículos
desse livro sem se importar com a economia
neotestamentária de Deus. Muitos nunca viram que
Efésios é um livro que enfatiza a economia
neotestamentária de Deus .
Do lado negativo, Efésios 2 revela que as
ordenanças foram abolidas. Do lado positivo, em
Efésios 3 vemos que Paulo pregava as insondáveis
riquezas de Cristo, a fim de que Cristo possa habitar
em nosso coração (vs. 8, 17). Você alguma vez ouviu
uma mensagem sobre isso antes de vir para a vida da
igreja? Muitos que estiveram em escolas bíblicas e
seminários podem testificar que nunca aprenderam
que Cristo, com as Suas riquezas insondáveis deseja
habitar em nosso coração. Quão lamentável é a
situação de hoje com respeito a revelação profunda
do livro de Efésios!
Vimos que em Filipenses 3 Paulo considerava
todas as coisas religiosas como refugo. No entanto,
hoje, poucos usam esses versículos de maneira
adequada. Em vez disso, é comum escolher versículos
de Filipenses para ensinar os crentes a imitar o
Senhor Jesus tendo a mesma mente que Ele tinha.
Em Colossenses 3 Paulo diz que Cristo é tudo no
novo homem. Isso certamente não é enfatizado entre
os cristãos de hoje. Na verdade, é difícil dizer como a
maioria dos crentes aplica o livro de Colossenses.
Os cristãos freqüentemente citam Hebreus 13:8:
“Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para
sempre”. Alguns até mesmo usam esse versículo para
argumentar contra a verdade de que Cristo hoje é o
Espírito que dá vida. De acordo com a Bíblia, nós
ensinamos que, como Deus, Cristo se tomou um
homem, e então, como homem, o último Adão,
tomou-se o Espírito que dá vida em ressurreição (1Co
15:45). Alguns falsamente nos acusam de ensinar que
Cristo está sempre mudando, e então citam Hebreus
13:8, na tentativa de provar que Cristo não poderia
ter-se tomado o Espírito que dá vida em ressurreição.
O uso de Hebreus 13:8 dessa forma indica que a
situação de hoje é miserável.
Os livros de Efésios, Filipenses, Colossenses e
Hebreus não têm sido usados adequada e
positivamente pela maioria dos cristãos tomando-se o
encargo de Paulo nessas Epístolas com respeito a
levar a cabo a economia neotestamentária de Deus.
Em vez de usar esses livros de acordo com a intenção
do autor, muitos escolhem alguns versículos e então
os interpretam, promovendo uma situação
degradada. Esse é um sinal da pobreza nas assim
chamadas igrejas. Na verdade, a situação atual é pior
do que a que havia em Jerusalém em Atos 21.

O ENCARGO DE LEVAR A CABO A


ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Já comentamos que, nos anos em que esteve
detido em Cesaréia, Paulo teve tempo para considerar
a situação dos religiosos judeus, dos políticos
romanos e dos crentes em Jerusalém, e também de
compará-la à revelação que recebera do Senhor.
Também precisamos de um tempo para considerar a
situação atual. Eu encorajo você a calmamente
considerar não apenas a situação política do mundo,
mas também a situação do judaísmo, catolicismo e
protestantismo. Considere onde os cristãos de hoje
estão em relação à economia neotestamentária de
Deus. Será que não há muitos que, assim como Tiago,
têm sido transigentes e promovem coisas que Deus
abandonou?
Você também precisa considerar a sua própria
situação: onde você está em relação a levar a cabo a
economia neotestamentária de Deus? Que está no seu
coração? Que você viu como visão celestial com
respeito à economia divina? Como você vai levar a
cabo a visão que ganhou? Que todos tenhamos um
tempo diante do Senhor a fim de ser enchidos com o
encargo da economia neotestamentária de Deus. Uma
vez cheios desse encargo, assim como Paulo,
deveríamos estar ansiosos por levá-lo a cabo.
Agradecemos ao Senhor pelas Epístolas de
Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus. Paulo as
escreveu a fim de que a economia neotestamentária
de Deus fosse levada a cabo. Espero que todos, por
meio da ajuda das mensagens dos Estudos-Vida,
sejamos saturados dessas Epístolas. Também espero
que todos tenhamos uma visão clara da situação e da
necessidade de hoje.
Como veremos nos capítulos vinte e sete e vinte e
oito de Atos, Paulo levou um tempo bastante longo
para ir de Cesaréia a Roma. Em contraste, a situação
hoje é muito favorável para que espalhemos a
economia neotestamentária de Deus. Que todos
tomemos o encargo da expansão da economia
neotestamentária de Deus e fielmente o levemos a
cabo.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E OITO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (34)

Leitura Bíblica: At 26:1-32


Nesta mensagem começaremos a considerar a
defesa de Paulo diante de Agripa e o juízo proferido
por Agripa (26:1-32).

O APELO DE PAULO PARA AGRIPA E O SEU


VIVER COMO FARISEU
Depois que Agripa disse a Paulo que lhe era
permitido falar em sua defesa, Paulo estendeu a mão
e começou a fazer a sua defesa dizendo: “Tenho-me
por feliz, ó rei Agripa, pelo privilégio de, hoje, na tua
presença, poder produzir a minha defesa de todas as
acusações feitas contra mim pelos judeus; mormente
porque és versado em todos os costumes e questões
que há entre os judeus; por isso, eu te peço que me
ouças com paciência” (vs. 2-3). Como já dissemos
várias vezes, ao enfrentar os opositores era necessário
que Paulo fizesse a sua defesa para salvar a própria
vida da mão dos perseguidores. Assim ele seria capaz
de cumprir o curso de seu ministério.
Paulo apelou a Agripa como alguém versado em
todos os costumes e questões dos judeus. Os termos
gregos traduzidos como “mormente porque és
versado”, também podem ser traduzidos “porque és
especialmente versado”.
Nos versículos 4 e 5, Paulo continuou: “Quanto à
minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde
o princípio entre o meu povo e em Jerusalém, todos
os judeus a conhecem; pois, na verdade, eu era
conhecido deles desde o princípio, se assim o
quiserem testemunhar, porque vivi fariseu conforme
a seita mais severa da nossa religião”. Aqui ele se
vindicou dizendo que, mesmo antes de se converter,
ele era alguém adequado e teve um viver rigoroso de
fariseu. Naturalmente, aos olhos de Deus, ele não era
adequado. Entretanto, humanamente falando, ele
realmente teve um viver adequado, e não havia
motivo para ser condenado.

A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO
Nos versículos 6 a 8 Paulo falou da ressurreição:
“E, agora, estou sendo julgado por causa da esperança
da promessa que por Deus foi feita a nossos pais, a
qual as nossas doze tribos, servindo a Deus
fervorosamente de noite e de dia, almejam alcançar; é
no tocante a esta esperança, ó rei, que eu sou acusado
pelos judeus. Por que se julga incrível entre vós que
Deus ressuscite os mortos?” No versículo 6 o termo
grego traduzido “por causa” literalmente significa
“sobre”, “com base em”. Nesses versículos ele indica
que, em contraste com os saduceus, ele sempre creu
na ressurreição. A ressurreição era ensinada no
Antigo Testamento, especialmente em Daniel 12. É
algo que requer a nossa cuidadosa consideração.
Na Bíblia ressurreição implica o juízo vindouro, e
juízo implica escatologia. A ressurreição, portanto,
está relacionada com nosso futuro eterno, se seremos
felizes na eternidade ou sofreremos a perdição. O
futuro eterno de alguém depende do juízo, e o juízo
requer a ressurreição. Daí vemos que a ressurreição é
importante nas Escrituras, pois tem a ver com o
nosso destino eterno. Mesmo antes de se converter,
Paulo, como fariseu, cria na ressurreição.
O Senhor Jesus falou claramente a respeito da
ressurreição em João 5:28-29: “Não vos maravilheis
disso, porque vem a hora em que todos os que se
acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão: os que
tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os
que ti verem praticado o mal, para a ressurreição do
juízo”. Vimos que a ressurreição da vida é a
ressurreição dos crentes salvos, que ocorrerá antes do
milênio (Ap 20:4, 6; 1Co 15:23, 52; 1Ts 4:16). Os
crentes mortos ressuscitarão para desfrutar a vida
eterna na volta do Senhor Jesus. A ressurreição do
juízo, que ocorrerá depois do milênio, é a ressurreição
dos incrédulos (Ap 20:5, 12). Todos os incrédulos
mortos serão ressuscitados depois dos mil anos para
ser julgados no grande trono branco (Ap 20:1115).
Mesmo antes de ter sido salvo, Paulo cria na
ressurreição da vida e na do juízo, como ensina
Daniel12:2.

PRATICOU MUITAS COISAS CONTRA O


NOME DE JESUS
Em 26:9 a 11 Paulo admitiu para Agripa que
praticara muitas coisas contra o nome de Jesus: “Na
verdade, a mim me parecia que muitas coisas devia
eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno; e
assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido
autorização dos principais sacerdotes, encerrei
muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o
meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os
castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a
blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra
eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia”. O
termo grego traduzido “estranhas” no versículo 11
literalmente significa “de fora”. Paulo não apenas se
opunha a Jesus, o Nazareno; também O atacava. Em
sua cegueira, ele considerava o Senhor Jesus nada
mais do que um pobre nazareno. Ele a tal ponto
atacava o nome de Jesus, o Nazareno, que colocava
muitos santos na prisão. Agora, diante de Agripa, ele
confessou os seus atos tolos.

A APARIÇÃO DO SENHOR
Paulo então prosseguiu dizendo a Agripa que
enquanto estava a caminho para perseguir os que
invocavam o nome do Senhor Jesus, ele mesmo foi
ganho pelo Senhor: “Com estes intuitos, parti para
Damasco, levando autorização dos principais
sacerdotes e por eles comissionado. Ao meio-dia, ó
rei, indo eu caminho fora, vi uma luz no céu, mais
resplandecente que o sol, que brilhou ao redor de
mim e dos que iam comigo. E, caindo todos nós por
terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica:
Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa é
reca1citrares contra os aguilhões. Então, eu
perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor
respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (vs.
12-15). Já ressaltamos que esse “me” é corporativo,
englobando Jesus, o Senhor, e todos os crentes.
Também já vimos que Paulo espontaneamente
chamou Jesus de Senhor, mesmo sem conhecê-Lo.

DESIGNADO MINISTRO E TESTEMUNHA


Quando o Senhor Jesus apareceu a Paulo, Ele o
comissionou, designando-o ministro e testemunha. A
esse respeito o Senhor lhe disse: “Mas levanta-te e
põe-te em pé; pois para isto te apareci, para te fazer
ministro e testemunha, tanto das coisas em que me
tens visto como daquelas em que te hei de aparecer”
(v. 16 — IBB-Rev.). Aqui vemos que Deus designou
Paulo como ministro e também como testemunha.
Um ministro visa ao ministério, uma testemunha visa
ao testemunho. O ministério está principalmente
relacionado com a obra, com o que o ministro faz. O
testemunho está relacionado com a pessoa, com o que
a testemunha é.
O Cristo ascendido quer levar a cabo o Seu
ministério celestial para a propagação de Si mesmo, a
fim de que o reino de Deus seja estabelecido para a
edificação das igrejas para a Sua expressão.
Precisamos ser impressionados com o fato de que,
para levar a cabo tal ministério, o Cristo ascendido
não quer um grupo de pregadores treinados pelo
ensinamento humano para fazer uma obra de
pregação. Antes, Ele quer usar um corpo de Suas
testemunhas, que levem um testemunho vivo do
Cristo encarnado, crucificado, ressurreto e ascendido.
De acordo com o livro de Atos, Satanás podia instigar
os religiosos judeus e utilizar os políticos gentios para
amarrar os apóstolos e seu ministério evangélico, mas
não podia amarrar as testemunhas vivas de Cristo e o
seu testemunho vivo. Quanto mais os religiosos
judeus e os políticos gentios amarravam os apóstolos
e seu ministério evangélico, mais fortes e brilhantes
se tornavam essas testemunhas de Cristo e vivos os
seus testemunhos. Em Sua aparição a Paulo no
caminho para Damasco, o Senhor lhe disse
claramente que o designava não apenas ministro, mas
também testemunha. Vimos que, como testemunha
viva de Cristo, Paulo havia testificado acerca Dele em
Jerusalém e o faria em Roma (23:11).
Em 1:8 o Senhor disse aos discípulos: “Mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos
confins da terra”. Testemunhas são os que levam um
testemunho vivo do Cristo ressurreto e ascendido em
vida. Diferem dos pregadores que meramente pregam
doutrinas em letras. Como está registrado em Atos, o
Cristo ascendido leva a cabo o Seu ministério nos
céus por meio dessas testemunhas em Sua vida de
ressurreição e com o poder e autoridade da Sua
ascensão para espalhar-Se, como desenvolvimento do
reino de Deus, até aos confins da terra.
Em todas as tribulações pelas quais Paulo
passou, ele não meramente ensinava ou ministrava;
ele continuamente dava testemunho. Ele foi
testemunha diante dos opositores judeus e do
comandante romano. Foi testemunha também diante
de Félix, o governador da Judéia, e de Festo, que
sucedeu Félix no governo. Agora em Atos 26 vemos
que ele é novamente testemunha viva, dessa vez
diante de Agripa. No entanto, ele não pregou para
Agripa, dizendo: “Rei Agripa, você precisa saber que
sou uma testemunha de Cristo”. Em vez disso, ele lhe
testificou que o Senhor o encontrara e designara
ministro e testemunha.

TESTEMUNHA DAS COISAS NAS QUAIS


VEMOS CRISTO
No versículo 16 o Senhor Jesus disse a Paulo:
“Pois para isto te apareci, para te fazer ministro e
testemunha, tanto das coisas em que me tens visto
como daquelas em que te hei de aparecer” (IBB-Rev.).
Assim, a expressão “em que” aparece duas vezes. Aqui
Paulo diz que o Senhor o constituiu ministro e
testemunha das coisas que Ele lhe revelou e das
coisas que ainda iria revelar. Embora esse seja o
significado que ele quis dar, não foi assim que ele
apresentou a questão. Antes, esse versículo fala das
coisas em que Paulo tinha visto o Senhor e das coisas
em que o Senhor ainda iria aparecer-lhe.
Atos 26:16 indica que Paulo não recebeu a
revelação das coisas sem ver Cristo; antes, recebeu as
coisas em que viu Cristo. Em outras palavras, Cristo
não revelou coisas a Paulo que não O tivessem como
conteúdo. Essa é a razão de Paulo ser uma
testemunha das coisas em que vira o Senhor. Em
todas as visões que teve, ele viu Cristo. Ademais, ele
seria uma testemunha das coisas em que o Senhor
ainda iria aparecer-lhe. Aqui o Senhor parecia
dizer-lhe: “Em todas as visões e revelações que você
receber, Eu aparecerei a você”. Isso quer dizer que se
apenas tivermos visões e revelações sem ver o Senhor,
então o que virmos será vaidade.
Não concordamos em estudar a Bíblia apenas de
forma teológica. Os que a estudam dessa forma
podem aprender teologia, mas não vêem Cristo. Há
grande diferença entre estudar a Bíblia para aprender
teologia e estudá-la para ver Cristo.
Quando Paulo estava no caminho de Damasco,
Cristo revelou-lhe certas coisas, e nelas Paulo viu
Cristo. O Senhor indicou que iria revelar-lhe mais
coisas, e nelas Ele próprio iria aparecer-lhe. Assim,
Paulo não viu apenas as coisas em si, mas Cristo
como Aquele que aparece em todas essas coisas.
Em sua experiência você pode dizer que recebeu
luz do Senhor ou teve urna visão ou revelação. Mas
você precisa ver se Cristo lhe apareceu nessa luz,
visão ou revelação. Na suposta luz, visão ou revelação
você viu Cristo?
Algumas vezes irmãos vieram a mim empolgados
com alguma suposta nova luz que receberam. Por
exemplo, certa vez um irmão disse: “Eu louvo ao
Senhor porque hoje na comunhão matinal vi uma
nova luz”. Quando perguntei a respeito dessa nova
luz, ele disse: “Fui iluminado para ver que devo cortar
o cabelo curto”. Então, perguntei qual era o
significado dessa luz, e ele disse que cortar o cabelo
curto o tornaria mais limpo. A isso respondi: “Que há
de errado em usar o cabelo um pouco mais comprido?
Os nazireus no Antigo Testamento usavam cabelos
longos. Então, no final do seu voto, eles raspavam a
cabeça, e dessa forma eram purificados. Parece que a
sua maneira de cortar o cabelo não é tão boa como a
dos nazireus”. Falei com ele dessa forma a respeito da
luz que afirmava ter recebido do Senhor, porque a
assim chamada luz era desprovida de Cristo.
Em qualquer luz que recebemos do Senhor
precisamos ver Cristo. Cristo deve aparecer para nós
no que quer que vejamos na forma de iluminação,
visão ou revelação. Se tivermos uma visão sem ver
Cristo, essa visão nada significa. Da mesma forma, se
estudarmos a Bíblia e ganharmos conhecimento das
Escrituras sem ver Cristo, esse conhecimento é
vaidade. Todos precisamos aprender a ver a Cristo
nas coisas que nos são reveladas.
Aprecio a expressão “em que” usada duas vezes
em 26:16. O Senhor primeiro falou “das coisas em que
me viste”. Depois também falou “daquelas em que te
aparecerei ainda”. Aqui o Senhor lhe estava dizendo:
“Eu não apenas vou revelar-te algumas coisas, mas
nelas Eu mesmo te aparecerei”.
O livro de Apocalipse é uma excelente ilustração
de o Senhor aparecendo nas coisas reveladas ao
apóstolo João. João teve várias visões, mas nelas o
próprio Senhor lhe apareceu. Veja a primeira visão
em Apocalipse, a visão dos candelabros de ouro. Com
respeito a essa visão João diz: “Voltei-me para ver
quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de
ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a
filho de homem” (Ap 1:12-13a). Ao ver os
candelabros, João viu o Senhor andando no meio
deles como o Sumo Sacerdote cuidando das
lâmpadas.
Em outra visão o Senhor mostrou a João a
administração universal de Deus. A esse respeito,
João diz: “Depois destas coisas, olhei, e eis não
somente uma porta aberta no céu, como também a
primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar
comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que
deve acontecer depois destas coisas. Imediatamente,
eu me achei em espírito, e eis armado no céu um
trono, e, no trono, alguém sentado” (Ap 4:1-2). João
também disse que nessa visão ele viu “no meio do
trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos,
de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha
sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete
Espíritos de Deus enviados por toda a terra” (Ap 5:6).
Novamente, nas coisas que lhe foram reveladas, ele
viu o Senhor.
Em princípio a nossa experiência hoje deve ser
igual a de Paulo e João. Suponha que em seu estudo
do Novo Testamento você afirme ter algum
entendimento de Efésios 5. Contudo a questão crucial
é esta: Você vê Cristo em Efésios 5? Se vê apenas a
questão do marido amar a mulher e da mulher se
submeter ao marido, sem ver Cristo, então o seu
entendimento é muito pobre, até mesmo vão. Você
pode conhecer certos ensinamentos bíblicos, mas
neles Cristo não lhe apareceu. Que todos aprendamos
a importância de ver Cristo nas coisas que afirmamos
ver e conhecer na Palavra.
A nossa consideração da expressão “em que” em
Atos 26:16 pode ajudar-nos a ver a maneira de
estudar a Bíblia. Ao lê-la, precisamos gastar tempo
em questões como essa. Se gastarmos tempo para
considerar a expressão “em que” usada duas vezes em
Atos 26:16 (IBB-Rev.), perceberemos quão
maravilhoso foi o Senhor ter dito a Paulo que Ele o
tinha constituído ministro e testemunha, tanto das
coisas em que ele havia visto o Senhor como daquelas
em que o Senhor ainda iria aparecer-lhe.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E NOVE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (35)

Leitura Bíblica: At 26:1-32


Nesta mensagem continuaremos a considerar a
defesa de Paulo diante de Agripa (26:1-29). Depois,
passaremos a ver o juízo proferido por Agripa a
respeito do caso de Paulo (26:30-32).
Em sua defesa diante de Agripa, Paulo testificou
da aparição do Senhor a ele e que Ele disse: “Mas
levanta-te e põe-te em pé, pois para isto te apareci,
para te fazer ministro e testemunha, tanto das coisas
em que me tens visto como daquelas em que te hei de
aparecer, livrando-te deste povo e dos gentios, aos
quais te envio” (vs. 16-17 — IBB-Rev.). Vimos que
Paulo foi constituído não apenas ministro mas
também testemunha. No versículo 17 o Senhor disse a
Paulo que iria livrá-lo do povo e dos gentios.

O CONTEÚDO DA COMISSÃO DE PAULO


Abrir os Olhos das Pessoas
No versículo 18 temos 9 conteúdo da comissão de
Paulo: “Para lhes abrires os olhos e os converteres das
trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus,
a fim de que recebam eles remissão de pecados e
herança entre os que são santificados pela fé em
mim”. Aqui, abrir os olhos das pessoas é levar a cabo
o cumprimento do jubileu de Deus, o ano aceitável do
Senhor, proclamado pelo Senhor Jesus em Lucas
4:18-21, segundo a economia neotestamentária de
Deus. a ano aceitável do Senhor em Lucas 4:19 é a era
do Novo Testamento, tipificada pelo ano do jubileu
(Lv 25:8-17), tempo no qual Deus aceita os cativos do
pecado que retomam (Is 49:8; 2Co 6:2) e no qual os
oprimidos sob a escravidão do pecado podem
desfrutar a libertação da salvação de Deus. a primeiro
item das bênçãos espirituais e divinas do jubileu do
Novo Testamento, que são as bênçãos do evangelho
de Deus, é abrir os olhos dos caídos e fazê-los voltar
das trevas para a luz, a fim de que vejam as coisas
divinas na esfera espiritual. Ver essas coisas requer
visão espiritual e luz divina.
Muitos tivemos a experiência de ouvir certas
mensagens que nos levaram para as trevas e outras
que nos levaram para a luz. Suponha que você esteja
ouvindo um sermão dado por determinado ministro,
pastor ou pregador. Quanto mais o ouve, mais você é
levado para as trevas, e tudo se torna opaco. Mas
talvez você ouça outra mensagem, e, quanto mais a
ouve, mais a luz divina brilha em você. a dia
amanhece, os seus olhos são abertos e você começa a
ver as coisas espirituais. Esse é o tipo de mensagem
que abre os olhos das pessoas.

Converter as Pessoas das Trevas para a Luz e


da Potestade de Satanás para Deus
Atos 26:18 fala não apenas de abrir os olhos das
pessoas mas também de convertê-las das trevas para
a luz e da potestade de Satanás para Deus. Essa
conversão é o que queremos dizer com transferência.
Converter-se das trevas para a luz é ser transferido
das trevas para a luz, e converter-se da potestade de
Satanás para Deus é ser transferido da potestade de
Satanás para Deus. Isso é uma grande transferência!
Trevas são sinal de pecado e morte; luz é sinal de
justiça e de vida (10 1:4; 8:12). A potestade, ou
autoridade, de Satanás é o seu reino (Mt 12:26), que
pertence às trevas. Satanás é o príncipe deste mundo
(1012:31) e o príncipe da potestade do ar (Ef 2:2). Ele
tem a sua autoridade e os seus anjos (Mt 25:41), que
são os seus subordinados como principados,
potestades e dominadores deste mundo tenebroso (Ef
6:12). Assim, ele tem o seu reino, o império das trevas
(Cl 1:13).
De acordo com 26:18, somos transferidos da
potestade de Satanás para Deus. Na verdade, ser
transferido para Deus é ser transferido para a
autoridade de Deus, que é o Seu reino, que pertence à
luz. Anteriormente estávamos nas trevas e sob a
autoridade de Satanás. Mas fomos tirados das trevas
e autoridade de Satanás e introduzidos na luz e em
Deus.
As trevas, na verdade, são a autoridade de
Satanás. Sempre que estamos nas trevas, estamos sob
a autoridade satânica. Luz é o próprio Deus (1Jo 1:5).
Portanto, quando estamos na luz, estamos em Deus.
Assim como Satanás e as trevas são um, Deus e a luz
também são um. A maior transferência que podemos
ter é das trevas para a luz.
No capítulo vinte e um de Atos, Tiago estava
promovendo as coisas antigas do judaísmo. Ao fazer
isso, ele estava nas trevas. Ele disse a Paulo: “Bem
vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os
judeus que creram, e todos são zelosos da lei” (21:20).
Isso foi falado nas trevas, e indica que o próprio Tiago
estava cego e nas trevas. Por estar nas trevas, ele
também estava debaixo da autoridade de Satanás.
Afirmar isso acerca de Tiago não é ser severo demais.
Paulo certamente não estava cego. Contudo, em
Atos 21 ele corria o perigo de ser arrastado de volta
para as trevas. Na verdade, nos dias em que esteve no
templo com os outros para a completação do voto do
nazireado, ele estava nas trevas.

O Perdão dos Pecados


Em 26:18 vemos que quando os nossos olhos são
abertos e temos uma virada, uma transferência, das
trevas e da autoridade satânica para a luz e para
Deus, podemos receber o perdão dos pecados. Perdão
de pecados é a base de todas as bênçãos do jubileu do
Novo Testamento. O autêntico perdão de pecados
vem pelo abrir dos olhos e pela transferência de
Satanás para Deus. Portanto, precisamos ter os olhos
abertos e ter uma transferência da autoridade de
Satanás para Deus, a fim de receber o completo e
perfeito perdão de pecados.

A Herança Divina

Cristo como a Corporificação do Deus Triúno


Como resultado de ter os olhos abertos e de ser
transferidos da autoridade de Satanás para Deus, não
apenas temos o perdão dos pecados do lado negativo,
mas também recebemos urna herança do lado
positivo. Essa herança divina é o próprio Deus Triúno
com tudo o que Ele tem, fez, e irá fazer pelos Seus
redimidos. Esse Deus Triúno está corporificado no
Cristo todo-inclusivo (Cl 2:9), que é a parte que nos
cabe da herança dos santos na luz (Cl 1:12). O Espírito
Santo outorgado aos santos é o antegozo, o selo, o
penhor e a garantia dessa herança divina (Rm 8:23;
Ef 1:1314) que partilhamos e desfrutamos hoje no
jubileu de Deus do Novo Testamento, como antegozo,
e iremos partilhar e desfrutar na era vindoura e pela
eternidade (1Pe 1:4). Na prefiguração do jubileu em
Levítico 25:8-13, as bênçãos principais eram a
proclamação da liberdade e o retorno de cada homem
à sua própria herança. Aqui, no cumprimento do
jubileu, ser libertado da autoridade das trevas e
receber a herança divina também são as bênçãos
principais.
Os crentes geralmente aprendem que a herança
em Atos 26:18 é uma mansão celestial. Foi isso que
me ensinaram quando jovem. Mas, depois de estudar
a Bíblia por mais de cinqüenta anos, aprendi que essa
herança é Cristo como a corporificação do Deus
Triúno processado. Esse Cristo é a porção dos santos.
Em Colossenses I:12 Paulo diz que o Pai nos
qualificou “à parte que vos cabe da herança dos
santos na luz”. Essa parte é o “quinhão”, a herança,
dos santos. A herança é um quinhão, que é uma parte
ou porção.
No Antigo Testamento cada uma das doze tribos
de Israel recebeu por herança um quinhão, ou porção,
da boa terra. A boa terra é um tipo do Cristo
todo-inclusivo dado a nós por herança. Assim, Cristo,
a corporificação do Deus Triúno processado, é a
nossa herança. É o Deus Triúno processado,
plenamente corporificado na Pessoa todo-inclusiva
de Cristo, que, por meio da ressurreição tornou-se o
Espírito que dá vida.

Entre os que São Santificados


De acordo com Atos 26:18, a herança divina é
entre os que foram santificados pela fé em Cristo.
Essa santificação não é apenas posicional mas
também disposicional (Rm 6:19, 22). Santificação
(tornar-se santo) não é apenas uma questão de
posição, isto é, não apenas ser mudado da posição
comum e mundana para a posição dedicada a Deus,
como ilustra Mateus 23:17 e 19, em que o ouro é
santificado pelo templo e a oferta é santificada pelo
altar, por meio da mudança de posição, e em 1
Timóteo 4:3-5, em que o alimento é santificado pela
oração dos santos. Santificação também é questão de
disposição, isto é, de ser transformado da disposição
natural para uma disposição espiritual, como
menciona 2 Coríntios 3:18 e Romanos 12:2. Isso
envolve um longo processo, que começa com a
regeneração (1Pe 1:2-3; Tt 3:5), passa por toda a vida
cristã (1Ts 4:3; Hb 12:14; Ef 5:26) e se completa no
arrebatamento, na maturidade de vida (1Ts 5:23).
Ser santificado posicionalmente é apenas ter
uma mudança de posição e uso. Ser santificado
disposicionalmente é ser transformado em natureza
pela natureza santa de Deus e com ela. Ser santificado
é ser saturado com Deus como nossa possessão para
nosso desfrute hoje. Culminará em nossa maturidade
na vida divina para que nos pareçamos com Deus e
sejamos qualificados para possuí-Lo plenamente e
desfrutá-Lo como nossa herança na era vindoura e
pela eternidade.

NÃO SER DESOBEDIENTE À VISÃO


CELESTIAL
Em 26:19-20 Paulo testificou: “Pelo que, ó rei
Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas
anunciei primeiramente aos de Damasco e em
Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios,
que se arrependessem e se convertessem a Deus,
praticando obras dignas de arrependimento”. O uso
que Paulo faz da palavra visão no versículo 19 indica
que ele era obediente não à doutrina, teoria, credo
religioso ou teologia, mas à visão celestial, na qual viu
as coisas divinas a respeito do Deus Triúno a ser
dispensado ao Seu povo escolhido, redimido e
transformado. Todas as suas pregações em Atos e os
seus escritos nas catorze Epístolas de Romanos a
Hebreus são uma descrição detalhada dessa visão
celestial que ele teve.

ALIADO A DEUS
Em 26:21-22 Paulo continua: “Por causa disto,
alguns judeus me prenderam, estando eu no templo,
e tentaram matar-me. Mas, alcançando socorro de
Deus, permaneço até ao dia de hoje, dando
testemunho, tanto a pequenos como a grandes, nada
dizendo, senão o que os profetas e Moisés disseram
haver de acontecer”. O termo grego traduzido por
socorro no versículo 22 também significa assistência.
A raiz desse termo grego significa aliança. Isso
implica que o apóstolo estava aliado a Deus e a
assistência divina nessa aliança era real para ele.

TESTIFICAR QUE O CRISTO DEVERIA


SOFRER, E ANUNCIAR A LUZ
Em 26:22 Paulo não disse: “Vivo até ao dia de
hoje”. Antes, ele disse: “Permaneço até ao dia de
hoje”. Paulo tinha permanecido, ficado em pé, firme,
diante do comandante romano e diante de Félix e
Festo. Agora ele permanecia firme diante de Agripa.
Ao fazê-lo, ele era ousado, dizendo que testificava
tanto a pequenos como a grandes. Os grandes a quem
ele testificava incluíam Félix, Festo e Agripa.
Paulo disse a Agripa que não testificou nada
senão as coisas que tanto os profetas como Moisés
disseram que iriam acontecer: “Isto é, que o Cristo
devia padecer e, sendo o primeiro da ressurreição dos
mortos, anunciaria a luz ao povo e aos gentios” (v.
23). Literalmente os termos gregos traduzidos devia
padecer significam seria sujeito a sofrimento.
Ademais, a expressão grega traduzida por “sendo o
primeiro da ressurreição dos mortos, anunciaria”,
podem ser traduzidos: “pela ressurreição dos mortos
seria o primeiro a anunciar”, ou “sendo o primeiro a
ressuscitar dos mortos, anunciaria”.
Em 26:23 Paulo diz quy o Cristo anunciou luz ao
povo e aos gentios. O termo luz aqui indica a
iluminação de Deus, que é luz (1 10 1:5), brilhando em
Cristo, que é a luz do mundo (10 8:12; 9:5), por meio
da pregação do evangelho da glória de Cristo (2Co
4:4, 6). Aqui Paulo falou de luz em vez de vida,
porque tanto os religiosos como os políticos romanos
estavam nas trevas. Como estavam numa “cela”
escura, Paulo disse que Cristo primeiro, desde a
ressurreição dos mortos, anunciou luz ao povo e aos
gentios.

A REAÇÃO DE FESTO E A RESPOSTA DE


PAULO
Atos 26:24 prossegue: “Dizendo ele estas coisas
em sua defesa, Festo o interrompeu em alta voz: Estás
louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar!” O
termo grego para “louco” nos versículos 24 e 25
também significa demente, fora de si. Festo, que era
anfitrião e não hóspede como Agripa, disse em alta
voz que as muitas letras de Paulo, o seu estudo, o
estavam deixando louco. Como anfitrião, Festo não
devia ter dito nada.
Nos versículos 25 e 26 Paulo replicou: “Não estou
louco, ó excelentíssimo Festo! Pelo contrário, digo
palavras de verdade e de bom senso. Porque tudo isto
é do conhecimento do rei, a quem me dirijo com
franqueza, pois estou persuadido de que nenhuma
destas coisas lhe é oculta; porquanto nada se passou
em algum lugar escondido”. Nesses versículos Paulo
primeiro disse a Festo que em vez de estar louco, ele
estava muito sóbrio e também levava outros à
sobriedade, falando palavras de verdade e de bom
senso. Então disse que Agripa tinha conhecimento
dessas coisas. Agripa, sendo de religião judaica,
conhecia as coisas do Antigo Testamento e da
ressurreição. Paulo parecia dizer: “Agripa já sabe
sobre essas coisas, pois é judeu”.
No versículo 27 Paulo dirigiu-se a Agripa
dizendo: “Acreditas, ó rei Agripa, nos profetas? Bem
sei que acreditas”. Como membro da religião judaica,
Agripa certamente cria nos profetas.
No versículo 28 Agripa respondeu a Paulo
dizendo: “Por pouco me persuades a me fazer
cristão”. E Paulo disse: “Assim Deus permitisse que,
por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém
todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu
sou, exceto estas cadeias” (v. 29). A palavra de Paulo
nesse versículo é muito eloqüente.

O JULGAMENTO DE AGRIPA
Atos 26:30-32 diz: “A essa altura, levantou-se o
rei, e também o governador, e Berenice, bem como os
que estavam assentados com eles; e, havendo-se
retirado, falavam uns com os outros, dizendo: Este
homem nada tem feito passível de morte ou de prisão.
Então, Agripa se dirigiu a Festo e disse: Este homem
bem podia ser solto, se não tivesse apelado para
César”. Aqui vemos que, na opinião de Agripa, Paulo
poderia ter sido solto se não tivesse apelado a César.
No entanto, sem esse apelo, o apóstolo poderia ter
sido morto pelos judeus devido à maneira injusta pela
qual Festo lidava com ele (25:9), e assim a sua vida
poderia não ter sido preservada até aquele dia. Se
Paulo não tivesse apelado para César, poderia não ter
tido a oportunidade de escrever as cruciais Epístolas
de Efésios, Colossenses, Filipenses e Hebreus.
Na seção de Atos 21:27-26:32, uma longa
narração da perseguição final e máxima dos judeus ao
apóstolo, as verdadeiras características de todas as
partes envolvidas foram manifestadas. Primeiro,
vemos as trevas, cegueira, ódio e hipocrisia da
religião judaica. Segundo, vemos a injustiça e
corrupção dos políticos romanos. Terceiro, vemos a
transparência, brilho, fidelidade e coragem do
apóstolo. Por fim, há o cuidado encorajador do
Senhor por Sua testemunha e a Sua soberania sobre
toda a situação para levar a cabo o Seu propósito
divino.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SETENTA
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (36)

Leitura Bíblica: At 27:1-44


Nos capítulos vinte e sete e vinte e oito de Atos,
Lucas nos dá uma longa narração da viagem de Paulo
de Cesaréia a Roma. Podemos perguntar-nos por que
ele inclui tal longo e detalhado registro. Em certas
coisas ele é muito sucinto, mas o relato dessa viagem
é bem detalhado e vívido. Depois de considerar sobre
isso, creio que a razão desse registro detalhado é que
ele quer apresentar um quadro que transmita alguns
tópicos importantes.

O ATAQUE DE SATANÁS
O primeiro dos pontos transmitidos na longa
narrativa que Lucas fez da viagem de Paulo é o ataque
de Satanás ao apóstolo. Satanás o atacava
constantemente dos bastidores. Essa é a razão de a
viagem ter sido difícil, com muitos sofrimentos, e ter
demorado tanto. O tempo, especialmente, estava
muito ruim. Atos 27:4 diz: “Partindo dali, navegamos
sob a proteção de Chipre, por serem contrários os
ventos”. Mais tarde, embarcados num navio de
Alexandria, navegaram vagarosamente muitos dias e
chegaram com dificuldade defronte de Cnido (v. 7).
Então, com dificuldade, chegaram a certo lugar
chamado Bons Portos. Por fim, depois que se fizeram
ao mar novamente, “desencadeou-se, do lado da ilha,
um tufão de vento, chamado Euroaquilão” (v. 14).
Satanás estava por trás dessas dificuldades, atacando
o apóstolo.

O CUIDADO SOBERANO DO SENHOR


No quadro retratado em Atos 27-28 também
vemos o soberano cuidado do Senhor. Ele está acima
de todas as coisas, inclusive o vento e as tempestades.
Ele era soberano sobre o centurião chamado Júlio,
que levou Paulo a Roma, e sobre todos os soldados
que estavam com ele. Em Sua soberania, o Senhor fez
com que esse centurião tratasse Paulo com
humanidade. Quanto a isso, em 27:3 lemos: “No dia
seguinte, chegamos a Sidom, e Júlio, tratando Paulo
com humanidade, permitiu-lhe ir ver os amigos e
obter assistência”. Provavelmente alguns soldados o
acompanharam e é provável que ele ainda estivesse
em cadeias. No entanto, o Senhor soberanamente
cuidou dele.
Em Sua soberania, o Senhor também enviou um
anjo a Paulo em meio à violenta tempestade, quando
os que estavam no navio já haviam perdido todas as
esperanças de se salvar (vs. 20, 23). Paulo testificou
que um anjo lhe havia dito: “Paulo, não temas! É
preciso que compareças perante César, e eis que
Deus, por sua graça, te deu todos quantos navegam
contigo” (v. 24). Como veremos, essas palavras
indicam que ele tinha um pequeno reino no barco,
composto de duzentos e setenta e seis cidadãos.
Lucas e Aristarco, um macedônio de Tessalônica,
estavam com Paulo no navio. Lucas exercia a função
de médico, cuidando da sua saúde e de relator,
registrando os detalhes da viagem. Agradecemos ao
Senhor por esse registro. Quanto mais o lemos, mais
percebemos quão significativo é. No relato detalhado
dessa viagem vemos que o Senhor controlava os
ataques de Satanás. Tudo aconteceu na hora certa,
para que a vida de Paulo fosse preservada.

O VIVER DE PAULO
O quadro nesses capítulos de Atos também nos
mostra a vida, o comportamento e o caráter de Paulo.
Vemos a ascendência que ele tinha nessa situação.
Também vemos a sabedoria e dignidade da sua vida
humana. Sem dúvida, a sua vida era viver Cristo e
engrandecê-Lo.
Se lermos esse trecho cuidadosamente, veremos
que Paulo vivia do modo que aspirava viver em
Filipenses 3, onde diz que buscava Cristo a fim de ser
achado Nele (vs. 9, 12). Quando leio Atos 27-28, eu o
encontro em Cristo. Numa viagem dura e difícil, ele
viveu em ascendência e dignidade, e cheio de
sabedoria. Embora fosse prisioneiro, ele se portava
como rei. Ademais, tinha percepção e sabedoria para
lidar com as questões.
Sem dúvida, o Senhor estava com ele. Por um
lado, ele era prisioneiro, um dentre duzentos e
setenta e seis passageiros. Por outro, era o centro da
situação, seja no navio, seja na ilha onde passaram o
inverno depois que o navio foi destruído. Em todas as
circunstâncias ele vivia em ascendência.

PREDISSE O PERIGO DA VIAGEM


Vamos agora considerar alguns detalhes
registrados em 27:144. O versículo 1 diz: “Quando foi
decidido que navegássemos para a Itália, entregaram
Paulo e alguns outros presos a um centurião chamado
Júlio, da Coorte Imperial”. O verbo navegássemos
indica que Lucas, o autor de Atos, estava incluído. A
Coorte Imperial, ou Coorte Augusta, deve ter sido
nomeada por César Augusto (cf. Lc 2:1). A coorte,
uma das dez divisões da antiga legião romana, era
composta de seiscentos homens.
No versículo 2 temos a continuação:
“Embarcando num navio adramitino, que estava de
partida para costear a Ásia, fizemo-nos ao mar, indo
conosco Aristarco, macedônio de Tessalônica”. Esse é
o início da quarta viagem ministerial do apóstolo, que
termina em 28:31.
Em seu registro Lucas diz que, em Mirra,
achando “o centurião um navio de Alexandria, que
estava de partida para. a Itália, nele nos fez
embarcar” (v. 6). Nos versículos 9 e 10 lemos: “Depois
de muito tempo, tendo-se tomado a navegação
perigosa, e já passado o tempo do Dia do Jejum,
admoestava-os Paulo, dizendo-lhes: Senhores, vejo
que a viagem vai ser trabalhosa, com dano e muito
prejuízo, não só da carga e do navio, mas também da
nossa vida”. O Dia do Jejum no versículo 9 referese ao
dia da expiação (Lv 16:29-31; 23:27-29; Nm 29:7).
No versículo 10 Paulo verbalizou o seu
sentimento sobre o perigo da viagem. Os marinheiros
eram peritos em navegação, e conheciam tudo sobre
os ventos e o mar, mas não tinham o discernimento
que ele tinha. Embora ele os tivesse advertido do
dano e do prejuízo que teriam de enfrentar, “o
centurião dava mais crédito ao piloto e ao mestre do
navio do que ao que Paulo dizia” (v. 11). O piloto e o
dono do navio convenceram o centurião a não aceitar
a palavra de Paulo. Assim, seguindo o seu conceito
errôneo, eles continuaram a viagem. Ele,
naturalmente, não era marinheiro nem piloto. Antes,
era um pregador que no momento era prisioneiro. No
entanto, tinha mais discernimento do que o
centurião, os soldados, os marinheiros, o piloto e o
dono do navio. Aqui vemos seu caráter.

A TEMPESTADE E A PREDIÇÃO DE PAULO


SOBRE SEGURANÇA
Atos 27:13-26 descreve a tempestade e a predição
de Paulo sobre segurança. Nos versículos 13 e 14
lemos: “Soprando brandamente o vento sul, e
pensando eles ter alcançado o que desejavam,
levantaram âncora e foram costeando mais de perto a
ilha de Creta. Entretanto, não muito depois,
desencadeou-se, do lado da ilha, um tufão de vento,
chamado Euroaquilão”. Literalmente o termo grego
traduzido a ilha no versículo 14 é ela, e refere-se a
Creta.
Nos versículos 15 a 17 temos a continuação: “E,
sendo o navio arrastado com violência, sem poder
resistir ao vento, cessamos a manobra e nos fomos
deixando levar. Passando sob a proteção de uma
ilhota chamada Cauda, a custo conseguimos recolher
o bote; e, levantando este, usaram de todos os meios
para cingir o navio, e, temendo que dessem na Sirte,
arriaram os aparelhos, e foram ao léu”. “Recolher o
bote” era recolher o bote ao convés, que, em tempo
calmo, era amarrado por uma corda à popa da
embarcação (Vincent). Todos os meios, mencionados
no versículo 17, eram coisas como cordas e correntes.
Cingir o navio com essas coisas era passar as amarras
ao redor do casco da embarcação. Sirte, onde
temeram bater, era um baixio, a sudoeste da ilha de
Creta. Para marinheiros arriar os aparelhos significa
que eles ou baixaram as velas, ou lançaram a âncora.
De acordo com os versículos 18 e 19, eles
começaram a atirar ao mar a carga, e também a
armação do navio, ou móveis, foram lançados ao mar.
O versículo 20 indica que a tempestade era tão severa
que eles, por fim, perderam as esperanças: “E, não
aparecendo, havia já alguns dias, nem sol nem
estrelas, caindo sobre nós grande tempestade,
dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento”.
Como veremos, esse momento foi uma boa
oportunidade para Paulo dizer algo aos que estavam
no navio.
A esse respeito o versículo 21 diz: “Havendo
todos estado muito tempo sem comer, Paulo,
pondo-se em pé no meio deles, disse: Senhores, na
verdade, era preciso terem-me atendido e não partir
de Creta, para evitar este dano e perda”. Embora
fosse um prisioneiro em cadeias, o seu
comportamento mostrava muita ascendência com
dignidade. A narrativa de Lucas, ao registrar o mover
do Senhor na terra, não enfatiza doutrina, e, sim, o
testemunho das testemunhas do Senhor (1:8). Assim,
em sua narração não há detalhes de doutrinas, e, sim,
dos eventos que ocorreram a essas testemunhas, para
retratar os testemunhos delas em suas vidas. Isso é
exatamente o que se vê na viagem de Paulo nos
últimos dois capítulos.
Aqui Paulo era uma testemunha do Senhor.
Assim, não devemos ler o relato de Lucas meramente
como a história de uma tempestade no mar. Antes,
precisamos ver nessa história a descrição da vida de
uma das testemunhas vivas de Cristo.
Em 27:21 Paulo foi franco. Os outros que
estavam a bordo do navio nada tinham a dizer. Todos,
inclusive o centurião e o piloto, foram subjugados.
No versículo 22 Paulo prosseguiu: “Mas, já agora,
vos aconselho bom ânimo, porque nenhuma vida se
perderá de entre vós, mas somente o navio”. Todos
tinham desanimado e esperavam a morte. Ele, no
entanto, disse-lhes que tivessem bom ânimo,
assegurando-lhes que não haveria perda de vidas,
mas apenas do navio. Aqui ele parece dizer: “Nenhum
de nós perderá a vida, mas o navio será perdido. Já
que não me deram ouvidos, vocês perderão o navio”.
Nos versículos 23 e 24 temos a continuação:
“Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de
quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo:
Paulo, não temas! É preciso que compareças perante
César, e eis que Deus, por sua graça, te deu todos
quantos navegam contigo”. No versículo 23 ele
mostrou primeiro que pertencia a Deus e então que O
servia. O vocábulo grego traduzido sirvo significa
sirvo como sacerdote.
No versículo 24 o anjo lhe assegurou que ele
compareceria diante de César. Isso visava cumprir a
promessa do Senhor em 23:11 e o desejo do apóstolo
em 19:2l.
De acordo com o versículo 24, Deus lhe deu
todos os que navegavam com ele. Isso mostra que
Deus os deu a Paulo e que eles estavam todos sujeitos
a ele. Se não fosse a presença de Paulo com eles, todos
teriam perdido a vida. Aqui ele parece dizer: “Por
minha causa, a vida de vocês será preservada. O
Senhor deu todos vocês para mim”.
Nos versículos 25 e 26 ele prosseguiu: “Portanto,
senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus
que sucederá do modo por que me foi dito. Porém é
necessário que vamos dar a uma ilha”. Podemos
considerar essa como sendo uma palavra de
discernimento e também de profecia. Paulo tinha a
sabedoria de olhar para a situação e perceber o que
iria acontecer. Como falou uma palavra tão categórica
sobre dar a uma ilha, podemos considerá-la uma
profecia.

A MANEIRA VIL DE PENSAR E A LOUCURA


DOS MARINHEIROS E SOLDADOS, E A
SABEDORIA E O CUIDADO ASCENDENTES
DE PAULO
Em 27:27-44 temos um contraste entre a
maneira vil de pensar e a loucura dos marinheiros e
soldados, e a sabedoria e o cuidado ascendentes de
Paulo. Isso indica que os que não têm Cristo são vis e
tolos. Os marinheiros tentaram fugir do navio, mas
foram impedidos por Paulo, que os vigiava como rei.
“Procurando os marinheiros fugir do navio, e, tendo
arriado o bote no mar, a pretexto de que estavam para
largar âncoras da proa, disse Paulo ao centurião e aos
soldados: Se estes não permanecerem a bordo, vós
não podereis salvar-vos. Então, os soldados cortaram
os cabos do bote e o deixaram afastar-se” (vs. 30-32).
Paulo disse ao centurião e soldados que eles não
iriam salvar-se se os marinheiros não
permanecessem a bordo. Parecia que ele era o
responsável, dando ordens ao seu “exército” para que
fizesse o que era necessário.
Nos versículos 33 e 34 lemos: “Enquanto
amanhecia, Paulo rogava a todos que se
alimentassem, dizendo: Hoje, é o décimo quarto dia
em que, esperando, estais sem comer, nada tendo
provado. Eu vos rogo que comais alguma coisa;
porque disto depende a vossa segurança; pois
nenhum de vós perderá nem mesmo um fio de
cabelo”. Eles já estavam catorze dias esperando que a
tempestade passasse, e não tinham ânimo para
comer. Agora Paulo os encorajou a comer, pois seria
para a salvação deles. A palavra segurança também
pode ser traduzida por salvação e significa que sem
comer os homens não iriam ser salvos da tempestade.
Eles precisavam comer para ter forças para nadar e
fazer o que fosse necessário uma vez em terra.
O versículo 35 diz: “Tendo dito isto, tomando um
pão, deu graças a Deus na presença de todos e, depois
de o partir, começou a comer”. Aqui ele se conduziu
como rei, ou pelo menos como cabeça de uma grande
família. Ele deu graças pela comida e comeu. A
tempestade prevalecia, o barco era açoitado pela
tormenta e eles temiam perder a vida. No entanto, ele
lhes disse que recobrassem o ânimo, estivessem em
paz e comessem para ter a força de que necessitavam.
Então, na frente de todos, ele comeu. Todos estavam
com medo e não tinham ânimo para comer. Por essa
razão, ele deu um exemplo e parecia dizer: “Estou
animado e em paz. Encorajo-os a me imitar, pois sou
um homem vivendo Cristo”. Como ele cobrou ânimo e
comeu, “todos cobraram ânimo e se puseram também
a comer” (v. 36). De acordo com o versículo 37, eram
ao todo “no navio duzentas e setenta e seis pessoas”.
Como já dissemos, todos eram súditos do reino
governado por Paulo.
Em 27:30 os marinheiros queriam fugir, e no
versículo 42 os soldados queriam matar os
prisioneiros: “O parecer dos soldados era que
matassem os presos, para que nenhum deles,
nadando, fugisse”. No entanto, o Senhor, em Sua
soberania, protegeu Paulo. “Mas o centurião,
querendo salvar a Paulo, impediu-os de o fazer; e
ordenou que os que soubessem nadar fossem os
primeiros a lançar-se ao mar e alcançar a terra.
Quanto aos demais, que se salvassem, uns, em
tábuas, e outros, em destroços do navio. E foi assim
que todos se salvaram em terra” (vs. 43-44). Isso que
o centurião fez, de impedir os soldados de fazer o que
queriam, foi novamente a soberania do Senhor para
preservar a vida do Seu servo. Devido à soberana
proteção do Senhor para com Paulo, todos os que
estavam no navio foram conduzidos a salvo para a
terra, para uma ilha chamada Malta (28:1).
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SETENTA E UM
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (37)

Leitura Bíblica: At 28:1-31


Nesta mensagem abordaremos o capítulo vinte e
oito, o último capítulo de Atos. Em 28:1-10 Paulo
chega à ilha de Malta e ali faz muitos milagres. Então,
em 28:11-31 chega a Roma, encerrando a quarta
viagem. Primeiro passa por Siracusa, Régio, Putéoli, a
Praça de Ápio e Três Vendas (vs. 11-16). Contata os
líderes judeus (vs. 17-22) e ministra em Roma (vs.
23-31).

PARA A ILHA DE MALTA, FAZ MILAGRES


Atos 28:1-2 diz: “Uma vez em terra, verificamos
que a ilha se chamava Malta. Os bárbaros
trataram-nos com singular humanidade, porque,
acendendo uma fogueira, acolheram-nos a todos por
causa da chuva que caía e por causa do frio”. O
vocábulo grego traduzido bárbaros se refere aos que
não falavam grego ou latim, mas não
necessariamente incivilizados.
Nos versículos 3 a 5 temos a continuação: “Tendo
Paulo ajuntado e atirado à fogueira um feixe de
gravetos, uma víbora, fugindo do calor,
prendeu-se-lhe à mão. Quando os bárbaros viram a
víbora pendente da mão dele, disseram uns aos
outros: Certamente, este homem é assassino, porque,
salvo do mar, a Justiça não o deixa viver. Porém ele,
sacudindo o réptil no fogo, não sofreu mal nenhum”.
Literalmente, o termo grego para víbora nos
versículos 4 e 5 é besta. Mas os escritores médicos
usavam esse termo para denotar serpentes
venenosas. Primeiro os bárbaros pensaram que Paulo
era um assassino, por ter sido mordido por uma
víbora. Mas, como o versículo 6 indica, por fim
mudaram de opinião a respeito dele: “Mas eles
esperavam que ele viesse a inchar ou a cair morto de
repente. Mas, depois de muito esperar, vendo que
nenhum mal lhe sucedia, mudando de parecer,
diziam ser ele um deus”. O apóstolo não era um deus
como pensavam os bárbaros supersticiosos, mas
expressava, em seu viver e ministério, o verdadeiro
Deus, que em Jesus Cristo passou pelos processos de
encarnação, viver humano, crucificação e
ressurreição, e agora vivia nele e por meio dele, como
Espírito todo-inclusivo.
No seu ensinamento, registrado nas Epístolas,
Paulo enfatizava a questão de andar no Espírito. Em
toda a viagem, e agora na ilha de Malta, ele
certamente andava no Espírito. Certamente teve um
viver que era o Cristo encarnado, crucificado,
ressurreto e ascendido. O seu viver, na realidade, era
a expressão do Espírito que dá vida. Em cada situação
do seu viver diário, ele era a expressão do próprio
Cristo que pregava. Ele pregava o Cristo encarnado,
crucificado, ressurreto e ascendido como Espírito que
dá vida, e na ilha de Malta ele viveu tal Cristo como
Espírito todo-inclusivo. Isso está indicado pelo que
ele escreveu mais tarde, em Filipenses 1:20-21a:
“Segundo a minha ardente expectativa e esperança de
que em nada serei envergonhado; antes, com toda a
ousadia, como sempre, também agora, será Cristo
engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela
morte. Porquanto, para mim, o viver é Cristo”. Ele só
se importava em viver Cristo e engrandecê-Lo. Na
ilha de Malta ele viveu Cristo e O engrandeceu como
Espírito que dá vida. Ao ler o relato de Lucas, vemos
que o viver de Paulo era o Espírito todo-inclusivo
como a consumação do Cristo encarnado, crucificado,
ressurreto e exaltado por Deus.
Nos versículos 7 e 8 lemos: “Perto daquele lugar,
havia um sítio pertencente ao homem principal da
ilha, chamado Públio, o qual nos recebeu e hospedou
benignamente por três dias. Aconteceu achar-se
enfermo de disenteria, ardendo em febre, o pai de
Públio. Paulo foi visitá-lo, e, orando, impôs-lhe as
mãos, e o curou”. Disenteria era uma doença comum,
mas de cura difícil. No entanto, Paulo, que vivia como
rei governando o seu reino, tornou-se agora um
médico para curar o pai de Públio.
O versículo 9 diz: “À vista deste acontecimento,
os demais enfermos da ilha vieram e foram curados”.
Aqui vemos que Paulo se tornou um médico e até
mesmo um salvador para toda a ilha. Todos os
doentes que lhe trouxeram foram curados.
No mar, durante a tempestade, o Senhor já tinha
feito do apóstolo não apenas o dono dos colegas de
viagem (27:24) como também a garantia de vida e o
confortador deles (27:2225). Agora, em terra, numa
situação de paz, o Senhor o fez ainda mais, não
apenas uma atração mágica aos olhos dos
supersticiosos (vs. 3-6) como também aquele que
cura e a alegria para os bárbaros (vs. 8-9). Em toda a
extensa e desafortunada viagem de Paulo como
prisioneiro, o Senhor guardou o apóstolo em Sua
soberania e capacitou-o a ter uma vida muito acima
da esfera de ansiedade, e, plenamente dignificada
com o mais alto padrão de virtudes humanas,
expressando os mais excelentes atributos divinos,
uma vida que se assemelhava à q~e Ele mesmo tivera
na terra anos antes. Era Jesus vivendo novamente na
terra, em Sua humanidade divinamente enriquecida!
Esse é o maravilhoso, excelente e misterioso
Homem-Deus, que viveu nos Evangelhos,
continuando a viver em Atos por meio de um de Seus
muitos membros, membro esse que era uma
testemunha
, viva do Cristo encarnado, crucificado,
ressurreto e exaltado por Deus. Paulo em sua viagem
viveu e engrandeceu a Cristo. Não é de admirar que as
pessoas distinguiram a ele e aos seus companheiros
com muitas honrarias (v. 10), isto é, com o máximo
respeito e a mais alta consideração!
Atos 28:10 diz: “Os quais nos distinguiram com
muitas honrarias; e, tendo nós de prosseguir viagem,
nos puseram a bordo tudo o que era necessário”. Esse
versículo indica que os nativos da ilha de Malta
trataram Paulo e seus companheiros como se fossem
membros de uma fanu1ia real. Paulo era o rei e Lucas
era parte da família.
De acordo com o versículo 10, os nativos
puseram a bordo tudo o que era necessário para a
viagem. O Senhor soberanamente proveu comida
para duzentas e setenta e seis pessoas. Todo rei
precisa prover comida para o seu povo. Como rei,
Paulo recebeu os suprimentos dos nativos, mas não
lhes devia nada por isso, pois tinha curado muitos
doentes entre eles. Em certo sentido, as pessoas lhe
pagaram colocando a bordo o suprimento de
alimentos necessário para a viagem.
ATÉ ROMA, A CONCLUSÃO DA QUARTA
VIAGEM

Através de Siracusa, Régio, Putéoli, a Praça


de Ápio e Três Vendas
Atos 28:11 diz: “Ao cabo de três meses,
embarcamos num navio alexandrino, que invernara
na ilha e tinha por emblema Dióscuros”. Os Dióscuros
são Castor e Pólux, os dois filhos gêmeos de Zeus.
Essa era a imagem da divindade guardiã dos
marinheiros, presa à popa.
Depois de ficar três dias em Siracusa, chegaram a
Régio, e então foram a Putéoli, onde encontraram
irmãos (vs. 12-14). No versículo 14b Lucas diz: “E foi
assim que nos dirigimos a Roma”. E nos versículos 15
e 16 continua: “Tendo ali os irmãos ouvido notícias
nossas, vieram ao nosso encontro até à Praça de Ápio
e às Três Vendas. Vendo-os Paulo e dando, por isso,
graças a Deus, sentiu-se mais animado. Uma vez em
Roma, foi permitido a Paulo morar por sua conta,
tendo em sua companhia o soldado que o guardava”.
Em latim, a Praça de Ápio é Appii F orum, lugar a
quase setenta quilômetros de Roma. Em latim Três
Vendas é Tres Taberrue, lugar a quase cinqüenta
quilômetros de Roma.
A calorosa recepção dos irmãos de Roma e o
cuidado amoroso dos irmãos de Putéoli (vs. 13-14)
mostram a bela vida do Corpo entre as igrejas e os
apóstolos nos dias iniciais. Essa vida era parte da vida
celestial do reino na terra obscurecida por Satanás e
habitada pelo homem. Aparentemente o apóstolo,
como prisioneiro em cadeias, tinha entrado na área
da trevosa capital do império usurpado por Satanás.
Na verdade, como embaixador de Cristo com a Sua
autoridade (Ef 6:20; Mt 28:18-19), ele tinha entrado
em outra parte da participação na vida coletiva da
Sua igreja no reino de Deus na terra. Enquanto sofria
a perseguição da religião no império de Satanás, ele
desfrutava a vida da igreja no reino de Deus, a qual
lhe era um conforto e encorajamento.
De acordo com o versículo 15, quando viu os
irmãos, Paulo deu graças a Deus e sentiu-se mais
animado. Isso indica que o apóstolo era bastante
humano. Embora tivesse sido encorajado pelo Senhor
diretamente (23:11) e tivesse sido bastante corajoso
em toda a sua viagem (27:22-25, 33-36), ele ainda foi
encorajado com a calorosa recepção dos irmãos. Era
na humanidade elevada de Paulo com as virtudes
humanas, que Cristo, com os atributos divinos, era
expresso em sua viagem. Ele engrandeceu a Cristo
todo o caminho em sua situação adversa (Fp 1:20).
Antes de Paulo chegar a Roma, os irmãos lá
tiveram notícias a respeito dele e seus companheiros
e vieram ao encontro deles na Praça de Ápio e em
Três Vendas. De que maneira eles receberam as
notícias a respeito de Paulo? Isso é difícil de dizer.
Talvez alguns de Putéoli, onde rogaram a Paulo que
permanecesse por sete dias, tenham levado as
notícias aos irmãos em Roma, que então vieram ao
seu encontro. O importante aqui é que vemos um
quadro da vida da igreja nos tempos antigos, uma
vida da igreja muito desfrutável. Precisamos ter tal
vida da igreja desfrutável hoje e seguir o modelo
apresentado nesses versículos.
No capítulo vinte e oito foi cumprido o desejo de
Paulo de ver Roma. Os judaizantes tentaram
impedi-lo de ir aos gentios, mas o Senhor
soberanamente o levou a Roma. Naqueles tempos, ir
de Jerusalém a Roma era algo grande. Mas o Senhor
o levou ao distante mundo gentio, até mesmo à
capital do Império Romano. Paulo devia estar muito
contente quando chegou a Roma. Exteriormente ele
estava em cadeias, mas interiormente estava cheio de
glória e alegria indizível.

Contata os Líderes Judeus e Ministra em


Roma
Imediatamente depois de chegar a Roma, Paulo
contatou os líderes judeus (vs. 17-22). Ele foi sábio
em fazer isso. Então começou a ministrar a eles.
Naturalmente o seu ministério foi aceito por uns e
rejeitado por outros.
O fato de Paulo estar em Roma foi um
fortalecimento para a igreja ali, em especial porque
bom número de judeus havia sido salvo. Ele foi a
Roma pouco depois de ter escrito a sua Epístola aos
Romanos. Poucos anos depois de tê-la escrito, o
próprio autor foi a Roma.
Atos 28:23-24 diz: “Havendo-lhe eles marcado
um dia, vieram em grande número ao encontro de
Paulo na sua própria residência. Então, desde a
manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em
testemunho do reino de Deus, procurando
persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de
Moisés como pelos profetas. Houve alguns que
ficaram persuadidos pelo que ele dizia; outros,
porém, continuaram incrédulos”. Aqui ele testificou a
respeito do reino de Deus. Como já enfatizamos, o
reino de Deus era o assunto principal do ensinamento
dos apóstolos. Não é um reino material visível aos
olhos humanos, e, sim, o reino da vida divina. É a
difusão de Cristo como vida aos crentes, a fim de
formar uma esfera na qual Deus governa em Sua vida.
Nos versículos 25 a 27 lemos: “E, havendo
discordância entre eles, despediram-se, dizendo
Paulo estas palavras: Bem falou o Espírito Santo a
vossos pais, por intermédio do profeta Isaías, quando
disse: Vai a este povo e dize-lhe: De ouvido, ouvireis e
não entendereis; vendo, vereis e não percebereis.
Porquanto o coração deste povo se tornou
endurecido; com os ouvidos ouviram tardiamente e
fecharam os olhos, para que jamais vejam com os
olhos, nem ouçam com os ouvidos, para que não
entendam com o coração, e se convertam, e por mim
sejam curados”. O Deus Pai havia falado essas
palavras aos teimosos filhos de Israel em Isaías
6:9-10. O Deus Filho as citou aos judeus que O
rejeitaram em Mateus 13:14-15. E agora, o Deus
Espírito, por meio do apóstolo, repetiu-as às pessoas
de coração endurecido. Isso indica que em todos os
passos da Trindade divina, os filhos de Israel foram
desobedientes ao Deus da graça. Então, Ele se voltou
aos gentios para executar a Sua economia
neotestamentária, na difusão do Seu reino para
edificar as igrejas, por meio da propagação do Cristo
ressurreto e ascendido (v. 28).
Atos 28:30 diz: “Por dois anos, permaneceu
Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia
todos que o procuravam”. Nessa época o apóstolo
escreveu as Epístolas aos Colossenses (cf. Cl 4:3, 10,
18), Efésios (cf. Ef 3:1; 4:1; 6:20), Filipenses (cf. Fp
1:7, 14, 17) e Filemom (cf. Fm 1, 9). Em Filipenses 1:25
e 2:24 e Filemom 22 ele esperava ser libertado da
prisão. Provavelmente depois de dois anos ele foi
solto e visitou Éfeso e a Macedônia (1Tm 1:3), donde é
provável que tenha escrito a primeira Epístola a
Timóteo. Daí visitou Creta (Tt 1:5) e Nicópolis (Tt
3:12), donde escreveu a Epístola a Tito; foi para
Trôade e Mileto (2Tm 4:13, 20), donde
provavelmente escreveu a Epístola aos Hebreus.
Atos 28:31 diz que nos dois anos em que esteve
em sua residência alugada em Roma, Paulo “pregava
o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem
impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao
Senhor Jesus Cristo”. O reino de Deus é uma das
ênfases de Atos. O escrito de Lucas começa (1:3) e
termina com o reino de Deus.
O fato de Paulo proclamar o reino de Deus era a
propagação do Cristo ressurreto. Como sabemos isso?
Isso está provado pelas palavras “ensinava as coisas
referentes ao Senhor Jesus Cristo” no versículo 31.
Isso indica que o reino de Deus acompanha as coisas
referentes ao Senhor Jesus Cristo. Ensinar às pessoas
as coisas referentes a Cristo é difundir o reino de
Deus. Assim, o reino de Deus é, na verdade, a
propagação do Cristo ressurreto.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SETENTA E DOIS
CONCLUSÃO

Leitura Bíblica: At 1:8; 27:20-26, 33-37; 28:15-16,


23-31; Fp 1:19-21a; Ef 2:14-18; Fp 3:2-8; Cl 3:10-11;
Hb 1:1-3; 9:12; 10:9-10, 12, 14; 13:13
Nesta conclusão do Estudo-Vida de Atos,
abordaremos duas questões. A primeira se refere ao
viver de Paulo retratado em Atos 27-28; a segunda se
refere à revelação nas Epístolas aos Efésios,
Filipenses, Colossenses e Hebreus.

UM RETRATO DO VIVER DE PAULO


Os capítulos vinte e sete e vinte e oito de Atos não
apresentam nada de doutrina. Antes, temos neles um
registro de alguém que vivia Cristo ao máximo. Ele foi
aprisionado, preso com cadeias e rodeado de guardas.
O mar estava muito violento e a navegação difícil.
Ademais, ele estava longe da terra natal e da maioria
dos amigos. Embora estivesse nessa situação difícil,
ele vivia como um rei a governar.
O viver de Paulo apresentado nesses dois
capítulos de Atos nos faz lembrar do que ele disse
enquanto estava aprisionado em Roma: “Porque
estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplica e
pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me
redundará em libertação, segundo a minha ardente
expectativa e esperança de que em nada serei
envergonhado; antes, com toda a ousadia, como
sempre, também agora, será Cristo engrandecido no
meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.
Porquanto, para mim, o viver é Cristo” (Fp 1:19-21a).
Isso descreve o viver dele na viagem de Cesaréia a
Roma. Independentemente da situação, ele
engrandecia a Cristo no corpo.
Ao ponderar a respeito do quadro em Atos 27-28,
vemos que Paulo era uma extraordinária testemunha
de Cristo. Ele era o tipo de testemunha de que o
Senhor falou em 1:8: “Tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”.
Em 1:6 os discípulos do Senhor Lhe tinham
perguntado se aquele seria o tempo em que Ele
restauraria o reino a Israel. O Senhor mostrou que
não lhes competia conhecer tempos ou épocas que o
Pai reservara em Sua exclusiva autoridade. Contudo
depois de ter recebido poder por meio da descida do
Espírito Santo sobre eles, eles seriam as Suas
testemunhas. Paulo era tal testemunha em Atos
27-28. Nesses capítulos Paulo vivia entre gentios.
Havia pouquíssimos judeus no navio, se é que havia
algum. Tudo naquela viagem era gentio: a comida, o
ambiente e a atmosfera. Além do mais, não havia
nada judaico na ilha de Malta. Ele estava rodeado de
gentios e da maneira gentia de viver. Mas nessa
situação ele viveu como rei num palácio. Aprecio
muito o quadro do viver de Paulo nesses capítulos.
Todos devemos viver Cristo da maneira que
Paulo o fez em Atos 27-28. Se somente vivemos Cristo
numa situação que é de acordo com a nossa cultura,
caráter, constituição e disposição, então o nosso viver
não é autêntico. Em Atos 27-28, ele viveu Cristo
numa situação totalmente contrária a sua cultura e
caráter. Muitas coisas eram desalentadoras e
desanimadoras, mas ele teve um viver do mais alto
padrão. Conforme já ressaltamos, em Paulo, o
maravilhoso, excelente e misterioso Homem-Deus
que viveu nos Evangelhos, continuava a viver por
meio de um dos Seus muitos membros. Era Jesus
vivendo novamente na terra em Sua humanidade
divinamente enriquecida. O viver de Paulo, portanto,
era uma repetição do viver de Jesus.
Depois que chegou em Roma como descreve o
capítulo vinte e oito, Paulo escreveu as Epístolas aos
Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus. Ele foi
duas vezes aprisionado em Roma. A primeira vez foi
entre 62 e 64 d.C., devido à acusação dos judeus
(28:17-20). Nessa época ele escreveu Efésios,
Filipenses, Colossenses e Filemom. Depois de
libertado pela primeira vez, é provável que tenha
visitado Éfeso e Macedônia, e depois Creta e Mileto,
donde, provavelmente, escreveu Hebreus. A segunda
vez em que Paulo foi preso, cerca de 65 d.C., deve-se à
súbita perseguição aos crentes iniciada por César
Nero.
Paulo passou por muitas coisas em Atos 15-28.
Sem essas experiências registradas nesses capítulos,
ele não poderia ter escrito Efésios, Filipenses,
Colossenses e Hebreus, ou então não poderia tê-las
escrito de maneira tão completa.

A ABOLIÇÃO DAS ORDENANÇAS


Em Efésios 2:14 e 15 Paulo diz: “Porque ele é a
nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado
a parede da separação que estava no meio, a
inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças, para que dos
dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo
a paz”. Creio que o que ele viu e experimentou em
Atos 15-28 fez com que escrevesse palavras assim tão
categóricas. Ao escrever isso talvez ele estivesse
dizendo a si mesmo: “Todas as ordenanças da lei
foram abolidas. A circuncisão, o voto do nazireado e
até mesmo o voto que fiz foram abolidos”.
Paulo talvez tenha-se lamentado do voto que
fizera em Atos 18 e também de ter circuncidado
Timóteo em Atos 16. Se eu estivesse com ele quando
escreveu Efésios, talvez dissesse: “Irmão Paulo,
gostaria de aprender de você. Uma vez que Cristo
aboliu todas as ordenanças, por que você ainda
circuncidou Timóteo em Listra?” Se alguém
perguntasse isso a Paulo, talvez ele respondesse: “Fiz
isso há muito tempo, e lamento tê-lo feito. Nunca
mais irei circuncidar ninguém”.
Quando Paulo escreveu Efésios 2, ele fora bem
mais aperfeiçoado muito mais cabal do que quando
circuncidou Timóteo em Atos 16. As suas experiências
nos capítulos 15-28 de Atos o fizeram ser mais cabal
em relação à circuncisão. Não creio que sem as
experiências descritas nesses capítulos, Paulo
pudesse ter escrito um capítulo como Efésios 2.
É proveitoso comparar as palavras de Paulo
sobre circuncisão em Gálatas com o que ele disse com
respeito à abolição das ordenanças em Efésios 2.
Provavelmente Gálatas tenha sido escrito antes de
Atos 16. Em Gálatas 6:15 ele disse: “Pois nem a
circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas
o ser nova criatura”. Na verdade, essas palavras ainda
dão certa margem para a prática da circuncisão. Mas
em Efésios 2 as palavras dele são absolutas, e não há
nenhuma base para a prática da circuncisão.
Paulo aprendeu com tudo o que aconteceu de
Atos 15-28. Creio que nos dois anos em que esteve
sob custódia em Cesaréia, ele revisou tudo o que tinha
acontecido. Ao fazê-lo, ele pode ter pensado: “Se
houver oportunidade eu gostaria de escrever outra
carta e dizer algo mais completo sobre a circuncisão
do que em Gálatas. Não direi apenas que a
circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão. Mas
direi que todas as ordenanças, especialmente as
ordenanças a respeito da circuncisão, foram abolidas.
Se eu pudesse rescrever a Epístola aos Gálatas, diria
aos crentes que a circuncisão foi abolida na cruz.
Diria que não praticassem a circuncisão, pois ela
ofende ao Senhor e O insulta. Não devemos continuar
praticando nada que o Senhor tenha abolido na cruz”.
Ao estudar a Bíblia podemos comparar Efésios e
Gálatas com respeito às ordenanças sobre a
circuncisão. Se o fizermos veremos que o que Paulo
diz em Gálatas não é tão categórico nem completo
como o que diz em Efésios. Em Efésios 2 ele não deixa
nenhuma base para a circuncisão.

UMA ADVERTÊNCIA A RESPEITO DA


MUTILAÇÃO
Em Filipenses 3 Paulo usa um termo negativo
muito forte para circuncisão: mutilação. Em
Filipenses 3:2 ele diz: “Acautelai-vos dos cães!
Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da
falsa circuncisão!” A expressão falsa circuncisão aqui
também pode ser traduzi da por mutilação, e é um
termo de desprezo. Como nesse versículo não há
conjunção entre as três orações, elas devem se referir
ao mesmo tipo de pessoas. Os cães são imundos (Lv
11:4-8), os obreiros são maus e a mutilação são os que
merecem desprezo. Cães se refere aos judaizantes.
Em natureza eles são cães imundos, no
comportamento são obreiros maus e na religião são a
mutilação, pessoas vergonhosas. Paulo certamente é
muito categórico ao exortar os Filipenses a
acautelar-se dos cães, dos maus obreiros e da
mutilação. Ele aqui está dizendo que os judaizantes,
os que promovem a circuncisão, são cães.
Que você acha que Paulo teria dito, se, à luz da
sua palavra em Filipenses 3:2, lhe perguntassem
sobre Tiago? Talvez dissesse: “Tiago certamente não é
um cão, mas em certo sentido ele agiu como um. Ele é
meu querido irmão. Como o respeitava, fui vê-lo.
Mas, quando ele falou comigo, ouvi algo como o
latido de um cão”.
Ao ler Filipenses 3, vemos que Paulo foi
fortalecido por suas experiências de Atos 15-28 e
especialmente pelo tempo que passou em Cesaréia.
Devido a esse fortalecimento, ele disse aos crentes
que se acautelassem dos cães, se acautelassem da
mutilação. Em Filipenses ele nem mesmo fala sobre
circuncisão, mas em vez disso usa o termo de
desprezo mutilação. Como ele foi categórico ao
escrever essa Epístola!
Quando escrevia Filipenses 3, Paulo foi mais
categórico do que quando escrevia Gálatas e
Romanos. Em Romanos 2:28-29 ele disse: “Porque
não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é
circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é
aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do
coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo
louvor não procede dos homens, mas de Deus”. Na
verdade, o que ele falou sobre a circuncisão aqui não é
muito categórico. Novamente, restou alguma base
para a prática da circuncisão. Mas em Filipenses 3:2
não há nenhuma base para a circuncisão, que agora é
chamada de falsa circuncisão, ou mutilação, prática
promovida por cães.
Em Filipenses 3:8 Paulo diz: “Sim, deveras
considero tudo como perda, por causa da
sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as
considero como refugo, para ganhar a Cristo”. A
palavra refugo denota detritos, lixo, sujeira, o que é
atirado aos cães, daí, comida de cães, esterco.
Primeiro Paulo exorta os crentes a acautelar-se dos
cães, e então indica que o que esses cães, os
judaizantes, ministram é comida de cães. Mais uma
vez vemos o desenvolvimento de Paulo em seus
escritos.
Quando estava em Cesaréia revisando o passado,
Paulo deve ter lamentado não ter sido
suficientemente cabal em seus escritos anteriores
com respeito às coisas judaicas. Ele pode ter pensado:
“Por que escrevi de maneira tão vaga? Por que não fui
mais claro e cabal quanto às coisas judaicas? Essas
coisas são comida de cães, a circuncisão na realidade
é mutilação e os que as promovem são cães”. Como
vimos, ao escrever Filipenses ele foi muito mais
categórico do que em Gálatas. Em Gálatas ele falou de
“falsos irmãos” (2:4), mas em Filipenses disse aos
santos que se acautelassem dos cães. Ele parecia estar
dizendo: “Eles não são irmãos nem mesmo homens;
são cães!” Como Paulo foi cabal em seus escritos
posteriores!

O NOVO HOMEM, NO QUAL CRISTO É TUDO


Em Colossenses 3:10-11 Paulo diz: “E vos
revestistes do novo homem que se refaz para o pleno
conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou; no qual não pode haver grego nem judeu,
circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo,
livre; porém Cristo é tudo em todos”. Aqui vemos não
apenas que não há homem natural no novo homem
mas não há possibilidade nem espaço para nenhuma
pessoa natural. No novo homem só há lugar para
Cristo. Ele é todos os membros do novo homem e está
em todos os membros. Ele é tudo no novo homem. Na
verdade, Ele é o novo homem, o Seu Corpo (1Co
12:13).
Ao escrever essas palavras, Paulo deve ter
pensado: “Eu não deveria ter falado aos irmãos em
Jerusalém sobre judeus e gentios. Eu não fui aos
gentios; fui ao povo escolhido de Deus. Todos os que
foram salvos por intermédio do meu ministério são o
povo de Deus. Ele os escolheu antes da fundação do
mundo. Certamente não havia nada de errado em ir a
eles. No novo homem não há judeu nem grego,
somente Cristo”. Em Colossenses 3:10 e 11 Paulo é
claro, cabal e absoluto. Isso deve ter sido resultado
dos dois anos em que esteve sob custódia em
Cesaréia.
Enquanto Efésios, Filipenses e Colossenses
foram escritos no primeiro aprisionamento de Paulo
em Roma, Hebreus foi escrito depois de ele ter sido
libertado. Em Hebreus, ele avançou ainda mais.
Antes de escrever essa Epístola ele deve ter pensado:
“Por que falei tão pouco em Efésios sobre Cristo
abolindo todas as ordenanças? Eu deveria ter entrado
em muito mais detalhes. Também o que falei em
Filipenses e Colossenses foi curto demais. Preciso
escrever uma Epístola mais longa para mostrar que
todas as coisas do judaísmo passaram e Cristo é
superior a elas”.
O CRISTO REVELADO EM HEBREUS
Nos treze capítulos de Hebreus, Paulo deprecia
as coisas do judaísmo. Ele até mesmo corta em
pedaços cada uma das questões cruciais do judaísmo.
Ele mostra que os judeus têm Deus, mas os crentes
têm o Homem-Deus, Jesus Cristo. Mostra também
que os anjos são servos. Ademais, mostra que Cristo é
superior a Moisés, Arão e Josué.
Em Hebreus, Paulo também nos diz que não há
mais oferta pelo pecado. De acordo com a vontade de
Deus, Cristo, Aquele que é todo-inclusivo, é a oferta
singular. Assim, no universo há apenas uma oferta
que está de acordo com a vontade de Deus. Em
Hebreus 10:9-10 ele diz: “Então, acrescentou: Eis
aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove
o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade
é que temos sido santificados, mediante a oferta do
corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”. Isso indica
que todas as ofertas do Antigo Testamento foram
removidas e substituídas por Cristo como a única
oferta. Em Hebreus 10:12 e 14 ele diz: “Jesus, porém,
tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício
pelos pecados, assentou-se à destra de Deus (...)
Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para
sempre quantos estão sendo santificados”.
Em Hebreus 13:8 Paulo diz: “Jesus Cristo, ontem
e hoje, é o mesmo e o será para sempre”. Antes de
13:8, Cristo mudou pois passou pela encarnação e
ressurreição. Por meio da encarnação Ele se vestiu da
natureza humana. Isso quer dizer que Ele mudou de
Alguém que só tinha a natureza divina em Alguém
que agora tem tanto a natureza divina como a
humana. Antes era apenas Deus, mas mudou e
tornou-se o Homem-Deus. Ademais, em Sua
ressurreição, Ele, como o último Adão, mudou para
tornar-se Espírito que dá vida (1Co 15:45). Depois
que passou pelo processo de encarnação, viver
humano, crucificação, ressurreição e ascensão, Ele
não mais mudou e não mudará. Assim, Paulo tinha a
ousadia de dizer que Cristo, ontem e hoje, é o mesmo
e o será para sempre.
Em Hebreus 13:13 ele continua: “Saiamos, pois, a
ele, fora do arraial, levando o seu vitupério”. Aqui o
arraial representa a organização humana,
especialmente a do judaísmo. A palavra de Paulo aqui
se baseia no fato de que Cristo foi crucificado fora da
cidade, fora do arraial. Uma vez que Cristo foi
rejeitado e sofreu fora do arraial, devemos sair a Ele
fora do arraial. Quando escreveu essa parte de
Hebreus, Paulo talvez estivesse pensando: “Eu estava
errado em voltar a Jerusalém. Jerusalém era o
arraial. Não havia necessidade de voltar lá a fim de
cuidar do judaísmo, pois isso era voltar ao arraial.
Devemos esquecer Jerusalém e sair do arraial, e levar
o vitupério de Cristo”.
Paulo saiu do arraial e levou o vitupério de
Cristo. Quando viajava de Cesaréia para Roma, ele
estava fora do judaísmo, levando o vitupério como
prisioneiro. Mas, ao levar o vitupério fora do arraial,
ele engrandeceu a Cristo.
Espero que todos despendamos tempo para
meditar nas duas questões abordadas nesta
mensagem: o viver de Paulo como uma maravilhosa
testemunha de Cristo e a cabal revelação divina nos
livros de Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus.
Nesses livros não se deixa nenhuma base para
nenhuma mistura. Nessas Epístolas só há lugar para
Cristo.

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