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Impresso no Brasil
pela Copiadora Árvore da Vida
ESTUDO-VIDA DE 1 JOÃO
MENSAGEM 1
UMA PALAVRA A RESPEITO DOS ESCRITOS DE JOÃO
(1)
COMPLEMENTAÇÃO DE TODA A
REVELAÇÃO DIVINA
Os escritos de João não são apenas
suplementares, mas também complementares a toda
a revelação divina. Isso significa que os escritos de
João completam a Bíblia. O seu Evangelho completa
os Evangelhos, as suas Epístolas completam as
Epístolas e o seu Apocalipse completa a Bíblia inteira.
Se percebermos a importância dos escritos de João,
certamente agradeceremos ao Senhor por eles.
Louvado seja o Senhor pelo Evangelho, pelas
Epístolas e pelo Apocalipse de João!
A Unção
A Primeira Epístola de João 2:27 diz: “Quanto a
vós outros, a unção que dele recebestes permanece
em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos
ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito
de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa,
permanecei nele, como também ela vos ensinou.”
Nesse versículo, João diz que a unção do Senhor nos
ensina todas as coisas, e, assim como ela nos tem
ensinado, devemos permanecer Nele. O ensino da
unção é totalmente diferente do conhecimento dos
grandes mestres humanos, inclusive o que é chamado
de o mais elevado ensinamento de Confúcio. Que
todos possamos ter a percepção plena do fato de que a
divina unção dentro de nós está-nos ensinando todo o
tempo, e que simplesmente precisamos permanecer
no Senhor segundo a unção.
TODO-INCLUSIVOS CONCERNENTE À
PESSOA DE CRISTO
Em Seu Evangelho
O ponto central dos escritos de João são os
mistérios da vida divina. Em seu Evangelho, o ponto
central é o mistério da manifestação da vida divina na
Pessoa de Jesus. A vida é invisível; entretanto,
segundo o Evangelho de João, a vida divina foi
manifestada solidamente, materialmente, na Pessoa
de Jesus. Isso é um mistério.
Em Suas Epístolas
Nas Epístolas de João, principalmente na
primeira, o ponto central é o mistério da comunhão
da vida divina manifestada entre os crentes com Deus
e de uns com os outros. Essa comunhão é misteriosa.
Embora sejamos de diferentes raças, cores e
nacionalidades, nós desfrutamos a única comunhão
na vida Divina manifestada. Temos entre nós uma
unidade maravilhosa. Este é o mistério da comunhão
da vida divina.
Em Sua Revelação
O Suprimento de Vida para os Filhos de Deus
No livro de Apocalipse, o foco está em Cristo
sendo o suprimento de vida para os filhos de Deus
para a Sua expressão, e o centro da administração
universal do Deus Triúno. No capítulo dois de
Apocalipse vemos que podemos comer de Cristo
como a árvore da vida no paraíso de Deus e também
como o maná escondido (vs. 7, 17). Além disso, em
Apocalipse 3:20 vemos que podemos cear com Ele. A
árvore da vida, o maná escondido e o festejar com o
Senhor, tudo indica que Cristo é o nosso suprimento
de vida. Entretanto, muitos cristãos não percebem
que Cristo é a nossa árvore da vida, o nosso maná
escondido e a nossa ceia. Nós, porém, temos visto
essa revelação. Temos visto no livro de Apocalipse
que Cristo é o nosso suprimento de vida e podemos
alimentar-nos Dele como o maná escondido e como a
árvore da vida, e podemos desfrutá-Lo como nossa
ceia.
O propósito de desfrutar Cristo como o nosso
suprimento de vida é que podemos ser um candeeiro
resplandecendo-O Nós, nas igrejas, somos um
candeeiro constituído do suprimento de vida do
Senhor Jesus como a árvore da vida, o maná
escondido e a ceia. Isso é misterioso e faz com que
sejamos misteriosos.
O COMER E O DESFRUTE
Os escritos de João não são primordialmente
para estudo e compreensão; são principalmente para
o desfrute dos filhos de Deus. Quando você vai a uma
festa, não é seu objetivo estudar os diversos pratos de
comida. Estudar nessa hora iria impedi-lo do desfrute
de comer. Do mesmo modo, devemos achegar-nos
aos escritos de João — ao seu Evangelho, Epístolas e
Apocalipse — considerando-os como pratos de uma
ceia espiritual. Quando alguns ouvem isso, podem
imaginar como podemos dizer que os escritos de João
são — uma ceia. A resposta é que nenhum outro
escrito na Bíblia dá ênfase à questão de comer tanto
como os de João. É claro, Paulo fala sobre o comer
espiritual, mas não fala sobre isso tanto quanto João.
Um capítulo no Evangelho de João, o seis, é quase
inteiramente dedicado ao comer. Lá o Senhor Jesus
diz: “Eu sou o pão da vida” (vs. 35, 48). Depois Ele
prossegue dizendo que é o pão vivo e que se alguém
comer desse pão vi verá para sempre (v. 51); que, a
menos que comamos a carne do Filho do homem e
bebamos do Seu sangue, não teremos vida em nós
mesmos (v. 53); que aquele que come Sua carne e
bebe Seu sangue tem a vida eterna (v. 54) e
permanece Nele (v. 56); e aquele que Dele come
também por Ele viverá (v. 57), porque quem “come
desse pão viverá para sempre” (v. 58). Sem dúvida, o
comer é fortemente enfatizado no capítulo seis do
Evangelho de João. Comer o Senhor como o pão da
vida é desfrutá-Lo.
João também tem muito a dizer a respeito de
comer, no livro de Apocalipse. Em Apocalipse 2:7, o
Senhor Jesus diz: “Ao vencedor dar-lhe-ei que se
alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso
de Deus.” Comer da árvore da vida é desfrutar Cristo
como nosso suprimento de vida. Era intenção original
de Deus que o homem comesse da árvore da vida (Gn
2:9, 16). Entretanto, devido à queda do homem, a
árvore da vida foi-lhe fechada (Gn 3:22-24).
Mediante a redenção de Cristo, o caminho para tocar
a árvore da vida, que é o próprio Deus em Cristo
como vida para o homem, foi aberto outra vez (Hb
10:19-20).
Em Apocalipse 2:17, o Senhor Jesus diz: “Ao
vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido”. O maná é
um tipo de Cristo como o pão celestial capacitando o
povo de Deus a trilhar o Seu caminho. Os filhos de
Israel comeram do maná durante os seus anos no
deserto (Êx 16:14-16, 31). Participar do maná
escondido certamente é desfrutar de Cristo
comendo-O.
Apocalipse 3:20 diz: “Eis que estou à porta, e
bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo.”
Neste versículo, “cear” significa fazer a principal
refeição do dia ao anoitecer. O Senhor aqui promete
cear com aquele que Lhe abre a porta. Cear não é
meramente comer certos tipos de comida, mas
desfrutar as riquezas de uma refeição. Esse cear pode
referir-se ao comer do rico produto da boa terra de
Canaã pelos filhos de Israel (Js 5:10-12).
Esses versículos do livro de Apocalipse indicam
que o Senhor deseja restaurar o comer do povo de
Deus da comida adequada, conforme foi ordenado
por Deus e tipificado pela árvore da vida, o maná e o
produto da boa terra, todos os quais são tipos dos
vários aspectos de Cristo como alimento para nós. Em
seus escritos, João claramente dá ênfase ao rico
desfrute de Cristo, por banqueteá-Lo.
João também fala sobre comer no último
capítulo de Apocalipse. Apocalipse 22:1 e 2a diz:
“Então me mostrou o rio da água da vida, brilhante
como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro.
No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio,
está a árvore da vida”. A árvore da vida é para o povo
de Deus receber e desfrutar. Na eternidade, todos os
redimidos de Deus desfrutarão de Cristo como a
árvore da vida como sua eterna porção. Segundo
esses versículos, a árvore da vida é o suprimento de
vida disponível juntamente com o fluir do Espírito
como a água da vida. Onde o Espírito flui, aí o
suprimento de vida de Cristo é encontrado.
Em Apocalipse 22:14 temos uma promessa
acerca do desfrute da árvore da vida:
“Bem-aventurados aqueles que lavam as suas
vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes
assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade
pelas portas.” Este versículo pode ser considerado
como uma promessa relacionada ao desfrute da
árvore da vida, que é Cristo com todas as riquezas da
vida. Mediante a redenção de Cristo, a qual
preencheu todos os requisitos da glória, santidade e
justiça de Deus, o caminho para a árvore da vida está
aberto aos crentes. Por isso, aqueles que lavam suas
vestes no sangue redentor de Cristo têm o direito de
desfrutar a árvore da vida como sua porção.
Todas essas citações do Evangelho e Apocalipse
de João mostram a importância do comer nos
escritos de João. Isso também indica que seus
escritos são misteriosos, muito além da nossa
compreensão natural.
Os escritos de João podem ser comparados a
uma ceia chinesa com muitos pratos. Nossa
capacidade mental ficaria esgotada, se fôssemos
estudar todos os pratos de tal ceia e seus ingredientes.
Você vai a uma ceia não para estudar, mas para
desfrutar a comida, comendo-a. O princípio é o
mesmo com os escritos de João. É-nos impossível
dizer quantos “pratos” são encontrados nesses
escritos. Precisamos nos achegar aos escritos de João
para nutrição, isto é, para comer e digerir a comida
espiritual que eles contêm.
A PALAVRA DA VIDA
Normalmente, antes de saborearmos o prato
principal num jantar, é-nos servido uma entrada. Na
Primeira Epístola de João 1, o apóstolo João também
nos dá uma “entrada”. Essa entrada é a Palavra da
vida. Sem dúvida, a intenção de João é servir-nos a
vida divina, entretanto, a fim de estimular o nosso
apetite, ele nos serve a Palavra da vida como uma
entrada espiritual. Essa é a Palavra mencionada em
João 1:1-4 e 14, a qual estava com Deus e era Deus na
eternidade antes da criação, que se tornou carne no
tempo e em quem está a vida. Essa Palavra transmite
a vida eterna e é a Pessoa divina de Cristo como um
relato, uma definição e uma expressão de tudo o que
Deus é. Nele está a vida e Ele é vida (Jo 11:25; 14:6). A
frase “a Palavra da vida” no grego indica que a
Palavra é vida. A Pessoa é a vida divina, a vida eterna,
a qual podemos tocar. A “Palavra” mencionada aqui
indica que a Epístola é uma continuação e
desenvolvimento do Evangelho de João (ver Jo 1:1-2,
14).
Se pudéssemos perguntar ao apóstolo João sobre
a Palavra (Verbo) em 1:1, ele provavelmente
citar-nos-ia o seu Evangelho. João 1:1 e 4 diz que no
princípio era a Palavra, que a Palavra estava com
Deus e era Deus, que nessa Palavra estava a vida e a
vida era a luz dos homens. Além disso, de acordo com
João 1:14, a Palavra se tornou carne e tabernaculou
entre nós, cheia de graça e de verdade, e tendo a
glória como de um unigênito de um pai. Em todos
esses versículos temos uma definição da Palavra. A
Palavra é o próprio Deus. Nessa Palavra há vida, e a
vida é a luz de que precisamos. Depois, esse
Maravilhoso Deus, a Palavra, tornou-se carne. Isso
significa que Ele tornou-se homem. Como homem,
Ele tabernaculou entre nós. Na verdade, Ele era o
tabernáculo. Além disso, esse tabernáculo toma-se
uma mútua habitação, na qual tanto Deus como nós
podemos habitar. Aqui, no tabernáculo, desfrutamos
graça, recebemos a realidade e vemos a glória. Essa é
a Palavra da vida mencionada em 1:1.
Já ressaltamos que a expressão “a Palavra da
vida” na verdade indica que a Palavra é vida. Essa
Palavra, que é a vida eterna, tornou-se homem. Como
homem, Ele é o lugar de mútua habitação tanto para
Deus como para o homem. Nesse lugar de habitação,
podemos desfrutá-Lo como graça, recebê-Lo como
nossa realidade e contemplar a Sua glória. Essa
glória, que é a glória de Deus, agora se tornou a glória
do Filho unigênito de Deus. Novamente digo, essa
Palavra é vida, e essa vida é a expressão de Deus. Isso
significa que a Palavra de vida é a expressão de Deus.
LIVROS DE MISTÉRIOS
Os escritos de João são livros de mistérios. Nessa
Epístola, a vida, isto é, a vida divina, a vida eterna, a
vida de Deus dispensada para dentro dos crentes em
Cristo e habitando neles, é o primeiro mistério (1:2;
2:25; 3:15; 5:11, 13, 20). Resultando desse mistério há
um outro: o mistério da comunhão da vida divina
(1:3-7). Depois disso, há o mistério da unção do Deus
Triúno (2:20, 27). Então temos o mistério de habitar
no Senhor (2:2728; 3:6, 24). o quinto é o mistério do
nascimento divino (2:29; 3:9; 4:7; 5:1, 4, 18). O sexto
é a semente divina (3:9). E o último é a água, o sangue
e o Espírito (5:6-12).
Indestrutível
A vida eterna é uma vida indestrutível (Hb 7:16),
Nada consegue destruí-la ou decompô-la. É uma vida
sem fim, sendo a vida eterna, divina, incriada, e a vida
de ressurreição que passou pelo teste da morte e
Hades (At 2:24; Ap 1:18). Satanás e seus seguidores
pensaram que haviam posto fim a ela mediante a
crucificação. Os líderes religiosos tiveram um
conceito semelhante. Entretanto, a crucificação deu a
essa vida a melhor oportunidade de ser multiplicada,
propagada. Porquanto essa vida é ilimitada, ela
jamais poderá ser venci da, subjugada ou destruída.
A Vida de Deus
A vida eterna é a vida de Deus (Ef4:18; 2Pe 1:3).
Podemos dizer que esta vida é na verdade o próprio
Deus com o conteúdo do amor divino e da luz divina.
E essa vida é proveniente do Espírito de Deus (Rm
8:2), principalmente quando ela se toma a nossa vida
para o nosso desfrute.
O Filho de Deus
A vida eterna é também o Filho de Deus. Essa
vida não é simplesmente um assunto ou uma coisa;
essa vida é uma Pessoa. A vida divina é o próprio
Deus expresso em Seu Filho. A Primeira Epístola de
João 5:12 diz: “Aquele que tem o Filho tem a vida.”
Em nossa experiência sabemos que a vida eterna é o
próprio Filho de Deus.
A COMUNHÃO DO ESPÍRITO
A comunhão da vida divina ou o fluir da vida
divina é a comunhão do Espírito. A Segunda Epístola
aos Coríntios 13:13 diz: “A graça do Senhor Jesus
Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito
Santo sejam com todos vós.” Vemos aqui que o amor
de Deus é a fonte, a graça de Cristo é o curso e a
comunhão do Espírito é o fluir do curso. É esse fluir
que nos traz a graça de Cristo e o amor de Deus para o
nosso desfrute. Portanto, a comunhão da vida divina
é chamada de comunhão do Espírito Santo.
UM CICLO
Em 1:1-7, vemos um ciclo em nossa vida
espiritual formado de quatro coisas cruciais: a vida
eterna, a comunhão da vida eterna, a luz divina e o
sangue de Jesus, o Filho de Deus. A vida eterna
resulta na comunhão da vida divina, a comunhão da
vida eterna introduz a luz divina e a luz divina
aumenta a necessidade do sangue de Jesus, o Filho de
Deus, afim de que possamos ter mais vida eterna.
Quanto mais temos da vida eterna, mais da sua
comunhão ela nos traz. Quanto mais desfrutamos da
comunhão da vida divina, mais luz divina recebemos.
Quanto mais recebemos da luz divina, mais
participamos do purificar do sangue de Jesus. Tal
ciclo leva-nos avante no crescimento da vida divina
até atingirmos a sua maturidade.
A LUZ DIVINA
Em 1:5, João diz: “Ora, a mensagem que da parte
dele temos ouvido e vos anunciamos, é esta: que Deus
é luz, e não há nele treva nenhuma.” No versículo 7,
ele acrescenta uma palavra a respeito da luz:” Se,
porém, andarmos na luz, como ele está na luz,
mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue
de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.”
Como já dissemos, a luz Divina é a natureza, a
essência da expressão de Deus e a fonte da verdade
divina. Essa luz divina brilha na vida divina.
Portanto, se não ti vermos a vida Divina, não
poderemos ter a luz Divina.
João 1:4 diz: “A vida estava nele, e a vida era a luz
dos homens.” Em Cristo há a vida divina e essa vida é
a luz divina. Portanto, vida é luz. Quando temos a
vida divina, temos também a luz divina.
Com isso podemos ver que três pontos estão
relacionados entre si: luz, verdade e vida. Primeiro,
precisamos aprender a experimentar esses pontos,
depois aprender como apresentar a verdade deles aos
outros.
A VERDADE DIVINA
O Significado da Verdade
Em 1:6, João fala a respeito da verdade divina:
“Se dissermos que mantemos comunhão com ele, e
andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a
verdade.” Que é a verdade? É difícil defini-la.
Podemos pensar que a verdade, como neste versículo,
refere-se à doutrina correta e sã. A palavra para
verdade na língua chinesa significa doutrina genuína.
Muitos têm uma compreensão semelhante da palavra
inglesa “verdade” e consideram que, pelo menos
como é encontrada na Bíblia, ela significa doutrina
correta.
Em nosso aprendizado diário, podemos ter uma
compreensão um pouco diferente da verdade e
considerá-la como significando algo que é verdadeiro,
opondo-se a algo falso. Por exemplo, falamos em
contar uma história verdadeira.
Se quisermos compreender o significado da
verdade na Bíblia, precisamos ir além do seu sentido
comum e tradicional. O ponto de vista tradicional
acerca da verdade na Bíblia, como sendo uma
doutrina correta, não é acurado, e o significado
comum da palavra não deveria ser aplicado à palavra
verdade quando fosse encontrada na Bíblia.
A palavra grega para verdade é aletheia.
Estudando essa palavra, consultei muitos léxicos e
concordâncias. Fui ajudado especialmente pelo artigo
sobre verdade no Dicionário Teológico do Novo
Testamento, de Kittel. Além disso, levei também em
consideração todos os versículos no Novo Testamento
que usam a palavra aletheia ou uma palavra
relacionada. Depois de estudar esses versículos no
respectivo contexto e depois de consultar os léxicos e
concordâncias, cheguei a certas conclusões acerca do
significado de verdade no Novo Testamento, e essas
conclusões estão resumidas na longa nota a respeito
da verdade em 1:6, impressa na Versão Restauração
das Epístolas de João. Nesta mensagem vamos
considerar somente a primeira parte dessa nota.
A palavra grega aletheia significa verdade ou
realidade (contrapondo-se a vaidade), veracidade,
veridicidade, autenticidade, sinceridade. É uma
terminologia muito pessoal de João, e é uma das
palavras profundas no Novo Testamento. Essa
palavra refere-se a todas as realidades da economia
divina, como o conteúdo da revelação divina, que
estão contidas na Santa Palavra e são por ela
transmitidas e desvendadas.
Deus
De acordo com o Novo Testamento, a verdade
primeiramente é Deus, que é luz e amor, que se
encarnou para ser a realidade das coisas divinas —
incluindo a vida, a natureza, o poder, a glória divinos
para ser nossa posse, a fim de podermos desfrutá-Lo
como graça, como é revelado no Evangelho de João
(Jo 1:1, 4, 14-17).
Cristo
Em segundo lugar, a verdade no Novo
Testamento denota Cristo, que é Deus encarnado e
em quem habita corporalmente toda a plenitude da
Divindade (Cl 2:9), para ser a realidade de: a) Deus e
o homem (Jo 1:18, 51; 1 Tm2:5); b) todos os tipos,
figuras e sombras do Velho Testamento (CI2:16-17;
J04:2324); c) todas as coisas divinas e espirituais,
tais como a vida divina e a ressurreição (Jo 11:25;
14:6), a luz divina (Jo 8:12; 9:5), 0 caminho divino
(Jo 14:6), a sabedoria, a justiça, a santificação, a
redenção (1Co 1:30). Portanto, Cristo é a realidade
(Jo 14:6; Ef 4:21).
O Espírito
Em terceiro lugar, a verdade é o Espírito, que é
Cristo transfigurado (1Co 15:45b; 2C03:17), a
realidade de Cristo (Jo 14:16-17; 15:26) e da revelação
divina (Jo 16:13-15). Por conseguinte, o Espírito é a
realidade (1Jo 5:6).
Agora podemos ver que verdade, aletheia, no
Novo Testamento refere-se a Deus. A verdade é Deus
como a luz e o amor Divinos, encarnado para ser a
real idade de todas as coisas Divinas para nossa
posse, de modo que possamos desfrutar Deus como
graça. Isso significa que o próprio Deus é a verdade, a
realidade das coisas divinas para nossa posse. Por
isso, precisamos possuir Deus como a realidade e
depois desfrutá-Lo como graça. Assim, a realidade
divina é na verdade o próprio Deus. Ele é a realidade
de todas as coisas divinas.
Verdade no Novo Testamento também denota
Cristo como Deus encarnado. Cristo é Aquele em
quem toda a plenitude da Divindade habita
corporalmente. Como a corporificação da plenitude
da Divindade, Cristo, que é Deus encarnado, é a
realidade de Deus e o homem, a realidade de todos os
tipos, figuras e sombras do Velho Testamento, e a
realidade de todas as coisas divinas e espirituais.
Que é verdade? Que é realidade? Realidade é
Cristo como Deus encarnado. Realidade é Cristo
como Aquele em quem toda a plenitude da Divindade
habita corporalmente para ser a realidade de Deus,
do homem, dos tipos, das figuras e sombras, e de
todas as coisas divinas e espirituais. No Velho
Testamento temos muitos tipos, figuras e sombras.
Cristo é a realidade de tudo isso. Na Bíblia também
lemos sobre muitas coisas Divinas e espirituais, tais
como vida, luz, sabedoria e justiça. O próprio Cristo é
a realidade de todas essas coisas. Portanto, ao lermos
a palavra “verdade” ou “realidade” no Novo
Testamento, precisamos perceber que,
primeiramente, ela se refere a Deus e também a
Cristo.
Já mostramos que no Novo Testamento a
verdade denota o Espírito, que é Cristo transfigurado
e também a realidade de Cristo e da revelação divina.
Por esse motivo, em 5:6 João diz: “E o Espírito é o
que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.”
Certamente é de grande valia estudarmos por
completo o significado de verdade no Novo
Testamento. Nesta mensagem já mostramos de
maneira bastante resumida que a verdade, a
realidade, é Deus, Cristo e o Espírito. Na mensagem
seguinte prosseguiremos considerando outros
aspectos da verdade de acordo com a Palavra de
Deus.
ESTUDO-VIDA DE 1 JOÃO
MENSAGEM 10
A LUZ DIVINA E A VERDADE DIVINA (2)
A PALAVRA DE DEUS
Tendo visto que verdade é o Deus Triúno,
podemos prosseguir, mostrando que verdade
também é a Palavra de Deus como a revelação divina,
que não somente revela, mas também transmite a
realidade de Deus e Cristo e de todas as coisas divinas
e espirituais. Assim, a Palavra de Deus também é
realidade (Jo 17:17).
A Palavra é a explicação do Deus Triúno. Isso
significa que o quarto aspecto daquilo que é a
verdade, a Palavra, é de fato a explicação dos três
primeiros aspectos da verdade: o Pai, o Filho e o
Espírito. Portanto, a realidade é Deus Pai, Deus Filho
e Deus Espírito, e também a Palavra divina.
O CONTEÚDO DA FÉ
De acordo com o Novo Testamento, verdade é
também o conteúdo da fé (crença), que são os
elementos substanciais do que cremos como a
realidade do evangelho pleno (Ef 1:13; Cll:5). Isso é
revelado no Novo Testamento inteiro (2 C04:2; 13:8;
015:7; 1 Tm2:4, 7b; 3:15; 4:3; 6:5; 2Tm 2:15, 18, 25;
3:7, 8; 4:4; Tt 1:1, 14; 2Ts 2:10, 12; Hb 10:26; Tg 5:19;
1Pe 1:22; 2Pe 1:12).
O conteúdo da Palavra de Deus é também o
conteúdo da nossa fé cristã. Isso é a fé objetiva, a
nossa crença. A Palavra é a revelação e explicação da
Trindade, e essa Palavra tem conteúdo. Em resumo,
esse conteúdo é o conteúdo do Novo Testamento e
também o conteúdo de nossa fé cristã. Por isso, o
conteúdo do Novo Testamento e da nossa fé cristã é
também a verdade, a realidade. Isso significa que no
Novo Testamento, a realidade refere-se ao conteúdo
da nossa fé e ao conteúdo de todo o Novo
Testamento.
PRATICAR A VERDADE
Aqui em 1 João 1:6, aletheia denota a realidade
de Deus revelada em seu aspecto de luz divina. Ela é o
resultado e a percepção da luz Divina no versículo 5.
A luz divina tem a fonte em Deus. A verdade é o
resultado e a percepção dela em nós. Quando
habitamos na luz divina, a qual desfrutamos na
comunhão da vida divina, praticamos a verdade —
aquilo que percebemos na luz divina. Quando
habitamos na fonte, seu fluir torna-se nossa prática.
Creio que daqui a algum tempo, talvez outros3
dez anos, a verdade na restauração do Senhor será
muito prevalecente. Não nos preocupamos com
números. Mas se vários milhares de santos pudessem
ser treinados com a verdade, a verdade prevalecente
realizaria muito pelo propósito do Senhor.
A FIDELIDADE DE DEUS
Em Romanos 3:7 Paulo fala de um aspecto
diferente da verdade: “E, se por causa da minha
mentira fica em relevo a verdade de Deus para a sua
glória, por que sou eu ainda condenado como
pecador?” Neste versículo a verdade refere-se à
fidelidade de Deus. É diferente, obviamente, do
significado de verdade em 1:18, onde ela demonstra a
característica de Deus como é revelada pelas coisas
visíveis no universo. Mas em Romanos 3:7 temos
outra questão com relação a Deus: a fidelidade de
Deus.
Como podemos provar que a verdade em
Romanos 3:7 denota a fidelidade de Deus? Isso pode
ser feito estudando-se o contexto. Os versículos 3 e 4
dizem: “E daí? Se alguns não creram, a incredulidade
deles virá desfazer a fidelidade de Deus? De maneira
nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo
homem, segundo está escrito: Para seres justificado
nas tuas palavras, e venhas a vencer quando fores
julgado.” Repare que no versículo 3 a palavra
“fidelidade” é usada. Depois, no versículo 4 temos o
adjetivo “verdadeiro”. O versículo 4 indica que Deus é
verdadeiro, fiel, naquilo que Ele diz; isto é, Deus é fiel
nas Suas palavras. Nos versículos 5 e 6 Paulo
continua: “Mas, se a nossa injustiça traz a lume a
justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus
injusto por aplicar a sua ira? (Falo como homem.)
Certo que não. Do contrário, como julgará Deus o
mundo?” Estes versículos também estão relacionados
à fidelidade de Deus. Em seguida, no versículo 7,
Paulo prossegue falando sobre a verdade de Deus. De
acordo com o contexto, portanto, aqui a verdade
significa a fidelidade de Deus. Em vez de dizer “a
verdade de Deus”, Paulo podia ter dito “a fidelidade
de Deus”, uma vez que aqui a verdade equivale à
fidelidade. Essa é a razão de interpretarmos a palavra
verdade em Romanos 3:7 denotando a fidelidade de
Deus.
Romanos 15:8 diz: “Digo, pois, que Cristo foi
constituído ministro da circuncisão, em prol da
verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas
aos nossos pais.” Neste versículo, verdade também
significa a fidelidade de Deus. Se não entendermos a
palavra verdade desse versículo como referindo-se à
fidelidade de Deus, não seremos capazes de
compreendê-lo. Cristo tomou-se um ministro da
circuncisão, em prol da verdade de Deus, para
confirmar as promessas. Isso significa que Cristo se
tornou um ministro da circuncisão, em prol da
fidelidade de Deus, para confirmar as promessas.
Paulo, aqui, indica que tudo o que Deus prometeu,
Ele cumprirá. Deus cumpre Suas promessas porque
Ele é fiel. Uma vez mais, vemos que a verdade em
Romanos 3:7 e 15:8 refere-se a uma virtude particular
de Deus — a fidelidade de Deus.
FILHINHOS
Em2:1 João diz: “Filhinhos meus, estas coisas
vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém
pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o
justo”. Ao fazer uso da expressão “filhinhos meus”,
João estava se dirigindo a todos os crentes, a despeito
da idade. A palavra grega traduzida para “filhinhos” é
teknia, plural de teknion, filhinho, diminutivo de
teknon, filho, palavra comumente usada pelos mais
idosos ao se dirigirem aos mais jovens. “É um termo
de afeição paterna. Ele se aplica aos cristãos sem
considerar o nível de crescimento. Usado nos
versículos 12, 28; 3:7, 18; 4:4; 5:21; Jo 13:33; 014:19”
(Darby). O idoso apóstolo considerava a todos os que
recebiam sua epístola como seus queridos filhinhos
no Senhor. Nos versículos 13-27, ele os classificou em
três grupos: filhinhos, jovens e pais. Portanto, os
versículos 1-12 e 28-29 dirigem-se a todos; os
versículos 13-27 dirigem-se aos três grupos,
respectivamente, de acordo com o crescimento deles
na vida divina.
A INTENÇÃO DE JOÃO
Em 2:1 João diz aos filhinhos que ele escreve
“estas coisas” a eles. Isso se refere às coisas
mencionadas em 1:5-10 sobre os filhos de Deus
cometerem pecado, filhos esses que são os crentes
regenerados, que têm a vida divina e que participam
da sua comunhão (1:1-4).
João diz aos destinatários de sua epístola que
está-lhes escrevendo para que “não pequem”. Essa
palavra e as palavras “se, todavia, alguém pecar” na
sentença seguinte, indicam que os crentes
regenerados ainda podem pecar. Embora possuam a
vida Divina, é possível que venham a pecar se não
viverem por meio da vida Divina e não
permanecerem na sua comunhão. No grego, a palavra
“pecar” neste trecho é um subjuntivo *aoristo e
significa uma ação única, não uma ação habitual.
Nas palavras “para que não pequeis” vemos a
intenção de João ao escrever sobre o pecado, sobre a
confissão de pecados, e sobre receber perdão e
purificação de Deus. A intenção de João, o seu
propósito, era de que não pecássemos. Como ele
mostra no capítulo um, se pecarmos, nossa
comunhão com o Pai será interrompida. Se
quisermos manter essa comunhão, precisamos
guardar-nos de pecar. Esse é o motivo principal de
João ter escrito o capítulo 1 de sua epístola.
No capítulo 1, João mostra-nos que recebemos a
vida divina e essa vida nos introduziu na comunhão
divina. Na comunhão divina recebemos luz, e agora
devemos andar na luz, assim como Deus está na luz
(1:5, 7). No entanto, precisamos perceber que ainda
temos o problema do pecado que habita em nós, e
com relação a esse pecado precisamos estar alertas.
Mesmo depois da nossa regeneração, o pecado que
entrou na raça humana por meio
*N. do R.: (Do grego Aóristos, “indefinido”).
Tempo da conjugação grega que indica haver a ação
ocorrida em época passada, sem determinar, porém,
se está inteiramente realizada no instante em que se
fala. (N. D. A. da Língua Portuguesa). de Adão
permanece em nossa carne. Embora nosso espírito
tenha sido regenerado, a vida de Deus tenha sido
dispensada para dentro do nosso espírito, e o Espírito
de Deus habite em nosso espírito, contudo, o pecado
continua habitando em nossa carne. Precisamos
admitir o fato de que temos o pecado habitando em
nossa came, o qual entrou na humanidade por meio
de Adão. Precisamos também estar vigilantes, a fim
de não pecarmos. Se não estivermos alertas,
pecaremos, e nossos pecados interromperão nossa
comunhão com Deus. Como resultado da quebra de
nossa comunhão com Ele, perderemos o desfrute da
vida divina.
Poderíamos dizer que no capítulo 1 temos uma
advertência, um lembrete e uma incumbência acerca
da necessidade de estarmos alertas. Sim, já
recebemos a vida divina, e a vida divina agora é nosso
desfrute, resultando em comunhão com o Deus
Triúno. Isso é maravilhoso! Entretanto precisamos
perceber que ainda há o problema do pecado que
habita em nós. Devido ao fato de o pecado habitar em
nossa carne, há sempre a possibilidade de que nosso
desfrute da vida divina seja interrompido por
cometermos pecado.
Se não percebermos que o pecado ainda habita
em nossa came, mas, pelo contrário, ficarmos nos
enganando sobre esse assunto, certamente
pecaremos. Então perderemos o desfrute da vida
divina. Portanto, se quisermos permanecer no
desfrute da vida Divina e na comunhão da vida
Divina, precisamos perceber que temos o pecado em
nossa c ame e o pecado está rastejando, esperando
uma oportunidade de nos prejudicar, de quebrar
nossa comunhão com o Deus Triúno, e manter-nos
afastados do desfrute da vida divina recebida pela
regeneração.
Agora podemos ver o propósito de João ao
escrever o capítulo 1. Por não querer que os crentes
perdessem o desfrute da vida divina, ele lhes disse em
2:1: “Vos escrevo para que não pequeis”. Esta era a
intenção de João e também sua expectativa. Além
disso, essa palavra também é uma advertência e um
lembrete sobre a questão de cometer pecado.
Um Representante Espiritual
É também correto traduzir parakletos em João
2:1 para Advogado. De acordo com o costume nos
tempos antigos, essa palavra grega pode referir-se a
uma pessoa que atua como um representante, um
advogado legalmente constituído. A situação em 1
João 2:1 é diferente da de João 14:16; é uma situação
na qual se requer um advogado ou representante.
Entretanto, a palavra “representante” parece não ser
uma tradução adequada da Palavra para os dias
atuais. Portanto, depois de muita consideração,
escolhemos a palavra Advogado.
O Advogado em 2:1 na verdade é um
representante espiritual. Este parakletos permanece
ao nosso lado, como um enfermeiro cuidando de nós,
servindo-nos. O parakletos também é um
conselheiro. Na escola os estudantes têm um
conselheiro para ajudá-los a escolher corretamente os
cursos. Nosso parakletos também nos ajuda a fazer
escolhas. Na sua tradução de 1 João 2:1, J. N. Darby
utiliza a palavra “patrono”. Em sua nota ele explica
que a palavra patrono é usada no sentido de um
patrono romano, o qual defendia o interesse de seu
cliente de todas as maneiras. A função de um patrono
romano era muito semelhante a de um representante
hoje. Quando nos encontramos em determinada
situação, podemos entregar toda a questão nas mãos
de um representante. O representante, então, cuida
do nosso caso. Essa é a função do nosso Advogado em
2:1.
Parakletos é uma palavra todo-inclusiva. Ela
implica a idéia de ajudar e nutrir, de aconselhar, e
também de consolar. Ela inclui o conceito de um
advogado, um representante que cuida do nosso caso.
Com o Pai
João nos diz em 2: I que temos Advogado junto
ao Pai. A frase “com o Pai” é usada também em 1:2.
Em cada caso a palavra grega usada é pros, com o
acusativo, uma preposição de movimento,
implicando viver, agirem união e em comunhão com.
O Senhor Jesus como nosso Advogado está vivendo
em comunhão com o Pai.
O fato de João usar o título divino Pai neste
trecho, indica que o nosso caso, do qual o Senhor
Jesus como nosso Advogado incumbe-se por nós, é
um assunto familiar, um caso que envolve os filhos e
o Pai. Por meio da regeneração fomos gerados filhos
de Deus. Após a regeneração, no caso de pecarmos, é
uma questão dos filhos pecando contra seu Pai. Nosso
Advogado, o qual é nossa propiciação, incumbe-se do
nosso pecado, a fim de restaurar nossa comunhão
interrompida com o Pai, de maneira que possamos
habitar no desfrute da comunhão divina.
No passado, eu quis descobrir por que João nos
disse que temos Advogado junto ao Pai. Um advogado
é uma pessoa envolvida em casos da lei. Podemos ver
facilmente por que precisamos de um advogado, um
representante, com o juiz em um tribunal de justiça.
Mas por que precisamos de um advogado com o
nosso Pai? A resposta a essa questão é que o “caso” de
nossos pecados após a regeneração é um assunto que
envolve o Pai e o “tribunal” familiar. Sempre que
pecamos, ofendemos nosso Pai. Nosso juiz, portanto,
é um Pai-juiz, nosso tribunal é nossa casa espiritual, e
nosso caso é uma questão familiar. Mas realmente
temos um membro da nossa farru1ia, nosso Irmão
mais velho, o Senhor Jesus, que é nosso Advogado
junto ao Pai. Como nosso Advogado, nosso Irmão
mais velho cuida do nosso caso. Essa é a razão de
João não dizer que temos Advogado junto a Deus,
mas temos Advogado junto ao Pai.
Uma criança pode ter a idéia errada de que por
seu pai amá-la, ela pode fazer o que quiser em casa
com sua família. É claro que não é verdade. Embora
nosso Pai nos ame, quaisquer pecados que
cometamos são uma ofensa a Ele. Sim, Deus é nosso
Pai. Mas se pecarmos, Ele terá um caso contra nós.
Portanto, em nossa farru1ia espiritual nós, algumas
vezes, precisamos de um Advogado.
Nesse versículo temos dois títulos importantes:
Advogado e Pai. O título Pai indica que estamos na
farru1ia divina desfrutando o amor do Pai. O título
Advogado indica que podemos estar errados em
certas questões e precisamos que alguém cuide do
nosso caso Portanto, na vida familiar precisamos que
nosso Irmão mais velho seja nosso Advogado, que
cuide do nosso caso.
A verdade na Bíblia é sempre apresentada de
maneira equilibrada. A verdade nesse versículo
também é equilibrada. Por um lado, o título Pai é um
sinal de amor; por outro, o título Advogado é um sinal
de justiça. Por exemplo, um pai ama seu filho Mas se
a criança comporta-se mal, o pai terá um caso contra
ela, um caso que se baseia na justiça. Embora a
criança ainda seja amada por seu pai e continue a ser
cuidada por ele, o pai tem um caso contra a criança e
pode precisar discipliná-la. De modo semelhante,
sempre que pecamos, o Pai tem um caso contra nós.
Portanto, precisamos de um representante celestial.
Precisamos que Jesus Cristo, nosso Irmão mais velho,
seja nosso Advogado.
Temos enfatizado o fato de que Cristo é nosso
Advogado junto ao Pai. Por favor, note que João não
diz que temos Advogado junto a Deus, ou que temos o
Filho com o Pai. Pelo contrário, ele nos diz que se
pecarmos, temos Advogado junto ao Pai.
PROVISÕES DIVINAS
A RESTAURAÇÃO DA COMUNHÃO
No capítulo 1 de 1 João vemos que temos o
sangue para nos lavar e a fidelidade e justiça do Pai
para nosso perdão e purificação. Embora nosso
problema seja sanado por intermédio da nossa
confissão, da purificação do sangue, e do perdão e
purificação do Pai, nós ainda precisamos de Cristo
como nosso Advogado junto ao Pai e como nossa
propiciação. Ele é O que faz a paz, O que apazigua o
Pai por nós. Como o Apaziguador, Ele faz com que
todos os envolvidos, o Pai e os filhos, fiquem alegres e
cheios de paz. Imediatamente, temos o desfrute da
comunhão. Este é o quadro retratado nesses
versículos da Primeira Epístola de João.
Precisamos ficar profundamente impressionados
com todas as provisões Divinas: o sangue purificador,
a fidelidade de Deus, a justiça de Deus, o Advogado e
a propiciação. Com Deus temos as provisões da Sua
fidelidade e justiça, e com Cristo temos as provisões
do Seu sangue e de Si mesmo como nosso Advogado e
propiciação. Dia a dia, nós que temos a vida divina e o
desfrute dessa vida na comunhão, precisamos estar
alertas com relação ao pecado. Contudo, se pecarmos,
devemos confessar imediatamente. Então
experimentaremos a eficácia de todas essas
provisões. Teremos o lavar pelo sangue do Senhor, a
fidelidade e a justiça do Pai para nosso perdão e
purificação, e Cristo como nosso Advogado e
propiciação para apaziguar o Pai e restaurar a paz
entre nós e o Pai. Por meio de Cristo como nosso
Advogado e propiciação temos novamente paz com o
Pai e desfrutamos a comunhão com Ele.
ESTUDO-VIDA DE 1 JOÃO
MENSAGEM 15
AS CONDIÇÕES DA COMUNHÃO DIVINA (7)
PERMANECER NELE
Em2:6Joãoprosseguedizendo: “Aquele que diz
que permanece nele, esse deve também andar assim
como ele andou.” Estar em Cristo é o início da vida
cristã. Isso foi realizado por Deus uma vez por todas
(1Co 1:30). Permanecer Nele é a continuação da vida
cristã. Isso é da nossa responsabilidade em nosso
andar diário, um andar que seja uma cópia do andar
de Cristo na terra.
Por Deus nos ter colocado em Cristo uma vez por
todas, nós agora devemos assumir a responsabilidade
de permanecer Nele. Permanecer Nele é na verdade
ter comunhão com Ele. Do lado negativo, isso requer
que tratemos com nossos pecados; do positivo, requer
que guardemos Sua palavra.
UM ANTIGO MANDAMENTO
No versículo 7 João diz: “Amados, não vos
escrevo mandamento novo, senão mandamento
antigo, o qual desde o princípio tivestes. Esse
mandamento antigo é a palavra que ouvistes.” O
“mandamento antigo” referido aqui é o mandamento
dado pelo Senhor em João 13:34: “Novo mandamento
vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu
vos amei, que também vos ameis uns aos outros.”
Este mandamento é a palavra que os crentes ouviram
e tiveram desde o princípio.
No versículo 7 a frase “desde o princípio” é usada
no sentido relativo. Já mostramos que essa frase é
empregada duas vezes no Evangelho de João, oito
vezes nessa epístola e duas vezes em 2 João. Em João
8:44; 1 João 1:1; 2:13-14; e 3:8, ela é usada no sentido
absoluto; enquanto em João 15:27; 1 João 2:7, 24
(duas vezes); 3:11; e2João5, 6; ela é usada no sentido
relativo. João não estava escrevendo um novo
mandamento aos crentes; ele escrevia um antigo
mandamento, o qual tinham desde o princípio, isto é,
da época em que o Senhor Jesus estava na terra e
deu-lhes o mandamento de amar uns aos outros.
Aquele antigo mandamento é a palavra que eles ou
viram.
O mandamento do Senhor é a Sua palavra. Isso
significa que Seu mandamento não é meramente uma
regra; o mandamento do Senhor é também uma
palavra que transmite o suprimento de vida. Em João
6:63 o Senhor Jesus disse: “As palavras que eu vos
tenho dito, são espírito e são vida.” Portanto, em2:7
“a palavra” indica o suprimento de vida. Tudo o que o
Senhor fala é uma palavra que nos supre de vida e
espírito. O que o Senhor diz pode também ser uma
regra exigindo que façamos determinada coisa.
Contudo, uma vez que essa regra seja algo proferido
pelo Senhor, algo que procede de Sua boca, é uma
palavra que nos supre de vida. Portanto, sempre que
tomamos a palavra do Senhor e a guardamos,
recebemos o suprimento de vida.
LUZ E TREVAS
No versículo 9 João continua: “Aquele que diz
estar na luz e odeia a seu irmão, até agora está nas
trevas.” Luz é a expressão da essência de Deus e a
fonte da verdade. O amor divino está relacionado à
luz divina. O amor divino é contrário ao ódio
satânico, o qual tem relação com as trevas satânicas.
Odiar um irmão no Senhor é um sinal de estar em
trevas (v. 11). De semelhante modo, amar um irmão é
um sinal de permanecer na luz (v. 10).
No capítulo 1 dessa epístola, João fala sobre luz e
trevas com relação à primeira condição da comunhão
divina. Quando fala sobre a segunda condição no
capítulo 2, ele também menciona luz e trevas. O ódio
é um sinal de que estamos em trevas, enquanto o
amor é um sinal de que estamos na luz.
No versículo 10 João prossegue dizendo: “Aquele
que ama a seu irmão, permanece na luz e nele não há
nenhum tropeço.” Permanecer na luz depende de
permanecer no Senhor (v. 6), a partir do qual resulta
o amor para com os irmãos. O tropeço vem da
cegueira, e a cegueira vem das trevas.
Ambas as condições da comunhão divina
dependem da luz divina. Se não estivermos na luz
divina, estaremos automaticamente desligados da
comunhão da vida divina. Sempre que estamos sem
luz, estamos automaticamente em trevas. Toda vez
que a luz desvanece, as trevas estão presentes. Assim
também, ao permanecermos na luz divina, as trevas
dissipam-se.
A ausência da luz divina é um forte sinal de que
não estamos na comunhão divina. No capítulo 1, com
respeito à primeira condição da comunhão divina,
estarmos na luz ou nas trevas é determinado pelo fato
de tratarmos ou não com o pecado. Se pecamos,
estamos em trevas. Mas se tratamos com o pecado
confessando-o, experimentando o perdão e o
purificar de Deus, estaremos na luz. No capítulo 2,
com relação à segunda condição da comunhão divina,
se estamos nas trevas ou na luz é determinado pelo
fato de amarmos ou não os irmãos. Se odiamos,
estamos em trevas. Mas se amamos, estamos na luz.
Quando estamos na luz, então estamos na comunhão
divina. Mas se estamos em trevas, nada temos a. ver
com essa comunhão.
No versículo 11 João diz: “Aquele, porém, que
odeia a seu irmão, está nas trevas, e anda nas trevas, e
não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram
os olhos.” Em João 12:35 e40, as trevas são o
resultado da cegueira; aqui elas são a causa da
cegueira. As trevas conduzem à cegueira, e a cegueira
é a causa do tropeço. Como é possível que um cristão
venha a tropeçar? Ele pode tropeçar por causa da
cegueira que provém das trevas. As trevas são o
resultado da interrupção de nossa comunhão. Sempre
que a nossa comunhão na vida divina é quebrada,
imediatamente estamos em trevas. Essas trevas
causam a cegueira. Então é fácil tropeçarmos.
A Comunhão do Espírito
Em 1:3 João diz que a comunhão que os
apóstolos têm é com o Pai e com Seu Filho Jesus
Cristo. Portanto, essa comunhão envolve os apóstolos
e também o Pai e o Filho. Apenas o Pai e o Filho são
mencionados aqui, o Espírito não, porque o Espírito
está implícito na comunhão. No entanto, em outros
lugares é-nos dito claramente que essa comunhão é “a
comunhão do Espírito Santo” (2Co 13:13). A
comunhão Divina é a comunhão dos apóstolos, os
representantes da igreja, e também a comunhão entre
esses apóstolos como os representantes da igreja e o
Pai e o Filho. O fato de a comunhão divina ser
também uma comunhão do Espírito significa que tal
comunhão é realizada pelo Espírito. Essa comunhão
não é simplesmente com o Espírito; ela também é do
Espírito. Isso quer dizer que ela é a comunhão do
Espírito e é realizada pelo Espírito.
Acabamos de enfatizar o que significa dizer que a
comunhão divina é a comunhão do Espírito Na
verdade, o próprio Espírito é a comunhão. Isso
significa que a comunhão não somente é cumprida
pelo Espírito, mas também que o Espírito é a
comunhão que é levada a cabo.
Uma vez mais podemos usar a eletricidade como
ilustração da comunhão divina. A eletricidade flui da
usina de força para o local de reuniões da igreja.
Como resultado, quando o interruptor é ligado, todas
as luzes do teto têm “comunhão” na corrente, no fluir
da eletricidade. É a corrente elétrica que realiza essa
comunhão. Entretanto, é mais adequado dizer que na
verdade a própria corrente é a comunhão. Se não
houvesse nenhuma corrente elétrica, não haveria
nenhuma comunhão. A corrente elétrica é a
comunhão da eletricidade, e essa comunhão inclui a
usina de força, o local de reuniões e as lâmpadas.
Hoje, a comunhão divina é a comunhão dos
apóstolos. Isso significa que é a comunhão da igreja.
Essa comunhão também é a comunhão dos crentes
com os apóstolos. Além disso, é a comunhão dos
apóstolos e dos crentes com o Pai e com o Filho. Por
ser realizada pelo Espírito, ela é chamada de
comunhão do Espírito.
LUZ E AMOR
O suprimento divino que nos vem por meio da
Palavra tem uma expressão particular, e essa
expressão é a luz divina. Sempre que recebemos a
palavra do Senhor em nosso interior, a essência do
suprimento divino entra com a luz como sua
expressão. Quando o suprimento vem, a luz vem
junto. Pela experiência sabemos que toda vez que
recebemos a palavra do Senhor, temos luz. A luz é a
essência da expressão de Deus. Na luz, isto é, na
essência da expressão de Deus, temos o amor como
essência da pessoa de Deus. Essa é a maneira de
desfrutar o amor de Deus. Recebemos a Palavra e a
luz vem. Sempre que a luz vem, o amor
espontaneamente está presente.
Juntamente com esse amor que desfrutamos na
luz Divina, amamos a Deus pela primeira vez. Nós O
amamos não pelo nosso próprio amor, não pelo nosso
amor natural, mas pelo Seu próprio amor que
experimentamos e desfrutamos. Além disso, quando
amamos a Deus também amamos a cada um que
nasceu Dele. Isso mostra que, ao amarmos o Pai,
amamos Seus filhos. Portanto, dessa maneira
amamos aos irmãos. Por amarmos os irmãos,
espontaneamente temos desejo de participar da vida
da igreja. Em particular, queremos estar nas reuniões
da igreja.
Quando recebemos a palavra do Senhor por meio
do orar-ler, recebemos luz. Então na luz temos amor
por Deus e por todos os santos. No entanto, se não
recebermos a Palavra e conseqüentemente não
estivermos na luz com o amor, podemos ficar bem
indiferentes para com os santos e para com a vida da
igreja. Poderemos encontrar um irmão no Senhor e
não ter vontade sequer de cumprimentá-lo
calorosamente. Mas quando recebemos a Palavra e
estamos na luz, espontaneamente experimentamos o
amor de Deus. Temos um forte sentimento interior de
que amamos o Senhor. Então, ao encontrarmos um
irmão, teremos o sentimento de que ele é amável e de
que o amamos. Nossa reação para com ele será de
amor. Em vez de ficarmos frios e indiferentes,
teremos um genuíno sentimento de cordialidade para
com ele.
A DEFINIÇÃO DE UNÇÃO
A comunhão da vida divina é divina e misteriosa.
No entanto, a unção Divina é ainda mais misteriosa.
É muito difícil dar uma definição apropriada sobre a
unção divina. A unção é a função do Espírito que dá
vida, todo-inclusivo, composto, o qual é o Deus
Triúno processado. Nesta definição podemos ver os
diferentes elementos ou ingredientes da unção. A
unção é a função, o mover do óleo composto.
A primeira menção da unção na Bíblia
encontra-se em Êxodo 30. Nesse capítulo temos a
revelação do óleo composto que foi utilizado para
ungir o tabernáculo e o sacerdócio.
Em princípio, os escritos de João baseiam-se no
que está escrito no Velho Testamento. Por exemplo,
em seu Evangelho João usa a palavra “tabernaculou”
em 1:14 (lit.) e a frase “Cordeiro de Deus” em 1:29.
Além disso, João 1:51 refere-se ao sonho de Jacó
sobre a escada celestial em Betel. E ainda mais,
muitos dos sinais no livro de Apocalipse podem ser
encontrados no Velho Testamento. No mesmo
princípio, a Primeira Epístola de João tem como base
o Velho Testamento. Seguindo esse princípio, a
palavra “unção”, usada por João no capítulo 2,
refere-se ao óleo em Êxodo 30. No Estudo-Vida de
Êxodo, mensagens 157-163, consideramos os
elementos básicos do óleo composto e a medida de
tais elementos. O óleo em Êxodo 30é um tipo
completo do Espírito que dá vida, todo-inclusivo,
composto, que é o Deus Triúno processado. A unção é
na verdade a função, o mover deste Espírito.
A unção é muito misteriosa, porém é também
real e prática. Em vez de usar o substantivo “óleo”,
João usa o substantivo “unção”. Essa palavra
refere-se ao mover do Espírito todo-inclusivo dentro
de nós. Se lermos cuidadosamente 2:12-27,
perceberemos que a unção é na realidade a
personificação do Espírito que dá vida,
todo-inclusivo, composto, o qual é o Deus Triúno
processado.
A TRINDADE DIVINA
A Primeira Epístola de João 2:12-27 é uma seção
que fala sobre a Trindade Divina de acordo com o
crescimento de vida dos crentes. Nesses versículos, a
Trindade é tratada de forma muito positiva e
significativa. Mas se não tivermos visão espiritual e
celestial desses versículos, não veremos que a
Trindade é mencionada aqui. O ensinamento da
unção divina diz respeito à Trindade divina, mas esse
ensinamento está de acordo com o nosso crescimento
de vida. Isso significa que quanto mais crescermos
em vida, mais teremos parte com a Trindade.
Todo o Novo Testamento está estruturado com a
Trindade. Em Efésios, por exemplo, cada capítulo
está estruturado com a Trindade. A Segunda Epístola
aos Coríntios 13:13 diz: “A graça do Senhor Jesus
Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito
Santo sejam com todos vós.” Este versículo no final
de 2 Coríntios indica que o livro inteiro de 2 Coríntios
tem relação com a graça de Cristo, o amor de Deus e a
comunhão do Espírito Santo. Vemos também a
Trindade no livro de Apocalipse: “Graça e paz a vós
outros, da parte daquele que é, que era e que há de
vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante
do seu trono, e da parte de Jesus Cristo, a fiel
testemunha, o primogênito dos mortos, e o soberano
dos reis da terra” (l:4b-5a). Aqui vemos que o
misterioso livro de Apocalipse inicia-se com a
Trindade, pois neste livro a Trindade também é a
estrutura básica.
Desejo ressaltar o fato de que a Trindade divina é
a estrutura básica de toda a revelação na Bíblia. Se a
Trindade divina fosse removida das Escrituras, não
haveria nenhuma realidade da revelação divina nas
Escrituras.
Em 1 João apenas dezesseis versículos são
dedicados à misteriosa, todo-inclusiva e composta
unção (2:12-27). Se estudarmos cuidadosamente
esses versículos e entrarmos em suas profundezas,
veremos que a Trindade divina está aqui, e a
Trindade é tratada de acordo com o crescimento de
vida dos crentes.
FILHINHOS
No versículo 12 João refere-se aos receptores
dessa epístola como “filhinhos”. Isso é endereçado
genericamente e não se refere a nenhuma classe
específica de crentes. Como já mencionamos, de
acordo com o versículo 1 do capítulo 2, o velho
apóstolo considerava todos os receptores de sua
epístola como seus filhinhos no Senhor. Veremos que
mais tarde, nos versículos 13 a 27, João escreve às
crianças, aos jovens e aos pais. Mas aqui ele se dirige
a todos os crentes como filhinhos, a despeito de qual
seja a idade espiritual deles. Por um lado, todos os
crentes são filhos de Deus. Por outro, na vida da
Igreja os filhos de Deus também eram os filhos de
João.
João considerava os crentes como seus filhos,
não como estudantes ou seguidores. Ser estudante é
questão de conheci ~ mento, e ser seguidor é questão
de participar de certa atividade. Mas a palavra
“filhos” indica vida. Nessa epístola João refere-se aos
crentes de maneira que indica vida. João nem mesmo
disse “meus queridos filhos”. Pelo contrário, ele usou
a mais íntima expressão: “filhinhos”.
Algumas vezes uni pai idoso refere-se a seu filho
adulto como sua criança. Por exemplo, um homem
pode ter seus oitenta anos e seu filho sessenta. No
entanto, o pai pode ainda referir-se a seu filho como
sua criança. Isso é sinal de um relacionamento
carinhoso, íntimo. Em sua epístola, João, um pai
idoso, dirige-se a todos os crentes como filhinhos.
Escrevendo de maneira íntima, ele diz: “Filhinhos, eu
vos escrevo (...)” Esse jeito de falar também indica
que ao escrever esses versículos João está preocupado
com o crescimento de vida dos crentes.
O PERDÃO DE PECADOS
No versículo 12 João diz: “Filhinhos. eu vos
escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por
causa do seu nome.” O perdão de pecados é o
elemento básico do evangelho de Deus (Lc 24:47; At
5:31; 10:43; 13:38). Por meio disso, os crentes que
recebem a Cristo tornam-se filhos de Deus (Jo
1:12-13).
João percebia que o perdão de pecados é o fator
básico ao nos tornarmos filhos de Deus. No versículo
12 João diz aos filhinhos que os pecados deles haviam
sido perdoados por causa do nome do Senhor. Eles
haviam crido nesse precioso nome e receberam o
perdão de pecados. O perdão de pecados é o primeiro
elemento básico no evangelho. Se cremos no nome do
Senhor e invocamos Seu nome, a primeira bênção que
recebemos é o perdão de pecados. Por meio do
perdão, fomos justificados e nos tornamos filhos de
Deus. A regeneração, portanto, é baseada no perdão
de pecados. Essa é a razão de o apóstolo João
considerar o perdão de pecados como o fator básico,
ao dirigir-se aos receptores dessa epístola como
filhinhos,
OS PAIS
Nos versículos 13 e 14 João prossegue dizendo:
“Eu vos escrevo, pais, porque tendes conhecido
aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevo,
jovens, porque tendes vencido o maligno. Eu vos
escrevo, crianças, porque tendes conhecido o Pai”
(lit.). Agora vemos que alguns dos filhinhos de João
são pais, outros são jovens e outros, crianças.
Os pais são aqueles crentes maduros na vida
divina. Eles são classificados pelo apóstolo como o
primeiro grupo entre seus receptores. Esses crentes
são pais porque “têm conhecido Aquele que é desde o
princípio”. As palavras “tendes conhecido” indicam
um estado contínuo. Esses crentes maduros têm
conhecido todo o tempo. Tal conhecimento vivo é
fruto da experiência de vida.
João diz que os pais têm-No conhecido, Aquele
que é desde o princípio. Neste versículo, “desde o
princípio” é usado no sentido absoluto. Aquele que é
desde o princípio é o Cristo eterno, pré-existente, o
qual é a Palavra da vida desde o princípio (1Jo 1:1; Jo
1:1). Conhecer tal Cristo eterno na sua maneira da
vida é a característica dos pais maduros e
experimentados, os quais não eram nem poderiam
ser enganados pelas heresias que diziam que Cristo
não era eterno. Como Aquele que é eterno,
pré-existente, Cristo existia desde a eternidade. Este
Eterno existia antes que todas as coisas criadas
viessem a existir. Verdadeiramente Ele é o Eterno e o
Pré-existente.
Aqui João não diz que os pais conhecem o Filho
de Deus ou Jesus Cristo. Em vez disso, ele diz que eles
têm conhecido Aquele que é desde o princípio; eles
têm conhecido Cristo como o Eterno, o Pré-existente.
Esse conhecimento é questão de experiência, não
meramente questão de conhecimento doutrinário. Se
quisermos conhecer a Cristo como o Eterno, o
Pré-existente, precisamos experimentá-Lo. O
apóstolo João não atribui essa qualificação aos
jovens. Foi aos pais que ele atribuiu a qualificação de
conhecer pela experiência Aquele que é desde o
princípio.
Há entre nós alguns pais, os que têm conhecido o
Senhor experimentando-O. Conhecer o Senhor pela
experiência leva muitos anos. Esta é a qualificação
dos que podem ser chamados de “pais”. O critério que
determina quem é um pai é o conhecimento prático
do Senhor como o Eterno, um conhecimento que é
obtido ao longo de muitos anos de vida.
OS JOVENS
No versículo 13 temos ainda a segunda categoria
de crentes — os jovens. Esses são os crentes que estão
crescidos na vida divina. Uma característica desses
crentes jovens crescidos e fortes é que eles têm
vencido o maligno. Isso é possível porque os jovens
estão nutridos, fortalecidos e sustentados pela
palavra de Deus, a qual permanece neles e opera
neles contra o diabo, o mundo e sua concupiscência
(vs. 14b-17).
Vencer o maligno é uma forte evidência de que
um crente cresceu, tomando-se um jovem. Posso
testificar que na vida da igreja hoje há um grupo de
jovens que venceu o maligno e também as coisas
malignas.
AS CRIANÇAS
A terceira categoria de crentes mencionada por
João é adas crianças. Eles são os crentes que
acabaram de receber a vida divina. Eles são
classificados pelo apóstolo como o terceiro grupo de
receptores.
João diz que as crianças conhecem o Pai. O Pai é
a fonte da vida divina, de quem os crentes foram
regenerados (Jo 1:12-13). Conhecer o Pai é o
resultado inicial de ser regenerado (Jo 17:3, 6).
Portanto, este conhecimento prático na fase inicial da
vida divina é a qualificação básica das crianças, as
quais são os mais novos na classificação de João.
Assim como a criança de um pai humano
conhece o pai, as crianças na vida divina conhecem
seu Pai. O Novo Testamento diz-nos que recebemos o
Espírito de filiação, no qual clamamos: “Aba, Pai”.
Todas as crianças conhecem seu Pai; elas conhecem
Aquele que as gerou com a vida Divina.
No versículo 13 João diz: “Eu vos escrevo,
crianças” (lit.).
Aqui a palavra grega é egrapsa, escrevi; em
outros manuscritos é grapho, escrevo. Apesar de
egrapsaser mais autêntica, de acordo com a
descoberta dos manuscritos mais recentes, grapho,
usada pela versão King James e pela Nova Tradução
de J. N. Darby, é mais lógica de acordo com o texto. O
apóstolo nesse versículo endereça o seu escrito a cada
uma das três classes de receptores, todos no tempo
presente. Nos versículos seguintes, 14 a 27, ele se
dirige a cada uma dessas classes novamente, mas
tudo no tempo aoristo (v. 14 aos pais e jovens; v. 26,
ver também v. 18, às crianças).
AS MÁSCARAS DO MALIGNO
Na primeira seção desta Epístola, a que dizia
respeito à comunhão da vida divina (1:1-2:11), vimos
que o pecado e os pecados danificam nossa
comunhão. Na segunda seção desta Epístola, vemos
outras duas coisas negativas: o mundo e o anticristo.
Nos versículos 13 e 14, João também menciona o
maligno. Entretanto, esse maligno, Satanás, o diabo,
não aparece aqui diretamente. Em vez disso, ele usa
as máscaras do mundo e do anticristo. Ninguém
amaria o diabo se ele aparecesse diretamente.
Contudo, todos amam o mundo. O mundo é uma
máscara de Satanás, que ele utiliza para enganar-nos
e iludir-nos. Nesta seção de 1 João, o problema não
está com o diabo, e, sim, com o mundo como a
máscara do diabo.
Para os que amam coisas materiais, segundo seus
desejos concupiscentes, Satanás aparecerá vestindo a
máscara do mundo. Mas para os que são religiosos e
se preocupam com as coisas religiosas, filosóficas ou
doutrinárias, Satanás virá com outra máscara — a
máscara do anticristo com seus ensinos heréticos.
A unção que temos em nós capacita-nos a lidar
com as máscaras do mundo e do anticristo. Os jovens
precisam enfrentar a máscara do mundo. Por essa
razão, a palavra com relação ao mundo foi escrita aos
jovens. Qual é o principal problema enfrentado pelas
crianças, os mais novos na vida da igreja? É o
problema da heresia, a máscara do anticristo. Os
anticristos não se consideram como tais, mas clamam
que são a favor de Cristo. Esse clamor, entretanto, é
fingimento, falsidade, fraude. Portanto, João chama a
atenção de que estes tais são anticristos; eles não são
a favor de Cristo. Embora carreguem o nome de
Cristo, isso é fingimento. Enquanto os jovens na vida
divina devem vencer o mundo, as crianças precisam
guardar-se do anticristo. Estas duas coisas negativas
— o mundo e o anticristo — são encontradas na
segunda seção desta Epístola.
VENCER O MALIGNO
Conforme o contexto, os jovens venceram o
maligno, aquele que formou este sistema anti-Deus,
aquele que sistematizou todas as coisas, pessoas e
questões. Como os jovens conseguem vencer esse
maligno? Eles podem vencê-lo porque têm a palavra
de Deus permanecendo neles. A Palavra de Deus é
também o seu refúgio, fortaleza e castelo. Dia a dia, os
jovens precisam permanecer na Palavra de Deus.
Sabemos pela nossa experiência que, quando a
palavra de Deus habita em nós e permanecemos na
Palavra como nosso refúgio, estamos protegidos do
maligno.
Em5:19Joãodizquetodoosistemamundialjaznom
aligno. Esse maligno não somente sistematizou tudo,
como o sistema todo jaz nele. Podemos usar um
paciente em uma cirurgia, como ilustração do mundo
jazendo no maligno. Numa cirurgia, o paciente é
anestesiado e fica imóvel na mesa de operação. O
cirurgião está pronto para operar o paciente, e o
paciente não tem consciência do que ocorre. Esse é
um quadro de todo o mundo jazendo sob a mão de
Satanás. Os que estão no mundo não têm consciência
do fato de que estão na “mesa de cirurgia” do maligno
e de que ele os está “operando”.
AS COISAS NO MUNDO
No versículo 16 João fala acerca das coisas no
mundo: “Porque tudo que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e
a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede
do mundo”. A concupiscência da carne é o desejo
ardente do corpo; a concupiscência dos olhos é o
desejo ardente da alma através dos olhos; e a soberba
da vida é o orgulho, a ostentação, a confiança e a
segurança vazios, e a exibição de coisas materiais da
vida presente. Estes são os componentes do mundo.
A Concupiscência da Carne
A concupiscência da carne, o desejo ardente do
corpo, está relacionado principalmente ao corpo.
Devido ao fruto da árvore do conhecimento do bem e
do mal ter entrado na raça humana, nosso corpo
tomou-se caído e corrompido. Adão e Eva, nossos
primeiros pais, compartilharam do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal. Como resultado, um
elemento maligno entrou na raça humana, e agora
esse elemento está em nosso corpo físico. Pela
experiência sabemos que um elemento maligno,
satânico, habita na natureza do homem.
O asceticismo é uma tentativa de tratar com a
concupiscência da carne. Entretanto, o asceticismo
não é eficaz ao lidar com o desejo ardente do corpo.
Em determinados escritos cristãos podemos ver o
elemento do asceticismo. Por exemplo, podemos
encontrá-lo no famoso livro, A Imitação de Cristo.
Alguns ensinamentos cristãos sobre carregar a cruz,
na verdade, introduzem o asceticismo. Nos quatro
Evangelhos, o Senhor Jesus falou claramente sobre a
cruz. No entanto, não devemos confundir o genuíno
carregar da cruz com asceticismo. Não importa até
que ponto as pessoas maltratem seu corpo seguindo
práticas ascéticas, o asceticismo não funcionará ao
tratar com a concupiscência do corpo.
A Soberba da Vida
No versículo 16 João também menciona a
soberba da vida.
Vimos que a soberba da vida é orgulho,
ostentação, confiança e segurança vazios, e a exibição
das coisas materiais da vida presente. Aqui, a palavra
grega traduzida para “vida” é bios, uma palavra que
se refere à vida física, e também à vida presente. Ela
difere da palavra grega zoé usada em 1:1-2, a qual se
refere à vida divina.
No Novo Testamento três palavras gregas são
utilizadas para vida: zoé, que se refere à vida divina, a
vida de Deus; psique, que se refere à vida humana, a
nossa vida da alma ou psicológica; e bios, que se
refere à vida física. A palavra grega bios também
denota a vida presente. Portanto, a soberba da vida
significa a soberba da vida presente. Tudo o que
ocorre na sociedade humana é a vida presente. Junto
com esta vida presente, terrena, há soberba. Essa
soberba inclui o orgulho, confiança e segurança
vazios, e a exibição de coisas materiais.
DUAS TRINDADES
De acordo coma Bíblia, o mundo é contra o Pai
(v. 15), o diabo contra o Filho (3:8) e a carne contra o
Espírito (GI5:17). Por um lado, ternos a Trindade
divina — o Pai, o Filho e o Espírito. Por outro, ternos
urna trindade maligna — o mundo, Satanás e a carne.
Se desfrutarmos a Trindade divina nada teremos a
ver com a trindade maligna.
A UNÇÃO E A VERDADE
Nesta mensagem consideraremos 2:20-27. O
versículo 20 diz: “E vós possuís a unção que vem do
Santo, e todos tendes conhecimento.” Este versículo
não fala sobre o ungüento, mas sobre a unção. A
palavra “unção” indica algo prático que ocorre em
nosso interior. A unção é o mover e o trabalhar do
Espírito composto que habita interiormente. Este
Espírito todo-inclusivo que dá vida, que vem do
Santo, entrou em nós na época da nossa regeneração
e permanece em nós para sempre (v. 27).
O versículo 20 diz no final: “Todos tendes
conhecimento”. Em alguns manuscritos lê-se: “todos
sabeis”. Creio que a tradução correta seria: “sabeis
tudo”, e não “todos sabeis”.
No versículo 21 João diz: “Não vos escrevi,
porque não saibais a verdade, antes porque a sabeis, e
porque mentira alguma jamais procede da verdade.”
Neste versículo a palavra “verdade” é usada duas
vezes. Se considerarmos os versículos 20 e 21 juntos,
perceberemos que a unção certamente deve ter algo a
ver com a verdade. O versículo 20 diz que temos
unção, e o 21 diz que sabemos a verdade. Neste
versículo a verdade está intimamente relacionada à
unção. Na verdade, a unção é o mover e o trabalhar da
verdade, a qual é a realidade da Trindade divina,
especialmente da Pessoa de Cristo (vs. 22-25).
O saber no versículo 21 é o saber por meio da
unção do Espírito que dá vida que habita
interiormente. Este é um conhecimento na vida
divina sob a luz divina, um conhecimento interior
iniciado a partir do nosso espírito regenerado
habitado pelo Espírito composto, não o conhecimento
mental exercitado pelo estímulo exterior.
A HERESIA DE CERINTO
Ressaltamos que, de acordo com os versículos 21
e 22, a verdade é que Jesus é o Cristo. No entanto,
esta verdade foi negada por certos heréticos, que
diziam que Jesus não er! i o Cristo. Negar que Jesus é
o Cristo é a heresia de Cerinto, um heresiarca sírio de
descendência judaica do primeiro século, educado em
Alexandria. Sua heresia era uma mistura de
judaísmo, gnosticismo e cristianismo. Ele fez
distinção entre o feitor (criador) do mundo e Deus, e
representou o feitor como um poder subordinado. Ele
ensinava a cristologia adocianista (Adocianismo),
dizendo que Jesus tomou-se Filho de Deus pela
exaltação a uma posição que não era Dele por
nascimento, negando assim a concepção de Jesus
pelo Espírito Santo. Na sua heresia ele separou o
homem terreno Jesus, considerado como o filho de
José e Maria, do Cristo celestial, e ensinava que após
Jesus ser batizado, Cristo como uma pomba desceu
sobre Ele. Então Ele anunciou o Pai desconhecido e
fez milagres, mas no [mal de Seu ministério Cristo
apartou-se de Jesus, e Jesus sofreu a morte na cruz e
ressuscitou dentre os mortos, enquanto Cristo
permaneceu separado como um ser espiritual, e irá
juntar-se ao homem Jesus na vinda do reino
messiânico de glória. Esta heresia negava que Jesus é
o Cristo. Conforme a palavra de João, qualquer um
que negou que Jesus é o Cristo é o anticristo. Cerinto
era um anticristo, e seus seguidores também eram
anticristos.
No versículo 22 João diz que o anticristo nega o
Pai e o Filho.
Confessar que Jesus é o Cristo é confessar que
Ele é o Filho de Deus (Mt 16:16; J020:31). Portanto,
negar que Jesus é o Cristo é negar o Pai e o Filho.
Quem quer que negue a Pessoa divina de Cristo é um
anticristo.
VIDA ETERNA
No versículo 25 João continua: “E esta é a
promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna.” O
pronome singular “ele”, referindo-se tanto ao Filho
como ao Pai do versículo anterior, indica que o Filho
e o Pai são um. No que diz respeito à nossa
experiência da vida divina, o Filho, o Pai, Jesus e
Cristo são todos um. Não é que apenas o Filho, e não
o Pai, seja a vida eterna para nós. E, sim, que Jesus
sendo o Cristo como o Filho e o Pai é a vida eterna
para nós para nossa porção.
De acordo com o contexto dos versículos 22 a 25,
a vida eterna é simplesmente Jesus, Cristo, o Filho e o
Pai. Todos eles são uma composição da vida eterna.
Portanto, a vida eterna é também um elemento do
Espírito composto, todo-inclusivo, que habita
interiormente, o qual se move dentro de nós.
UM COMPOSTO DIVINO
A vida eterna no versículo 25 é a Palavra da vida,
e a Palavra da vida é Jesus, Cristo, o Pai e o Filho.
Aqui temos seis questões: Jesus, Cristo, o Pai, o Filho,
a Palavra da vida e a vida eterna. Pela Bíblia,
especialmente por 1 João, sabemos que Jesus é o
Cristo, que Cristo se iguala ao Pai e ao Filho, e Ele é
também a Palavra da vida e a vida eterna.
Jesus, Cristo, o Pai, o Filho, a Palavra da vida e a
vida eterna postos juntos formam um composto
divino. Todos os seis são elementos que foram
compostos em um único ungüento. Em Jesus temos
humanidade, com o Pai temos divindade, e com
Cristo temos o Ungido. Com Jesus temos a
encarnação, com Cristo temos a ressurreição, e com o
Filho temos a vida. Portanto, com estes elementos
temos todos os ingredientes do óleo composto:
divindade, humanidade, encarnação, crucificação,
ressurreição e vida.
Se estudarmos estes versículos em 1 João
juntamente com a descrição dos elementos do óleo
composto em Êxodo 30, veremos que todos os
elementos em Êxodo 30 são encontrados nestes
versículos, Esteja certo de que aqui temos o azeite de
oliva, a mirra, o cinamomo, o c álamo e a cássia.
Temos também os números cinco e três (ver
Estudo-vida de Êxodo, mensagens 157-163).
No capítulo 2 de 1 João certamente temos o óleo
composto, o Espírito todo-inclusivo. No entanto, aqui
não temos a unção meramente de forma objetiva;
pelo contrário, temos a unção subjetiva, isto é, o
mover e o trabalhar subjetivos da unção. Essa unção
subjetiva é o Deus Triúno processado experimentado
por nós. Além disso, essa unção ensina-nos a respeito
do Deus Triúno processado. Por exemplo, se alguém
dissesse que Cristo não está em nós, responderíamos:
“Pela minha experiência da unção sei que Jesus
Cristo está em mim.” Além do mais, se alguém
tentasse ensinar-lhe que o Pai, o Filho e o Espírito são
três Pessoas separadas, você poderia dizer: “Eu não
tenho três Pessoas separadas dentro de mim. Pela
minha experiência da unção sei que tenho somente
Um em mim, e este Um é o Pai, o Filho e o Espírito.”
JESUS E CRISTO
O Senhor é tanto Jesus como Cristo. Embora não
haja separação entre Jesus e Cristo, há distinção
entre estes dois títulos: Jesus e Cristo. O nome Jesus
significa Jeová nosso Salvador ou Jeová nossa
salvação. O título Cristo significa o Ungido. O nome
Jesus na maioria das vezes indica o Senhor em Sua
humanidade, encarnação, viver humano e
crucificação. O título Cristo refere-se ao Senhor como
o Ungido de Deus e especialmente o que Ele é em
ressurreição e-ascensão. Jesus e Cristo, ambos
referem-se à mesma Pessoa. Embora essa Pessoa seja
inseparável, há contudo uma distinção entre os dois
títulos Jesus e Cristo.
O PAI E O FILHO
Apesar de o Filho e o Pai serem um, não devemos
dizer que não existe distinção entre o Pai e o Filho. Há
diferença entre o Pai e o Filho, mas não existe
separação. Quando o Pai está presente, o Filho
também está presente. Semelhantemente, onde o
Filho estiver, lá também estará o Pai. O Pai e o Filho
não podem ser separados. Por isso, no versículo 23
João diz que todo o que nega o Filho também não tem
o Pai, e o que confessa o Filho tem também o Pai.
Sempre que falamos a respeito da Trindade,
precisamos ser sóbrios e cuidadosos com nossas
definições e ilustrações. Vimos a partir de 2:20-27
que Jesus, Cristo, o Pai, o Filho, a Palavra da vida e a
vida eterna são todos um. No entanto, ainda há uma
distinção entre eles. Já salientamos que Jesus e Cristo
referem-se à mesma Pessoa. Contudo, há distinção
entre o nome Jesus e o título Cristo. Não devemos
dizer que eles referem-se à mesma coisa, pois as
denotações são bem diferentes. Por ser o nosso
Senhor rico e todo-inclusivo, Ele precisa de diferentes
nomes e títulos para descrevê-Lo. Portanto, Ele é
Jesus e Ele também é Cristo. Como Jesus Ele é Jeová
nosso Salvador, e como Cristo, Ele é o Ungido de
Deus.
Não deve restar nenhuma dúvida em nós de que
o Pai, o Filho e o Espírito são verdadeiramente um e
que são um Deus. Embora creiamos na Trindade,
definitivamente não cremos em três Deuses. O
triteísmo, a crença em três Deuses, é heresia, e
devemos condená-lo. Apesar de Deus ser um, há uma
nítida diferença entre o Pai, o Filho e o Espírito na
Deidade.
A UNÇÃO E A VERDADE
Prossigamos agora considerando novamente
2:20-27. Os versículos 20 e 21 dizem: “E vós possuís
unção que vem do Santo, e todos tendes
conhecimento. Não vos escrevi, porque não saibais a
verdade, antes porque a sabeis, e porque mentira
alguma jamais procede da verdade.” No versículo 20
João fala a respeito da unção, e no versículo 21 ele
fala sobre a verdade. Sem dúvida, a verdade no
versículo 21 está relacionada à unção, e a unção
conduz à verdade.
No versículo 22 João continua: “Quem é o
mentiroso senão aquele que nega que Jesus é Cristo?
Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho.” Isso
indica claramente que, se negarmos que Jesus é o
Cristo, negamos o Pai e o Filho. Isso também indica
que Cristo é o Pai e o Filho.
VIDA ETERNA
No versículo 25 João prossegue dizendo: “E esta
é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna.”
Neste versículo João não diz: “A promessa que eles
mesmos nos fizeram”; ele diz: “A promessa que ele
mesmo nos fez”. O pronome singular “ele” neste
versículo refere-se a ambos, o Filho e o Pai, no
versículo anterior. Isso indica que o Filho e o Pai são
um. No que diz respeito à nossa experiência da vida
divina, o Filho, o Pai, Jesus e Cristo são todos um.
Não é que somente o Filho e não o Pai é a vida eterna
para nós, mas sim que Jesus sendo o Cristo como o
Filho e o Pai é a vida divina eterna para nós, como
nossa porção. O ponto ao qual estamos dando ênfase
aqui é que o antecedente do pronome “ele” é o Filho e
o Pai e isso indica que o Filho e o Pai são um.
A COMUNHÃO E A UNÇÃO
A comunhão da vida divina depende da unção.
Isso significa que a manutenção da comunhão da vida
divina depende de permanecermos no Senhor e na
luz. Permanecer no Senhor e na luz é o mesmo que
permanecer no Deus Triúno.
O Deus Triúno alcança-nos como o Espírito. Se
Deus fosse apenas o Pai e o Filho, Ele não conseguiria
entrar em nós. É somente como o Espírito que o Deus
Triúno pode entrar em nosso espírito. A Palavra
“unção” em 2:20 e 27 refere-se principalmente ao
Espírito, não basicamente ao Pai ou ao Filho. Na
verdade, o ungüento é o Espírito, e a unção é o mover
desse ungüento. Quando falamos da unção,
referimo-nos ao Deus Triúno alcançando-nos como o
Espírito. Quando o Deus Triúno entra em nosso
espírito, Ele é o Espírito que dá vida. Esse Espírito
que dá vida, que habita em nosso espírito, está agora
se movendo e trabalhando em nosso interior. Esse
mover é a unção.
A unção tem muito que ver com o nosso
permanecer no Senhor. Desfrutamos a comunhão da
vida divina para poder permanecer no Senhor. Esse
permanecer é totalmente uma questão de o Senhor
como Espírito habitando em nosso espírito. Essa é a
razão de imediatamente depois da primeira seção,
que trata da comunhão da vida divina, João
prosseguir na segunda seção desta Epístola para falar
sobre o ensinamento da unção divina. Apartados da
unção, não podemos permanecer no Senhor. Se não
permanecemos no Senhor, não podemos manter a
comunhão. Além disso, se não mantivermos a
comunhão, não conseguiremos desfrutar as riquezas
da vida divina. Podemos também dizer que para
desfrutar das riquezas da vida divina, precisamos
manter a comunhão; para manter a comunhão,
precisamos permanecer no Senhor; e a fim de
permanecer no Senhor, precisamos cuidar da unção
interior, a qual é o mover do Espírito que habita
interiormente, em nosso espírito.
MUITOS ANTICRISTOS
Devido à influência do ensino tradicional, muitos
pensam que o termo “anticristo” refere-se apenas ao
homem da iniqüidade em 2 Tessalonicenses 2 e à
besta em Apocalipse 13. Entretanto, o termo
anticristo não é usado em nenhum destes capítulos. o
título anticristo não deve ser aplicado apenas ao
homem da iniqüidade e à besta. De acordo com 1
João, os anticristos são aqueles que são anti Cristo, o
Ungido, como o Filho de Deus. Na verdade, no Novo
Testamento, o homem da iniqüidade não é chamado
de anticristo. Esse título é encontrado apenas nas
Epístolas de 1 e 2 João, onde é usado para referir-se
àqueles que negam que Jesus é o Ungido, como o
Filho de Deus. De acordo com 1 João, capítulo 2, todo
o que nega Cristo dessa maneira é um anticristo.
“Anticristo”, sem o artigo, no versículo 18, indica a
categoria, não um anticristo em particular. Por isso
“muitos anticristos” são mencionados na frase
seguinte.
EXPERIMENTAR A UNÇÃO
O Espírito que unge em nosso interior é a
consumação do Deus Triúno, e neste Espírito há os
elementos da divindade, humanidade, viver humano,
crucificação e ressurreição. Ele é o Espírito
todo-inclusivo contendo tudo o que Deus cumpriu,
realizou e obteve. Este Espírito é agora o Ungidor
dentro em nós.
Primeiramente, Cristo era o Ungido. Então,
como o Ungido, Ele se tomou o Ungidor que habita
em nós para nos ungir. No entanto, a maioria dos
cristãos ou negligenciam isso ou são ignorantes
quanto a isso, e alguns realmente se opõem a esta
verdade. Agradecemos ao Senhor que, pela Sua
misericórdia, estejamos experimentando e
desfrutando a maravilhosa unção do Espírito
todo-inclusivo dentro de nós.
PERMANECER NELE
Em 2:28 o apóstolo João diz: “E agora, filhinhos,
permanecei nele” (lit.). A palavra que inicia em 2:13,
para as três diferentes classes de receptores, termina
no versículo 27. Agora o versículo 28 volta para todos
os receptores. Por essa razão, ele é endereçado
novamente aos “filhinhos”, como nos versículos 1 e
12.
A palavra endereçada aos três grupos de
receptores em 2:13-27 conclui com a exortação para
“permanecer Nele” como a unção nos ensinou. Nesta
seção, de 2:28 até 3:24, o apóstolo continua a
descrever a vida que permanece no Senhor. Ela
começa (2:28), continua (3:6), e termina (3:24) com
“permanecer Nele”.
Como já ressaltamos, aqui o pronome “Ele”
refere-se, sem dúvida, a Cristo, o Filho, o qual está
vindo. Isso, juntamente com a frase anterior,
“permanecei Nele”, que é uma repetição daquela no
versículo 27 envolvendo a Trindade, indica que o
Filho é a corporificação do Deus Triúno, inseparável
do Pai ou do Espírito.
No versículo 28 João diz que se permanecermos
Nele, “teremos ousadia e não seremos apartados dele,
envergonhados, na sua vinda” (lit.). As palavras
gregas traduzidas para “na Sua vinda” literalmente
significam “na Sua presença” (parousia). A palavra
de João sobre não ser envergonhado indica que
alguns crentes que não permanecem no Senhor (isto
é, não se mantêm na comunhão da vida Divina de
acordo com a pura fé na Pessoa de Cristo), mas se
deixam enganar por ensinamentos heréticos acerca
de Cristo (v. 26), serão punidos ao serem apartados
Dele, envergonhados, para longe da Sua gloriosa
parousia.
Conhecer e Praticar
No versículo 29 João continua: “Se sabeis que ele
é justo, sabeis que todo aquele qiíe pratica a justiça é
nascido dele” (VRC). A primeira menção da palavra
“saber” neste versículo é a tradução da palavra grega
eidete, proveniente de oida, que significa percebido
com um conhecimento consciente, uma visão interior
mais profunda. Precisamos saber desta forma que
Deus é justo. Se percebermos isso, então saberemos
que todo aquele que pratica a justiça é nascido de
Deus.
Praticar a justiça é algo habitual como um viver
diário comum e não intencional. Portanto, praticar
ajustiça divina é fazer justiça habitual como nosso
viver diário e não intencional. No entanto, se fizermos
justiça intencionalmente com um propósito, isso não
será algo do nosso viver diário comum. Pelo
contrário, será um comportamento político. Alguém
pode fazer justiça com propósito de ganhar posição
ou promover seu nome. Isso é portar-se de maneira
política. Mas nós, cristãos, como filhos de Deus,
devemos ser saturados com o Deus justo de tal forma
que, espontaneamente, vivamos uma vida que
pratique justiça habitual e não intencional. Em vez de
fazer determinado ato de justiça com certo propósito,
nós praticamos justiça como nossa vida diária
comum. Isso é resultado da comunhão da vida divina
e da unção da Trindade divina. Além do mais, isso é
uma expressão do Deus justo. Por permanecermos no
Deus justo, somos infundidos e saturados com Ele.
Então nosso viver toma-se uma expressão do Deus
justo com o qual fomos infundidos e saturados. Este
Deus justo, então, toma-se nosso viver justo, nossa
justiça diária. Esta prática de justiça não é mero
comportamento exterior, mas é a manifestação da
vida interior. Como já salientamos, isso não é um ato
propositado; é o fluir da vida a partir do interior da
natureza divina da qual participamos.
Justiça e Vida
Apliquemos agora estas questões à nossa
experiência. Quando estávamos no elemento da
morte, experimentamos a essência, a substância da
morte. Novamente podemos usar o chá como
ilustração. Quando bebemos chá, o que bebemos não
é o elemento do chá; bebemos a essência do chá.
Quando recebemos o Senhor Jesus no momento em
que fomos salvos e regenerados, recebemos dois
elementos. No entanto, não devemos dizer que
recebemos duas essências. Na regeneração
recebemos os elementos de vida e justiça, e agora
estamos vivendo nesses elementos. Não seria correto,
porém, dizer que recebemos duas essências e agora
estamos vivendo nessas essências. Tendo recebido os
elementos de vida e justiça, estamos agora
desfrutando e experimentando as essências destes
elementos. Recebemos o elemento de justiça, e agora
desfrutamos a essência deste elemento. Da mesma
forma, recebemos o elemento de vida, e agora
experimentamos a essência deste elemento. Antes de
sermos regenerados, estávamos nos elementos do
pecado e morte, e estávamos sofrendo devido ao
trabalhar da essência do pecado e da morte dentro de
nós. Essa breve palavra pode ajudar-nos a conhecer
como aplicar a essência e o elemento da justiça e vida.
Como filhos de Deus, temos dois elementos
divinos justiça e vida. Agora em nossa experiência
diária desfrutamos a justiça divina e a vida divina.
Entretanto, rigorosamente falando, desfrutamos a
essência, a substância, da justiça e vida divinas.
AMAR EM REALIDADE
Nos versículos 17 e 18 João continua: “Ora,
aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu
irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração,
como pode permanecer nele o amor de Deus?
Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua,
mas de fato e de verdade.” Os recursos deste mundo
no versículo 17 referem-se às coisas materiais, às
necessidades da vida. No versículo 18, “de fato” é
oposto a “de palavra”, e “de verdade” é oposto a “de
língua”. Língua denota o exercício de uma conversa
vã. Verdade denota a realidade do amor. Verdade
denota sinceridade, em contraste com língua, como
obra de palavra. Verdade aqui denota a genuinidade,
a sinceridade de Deus, como uma virtude divina
tomando-se uma virtude humana como um resultado
da realidade divina. Portanto, a verdade neste
versículo é a realidade de Deus tornando-se nossa
virtude.
João diz que não devemos amar os irmãos
meramente de palavra ou de língua, nem meramente
dizer aos santos que os amamos. Isso não é amar de
verdade, amarem realidade. Amar os santos em
verdade ou realidade significa amá-los na realidade
divina que se torna nossa virtude, algo que é honesto,
fiel, sincero e real. Devemos amar os irmãos dessa
maneira. É óbvio que este tipo de amor de verdade
inclui o amor que supre os necessitados com coisas
materiais ou dinheiro, quando necessário. Não
devemos amar os irmãos com palavras vãs; devemos
amá-los de verdade e até mesmo com nossos
recursos.
Não devemos pensar que amar de verdade seja
simplesmente amar na virtude humana da
sinceridade. Não, aqui João não está falando da
virtude humana natural da sinceridade. A verdade
aqui é mais que sinceridade humana; é a realidade
divina tornando-se nossa virtude. Assim, ela é a
expressão daquilo que Deus é. Isso significa que ao
amar os santos devemos expressar Deus.
O ESPÍRITO
A segunda parte do versículo 24 diz: “E nisto
conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito
que nos deu.” Literalmente, a palavra grega para
“pelo” significa procedente de. A frase “pelo Espírito”
modifica “conhecemos”.
O Espírito não havia sido citado até esse ponto
desta epístola, embora esteja anonimamente
implícito na unção em 2:20 e 27. Na verdade, o
Espírito, isto é, o Espírito que dá vida, todo-inclusivo,
composto, é o fator vital e crucial de todos os
mistérios desvendados nesta Epístola: a vida divina, a
comunhão da vida divina, a unção divina, a
permanência no Senhor, o nascimento divino e a
semente divina. É por meio desse Espírito que
nascemos de Deus, recebemos a vida divina como a
semente divina em nós, temos a comunhão da vida
divina, somos ungidos com o Deus Triúno e
permanecemos no Senhor. Este Espírito maravilhoso
é-nos dado como a bênção prometida do Novo
Testamento (Gl 3:14). Ele é dado sem medida pelo
Cristo que é sobre todos, que a tudo herda e que deve
ser aumentado universalmente (Jo 3:31-35). Este
Espírito e a vida eterna (1Jo 3:15) são os elementos
básicos por meio dos quais vivemos a vida que
permanece no Senhor continuamente. Portanto, é por
meio deste Espírito, que testifica com nosso espírito,
que somos filhos de Deus (Rm 8:16), e sabemos que o
Senhor de todos permanece em nós (l J04:13). É por
intermédio deste Espírito que somos unidos ao
Senhor como um espírito (1Co 6:17). E é por este
Espírito que desfrutamos as riquezas do Deus Triúno
(2Co 13:13).
O capítulo 3 de 1 João conclui com uma palavra
concernente ao Espírito. Isso indica que o que é
abrangido neste capítulo é uma questão do Espírito
que habita interiormente, todo-inclusivo, composto,
que dá vida. Neste versículo João não falado Espírito
de Deus ou do Espírito Santo; ele fala do Espírito.
Sempre que o Novo Testamento menciona o Espírito,
ele se refere ao Espírito que habita interiormente,
todo-inclusivo, composto, que dá vida. No último
capítulo da Bíblia, temos uma palavra com relação ao
Espírito (Ap 22:17). O Espírito é mais inclusivo que o
Espírito de Deus e o Espírito Santo. O Espírito
refere-se ao Espírito que ainda não era (Jo 7:39-lit.)
antes da glorificação de Cristo. Agora, a partir da
ressurreição de Cristo, o Espírito está aqui. Portanto,
permanecemos no Senhor e Ele permanece em nós
pelo Espírito que Ele nos deu.
ESTUDO-VIDA DE 1 JOÃO
MENSAGEM 30
PROVAR OS ESPÍRITOS (1)
O SIGNIFICADO DE ANTICRISTO
Neste ponto precisamos considerar mais o
significado da palavra “anticristo”. Em Mateus 24:5 o
Senhor Jesus diz: “Porque virão muitos em meu
nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a
muitos.” Esse versículo fala de um falso Cristo,
alguém que finge ser Cristo, a fim de desviar os
crentes.
Em 2:26 e 3:7 João também fala de ser desviado.
Nesta Epístola, ser desviado é ser conduzido para
longe da realidade da Pessoa de Cristo, da realidade
de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Mas, de
acordo com Mateus 24:5, um falso Cristo é o que
finge ser Cristo de modo a desviar as pessoas.
Em Mateus 24:23 e 24 o Senhor Jesus diz:
“Então se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou:
Ei-lo ali! não acrediteis; porque surgirão falsos cristos
e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios
para enganar, se possível, os próprios eleitos.” Esses
versículos indicam que é possível que até mesmo as
pessoas escolhidas de Deus sejam enganadas e
desviadas. Devido à palavra do Senhor com relação
aos falsos Cristos e falsos profetas, havia o ensino
entre os crentes nos primeiros dias de que falsos
Cristos e falsos profetas surgiriam.
Em 1 João há três versículos concernentes ao
anticristo. Em 2:18 João diz: “Filhinhos, já é a última
hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também
agora muitos anticristos têm surgido, pelo que
conhecemos que é a última hora.” No original não há
o artigo definido antes de “anticristo”. João diz
simplesmente que os crentes ouviram que o anticristo
está vindo, e então prossegue dizendo que muitos
anticristos têm surgido.
Em 2:22 João novamente fala acercado
anticristo: “Quem é o mentiroso senão aquele que
nega que Jesus é Cristo? Este é o anticristo, o que
nega o Pai e o Filho.” A palavra “mentiroso” indica
um falso profeta. O mentiroso, o falso profeta, que
nega que Jesus é o Cristo, é o anticristo, aquele que
nega o Pai e o Filho.
A Primeira Epístola deJoã04:3 diz: “E todo
espírito que não confessa a Jesus não procede de
Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a
respeito do qual tendes ouvido que vem, e
presentemente já está no mundo.” Semelhantemente
a 2:22, este versículo indica que na Primeira Epístola
de João um anticristo é um falso profeta, e um falso
profeta é um anticristo.
Em 4:3 o espírito que não confessa a Jesus é o
espírito de um falso profeta incitado pelo espírito do
engano, o espírito que não confessa a Jesus vindo em
carne. Esse é o espírito dos erros dos docetistas
(Docetas). Esse nome foi derivado do grego dokein,
“dar a impressão”, “parecer ser”. A concepção
herética dos docetistas era de que Jesus Cristo não
era um homem verdadeiro mas simplesmente
aparentava ser. De acordo com os docetistas. Cristo
era meramente um fantasma. O docetismo foi
misturado com o gnosticismo, que ensinava que toda
matéria era essencialmente má. Portanto, os
docetistas ensinavam que, por Cristo ser santo, Ele
nunca poderia ter tido a corrupção da carne humana.
Eles diziam que o corpo de Cristo não era carne e
sangue verdadeiros, mas meramente uma aparição
ilusória, transitória, de modo que Ele não sofreu,
morreu e ressuscitou. Tal heresia não somente
prejudica a encarnação do Senhor, como também
arruína Sua redenção e ressurreição. O docetisrno era
um traço característico dos primeiros anticristos
enganadores a quem João tinha em vista aqui e em
2Joã0 7. O espírito de tais enganadores certamente
não tem sua fonte em Deus; não provém de Deus.
Este é o espírito do anticristo.
Em 2 João 7 o apóstolo João uma vez mais fala
acerca do anticristo: “Porque muitos enganadores
têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam
Jesus Cristo vindo em carne: assim é o enganador e o
anticristo.” Esses enganadores são os mentirosos, os
falsos profetas, que negam que Jesus é Deus
encarnado e desta maneira negam a deidade de
Cristo. João claramente diz que esses enganadores
são anticristos.
No passado, vários mestres da Bíblia haviam
usado o título. anticristo de modo particular. Na
Segunda Epístola aos Tessalonicenses 2:3 e 4 Paulo
fala do homem da iniqüidade, “o filho da perdição, o
qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama
Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no
santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o
próprio Deus.” ComofoiprofetizadoemDanieI7:20-21,
24-26; 8:9-12, 23-25; 9:27 e 11:36-37, esse homem da
iniquidade lançará por terra a verdade, mudará as
leis, destruirá e corromperá muitos em um grau
extraordinário, blasfemará contra Deus e enganará os
homens. Paulo profetizou a vinda deste homem da
iniqüidade.
Em Apocalipse 13 temos duas bestas: a primeira
besta vindo do mar e a segunda da terra. A segunda
besta é o falso profeta, que trabalha para a primeira
besta: “Exerce toda a autoridade da primeira besta na
sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes
adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora
curada” (v. 12). A primeira besta será o último César
do reino do Império Romano restaurado, e a segunda
besta, o falso profeta, trabalhará para ele.
Por causa destas profecias, muitos mestres da
Bíblia têm utilizado o título “anticristo” ao homem da
iniqüidade vindouro, o qual se exaltará acima de
Deus e fará com que o adorem, e se oporá e
perseguirá os cristãos e judeus. Ele também é
identificado com a primeira besta em Apocalipse 13.
Certamente não é incorreto aplicar o título anticristo
a esta pessoa.
A INTENÇÃO DE DEUS
Como resultado de muitos anos de experiência e
estudo, vimos que, de acordo com toda a revelação na
Bíblia, a intenção de Deus é trabalhar a Si mesmo
para dentro de nós de maneira que Ele seja nossa vida
e que vi vamos por intermédio Dele, a fim de sermos
Sua expressão. Esta é a intenção de Deus. Para Deus
cumprir esta intenção, é necessário que Ele seja
triúno. Sem ser triúno, isto é, sem ser o Pai, o Filho e
o Espírito, Deus não teria maneira de trabalhar-se
para dentro de nós. Para trabalhar-se em nós, Deus
deve primeiro comunicar a Si mesmo a nós, dispensar
a Si mesmo para dentro de nós. Se não puder fazer
isso, Ele não pode trabalhar-se em nós para ser nossa
vida. Seria impossível para o Deus Triúno ser nossa
vida se Ele permanecesse meramente como Aquele
fora de nós em quem crêssemos, adorássemos e por
quem trabalhássemos. Para que Deus seja nossa vida,
Ele deve dispensar a Si mesmo para o nosso interior,
e para que este dispensar seja levado a cabo, Deus
deve ser o Pai, o Filho e o Espírito.
O CRIADOR E A CRIATURA
Vemos aspectos adicionais da Pessoa de Cristo
no capítulo um de Colossenses. De acordo com
Colossenses 1:15, Cristo é o primogênito de toda a
criação, e de acordo com o versículo 18, Ele é o
primogênito de entre os mortos. Como o Primogênito
de toda a criação, Cristo é o primeiro entre as
criaturas de Deus, assim como o Primogênito de entre
os mortos significa que Ele é o primeiro na
ressurreição. Entretanto, alguns mestres da Bíblia
admitirão que Cristo é o primeiro na ressurreição,
mas eles não dirão que Cristo é o primeiro na criação
de Deus. É um absurdo dizer que Cristo é o primeiro
na ressurreição, mas não é o primeiro na criação. O
título “Primogênito” é usado duas vezes no mesmo
capítulo, referindo-se a Cristo como sendo o
Primogênito na criação de Deus e também na
ressurreição. A teologia tradicional admite que Cristo
é o primeiro na ressurreição, mas não que Cristo seja
o primeiro na criação de Deus.
Alguns mestres e teólogos não dirão que Cristo é
uma criatura. Eles alegam que é impossível que
Cristo, o próprio Deus, o Criador, seja uma criatura.
No entanto, com relação à Sua humanidade, Cristo
certamente é uma criatura. A Bíblia clara e
definitivamente diz que Cristo participou de carne e
sangue (Hb 2:14). Cristo tomou-se um homem
possuindo sangue e carne. Não é verdade que o
homem é uma criatura? Não é verdade que sangue e
carne são elementos da criação? Certamente a
humanidade, carne e sangue são todos coisas criadas.
Na verdade, dizer que Cristo não é uma criatura é
quase o mesmo que dizer que Cristo não veio em
carne, como é condenado em 1 João 4.
Alguns daqueles que negam que Cristo seja uma
criatura têm uma boa intenção. A intenção deles é
preservar a deidade de Cristo. Segundo o
entendimento deles, dizer que Cristo é uma criatura é
tirar Sua deidade e Sua posição como Criador, o Deus
todo-poderoso. Em princípio, isso é o que os
docetistas fizeram. A concepção herética dos
docetistas era de que Jesus Cristo não foi um homem
verdadeiro, mas simplesmente apareceu para ser um
homem em carne. Eles ensinavam que uma vez que
Cristo é santo, Ele nunca poderia ter tido a corrupção
da carne humana. Portanto, eles ensinavam que Seu
corpo não era verdadeira carne e sangue, mas
meramente uma aparição transitória. Apegando-se ao
conceito de que a matéria é inerentemente má, os
docetistas negavam que Cristo veio em carne. Embora
os docetistas tivessem uma boa intenção, eles não
obstante seguiram o princípio do anticristo, pois
negavam algo do que Cristo é. Durante Sua vida na
terra, o Pai estava com Ele. Assim, quando o Filho
veio ser um homem, Ele viveu como um homem no
nome do Pai e com o Pai.
O Senhor Jesus até mesmo disse que, enquanto
Ele estava na terra como um homem, Ele estava no
Pai e o Pai estava Nele. Em João 10:38Eledisse: “Mas,
se faço, e não me credes, crede nas obras; para que
possais saber e compreender que o Pai está em mim,
e eu estou no Pai.” Então em João 14:10 e 11 Ele disse,
em resposta ao pedido de Felipe para que lhes
mostrasse o Pai: “Não crês que eu estou no Pai e que o
Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as
digo por mim mesmo; mas o Pai que permanece em
mim, faz as suas obras. Crede-me que estou no Pai, e
o Pai em mim.” Essa é uma questão não somente da
coexistência do Pai e do Filho, mas também da
coinerência do Pai e do Filho. Isso significa que o Pai
e o Filho existem um no outro. Portanto, o Pai e o
Filho coexistem à maneira da coinerência. Por ter o
Filho vindo com o Pai e no nome do Pai e por Ele
coexistir à maneira da coinerência com o Pai, Ele é
chamado de Pai eterno (Is 9:6). Não podemos
analisar nem sistematizar isso. Em vez de tentar
analisar ou sistematizar o Deus Triúno, devemos
simplesmente aceitar os fatos como são revelados na
Bíblia.
Você já ouviu dizer que quando o Filho veio, Ele
veio no nome do Pai e com o Pai? Como já dissemos,
alguns cristãos têm a impressão de que quando o
Filho de Deus veio, Ele veio por Si mesmo, deixando o
Pai no trono. Estes cristãos não aprenderam, de
acordo com as Escrituras, que quando o Filho de
Deus veio como homem, Ele veio com o Pai. O Pai
estava Nele, e Ele estava no Pai. Essa foi a razão de
Ele poder dizer que nunca estava sozinho, pois o Pai
estava com Ele, mesmo na hora de Sua perseguição.
Como salientamos a partir do Evangelho de João, o
Pai estava com o Filho à maneira da coinerência.
Aqueles que estão sob a influência da teologia
tradicional podem ainda pensar que quando o Filho
de Deus veio, Ele deixou o Pai no trono. De acordo
com este conceito, enquanto o Filho estava vivendo
em Nazaré cumprindo Seu ministério, o Pai estava no
trono nos céus observando-O. O que é revelado
acerca do Pai e do Filho no Evangelho de João é
muito diferente. João 1:1 diz: “No princípio era a
palavra, e a palavra estava com Deus, e a palavra era
Deus” (NVI). Por meio disso vemos não somente que
Cristo, a Palavra, estava com Deus, mas que Ele é
Deus. De acordo com João 1:14, a Palavra tomou-se
carne; isto é, Cristo tomou-se um homem, Deus
encarnado. Em Seu ensinamento e pregação o Senhor
afirmou que Ele veio no nome do Pai e com o Pai. Ele
também disse tanto aos religiosos judeus quanto aos
Seus discípulos que Ele não estava só, pois o Pai
sempre estava com Ele. Além do mais, Ele revelou a
Seus discípulos que Ele está no Pai e o Pai está Nele.
Portanto, é totalmente impreciso dizer que quando o
Filho veio, Ele deixou o Pai no trono.
DIFERENTES ENSINAMENTOS E
DIFERENTES ESPÍRITOS
Em 4:1 João diz: “Amados, não deis crédito a
qualquer espírito: antes, provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm
saído pelo mundo fora.” Esse versículo diz-nos
claramente para provar, discernir, os espíritos. Não
devemos achar que um ensinamento em particular
simplesmente venha daquele que ensina em si. Não,
todo ensinamento, seja correto ou errado, vem por
um espírito. Assim como há diferentes ensinamentos,
também há diferentes espíritos. Portanto, precisamos
testar os espíritos para ver se têm sua fonte em Deus,
se são provenientes de Deus. No versículo 2 João diz
que todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio
em carne é de Deus. Mas no versículo 3 ele diz que
todo espírito que não confessa a Jesus não procede de
Deus, pois este é o espírito do anticristo.
As expressões “todo espírito” nos versículos 2 e 3
e “os espíritos” no versículo 1 referem-se ou ao
espírito dos profetas (1Co 14:32) movido pelo Espírito
da verdade, ou ao espírito dos falsos profetas
impulsionado pelo espírito do engano. Todo profeta,
seja um profeta verdadeiro ou um falso, tem seu
próprio espírito. Quando um profeta verdadeiro fala
com seu espírito, há a motivação do Espírito de Deus.
Mas quando um falso profeta fala, seu espírito é
impulsionado por outro espírito, por um espírito de
engano. Portanto, há a necessidade de discernir os
espíritos por prová-los, para ver se provêm de Deus.
Não devemos achar que ensinar é mera questão
de mente e boca. Com cada tipo de falar, cada tipo de
ensino, o espírito do orador ou é motivado pelo
Espírito de Deus ou é impulsionado por um espírito
de engano. Isso significa que o falar de qualquer tipo
de doutrina sempre vem de certo tipo de espírito: ou
do espírito de um profeta genuíno motivado pelo
Espírito de Deus ou do espírito de um falso profeta
impulsionado por um espírito maligno.
CONHECER E CRER
Em 4:16 João diz: “E nós conhecemos e cremos o
amor que Deus nos tem. Deus é amor, e aquele que
permanece no amor permanece em Deus, e Deus,
nele.” Aqui João diz que conhecemos e cremos o amor
que Deus nos tem. Esse amor é o amor de Deus ao
enviar o Filho para ser nosso Salvador (4:14).
É significativo que em 4:16 João coloque a
palavra “conhecemos” antes de “cremos”. Como
salientamos na mensagem anterior, esse conhecer
envolve experiência e desfrute. O fato de que segundo
4:16 conhecemos e então cremos indica que primeiro
experimentamos e desfrutamos, e em seguida nós
cremos. Entretanto, nosso conceito pode ser que
primeiro cremos, e então experimentamos. No
entanto, se não tivermos muita experiência e desfrute
do amor de Deus, não seremos capazes de crer muito
neste amor. Mas depois de desfrutarmos dele e o
experimentarmos, certamente creremos o amor que
Deus nos tem.
As palavras “nos tem” significam tem em nosso
caso, ou tem com relação a nós. Portanto,
conhecemos e cremos o amor que Deus tem em
relação a nós.
Em 4:16 João novamente diz: “Deus é amor”. Foi
manifestado que Deus é amor ao enviar Ele Seu Filho
para ser nosso Salvador e vida (4:9-10, 14).
PERMANECER EM DEUS
Em 4:16 João diz que aquele que permanece no
amor permanece em Deus, e Deus permanece nele.
Permanecer no amor é viver uma vida que ama os
outros habitualmente com o amor que é o próprio
Deus, de tal modo que Ele seja expresso em nós.
Permanecer em Deus é viver uma vida que é o próprio
Deus como nosso conteúdo interior e expressão
exterior, de modo que sejamos absolutamente um
com Ele. Deus permanece em nós para ser nossa vida
interiormente e nosso viver exteriormente. Assim, Ele
pode ser um conosco de maneira prática.
Em 4:16 vemos que há uma união orgânica entre
nós e Deus. Essa união orgânica é indicada pela
palavra “em”. É interessante que João não diz que
Deus é amor e que aquele que permanece em Deus
permanece no amor. Em vez disso, ele diz que aquele
que permanece no amor permanece em Deus. Para
nós, o anterior parece ser mais lógico. Mas o último é
mais prático e real. Dizer que permanecemos em
Deus quando permanecemos no amor significa que o
próprio amor no qual permanecemos é o próprio
Deus. Isso indica que o amor que temos para com os
outros deve ser o próprio Deus. Se permanecemos no
amor, que é o próprio Deus, então permanecemos em
Deus, e Deus permanece em nós.
UM AMOR TRIANGULAR
Em 5:1 João prossegue dizendo: “Todo aquele
que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo
aquele que ama ao que o gerou, também ama ao que
dele é nascido.” Os gnósticos e cerintos não criam na
igualdade de Jesus e o Cristo. Portanto, eles não eram
filhos de Deus, nascidos de Deus. Mas todo aquele
que crê que o Homem Jesus é o Cristo, Deus
encarnado (Jo 1:1, 14; 20:31), é nascido de Deus e
tomou-se filho de Deus (101:1213). Tal pessoa ama
Deus Pai que o gerou e também ama o irmão que foi
gerado do mesmo Pai. Isso explica, confirma e
fortalece as palavras nos versículos anteriores (1
J04:20-21).
Em 5:1 temos uma indicação de que o amor
fraternal é na verdade um amor triangular, isto é, um
amor que envolve três partes. Como filhos de Deus
nascidos Dele, certamente amamos nosso Pai, Aquele
que nos gerou. Então, de acordo com 5:1, se amamos
o Pai que gera, também amamos aqueles que foram
gerados Dele. Aqui temos um amor triangular, um
amor envolvendo Deus, nós mesmos e aqueles
nascidos de Deus. Este amor triangular está na união
orgânica com o próprio Deus que é amor.
João enfatiza o nascimento divino (5:1; 2:29; 3:9;
4:7; 5:1, 4, 18). Como é possível que amemos a Deus e
aos outros? Isso é possível somente porque tivemos o
nascimento divino. Nascemos de Deus, fomos
gerados Dele, e por causa deste nascimento somos
capazes de amar os outros. Como salientamos, este é
um amor triangular. Portanto, o amor triangular está
relacionado ao nascimento divino. Todo aquele que
crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus. Agora
amamos não somente Aquele que nos gerou, nosso
Pai gerador, mas também aqueles que nasceram Dele.
Este é o amor triangular relacionado ao nascimento
divino, como está revelado em 5:1.
A NOSSA FÉ
Em 5:4b João diz: “E esta é a vitória que vence o
mundo, a nossa fé.” Essa é a fé que crê que Jesus é o
Filho de Deus (5:5), que podemos nascer de Deus e
ter Sua vida divina, pela qual somos capacitados a
vencer o mundo organizado e usurpado de Satanás.
Na verdade, nossa confiança não deve estar em
nossa fé propriamente dita. A fé por si mesma não
vence o mundo. Nossa fé nos introduzem uma união
orgânica, e é esta união orgânica, não diretamente a
fé, que vence o mundo. Podemos usar a questão de
ligar a corrente elétrica como ilustração. O ato de
ligar o interruptor não é a força em si. É o meio
através do qual os utensílios são levados a uma união
com a eletricidade. De modo semelhante, podemos
dizer que a fé é o meio para que fiquemos “ligados” ao
Deus Triúno. Por crermos no Senhor Jesus, somos
introduzidos numa união orgânica com o Deus
Triúno; ficamos “ligados” a Ele. Essa união,
produzida pela fé, então vence o mundo.
O TESTEMUNHO DE DEUS
Em 5:9 João prossegue dizendo: “Se admitimos o
testemunho dos homens, o testemunho de Deus é
maior; ora, este é o testemunho de Deus, que ele dá
acerca do seu Filho.” O testemunho de Deus aqui é o
testemunho pela água, pelo sangue, e pelo Espírito,
de que Jesus é o Filho de Deus. Este testemunho é
maior do que o dos homens.
O versículo 10 diz: “Aquele que crê no Filho de
Deus tem em si o testemunho. Aquele que não dá
crédito a Deus, o faz mentiroso, porque não crê no
testemunho que Deus dá acerca do seu Filho.” Deus
testificou acerca de Seu Filho para que crêssemos
Nele e tivéssemos Sua vida divina. Se cremos no Seu
Filho, recebemos e temos Seu testemunho em nós
mesmos. Caso contrário, não cremos no que Ele
testificou e fazemo-Lo mentiroso.
A COMUNHÃO DIVINA
O versículo 14 diz: “E esta é a confiança que
temos para com ele, que, se pedirmos alguma coisa
segundo a sua vontade, ele nos ouve.” A palavra “e”
no início desse versículo é importante. Sem essa
palavra, poderíamos achar que 5:14-17 é uma seção
separada da anterior e que nada tem a ver com ela.
Poderíamos pensar também que aquilo que o escritor
abrange no versículo 14 aparece de repente. Na
verdade, entretanto, segundo fatos espirituais, o que
João fala no versículo 14 não é uma surpresa. Pelo
contrário, é um fluir espontâneo dos versículos
anteriores.
A Primeira Epístola de João 5:4-13 mostra-nos
que recebemos a vida eterna, como é mencionado em
1:1-2. Então os versículos 14a 17 dizem-nos como
oramos na comunhão da vida eterna, como
mencionado em 1:3-7. Os primeiros sete versículos do
capítulo 1 indicam que recebemos a vida eterna, e a
partir dessa vida eterna temos comunhão com os
apóstolos e também com o Pai e o Filho. O princípio é
o mesmo em 5:14-17. Em 5:413 recebemos a vida
eterna, e em 5:14-17 estamos na comunhão desta
vida. Obviamente a palavra “comunhão” não está
nesses versículos, eles falam de oração. Quando
oramos por meio da vida divina, estamos na
comunhão da vida Divina. Portanto, esses versículos
de fato referem-se à comunhão divina.
O CASO DE MOISÉS
Não deveríamos pensar que um pecado
específico seja sério e seja para morte e que outro
pecado não seja sério e não seja para morte.
Considere o caso de Moisés em Números 20. Moisés
foi provocado e, como resultado, fez algo que não
estava de acordo com a vontade de Deus: ele bateu na
rocha uma segunda vez. Bater na rocha duas vezes
estava contra o princípio básico de Deus. A rocha
tipifica Cristo, e Deus não tinha intenção que Cristo
fosse ferido duas vezes. A primeira vez Moi sés bateu
na rocha de acordo com a palavra de Deus (Êx 17:1-6).
Mas na segunda vez que Moisés bateu na rocha não
foi segundo a palavra de Deus. Deus disse a Moisés
que falasse à rocha. Mas, sendo provocado, Moisés
bateu nela uma segunda vez. Devido àquele erro, a
Moisés, embora fosse tão achegado a Deus, não foi
permitido entrar na boa terra: “Mas o Senhor disse a
Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para
me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso
não fareis entrar este povo na terra que lhe dei” (Nm
20:12). De acordo com Deuteronômio 32:48-52, o
Senhor disse a Moisés que subisse à montanha e
morresse, pois ele e Arão haviam transgredido contra
o Senhor “no meio dos filhos de Israel, nas águas de
Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois me não
santificastes no meio dos filhos de Israel” (v. 51).
Podemos achar que Moisés cometeu apenas um
pequeno engano. Mas de acordo com o tratamento
governamental de Deus, aquele foi um pecado para
morte. O caso de Moisés ilustra o fato de que em nós
mesmos não somos qualificados ou capazes de
discernir que tipo de pecado é para morte. Podemos
ter este discernimento apenas quando somos
absolutamente um com o Senhor.
O NASCIMENTO DIVINO
Em 5:18-21 temos uma conclusão vigorosa da
Epístola de 1 João. Nessa conclusão, João uma vez
mais enfatiza o nascimento divino (v. 18). Como já
salientamos, esse livro está estruturado com o
nascimento divino, a vida divina, a comunhão divina,
a unção divina e todas as virtudes que provêm do
nascimento divino. Espero que todos tenhamos uma
profunda impressão com respeito ao nascimento
divino, com respeito ao fato de que nascemos de
Deus. Precisamos também ficar profundamente
impressionados com relação à vida Divina, a qual foi
semeada como a semente divina dentro do nosso ser;
com relação à comunhão divina, a fim de
desfrutarmos as riquezas da vida divina; com relação
à unção divina, por meio da qual permanecemos no
Senhor e temos comunhão com Ele; e com relação a
todas as virtudes que procedem do nascimento
divino. No que diz respeito a essas questões, não
devemos ter mero conhecimento; precisamos tocar a
profundeza da realidade dessas coisas nessa Epístola.
Em 5:18 João diz: “Sabemos que todo aquele que
foi gerado de Deus não peca, antes, aquele que é
gerado de Deus guarda a si mesmo, e o maligno não
lhe toca” (lit.). Para evitar de pecar, o que não
somente interrompe a comunhão da vida divina
(1:610), mas também pode até mesmo trazer morte
física (5:16-17), o apóstolo enfatiza aqui novamente,
com a garantia da capacidade da vida divina, nosso
nascimento divino, que é a base da vida vitoriosa.
Esse fato básico não nos permite, os que somos
regenerados, praticar pecado (3:9), isto é, viverem
pecado (Rm 6:2).
O VERDADEIRO
Em 5:20 João, por duas vezes, fala “o que é
verdadeiro” (IBB — Rev.). Uma tradução melhor seria
“o verdadeiro”. Falar de Deus simplesmente como
Deus pode ser falar Dele de forma muito objetiva.
Entretanto, o termo “o verdadeiro” é subjetivo; ele se
refere a Deus tornando-se subjetivo para nós. Nesse
versículo, o Deus que é objetivo torna-se o verdadeiro
em nossa vida e experiência.
Qual é o significado da expressão: “o
verdadeiro”? Em particular, que significa a palavra
“verdade”? Aqui a palavra grega traduzida como
“verdadeiro” é alethinos, genuíno, real (um adjetivo
similar a aletheia, verdade, veracidade, realidade —
Jo 1:14; 14:6, 17), oposto de falso e imitação. De fato,
o verdadeiro é arealidade. O Filho de Deus deu-nos
entendimento para conhecermos — isto é,
experimentar, desfrutar e possuir — essa realidade
divina. Portanto, conhecer o verdadeiro significa
conhecer a realidade por experimentar, desfrutar e
possuir essa realidade.
A Primeira Epístola de João 5:20 indica que
Deus tornou-se nossa realidade em nossa
experiência. O Filho de Deus veio por meio da
encarnação e da morte e ressurreição, e tem-nos dado
entendimento para podermos experimentar,
desfrutar e possuir a realidade, que é o próprio Deus.
Agora, o Deus que uma vez foi objetivo para nós
tornou-se nossa realidade subjetiva.
Em 5:20 João diz que estamos no verdadeiro.
Nós não somente conhecemos o verdadeiro Deus;
também estamos Nele. Não somente temos
conhecimento sobre Ele; estamos em uma união
orgânica com Ele. Somos um com Ele organicamente.
Quando João diz que estamos no verdadeiro, ele
está tocando um ponto crucial. Não somente
conhecemos o verdadeiro, e não somente O
experimentamos, desfrutamos e possuímos como a
realidade, mas estamos nesta realidade. Estamos no
verdadeiro.
O TEMA DA EPÍSTOLA
O tema desse livro é a proibição de participar em
heresia. João fala sobre heresia no versículo 7:
“Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo
fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em
carne: assim é o enganador e o anticristo.” Certas
pessoas heréticas negavam que Jesus é o Cristo (1Jo
2:22), e outras negavam o Filho, não confessando que
Jesus é o Filho de Deus (1Jo 2:23). Cerinto, que
negava que Jesus é o Cristo, era um herético. Os
docetistas e os gnósticos também ensinavam heresia
com relação à Pessoa de Cristo.
A Epístola de 2 João nos proíbe de tomar parte
em qualquer ensinamento herético concernente à
Pessoa de Cristo. No versículo 10, o apóstolo João diz:
“Se alguém vem ter convosco, e não traz este ensino,
não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis”
(IBB-Rev.). Como no versículo 9, o “ensino” aqui é o
ensinamento com respeito à deidade de Cristo,
especialmente acerca da Sua encarnação por meio da
concepção Divina. Nessa Epístola, João nos adverte a
não receber alguém que negue a verdade com relação
à deidade de Cristo e Sua encarnação.
INTRODUÇÃO
Amar na Verdade para a Verdade
No versículo 1 João diz: “O presbítero à senhora
eleita e aos seus filhos a quem eu amo na verdade, e
não somente eu, mas também todos os que conhecem
a verdade.” O apóstolo João, assim como Pedro,
também era um presbítero na igreja em Jerusalém
antes de sua destruição em 70cf. C. (Gl 2:9; 1 Pe5:1).
De acordo com a história, após retomar do exílio,
João permaneceu em Éfeso para cuidar das igrejas na
Ásia. Assim, ele provavelmente também era um
presbítero na igreja em Éfeso, onde escreveu essa
epístola.
João endereça essa epístola à “senhora eleita e
aos seus filhos.” A palavra grega traduzida como
“senhora” ékuria, a forma feminina de kurios,
senhor, mestre. Há diferentes interpretações da
palavra aqui. A mais provável é que ela se refira a
uma irmã em Cristo com certa proeminência na
igreja, como a “c o-eleita” em 1 Pedro 5:13 (IBB —
Rev.). Kuria pode ter sido seu nome, visto ter sido um
nome comum naquele tempo. Segundo alguns
relatos, ela viveu perto de Éfeso, e sua irmã (no v. 13)
viveu em Éfeso, onde a igreja estava sob o cuidado de
João. Havia uma igreja em sua localidade
reunindo-se em sua casa.
No versículo 1, João fala acerca de amar na
verdade. De acordo com o uso de João da palavra
verdade, especialmente em seu Evangelho, a primeira
ocorrência de “verdade”, neste versículo, denota a
realidade divina revelada — o Deus Triúno
dispensado para dentro do homem no Filho Jesus
Cristo — tornando-se a genuinidade e sinceridade do
homem, para ter um vi ver que corresponda à luz
divina (Jo 3:19-21) e para adorar a Deus, como Deus
busca, de acordo com o que Ele é (Jo 4:23-24). Essa é
a virtude de Deus (Rm 3:7; 15:8) tornando-se nossa
virtude, por meio da qual amamos os crentes. Essa é a
genuinidade, autenticidade, sinceridade,
honestidade, integridade e fidelidade de Deus como
virtude divina e do homem como virtude humana
(Mc 12:14; 2Co 11:10; Fp 1:18; 1 J03:18), e como
resultado da realidade divina (3Jo 1). Em tal verdade,
o apóstolo João, que vivia na realidade divina da
Trindade, amava aquela para quem escreveu. Essa é a
denotação do primeiro uso de “verdade” neste
versículo.
Falando de maneira simples, o primeiro uso de
verdade no versículo 1 denota sinceridade, e João está
falando de amar em sinceridade. No entanto, o
significado de sinceridade aqui não é simples.
Usualmente, quando falamos de sinceridade,
entendemos como sendo mera virtude humana. Mas,
aqui, sinceridade é mais do que uma virtude humana.
A virtude humana na qual o apóstolo João amava
aquela que recebia essa epístola era o resultado da
realidade divina que ele desfrutava.
Que é a realidade divina desfrutada por João?
Essa realidade é o Deus Triúno. O escritor desta
epístola desfrutava o Deus Triúno no Filho como sua
realidade divina. Proveniente do desfrute dessa
realidade, que é o Deus Triúno em Cristo, resultou a
sinceridade. Esta sinceridade ou fidelidade é na
verdade uma virtude de Deus. Quando desfrutamos
Deus como nossa realidade, Sua virtude Divina
torna-se nossa virtude humana, e essa virtude
humana é sinceridade, fidelidade.
Esse entendimento de amar na verdade baseia-se
no que é revelado na Primeira Epístola de João.
Naquela epístola João revela que devemos amar uns
aos outros por meio do próprio Deus como amor.
Deus é amor (1Jo 4:8, 16). Enquanto desfrutamos
Deus como amor, proveniente desse amor resulta um
amor com o qual amamos os outros. Quando amamos
os outros com o amor que resulta do nosso desfrute
de Deus como amor, nosso amor será em sinceridade.
Esta sinceridade não é nossa virtude humana; antes,
é o resultado do nosso desfrute da realidade divina.
Ao considerarmos o que João quer dizer com
amar na verdade, no versículo 1, faz-nos lembrar de
que não é uma questão superficial conhecer a Bíblia.
Em particular, não é suficiente conhecer as Epístolas
de João superficialmente. Somente quando
adentramos as profundezas destas epístolas podemos
conhecer o que o escritor quis dizer.
No versículo 1 João fala de “todos os que
conhecem a verdade.” Aqui João se refere àqueles que
não apenas receberam a Cristo por crerem que Ele é
tanto Deus como homem, mas àqueles que também
conheciam plenamente a verdade acerca da Pessoa de
Cristo.
Ao final do versículo 1 João novamente usa a
palavra verdade. Aqui, verdade denota a realidade
divina do evangelho, especialmente concernente à
Pessoa de Cristo, como revelado no Evangelho e na
Primeira Epístola de João. A realidade divina do
evangelho aqui inclui especialmente o fato de que
Cristo é tanto Deus como homem, possuindo a
deidade e a humanidade, possuindo tanto a natureza
divina como a natureza humana, para expressar Deus
na vida humana e para cumprir a redenção com
poder divino na carne humana pelos seres humanos
caídos, de tal modo que Ele possa dispensar a vida
divina para dentro deles e introduzi-los em uma
união orgânica com Deus. As segunda e terceira
epístolas de João enfatizam essa verdade. A segunda
previne os crentes fiéis contra receber aqueles que
não permanecem nesta verdade — no ensinamento
sobre Cristo. A terceira encoraja os crentes a receber e
ajudar aqueles que trabalham por esta verdade.
No versículo 2 João prossegue dizendo: “Por
causa da verdade que permanece em nós, e conosco
estará para sempre.” O apóstolo João, em seu
Evangelho e primeira Epístola, vacinou os crentes
com seu ministério remendador com respeito à
revelação da Pessoa de Cristo contra as heresias
acerca da deidade e humanidade de Cristo. Por causa
de tal verdade vacinadora, ele e todos aqueles que
conheceram esta verdade amavam aqueles que eram
fiéis a esta verdade.
No versículo 2 João diz que a verdade permanece
em nós e estará conosco para sempre. No versículo 1
ele nos diz que ele e todos aqueles que conheciam a
verdade amavam na verdade aquela a quem esta
Epístola foi escrita. No versículo 2 João usa a palavra
verdade como mesmo significado da segunda
ocorrência no versículo 1, isto é, para denotar a
realidade divina do evangelho, especialmente com
relação à Pessoa de Cristo. Essa realidade divina, que
na verdade é o Deus Triúno, permanece em nós agora
e estará conosco pela eternidade.
Em Verdade
Nos versículos de 4 a 6, João fala sobre o andar
na verdade e amor. O versículo 4 diz: “Fiquei
sobremodo alegre em ter encontrado dentre os teus
filhos os que andam na verdade, de acordo com o
mandamento que recebemos da parte do Pai.” A
verdade concernente à Pessoa de Cristo é o elemento
básico e central do ministério de remendar de João.
Quando ele encontrou os filhos da fiel crente andando
na verdade, regozijou-se grandemente (2Jo 3-4).
No versículo 4 João usa a palavra “andar”. Do
mesmo modo como em 1 João 1:7, onde João fala
sobre andar na luz, a palavra “andar” significa viver,
portar-se e ter nosso ser. A verdade concernente à
Pessoa de Cristo deveria não somente ser nossa
crença; ela deveria também ser nosso viver.
Uma vez mais, verdade aqui denota a realidade
divina, especialmente com respeito à Pessoa de
Cristo. O Pai nos ordena a andar nesta realidade, isto
é, na percepção do fato divino de que Jesus Cristo é o
Filho de Deus (ver Mt 17:5), para que honremos ao
Filho como o Pai deseja (Jo 5:23).
O Pai nos ordena a andar na verdade, na
realidade. Ele nos ordena a andar na percepção do
fato divino de que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Se
andarmos nesta realidade, honraremos o Filho de
acordo com o desejo do Pai.
Em Amor
Nos versículos 5 e 6 João prossegue dizendo: “E
agora, senhora, peço-te, não como se escrevesse
mandamento novo, senão o que tivemos desde o
princípio, que nos amemos uns aos outros. E o amor é
este, que andemos segundo os seus mandamentos.
Este mandamento, como ouvistes desde o princípio, é
que andeis nesse amor.” A frase “desde o princípio” é
encontrada inúmeras vezes nos escritos de João. Em
certos momentos essa frase é usada no sentido
absoluto (1Jo 1:1; 3:8), mas aqui nos versículos5 e6,
como em outras partes (Jo 15:27; 1Jo 2:7), ela é usada
no sentido relativo.
O mandamento citado nos versículos 5 e 6 é o
mandamento dado pelo Filho de que devemos amar
uns aos outros (Jo 13:34). O Pai nos ordena a andar
na verdade para honrar ao Filho, e o Filho nos ordena
a amar uns aos outros para expressá-Lo.
ESTUDO-VIDA DE 2 JOÃO
MENSAGEM 2
NÃO PARTICIPAR EM HERESIA
ENGANADORES E ANTICRISTOS
O versículo 7 diz: “Porque muitos enganadores
têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam
Jesus Cristo vindo em carne: assim é o enganador e o
anticristo.” Os enganadores mencionados aqui eram
heréticos, como os ceríntios, os falsos profetas (1Jo
4:1).
Esses enganadores não confessam Jesus Cristo
vindo em carne. Isso significa que eles não confessam
que Jesus é o Deus encarnado. Assim, eles negam a
deidade de Cristo. Jesus foi concebido do Espírito (Mt
1:18). Confessar que Jesus veio em carne é confessar
que Ele foi divinamente concebido para nascer como
o Filho de Deus (Lc 1:31-35). Os enganadores, os
falsos profetas, não fariam tal confissão.
No versículo 7 João diz que aqueles que não
confessam a Jesus vindo em carne são não apenas
enganadores, mas também anticristos. Vimos que um
anticristo difere de um falso Cristo (Mt 24:5, 24). Um
falso Cristo é alguém que finge enganosamente ser o
Cristo, enquanto um anticristo é alguém que nega a
deidade de Cristo, negando que Jesus é o Cristo, isto
é, negando o Pai e o Filho por negar que Jesus é o
Filho de Deus (1Jo 2:22), não confessando que Ele
veio em carne mediante a concepção divina do
Espírito Santo (1Jo 4:2-3). Quem quer que negue a
Pessoa de Cristo é um anticristo.
A REALIDADE DIVINA
As três epístolas de João estão arranjadas em
uma boa seqüência. Sem dúvida, o escrito da segunda
epístola baseava-se na primeira. Na Primeira Epístola
de João vemos o que é a verdade divina.
Em 1975 dei uma série de mensagens sobre os
sete mistérios em 1 João: o mistério da vida divina, o
mistério da comunhão divina, o mistério do
permanecer, o mistério da unção, o mistério do
nascimento divino, o mistério da semente divina e o
mistério da água, do sangue e do Espírito.
Recentemente, tenho sido profundamente
impressionado com a real idade divina na Primeira
Epístola de João. O fator central em I João é a
realidade divina. Esta realidade é na verdade o Deus
Triúno. A realidade divina é o Deus Triúno não
meramente na teologia ou doutrina; esta realidade é o
Deus Triúno em nossa experiência, isto é, o Deus
Triúno dispensado para dentro de nós para nosso
desfrute. Essa é a realidade divina em 1 João.
INTRODUÇÃO
Amar na Verdade
O início de 3 João é semelhante ao de 2 João. No
versículo 1 o apóstolo João diz: “O presbítero ao
amado Gaio, a quem eu amo na verdade.” Como
Pedro, João era um presbítero na Igreja em
Jerusalém antes de sua destruição em 70 cf. C. De
acordo com a história, depois de voltar do exílio, João
permaneceu em Éfeso para cuidar das igrejas na Ásia.
Provavelmente ele era um presbítero na igreja em
Éfeso, onde escreveu esta epístola.
A epístola de 3 João está endereçada ao “amado
Gaio”. Este não é o Gaio da Macedônia (At 19:29), o
Gaio de Derbe (At 20:4) nem o Gaio de Corinto (1Co
1:14; Rm 16:23), mas um outro com o nome de Gaio,
um nome bastante comum naquele tempo. Conforme
o conteúdo desta epístola, Gaio deve ter sido um
irmão proeminente na igreja.
No versículo 1 João fala sobre amar Gaio na
verdade. Aqui, “verdade” denota a realidade Divina
revelada — o Deus Triúno dispensado para dentro do
homem no Filho Jesus Cristo tornando-se a
genuinidade e sinceridade do homem, para viver uma
vida que corresponda à luz divina (J03:19-21) e para
adorar a Deus, como Deus busca, de acordo com o
que Ele é (J04:2324). Esta é a virtude de Deus
(Rm3:7; 15:8) tornando-se nossa virtude, por meio da
qual amamos os crentes. Em tal verdade, o apóstolo
João, que vivia na realidade divina da Trindade,
amava o amado Gaio.
O AUTO-EXALTADO E DOMINADOR
DIÓTREFES — UM MAU EXEMPLO
Em 3 João 9-12 João dá dois exemplos: o
exemplo negativo de Diótrefes (v. 9) e o exemplo
positivo de Demétrio (v. 12). No versícul09Joãodiz:”
Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que
gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá
acolhida.” A igreja aqui é a igreja da qual Gaio era
membro.
O nome Diótrefes é composto de Dios (do nome
de Zeus, que era o principal dos deuses no panteon
grego) e trepho, nutrir; assim, nutrido por Zeus. Isso
indica que Diótrefes, como um professo cristão,
nunca largou seu nome pagão. Isso era contrário à
prática dos primeiros crentes, que tomavam um
nome cristão em seu batismo. De acordo com a
história, Diótrefes defendia a heresiagnóstica, que
blasfema a Pessoa de Cristo.
João diz que Diótrefes amava ser o primeiro
entre os da igreja e não recebia o apóstolo. Isso
significa que Diótrefes não o recebia com
hospitalidade.
Diótrefes, ao amar ser o primeiro, era contra as
palavras do Senhor Jesus em Mateus 20:25-27 e
23:8-11, que coloca todos os Seus crentes no mesmo
nível, de irmãos. Em 2 João 9 os ceríntios gnósticos
tomaram a frente para avançar na doutrina, indo
além do ensinamento concernente a Cristo. Aqui em
3 João 9 vemos alguém que estava sob a influência da
doutrina gnóstica herética, amando ser o primeiro na
igreja. O problema da doutrina gnóstica era o da
arrogância intelectual; o problema de amar ser o
primeiro era o da auto-exaltação na ação. Estes dois
males são armas afiadas usadas pelo inimigo de Deus,
Satanás, para executar seu plano maligno contra a
economia de Deus. Uma danifica a fé dos crentes na
realidade divina; a outra frustra seu trabalho no
mover de Deus.
O princípio era o mesmo tanto com os ceríntios
gnósticos no seu desejo de serem avançados na
doutrina como com o amor de Diótrefes em ser o
primeiro; eles queriam estar acima dos outros. Os
ceríntios queriam estar acima dos outros no
pensamento avançado, e Diótrefes queria ser o
primeiro. Os modernistas de hoje podem ser
comparados aos ceríntios no seu desejo de ter uma
filosofia mais elevada, mais avançada. Os
modernistas acham que a crença geral entre os
cristãos é muito baixa. Portanto, eles desejam estar
acima dos outros no pensamento ou filosofia. O
desejo de estar acima dos outros e o desejo de ser o
primeiro são, ambos, exemplos de orgulho e
arrogância, e ambos eram resultados da heresia.
Entre os cristãos hoje estes dois problemas ainda
existem. O primeiro problema, o desejo de estar
acima dos outros em pensamento, está relacionado à
doutrina. O segundo problema, o amor de ser o
primeiro, está relacionado à prática. Na doutrina
muitos desejam ser avançados, ir além dos outros. Na
prática, muitos amam ser os primeiros. Tal amor leva
até mesmo ao desejo de ser um “papa”. Às vezes esse
princípio maligno arrasta-se para dentro da igreja.
Por exemplo, ao levantarmos para dar um
testemunho podemos querer dizer algo avançado,
algo que vá além do que os outros possam dizer. Além
disso, na vida da igreja podemos também desejar ser
o primeiro. Mesmo em um pequeno grupo de serviço,
podemos querer ser o primeiro, o cabeça. Isso está no
princípio do espírito maligno de Diótrefes.
Diótrefes foi influenciado pelos gnósticos, e ele
defendia, promovia o gnosticismo. Nisso vemos a
sutileza do inimigo ao tentar anular o desfrute do
Deus Triúno. Satanás em sua sutileza busca
distrair-nos do desfrute do Deus Triúno para nos
cortar deste desfrute, ou mesmo para destruí-lo
totalmente. Considere a situação entre os crentes hoje
com respeito ao desfrute do Deus Triúno. Mesmo o
ensinamento da Bíblia é utilizado pelo inimigo para
manter os crentes longe do desfrute apropriado do
Deus Triúno. Com relação a este assunto, uma
batalha está ocorrendo, e nós estamos lutando pela
verdade. Não lutamos pela doutrina; lutamos pela
realidade, a qual é o desfrute do Deus Triúno.
Ao lermos 3 João 10 vemos quão dominador o
maligno Diótrefes era: “Por isso, se eu for aí,
far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica,
proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não
satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os
irmãos, como impede os que querem recebê-los, e os
expulsa da igreja.” A palavra grega traduzi da como
“proferindo”, phluareo, vem de phluo, ebulir,
borbulhar, transbordar em palavras, falar
frivolamente; assim, parolar, falar tolamente ou
coisas sem sentido.
O paro lar de Diótrefes era com “palavras
malignas”. A palavra grega para “maligna” aqui é
poneros, que denota algo pernicioso. Poneros difere
de kakos que se refere a um caráter essencialmente
indigno e perverso; ela difere também de sapros, que
indica indignidade e corrupção, degeneração da
virtude original. A palavra poneros denota algo
pernicioso, prejudicialmente maligna, que afeta e
influencia os outros a serem maus e depravados.
No versículo 11 João prossegue dizendo: “Amado,
não imites o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de
Deus; mas quem faz o mal não tem visto a Deus” (IBB
— Rev.). Aqui a palavra grega traduzida como “mal” é
kakos, sem valor, corrupto, depravado. “Faz o bem”
vem do grego agathopoieo (do radical agathos, bom),
ser alguém que faz o bem (como um favor ou um
dever), praticando o bem; assim, fazer o bem.
Nesse versículo João diz que aquele que faz o
bem é “de Deus”. Literalmente, a palavra grega para
“de” significa proveniente de, proveniente a partir de.
Por termos nascidos de Deus, somos provenientes
Dele, possuindo Sua vida e participando de Sua
natureza. Deus é a fonte do bem. Um benfeitor, um
faze dor do bem, é alguém que tem sua fonte em
Deus; isto é, ele é alguém que é proveniente de Deus.
No versículo 11 João nos diz que aquele que faz o
mal não tem visto a Deus. A palavra grega para “fazer
o mal” é kakopoieo (do radical kakos, inútil), ser um
malfeitor, praticando o mal; assim, fazer o mal. Um
malfeitor não somente não é proveniente de Deus,
mas nem sequer tem visto a Deus. Isso significa que
ele não tem desfrutado Deus ou O experimentado.
No versículo 11, ver Deus, na verdade, significa
desfrutar Deus e O experimentar. Nós não podemos
ver a Deus sem O desfrutar, e não podemos conhecer
a Deus sem O experimentar. Ver e conhecer a Deus
são uma questão de desfrutá-Lo e experimentá-Lo.
Recentemente tenho sido encorajado por muitos
testemunhos dados pelos santos jovens nas reuniões.
Estes testemunhos indicam que estes santos jovens
estão desfrutando Deus e experimentando-O. Isso
também indica que eles têm visto a Deus e têm-No
conhecido. Sem ver e conhecer a Deus, sem desfrutar
e experimentá-Lo, eles não poderiam dar tais
testemunhos. Nossos testemunhos indicam se
estamos ou não desfrutando e experimentando a
Deus. Como salientamos, nosso desfrute de Deus é
nosso vê-Lo, e nossa experiência de Deus é nosso
conhecimento Dele.
INTRODUÇÃO
Os versículos 1 e 2 são a introdução ao livro de
Judas. Nesses versículos Judas diz: “Judas, escravo
de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados,
amados em Deus Pai e guardados por Jesus Cristo:
Misericórdia a vós outros e paz e amor sejam
multiplicados” (lit.). Tanto Judas como Tiago eram
irmãos do Senhor Jesus na carne (Mt 13:55). Tiago
era um dos apóstolos (Gl 1:19) e um dos presbíteros
em Jerusalém (At 15:2, 13; 21:18), reputados
juntamente com Pedro e João como colunas da igreja
(Gl 2:9). Ele também escreveu a Epístola de Tiago
(Tiago 1:1). Judas não foi relacionado entre os doze,
nem nos é dito que fosse um presbítero numa Igreja.
Contudo, ele escreveu esta epístola, um livro curto,
porém excelente.
De acordo com o versículo 1, esse livro é
endereçado “aos chamados, amados em Deus Pai, e
guardados por Jesus Cristo.” A palavra grega traduzi
da como “por” pode também ser traduzida “para”.
“Por” denota a força e o meio de guardar; “para”
denota o propósito e objetivo de guardar. Todos os
crentes foram dados ao Senhor pelo Pai (Jo 17:6), e
eles estão sendo guardados para Ele e por Ele.
Muitos mestres da Bíblia crêem que esta epístola,
à semelhança de 1 e 2 Pedro, foi escrita aos crentes
em Cristo que eram judeus. Nas palavras de Judas,
esses crentes foram chamados, amados em Deus Pai e
guardados por Jesus Cristo.
No versículo 2 Judas diz: “Misericórdia a vós
outros e paz e amor sejam multiplicados” (lit.). O fato
de misericórdia ser mencionada em vez de graça
nesta saudação pode ser devido à degradação e
apostasia da igreja (ver vs. 21-22). Em 1 e 2 Timóteo,
Paulo inclui a misericórdia de Deus em sua saudação
inicial. A misericórdia de Deus tem um alcance maior
do que Sua graça. Na situação degradada das igrejas,
a misericórdia de Deus é necessária.
Como pecadores, estávamos em uma situação
lamentável. Mas a misericórdia de Deus nos alcançou
e nos tirou daquela situação e nos qualificou a receber
Sua graça. Em princípio, a graça requer que
estejamos em uma condição relativamente boa.
Entretanto, porque a misericórdia vai além da graça,
ela é capaz de alcançar aqueles que estão na mais
lamentável condição.
CONTENDER POR A FÉ
O versículo 3 diz: “Amados, usando toda
diligência para vos escrever acerca da nossa salvação
comum, achei necessário vos escrever, exortando-vos
a que contendais por a fé uma vez por todas entregue
aos santos” (lit.). Aqui Judas fala sobre nossa
salvação comum. Esta é uma salvação geral, a qual é
comum a todos os crentes e mantida por eles, como a
fé comum (Tt 1:4).
Alguns cristãos empregam mal a palavra de
Judas sobre contender por a fé. Eles acham que
contender por a fé significa contender por questões
tais como batismo e lavar os pés. Alguns argumentam
sobre o cobrir a cabeça ou sobre o tipo de pão usado
na mesa do Senhor. Entretanto, a fé no versículo 3
não se refere a tai s questões.
A fé neste versículo não é subjetiva; ela é
objetiva. Ela não se refere ao nosso crer, mas à nossa
crença, ao que cremos. A fé denota o conteúdo do
Novo Testamento como nossa fé (At 6:7; 1Tm 1:19;
3:9; 4:1; 5:8; 6:1O, 21; 2Tm 2:18; 3:8; 4:7; Tt 1:13),
aquilo em que cremos para nossa salvação comum.
Esta fé, não qualquer doutrina, foi entregue de uma
vez por todas aos santos. Por esta fé devemos
contender (1Tm 6:12).
No Velho Testamento, Deus deu a Abraão uma
promessa.
Mais tarde, por meio de Moisés, Deus deu a lei
aos filhos de Israel. No Evangelho de João é-nos dito
que quando o Senhor Jesus veio, a graça veio (1:17).
Aqui temos três questões importantes: promessa, lei e
graça. Alguns mestres da Bíblia falam sobre a
dispensação da promessa, a dispensação da lei e a
dispensação da graça.
Por entendermos a verdade no Novo
Testamento, precisamos ver que Deus primeiro deu
uma promessa a Abraão. Podemos dizer que essa
promessa estava na “pista principal” do tratamento
de Deus com o homem. Mas por causa da ignorância
e incredulidade do povo escolhido de Deus, foi
necessário que Deus desse a lei aos filhos de Israel.
No livro de Gálatas, Paulo compara a lei a Hagar, a
concubina de Abraão, não a Sara, a esposa de Abraão
(Gl 4:21-25). Isso significa que Hagar era um tipo, ou
prefiguração da lei. Portanto, a posição da lei não é de
esposa, mas de concubina. Agora, no Novo
Testamento, Deus dá a fé em vez da lei.
Com a fé dada por Deus há tanto o lado subjetivo
como o lado objetivo. O lado subjetivo refere-se ao
nosso crer, e o lado objetivo refere-se às coisas em
que cremos. No versículo 3 a fé não denota nossa
habilidade para crer; pelo contrário, ela se refere ao
que cremos. Assim, a fé refere-se ao conteúdo do
Novo Testamento.
Pedro nos diz em sua segunda epístola que a fé
igualmente preciosa foi-nos aquinhoada (2Pe 1:1).
Esta fé é subjetiva e refere-se à fé que está dentro de
nós. Isso difere da fé em Judas 3, pois a fé aqui é
objetiva.
A fé no sentido objetivo é igual ao conteúdo da
vontade de Deus dado a nós no Novo Testamento. A
lei inclui o conteúdo dos Dez Mandamentos e todas as
ordenanças secundárias. A lei foi dada no Velho
Testamento, mas o que Deus dá no Novo Testamento
é a fé que inclui todos os itens da nova vontade de
Deus. Essa vontade inclui até mesmo o Deus Triúno.
Entretanto, ela não inclui questões tais como o cobrir
a cabeça, lavar os pés ou métodos de batismo. No
entanto, alguns crentes contendem por estas coisas,
achando que estão contendendo por a fé. Esta,
porém, não é a compreensão correta do que Judas
quer dizer com contender por a fé entregue aos santos
urna vez por todas.
Contender por a fé é contender por questões
básicas e cruciais da nova vontade de Deus. Urna
dessas questões básicas é a morte de Cristo para
nossa redenção.
Suponha que um modernista lhe diga que Jesus
morreu na cruz não pela redenção, mas porque Ele
era um mártir e sacrificou-se pelos Seus
ensinamentos. Este entendimento da morte de Cristo
é herético. Ele é contrário a um dos principais itens
da nova vontade de Deus. Precisamos contender pela
verdade concernente à redenção de Cristo.
Há muitos anos na China contendemos pela
verdade da redenção quando batalhamos contra o
livro Somente para Pecadores, um livro que afirmava
que um pecador pode ser favorecido por Deus ou
salvo à parte do sangue de Jesus. A Bíblia diz
claramente que sem o derramamento de sangue não
há perdão de pecados (Hb 9:22). Lutamos contra
aquele livro herético e vacinamos os crentes contra
seus ensinamentos modernistas.
Agradecemos ao Senhor que neste país, hoje,
muitos mestres da Bíblia fundamentalistas também
estão lutando contra os ensinamentos heréticos,
modernistas. Isso é contender por a fé entregue aos
santos uma vez por todas. Essa fé foi entregue aos
santos uma vez por todas, e o que precisamos fazer
agora é contender por ela.
Os Filhos de Israel
Nos versículos 5 a 7 Judas dá alguns exemplos
históricos do julgamento do Senhor sobre a apostasia.
O primeiro exemplo é o dos filhos de Israel: “Quero,
pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo
uma vez por todas, que o Senhor, tendo libertado um
povo tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os
que não creram” (v. 5). Houve apostasia entre aqueles
que foram guiados para fora da terra do Egito. Isso
significa que os incrédulos filhos de Israel
tornaram-se apóstatas. Nesse versículo Judas nos diz
que o Senhor destruiu aqueles que não creram.
Sodoma e Gomorra
No versículo 7 Judas continua: “Como Sodoma e
Gomorra e as cidades circunvizinhas que, havendo-se
entregue à prostituição como aqueles, seguindo após
outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno,
sofrendo punição.” A palavra “como” aqui é
importante e quer dizer da mesma maneira que. Essa
palavra prova que os anjos, no versículo anterior, são
os filhos de Deus em Gênesis 6:2, que cometeram
fornicação com carne estranha e foram condenados
por Deus para o julgamento do grande dia, pois
imediatamente após isto houve o julgamento sobre
Sodoma, Gomorra e as cidades circunvizinhas. O
pronome relativo “que” no versículo 7 refere-se a
Sodoma, Gomorra e as cidades circunvizinhas.
A frase “como aqueles” significa na maneira de
cometer fornicação com carne estranha, como
fizeram os anjos caídos. Os anjos caídos cometeram
fornicação com outra raça, que para eles era carne
estranha. Os sodomitas fizeram a vontade de sua
concupiscência com os do sexo masculino (Rm 1:27;
Lv 18:22), com carne diferente e estranha a que Deus
ordenara pela natureza de Sua criação para o
casamento humano (Gn 2:18-24). No versículo 7
“outra carne” denota a carne que é estranha ou
diferente, e “aqueles” refere-se aos anjos fornicadores
do versículo anterior. .
Se compararmos Judas com 2 Pedro, veremos
que essas duas epístolas abrangem muitos pontos
idênticos. Isso indica que os apóstolos e os mestres de
outrora devem ter tido comunhão sobre essas
questões. Caso contrário, como poderiam Pedro e
Judas terem escrito de maneira tão idêntica? Esses
dois irmãos, ambos com antecedente judeu e que
carregavam a responsabilidade de soar a trombeta
para as verdades do Novo Testamento, condenaram
as mesmas coisas e enfatizaram o fato de que todo
aquele que tomasse o caminho da apostasia sofreria o
julgamento de Deus.
É extremamente sério negar a Pessoa do Senhor
e Sua obra redentora. Certos modernistas que negam
o Senhor dessa forma têm sofrido o julgamento de
Deus mesmo no decorrer da vida deles. Quando o
movimento Oxford, ou Buchmanismo, estava ativo na
China, alguns modernistas foram descarados a ponto
de dizer que Jesus Cristo não era o Filho de Deus
nascido de uma virgem, mas era o filho ilegítimo de
Maria. Isso não é apenas herético; é uma blasfêmia.
Que blasfêmia declarar que nosso Senhor Jesus
Cristo era o filho ilegítimo de Maria! Por fim, alguns
daqueles que ensinavam tais coisas heréticas e
blasfemas não tiveram um final feliz em sua vida. Eles
não serão julgados por Deus apenas no futuro — eles
foram julgados por Deus durante o curso de sua vida.
Como resultado, o mal da vida deles não foi nada
bom.
Precisamos aprender dos livros de Judas e 2
Pedro a temer a Deus e ser muito cuidadosos com
respeito à Pessoa do Senhor e de Sua obra redentora.
Por vivermos em uma era pervertida, os jovens
especialmente precisam estar alertas. Todos nós
devemos ter uma compreensão básica da Palavra de
Deus. Isso irá nos proteger. Como Pedro diz, a
Palavra será uma candeia brilhando dentro de nós
(2Pe 1:19). Então se tivermos contato com apóstatas e
heréticos, saberemos que seu ensino acerca da Pessoa
de Cristo e de Sua obra redentora é falsa e blasfema e
não lhes daremos ouvido. Por termos lutado contra o
modernismo quando estávamos na China, os cristãos
ali foram protegidos. Obviamente, outros cristãos
também foram fiéis em lutar contra ensinos
heréticos. Hoje todos precisamos ser fiéis para
contender por a fé uma vez por todas entregue aos
santos.
ESTUDO-VIDA DE JUDAS
MENSAGEM, 2
OS MALES DOS APÓSTATAS E SUA l. UNIÇÃO
SOB O JULGAMENTO DO SENHOR
DESPREZAR SENHORIO
O versículo 8 diz: “Ainda do mesmo modo, esses
sonhadores também contaminam a carne e
desprezam senhorio e injuriam dignidades” (lit.). Os
homens ímpios citados no versículo 4 são sonhadores
portando o nome de cristãos, contudo fazendo coisas
como que em sonhos, coisas tais como perverter a
graça de Deus em licenciosidade para contaminar sua
carne e negar Jesus Cristo como nosso único
Soberano e Senhor, desprezando Seu senhorio e
injuriando as autoridades em Seu governo celestial,
Segundo o que temos observado através dos
anos, aqueles que negam o Senhor Jesus e
recusam-se a crer na Palavra santa, por fim perdem o
sentimento em sua consciência. Nas palavras de
Paulo, a consciência deles está cauterizada (1Tm 4:2)
e não funciona adequadamente. Como resultado, eles
podem tornar-se impuros e imorais. Uma vez que a
consciência de uma pessoa esteja cauterizada, ela não
possui mais proteção ou salvaguarda.
Os apóstatas contaminam a carne, desprezam
senhorio e injuriam dignidades, porque não se
importam com o governo de Deus. Não respeitando a
autoridade de Deus, eles são totalmente sem lei. Eles
desprezam senhorio, isto é, desprezam o senhorio de
Cristo, o qual é o centro do governo, domínio e
autoridade divinos (At 2:36; Ef 1:21; Cll:16). Também
injuriam dignidades, que provavelmente se refira
tanto a anjos como a homens com poder e autoridade.
No versículo 9 Judas continua: “Contudo, o
arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e
disputava a respeito do corpo de Moisés, não se
atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo
contrário, disse: O Senhor te repreenda.” O corpo de
Moisés foi enterrado pelo Senhor em um vale na terra
de Moabe, em lugar não conhecido por homem algum
(Dt 34:6). Isso deve ter sido feito propositadamente
dessa maneira pelo Senhor. Quando Moisés e Elias
apareceram com Cristo no monte da transfiguração
(Mt 17:3), Moisés deve ter sido manifestado em seu
corpo, o qual foi mantido pelo Senhor e ressuscitado.
Provavelmente, à vista disso, o diabo tentou fazer
algo ao corpo dele, e o arcanjo discutiu com ele acerca
disso. A referência em 2 Pedro 2:11 é geral, mas isso é
um caso específico, com respeito ao corpo de Moisés.
Judas ressalta que Miguel não proferiu juízo
infamatório contra o diabo, mas disse: “O Senhor te
repreenda.” Isso indica que, no governo celestial do
Senhor, o diabo, Satanás, estava em posição superior
ao arcanjo Miguel. Deus designou e estabeleceu-o
assim (Ez 28:14). Em todo caso, Satanás estava
abaixo do Senhor. Portanto, Miguel disse-lhe: “O
Senhor te repreenda.” Miguel manteve sua posição na
ordem da autoridade divina.
RECIFES OCULTOS
No versículo 12 Judas prossegue dizendo: “Estes
são recifes ocultos nas vossas festas de amor,
festejando junto convosco sem temor, pastores que se
apascentam a si mesmos, nuvens sem água, levadas
pelos ventos, árvores outonais sem fruto, duas vezes
mortas, desarraigadas; ondas selvagens do mar,
espumando suas próprias vergonhas, estrelas
errantes, para os quais a negridão das trevas tem sido
reservada pela eternidade” (lit.). A palavra grega
traduzida como “recifes ocultos”, spilades,
originalmente significa uma rocha. Ela pode estar se
referindo aqui a uma rocha submersa com o mar
sobre ela (Darby); portanto, rochas ocultas. A palavra
grega spiloi para “máculas” em 2 Pedro 2:13 é muito
próxima de spilades; portanto, algumas versões
traduzem esta por máculas. Na verdade, estas duas
palavras referem-se a duas coisas diferentes. Máculas
são defeitos na superfície de pedras preciosas; rochas
ocultas encontram-se no fundo da água. Os heréticos
de outrora não eram apenas máculas na superfície,
mas também rochas ocultas no fundo, ambas as quais
eram um dano para os crentes em Cristo.
As festas de amor mencionadas no versículo 12
eram festas de amor motivadas pelo amor de Deus
(agape — 1Jo 4:10-11, 21). Nos primeiros dias os
crentes costumavam comer juntos em amor para
comunhão e adoração (At 2:46). Esse tipo de festa foi
unida à ceia do Senhor (1Co 11:20-21, 33) e chamada
de festa de amor.
Judas chama os apóstatas de “pastores que se
apascentam a si mesmos”. Os heréticos buscadores de
prazer (2Pe 2:13) fingiam ser pastores, mas nas festas
de amor eles apenas alimentavam-se a si mesmos,
não tendo preocupação pelos demais. Para os outros,
eles eram nuvens sem água, não tendo suprimento de
vida para retribuir.
CONCLUSÃO
Nos versículos 24 e 25 temos a conclusão desta
epístola. O versículo 24 diz: “Mas àquele que é capaz
de guardar-vos de tropeço, e apresentar-vos diante da
sua glória sem defeito em exultação” (li t.). Nesta
frase conclusiva, o escritor indica claramente que
embora tenha incumbido os crentes de se
empenharem nas coisas mencionadas nos versículos
20 a 23, somente Deus nosso Salvador é capaz de
guardá-los de tropeço e apresentá-los imaculados
diante de Sua glória em exultação. Glória aqui é a
glória do grande Deus e nosso Senhor, Cristo Jesus, a
qual será manifestada na Sua aparição (Tt 2:13; 1
Pe4:13) e na qual Ele virá (Lc 9:26). A preposição
“em” aqui significa no elemento de, e “exultação”
significa a abundância de alegria triunfante (Alford).
No versículo 25 Judas conclui: “Ao único Deus
nosso Salvador, por meio de Jesus Cristo nosso
Senhor, seja a glória, majestade, poder e autoridade
antes de todas as eras, e agora, e por toda a
eternidade. Amém” (lit.). O único Deus é nosso
Salvador, e o Homem Jesus Cristo é nosso Senhor. A
este Salvador, através deste Senhor, seja a glória, a
majestade, o poder e autoridade por todas as eras.
Glória é a expressão em esplendor; majestade é a
grandeza em honra; poder é a força em poderio; e
autoridade é o poder em governar. Portanto, ao único
Deus e nosso Salvador seja a expressão em esplendor,
grandeza em honra, força em poderio, e poderem
governar. Nas palavras de Judas, isso é “antes de
todas as eras, e agora, e por toda a eternidade”. Antes
de todas as eras refere-se à eternidade passada;
agora, à presente era; e por toda a eternidade, à
eternidade futura. Portanto, é desde a eternidade
passada, através do tempo, até a eternidade futura.
ESTUDO-VIDA DE JUDAS
MENSAGEM 4
A ESTRUTURA BÁSICA DAS EPÍSTOLAS DE PEDRO E
JUDAS (1)
UM LEMBRETE
Precisamos ficar impressionados com o fato de
que essas três epístolas foram escritas com uma
estrutura básica, e esta estrutura é o Deus Triúno
processado para tomar-se o Espírito que dá vida
todo-inclusivo para o nosso desfrute. Essa estrutura
está de acordo com a economia de Deus e
corresponde plenamente ao que é desvendado nos
escritos de Paulo. Espero que essa palavra sirva como
um lembrete para você. Ao considerar as questões
sobre o governo de Deus e os exemplos históricos de
Seu tratamento em Seu julgamento, você não deve ser
distraído por elas. Em vez disso, estas coisas devem
trazê-lo de volta à estrutura básica dessas epístolas —
o Deus Triúno como nosso pleno desfrute. Além
disso, você precisa cuidar de seu espírito como o
homem interior do coração e perceber que o Espírito
divino, o Espírito da glória e o Espírito de Cristo, está
dentro de você. Então você desfrutará o Deus Triúno
e O expressará como piedade, a qual consumará na
glória.
AS DUAS ÁRVORES
A estrutura básica da vida cristã revelada em I
Pedro 1 é algo bem diferente do nosso conceito
natural. Em nossa mente natural não temos o tipo de
pensamento apresentado em 1 Pedro 1. Nosso
pensamento natural é fazer o bem, amar os outros,
adorar a Deus e trabalhar para Deus. Esse conceito é
religioso e tradicional.
Uma pessoa que está bem distante de Deus pode
não se preocupar com Deus nem um pouco. Mas uma
vez que se arrepende e começa a preocupar-se com
Deus, ela imediatamente terá o desejo de fazer o bem
a fim de glorificar a Deus. Também terá o desejo de
ser mais atencioso para com os outros. Ela pode
mesmo decidir dar o dízimo ao Senhor. Embora essas
coisas sejam boas, elas são religiosas, tradicionais e
naturais.
Você pode ter ouvido muitas mensagens
dizendo-lhe que o Deus Triúno foi processado para
tornar-se o Espírito que dá vida a fim de ser tudo para
você. Mas em seu viver diário pode não se preocupar
com o Deus Triúno processado. Em vez disso, você
pode tentar ser um bom marido ou boa esposa e um
bom pai ou mãe. Em seu esforço para se aperfeiçoar,
você pode não ter a percepção de que não está
vivendo o Deus Triúno, de que não é um com o
Espírito que dá vida. Em vez de colocar em prática a
palavra sobre ser um espírito com o Senhor em seu
viver diário, seu desejo pode ser o de ser vitorioso ou
de se auto-aperfeiçoar.
O motivo de falharmos em colocar em prática o
que ouvimos está relacionado à árvore do
conhecimento do bem e do mal. Em nosso ser caído
há a tendência por essa árvore. O pensamento de
fazer o bem pertence à árvore do conhecimento do
bem e do mal. Antes de se arrepender e crer no
Senhor, você pode ter tido o conhecimento do mal.
Mas agora que é um crente, você pode voltar-se ao
conhecimento do bem. Entretanto, o conhecimento
tanto do bem como do mal pertencem à mesma
árvore.
Através dos anos no ministério, vim a perceber
que, embora os santos possam ouvir mensagens sobre
o Deus Triúno como vida, em seu viver diário eles se
preocupam com a árvore do conhecimento do bem e
do mal. Mas sempre que voltamos ao Deus Triúno
como o Espírito que dá vida, imediatamente estamos
nos alimentando da árvore da vida.
DUAS FONTES
Há somente duas fontes neste universo — Deus e
Satanás. Após Deus criar o homem, Ele o colocou
diante de duas árvores tipificando essas duas fontes.
Deus é tipificado pela árvore da vida, e Satanás é
tipificado pela árvore do conhecimento do bem e do
mal. Deus é a fonte da vida. Se O contatarmos,
contatamos vida. Satanás é a fonte da morte. Se o
contatarmos, contataremos morte. Portanto, Deus
claramente disse a Adão que não comesse da árvore
do conhecimento do bem e do mal, pois o resultado
disso é morte. A intenção de Deus foi que o homem O
contatasse a fim de receber vida. Se contatarmos a
árvore do conhecimento em vez da árvore da vida,
contataremos morte. A intenção de Deus é que o
homem O contate para receber vida. Mas na queda
Adão voltou se a Satanás, a outra fonte.
Satanás não é honesto nem franco. Pelo
contrário, ele usa um disfarce e finge ser o que não é.
Por exemplo, quando apareceu pela primeira vez a
Adão, ele o fez na forma de uma serpente. Satanás
espreita atrás do conhecimento do bem e do mal. O
resultado do conhecimento tanto do bem como do
mal é morte.
Hoje, os incrédulos e muitas vezes os crentes
estão sob a morte, porque diariamente contatam o
aspecto bom da árvore do conhecimento do bem e do
mal. Na religião, as pessoas são ensinadas a conhecer
o que é bom e o que é mau, e a fazer o bem e
apartar-se do mal. Esse tipo de ensino é comum entre
os cristãos hoje. Entretanto, esse ensino é natural e
religioso, e de acordo com nossa natureza caída.
Na Bíblia temos duas fontes, duas linhas e dois
resultados. Primeiro temos a árvore da vida, a linha
da vida e a Nova Jerusalém. A árvore da vida será
encontrada na Nova Jerusalém. Sem a árvore da vida,
a Nova Jerusalém não teria qualquer desfrute. O
único desfrute na Nova Jerusalém será a árvore da
vida.
A seguir, na Bíblia temos a segunda fonte e a
segunda linha: a árvore do conhecimento do bem e do
mal e a linha da morte. O resultado dessa fonte e
linha é o lago de fogo.
Precisamos ter nossos olhos abertos para ver a
árvore da vida na Bíblia. Muitos cristãos lêem a
Bíblia, mas não conseguem ver a árvore da vida. Por
ser isso misterioso, a menos que nossos olhos sejam
abertos, não seremos capazes de vê-la.
O ponto crucial no que temos dito acerca da
árvore da vida e da árvore do conhecimento do bem e
do mal é que a estrutura da vida cristã, como é
revelado no capítulo 1 de 1 Pedra, é muito diferente
do nosso conceito natural, que é de acordo com o
conhecimento do bem e do mal. Estou muito feliz de
ver que, de acordo 1 Pedro 1, a estrutura básica desta
epístola e de toda a vida cristã é o Deus Triúno.
O FOCO CENTRAL
Em nosso estudo das Epístolas de 1 e 2 Pedro e
Judas precisamos ver o foco central destes livros.
Embora o assunto de 1 e 2 Pedro seja o governo de
Deus, especialmente Seu governo mostrado em Seu
julgamento, esse não é o foco central destes livros.
Tampouco é o governo divino a estrutura básica das
epístolas de Pedro. Qual é o foco destas epístolas?
Qual é a sua estrutura básica? Para não sermos
distraídos pelas muitas questões preciosas em 1 e 2
Pedro, precisamos de respostas claras a estas
questões.
Em 1 Pedro, na verdade, somente um capítulo e
meio são cruciais em relação à vida. Este um capítulo
e meio inclui todo o capítulo 1 e os primeiros onze
versículos do capítulo 2. Em adição, precisamos
considerar a palavra de Pedro em 5:10 como crucial.
Neste versículo, Pedro diz: “Ora, o Deus de toda a
graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória,
depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo
vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e
fundamentar.” Temos uma situação semelhante na
Epístola de 2 Pedro. Nesse livro, a primeira metade
do primeiro capítulo e o último versículo do último
capítulo são cruciais em relação à vida. Nessas
porções vitais de 1 e 2 Pedro temos o foco central
dessas epístolas.