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Os dons da Graça

Como já havia antecipado, esta parte da primeira carta aos coríntios trata de assuntos
extremamente complicados, e que estou os abordando com muito temor e tremor. No dia em que
falamos sobre o problema relacionado às mulheres, citei que uma das questões naquela igreja
era uma escatologia ultrarrealizada. Isso fazia com que algumas mulheres que se consideravam
superespirituais compreendessem que, as diferenças entre homens e mulheres haviam todas
sido anuladas pois, conforme elas, com a suposta consumação do Reino elas haviam alcançado
o mesmo estado que os anjos.
Esta mesma abordagem escatológica causou um outro problema naquela igreja. O abuso do dom
de línguas. Aqueles irmãos exaltavam essa prática, pois, a consideravam uma evidência
irrefutável de espiritualidade plena, para eles os que falavam em línguas eram os possuidores do
Espírito Santo, e também os que haviam alcançado o Reino em sua plenitude. Tudo isso acabou
por aumentar outro problema caraterístico naquela igreja, a saber, as divisões. Pois, por causa da
manifestação destes dons, começaram a formar os grupos, das pessoas espirituais e das não-
espirituais.
Então, Paulo precisou corrigir estas questões, com o objetivo de levar aqueles irmãos a uma
compreensão melhor a respeito das coisas do Espírito, e mais uma vez combater o espírito
faccioso presente naquela igreja. E um dos argumentos que Paulo utiliza, foi apontar que os dons
espirituais, são dons da graça (1,4). Se é um presente gracioso, não há o menor motivo para auto
exaltação, divisões ou coisas semelhantes.
Ao longo da história, estas questões são novamente levantadas. Para se ter uma ideia na década
de 60 os Batistas se dividiram entre “renovados” e “tradicionais”. Muitos pentecostais reputam as
igrejas tradicionais como igrejas que não tem o E.S. e nós fazemos chacota com as experiências
espirituais, ou supostamente espirituais deles (não deveríamos julgar). Mas o que Paulo tem a
nos dizer sobre os dons espirituais hoje? Faremos uma série de cinco mensagens, abordando
este tema. Que cobre os capítulos 12-14 desta carta.
1Coríntios 12.1-11
PROPOSIÇÃO
Os dons espirituais são dons da graça. Essa compreensão tira de nós todo orgulho, inveja ou
divisões e nos leva a desfrutar dos benefícios dos dons como comunidade. Iremos destacar
quatro características relacionadas aos dons presentes neste texto.
1. Nos capacita a confessar a Jesus como Senhor (1-3);
Quando Paulo diz que, em relação aos dons espirituais ele não queria que os coríntios fossem
ignorantes (nem nós), ele está mostrando que essa é uma questão central na fé cristã. É um
assunto importante e deve ser tratado com seriedade. E por que isso? Porque os dons
espirituais, ou como preferia Paulo, os dons da graça, estão relacionados com o ato de nossa
conversão.
Deixe-me explicar isso melhor. Paulo recorda aqueles irmãos o tempo em que eles eram
conduzidos por ídolos mudos. Ídolos que nada podiam fazer por eles, e neste modo inútil em que
outrora viviam, aqueles irmãos amaldiçoavam a Jesus, eles rejeitavam a Jesus, e isso era uma
prova de que naquele tempo eles não tinham os E.S. (v.3). Contudo, agora eles confessavam a
Jesus como Senhor. E isso era uma evidência da ação do E.S. na vida deles, pois ninguém pode
confessar Jesus como Senhor, a não ser pelo E.S.
Ao fazer isso, Paulo está mostrando que com dom de línguas não, todo cristão tem o E.S. Este
dom como alguns queriam na igreja de Corinto, e outros ainda querem defender hoje, não é a
única prova de que uma pessoa tem o E.S. Talvez isso para nós seja irrelevante, pois podemos
achar que essa é apenas uma verbalização de uma frase. Mas naquela época isso era muito
sério.
Paulo utilizava a LXX, o A.T. grego, e na LXX a palavra Kyrios (Senhor) era usada para traduzir o
tetragrama sagrado do nome de Deus. Como afirma Gordon Fee “essa declaração significava
lealdade absoluta a Jesus e sua divindade e, portanto, colocava os crentes à parte tanto dos
judeus, para quem tal confissão seria blasfêmia, quanto dos pagãos cujas divindades eram
chamadas de “senhores”.
O critério supremo da atividade do E.S., não é o dom de línguas, ou qualquer outro a não ser a
capacitação de exaltarmos a Jesus como Senhor, porque como afirma Schweiter é “o E.S. que
nos torna receptivos a Jesus”. Antes de mais nada, ter o E.S. não é motivo para orgulho, pois não
é algo que conquistamos por nossos méritos, mas o próprio E.S. é um dom da graça que nos
capacita a crer e confessar a Jesus como Senhor.
2. Revela a ação da trindade em nós e através de nós (4-6);
Outra característica relacionada aos dons da graça, é que podemos perceber o modelo de
unidade ao qual a igreja deve se espelhar, a saber, a Trindade. Paulo evoca a economia da
trindade na vida igreja, para mostrar como a igreja deve existir, ou seja, cada executando ações
diferentes, para o cumprimento de uma única obra. Veja o texto...
Quem concede os diversos dons é o mesmo Espírito, para servirmos ao mesmo Senhor (Jesus,
vimos nos versos acima), para que dessa forma Deus o Pai conclua sua obra em nós e através
de nós. Percebem como a ação Trindade é descrita em perfeita harmonia? E vale ressaltar, é
uma ação da Trindade! Um Espírito, um Senhor, um Deus, agindo em nós. Paulo tira o foco das
pessoas e aponta para Deus.
Se o foco é todo direcionado para Deus, onde está a motivo do orgulho? Se a Trindade existe e
atua e perfeita unidade, onde está o motivo para as divisões na igreja? Nenhum de nós podemos
nos considerar mais ou menos espirituais, nos levando a nos orgulharmos, ou nos dividirmos,
pois desde o início da nossa caminhada no Evangelho, tudo é Deus agindo em nós. É Deus quem
opera tudo em todos (v.4).
Os pentecostais se orgulham da sua espiritualidade, nós nos orgulhamos da nossa Teologia, e
assim nos dividimos. Mas o modelo, é a unidade trinitária, na qual cada pessoa divina se doa uma
a outra para que a obra da Redenção seja completa em nós.
3. É uma concessão para o bem da comunidade (7-10);
Notem o que diz o versículo (LER). Existem cinco listas de dons no N.T. (esta, 12.28, Rm. 12.6-8,
Ef. 4.11, 1Pe. 4.11). Nesta lista Paulo afirma que a manifestação do Espírito é concedida.
Manifestação, aponta para algo temporal e não permanente. O que estou tentando mostrar, é que
existem dons permanentes, e existem os temporais. Uma manifestação do Espírito, para o bem
comum.
Estes dons listados aqui, são dons que a pessoa não “possui”, mas são manifestações do E.S.
para o suprimento de uma necessidade específica da comunidade. E faz muito sentido. Se Paulo
quer combater, o espírito faccioso e ufanista daquela igreja, é muito plausível lembra-los que que
estes sinais sobrenaturais não é algo que a pessoa possui e que ela pode utiliza-los a seu bel-
prazer, mas sim uma ação exclusiva do E.S.
E a manifestação é concedida. Concessão é apenas uma autorização para uso, que não implica
em posse. Paulo faz questão de apontar isso, pois as pessoas se orgulhavam por falar em
línguas. Mas Paulo mostra que não há motivo para isso, pois estes dons listados aqui, não são
permanentes. Pois se fossem poderia dar motivo para que a pessoa se orgulhasse. Ninguém tem
dom de cura... Pois se tivesse...
FALAR sobre a lista?
4. É uma ação soberana do Espírito Santo (11).
Por fim, Paulo dá uma última palavra para reforçar que a manifestação do E.S. não é motivo para
divisões ou orgulho na Igreja de Deus. É um só Espírito quem realiza todas as coisas. Se é um só
Espírito que faz todas essas coisas, não existe dons que nos fazem mais ou menos espirituais,
logo na igreja de Deus, todos os que de fato fazem parte da Igreja de Deus são espirituais. Não
existe grupo da igreja fria e da igreja que tem “fogo”, é uma única Igreja formada pelo mesmo
Espírito.
E mais, o mesmo Espírito distribui essas manifestações a CADA UM, conforme ele quer. Se os
dons, são dons da graça, e se a graça é livre, logo os dons da graça também são livres. E se é
graça não há motivo de jactância.
CONCLUSÃO
Concluindo, que possamos entender que a manifestação do Espírito como disse o irmão Aristides
“não é para causar orgulho, mas e para a GLORIFICAÇÃO AO SENHOR. O dom é para a União
da igreja que é o corpo de Cristo, e não para provocar divisão”. E a irmã Lúcia Sejamos humildes
e servimos todos em amor, pois os “dons espirituais” contribuem para edificação do corpo e
procede da Graça de Deus”.

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