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ISBN 85-7304-261-3
Impresso no Brasil
FORAM À SINAGOGA
Atos 13:14 diz: “Mas eles, atravessando de Perge
para a Antioquia da Pisídia, indo num sábado à
sinagoga, assentaram-se”. O propósito de os
apóstolos irem à sinagoga no sábado não era guardar
esse dia, e, sim, aproveitar a oportunidade para
pregar o evangelho. Assim como em 13:5, eles não
foram participar da reunião da sinagoga mas
aproveitaram esse ajuntamento para anunciar a
palavra de Deus, como fez o Senhor Jesus em Seu
ministério (Mt 4:23; Lc 4:16).
Aqui em Atos 13 vemos um modelo completo
para seguirmos hoje. Ao ir à sinagoga, Paulo seguia os
passos do Senhor Jesus, que ensinara na sinagoga. Se
em determinada cidade havia uma sinagoga, Paulo ia
lá, não porque fosse judeu, ou pretendesse guardar o
sábado ou aprender a palavra de Deus. Pelo
contrário, ele ia à sinagoga pela oportunidade de falar
o evangelho de Deus. Em toda sinagoga eram
ensinadas as Escrituras Sagradas, e havia bom
número de pessoas, tanto judeus como gentios, que
buscavam a Deus. Portanto Paulo era sábio em ir às
sinagogas.
Em 13:15 vemos que na sinagoga em Antioquia
de Pisídia, foi dada a Paulo a oportunidade de falar:
“Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da
sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes
alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a”.
Literalmente, as palavras gregas traduzidas como se
tendes alguma palavra significam se há em vós
alguma palavra. Quando se levantou para falar,
Paulo se dirigiu aos presentes dizendo: “Varões
israelitas e vós outros que também temeis a Deus” (v.
16). Aqui, os que temem a Deus são gentios que
buscavam a Deus.
A ida de Paulo à sinagoga também está de acordo
com o princípio básico de que o evangelho de Deus
deve ir primeiro aos judeus e então aos gentios (Rm
1:16).
Em João 10 o Senhor Jesus indica que o único
rebanho de ovelhas é composto tanto de judeus como
de gentios. Em João 10:16 Ele diz: “Tenho ainda
outras ovelhas, que não são deste aprisco; a essas
também Me importa conduzir; elas ouvirão a Minha
voz; então haverá um só rebanho, um só Pastor”.
Aqui, as outras ovelhas são os crentes gentios (At
11:18). O único rebanho é a igreja única, o Corpo
único de Cristo (Ef 2:1416; 3:6), gerado pela vida, a
qual é o Senhor infundido em Seus membros por
meio da Sua morte (Jo 10:10-18). Em João 10:16 o
aprisco é o judaísmo, e o rebanho é a igreja. Fora do
aprisco do judaísmo, havia outras ovelhas, os crentes
gentios, que seriam ajuntados para se tomar um só
rebanho com os crentes judeus. Como já mostramos,
esse rebanho único é a igreja.
Alguns hinos foram escritos, nos quais a igreja é
considerada como o aprisco. Esse é um conceito
errado. A igreja não é um aprisco que guarda as
ovelhas, e, sim, um rebanho, isto é, a totalidade das
ovelhas. O aprisco e o rebanho são coisas distintas,
mas a igreja e o rebanho são o mesmo. O judaísmo foi
um aprisco usado por Deus para guardar as ovelhas
temporariamente. O aprisco é um local usado para
guardar as ovelhas no inverno, mau tempo e à noite.
O Antigo Testamento era a “noite”. As ovelhas do
Senhor foram guardadas nesse aprisco até que o dia
raiou com a Sua vinda (Lc 1:78-79). Como o Pastor,
Ele as chamou para fora do aprisco, isto é, para fora
da religião judaica.
Os cristãos hoje consideram as denominações
como' igrejas. Na verdade, são apriscos que guardam
os crentes, que são membros da igreja. Enquanto
cada denominação é um aprisco, a igreja é o rebanho.
Nos tempos antigos, as sinagogas do judaísmo
eram apriscos, e muitas ovelhas de Deus eram
guardadas ali. Quando o Senhor Jesus veio, Ele
chamou os escolhidos de Deus para fora do aprisco do
judaísmo. Paulo O seguiu fazendo o mesmo. Sempre
que chegava numa cidade, ele ia ao aprisco, a
sinagoga daquele lugar, pois sabia que bom número
de ovelhas de Deus eram mantidas ali. Por isso,
quando ele pregava numa sinagoga, várias pessoas
criam. Entre os que creram havia alguns gregos. O
ministério do apóstolo Paulo não era apenas chamar
os escolhidos de Deus para fora da religião judaica,
mas também ganhar crentes gentios. Então, os
crentes judeus e gentios eram ajuntados para formar
a igreja, o único rebanho. Hoje na restauração do
Senhor não estamos edificando um aprisco, mas
cuidando do rebanho de Deus.
O fato de Paulo ir às sinagogas é um aspecto do
modelo retratado em Atos 13. Podemos aprender com
ele a ir aos lugares onde os escolhidos de Deus se
reúnem.
O Unigênito e o Primogênito
Quando alguns ouvem que Cristo nasceu para ser
o Filho de Deus em ressurreição, talvez fiquem
incomodados e digam: “O nosso Senhor não era o
Filho de Deus desde a eternidade?” Sim, desde a
eternidade Ele é o Filho de Deus. Antes do primeiro
nascimento, isto é, antes de nascer de Maria para ser
o Filho do Homem, Ele já era o Filho de Deus. O
Evangelho de João enfatiza que Ele é o Filho de Deus,
e é o Filho de Deus eternamente. Como já era Filho de
Deus antes da encarnação, por que Lhe foi necessário
nascer como Filho de Deus em Sua ressurreição? Se
quisermos responder essa pergunta precisamos
estudar a Bíblia cuidadosamente.
Romanos 8:29 e Hebreus 1:6 falam de Cristo
como o Primogênito. Em Seu segundo nascimento o
Senhor nasceu para ser o Primogênito de Deus.
Segundo o Novo Testamento, Ele é o Filho de Deus
em dois aspectos. Primeiro, era o Unigênito de Deus,
segundo, é agora o Primogênito de Deus. A palavra
unigênito indica que Deus só tem um Filho. João 1:18
e 3:16 fala do Unigênito de Deus. Eternamente
falando, Cristo era o Unigênito de Deus. Esse era o
Seu status eterno. Mas por meio da ressurreição Ele,
como homem, nasceu para ser o Primogênito de
Deus. A palavra primogénito indica que Deus agora
tem muitos filhos (Hb 2:10). Os que cremos em Cristo
somos os muitos filhos de Deus e os muitos irmãos do
Senhor, os muitos irmãos do Primogênito de Deus
(Rm 8:29).
O Cristo Ressurreto
Literalmente as palavras gregas traduzi das como
as coisas santas de Davi, as fiéis são as coisas santas
(grego hósios, plural), as fiéis ou seguras. A mesma
palavra (hósios) é usada para Santo no versículo
seguinte, mas no singular. Mas não é a palavra
geralmente usada para santo, que é hágios. Hásios é
o equivalente grego do hebraico chesed, que é
traduzido como misericórdias em Isaías 55:3; 2
Crônicas 6:42; e no Salmo 89:1, tanto na Septuaginta
como na Versão Revista e Atualizada de João Ferreira
de Almeida. No Salmo 89 chesed no versículo I para
misericórdias no plural é a mesma palavra no
versículo 19 (VRC) para Santo no singular. Esse
Santo é Cristo, o Filho de Davi, no qual as
misericórdias de Deus estão centralizadas e por meio
de quem são transmitidas. Assim, as coisas santas e
fiéis de Davi se referem ao Cristo ressurreto. Isso está
plenamente provado pelo contexto, especialmente
por teu Santo em Atos 13:35 e Isaías 55:3.
O pensamento de Paulo em 13:33-34 é muito
profundo. O Cristo ressurreto, que é o Primogênito de
Deus gerado por meio do Seu segundo nascimento, a
ressurreição, são as coisas santas e fiéis. No versículo
34 a palavra fiéis significa confiáveis. O Cristo
ressurreto é as coisas santas e confiáveis que Deus
nos dá. Aqui Paulo dá a entender que o Cristo
ressurreto não é apenas o nosso Salvador,
trazendo-nos a salvação divina, nem somente o
Primogênito de Deus. Cristo é também as coisas
santas e fiéis como um dom dado a nós por Deus.
É fácil entender que Cristo é nosso Salvador. É
mais difícil entender que Ele é o Primogênito de
Deus. Mas é muito difícil entender que o Cristo
ressurreto é as coisas santas e confiáveis. Muitos de
nós nunca fomos ensinados que o Cristo ressurreto é
as coisas santas e confiáveis dadas a nós por Deus. As
coisas santas e fiéis abrangem um universo de itens,
um universo muito maior que o abrangido pelos
títulos Salvador e Primogênito. A expressão as coisas
santas e fiéis é, na verdade, um título divino, um
título de Cristo. Nesses versículos Ele é chamado de
as coisas santas e confiáveis. O Deus Salvador
levantado da descendência de Davi tomou-se as
coisas santas e confiáveis.
PERDÃO E JUSTIFICAÇÃO
Em 13:38-39 Paulo prossegue: “Tomai, pois,
irmãos, conhecimento de que se vos anuncia
remissão de pecados por intermédio deste; e, por
meio dele, todo o que crê é justificado de todas as
cousas das quais vós não pudestes ser justificados
pela lei de Moisés”. Ser perdoado de pecados (v. 38) é
negativo; visa à libertação da condenação. Ser
justificado (v. 39) é positivo; visa à reconciliação com
Deus e sermos aceitos por Ele.
Tanto no versículo 38 como no 39 Paulo fala
sobre este. Quem é este? Este é o que foi ressuscitado
para ser o Primogênito de Deus, o nosso Salvador e as
muitas coisas santas e confiáveis. Assim, por meio
desse que é as coisas santas e confiáveis como as
misericórdias de Deus para nós, somos perdoados e
justificados. Você alguma vez já ouviu tal evangelho?
Por meio Dele, que é o Primogênito, o Salvador e as
coisas santas e confiáveis, o perdão de pecados nos foi
anunciado. E por meio Dele somos justificados de
todas as coisas das quais não podíamos ser
justificados pela lei de Moisés.
Esse por meio do qual somos perdoados e
justificados não é apenas o nosso Salvador; mas Ele
mesmo é o nosso perdão e justificação. Tanto perdão
como justificação são misericórdias de Deus para nós
e essas misericórdias são aspectos do Cristo
ressurreto. Hoje Cristo em ressurreição é nosso
perdão e justificação. Nunca considere perdão e
justificação como algo à parte de Cristo. Tanto o
perdão como a justificação são aspectos do próprio
Cristo como misericórdias de Deus para nós, e essas
misericórdias são coisas santas e fiéis.
Você não considera perdão e justificação como
dons que Deus nos deu? não crê que são coisas santas
e confiáveis? Por certo, são dons de Deus, e
certamente são coisas santas e confiáveis. Se tivermos
esse entendimento, veremos que perdão e justificação
não são comuns. Mas são santos. Ademais, são fiéis,
garantidos e confiáveis.
Eu aprecio muito a maneira de Paulo pregar a
Cristo em Atos 13. Por meio da sua pregação muitos
foram salvos.
PARA ICÔNIO
Atos 14:1 diz: “Em Icônio, Paulo e Barnabé
entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal
modo, que veio a crer grande multidão, tanto de
judeus como de gregos”. Assim como em 13:5 e 14,
eles não foram à sinagoga para participar da reunião
deles, e, sim, para tirar vantagem desse ajuntamento
e anunciar a palavra da graça de Deus. a versículo 2
continua: “Mas os judeus incrédulos incitaram e
irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos”.
Aqui o vocábulo grego traduzido por ânimos
literalmente significa almas.
FORTALECERAM OS DISCÍPULOS E
DESIGNARAM PRESBÍTEROS EM CADA
IGREJA
Depois que Paulo e Barnabé trouxeram as boas
novas à cidade de Derbe e fizeram um número
considerável de discípulos (vs. 20-21a), “voltaram
para Listra, e Icônio, e Antioquia” (v. 21b). Essa não é
a Antioquia da qual foram enviados a essa viagem
ministerial (13:1); mas é a Antioquia na Pisídia, na
Ásia Menor.
1
O uso da palavra “dispensacional” não se refere a lima era nem à maneira de Deus. relacionar-se com
o povo em certa época, mas nestas mensagens a palavra, “dispensação” denota o arranjo 'divino na
economia eterna de Das. (N.T.)
judaica sobre os crentes gentios.
Afirmar que se alguém não for circuncidado
segundo o costume de Moisés não pode ser salvo é
anular a fé na economia neotestamentária de Deus, e
é uma verdadeira heresia. Desse modo, esses
“indivíduos” que ensinaram os cristãos essa heresia
devem ter sido os que Paulo considerou falsos irmãos
em Gálatas 2:4.
A circuncisão era uma prática exterior herdada
pelos judeus de seus antepassados, iniciando-se com
Abraão (Gn 17:9-14). Essa ordenança fez dos judeus
um povo distinto e separado dos gentios. A
circuncisão tomou-se uma formalidade morta e
tradicional, mera marca na carne sem qualquer
significado espiritual, e também grande obstáculo
para a difusão do evangelho de Deus segundo a Sua
economia neotestamentária (GI2:3-4; 6:12-13; Fp
3:2).
A circuncisão, o guardar o sábado e a dieta
peculiar são as três maiores ordenanças segundo a lei
de Moisés que fazem dos judeus um povo distinto e
separado dos gentios, a quem os judeus consideram
impuros. Todas essas ordenanças bíblicas da
dispensação do Antigo Testamento tornaram-se um
obstáculo para a difusão do evangelho para os gentios
segundo a dispensação neotestamentária de Deus (Cl
2:16). Na economia neotestamentária de Deus, ser
circuncidado é tornar Cristo de nenhum proveito para
os crentes (Gl 5:2).
Atos 15:1 fala do costume de Moisés. Guardar o
costume de Moisés, isto é, praticar as ordenanças
exteriores da lei, não só é anular a graça de Deus e
tornar vã a morte de Cristo (Gl 2:21) como também
levar os crentes, os quais Cristo já libertou, de volta à
escravidão da lei (GI5:1; 2:4).
UM REGISTRO DE COMUNHÃO
Alguns pensam que a conferência em Atos 15 foi
o primeiro concílio da igreja. Esse é um entendimento
errôneo. Aqui não temos um concílio e, sim, uma
reunião de comunhão, com o Espírito Santo a
presidir. Mais tarde foi dito: “Pois pareceu bem ao
Espírito Santo e a nós” (v. 28). Não houve votação,
nem houve autocracia nem democracia. Autocracia e
democracia não devem existir na vida da igreja. Em
vez disso, deve simplesmente haver comunhão no
Espírito. Atos 15 é um registro dessa comunhão.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E DOIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (8)
O TESTEMUNHO DE PEDRO
Tentar a Deus
Em Atos 15:10 Pedro continua: “Agora, pois, por
que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos
discípulos um jugo que nem nossos pais puderam
suportar, nem nós?” Esse é o jugo da lei, que era um
jugo de escravidão (GI5:1). O jugo de escravidão em
Gálatas 5:1 é a escravidão da lei, que torna os que
guardam a lei escravos sob um jugo que os prende.
Exigir que as pessoas guardem a lei de escravidão não
apenas as escraviza, mas também tenta a Deus. Nem
mesmo Deus podia e também não queria fazer o
homem cumprir a lei de letras.
A COMUNHÃO DE TIAGO
Quando Pedro finalizou o seu testemunho, os
que estavam na conferência permaneceram em
silêncio. Então “passaram a ouvir a Barnabé e a
Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus
fizera por meio deles entre os gentios” (v. 12). Depois
disso, temos a comunhão de Tiago (vs. 14-21).
Usou o Antigo Testamento
Em 15:13-14 Tiago disse, depois que todos
ficaram em silêncio: “Irmãos, atentai nas minhas
palavras: expôs Simão como Deus, primeiramente,
visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um
povo para o seu nome”.
Nos versículos 16 e 17 Tiago cita o livro de Amós
para mostrar que as palavras dos profetas concordam
com o fato de Deus tomar dentre os gentios um povo
para o Seu nome: “Cumpridas estas cousas, voltarei e
reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e,
levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei, Para que
os demais homens busquem o Senhor, e também
todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o
meu nome”. O tabernáculo de Davi se refere ao reino
de Israel. Reedificar o tabernáculo de Davi é restaurar
o reino de Israel.
A SOLUÇÃO
Atos 15:22-33 descreve a solução do problema.
Na verdade, essa solução era uma concessão, ou
meio-termo, mas era melhor do que nada.
Os versículos 23 a 29 dão um relato da carta
escrita pelos de Jerusalém e enviada por meio de
Paulo e Barnabé para Antioquia. No versículo 26
é-nos dito que Barnabé e Saulo eram “homens que
têm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo”. Literalmente, o termo grego traduzido como
“vida” significa “alma”. Essa palavra não se refere
apenas à vida deles, mas também ao próprio ser
deles, que tinham entregue pelo nome do Senhor.
Atos 15:30-31 diz: “Os que foram enviados
desceram logo para Antioquia e, tendo reunido a
comunidade, entregaram a epístola. Quando a leram,
sobremaneira se alegraram pelo conforto recebido”.
Por um lado, os crentes em Antioquia se alegraram
porque não era necessário que se circuncidassem. Por
outro, ainda deviam observar certas exigências da lei.
A “raposa” da lei tinha sido enterrada, mas o “rabo”
ainda estava visível. A solução, portanto, na realidade
era uma concessão.
De acordo com o capítulo dezoito de Atos, nem
mesmo Paulo estava totalmente livre da influência
judaica. O versículo 18 diz: “Mas Paulo, havendo
permanecido ali ainda muitos dias, por fim,
despedindo-se dos irmãos, navegou para a Síria,
levando em sua companhia Priscila e Áqüila, depois
de ter raspado a cabeça em Cencréia, porque tomara
voto”. Esse era um voto particular que podia ser feito
em qualquer lugar pelos judeus, para ações de graças,
raspando-se a cabeça, Diferia do voto de nazireado,
que tinha de ser feito em Jerusalém passando-se a
navalha na cabeça. Paulo era judeu e fez o voto, mas
não impôs isso aos gentios. Segundo o princípio do
seu ensinamento com respeito à economia
neotestamentária de Deus, ele deveria ter desistido de
todas as práticas judaicas que pertenciam à
dispensação do Antigo Testamento. Mas ainda fez
esse voto pessoal. É-me difícil crer que Paulo, o autor
de Romanos e Gálatas, ainda tivesse feito esse voto.
Em princípio ele estava errado nessa questão. É claro
que o erro dele não chegava nem perto do erro de
Tiago em Atos 21. Como veremos, o Senhor não
tolerou o fato de Paulo juntar-se aos que tinham feito
voto de nazireu.
O que estamos enfatizando aqui é que a solução
do problema em Atos 15 foi uma concessão. O
problema foi resolvido e a tempestade foi acalmada.
Mas a raiz do veneno não foi cortada, por isso,
aparece novamente no capítulo vinte e um. A mistura
que vemos em Atos 21 já estava presente em Atos 15.
Era uma mistura religiosa, da economia
neotestamentária de Deus com a religião judaica da
velha dispensação. Essa mistura era o resultado da
concessão. Devido a essa concessão, o problema em
atos 15 não foi plenamente resolvido. Contudo, essa
solução parcial foi melhor do que nada.
COMO ENCARAR A ATUAL SITUAÇÃO DE
CONCESSÃO
Em princípio a situação hoje é a mesma que a de
Atos. Há ainda bastante concessão. Assim, estamos
estudando a Bíblia não meramente para aprender
doutrinas, mas também para ser advertidos e
treinados a fim de enfrentar a situação atual.
Em 1964 escrevi alguns hinos sobre Cristo ser o
Espírito. Um dia um amigo meu, que era cooperador,
me disse: “Sim, o Novo Testamento diz que Cristo é o
Espírito. Mas, se ensinarmos isso, os cristãos não irão
aceitar. É melhor que não ensinemos isso”. Eu lhe
disse: “A justificação pela fé foi restaurada por
Martinho Lutero. A Igreja Católica se opôs a ISSO. Se
Lutero tivesse decidido não ensinar a justificação pela
fé porque a Igreja Católica não queria aceitá-la, como
é que poderia ter ocorrido a restauração?”
Alguns que estiveram conosco na restauração do
Senhor tentaram fazer concessões em relação aos
ensinamentos do irmão Nee. Eles sabem o que ele
ensinava, mas por temer o cristianismo tradicional,
não ousam ensinar a mesma coisa. Em vez disso, eles
fizeram concessões. Ao traduzir alguns livros do
irmão Nee, o tradutor até mesmo mudou algumas
palavras para não ser condenado.
Em 1964 fui convidado para falar pela quarta ou
quinta vez para determinado grupo cristão em Dallas.
O meu anfitrião me advertiu dizendo: “Irmão Lee, por
favor, não fale sobre a igreja. As pessoas aqui não
aceitarão o seu ensinamento a esse respeito. Mas nós
lhe damos as boas vindas para ministrar sobre Cristo
como vida. Gostamos disso e somos ajudados por
essas palavras”. Sem dizer nem sim nem não ao seu
pedido, eu disse: “Irmão, uma vez que eu ministre
Cristo como vida, o resultado será a igreja. Como você
pode pedir-me que eu ministre Cristo e esperar que
isso não resulte na igreja?” Prossegui dizendo-lhe que
o meu ministério é um ministério de Cristo, e que o
resultado disso sempre será a igreja.
Fiquei uma semana ministrando para aquele
grupo cristão em Dallas. Não falei sobre a igreja até a
última noite da conferência. A voz em meu espírito já
não suportava mais que me calasse com respeito à
igreja. Não me importei se seria, convidado
novamente ou não. Eu só sabia que tinha de dizer
algo sobre a igreja. Quando pedi aos participantes
que abrissem a Bíblia em Romanos 12, o meu
anfitrião já entendeu que eu pretendia falar do Corpo
de Cristo, a igreja. As pessoas que me haviam
convidado estavam desapontadas. Contudo,
prossegui falando categoricamente com respeito à
igreja, e, por meio dessa mensagem urna pessoa foi
ganha para a restauração do Senhor.
Todos esses casos nos ensinam a tornar cuidado
com as concessões, ou meios-termos. Que todos
aprendamos com o nosso estudo de Atos a encarar a
atual situação de concessões.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E TRÊS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO
E SEUS COMPANHEIROS
(9)
A Responsabilidade de Barnabé
A responsabilidade pelo problema deve ter sido
de Barnabé, pois depois desse incidente ele não mais
aparece no relato divino de Atos do mover do Senhor
na economia neotestamentária de Deus. A razão de
sua falha pode ter sido o seu relacionamento natural
com Marcos, seu primo (Cl 4:10), que os abandonara
na primeira viagem ministerial deles, de forma
negativa (At 13:13). Marcos mais tarde foi restaurado
ao ministério de Paulo (2Tm 4:11; Fm 24), mas
Barnabé não.
Paulo foi bastante rígido em relação a Marcos.
Talvez Marcos os tenha deixado na primeira viagem
ministerial por não ser capaz de agüentar as
dificuldades desse trabalho evangélico. Contudo,
Barnabé, cujo nome significa filho do encorajamento
(4:36-lit.), queria levar Marcos com eles na segunda
viagem. Barnabé, que devia ser alguém muito bom e
paciente, queria dar outra chance a Marcos. Além do
mais, como Marcos e Barnabé eram primos, eles
tinham um relacionamento na carne. Visto que Paulo
estava inflexível em não deixar Marcos ir na segunda
viagem, isso gerou uma acirrada contenda entre
Paulo e Barnabé.
Lições a Aprender
Precisamos aprender da contenda entre Paulo e
Barnabé a respeito de Marcos a não exercitar as
virtudes naturais em relação à obra do Senhor. Talvez
você seja muito bom e paciente, mas quando entra na
obra do Senhor precisa esquecer-se da sua bondade e
paciência naturais e cuidar dos estritos regulamentos
e princípios divinos. Você não deve sacrificar os
princípios divinos em função do seu ser natural. Se
você é naturalmente bom, paciente e tolerante, isso
causará problemas na obra do Senhor. Ao se agarrar a
essas virtudes naturais, você irá sacrificar os
princípios divinos em favor das suas virtudes.
Em 15:35-39 vemos algo até mesmo pior do que
exercitar as virtudes naturais na obra do Senhor, qual
seja, a séria questão de permitir que um
relacionamento carnal penetre sorrateiramente na
obra. Isso é terrível. Barnabé estava errado em
exercitar as virtudes naturais na obra do Senhor, e,
provavelmente também ao permitir que o
relacionamento carnal com Marcos entrasse na obra.
Em 15:35-39 Paulo não era mais jovem; por certo
já tinha tido muita experiência no Senhor.
Certamente deve ter havido alguns princípios básicos
envolvidos com a questão de levar Marcos com eles
na segunda viagem ministerial, e Paulo achava que
não poderia quebrar esses princípios. Por fim,
Barnabé seguiu seu próprio caminho, levando
consigo Marcos. Depois disso, não há mais menção de
Barnabé no registro divino do mover de Deus em Sua
economia neotestamentária. Isso indica que Barnabé
estava errado.
A Flexibilidade de Paulo
No capítulo dezoito de Atos vemos que ele ainda
teve um voto judaico (v. 18), um voto particular que
podia ser feito em qualquer lugar pelos judeus em
ação de graças, raspando-se a cabeça. Ele sabia que
havia judeus em todas as principais cidades da Ásia
Menor e percebeu que ao viajar por essas cidades
para trabalhar entre as pessoas, primeiramente iria
fazer uma obra entre os judeus. Talvez tenha pensado
que seria um grande empecilho para a sua obra
evangélica ter com ele um jovem cooperador
incircunciso. Assim, deve ter sido por causa da sua
obra evangélica que ele circuncidou Timóteo. Ele
deve ter feito isso a fim de levar a cabo a sua obra
onde a atmosfera e o ambiente judaicos ainda eram
prevalecentes. Contudo, quando foi a Jerusalém para
lutar pela verdade e contra a heresia da circuncisão,
ele propositadamente levou Tito consigo, alguém que
não havia sido circuncidado.
Ao estudar Atos 16 e Gálatas 2 ficamos
impressionados com a flexibilidade de Paulo. Quando
foi a Jerusalém para lutar contra a circuncisão, ele
levou consigo um cooperador que não era
circuncidado. Ele deve ter feito isso para mostrar que
era fortemente contra a circuncisão. Como vimos,
Gálatas 2:1-3 estava incluído nos acontecimentos de
Atos 15. Então, logo após a conferência em Atos 15,
quando estava prestes a ir pregar o evangelho na sua
segunda viagem ministerial, ele circuncidou Timóteo
e o levou consigo. Se fôssemos Silas teríamos
perguntado: “Paulo, que você está fazendo? Você é
instável. Primeiro se opõe à circuncisão e agora
circuncida Timóteo”. A favor de Paulo, no entanto,
podemos dizer que ele estava sendo flexível, e não
instável. A circuncisão de Timóteo pode não ter sido
um erro. O que ele escreveu em Gálatas, que nem a
circuncisão nada significa nem a incircuncisão, pode
ser interpretado como se aplicando ao caso de
Timóteo em Atos 16. Podemos entender essas
palavras significando que Paulo abrangeu tanto o
lado da circuncisão como o da incircuncisão.
A Influência da Tradição
Uma vez que a tradição entra nas pessoas, é
muito difícil removê-la. Além disso, é difícil escapar
da influência de uma atmosfera religiosa. Paulo
atuava no mundo gentio, principalmente na
comunidade grega. Mas os judeus residentes nas
cidades da Ásia Menor ainda mantinham a atmosfera
judaica, e era difícil, até para ele, livrar-se dessa
influência.
Será que Paulo em Atos 16 deveria ter
circuncidado Timóteo? Podemos dizer de maneira
justa que, por fim, Deus toma o caminho de não
circuncidar ninguém. O melhor que podemos dizer a
respeito de Paulo ter circuncidado Timóteo é que ele
estava sendo flexível em determinado ambiente.
Um Livro “Dispensacional”2
O livro de Atos está muito relacionado com
“dispensação”. Se não tivermos o discernimento que
advém de conhecer a economia de Deus, a
dispensação de Deus, será muito difícil entender esse
livro. Louvamos o Senhor, porque esse livro está
sendo aberto para nós, e assim podemos ver todos os
tópicos “dispensacionais” cruciais nele contidos. Ver
essas questões nos ajudará em nosso estudo do Novo
Testamento.
3
A maioria das versões em português usa o termo “SENHOR” no Antigo Testamento para o nome
hebraico “Jeová”. (N.T.)
primeira menção, o Espírito Santo relaciona-se à
encarnação e nascimento de Cristo.
Em Atos 16:7 Lucas muda de Espírito Santo para
Espírito de Jesus. Como homem, Jesus primeiro teve
um viver humano e então foi crucificado e
ressuscitou, e ascendeu aos céus e foi feito Senhor e
Cristo. O Espírito de Jesus envolve mais coisas do que
o Espírito Santo. O Espírito Santo só envolve a
encarnação e o nascimento do Senhor Jesus, mas o
Espírito de Jesus envolve a Sua humanidade, viver
humano, morte, ressurreição e ascensão.
Um Lugar de Oração
O versículo 13 diz: “No sábado, saímos da cidade
para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar
de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres
que para ali tinham concorrido”. Aqui a palavra
sábado mostra como o judaísmo e sua influência se
tinham espalhado, chegando até mesmo à Europa.
Esse versículo também fala de um lugar de oração. A
oração do homem dá a Deus a oportunidade para o
Seu mover entre os homens na terra.
Em 16:13 Paulo seguiu o seu princípio de
procurar as pessoas escolhidas por Deus. Em Filipos
ele não foi à sinagoga, e, sim, a um lugar de oração, no
sábado. É bem provável que judeus e prosélitos
gregos que buscavam a Deus se reunissem nesse
lugar. Essa foi a razão de ele ir lá.
A Salvação de Lídia
Atos 16:14 prossegue: “Certa mulher, chamada
Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura,
temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o
coração para atender às coisas que Paulo dizia”. O
Senhor aqui, que abriu o coração de Lídia para
atender à pregação do evangelho, deve ser o Espírito,
que é o próprio Senhor (2Co 3:17). Não sabemos se
Lídia era judia ou uma grega que buscava a Deus,
uma vez que muitas mulheres gregas, especialmente
as de alta posição, buscavam a Deus. A primeira
pessoa ganha pelo Senhor na Europa não foi um
homem, e, sim, uma mulher.
Atos 16:15 diz: “Depois de ser batizada, ela e toda
a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou
fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E nos
constrangeu a isso”. Aqui vemos que o batismo seguiu
logo após crer, como o Senhor ordenou em Marcos
16:16. Lídia, após crer e ser batizada, entrou na
comunhão com o apóstolo e seus cooperadores, a
comunhão do Corpo de Cristo, como evidência da sua
salvação. A convite dela, eles entraram em sua casa e
lá permaneceram. Essa foi a primeira casa que o
Senhor ganhou na Europa por meio do Seu evangelho
e com vistas a ele (v. 40).
O APRISIONAMENTO E A LIBERTAÇÃO
Atos 16:19 diz: “Vendo os seus senhores que se
lhes desfizera a esperança do lucro, agarrando em
Paulo e Silas, os arrastaram para a praça, à presença
das autoridades”. Literalmente o vocábulo grego
traduzido como se desfizera aqui, significa foi
embora. Por certo, os mestres da jovem eram gentios,
e se iraram porque perderam o seu meio de obter
lucro. Eles causaram problemas a Paulo e seus
4
A expressão traduzida como espírito adivinhador literalmente é espírito de Piton, “na Antiguidade,
adivinho que previa o futuro” (Dic. Aurélio). Ver também nota na BJ. (N.T.)
cooperadores, instigando a cidade contra eles. “E,
levando-o aos preteres 5 , disseram: Estes homens,
sendo judeus, perturbam a nossa cidade, propagando
costumes que não podemos receber, nem praticar,
porque somos romanos” (vs. 20-21).
Atos 16:22-24 diz: “Levantou-se a multidão,
unida contra eles, e os pretores, rasgando-lhes as
vestes, mandaram açoitá-los com varas. E, depois de
lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere,
ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a
segurança. Este, recebendo tal ordem, levou-os para o
cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco”.
Literalmente, o termo grego traduzido como tronco
significa madeiro e denota um instrumento de
tortura com buracos para segurar os punhos,
tornozelos e o pescoço. O mesmo termo é usado para
cruz em 5:30; 10:39; Gálatas 3:13; e 1 Pedro 2:24.
Quando os apóstolos foram colocados no cárcere
interior, o Senhor teve uma excelente oportunidade
de vindicar-se como o Senhor dos reis. Atos 16:25-26
diz: “Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e
cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros
de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho
terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão;
abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias
de todos”. Enquanto Paulo e Silas estavam orando e
cantando, o Senhor sacudiu a prisão, e todos os
prisioneiros foram soltos de suas cadeias. Quando o
carcereiro viu as portas da prisão abertas, “puxando
da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos
tivessem fugido” (v. 27). Mas Paulo bradou em alta
voz: “Não te faças nenhum mal, que todos aqui
5
Pretor: magistrado que, na Roma antiga, distribuía a justiça (Dic. Aurélio). (N.T.)
estamos” (v. 28).
6
Relaxando-lhes a prisão, ou lit.: tirando-os para fora. (N.T.)
7
Os Estados Unidos da América. (N.T.)
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E SEIS
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (12)
PARA TESSALÔNICA
Em 16:11-40 temos um relato do surgimento da
igreja em Filipos. Essa igreja foi levantada por meio
de duas pessoas incomuns. A primeira foi “certa
mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira,
vendedora de púrpura” (16:14). A segunda foi um
carcereiro. De acordo com a nossa experiência e
observação, as igrejas freqüentemente são levantadas
por meio de pessoas incomuns como essas.
Depois de permanecer em Filipos, Paulo e seus
cooperadores passaram por Anfípolis e Apolônia e
então “chegaram a Tessalônica, onde havia urna
sinagoga de judeus” (17:1). Tessalônica era outra
cidade importante, situada em um golfo, no meio da
costa da província da Macedônia.
O fato de ele arrazoar na sinagoga com respeito a
Cristo corresponde a ser guiado pelo Espírito Santo e
regido pelo Espírito de Jesus. Ele era tal pessoa.
Como estava debaixo da orientação do Espírito Santo
e do governo do Espírito de Jesus, ele executou uma
obra de apresentar, transmitir e ministrar o Cristo
todo-inclusivo a outros. Ele não ministrava a lei,
genealogias, profecias ou tipos; ministrava o Cristo
vivo e todo-inclusivo. Esse é o significado mais
profundo desse trecho da Palavra. Quando chegamos
a esses versículos de Atos, precisamos ler e estudá-los
dessa forma.
PARA BERÉIA
Atos 17:10 diz: “E logo, durante a noite, os irmãos
enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados,
dirigiram-se à sinagoga dos judeus”. Por que os
irmãos imediatamente enviaram Paulo e Silas para
Beréia? Foi porque os apóstolos corriam perigo de
vida. Se tivessem demorado, ainda que só um pouco,
poderiam ter sido mortos.
Mais uma vez, chegando a Beréia, Paulo e Silas
“dirigiram-se à sinagoga dos judeus”. Como de
costume, a razão de agir assim era agarrar a
oportunidade de pregar o evangelho. Eles eram
ousados, entrando na fortaleza judaica. Isso era
necessário a fim de ganhar os chamados de Deus que
eram guardados no aprisco do judaísmo.
Atos 17:11-12 diz: “Ora, estes de Beréia eram mais
nobres que os de Tessalônica; pois receberam a
palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras
todos os dias para ver se as coisas eram, de fato,
assim. Com isso, muitos deles creram, mulheres
gregas de alta posição e não poucos homens”. Vine diz
que o vocábulo grego traduzido por mais nobres
indica que os de Beréia eram de intenções mais
nobres. F. F. Bruce diz que a palavra significa ser
liberal, livre de preconceitos.
Creio que as pessoas de Beréia não eram
teimosas, e, sim, bastante sábias. Sempre que formos
teimosos não podemos ser nobres. Alguém nobre
sempre é sábio. Os de Beréia eram sábios em receber
a palavra com toda a avidez, examinando as
Escrituras diariamente para ver se essas coisas eram
realmente assim.
Atos 17:13 nos diz que a oposição se expandiu de
Tessalônica para Beréia: “Mas, logo que os judeus de
Tessalônica souberam que a palavra de Deus era
anunciada por Paulo também em Beréia, foram lá
excitar e perturbar o povo”. Parece que esses
opositores se tomaram profissionais, não fazendo
outra coisa além de seguir os apóstolos e se opor à
economia de Deus. Não sabemos quem os contratou
ou patrocinou. Na verdade, foram “contratados” pelo
diabo.
Levado ao Areópago
Os versículos 19-21 dizem: “Então, tomando-o
consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos
saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto
que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas,
queremos saber o que vem a ser isso. Pois todos os de
Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não
cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades”.
O Areópago era a Colina de Marte, o lugar do antigo e
venerável tribunal ateniense, que julgava os
problemas mais solenes da religião. O fato de Paulo
ter sido levado lá indica que a sua pregação era muito
prevalecente e agitou a cidade, tornando-se as
últimas notícias. Como veremos, ele ficou em pé no
meio do Areópago e falou aos atenienses. Na
mensagem seguinte consideraremos o conteúdo das
palavras de Paulo faladas no Areópago.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM QUARENTA E SETE
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (13)
ACENTUADAMENTE RELIGIOSOS EM
IDOLATRIA
Atos 17:22 diz: “Então, Paulo, levantando-se no
meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em
tudo vos vejo acentuadamente religiosos”. A palavra
grega traduzida como acentuadamente religiosos
literalmente significa tementes a demônio, espírito
sobrenatural, assim, entregue à adoração de
demônios, acentuadamente religiosos. A mesma
palavra é usada na forma de substantivo em 25:19
para religião. Os atenienses eram acentuadamente
religiosos, não em relação ao verdadeiro Deus, e, sim,
à adoração a ídolos. Vimos que no versículo 16 o
espírito de Paulo “se revoltava em face da idolatria
dominante na cidade”.
No versículo 23 ele continuou: “Porque,
passando e observando os objetos de vosso culto,
encontrei também um altar no qual está inscrito: AO
DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem
conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio”.
Aqui ele parecia estar dizendo: “Eu anuncio a vocês
Aquele que vocês adoram como o Deus desconhecido.
Ele pode ser desconhecido para vocês, mas é
conhecido para mim”.
O CRIADOR E O PROVEDOR
Nos versículos 24 e 25 Paulo diz: “O Deus que fez
o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do
céu e da terra, não habita em santuários feitos por
mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas,
como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é
quem a todos dá a todos vida, respiração e tudo
mais”. A palavra do apóstolo nesses versículos foi
uma inoculação muito forte, tanto para os epicureus
ateus, que não reconheciam o Criador e a Sua
providência para o mundo, como para os estóicos
panteístas, os quais se submetiam à vontade de
muitos deuses com respeito ao seu destino (ver v. 18).
No versículo 24 ele fala do Deus que fez o mundo e
todas as coisas que nele existem. Essa palavra era
dirigida principalmente aos epicureus, que, sendo
ateus, não criam em Deus. Eles não criam nem no
Criador nem na provisão divina. Por isso,
continuando a falar contra os epicureus, ele disse
também que Deus é o Senhor dos céus e da terra.
Deus era totalmente ignorado pelos epicureus.
Ademais, ele mostrou que o próprio Deus dá vida,
fôlego e tudo mais a todos. Essas são as provisões
divinas. Deus provê todas as coisas a fim de que o
homem viva. Os epicureus não criam no Criador, o
Senhor do céu e da terra que provê todas as
necessidades da vida para os seres humanos.
A pregação de Paulo em Atos 17 é muito boa. Ao
arrazoar com os judeus nas sinagogas ele usou as
Escrituras, mas, ao pregar aos epicureus filosóficos,
ele se referiu à criação.
O que Paulo fez em 17:2 e 17:24-25 é semelhante
ao que ele fez nos capítulos treze e catorze. No
capítulo treze ele usou as Escrituras judaicas como
base para pregar o Cristo ressurreto. Mas, no capítulo
catorze a sua pregação aos ateus baseou-se na criação
de Deus. Contudo, há uma diferença no uso que Paulo
faz da criação ao pregar no capítulo catorze e no
dezessete; a maneira de se expressar nessas duas
ocasiões é um pouco diferente. No capítulo catorze ele
disse aos ateus que o “Deus vivo, que fez o céu, e a
terra, o mar e tudo o que há neles (...) não se deixou
ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem,
dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas,
enchendo o vosso coração de fartura e de alegria”
(14:15, 17). Ali a palavra dele não foi muito filosófica.
Em contraste, a palavra de Paulo para rebater os
falsos ensinamentos dos epicureus no capítulo
dezessete é bastante filosófica. Aqui ele declara que
há um Criador, o Senhor do céu e da terra, que dá
vida, fôlego e todo o necessário para a vida do homem
na terra.
O ESPÍRITO ONIPRESENTE
Conforme o versículo 27, Deus formou as nações,
determinando os tempos previamente estabelecidos e
os limites de sua habitação “para buscarem a Deus se,
porventura, tateando, o possam achar, bem que não
está longe de cada um de nós”. Por ser o Espírito
onipresente, Deus não está longe de cada um de nós.
Isso envolve a Trindade. O Espírito divino é triúno.
Você acha que é apenas o Espírito, e não o Pai e o
Filho também? O Deus que não está longe de nós
certamente é o Espírito onipresente, e é o Deus
Triúno. O Espírito é o Deus completo: o Pai, o Filho e
o Espírito.
GERAÇÃO DE DEUS
No versículo 28 Paulo também diz: “Como
alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele
também somos geração”. Esses poetas provavelmente
eram Arato (cerca de 270 a.C.) e Cleantes (cerca de
300 a.C.), pois ambos disseram as mesmas palavras
em seus poemas a Zeus (Júpiter), a quem
consideravam o Deus supremo. Nos escritos deles,
“dele” se refere a Zeus como o Deus supremo.
De acordo com os poetas a que Paulo se refere no
versículo 28, somos a geração de Deus. O homem é
geração de Deus assim como Adão é considerado filho
de Deus (Lc 3:38). Dizer que Adão é filho de Deus não
significa que tenha nascido de Deus ou possuía a vida
divina. Adão foi criado por Deus (Gn 5:1-2), e Deus
era a sua origem. Baseado nisso, foi considerado filho
de Deus, assim como os poetas ateus consideravam
toda a humanidade como geração de Deus. Eles
foram apenas criados por Deus, não regenerados
Dele. Isso é absoluta e intrinsicamente diferente de os
crentes em Cristo serem filhos de Deus . Os crentes
nasceram, e foram regenerados, de Deus e possuem a
vida e a natureza divina (Jo 1:12-13; 3:16; 2Pe 1:4).
Como Deus é o Criador, a origem, de todos os
homens, Ele é o Pai de todos eles (Ml 2:10) no sentido
natural, e não no sentido espiritual como Pai de todos
os crentes (GI4:6), regenerados por Ele no espírito
(1Pe 1:3; Jo 3:5-6).
O EXEMPLO DE D. L. MOODY
Como você já deve saber, D. L. Moody era
prevalecente na pregação do evangelho. Ele era um
jovem aprendiz na loja de sapatos do seu tio, quando
ganhou encargo de pregar o evangelho. Um dia,
depois de dar uma mensagem de evangelho, ele foi
abordado por uma pessoa culta que estava na
congregação. Essa pessoa lhe disse que ele
freqüentemente usava a gramática de forma errada
ao falar. A resposta de Moody foi mais ou menos
assim: “A sua gramática é correta. V á você e pregue e
vamos ver qual será o resultado. Posso ser pobre na
gramática, mas por meio da minha pregação as
pessoas são salvas”.
O MINISTÉRIO DE APOLO
Um Encargo Quádruplo
Ao ler Atos 18 a 20 vemos que Paulo tinha, no
mínimo, um encargo quádruplo: pela igreja em
Corinto, pela igreja em Éfeso e um ainda mais forte
pela situação em Jerusalém, e também pela igreja em
Roma. Numa mensagem anterior enfatizamos que o
coração dele estava posto em Jerusalém. Ele propôs
em seu espírito ir a Jerusalém e então ver Roma.
Devido ao seu encargo, ele escreveu as duas Epístolas
aos Coríntios e a Epístola aos Romanos. Embora
tivesse um pesado encargo pela obra na região do
Mediterrâneo, ele também tinha bastante encargo
pela situação da igreja em Jerusalém.
Em Atos 20:3 lemos: “Onde se demorou três
meses. Tendo havido uma conspiração por parte dos
judeus contra ele, quando estava para embarcar rumo
à Síria, determinou voltar pela Macedônia”. Paulo
tencionava originalmente ir da Acaia na Grécia para
Jerusalém passando pela Síria (19:21; 1Co 16:3-7).
Por causa da conspiração dos judeus contra ele,
mudou a rota, indo em direção ao norte para a
Macedônia. Dali, retomou a Jerusalém. Ele sabia que
os judeus conspiravam contra ele e que sofreria por
causa disso (At 20:19). Portanto, rogou aos santos em
Roma que orassem por ele acerca da sua volta para
Jerusalém (Rm 15:25-26, 30-31). Essa também deve
ter sido a razão de estar constrangido no espírito para
ir a Jerusalém (At 20:22). Por fim, após voltar para lá,
foi preso pelos judeus (21:27-30), que procuravam
matá-lo (21:31; 23:12-15).
Paulo foi muito cauteloso com respeito aos
judeus que planejavam matá-lo, Quando ficou
sabendo da trama, ele sabiamente mudou de rota.
Com isso podemos ver a difícil situação em que se
encontrava. Embora estivesse nessa situação, ele
ainda tinha encargo de cuidar dos interesses do
Senhor universalmente, não apenas em Corinto e na
Macedônia, mas também em Jerusalém e em Roma.
É muito importante que vejamos o seu encargo
quádruplo por Corinto, Éfeso, Jerusalém e Roma.
TESTIFICOU O ARREPENDIMENTO E A FÉ
Em 20:21 Paulo continua: “Testificando tanto a
judeus como a gregos o arrependimento para com
Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”. Uma vez
mais o verbo testificar é usado. Testificar requer
experiências de ver, participar e desfrutar. É diferente
de mero ensinamento. O fato de ele ter usado esse
termo aqui indica que ele mesmo tinha
experimentado arrependimento para com Deus e fé
no Senhor Jesus. Assim, podia testificar com respeito
ao que havia experimentado. Ele não apenas pregava
e ensinava, mas testificava do que experimentara
quanto ao arrependimento e fé.
A ABRANGÊNCIA DO ENSINAMENTO DE
PAULO
O versículo 25 continua: “Agora, eu sei que todos
vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis
mais o meu rosto”. Esse versículo indica que em Éfeso
ele proclamou o reino de Deus. Vimos que o reino de
Deus é o principal assunto da pregação dos apóstolos
em Atos (1:3; 8:12; 14:22; 19:8; 28:23, 31). Não é um
reino material visível aos olhos humanos, mas o reino
da vida divina.
Em 20:25 ele diz aos presbíteros da igreja em
Éfeso que eles não mais veriam a sua face. Isso indica
que ele percebeu de antemão que seria martirizado.
Em Atos 20:26-27 lemos: “Portanto, eu vos
protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue
de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o
desígnio de Deus”. A expressão grega traduzida por
no dia de hoje é muito enfática. As palavras de Paulo
no versículo 27, sobre jamais deixar de anunciar todo
o desígnio de Deus, indicam que ele levou a cabo uma
grande obra em Éfeso. Aqui temos uma indicação da
abrangência do ensinamento de Paulo aos queridos
irmãos ali.
PASTOREAR O REBANHO
Em Atos 20:28 Paulo fala que os presbíteros
devem pastorear o rebanho. A principal
responsabilidade dos presbíteros como supervisores
não é governar, e, sim, pastorear, tomar conta de
todos os aspectos do rebanho, a igreja de Deus, de
modo temo e todo-inclusivo. Os presbíteros não são
colocados na igreja pelo Espírito Santo como
governantes, e, sim, como pastores. Pastorear o
rebanho de Deus exige sofrimento pelo Corpo de
Cristo como Cristo sofreu (Cl 1:24). Esse pastoreio
com sofrimento será recompensado com a
imarcescível coroa de glória (1Pe 5:4).
De acordo com 1 Pedra 5:1-3, os presbíteros não
são senhores do rebanho, isto é, não devem exercer o
senhorio sobre os governados (Mt 20:25). Entre os
crentes, além de Cristo, não deve haver outro senhor,
todos devem ser servos, até mesmo escravos (Mt
20:26-27; 23:10-11). Os presbíteros na igreja só
podem tomar a liderança (não o senhorio), que todos
os crentes devem honrar e seguir (1Ts 5:12; 1Tm
5:17).
A IGREJA COMPRADA
O HOMEM-DEUS
O Deus que morreu por nós não é o Deus anterior
à encarnação. Antes da encarnação, Ele certamente
não tinha sangue, e não poderia ter morrido por nós.
Foi depois da encarnação, na qual Se mesclou com a
humanidade, que Ele morreu por nós. Por meio da'
encarnação o nosso Deus, o Criador, o Eterno, Jeová,
mesclou-Se ao homem. Como resultado, Ele já não
era apenas Deus; tornou-se um Homem-Deus. Como
tal, Ele certamente tinha sangue e pôde morrer por
nós.
Quando morreu na cruz, o Homem-Deus não
morreu somente como homem, mas também como
Deus. Quem morreu na cruz foi o que foi concebido
de Deus e nasceu com Deus. Por ser um
Homem-Deus, o próprio elemento divino estava Nele,
mesclado com a Sua humanidade.
9
Hino 157 do hinário publicado por esta editora. (N.T.)
Na concepção do Senhor Jesus, o homem-Deus,
a essência divina provinda do Espírito Santo (Mt
1:18-20; Lc 1:35) foi gerada no ventre de Maria. Essa
concepção do Espírito Santo na virgem humana,
realizada tanto com a essência divina como com a
essência humana, foi uma mescla da natureza divina
com a humana e produziu o homem-Deus, que é
tanto o Deus completo como um homem perfeito,
possuindo a natureza divina e a humana
distintamente, sem que uma terceira natureza fosse
produzida. Essa é a Pessoa mui maravilhosa e
excelente de Jesus.
A concepção e nascimento do Senhor Jesus foi a
encarnação de Deus (Jo 1:14), constituída da essência
divina adicionada à essência humana, portanto,
produzindo o Homem-Deus formado de duas
naturezas: divindade e humanidade. Dessa forma,
Deus uniu-Se à humanidade para manifestar-se na
carne (1Tm 3:16) e também ser o Salvador (Lc 2:11),
que morreu e derramou o Seu sangue por nós.
A PRECIOSIDADE DA IGREJA
Vamos ler Atos 20:28 novamente: “Atendei por
vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de
Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”.
Ao exortar os presbíteros da igreja em Éfeso, Paulo
fala do Espírito Santo e do sangue de Deus, a fim de
mostrar o seu sentimento com respeito à preciosidade
da igreja. De acordo com o entendimento dele, a
igreja é totalmente preciosa. Ela está sob os cuidados
do Espírito Santo, e foi comprada por Deus com o
próprio sangue. Assim, ela é um tesouro aos olhos de
Deus. Paulo a valorizava tanto quanto Deus.
Em 20:28 Paulo exortou os presbíteros a
valorizar a igreja, tanto quanto Deus a valoriza e ele a
valorizava. O fato de Deus ter comprado a igreja com
o próprio sangue mostra a preciosidade dela aos Seus
olhos. Tendo pago tão alto preço pela igreja, ela
certamente Lhe é querida. Ademais, ela está sob os
cuidados do Espírito Santo. Segundo a palavra de
Paulo no versículo 28, os presbíteros devem
considerá-la muito preciosa, como um tesouro aos
olhos de Deus. Ao pastoreá-la, os presbíteros devem
ter para com ela o mesmo sentimento que Deus tem.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM CINQÜENTA E CINCO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (21)
LOBOS E PERVERTIDOS
O versículo 29 diz: “Eu sei que, depois da minha
partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não
pouparão o rebanho”. Ele aqui mostra que os lobos
viriam de fora para danificar o rebanho, a igreja de
Deus. No versículo 29, ele não se importava com a
própria vida, mas estava muito preocupado com o
futuro da igreja, que era um tesouro para ele e para
Deus.
No versículo 30 ele prossegue: “E que, dentre vós
mesmos, se levantarão homens falando coisas
pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles”.
Os pervertidos entre os crentes na igreja são sempre
usados pelo diabo, que odeia a igreja, para arrastar as
ovelhas embora, a fim de formar outro “rebanho”.
Em nossos muitos anos de vida da igreja, tivemos
experiências tanto com os lobos como com os
pervertidos. Os lobos vêm de fora da igreja e os
pervertidos se levantam dentro dela.
Quando os pervertidos se levantam na igreja,
podemos pensar que isso mostra que não fomos
cuidadosos em nossa obra e trouxemos sementes que
produziram os pervertidos. Muitos de nós pensariam
assim, ao vê-los surgir. No entanto, é possível que não
tenhamos nada a ver com o aparecimento deles.
Considere a obra de Paulo em Éfeso. A igreja ali foi
levantada, estabelecida e levada adiante pelo
ministério dele por três anos. Por certo, ele fez a sua
obra com muito cuidado. No entanto, ele mesmo
anteviu que alguns se levantariam para falar coisas
pervertidas, a fim de arrastar os irmãos atrás de si
para formar outro “rebanho”.
Uma das parábolas do Senhor em Mateus 13 fala
de semear joio entre o trigo (vs. 24-30, 36-43).
Estudei essa parábola por anos tentando entender de
onde vinha o joio. Há quem diga que as sementes do
joio são trazidas pelo vento. Embora eu não saiba de
onde vem o joio, sei que onde houver trigo, ali
também haverá joio. Isso indica que onde quer que
haja verdadeiros crentes, ali também haverá falsos
crentes. Isso é inevitável. Foi inevitável na obra de
Paulo, e o será em nossa obra hoje.
Depois de trabalhar em Éfeso por três anos,
Paulo advertiu os presbíteros da igreja ali que no
meio deles penetrariam lobos e se levantariam alguns
para falar coisas pervertidas. Vimos isso acontecer
tanto no Oriente como no Ocidente. Não devemos
esperar que haja trigo sem haver joio. É possível que
em uma igreja levantem-se pervertidos. Quando
alguns ouvem isso talvez digam: “Oh! por favor, não
prediga tal coisa. Entre os irmãos da nossa cidade
nunca haverá nenhum pervertido”. No entanto,
precisamos receber a palavra de Paulo. Embora não
soubesse quem seriam, ele predisse que pervertidos
iriam surgir.
De acordo com a palavra de Paulo no versículo
30, o objetivo dos pervertidos é arrastar os discípulos
atrás de si. A intenção deles é arrastar os santos para
formar outro “rebanho”. Temos observado isso
através dos anos. Temos visto que a intenção deles é
separar um grupo de crentes para que sejam os seus
seguidores. Assim, devemos atentar à palavra de
Paulo com respeito a lobos vindo de fora e
pervertidos levantando-se dentro do rebanho.
Edificar os Santos
Em 20:32 vemos a função da palavra da graça de
Deus. Primeiro, ela é capaz de edificar os santos.
Edificar os santos requer crescimento na vida divina,
e para crescer nessa vida é preciso ser suprido com o
elemento divino e aperfeiçoado e equipado com o
conhecimento divino. Tudo isso só pode ser
conseguido pela palavra da abundante graça de Deus,
que é o próprio Deus Triúno, que passou pelos
processos de encarnação, viver humano, crucificação,
ressurreição e ascensão e foi dado aos santos para o
desfrute deles.
Dar-nos Herança
Segundo, a palavra da graça de Deus dá-nos
“herança entre todos os que são santificados”. A
herança divina é o próprio Deus Triúno com tudo o
que Ele tem, fez e fará por Seus redimidos. Esse Deus
Triúno está corporificado no Cristo todo-inclusivo (Cl
2:9), que é a parte que cabe aos santos como sua
herança (Cl 1:12). O Espírito Santo dado aos santos é
o antegozo, o penhor e a garantia dessa herança
divina (Rm 8:23; Ef 1:14), que hoje compartilhamos e
desfrutamos no jubileu neotestamentário de Deus
como antegozo, e iremos compartilhar e desfrutar em
plenitude na era vindoura e pela eternidade (1Pe 1:4).
A nossa herança eterna se relaciona à vida divina,
que recebemos por meio da regeneração e
experimentamos e desfrutamos por toda a vida cristã.
“Essa herança é a posse plena do que foi prometido a
Abraão e a todos os crentes (Gn 12:3; ver Gl 3:6 e
segs.), uma herança, tanto mais elevada do que a que
foi designada para os filhos de Israel na posse de
Canaã, assim como a filiação dos regenerados, que já
receberam a promessa do Espírito pela fé como
penhor da herança deles é mais elevada do que a
filiação de Israel (cf. Gl 3:18-29; 1Co 6:9; Ef 5:5; Hb
9:15)” (Wiesinger, citado por Alford).
Uma herança é uma posse adequada e legal. Não
é a1cançada pela nossa energia, habilidade ou obras.
Pelo contrário, é-nos concedida por alguém de forma
legítima. Nós não trabalhamos por ela; nós a
recebemos.
No dia em que fomos regenerados, recebemos o
direito de partilhar uma herança, que inclui todas as
bênçãos relacionadas à vida eterna. Diariamente
precisamos tomar posse dela e desfrutá-la. Ela é legal,
devida e legítima, pois Cristo morreu para adquiri-la
para nós, pagando o preço do Seu precioso sangue.
Dia a dia podemos participar dela e desfrutá-la. É
nossa hoje e o será pela eternidade.
Segundo o que diz Paulo em 20:32, a herança de
Deus está entre os que foram santificados. Participar
dela exige que sejamos santificados, e isso requer a
palavra da graça de Deus. Em João 17:17 o Senhor
Jesus orou: “Santifica-os na verdade; a Tua palavra é
a verdade”. Ser santificado (Ef 5:26; 1Ts 5:23) é ser
separado do mundo e sua ocupação, para Deus e Seu
propósito, não apenas em posição (Mt 23:17, 19), mas
também em disposição (Rm 6:19, 22). A palavra viva
de Deus opera nos crentes a fim de separá-los de tudo
o que é mundano. Isso é ser santificado na palavra de
Deus como a verdade, a realidade.
A INFLUÊNCIA DO JUDAÍSMO
A DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM
Já ressaltamos que Paulo foi a Jerusalém pela
última vez, não apenas para levar a cabo a sua
preocupação amorosa pela necessidade dos santos
pobres de lá, mas também para ter comunhão com
Tiago e os demais apóstolos e presbíteros em
Jerusalém com respeito à influência judaica sobre a
Igreja ali. A decisão tomada pela conferência dos
apóstolos e presbíteros em Atos 15 para resolver o
problema da circuncisão não lhe era plenamente
satisfatória. Assim, ao ir a Jerusalém, ele pode ter
tido a intenção de limpar a influência judaica sobre a
igreja nessa cidade. Contudo, Deus tinha a Sua
própria maneira de lidar com a situação. Em Sua
soberania Ele permitiu que Paulo fosse agarrado
pelos judeus e aprisionado pelos romanos. Então
permitiu que a terrível mistura da graça com a lei, em
Jerusalém, permanecesse até que a cidade fosse
destruída por Tito com o exército romano em 70 d.C.
Essa mistura foi extinta aproximadamente dez anos
depois dos acontecimentos registrados em Atos 21.
No Evangelho de Mateus o Senhor Jesus
profetizou que Jerusalém seria destruída. Por
exemplo, na parábola de Mateus 21:33-46 com
respeito à transferência do reino de Deus, o Senhor
retratou os líderes dos israelitas como lavradores
maus (vs. 33-35, 38-41), indicando que Deus iria
destruir horrivelmente esses malvados e arrendar a
vinha a outros lavradores, que Lhe entregariam os
frutos nos seus devidos tempos. Essa palavra com
respeito à destruição foi cumprida quando Tito
destruiu Jerusalém. O Senhor também predisse a
destruição de Jerusalém na parábola de Mateus
22:1-14. Em Mateus 22:7 Ele diz: “O rei ficou irado e,
enviando os seus exércitos, destruiu aqueles
assassinos e lhes incendiou a cidade”. Esses
“exércitos” eram os soldados romanos sob comando
de Tito que destruíram Jerusalém.
Em Mateus 23:37-39 vemos o Senhor
abandonando Jerusalém com o templo. Quanto à
destruição vindoura do templo o Senhor disse aos
Seus discípulos: “Não vedes tudo isto? Em verdade
vos digo: De modo nenhum ficará aqui pedra sobre
pedra que não seja derrubada” (Mt 24:2). Isso
também foi cumprido quando Tito destruiu a cidade.
De acordo com a descrição de Josefo, a destruição de
Jerusalém e do templo foi completa e absoluta.
Milhares de judeus foram mortos, talvez também
muitos crentes judeus. Em sua ira Deus não apenas
destruiu a nação rebelde de Israel, como também pôs
fim ao judaísmo e à mistura de judaísmo e
cristianismo. Quando Jerusalém foi destruída, a fonte
do “veneno” que dali fluía também teve fim. Assim, o
Senhor tinha a Sua maneira maravilhosa de lidar com
a situação em Jerusalém.
O DESAPARECIMENT{) DA ECONOMIA DO
ANTIGO TESTAMENTO
Com respeito à transferência de dispensação,
vamos considerar o caso de Pedro. No monte da
transfiguração ele tomou a liderança em propor ao
Senhor construir três tabernáculos, um para Moisés,
um para Elias e um para o Senhor Jesus (Mt 17:4).
“Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os
cobriu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este
é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo; a Ele
ouvi” (v. 5). Quando os discípulos ouviram isso,
caíram com o rosto em terra. Quando levantaram os
olhos, “a ninguém viram, senão só a Jesus” (v. 8).
Moisés e Elias tinham desaparecido e apenas Jesus
permaneceu. Pedro tinha proposto manter Moisés e
Elias, isto é, a lei e os profetas, com Cristo, mas Deus
tirou Moisés e Elias, não deixando ninguém, “senão
só a Jesus”. Ninguém, exceto o próprio Jesus deve
permanecer no Novo Testamento. Ele é o Moisés de
hoje, infundindo a lei da vida nos crentes, e também o
Elias de hoje, falando por Deus e infundindo-O nos
crentes. Essa é a economia neotestamentária de Deus.
Em Mateus 17:1-8 temos uma revelação clara de
que com a vinda de Jesus, tanto Moisés como Elias
passaram. Moisés e Elias representam todo o Antigo
Testamento: Moisés representa a lei, e Elias os
profetas. De acordo com o costume judeu,
considerava-se que o Antigo Testamento tinha duas
partes principais: a lei e os profetas. Até mesmo os
Salmos eram considerados parte da lei. Assim, o fato
de Moisés e Elias terem passado indica que todo o
Antigo Testamento, consistindo na lei e nos profetas,
passou.
Pedro teve a visão no monte da transfiguração, e
mais tarde, na sua segunda Epístola, ele se referiu ao
que acontecera ali (1:16-18). Por que, então, ele não
disse nada a respeito dessa visão quando Tiago
insistia em manter a economia do Antigo Testamento
junto com a do Novo Testamento? Considero isso de
difícil entendimento. Será que em Atos 21 Pedro não
tinha nenhuma lembrança da visão que teve em
Mateus 17 e sobre a qual escreveu mais tarde em 2
Pedro 1?
Pedro certamente sabia do desaparecimento da
economia do Antigo Testamento. No monte da
transfiguração ele deve ter ficado impressionado com
isso. Ele ouviu a voz vinda da nuvem declarar: “Este é
o Meu Filho amado, em quem Me comprazo; a Ele
ouvi” (Mt 17:5). Também havia visto Moisés e Elias
juntamente com Jesus, e então viu que Moisés e Elias
desapareceram e Jesus permaneceu sozinho. Por que,
tendo ouvido essa palavra e tendo tido essa visão,
Pedro se calou em Atos 21? Por que ele não se
levantou e disse: “Irmão Tiago, deixe-me dizer-lhe o
que eu ouvi e vi no monte da transfiguração. Moisés e
Elias, a lei e os profetas, passaram. Não devemos
mais permanecer na economia do Antigo
Testamento, pois isso é contrário ao mover de Deus
em Sua economia neotestamentária”. No entanto,
Pedro se manteve em silêncio e não falou desse jeito
com Tiago em Atos 21. Da mesma forma, não há
indicação de que João, que estava com Pedro no
monte da transfiguração, tenha dito algo a Tiago a
esse respeito na ocasião. Nem Pedro nem João se
levantaram para testificar com respeito à visão que
tiveram e à ordem que receberam no monte da
transfiguração.
A INTOLERÂNCIA, SOBERANIA E
COMPAIXÃO DO SENHOR
Parece que quando Paulo foi a Jerusalém pela
última vez, ele não teve oportunidade de ajudar nas
questões de lá. Antes, a porta estava firmemente
fechada, e ele foi pressionado por Tiago e pelos
presbíteros a entrar numa situação muito difícil. Não
tendo saída, ele aceitou a proposta de ir ao templo
para ser purificado com os quatro homens que
tinham voto de nazireu. Contudo, como vimos, o
Senhor não tolerou isso.
Em 21:23-24 Tiago disse a Paulo: “Estão entre
nós quatro homens que, voluntariamente, aceitaram
voto; toma-os, purifica-te com eles e faze a despesa
necessária para que raspem a cabeça; e saberão todos
que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que,
pelo contrário, andas também, tu mesmo, guardando
a lei”. Vimos que o voto no versículo 23 era o voto do
nazireado (Nm 6:2-5) e ser purificado com os
nazireus era tomar-se nazireu com eles e unir-se a
eles em seu voto.
Em Atos 21:26 lemos: “Então, Paulo, tomando
aqueles homens, no dia seguinte, tendo-se purificado
com eles, entrou no templo, acertando o
cumprimento dos dias da purificação, até que se
fizesse a oferta em favor de cada um deles”. Isso era
muito sério. Um voto do nazireado não era algo
comum; antes, era algo especial, particular e
extraordinário. Ademais, as ofertas relacionadas a
esse voto eram especiais. Por isso, é difícil acreditar
que o apóstolo Paulo iria voltar ao templo, participar
do voto e esperar que os sacerdotes oferecessem
sacrifícios por ele e pelos outros.
Segundo o que Paulo escreveu nas Epístolas aos
Romanos e aos Gálatas, ele não deveria ter voltado ao
templo e certamente não deveria ter participado
desse voto. Não é surpresa, então, que o Senhor não
tenha tolerado essa situação. Paulo talvez quisesse
manter a paz, mas o Senhor permitiu que ocorresse
grande tumulto contra ele.
Era muito sério um apóstolo como Paulo, depois
de escrever as Epístolas aos Romanos e aos Gálatas,
unir-se aos que tinham o voto do nazireado e ir com
eles ao templo para ser purificado e ali permanecer
até que o sacerdote oferecesse os sacrifícios. O Senhor
tolerou o voto particular de Paulo em 18:18, mas não
tolerou o fato de Paulo unir-se aos que tinham voto
do nazireado no capítulo vinte e um.
Na verdade, Paulo não deveria nem ter feito o
voto no capítulo dezoito. Em Gálatas 2:20 ele tinha
declarado que havia sido crucificado com Cristo. Ali
ele parecia estar dizendo: “Eu, o Paulo judeu, fui
crucificado com Cristo. Agora, já não sou eu quem
vive, mas Cristo vive em mim”. Mas, ao fazer um voto
da forma judaica, ele não estava vivendo como
cristão, e, sim, como judeu, pois seguia uma prática
judaica, e não cristã.
Todos os cristãos em Jerusalém eram judeus. Foi
em Antioquia que os crentes foram chamados de
cristãos pela primeira vez (11:26). Será q. ue Paulo se
esquecera do termo cristão quando, em Atos 18,
praticou o judaísmo? Será que um cristão deveria
fazer um voto de ação de graças da maneira judaica?
Caso contrário, então por que Paulo continuava a
praticar algo judaico? Embora o Senhor tivesse
tolerado aquela prática, Ele não teve tolerância com o
que ocorreu em Atos 21, quando Paulo esperava o
momento de os sacerdotes oferecerem os sacrifícios
da completação dos dias da purificação.
A partir de 21:27 vemos a soberania do Senhor de
forma especial. Também vemos a Sua compaixão. Por
um lado Paulo era fiel. Ele estava até disposto a
arriscar a vida pelo nome do Senhor (20:24; 21:13).
Estava pronto “para morrer em Jerusalém pelo nome
do Senhor Jesus” (21:13). Por outro lado, ele ainda
era humano e não conseguiu escapar em Atos 21. O
Senhor não tinha ninguém melhor nem mais fiel do
que ele. Por isso, Ele interferiu primeiro para resgatar
Paulo da mistura em Jerusalém e depois dos judeus
que planejavam matá-lo. Por fim, ele foi colocado sob.
custódia romana, separado dos problemas e
perturbações. Dessa forma o Senhor lhe deu
tranqüilidade para escrever as últimas Epístolas. Em
especial, foi-lhe dada a oportunidade de escrever as
quatro Epístolas cruciais de Hebreus, Efésios,
Filipenses e Colossenses. Vamos agora considerar
brevemente essas quatro Epístolas, que devem ser
colocadas juntas.
Efésios
No livro de Efésios Paulo indica que todos os
crentes, tanto judeus como gentios, precisam de
espírito de sabedoria e de revelação para ver o
chamamento do Senhor, o qual resulta na igreja, o
Corpo de Cristo, a plenitude Daquele que a tudo
enche em todas as coisas (1:17-23). Em Efésios 2 ele
também mostra que todas as ordenanças da lei do
Antigo Testamento foram abolidas por meio da morte
de Cristo na cruz, para que Nele, a partir de judeus e
gentios, fosse criado um novo homem (vs. 14-16). No
capítulo três vemos que as riquezas de Cristo
precisam tomar-se o constituinte da vida da igreja, e
que precisamos que Cristo habite em nosso coração
para que sejamos tomados até a plenitude do Deus
Triúno, a fim de nos tomar a Sua plena expressão (vs.
8, 17-19). No capítulo quatro ele fala de um só Corpo,
um só Espírito, um só Senhor e um só Deus (vs. 4-6).
O Corpo tem o Deus Triúno constituído em si e é
mesclado com Ele para tomar-se o novo homem (v.
24). Depois disso, no capítulo cinco, Paulo indica que
o novo homem deve ser enchido no espírito com o
Deus Triúno a fim de ter uma vida que seja a
expressão do Deus Triúno em Cristo (v. 18).
Finalmente, em Efésios 6 vemos que devemos lutar a
batalha espiritual pelo reino de Deus (v. l1). Esse é um
resumo breve da revelação em Efésios.
Filipenses
Em Filipenses 3:7 Paulo diz: “Mas o que, para
mim, era lucro, isto considerei perda por causa de
Cristo”. Paulo era hebreu de hebreus, quanto à lei,
fariseu (3:5). Todavia, considerava todas as coisas
judaicas, as coisas do Antigo Testamento, como
refugo para ganhar Cristo (3:8). Ele sabia que na
economia neotestamentária de Deus, Cristo deve ser
tudo. Assim, ele buscava Cristo a fim de ter um viver
que fosse achado em Cristo (3:9-14).
Colossenses
De acordo com a revelação de Colossenses, Cristo
é a realidade de todas as coisas positivas. Ele é a
porção que Deus deu aos santos (1:12), a imagem de
Deus (v. 15), o Primogênito de toda a criação (v. 15), o
Primogênito de entre os mortos (v. 18), o mistério de
Deus (2:2), a corporificação da Divindade (2:9), a
nossa festa, lua nova e sábado (2:16-17) e nossa vida
(Cl 3:4). Em Colossenses vemos que Cristo deve ser
tudo para nós. Esse livro também diz claramente que
no novo homem, composto de todos os crentes, não
pode haver grego nem judeu, circuncisão nem
incircuncisão, mas Cristo é tudo e em todos.
Se considerarmos juntos Hebreus, Efésios,
Filipenses e Colossenses, veremos que para alguém
tão iluminado como Paulo, na economia
neotestamentária de Deus não há nada além de
Cristo. Porém, o que ele viu em Jerusalém na sua
última visita ali foi uma mistura. Algo de Cristo
estava misturado com as coisas da economia do
Antigo Testamento.
VOLTAR PARA CRISTO COMO A NOSSA
ÁRVORE DA VIDA, MANÁ E FESTA
Por meio do ministério completivo de Paulo (Cl
1:25Jo Cristo todo-inclusivo é revelado de forma
plena. Nas suas catorze Epístolas, especialmente em
Hebreus, Efésios, Filipenses e Colossenses, Cristo é
revelado como tudo para a igreja e para os santos.
Mas quando o livro de Apocalipse foi escrito essa
visão do Cristo todo-inclusivo tinha sido perdida.
Essa perda está indicada pelas sete epístolas em
Apocalipse 2 e 3. Cristo, a cabeça do Corpo, fez um
chamado aos vencedores, a fim de que vençam a
situação degradada. Os vencedores em Apocalipse
não apenas vencem o pecado, o mundo e a carne; eles
vencem principalmente a situação degradada na qual
a visão clara do Cristo todo-inclusivo foi perdida.
Em Apocalipse 2:7 o Senhor Jesus diz: “Ao
vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da
vida que se encontra no paraíso de Deus”. Em 2:17
Ele ainda diz: “Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná
escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca,
e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual
ninguém conhece, exceto aquele que o recebe”. Além
disso em 3:20 o Senhor diz: “Eis que estou à porta e
bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”.
Nesses versículos vemos a árvore da vida, o maná
escondido e o festejar com o Senhor. Aqui o Senhor
parece estar dizendo: “Você precisa desfrutar-Me e
esquecer as práticas e formas exteriores. Volte
diretamente para Mim como a sua árvore da vida,
maná e festa. Volte-se de todas as misturas e coisas
que Me substituem nas igrejas degradadas, volte para
Mim como o seu tudo”.
O problema da situação degradada hoje é que
muitas coisas estão substituindo o Cristo
todo-inclusivo. Precisamos voltar-nos de todos os
substitutos diretamente para o Cristo todo-inclusivo
como a nossa árvore da vida, maná escondido, festa e
tudo para nós. Precisamos voltar-nos a Ele como
desfrute, não meramente como doutrina. Precisamos
voltar-nos a Ele não apenas conhecendo-O
objetivamente, mas desfrutando-O como árvore da
vida, maná escondido e festa.
Vencer a situação degradada entre os cristãos de
hoje e voltar diretamente ao Cristo desfrutável como
a nossa árvore da vida, maná escondido e festa é ter a
verdadeira transferência. É uma transferência da
velha religião degradada para a restauração
atualizada, a restauração do desfrute do Cristo
todo-inclusivo. Hoje esse Cristo é não apenas o
Espírito que dá vida (1Co 15:45), mas o Espírito sete
vezes intensificado (Ap 5:6).
Precisamos ter uma visão geral para enxergar a
situação degradada de hoje e também entender que a
intenção do Senhor é conduzir-nos de volta para Si
mesmo, para que sejamos plenamente restaurados ao
desfrute Dele. Cada dia devemos saber apenas uma
coisa: desfrutar Cristo como árvore da vida, maná
escondido e festa. Precisamos desfrutá-Lo como
nosso tudo, até mesmo como as nossas vestes brancas
(Ap 3:5) e a pedrinha branca (2:17) para fazer de nós
material para a edificação da eterna habitação de
Deus. A nossa necessidade hoje é experimentar a
transferência da religião degradada para a realidade
do Cristo todo-inclusivo como desfrute.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (26)
A INTERVENÇÃO DO COMANDANTE
ROMANO
Atos 21:31-33 diz: “Procurando eles matá-lo,
chegou ao conhecimento do comandante da força que
toda a Jerusalém estava amotinada. Então, este,
levando logo soldados e centuriões, correu para o
meio do povo. Ao verem chegar o comandante e os
soldados, cessaram de espancar Paulo.
Aproximando-se o comandante, apoderou-se de
Paulo e ordenou que fosse acorrentado com duas
cadeias, perguntando quem era e o que havia feito”.
Esse comandante era um quiliarca, no comando de
mil soldados ou uma coorte. A coorte era uma das dez
divisões da antiga legião romana. Em Sua soberania,
o Senhor usou a intervenção desse comandante
romano a fim de resgatar Paulo dos judeus, que
procuravam matá-lo.
O BATISMO DE PAULO
Em 22:1-21 Paulo defende-se diante dos judeus
revoltosos. Nesta mensagem iremos concentrar-nos
na palavra de Ananias para Paulo no versículo 16: “E
agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o
batismo e lava os teus pecados, invocando o nome
dele”.
No caso de Paulo, assim como no caso do eunuco
etíope, enfatiza-se o batismo em água. Precisamos
dar atenção tanto ao batismo em água como ao
batismo no Espírito. O batismo em água significa a
identificação dos crentes com a morte e ressurreição
de Cristo (Rm 6:3-5; Cl 2:12), e o batismo no Espírito
significa a realidade da união dos crentes com Cristo
em vida essencialmente, e em poder
economicamente. O batismo em água é a afirmação
dos crentes da realidade do Espírito. Ambos são
necessários, e um não substitui o outro. Todos os
crentes em Cristo devem ter os dois adequadamente.
De acordo com a palavra do Senhor em Marcos
16:16, para ser salva, a pessoa precisa crer e ser
batizada. Crer é receber o Senhor (10 1:12), não
apenas para o perdão dos pecados (At 10:43) mas
também para regeneração (1Pe 1:21, 23), a fim de que
os que crêem se tomem filhos de Deus (10 1:12-13) e
membros de Cristo (Ef 5:30) numa união orgânica
com o Deus Triúno (Mt 28:19). Ser batizado é afirmar
isso sendo sepultado para pôr fim à velha criação por
meio da morte de Cristo e sendo levantado para ser a
nova criação de Deus por meio da ressurreição de
Cristo. Esse batismo é muito mais avançado do que o
batismo de arrependimento de João (Mc 1:4; At
19:3-5).
Crer e ser batizado são duas partes de um passo
completo para receber a plena salvação de Deus. Ser
batizado sem crer é meramente um ritual vazio; crer
sem ser batizado é ser salvo apenas interiormente
sem afirmação exterior da salvação interior. Os dois
devem andar juntos.
UM QUADRO DE HIPOCRISIA E
CORRUPÇÃO
Nesses capítulos de Atos temos um quadro da
hipocrisia da religião e corrupção na política. Que
hipocrisia havia no judaísmo! Os judeus fingiam
servir a Deus, agradá-Lo e glorificá-Lo, no entanto
faziam muitas coisas malignas. Esses capítulos
expõem as coisas malignas do povo judeu. Eram
religiosos de maneira maligna, até mesmo planejando
matar Paulo. Embora fossem malignos, ainda fingiam
adorar a Deus e agradá-Lo. Portanto, no judaísmo
havia hipocrisia.
Na política romana vemos corrupção e injustiça.
Félix sabia que Paulo nada tinha feito de errado,
assim, por justiça deveria tê-lo libertado. Contudo,
para ganhar o favor dos judeus e com a esperança de
ganhar dinheiro de Paulo e seus amigos, ele o
conservou detido por dois anos. Na mensagem
seguinte iremos considerar o que Paulo pode ter feito
nesses anos.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SESSENTA E QUATRO
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (30)
PAULO EM CESARÉIA
Conforme Atos 24:27, o Senhor separou um
período de dois anos no qual Paulo ficou detido em
Cesaréia. Nesses anos ele deve ter pensado sobre o
que acontecera em Atos 15 e 21.
Em Atos 21 vimos a fraqueza de Paulo ao
enfrentar a mistura religiosa em Jerusalém. Embora
tivessem estado com o Senhor no monte da
transfiguração, Pedro e João permaneceram calados
em Atos 21, com respeito à economia
neotestamentária de Deus. Como vimos, Tiago falou a
favor dos crentes judeus que ainda eram zelosos da lei
(21:20). Será que Tiago não tinha luz a respeito da
economia neotestamentária de Deus? Parece que ele
era muito fraco em seu entendimento disso. Embora
Pedro e João tivessem sido iluminados com respeito à
economia neotestamentária de Deus, eles nada
fizeram a respeito da mistura da graça do Novo
Testamento com a lei do Antigo Testamento em
Jerusalém. Parece que Paulo era o único que tinha
encargo pela situação.
Ao considerar a cena retratada nesses capítulos
de Atos, vemos que a figura central, na verdade, era o
próprio Senhor. Ele foi a figura central nesses
capítulos, como alguém soberano sobre todas as
coisas. Por fim, Ele livrou Paulo da difícil situação em
Jerusalém, preservando a sua vida dos judeus
revoltosos, e colocando-o sob custódia do governo
romano em Cesaréia. Embora estivesse detido, Paulo,
na verdade, não estava na prisão. Félix “mandou ao
centurião que conservasse a Paulo detido, tratando-o
com indulgência e não impedindo que os seus
próprios o servissem” (24:23). Como indica 24:26, o
objetivo de Félix em permitir que os amigos de Paulo
o visitassem era conseguir dinheiro para si. Porém o
Senhor tinha o Seu próprio propósito em manter
Paulo sob custódia em Cesaréia. Ali ele não tinha o
que fazer, e foi guardado seguramente de problemas.
OS RELIGIOSOS JUDEUS
Vamos primeiro considerar o retrato dos
religiosos judeus. O judaísmo foi formado de acordo
com a Palavra de Deus. Assim, a religião judaica era
de acordo com as Escrituras. Os religiosos judeus
tinham a Bíblia santa, a terra santa, a cidade santa, o
templo santo, o sacerdócio santo e todos os demais
itens santos. No entanto, o que esses religiosos
fizeram, como registra o livro de Atos, foi
absolutamente de Satanás, e não de Deus.
Atos 25:1-3 diz: “Tendo, pois, Festa assumido o
governo da província, três dias depois, subiu de
Cesaréia para Jerusalém; e, logo, os principais
sacerdotes e os maiorais dos judeus lhe apresentaram
queixa contra Paulo e lhe solicitavam, pedindo como
favor, em detrimento de Paulo, que o mandasse vir a
Jerusalém, armando eles cilada para o matarem na
estrada”. Aqui vemos que os religiosos judeus
queriam armar uma cilada a fim de matar Paulo.
Ademais, eles mentiram e foram hipócritas. Neles
não havia nada de santo nem de justo. Nada havia
neles de que se pudesse dizer que era por Deus. Nessa
religião não conseguimos ver nada de espiritual ou
divino, pelo contrário, o que era praticado pelos
religiosos judeus no caso de Paulo não apenas era
carnal e pecaminoso como também diabólico e
infernal. A origem do que fizeram era o diabo.
OS POLÍTICOS ROMANOS
Em Atos também temos um retrato dos políticos
romanos. Em especial, temos um relato a respeito do
comandante, de Félix, de Festo e de Agripa. Quanto
mais elevados eram os políticos romanos, mais
corruptos eram. Félix era mais corrupto que o
comandante, Festo era mais corrupto que Félix, e
Agripa era mais corrupto que Festo. De acordo com o
registro da Bíblia, no círculo político romano havia
muita corrupção. Como já comentamos, juntamente
com a religião judaica e a cultura grega, a política
romana era um dos três pilares da cultura ocidental.
Mas, conforme Atos, a política romana era corrupta.
Atos 24:24 fala de Félix e Drusila, sua mulher.
Drusila era filha do rei Herodes Agripa. Félix
enamorou-se dela, persuadiu-a a deixar o marido e se
casar com ele. Isso mostra a intemperança e a
corrupção de Félix, um político romano. A sua
corrupção também é vista no fato de ele sempre
chamar Paulo na esperança de obter dinheiro
(24:26).
Em Atos 25:13 lemos sobre Agripa e Berenice.
Berenice era irmã de Drusila, esposa de Félix.
Também era irmã de Agripa, com quem vivia
incestuosamente. Talvez essa seja a razão de Berenice
não ser identificada como mulher de Agripa em 25:13.
A política romana certamente era trevosa e corrupta,
cheia de imoralidade sexual e do amor ao dinheiro. O
registro de Atos expõe a corrupção dos políticos
romanos.
A Destruição de Jerusalém
Devido à forte atitude e posicionamento tomados
por Pedro, João e os demais crentes, os judeus
perseguiram os santos a tal ponto que, com exceção
dos apóstolos, todos deixaram Jerusalém (8:1). Mas
quando Paulo fez a sua última visita àquela cidade em
Atos 21, Tiago podia falar de “quantas dezenas de
milhares há entre os judeus que creram, e todos são
zelosos da lei” (v. 20). Esses milhares de crentes
tinham permanecido ali. Se Pedro e João tivessem
tido a atitude e posição enérgica no capítulo vinte e
um como nos capítulos dois a cinco, a maioria desses
crentes judeus teriam sido espalhados, e isso teria
sido a salvação deles, quanto à mistura religiosa de
Jerusalém. No entanto, esses milhares de crentes,
ainda zelosos da lei, permaneceram em Jerusalém, e
isso os colocou em grande perigo. Pouco depois da
última visita de Paulo ali, talvez em menos de dez
anos, Tito e o exército romano destruíram Jerusalém
e mataram os que ali moravam. Provavelmente
muitos cristãos foram mortos nessa ocasião.
Nas parábolas de Mateus 21:33-46 e 22:1-14 o
Senhor Jesus expressou a ira de Deus com respeito à
situação em Jerusalém. Ele disse que Deus, “o senhor
da vinha”, destruiria horrivelmente os maus
lavradores. Isso se cumpriu quando Tito, o general
romano, e o seu exército destruíram Jerusalém em 70
cf. e. Em Mateus 22:7 o Senhor profetizou que Deus
enviaria “os seus exércitos”, as tropas romanas
lideradas por Tito, e destruiria a cidade de Jerusalém.
Essa destruição deve ter incluído a igreja ali. Devido à
atitude transigente de Tiago e a fraqueza de Pedro, a
igreja em Jerusalém pode ter sido destruída
juntamente com a cidade. No entanto, a situação da
igreja teria sido diferente se Pedro e João tivessem
sido tão ousados em Atos 21 como foram no início. Se
tivessem continuado a ser enérgicos e ousados, os
santos teriam sido dispersos ou perseguidos até a
morte pelos religiosos judeus.
O Martírio de Tiago
Segundo a história, o Tiago de Atos 21 foi
martirizado nas mãos dos opositores judeus. Os
líderes do Sinédrio pensavam que ele fosse muito
favorável ao judaísmo. Convocaram uma reunião e
pediram que ele lhes falasse, pensando que falaria
positivamente sobre o judaísmo. Tiago, no entanto,
foi fiel em pregar a Cristo de maneira enfática. Os
líderes do Sinédrio se ofenderam e o mataram. Eles
tinham recebido uma impressão errônea dele, pois
tantos judeus crentes em Jerusalém eram zelosos da
lei. Isso pode tê-los feito pensar que ele fosse a favor
do judaísmo.
No registro em Atos 21, vemos que Tiago chegou
ao ponto de forçar Paulo a cair na “armadilha” de
uma situação extremamente difícil. Como
ressaltamos, o Senhor não tolerou essa situação
transigente em Jerusalém.
ABOLIR AS ORDENANÇAS
Em Efésios 2:14-16 Paulo diz: “Porque ele é a
nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado
a parede da separação que estava no meio, a
inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças, para que dos
dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo
a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com
Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a
inimizade”. Aqui vemos que na cruz Cristo aboliu
todas as ordenanças. Sem dúvida, isso inclui as que
dizem respeito à circuncisão, à dieta e ao sábado.
Embora Cristo tenha abolido essas ordenanças,
Tiago ainda as promovia em Atos 21. Por certo, as
ordenanças abolidas por Cristo na cruz incluem o
voto do nazireado. Você não crê que quando Cristo
aboliu as ordenanças ele incluiu as relativas aos
votos? Se tivermos a compreensão adequada de
Efésios 2 e Atos 21, veremos que o que Tiago fez em
Atos 21 foi contrário ao que Cristo realizou na cruz.
Cristo aboliu as ordenanças, mas Tiago as manteve e
as promoveu.
Podemos dizer que a questão de abolir as
ordenanças é um aspecto negativo da revelação em
Efésios. Do lado positivo temos a palavra de Paulo
com respeito às insondáveis riquezas de Cristo: “A
mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta
graça de pregar aos gentios o evangelho das
insondáveis riquezas de Cristo” (3:8). Por hora, no
entanto, enfatizaremos que em Efésios Paulo diz
claramente que na cruz Cristo aboliu todas as
ordenanças judaicas do Antigo Testamento.
O NOVO HOMEM
Em Colossenses 3:10 e 11 Paulo fala do novo
homem: “E vos revestistes do novo homem que se
refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou; no qual não pode haver grego
nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro,
cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”.
Aqui vemos que no novo homem só há lugar para
Cristo. No versículo 11 “todos” se refere a todos os
membros que compõem o novo homem. Cristo é
todos os membros do novo homem e está em todos
eles. Ele é tudo no novo homem. Que tremenda
revelação é essa! De acordo com a palavra de Paulo
em Colossenses 3:10-11, já não há a mínima base para
o judaísmo.
A OFERTA ÚNICA
O livro de Hebreus revela que Cristo é tudo. Ele é
tanto Deus como homem, e é superior a Moisés,
Josué e Arão. Como nosso Sumo Sacerdote, Ele, como
a única oferta, substituiu todas as ofertas do Antigo
Testamento. Ele é a única oferta com a qual Deus se
importa, da qual todas as ofertas do Antigo
Testamento eram apenas prefigurações. Agora que
Cristo veio, todas as outras ofertas deveriam ter fim, e
de fato foram substituídas e tiveram fim. A respeito
disso Hebreus 10:14 diz: “Porque, com uma única
oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo
santificados”. E o versículo 18 prossegue: “Ora, onde
há remissão destes, já não há oferta pelo pecado”.
Ademais, a velha aliança foi substituída pela nova
aliança. Assim, as coisas do Antigo Testamento
acabaram.
Eu gostaria que você comparasse a revelação em
Efésios, Filipenses, Colossenses e Hebreus com a
palavra de Tiago em Atos 21. Em 21:20, Tiago disse a
Paulo: “Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares
há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da
lei”. Depois, Tiago ainda pediu a Paulo que pagasse as
despesas de quatro homens que aceitaram o voto do
nazireado: “Estão entre nós quatro homens que,
voluntariamente, aceitaram voto; toma-os, purifica-te
com eles e faze a despesa necessária para que raspem
a cabeça; e saberão todos que não é verdade o que se
diz a teu respeito; e que, pelo contrário, andas
também, tu mesmo, guardando a lei” (vs. 23-24). Que
contraste há entre a palavra de Tiago e a revelação de
Paulo com respeito à economia neotestamentária de
Deus! Essa comparação deve capacitar-nos a ter uma
visão clara da situação de Paulo nesses capítulos de
Atos.
A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO
Nos versículos 6 a 8 Paulo falou da ressurreição:
“E, agora, estou sendo julgado por causa da esperança
da promessa que por Deus foi feita a nossos pais, a
qual as nossas doze tribos, servindo a Deus
fervorosamente de noite e de dia, almejam alcançar; é
no tocante a esta esperança, ó rei, que eu sou acusado
pelos judeus. Por que se julga incrível entre vós que
Deus ressuscite os mortos?” No versículo 6 o termo
grego traduzido “por causa” literalmente significa
“sobre”, “com base em”. Nesses versículos ele indica
que, em contraste com os saduceus, ele sempre creu
na ressurreição. A ressurreição era ensinada no
Antigo Testamento, especialmente em Daniel 12. É
algo que requer a nossa cuidadosa consideração.
Na Bíblia ressurreição implica o juízo vindouro, e
juízo implica escatologia. A ressurreição, portanto,
está relacionada com nosso futuro eterno, se seremos
felizes na eternidade ou sofreremos a perdição. O
futuro eterno de alguém depende do juízo, e o juízo
requer a ressurreição. Daí vemos que a ressurreição é
importante nas Escrituras, pois tem a ver com o
nosso destino eterno. Mesmo antes de se converter,
Paulo, como fariseu, cria na ressurreição.
O Senhor Jesus falou claramente a respeito da
ressurreição em João 5:28-29: “Não vos maravilheis
disso, porque vem a hora em que todos os que se
acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão: os que
tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os
que ti verem praticado o mal, para a ressurreição do
juízo”. Vimos que a ressurreição da vida é a
ressurreição dos crentes salvos, que ocorrerá antes do
milênio (Ap 20:4, 6; 1Co 15:23, 52; 1Ts 4:16). Os
crentes mortos ressuscitarão para desfrutar a vida
eterna na volta do Senhor Jesus. A ressurreição do
juízo, que ocorrerá depois do milênio, é a ressurreição
dos incrédulos (Ap 20:5, 12). Todos os incrédulos
mortos serão ressuscitados depois dos mil anos para
ser julgados no grande trono branco (Ap 20:1115).
Mesmo antes de ter sido salvo, Paulo cria na
ressurreição da vida e na do juízo, como ensina
Daniel12:2.
A APARIÇÃO DO SENHOR
Paulo então prosseguiu dizendo a Agripa que
enquanto estava a caminho para perseguir os que
invocavam o nome do Senhor Jesus, ele mesmo foi
ganho pelo Senhor: “Com estes intuitos, parti para
Damasco, levando autorização dos principais
sacerdotes e por eles comissionado. Ao meio-dia, ó
rei, indo eu caminho fora, vi uma luz no céu, mais
resplandecente que o sol, que brilhou ao redor de
mim e dos que iam comigo. E, caindo todos nós por
terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica:
Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa é
reca1citrares contra os aguilhões. Então, eu
perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor
respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (vs.
12-15). Já ressaltamos que esse “me” é corporativo,
englobando Jesus, o Senhor, e todos os crentes.
Também já vimos que Paulo espontaneamente
chamou Jesus de Senhor, mesmo sem conhecê-Lo.
A Herança Divina
ALIADO A DEUS
Em 26:21-22 Paulo continua: “Por causa disto,
alguns judeus me prenderam, estando eu no templo,
e tentaram matar-me. Mas, alcançando socorro de
Deus, permaneço até ao dia de hoje, dando
testemunho, tanto a pequenos como a grandes, nada
dizendo, senão o que os profetas e Moisés disseram
haver de acontecer”. O termo grego traduzido por
socorro no versículo 22 também significa assistência.
A raiz desse termo grego significa aliança. Isso
implica que o apóstolo estava aliado a Deus e a
assistência divina nessa aliança era real para ele.
O JULGAMENTO DE AGRIPA
Atos 26:30-32 diz: “A essa altura, levantou-se o
rei, e também o governador, e Berenice, bem como os
que estavam assentados com eles; e, havendo-se
retirado, falavam uns com os outros, dizendo: Este
homem nada tem feito passível de morte ou de prisão.
Então, Agripa se dirigiu a Festo e disse: Este homem
bem podia ser solto, se não tivesse apelado para
César”. Aqui vemos que, na opinião de Agripa, Paulo
poderia ter sido solto se não tivesse apelado a César.
No entanto, sem esse apelo, o apóstolo poderia ter
sido morto pelos judeus devido à maneira injusta pela
qual Festo lidava com ele (25:9), e assim a sua vida
poderia não ter sido preservada até aquele dia. Se
Paulo não tivesse apelado para César, poderia não ter
tido a oportunidade de escrever as cruciais Epístolas
de Efésios, Colossenses, Filipenses e Hebreus.
Na seção de Atos 21:27-26:32, uma longa
narração da perseguição final e máxima dos judeus ao
apóstolo, as verdadeiras características de todas as
partes envolvidas foram manifestadas. Primeiro,
vemos as trevas, cegueira, ódio e hipocrisia da
religião judaica. Segundo, vemos a injustiça e
corrupção dos políticos romanos. Terceiro, vemos a
transparência, brilho, fidelidade e coragem do
apóstolo. Por fim, há o cuidado encorajador do
Senhor por Sua testemunha e a Sua soberania sobre
toda a situação para levar a cabo o Seu propósito
divino.
ESTUDO-VIDA DE ATOS
MENSAGEM SETENTA
A PROPAGAÇÃO NA ÁSIA MENOR E EUROPA POR
MEIO DO MINISTÉRIO DE PAULO E SEUS
COMPANHEIROS (36)
O ATAQUE DE SATANÁS
O primeiro dos pontos transmitidos na longa
narrativa que Lucas fez da viagem de Paulo é o ataque
de Satanás ao apóstolo. Satanás o atacava
constantemente dos bastidores. Essa é a razão de a
viagem ter sido difícil, com muitos sofrimentos, e ter
demorado tanto. O tempo, especialmente, estava
muito ruim. Atos 27:4 diz: “Partindo dali, navegamos
sob a proteção de Chipre, por serem contrários os
ventos”. Mais tarde, embarcados num navio de
Alexandria, navegaram vagarosamente muitos dias e
chegaram com dificuldade defronte de Cnido (v. 7).
Então, com dificuldade, chegaram a certo lugar
chamado Bons Portos. Por fim, depois que se fizeram
ao mar novamente, “desencadeou-se, do lado da ilha,
um tufão de vento, chamado Euroaquilão” (v. 14).
Satanás estava por trás dessas dificuldades, atacando
o apóstolo.
O VIVER DE PAULO
O quadro nesses capítulos de Atos também nos
mostra a vida, o comportamento e o caráter de Paulo.
Vemos a ascendência que ele tinha nessa situação.
Também vemos a sabedoria e dignidade da sua vida
humana. Sem dúvida, a sua vida era viver Cristo e
engrandecê-Lo.
Se lermos esse trecho cuidadosamente, veremos
que Paulo vivia do modo que aspirava viver em
Filipenses 3, onde diz que buscava Cristo a fim de ser
achado Nele (vs. 9, 12). Quando leio Atos 27-28, eu o
encontro em Cristo. Numa viagem dura e difícil, ele
viveu em ascendência e dignidade, e cheio de
sabedoria. Embora fosse prisioneiro, ele se portava
como rei. Ademais, tinha percepção e sabedoria para
lidar com as questões.
Sem dúvida, o Senhor estava com ele. Por um
lado, ele era prisioneiro, um dentre duzentos e
setenta e seis passageiros. Por outro, era o centro da
situação, seja no navio, seja na ilha onde passaram o
inverno depois que o navio foi destruído. Em todas as
circunstâncias ele vivia em ascendência.