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O ensino que temos agora à nossa frente foi registrado nada menos
que três vezes no Novo Testamento. Mateus, Marcos e Lucas foram
inspirados pelo mesmo Espírito a escrever sobre esse incidente.
Não há dúvida de que houve um sábio propósito nessa tríplice
repetição. Seu intuito é mostrar-nos que as lições dessa passagem
bíblica merecem particular atenção por parte da Igreja de Cristo.
Em primeiro lugar, aprendamos a ignorância pessoal do ser
humano. Lemos aqui “que correu um homem” ao encontro do
Senhor e, “ajoelhando-se”, fez a solene pergunta: “Bom Mestre, que
farei para herdar a vida eterna?”. À primeira vista, havia muita coisa
promissora no caso desse homem. Ele demonstrou grande
ansiedade acerca das coisas espirituais, enquanto a maioria ao seu
redor mostrava-se descuidada e indiferente. Ele demonstrou
disposição em reverenciar nosso Senhor, ao se ajoelhar diante dele,
enquanto os escribas e fariseus o desprezavam. No entanto,
durante todo o tempo, aquele jovem mostrou-se profundamente
ignorante quanto à iniquidade de seu próprio coração. Ele ouviu
nosso Senhor recitar aqueles mandamentos que revelam nossos
deveres para com o próximo e, imediatamente, retrucou: “Mestre,
tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. A natureza
perscrutadora da lei moral e sua aplicação aos nossos
pensamentos, palavras e ações não eram questões familiares
àquele homem.
Infelizmente, a cegueira espiritual aqui revelada é muito
comum. Inúmeras pessoas que se dizem cristãs, em nossos dias,
não fazem ideia alguma de sua própria pecaminosidade e culpa, aos
olhos de Deus. Elas se lisonjeiam, imaginando que nunca
praticaram qualquer coisa muito iníqua. Afinal, nunca assassinaram
alguém, furtaram, cometeram adultério ou deram falso testemunho.
Por certo, segundo pensam, não correm muito perigo de perder o
céu. No entanto, esquecem-se da natureza santa do Deus com
quem têm de tratar. Esquecem-se de quão frequentemente
desobedecem às leis de Deus, em seu gênio e em seu pensamento,
mesmo quando sua conduta externa está correta. Elas nunca
examinam porções das Escrituras como o quinto capítulo de
Mateus, lendo-as com um véu espesso sobre seus corações, sem
as aplicarem a si mesmas. O resultado é que são envoltas pela
autojustiça. Como a igreja de Laodiceia, essas pessoas sentem-se
como quem diz: “Estou rico e abastado e não preciso de cousa
alguma” (Ap 3.17). Satisfeitas consigo mesmas, elas vivem e, nesse
mesmo estado, com grande frequência morrem.
Tomemos cuidado com esse estado mental. Enquanto
estivermos pensando que somos capazes de guardar os
mandamentos de Deus, Cristo em nada nos ajudará. Oremos por
autoconhecimento. Roguemos que o Espírito Santo nos convença
de pecado, que nos revele nossos próprios corações, que nos
mostre a total santidade de Deus e, consequentemente, a
necessidade que temos de Cristo. Bem-aventurado é aquele que já
aprendeu, por experiência, o significado das palavras de Paulo:
“Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o
pecado, e eu morri” (Rm 7. 9). A ignorância a respeito da lei e a
ignorância a respeito do evangelho, em geral, encontram-se juntas.
Aquele cujos olhos foram realmente abertos para a espiritualidade
dos mandamentos não descansará enquanto não tiver encontrado
Cristo.
Em segundo lugar, aprendamos acerca do amor de Cristo para
com os pecadores. Essa é uma verdade ressaltada pela expressão
de Marcos quando, em seu relato sobre o jovem rico, declarou:
“Jesus, fitando-o, o amou”. Aquele amor, sem dúvida, foi marcado
por piedade e compaixão. Nosso Senhor contemplou com piedade
aquela estranha combinação de seriedade e ignorância, exibida por
aquele homem. Jesus viu com compaixão uma alma que se debatia
em toda a sua debilidade e em toda a sua fraqueza, resultantes da
Queda — a consciência perturbada e sensível, que desejava alívio,
o entendimento mergulhado em trevas e cego quanto aos princípios
elementares da religião espiritual. Da mesma forma que olhamos
com pesar para uma nobre ruína arquitetônica, desprovida de teto,
despedaçada e imprópria para o uso humano, mas ao mesmo
tempo apresentando marcas da habilidade com que foi inicialmente
projetada e edificada, Jesus também olhou para a alma daquele
homem com terno interesse. Nunca devemos esquecer que Jesus
sente compaixão e amor pelas almas dos ímpios. Sem controvérsia,
ele sente um afeto peculiar pelos que ouvem sua voz e o seguem.
Essas são as suas ovelhas, dadas pelo Pai e assistidas com
especial cuidado. São a sua noiva, unida a ele por meio de uma
aliança eterna, e querida, como parte dele mesmo. Entretanto, o
coração de Jesus é muito grande. Jesus tem abundância de
compaixão, piedade e terno interesse, até mesmo por aqueles que
estão seguindo o pecado e o mundo. Aquele que chorou sobre a
incrédula Jerusalém ainda é o mesmo até hoje. Ele abraçaria os
ignorantes, os justos aos seus próprios olhos, os que não têm fé e
os que são impenitentes se ao menos eles quisessem ser acolhidos
(Mt 23.37). Podemos dizer ousadamente aos piores pecadores que
Cristo, em verdade, os ama. A salvação está à disposição dos
piores dos homens se tão somente vierem a Cristo. Se os homens
estão perdidos, isso não acontece porque Jesus não os ame ou
porque não esteja disposto a salvá-los. Suas próprias e solenes
palavras desvendam o mistério: “Os homens amaram mais as trevas
do que a luz; porque as suas obras eram más”; “Contudo, não
quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 3.19; 5.40).
Em último lugar, compete-nos aprender, desse texto bíblico, o
imenso perigo causado pelo amor ao dinheiro. Essa é uma lição
salientada duas vezes. Inicialmente, é apresentada na conduta
desse homem. A despeito de todo o desejo que confessou de
receber a vida eterna, ele amava mais o dinheiro do que sua própria
alma. “Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste.”
Depois, esse ensino transparece nas palavras solenes de nosso
Senhor aos seus discípulos: “Filhos, quão difícil é [para os que
confiam nas riquezas] entrar no reino de Deus! É mais fácil passar
um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino
de Deus”. Somente o último dia será capaz de provar quanto essas
palavras são verdadeiras.
Vigiemos contra o amor ao dinheiro. O amor ao dinheiro é uma
armadilha tanto para o pobre como para o rico. Não é tanto o fato de
ter dinheiro que arruína a alma, mas, sim, o de confiar no dinheiro.
Oremos por contentamento em relação às coisas que possuímos. A
sabedoria mais elevada consiste em termos a mentalidade de
Paulo: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp
4.11).
Encorajamento para deixar tudo por amor a
Cristo; o conhecimento que Cristo tinha de seus
sofrimentos
Leia Marcos 10.28-34