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UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Tathyane Lucas Simão
Prof. Ivan Tesck
250
M315p Marchini, Welder Lancieri
Prática pastoral / Welder Lancieri Marchini. Indaial: UNIAS-
SELVI, 2018.
158 p. : il.
ISBN 978-85-69910-96-1
1.Teologia Pastoral.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Welder Lancieri Marchini
APRESENTAÇÃO.....................................................................01
CAPÍTULO 1
Religião, Cultura e Sociedade................................................9
CAPÍTULO 2
Teologia Pastoral: Conceitos e Métodos..........................39
CAPÍTULO 3
Iniciação dos Sujeitos Eclesiais..........................................73
CAPÍTULO 4
Gestão Pastoral e Evangelização.....................................105
CAPÍTULO 5
Evangelização e Juventude.................................................121
CAPÍTULO 6
Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso.............................145
APRESENTAÇÃO
A teologia é responsável por pensar a natureza e a razão de ser da Igreja de
Jesus. Se no início do cristianismo os discípulos e discípulas eram pessoas que tiveram
experiência pessoal com Jesus, as outras gerações se distanciam historicamente
dessa vivência. Surge então a preocupação para que não se perca a autenticidade do
seguimento de Jesus e do evangelho em contextos culturais diferentes.
Quando uma cultura muda, mudam também as práticas religiosas, mesmo que
não mude o referencial. A teologia nasce da experiência de fé do cristão que busca
melhor entender os ensinamentos de Jesus para praticá-los. Somos cristãos. Mas
cada realidade pede práticas diferentes, mesmo que o referencial seja único. Jesus
não disse nada a respeito de ser cristão frente os desafios da internet. E simplesmente
porque a internet não existia no seu tempo.
Mas aqui iremos um pouco além. Mais que uma teologia, iramos pensar práticas
pastorais que dialoguem com o modo de agir e de ser da pessoa de Jesus de Nazaré.
Aqui não traremos verdades quanto ao modo de agir. Buscaremos ser coerentes
com a ideia de que o discernimento para uma ação coerente com a pessoa de Jesus
é fruto do contato com a realidade concreta. Buscaremos antes trazer algumas
inquietações e reflexões teológicas que iluminam o agir da comunidade cristã que
busca a construção do reino.
C APÍTULO 1
Religião, Cultura e Sociedade
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
ConteXtualização
A pastoral é entendida como a ação da Igreja. Você, aluno, pode estar sedento
por encontrar aqui técnicas e estratégias para melhor executar seu trabalho pastoral.
Mas, antes precisamos entender o objetivo deste primeiro capítulo. Sempre que
executamos um trabalho pastoral, estabelecemos um diálogo entre a Igreja e a
sociedade ou a pessoa que recebe os serviços pastorais. Não podemos incorrer no
erro de pensar os trabalhos pastorais sem antes pensar sobre os receptores desta
mensagem. Por isso este capítulo funcionará como uma grande fotografia que
tiraremos da sociedade para melhor entendê-la. Somente depois disso seremos
capazes de pensar em uma pastoral que melhor dialogue com a sociedade.
Uma comunidade eclesial está longe de ser uma empresa, mas podemos
estabelecer um diálogo, pois sempre encontramos nela um caráter empresarial.
Nosso trabalho pastoral precisa ter eficácia. Precisamos alcançar resultados. A
reflexão teológico-pastoral que devemos fazer é sobre quais são esses resultados.
Nem sempre uma igreja cheia é sinônimo de pessoas que realmente acolham a
mensagem do Evangelho tornando-se discípulas e discípulos de Jesus.
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PRÁTICA PASTORAL
Por mais que Deus seja um, as igrejas cristãs são múltiplas. Elas assumem
características culturais do lugar onde estão. Deste modo, por mais que o preto
seja a cor do luto na cultura de raiz europeia, é legítimo à prática pastoral no
Japão utilizar o branco, que tem mais significado naquela região.
Mas não precisamos sair do nosso país para perceber essa diversidade
cultural. Uma pessoa que vive sua religião em um grande centro urbano, como
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
São Paulo, traz uma cultura diferente daquela que vive num pequeno povoado no
Amazonas ou mesmo no litoral do Nordeste. Também a religião será diferente em
cada lugar onde ela se faz presente.
Não se trata de mudar a religião, nem de negar que ela seja dada por Deus. Mas,
antes, de conseguir estabelecer contato entre aquilo que queremos anunciar com
aqueles que receberão o anúncio. Se alguém pensa em vender roupas de frio num
lugar onde a temperatura mínima é de 28º C ou 30º C, sua tentativa será frustrada.
1. Conceito de cultura
Mas os animais têm racionalidade. É isso mesmo. Eles pensam. Mas pensam
diferente de nós, seres humanos. A diferença é que os animais têm uma inteligência
concreta. Isso significa que eles agem buscando resolver situações-problema que
estão relacionadas à sua vida concreta (ARANHA; MARTINS, 2002).
Vamos ver um exemplo? Se o seu animal ficar muito tempo sem comida,
pode ser que ele vá até o saco de ração e rasgue-o para poder comer. Ele resolveu
um problema: a fome. Esse problema é bem concreto. O animal não traçou um
plano, não pensou nas possíveis punições, nem levou a sobra da ração para um
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PRÁTICA PASTORAL
Mas então o que nos diferencia dos animais? Talvez o que nos diferencie é a
capacidade que temos de produzir cultura. Para entender o ser humano como ser
cultural, vamos ver dois termos, o de natureza e o de cultura.
Natureza: É aquilo que existe por si, que não precisa de outro
ser para existir naquelas circunstâncias. Existe sem a interferência
do ser humano. Que é inato.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
Quando uma pessoa está com sede, vai até a beira do rio e se agacha
para com sua boca beber água, ela faz uso da natureza. Esse é um movimento
carregado de instintos. Mas quando ele percebe que pode utilizar suas mãos para
fazer o movimento de cuia, ou utilizar uma folha de árvore enrolando-a como se
fosse um copo, ou mesmo quando o ser humano fabrica uma taça de cristal para
beber água, ele produz cultura.
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PRÁTICA PASTORAL
Tudo aquilo que o ser humano faz e que transforma a natureza é cultura.
Quando um grupo vê sua cultura como antropologicamente superior, temos aquilo
que chamamos de etnocentrismo.
Quando o ser humano percebe que o bambu pode ser utilizado para produzir
uma flauta, quando percebe que a pedra pode ser uma arma ou o couro do animal
pode ser uma roupa, produz cultura. Podemos cair no erro de achar que alguém
que ouve música clássica tem mais cultura que aquele jovem que gosta de funk.
Essa é uma ideia de cultura erudita. No sentido antropológico não há qualidade de
cultura. Não há cultura melhor ou pior. Cultura é cultura e ponto.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
- interpretar;
- dar significado;
- e dar sentido à natureza.
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PRÁTICA PASTORAL
Atividade de Estudos:
2. Conceito de religião
Você já parou para pensar que Deus e a religião são duas coisas
distintas?
Logo que falamos de religião já nos atemos ao nosso contato com Deus.
Mas Deus e religião são duas realidades distintas. Não estamos falando que são
contraditórios, mas distintos, com certeza. Podemos entender Deus como um ser
superior que, na tradição cristã, se revela como Trindade, criando, salvando e
santificando a humanidade.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
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PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
3. A sociedade atual
E onde fica a religião? Com o tempo, ela foi delegada à vivência privada.
Cada indivíduo escolhe e vive a sua religião. Desse movimento culmina a ideia de
um Estado Laico, tão controversa quando falamos da realidade brasileira.
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PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
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PRÁTICA PASTORAL
A cidade grande traz contradições. Ao mesmo tempo que ela oferece aos
seus habitantes uma enorme opção de lazer, ela não oferece tempo para que
desfrutem destas opções. Numa cidade como São Paulo, as pessoas chegam a
ocupar até quatro horas diárias entre a ida e a volta do trabalho.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
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PRÁTICA PASTORAL
Toda instituição traz fortes traços de uma organização racional. Ela cria
regras, leis e busca estabelecer uma ordem. A instituição religiosa tem estatutos,
regulamentos e até legislação, o que fica evidente no Código de Direito Canônico,
que é a lei que gerencia a Igreja Católica.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
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PRÁTICA PASTORAL
instituições foram, aos poucos, perdendo seu valor. Fazer parte de um grupo não
mais é sinônimo de condição à vida humana. Cada um passa a poder escolher
aquilo que pode viver.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
Se geralmente relacionamos crise àquilo que é ruim, isso não é bem verdade.
Crise é uma palavra que vem do grego e significa mudança. Nem toda mudança
é boa, nem toda mudança é ruim, mas as mudanças causam desconforto. E o
maior medo da mudança é por não sabermos ao certo onde chegaremos. Com o
enfraquecimento das instituições, chegamos a uma valorização do indivíduo como
instância de escolhas e organização de sua própria vida (BENEDETTI, 1994).
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PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
Você é fiel ao seu supermercado? Por mais que muitos tenham planos de
fidelidade, vamos ao supermercado que oferece os melhores produtos, mas
sempre com os melhores preços. E vamos ao supermercado para comprar aquilo
que estamos precisando.
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PRÁTICA PASTORAL
Mas nem tudo é tão belo. Lipovetsky (2007) aponta dois problemas dessa
relação entre o indivíduo e a sociedade. A primeira é que a sociedade moderna
desvincula a felicidade e a satisfação da convivência com os outros. Assim,
parece que a felicidade é um estado de espírito que se constrói no indivíduo e
não depende da sua relação com as outras pessoas (LIPOVETSKY, 2007). Isso
não é verdade. Se sou feliz com meu emprego, ele está diretamente relacionado
às pessoas. Se uma pessoa arruma uma namorada ou namorado e se casa, se
estabelece um vínculo, uma relação. Mesmo para os mais individualistas, vale a
máxima da canção de Vinícius de Moraes: “é impossível ser feliz sozinho”.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
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PRÁTICA PASTORAL
Pare um pouco para pensar: você conhece muitos casais que vivem seu
casamento há 30 ou 40 anos? E com 50? Provavelmente a resposta é negativa.
Existem alguns. Mas eles são cada vez mais raros. Isso porque as pessoas não
suportam ser contrariadas. Nossa paciência tem um limite muito pequeno. Não
é raro vermos casamentos que não duram sequer uma semana ou um mês.
Será que antigamente os casais não discordavam? É claro que sim. Mas eles
acreditavam que estar juntos era mais importante que garantir sua satisfação
individual.
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
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PRÁTICA PASTORAL
Algumas ConsideraçÕes
Neste primeiro capítulo trouxemos alguns elementos para melhor
entendermos a Igreja onde desenvolvemos nossa prática pastoral e a sociedade
onde vivemos. Uma comunidade religiosa se constrói a partir da cultura onde está.
Por isso, entender a cultura é um pré-requisito para pensar as práticas pastorais
de nossa comunidade.
É com esse sujeito que nossa prática pastoral irá dialogar, buscando ser
eficiente e eficaz. Se não entendermos nossos interlocutores, de pouco adiantará
aquilo que pensamos na teologia pastoral. De que adiantam discursos belos se
não dizem muito às pessoas? Entendendo a sociedade atual, podemos, agora,
pensar práticas pastorais.
ReFerÊncias
ARANHA, Maria; MARTINS, Maria. Filosofando: introdução à filosofia. São Pau-
lo. Ed. Moderna, 2002.
BOFF, Leonardo. Vida para além da morte. 26. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
COLLIOT-THÉLÈNE, Catherine. A sociologia de Max Weber. Tradução de
Cláudio José do Valle Miranda. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. (Coleção Sociologia:
pontos de referência)
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Capítulo 1 RELIGIÃO, CULTURA E SOCIEDADE
GEERTZ, Clifford. A religião como sistema cultural. In: A interpretação das cul-
turas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. pp. 101-142.
GRÜN, Anselm. O que vem depois da morte. Tradução de Bianca Wandt. 4. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
_______. O que fiz para merecer isto? Tradução de Edgar Orth. 5. ed. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 2011.
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PRÁTICA PASTORAL
MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. 20.
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
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C APÍTULO 2
Teologia Pastoral: Conceitos e Mé-
todos
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
ConteXtualização
Ao falarmos de pastoral, a primeira figura que nos vem à mente é a do pastor.
E então trago uma questão importante. Você, aluno, já viu um pastor, ou convive
com ovelhas? Sabemos que a pastoral é a ação da Igreja que quer repetir, em sua
prática, os gestos de Jesus, o pastor.
No primeiro capítulo de nosso material, você teve contato com aquilo que
chamamos de uma “fotografia” da sociedade atual. Ela é constituída de cidades
cada vez maiores, mas que ao mesmo tempo oferece menos contato entre as
pessoas. Ela também é caracterizada por instituições religiosas e sociais que
influenciam menos a vida de seus indivíduos. Este indivíduo, por sua vez, é cada
vez mais isolado e sente que pode construir sua própria vida, marcada por uma
personalização das experiências religiosas.
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PRÁTICA PASTORAL
Fundamentos EPistemolÓgicos
Epistemologia é a reflexão sobre a natureza de alguma coisa, sobre sua razão
de ser, mas também sobre a construção do próprio conhecimento. Ao falarmos de
um fundamento epistemológico da prática pastoral, queremos entender o que ela
é e, ao mesmo tempo, apontar métodos para a construção de uma teologia da
ação pastoral.
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
Não queremos dizer que o sentimento não seja bom. Ele pode
ser. Mas não é fé. Um exemplo de fé é Abraão. E por quê? Ele
assume um compromisso com Deus, que diz “Saia de sua terra, do
meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu
lhe mostrarei” (Gn 12,1). A fé de Abraão não se mostra pelo contato
que ele tem com Deus, mas com o compromisso assumido, com a
fidelidade construída.
Quanto ao seu método, o da teologia diz que “ela trata todas as coisas à
luz de Deus” (BOFF, 1997, p. 23). Na prática da produção teológica pode-se
entender que o teólogo tem como princípio a experiência histórica da comunidade
religiosa que está presente na Bíblia, mas também na tradição, entendida como a
experiência constituída no período que sucede os escritos bíblicos.
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PRÁTICA PASTORAL
No fundo, você, É na leitura da obra conjunta dos teólogos brasileiros João Batista
estudante, busca Libânio e Afonso Murad (2007) que encontraremos a perspectiva que
fazer teologia para mais nos interessa no entendimento do fazer teológico. A teologia
melhor servir à
sua comunidade, é um saber que busca oferecer uma diretriz à comunidade cristã. No
oferecendo a ela, fundo, você, estudante, busca fazer teologia para melhor servir à sua
mesmo que de
maneira indireta, comunidade, oferecendo a ela, mesmo que de maneira indireta, muito
muito daquilo que daquilo que aqui você aprendeu.
aqui você aprendeu.
Isso não significa que, depois de fazer teologia, você buscará
explicar a todos de sua comunidade todas as coisas que aprendeu,
A teologia deve dizendo a eles que estão equivocados e que você, sim, sabe ao certo
mudar, sobretudo,
seu modo de agir, os conteúdos da fé. A teologia deve mudar, sobretudo, seu modo de
suas concepções agir, suas concepções pastorais, e cultivar a humildade diante do
pastorais, e cultivar a relacionamento com as pessoas de sua comunidade.
humildade diante do
relacionamento com
as pessoas de sua Vamos recapitular...
comunidade.
Podemos entender, trazendo as informações que vimos até aqui,
a teologia como produção de cunho epistemológico-acadêmico que, baseada na
leitura da história cristã, busca oferecer diretrizes ao cristianismo, seja o vivido
nas comunidades eclesiais, seja o pensado na doutrina, moral ou entendimento
bíblico, que é responsabilidade da instituição.
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
Atividade de Estudos:
E a teologia pastoral? Vamos ver agora alguns autores que nos ajudam a
entender aquilo que é a teologia pastoral, como ela se organiza e qual o método
que ela utiliza para pensar a vida prática das comunidades eclesiais.
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PRÁTICA PASTORAL
A cada modelo o autor soma um modelo de ação, ou seja, como este modelo
entende que deve agir, e o modelo eclesial, ou seja, a autocompreensão da própria
Igreja neste determinado período. Você pode se aprofundar no entendimento
destes modelos na própria obra.
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
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PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
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PRÁTICA PASTORAL
Atividade de Estudos:
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
3. Os cenários de Igreja
Mas uma reflexão do autor se faz necessária: “Um cenário não se escolhe.
Impõe-se. Tem-se de viver dentro dele. As análises ajudam a elaborar as
estratégias de resistência, caso triunfe um cenário adverso. Ou a organizar as
próprias forças vitoriosas” (LIBÂNIO, 2001, p. 13).
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PRÁTICA PASTORAL
• Ponto forte: como vimos no Capítulo 1, o mundo atual traz muitas insegu-
ranças e transformações, principalmente para as religiões. O cenário insti-
tucional oferece segurança diante de um mundo tão incerto. Diante da flexib-
ilidade moral, as instituições transmitem regras e orientações bem definidas.
A segurança vem também pela caracterização. No ambiente católico haverá
sobretudo a valorização das vestes e dos objetos religiosos. No ambiente
evangélico, de elementos midiáticos como a música gospel.
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
O carisma aqui segue a teoria do sociólogo Max Weber (apud PASSOS, 2006).
Ao ser fundada, uma religião segue as orientações do seu líder, que geralmente
é uma pessoa carismática. As pessoas não o seguem necessariamente por suas
teorias e ideias, mas pelo poder de agregar seguidores, por sua simpatia e poder
de sedução.
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PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
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PRÁTICA PASTORAL
Atividade de Estudos:
Meu nome é Sirjan Bhattarai. Sou pastor de uma igreja apoiada por
Gospel for Asia (GFA), no Nepal, e também estou ministrando nos
arredores dos vilarejos não alcançados.
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
A mulher nos disse algo tão maravilhoso! Ela disse que tinha ouvido
um programa da Rádio GFA na língua gurung. Certa vez, ela estava
sofrendo de dor de cabeça. Seu filho estava ouvindo a mensagem
do Evangelho no rádio. Ao final da pregação, o locutor disse aos
ouvintes que iria orar a Deus por sua cura. Após a oração, ela não
tinha mais dor.
Por favor, orem para que meu ministério seja eficaz e frutífero. Orem
pelas pessoas desse vilarejo, para que o Senhor possa trazê-las
para o Seu Reino.
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PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
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PRÁTICA PASTORAL
5. Fundamentos bíblicos
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
E é claro que uma situação não elimina a outra. Se Jesus nos ensina
que nossa prática pastoral deve estar voltada à inclusão (Mc 10, 46-52) e ao
crescimento e dignidade da pessoa (Jo 10,10), Paulo nos ensina que
as comunidades devem se organizar para que nossos trabalhos não
Esses serão os
sejam em vão. dois pilares de
nossa reflexão:
Esses serão os dois pilares de nossa reflexão: Jesus e Paulo. Jesus e Paulo.
Muitos irão perceber que nossas comunidades têm um espírito, além Muitos irão perceber
de cristão, paulino. Nosso objetivo será identificar quais são os critérios que nossas
comunidades têm
tanto de Jesus, como de Paulo, que embasam nosso agir pastoral.
um espírito, além de
cristão, paulino.
5.1 A prática de Jesus
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PRÁTICA PASTORAL
Como fazer para que essa multidão tome consciência e siga Jesus com mais
intensidade? Para isso Jesus utiliza as parábolas. Jesus vive em uma sociedade
rural e suas parábolas utilizam, sim, elementos da vida rural, como as ovelhas, a
semente ou a videira, mas elas causam estranheza.
Vamos tomar como base a parábola do semeador (Mt 13,1-17). A terra onde
Jesus vive é seca. As plantações são escassas e muitas vezes não há água o
suficiente para regá-las. As sementes são produtos das plantações. Sem semente
não há plantação, mas sem plantação também não há semente. A semente é
valiosa.
Quem vive neste contexto escuta Jesus falando que o semeador saiu a
semear... e lançou sementes à beira do caminho, depois sobre as pedras, sobre
os espinhos e apenas uma parte sobre a terra boa. Como pode alguém fazer isso
com as sementes que são tão valiosas? Então a pessoa pensa: Jesus não pode
falar apenas de sementes. Ele está falando de outra coisa.
Essa estranheza aparece também quando Jesus diz que o pastor deixou as
99 ovelhas para buscar uma que estava perdida ou ainda que uma mulher faz
uma festa por encontrar a moeda de ouro. Como pode um pastor, que se sustenta
graças a seu pastoreio, comprometer-se ao ponto de deixar as 99 de lado? Como
pode uma mulher dar uma festa, gastando uma quantia de dinheiro que não
justifique a moeda que encontrou?
Olhe bem, caro aluno! Não estamos aqui dizendo que Jesus estava errado
ou não sabia daquilo que estava falando. Estamos dizendo que essas historietas
contadas por Jesus tinham essa dinâmica confusa, de propósito. Jesus queria,
com elas, gerar curiosidade na multidão.
Mas há ainda um terceiro grupo: o dos “Doze” (Mt 26,14; 26,47). É assim
que Mateus os chama. “Os Doze” serão os continuadores da ação de Jesus. Eles
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
Mas a cruz é muito mais que um pedaço de madeira. Carregar a sua cruz e
seguir Jesus é assumir a mesma postura que Jesus assumiu em toda a sua vida
pública.
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PRÁTICA PASTORAL
Para dar mais força ao que está dizendo a seus discípulos, Jesus
acrescenta uma frase paradoxal: “Se alguém quer salvar a sua vida,
vai perdê-la; mas quem perder a vida por causa de mim, vai encontrá-
la”. Jesus os está convidando a viver com Ele: agarrar-se cegamente
à vida pode levar a perdê-la; arriscá-la de maneira generosa e audaz
por causa dele e de seu projeto do reino leva a salvá-la.
Mas somos muito mais paulinos que imaginamos. Nosso modo de organizar
a Igreja, ao mesmo tempo em comunidades autônomas e que seguem uma
hierarquia apostólica, vem de Paulo. Ele trabalha com lideranças comunitárias
que dialogam com os apóstolos.
Paulo era um judeu que prezava pela lei e pela tradição de sua cultura e
religião. Ao se converter ao cristianismo, ele traz muito da cultura judaica. Esse
diálogo com o tempo faz com que Paulo não mais se entenda dentro do judaísmo,
mas ainda como hebreu (Gl 2). Mas o importante é entendermos que, dentro do
judaísmo do período paulino, há uma valorização da comunidade. Os judeus se
organizam em sinagogas. Se hoje elas são sinônimo de templos, na época não
era assim. A sinagoga judaica é a comunidade judaica, criada no período do exílio
quando o templo já não era acessível. Estando longe, o povo dá novo sentido à
sua história fazendo com que a comunidade se torne sinal da pertença judaica.
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PRÁTICA PASTORAL
Essa igreja toma corpo nas casas. Não há templos cristãos e os cristãos ainda
nem atendem por esse nome. Seremos chamados de cristãos posteriormente
em Antioquia. Nas casas Paulo deixará lideranças. Um exemplo é Lídia, figura
presente no livro de Atos (16,14), discípula de Jesus por meio de Paulo. É na casa
dela que a comunidade se encontra (At 16,40).
Tanto em Jesus como Paulo identifica a Igreja como “Corpo de Cristo”. Muito da teologia
em Paulo vemos cristã será pensada a partir deste simbolismo. O Cristo cabeça mostra a
uma preocupação
com as lideranças importância de Jesus na identificação de seu reino. Os vários membros
comunitárias. Elas remetem à diversidade de carismas, funções, ministérios e serviços
não são identificadas
como mão de obra prestados à comunidade.
ou massa que forma
o corpo da Igreja. Há Tanto em Jesus como em Paulo vemos uma preocupação com as
uma preocupação
com a fomentação lideranças comunitárias. Elas não são identificadas como mão de obra
de discípulos e ou massa que forma o corpo da Igreja. Há uma preocupação com a
discípulas que
assumam o seu papel fomentação de discípulos e discípulas que assumam o seu papel na
na comunidade. comunidade.
66
Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
6.1 O sujeito
Mas tem também um outro grupo, o dos Doze, segundo Mateus, que podemos
relacionar com os atores sociais de Touraine. Se o sujeito atua socialmente, ele
transforma sua sociedade e contribui para sua formação. A prática pastoral deve
visar à construção de sujeitos eclesiais, que não têm consciência de sua função
como cristãos, aqueles que querem participar ativamente de suas comunidades,
tornando-se atores eclesiais.
6.2 A identidade
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PRÁTICA PASTORAL
Ao estabelecer um diálogo entre aquilo que queremos ser com aquilo que
conseguimos ser no nosso cotidiano, nos construímos como cristãos, construindo
nossa identidade. Uma prática pastoral, para buscar ser eficaz, precisa formar
pessoas maduras e autônomas, pessoas que busquem estabelecer práticas que
dialoguem com sua própria história e, consequentemente, com a história ao seu redor.
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Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
O teólogo José Antonio Pagola nos dá uma preciosa pista. Segundo sua
teoria, o projeto de Deus é um projeto de humanização (PAGOLA, 2015). Podemos
entender que, se a pastoral de uma comunidade não leva as pessoas a serem
melhores pessoas, ela é ineficaz e pouco consoante com o projeto de Jesus, que
é o reino de Deus. O objetivo não é a sacramentalização, a frequência dos fiéis
ou a adesão religiosa. Tudo isso é meio. Receber o sacramento, pertencer a uma
Igreja ou ir a um culto religioso só serve se nos leva a ser uma pessoa melhor e
a assumir nosso papel na comunidade e no mundo, como sujeitos. Encerramos
nosso capítulo com um trecho do livro de Pagola.
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PRÁTICA PASTORAL
Atividade de Estudos:
Algumas ConsideraçÕes
Neste capítulo pudemos entender que a Igreja se pensa na teologia, mas
se concretiza na pastoral. Fazemos teologia pastoral à medida que pensamos as
práticas das nossas comunidades, colocando-as em conformidade com a prática
de Jesus e com seu Evangelho.
70
Capítulo 2 TEOLOGIA PASTORAL: CONCEITOS E MÉTODOS
ReFerÊncias
ANTONIAZZI, Alberto; BROSHUIS, Inês; PULGA, Rosana. ABC da Bíblia. 30.
ed. São Paulo: Paulus, 1982.
BOFF, Leonardo. O senhor é meu pastor: consolo divino para o desamparo hu-
mano. 3. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.
LIBÂNIO, João Batista. Cenários da igreja. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2001.
LIMA, Maria de Lourdes Corrêa. Exegese bíblica: teoria e prática. São Paulo:
Paulinas, 2014. (Coleção exegese)
71
PRÁTICA PASTORAL
PULGA, Rosana. Beabá da Bíblia: uma introdução à visão global. 5. ed. São
Paulo: Paulinas, 1998.
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C APÍTULO 3
Iniciação dos Sujeitos Eclesiais
74
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
ConteXtualização
É comum, em uma comunidade religiosa, a presença de novos membros. Há
uma preocupação da comunidade em preparar esses membros para que sejam
inseridos na comunidade e conheçam a pessoa de Jesus e seu Evangelho. Cada
comunidade tem um modo de preparar seus novos membros.
Você, aluno de Teologia, buscou esse curso certamente porque tem uma
vivência cristã e quer aprofundar ainda mais o seguimento de Jesus. Talvez você
o tenha buscado para qualificar seus trabalhos na comunidade. Também há
aqueles que são líderes religiosos e querem se preparar melhor para o anúncio da
Palavra, qualificar seus sermões e pregações e, assim, chegar mais ao coração
de seus fiéis.
Já tivemos uma caminhada juntos, mesmo que esta caminhada seja virtual.
Nesta caminhada, vimos que o mundo está mudando e é preciso entender esse
mundo para conversarmos com ele, evangelizando. Vimos também que a pastoral
é a ação da Igreja junto deste mundo. Não sei se vocês repararam, mas até
agora não defendemos que a pastoral seja a ação de uma Igreja, em específico.
Acreditamos que você, que buscou fazer Teologia, encontrará aqui, no curso de
Prática Pastoral, ferramentas para qualificar o trabalho de sua comunidade cristã,
seja de qual denominação ela for.
75
PRÁTICA PASTORAL
76
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
Pastoral CateQuética
Inspirada nas palavras de Jesus, “ide, portanto, e fazei que todas as nações
se tornem discípulos, batizando-as [...] e ensinando-as a observar tudo quanto
vos ordenei” (Mt 28,19), a comunidade cristã tem a missão de anunciar os gestos
e ensinamentos de Jesus de Nazaré. Todos os trabalhos da Igreja fazem parte de
sua missão evangelizadora, e a catequese é espaço fundamental e privilegiado
para que isso aconteça. Assim, a catequese se faz espaço de evangelização,
iniciação na fé e inserção na vida comunitária.
77
PRÁTICA PASTORAL
Todo processo
catequético tem Todo processo catequético tem por objetivo levar os catequizandos
por objetivo levar
os catequizandos a a perceberem que o Cristo que receberam quer fazer parte de suas
perceberem que o vidas afetiva e efetivamente. O encontro com Jesus transforma os
Cristo que receberam afetos e também a mentalidade (vivência subjetiva), mas transforma
quer fazer parte de
suas vidas afetiva e também a situação concreta na qual vivemos (vivência objetiva).
efetivamente.
De onde vem a catequese?
78
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
Tem muita gente que fala que religião não tem nada a ver com
política, mas todo dia diz que Jesus é rei. Se Jesus é rei, ele assume
uma função política. Qual a sua função: construir seu reino.
79
PRÁTICA PASTORAL
Atividade de Estudos:
80
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
Viver uma vida cristã é muito mais que ir ao culto ou à missa a cada domingo,
é muito mais que receber um sacramento, é muito mais que orar a cada dia ou se
reunir com as pessoas para rezar o terço. Viver a vida cristã é assumir uma vida
que tenha sentido (NENTWIG, 2013).
81
PRÁTICA PASTORAL
82
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
83
PRÁTICA PASTORAL
1. Metodologia catecumenal
84
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
1.1 Pré-catecumenato
1.2 Catecumenato
85
PRÁTICA PASTORAL
1.3 Iluminação
1.4 Mistagogia
86
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
Atividade de Estudos:
Texto:
87
PRÁTICA PASTORAL
QuestÕes Didático-PedagÓgicas e
MetodolÓgicas Para a CateQuese
Não queremos equiparar a catequese aos processos escolares e muito menos
dizer como se deve ensinar, mas é importante termos uma breve noção de elementos
e instrumentos que nos levam a criar um melhor ambiente e estabelecer um diálogo
entre nós e os catequizandos, ou seja, aqueles que querem conhecer Jesus.
88
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
1. Orientações metodológicas
89
PRÁTICA PASTORAL
2. Interação fé e vida
Jesus foi uma pessoa que vivia intensa compaixão pelas pessoas que o
cercavam. Ao mesmo tempo, sua fé apontava para o Pai e seu Reino. Jesus
prega insistentemente o Reino. No Evangelho de Marcos, vemos que o Reino é a
proposta de Jesus para ser assumida por todos. Quando alguém se encanta pelo
Reino, é preciso aderir a sua construção “imediatamente”. Por isso mesmo Marcos
nos diz que os discípulos “imediatamente” deixaram as redes e seguiram Jesus
(cf. Mc 1,18), “imediatamente” chamam Jesus e logo ele cura a sogra de Pedro
(cf. Mc 1,29-31), como também é “instantânea” a cura do leproso (cf. Mc 1,40-
45); nos diz também que a fama de Jesus se espalhava “rapidamente” (cf. Mc
1,28). Marcos não queria dizer, com tantas palavras que nos lembram a pressa do
mundo atual, que Jesus era uma pessoa agitada. Ele quer demonstrar que aquele
que faz a experiência de Jesus tem pressa de que o Reino aconteça. O Reino, na
pregação de Jesus, não era apenas uma teoria. Era uma prática. Assumir uma
catequese que busque a interação fé e vida é assumir a Jesus como proposta
concreta que transforma nossa vida cotidiana, dando a ela valor e sentido.
90
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
mais plena. Se pensarmos bem, é fácil ser cristão dentro da comunidade. Nela
todos pensam de forma muito parecida, estão no mesmo ambiente e, mesmo
que discordem em alguma coisa, a fé é a mesma. Difícil é ser cristão fora da
comunidade eclesial. É lá que concretizamos e plenificamos nosso discipulado
assumindo nossa atitude de cristão e concretizando a prática cristã nas relações
que estabelecemos. Uma catequese que tenha como perspectiva a relação fé
e vida preza por uma ação evangelizadora que se torne atitude cristã na vida
cotidiana, ou seja, no mundo do trabalho, da escola, da família... à luz da fé e dos
ensinamentos cristãos (cf. DGAE, 2011-2015, 71).
Quais são os parâmetros para sabermos se aquilo que eles vivem e trazem
para o momento do encontro de catequese é coerente com os princípios da fé
cristã? Esse é o momento do JULGAR.
91
PRÁTICA PASTORAL
Talvez a palavra julgar traga a ideia de um tribunal que nos falará aquilo que
é certo ou errado. Não seria bem isso que essa etapa quer propor. Aqui, JULGAR
está mais no sentido de iluminar a realidade vivida à luz da Palavra de Deus e dos
ensinamentos da Igreja.
92
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
ou falamos. Sempre que possível, o catequista pode transformar aquilo que for
conversado em uma prece ou oração. Usar símbolos pode tornar o momento
celebrativo mais dinâmico. Também materiais para desenhos, colagens e recortes
de jornais e revistas podem ser usados para os momentos de oração e celebração.
E a ordem, deve ser essa? É importante dizer que esse método é cíclico
e um momento sempre traz consigo os outros três, VER, JULGAR, AGIR e
CELEBRAR não podem ser separados. Quando o catequizando traz uma situação
para o encontro, ele já buscou entender essa situação. Ao mesmo tempo, quando
o catequista traz a ação de Jesus para iluminar a realidade, já transformamos
em prece nosso momento de encontro com Ele, mas na hora de prepararmos o
encontro de catequese, a ordem apresentada pelo próprio tema pode ser outra.
Essa parte é de autonomia do catequista, que conhece melhor seus catequizandos
e a realidade que eles vivem.
93
PRÁTICA PASTORAL
de contato com Deus. A Bíblia será sempre utilizada em nossos trabalhos, e assim
não poderia deixar de ser. Ela é o livro de catequese por excelência, pois nos
aproxima mais de Deus. Para bem utilizar a Bíblia é necessário que o catequista
procure pela formação bíblica. Quanto mais conhecermos do universo bíblico, melhor
trabalharemos com os catequizandos. Sempre traremos explicações sobre os textos
bíblicos usados, mas elas estão mais sintonizadas ao tema trabalhado. Qualquer
método de leitura bíblica utilizado pelo catequista pode ser de muita utilidade.
O maior desafio é deixar de ser uma catequese que utilize a Bíblia para ser
uma catequese bíblica. Isso significa ter a Escritura como base para entendermos
a ação de Deus e a realidade humana. Por isso mesmo, o catequista deve sempre
utilizar a Bíblia nos encontros. Cada tema do nosso livro tem, pelo menos, dois
textos bíblicos que devem ser muito bem explorados, inclusive com leitura orante.
94
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
5. Dinamizando a catequese
Dedicaremos esta seção a dicas práticas para que você possa dinamizar
os encontros de catequese em sua comunidade. A palavra dinamizar vem do grego
dynamis, que quer dizer movimento. Ao dinamizar os encontros de catequese,
queremos que eles se tornem mais agradáveis aos catequizandos.
95
PRÁTICA PASTORAL
5.1 Canções
96
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
qual a frase que mais chamou a atenção e qual a relação da frase com o
tema trabalhado. Muitas mensagens interessantes saem dessa dinâmica.
Frequentemente os catequizandos tiram mensagens da canção que nós
não havíamos percebido.
• As canções podem ser usadas tanto para mapearmos uma realidade
(VER), como também para analisarmos (JULGAR) essa mesma realidade.
• Outro instrumento interessante são os clipes das canções. Alguns trazem
histórias e imagens bem interessantes, que ajudam na abordagem dos
temas.
5.2 Poemas
5.3 Filmes
97
PRÁTICA PASTORAL
5.4 Dinâmicas
5.5 Brincadeiras
98
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
Atividade de Estudos:
CateQuese Permanente
Alguns pontos relacionados à catequese merecem ser retomados. Vimos que
o centro do processo catequético é a pessoa de Jesus e seu Evangelho. Vimos
também que os processos catequéticos assumem, cada vez mais, características
catecumenais. Essas ideias se concatenam na Iniciação à Vida Cristã. Na prática,
construímos uma catequese que continua acompanhando a vida do catecúmeno,
mesmo depois da celebração do sacramento. Na prática pastoral catequética
chamamos esse processo de catequese permanente. Ao falar da conformidade
daquele que é iniciado à pessoa de Jesus, Lelo (2014, p. 13) diz:
99
PRÁTICA PASTORAL
100
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
Uma catequese que busca ser permanente quer, além de levar o catecúmeno
à experiência batismal, iniciá-lo no seguimento de Jesus, possibilitando a formação
de um sujeito eclesial ou, em outras palavras, de um discípulo missionário.
101
PRÁTICA PASTORAL
Algumas ConsideraçÕes
A comunidade cristã tem como característica estar aberta a novas adesões.
Se no período apostólico cada novo discípulo era acompanhado, com o aumento
dos participantes das comunidades e as características de celebrações com maior
número de adeptos, isso não foi mais possível.
ReFerÊncias
ALMEIDA, Antonio José de. ABC da iniciação cristã. São Paulo: Paulinas,
2010. (Coleção Jesus mestre)
102
Capítulo 3 INICIAÇÃO DOS SUJEITOS ECLESIAIS
CHARPENTIER, Etienne. Para ler o Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1992.
DIDAQUÉ. Catecismo dos primeiros cristãos. 10. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
GIL, Paulo Cesar. Quem é o catequizando? 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
LIMA, Luiz Alves de. A catequese do Vaticano II aos nossos dias: a caminho
de uma catequese a serviço da iniciação à vida cristã. São Paulo: Paulus, 2016.
(Coleção Marco Conciliar).
103
PRÁTICA PASTORAL
_______. Iniciação à vida cristã III: catecumenato. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
(Iniciação à vivência cristã).
RAY. Leitura orante: caminho de espiritualidade para jovens. São Paulo: Pauli-
nas, 2001.
RICA. Ritual da Iniciação Cristã de Adultos. 5. ed. São Paulo: Paulinas, 2013.
104
C APÍTULO 4
Gestão Pastoral e Evangelização
106
Capítulo 4 GESTÃO PASTORAL E EVANGELIZAÇÃO
ConteXtualização
Se pensamos em um líder de uma comunidade eclesial, pensamos em
alguém que teve uma profunda experiência com Deus e busca possibilitar a outras
pessoas que também tenham essa mesma experiência.
Esse pode ser o seu caso, caro estudante de Teologia. Você tem, em algum
momento de sua vida, uma experiência profunda e existencial. Ela te leva a
assumir um novo comportamento, com novos projetos e perspectivas. Talvez você
se torne um agente de pastoral, um servo de uma igreja. Talvez a experiência o
leve a ser uma liderança ministerial, seja um padre ou um pastor.
Nossa ocupação será, neste material, com a primeira característica: Nossa ocupação será,
neste material, com a
a pastoral. É preciso organizar o grupo de colaboradores (servos e
primeira característica:
agentes de pastoral) para que os trabalhos pastorais aconteçam com a pastoral.
maior fluidez e organicidade.
Administração Comunitária
Administrar a pastoral de uma comunidade significa, na prática, organizar as
estruturas e o material humano que forma a comunidade, para que o trabalho
de evangelização aconteça. Para facilitar o entendimento daquilo que é a
administração pastoral de uma comunidade, iniciaremos com uma definição de
administração eclesial:
107
PRÁTICA PASTORAL
108
Capítulo 4 GESTÃO PASTORAL E EVANGELIZAÇÃO
1. Critérios bíblicos
Jesus não fala de administração de comunidades, isso por dois motivos bem
aparentes. Primeiro porque as comunidades eclesiais, nos moldes que existem
hoje, não existiam na época de Jesus. Elas são uma construção histórica dos
cristãos que buscaram atender às necessidades de seu tempo. Depois, podemos
perceber que Jesus tinha uma relação diferente com a religião. Ele vai ao Templo,
mas sua participação é limitada a algumas festas. A religiosidade de Jesus, como
era comum em sua época, acontece sobretudo fora do Templo.
Como poderíamos nos inspirar na Bíblia para falar de gestão pastoral? Isso só é
possível se assumirmos alguns critérios oferecidos pelo próprio Jesus. Estes critérios
não falam de gestão ou administração, mas nos mostram um horizonte a ser seguido.
109
PRÁTICA PASTORAL
A pastoral deve “ser A pastoral também deve “ser comunitária, sem ser massificante”
comunitária, sem ser
massificante” (BRIGHENTI, 2000, p. 26). O comunitário é caracterizado pelos
110
Capítulo 4 GESTÃO PASTORAL E EVANGELIZAÇÃO
Uma comunidade também deve ser “comprometida sem ser Uma comunidade
deve ser
politizante” (BRIGHENTI, 2000, p. 27-28). Um planejamento pastoral
“comprometida sem
deve considerar a experiência concreta da vida de seus membros. ser politizante”.
Assim, se a comunidade está situada em um bairro que apresenta
problemas estruturais, ele deve se comprometer. O planejamento comunitário não
deve dizer para seus membros em qual partido eles devem votar e sim com quais
critérios eles devem se comprometer.
Por fim, uma comunidade deve ter um planejamento “aberto ao Uma comunidade
universal, sem ser universalizante” (BRIGHENTI, 2000, p. 29). Estar deve ter um
aberto ao universal significa perceber os acontecimentos, sejam em planejamento “aberto
nível eclesial ou social, que influenciam a comunidade, abrindo-se a ao universal, sem ser
novas experiências e dialogando com novas expectativas. universalizante”.
ConselHos e Gestão
Os conselhos comunitários são a própria administração da comunidade. Ao
descrever as funções do conselho comunitário, Altoé descreve que ele “integra
e anima as pastorais, os trabalhos de evangelização e a vida da comunidade,
seguindo as orientações da Igreja. Em outras palavras, o conselho COORDENA
A COMUNIDADE” (ALTOÉ, 2008, p. 13). Ao descrever a realidade católica dos
conselhos comunitários, Pereira aponta que:
111
PRÁTICA PASTORAL
112
Capítulo 4 GESTÃO PASTORAL E EVANGELIZAÇÃO
Recapitulando
Atividade de Estudos:
113
PRÁTICA PASTORAL
114
Capítulo 4 GESTÃO PASTORAL E EVANGELIZAÇÃO
Gestão e ParticiPação
Um monge da igreja medieval, chamado São Bento, tinha no slogan Ora et
Labora a representação do carisma de sua Ordem. As palavras Ora et Labora
vêm do latim e significam Ora e trabalha. Bento defendia a ideia de que a oração,
sem o trabalho, era pura teoria, mas também o trabalho, sem a oração, perdia
seus fundamentos (GRÜN; ASSLÄNDER, 2014). Ora et Labora são duas fases de
um trabalho que deve buscar a harmonia.
115
PRÁTICA PASTORAL
Técnicas de Planejamento
O planejamento pastoral de uma comunidade é importante para que ela
otimize seu trabalho, no sentido de aproveitar melhor o material humano que tem,
pensando prioridades e estratégias de evangelização. Os autores Henrique e
Paiva definem planejamento como:
A organização pastoral, para ser mais eficiente, deve buscar ser orgânica.
Isso significa que as pastorais, serviços e ministérios presentes em uma
comunidade eclesial devem trabalhar em conjunto e não de maneira como se
fossem departamentos separados (ALTOÉ, 2011). Na prática podemos entender
que, quando uma criança participa, por exemplo, dos processos catequéticos, ela
também pode participar dos trabalhos da Pastoral da Criança, sua família pode ser
atendida pelos vicentinos, e a família, como um todo, participa das celebrações
litúrgicas. Como nos planejar? Henrique e Paiva nos dão o seguinte caminho:
116
Capítulo 4 GESTÃO PASTORAL E EVANGELIZAÇÃO
Por fim, uma pastoral “não deve copiar, mas ser original” (BRIGHENTI, 2000, p.
107). Uma comunidade pode se inspirar em práticas pastorais executadas em outras
comunidades, e não há mal algum nisso. As práticas pastorais devem dialogar com
a realidade de cada comunidade. Uma missa celebrada no horário de almoço em
um centro comercial pode surtir efeito, visto que as pessoas aproveitam o horário
de almoço para participar das celebrações. Ser original está em ter estratégias
pastorais que facilitem o acesso a Jesus e seu Evangelho. Ser original significa
voltar à origem. A origem da prática pastoral deve ser Jesus e seu evangelho.
Atividade de Estudos:
117
PRÁTICA PASTORAL
Algumas ConsideraçÕes
Existe uma cantiga que fala: “Caminheiro, você sabe, não existe caminho.
Passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz”. A cantiga quer dizer que cada
um deve encontrar o caminho, dialogando com a realidade concreta da vida. E
isso é bem verdade.
118
Capítulo 4 GESTÃO PASTORAL E EVANGELIZAÇÃO
ReFerÊncias
ALTOÉ, Adailton. Organização paroquial: conselhos, equipes e serviços pasto-
rais. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. (Coleção gestão paroquial).
MÜLLER, Ivo. Direitos e deveres do Povo de Deus. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
(Coleção introdução à teologia).
119
PRÁTICA PASTORAL
120
C APÍTULO 5
Evangelização e Juventude
122
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
ConteXtualização
Muitas comunidades eclesiais encontram dificuldade em evangelizar a
juventude. É comum delegarmos a “culpa” desta dificuldade aos jovens, dizendo
que “não querem nada com nada” ou que vivem em crise. Então, o que podemos
fazer para que os jovens tenham contato com Jesus e seu evangelho e para que
encontrem nas comunidades eclesiais um ambiente onde possam se construir
como cristãos? Daremos algumas pistas e ofereceremos reflexões que ajudem a
entender melhor a juventude.
A Sociedade Hodierna
Em nosso primeiro capítulo buscamos trazer elementos que nos ajudaram
a montar o cenário do mundo atual. Este cenário tem como elemento os jovens
e as comunidades eclesiais. A interação com as mídias faz com que os jovens
vivam com maior latência as consequências da globalização. Eles interagem com
modelos globais, tanto no que diz respeito à cultura, como os modelos religiosos.
123
PRÁTICA PASTORAL
Seja qual for a postura que assume o indivíduo hodierno, ela é motivada
pela busca de bem-estar e pelos critérios aparentemente estabelecidos por este
próprio indivíduo. Não há princípios institucionais que sejam assumidos sem
que antes sejam debatidos, pensados, assimilados, ou simplesmente, sejam do
gosto ou gerem bem-estar para o indivíduo (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004). O
indivíduo e sua satisfação passam a ser o critério, em detrimento do interesse das
instituições ou da ideia de social e coletivo. Se o indivíduo apresenta interesses
coletivos, ele geralmente é expressão de seu grupo de convivência e não da
sociedade como um todo.
124
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
1. A juventude inatingida
Se por um lado cresce a busca por experiências religiosas, por outro diminui o
sentimento de pertencimento a uma religião em específico. Há envolvimento com a
prática religiosa, mas não com as estruturas de uma igreja. Esses mesmos jovens
não querem envolvimento com suas comunidades eclesiais, esse envolvimento
exigiria um comprometimento maior do que aquele que eles se propõem a
oferecer, seja com as estruturas institucionais ou com o código de conduta moral
apresentado pela religião. O jovem cria uma distinção bem clara entre a vivência
religiosa na esfera pública (aqui quase identificada como a participação em um
evento) e a intervenção dos ensinamentos religiosos na esfera privada do jovem,
principalmente no campo da sexualidade (TOURAINE, 2003).
125
PRÁTICA PASTORAL
3. A juventude religiosa
4. Individualismo
126
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
127
PRÁTICA PASTORAL
Juventude e a Igreja
Falar de Igreja e juventude se torna um grande desafio se
Estamos falando do
jovem que participa antes não identificarmos de que aspecto eclesial e de que juventude
esporadicamente e estamos falando. Não ignoramos que as várias igrejas buscam abarcar
não sistemática e a juventude em seus trabalhos, mas nesta seção nos ocuparemos
estruturalmente de
atividades. sobretudo dos jovens que buscam uma participação religiosa eventual.
Aqui não estamos falando unicamente de eventos grandiosos, como a
Jornada Mundial da Juventude (JMJ) ou Marcha para Jesus. Estamos falando
do jovem que participa esporadicamente e não sistemática e estruturalmente de
atividades, sejam elas em uma comunidade paroquial, um culto evangélico ou em
um evento organizado por um movimento cristão.
128
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
Mais que criar regras sobre o que devemos ou não fazer, Jesus nos chama
a acolhermos as realidades que nos assolam. Exemplo disso é a perícope que
retrata o encontro de Jesus com Jairo e com a mulher que sofria de hemorragia
(Mc 5,21-43). Jairo pede que Jesus cure sua filha, uma menina de 12 anos (Mc
5,42). Essa é a fase do início da menstruação. A partir desse momento a menina
entrava no grupo daqueles que eram vítimas da lógica do puro-impuro. A mulher
com hemorragias já era vítima dessa lógica há longos 12 anos (Mc 5,25), a mesma
idade da menina. Ao tocar em Jesus, a mulher faz com que ele participe dessa
cruel lógica: estaria Jesus impuro? Jesus se volta à multidão (Mc 5,30) e, não por
acaso, Ele quer que todos percebam que foi tocado. A comunidade é chamada a
participar dessa cura. Também nós somos chamados a participar deste assunto,
discuti-lo, acolhê-lo.
129
PRÁTICA PASTORAL
Atividade de Estudos:
130
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
se coloca como o centro da questão da fé. Não mais se assume uma doutrina
como o parâmetro. A fé é assumida como meio de satisfação do indivíduo, mas a
modernidade, principalmente a brasileira, da qual estamos falando, não deixou de
ser religiosa. Ela vive essa religiosidade tendo o próprio indivíduo e a satisfação de
suas necessidades como parâmetro (MARCHINI, 2015).
Nesta perspectiva, temos jovens que tendem mais para uma vivência
da religiosidade que da religião propriamente dita. A vivência da religiosidade
acontece à medida que se valoriza a ideia de “experiência religiosa” e não adesão
institucional (RIBEIRO, 2009). Se alguém diz que estes jovens deixaram de ser
religiosos se engana, eles mudam o modo como vivem sua fé ou sua religiosidade,
mas continuam buscando uma vivência religiosa.
131
PRÁTICA PASTORAL
Libânio não cita o 1% da pesquisa, mas isso não tira o mérito de sua
análise.
132
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
InQuietaçÕes Pastorais
Na Encíclica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco identifica a evangelização
com a atitude de alegria (EG 1). Uma evangelização da juventude – ou melhor
ainda, com a juventude – não deve prescindir da intenção de construir uma atitude
de alegria. O jovem é costumeiramente identificado como aquele que traz consigo
a capacidade de viver e irradiar a alegria do Evangelho. Uma pastoral que tenha
esta perspectiva é chamada a assumir novos métodos e perspectivas pastorais.
133
PRÁTICA PASTORAL
Assim, a evangelização dos jovens deve ter o objetivo de criar uma identidade
juvenil que seja espelho da identidade cristã. Entendemos como identidade, numa
concepção sociológica, aquilo que
134
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
135
PRÁTICA PASTORAL
1. Postura de acolhida
A ação evangelizadora que busca acolher o jovem deve ter em vista sua
construção como sujeito. Nesta concepção pastoral encontramos certa mudança
paradigmática. Mais que constituir uma Igreja com seus organismos e estruturas,
a pastoral voltada à juventude quer se tornar espaço propício para que o jovem
se constitua como sujeito. Superando a postura de indivíduo, caracterizado por
Blank pela figura da ovelha, passiva diante das instruções do pastor, o jovem será
atendido pelos planejamentos e atividades pastorais da Igreja quando assumir-se
como sujeito ativo do processo de evangelização (BLANK, 2006).
136
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
137
PRÁTICA PASTORAL
nível mundial ou nacional, como a JMJ, seja ele iniciativa de um pequeno grupo
de jovens, como a reza de um terço), se tornou o modus operandi do trabalho
juvenil católico, talvez influenciado pelos modelos evangélicos que não obedecem
à lógica sacramental.
138
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
139
PRÁTICA PASTORAL
140
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
Uma pastoral que queira atingir os jovens e dialogar com eles deve levar
em conta a emergência da subjetividade e o anseio de participação da pessoa
(LIBÂNIO, 2011). O jovem quer, antes de tudo, fazer parte. Antes de ser parte
da instituição e participar de suas estruturas, ele anseia fazer parte para que
possa ser contemplado. Alguém que não se sente parte não se enxergará nos
processos pastorais e estará sempre na zona da prestação de serviço. Além
disso, é imprescindível estabelecer um diálogo entre a fé professada e a vida
cotidiana (LIBÂNIO, 2011). Os conteúdos doutrinários são por demais teóricos e
sem sentido para o jovem do mundo moderno. Se esses conteúdos não inferem
em sua vida prática, ele os descarta.
Algumas ConsideraçÕes
É comum escutarmos que o jovem é o futuro da Igreja. Enquanto as
comunidades eclesiais pensarem assim, elas não conseguirão dialogar com a
juventude, isso porque o jovem é também o presente da Igreja. A juventude é
contemplada na evangelização conforme a comunidade eclesial constrói espaços
de interação, primeiramente dos jovens entre si, mas também dos jovens com a
comunidade. Ao contemplar os jovens em seus trabalhos pastorais, a comunidade
se torna mais arejada, com uma jovialidade e entusiasmo que são próprios do
Evangelho de Jesus.
141
PRÁTICA PASTORAL
ReFerÊncias
ABUMANSSUR, Edin Sued. O desejo, a religião e a felicidade. In: VILHENA,
Maria Ângela; PASSOS, João Décio (orgs). Religião e consumo: relações e dis-
cernimentos. São Paulo: Paulinas, 2012. (Coleção religião e universidade).
ALMEIDA, Antonio José de. Leigos em quê? Uma abordagem histórica. São
Paulo: Paulinas, 2006. (Coleção cristianismo e história).
ANTONIAZZI, Alberto. Novas reflexões sobre pastoral urbana. In: FERNANDEZ,
José Cobo. Presença da igreja na cidade II: novos desafios e abordagens.
Petrópolis: Editora Vozes, 1997.
BRITO, Ênio José da Costa. O leigo cristão no mundo e na igreja. São Paulo:
Loyola, 1980.
142
Capítulo 5 EVANGELIZAÇÃO E JUVENTUDE
CHARPENTIER, Etienne. Para ler o novo testamento. São Paulo: Loyola, 1992.
LIBÂNIO, João Batista. Eu creio nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola,
2000. (Coleção Theologica).
_______. Para onde vai a juventude? São Paulo: Paulus, 2011. (Coleção juven-
tude e libertação).
143
PRÁTICA PASTORAL
LUMEN GENTIUM. In: Compêndio do Vaticano II. Petrópolis, RJ: Vozes, 1975.
144
C APÍTULO 6
Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso
146
Capítulo 6 ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
ConteXtualização
É muito comum as pessoas, diante da possibilidade de estudar o
ecumenismo, ficarem com receio, pensando que serão incentivadas a abrir mão
de sua fé. Será que ecumenismo significa fusão de igrejas ou aceitar aquilo que
o outro pensa, desvalorizando nossas crenças e costumes? Mais que isso, temos
pontos comuns que nos unem. O ecumenismo buscará encontrar e valorizar tais
pontos para que as igrejas e religiões se aproximem, sendo mais coerentes com
aquilo que pregam e anunciam.
Etimologia e Conceito
Ao trazer a etimologia da palavra ecumenismo, Navarro (1995, p. 9-10)
descreve:
147
PRÁTICA PASTORAL
1. Ecumenismo institucional
148
Capítulo 6 ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
2. Ecumenismo espiritual
3. Ecumenismo local
Pluralismo Religioso
Vivemos um tempo em que o pluralismo já não pode ser visto como uma
ameaça, mas como uma característica cultural. Se até a modernidade o
catolicismo era, além de predominante, politicamente superior, hoje caminhamos
para a legitimação do pluralismo.
149
PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 6 ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
O termo ‘zona de contato’ busca ser uma alternativa à ideia de fronteira, que
muitas vezes pode ser utilizado na ótica do território (PRATT, 1999). As zonas de
contato entre as culturas constituem fronteiras porosas de trocas culturais.
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PRÁTICA PASTORAL
Cipriano afirma que fora da Igreja não há salvação, pois entende a heresia
ou o cismático como um atentado à comunhão. Segundo Cipriano, “a culpa da
discórdia é grave e inapagável” (DUPUIS, 1999, p. 128). Sua intenção é assegurar
a integridade e a unidade da Igreja. É importante termos clareza de que Cipriano
não fala de catolicismo, mas de cristianismo. A Igreja de Cristo é a Igreja Cristã.
O autoentendimento dos católicos romanos virá apenas com o Cisma da Igreja
Ortodoxa (1054).
Cipriano teria a mesma ideia em relação àqueles que não eram cristãos? No
raciocínio de Dupuis (1999), Cipriano não tinha a mesma ideia em relação aos
chamados pagãos. Nos primeiros séculos da Era Cristã, a população pagã era
maior que a cristã. Mesmo assim, Cipriano não se dirigiu a esta parcela.
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Capítulo 6 ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
2. Cristãos anônimos
Visto que todo ser humano nasce com a inclinação para Deus, Rahner fala
de um cristianismo que é comum em todos, presente não pela doutrina ou crença,
mas por uma atitude existencial. Tal atitude é entendida como o cristianismo
anônimo. O cristianismo anônimo seria, então, um cristianismo implícito,
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PRÁTICA PASTORAL
3. Postura exclusivista
4. Postura inclusivista
5. Pluralismo religioso
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Capítulo 6 ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
6.1 Bíblia
6.2 Eclesiologia
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PRÁTICA PASTORAL
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Capítulo 6 ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Algumas ConsideraçÕes
Ao tratarmos do ecumenismo e do diálogo inter-religioso na perspectiva pastoral,
nos colocamos primeiramente diante de uma realidade que se coloca diante de
toda comunidade eclesial: o cenário religioso atual é diverso. Se entendemos que
nossa Igreja é a única tábua de salvação, nos fecharemos como num gueto e pouco
conseguiremos avançar no diálogo com a sociedade como um todo.
ReFerÊncias
BURKE, Peter. Hibridismo cultural. São Leopoldo, RS: Editora Unisinos, 2003.
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