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Quem Foram os Pais da

Igreja?
Daniel Conegero

Os Pais da Igreja foram alguns cristãos que escreveram e exerceram


liderança na Igreja entre o final do primeiro século e o final do sexto século.
Esse período da história da Igreja ficou conhecido como “Cristianismo
Patrístico”.

Essa Era Patrística teve início com a redação do último livro do Novo
Testamento, o livro do Apocalipse, e a morte do último apóstolo de Jesus, o
apóstolo João. Isso significa que naquele período a liderança da Igreja
precisou passar por uma transição. Todos os apóstolos de Jesus tinham
morrido, mas Deus levantou pastores e mestres para liderar o seu povo.

A palavra “pai” era uma designação comum atribuída pelos crentes àquelas
pessoas que ocupam os ofícios de liderança na Igreja. Eram os presbíteros
ou bispos da Igreja Antiga. Daí vem a expressão “Pais da Igreja”.

Geralmente os pais da Igreja são classificados em três categorias principais:


Pais Apostólicos, Apologistas e Teólogos. Há ainda outras classificações dos
Pais da Igreja, como: Pais Gregos, Pais Latinos, Pais do Deserto, etc.
Os Pais Apostólicos
O primeiro grupo de Pais da Igreja era formado pelos Pais Apostólicos. Esses
líderes cristãos viveram durante as primeiras gerações do Cristianismo,
liderando a Igreja Antiga entre 95 e 150 d.C. Inclusive, de alguma forma
esses indivíduos tiveram um contato próximo com os apóstolos.

Entre os principais nomes da liderança da Igreja naquela época, temos:

Clemente de Roma: foi bispo de Roma, mas também ficou conhecido


por ter exortado à igreja de Corinto através de uma carta que tinha por
objetivo, em muitos aspectos, tratar dos meus problemas de divisão
abordados anos antes pelo apóstolo Paulo em suas epístolas. Isso
talvez seja um indicativo de que infelizmente a igreja de Corinto
permaneceu problemática durante muito tempo.

Inácio: foi bispo da Igreja de Antioquia, na Síria. Inácio escreveu uma


série de cartas nas quais ele exaltou a necessidade da liderança e da
unidade na Igreja, e combateu uma heresia perigosa que trazia
conceitos gnósticos. Inácio ficou amplamente conhecido por seu
martírio. Algumas tradições dizem que Inácio foi separado para o
ministério pelo apóstolo Pedro.

Policarpo: foi bispo de Esmirna e discípulo do apóstolo João. Policarpo


escreveu uma importante carta à igreja de Filipos na primeira década
do século 2 d.C. Policarpo também ficou muito conhecido na história
da Igreja por seu martírio em 155 d.C., quando foi queimado preso à
uma estaca enquanto declarava através de louvores que Jesus Cristo
era o seu Senhor e Salvador.

O grande foco dos ministérios dos Pais Apostólicos era a exortação e a


edificação dos cristãos. Por isso seus escritos possuem um caráter mais
devocional ao invés de uma reflexão teológica mais analítica e profunda. Em
suas obras, os Pais Apostólicos fizeram uso maciço do Antigo Testamento
mostrando que a Igreja Cristã era cumprimento dessas Escrituras.

Além disso, eles também fizeram citações dos escritos do Novo Testamento
mostrando que já naquele tempo os livros neotestamentários eram
recebidos pelos crentes como que possuindo autoridade divina para regular
a vida cristã. Outros escritos da época dos Pais Apostólicos são: O Pastor de
Hermas e o Didaquê, com autores desconhecidos.
Os Pais Apologistas
O segundo grupo de Pais da Igreja era formado pelos Apologistas. Os
Apologistas foram aqueles líderes da Igreja Antiga que tiveram em seus
ministérios o grande objetivo de defender a Fé Cristã.

Naquele tempo as verdades bíblicas começaram a ser atacadas ferozmente


por heresias que misturavam filosofia grega, judaísmo e formas de
paganismo oriental. Esses ataques vinham tanto de fora da Igreja como de
dentro da Igreja. Então os Apologistas combateram conceitos errados como
o gnosticismo, o maniqueísmo, o neoplatonismo, o marcionismo, o
ebionismo, o montanismo, etc.

Portanto, enquanto os primeiros Pais da Igreja, os Pais Apostólicos,


produziram materiais focados na vida devocional da Igreja, os Apologistas
produziram materiais para preparar os cristãos ao embate da defesa da fé. O
período dos Apologistas como Pais da Igreja durou entre 150 e 300 d.C.

Entre os principais Apologistas, temos:

Justino Mártir: foi uma pessoa versada em muitas filosofias, mas que
encontrou a verdade nas Escrituras. Depois de sua conversão, Justino
Mártir dedicou sua vida a apresentar a superioridade do Cristianismo
sobre qualquer filosofia ou religião. Ele ficou conhecido como “Justino
Mártir” pelo fato de ter sido martirizado em Roma por não negar sua
fé em Cristo.

Irineu: foi bispo de Lyon e um grande defensor da Fé Cristã diante dos


ataques do gnosticismo. Irineu foi martirizado por causa de sua fé
provavelmente no início do segundo século.

Orígenes: nasceu e cresceu no importante centro teológico de


Alexandria, mas nos últimos anos de sua vida viveu em Cesareia.
Orígenes tinha um comprometimento muito grande com a suficiência
das Escrituras, e por isso ele acabou desenvolvendo uma ferramenta
incrível para o estudo Bíblico. Essa obra foi chamada de Hexapla, e
basicamente era uma versão do Antigo Testamento que trazia o texto
hebraico acompanhado de sua transliteração em carácteres gregos e
mais quatro traduções gregas. Orígenes também foi severamente
perseguido por causa de sua fé.
Os Pais Teólogos
Depois que os Apologistas introduziram uma reflexão teológica mais
analítica, o terceiro grupo dos Pais da Igreja se ocupou de aprofundar esse
assunto sistematizando as doutrinas teológicas.

Então foi com esse grupo de Pais da Igreja que entre 300 e 600 d.C. os
cristãos começaram a pensar teologicamente de forma mais sistematizada e
com uma análise teológica mais bem definida.

Naquele tempo, ensinos perigosos que atacavam principalmente a


divindade de Cristo, a doutrina da salvação e a natureza da Trindade,
começaram a ameaçar a Igreja. Mas Deus levantou homens que foram
verdadeiros gigantes na exposição da doutrina bíblica correta acerca desses
assuntos. Entre esses grandes pensadores cristãos, podemos destacar:
Atanásio: foi um exímio defensor da divindade de Cristo contra a
heresia do arianismo desenvolvida por Ário, que alegava que Jesus não
era Deus, mas apenas um ser criado por Deus dentro do tempo.

Os Três Capadócios: foram três amigos que tiveram uma participação


fundamental na defesa da doutrina da Trindade. Seus nomes eram:
Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa. Esses
três homens foram teólogos incríveis que abordaram de forma muito
completa a doutrina da Trindade; especialmente no que diz respeito ao
relacionamento entre as pessoas da Trindade. A sistemática dos Pais
Capadócios sobre a doutrina bíblica da Trindade, forneceu as bases do
entendimento cristão sobre o assunto nos séculos seguintes da história
da Igreja.

Agostinho de Hipona: foi bispo de Hipona e reconhecido justamente


como um dos maiores teólogos da história do Cristianismo. Durante
parte de sua vida, Agostinho viveu uma vida devassa mergulhada em
filosofias que objetivavam o prazer humano. Mas sua busca pela
verdade chegou ao fim na pessoa de Cristo. Agostinho foi
transformado pela graça de Deus e dedicou grande parte do seu
ministério a escrever sobre esse tema. Inclusive, a exposição teológica
de Agostinho sobre a salvação pela graça não apenas refutou a terrível
heresia do pelagianismo, mas também serviu de base para a teologia
da Reforma Protestante. Além disso, Agostinho também trouxe muitas
contribuições para o entendimento a respeito da Trindade e da
providência de Deus.

Devemos reconhecer os Pais da Igreja?


Infelizmente muitos cristãos da atualidade desprezam completamente as
figuras dos Pais da Igreja. Já outros nem mesmo sabem quem foram esses
homens. Os que rejeitam qualquer reconhecimento aos Pais da Igreja,
frequentemente alegam que eles eram padres que não fizeram nada de
bom para o Cristianismo.

Geralmente esse tipo de posicionamento é derivado do desejo de reprovar


qualquer tipo de prática ligada à ortodoxia do catolicismo romano e seus
santos. Mas a questão é que isso mostra a completa ignorância dessas
pessoas com relação à própria história.

A importância dos Pais da Igreja


Em primeiro lugar, no tempo dos Pais da Igreja a Igreja ainda estava
unificada, ou seja, a Reforma ainda não tinha acontecimento. Na verdade,
naquele período a Igreja ainda estava sendo estruturada com o
aprofundamento de suas principais doutrinas. Portanto, os Pais da Igreja
eram as pessoas que Deus levantou para liderar sua Igreja naquele tempo
marcado por tantos desafios. Inclusive, alguns deles foram mesmo pessoas
que andaram e aprenderam diretamente dos apóstolos de Jesus.

Em segundo lugar, todo cristão verdadeiro jamais negará que a Trindade, a


salvação pela graça, a realidade das duas naturezas de Cristo, a
pessoalidade do Espírito Santo e a suficiência das Escrituras, são doutrinas
centrais para a Fé Cristã. Mas foram exatamente os Pais da Igreja que
desenvolveram essas doutrinas a partir da verdade bíblica. Então rejeitar a
contribuição desses homens é o mesmo que rejeitar todo o corpo da
teologia sistemática que temos hoje.

Em terceiro lugar, os Pais da Igreja não eram perfeitos. As obras que eles
produziram também não são infalíveis. Apenas a Bíblia é perfeita, infalível,
inerrante e autoritativa. Os Pais da Igreja eram homens como nós, sujeitos
às mesmas falhas que nós. Inclusive, alguns de fato chegaram a falhar de
forma grave. Mas em sua providência, Deus usou esses homens para instruir
o seu povo durante os primeiros séculos da Igreja Cristã; mostrando que
realmente o sucesso de sua obra não repousa sobre as habilidades
humanas, mas sobre sua graça soberana.

Portanto, se por um lado jamais devemos olhar para os Pais da Igreja com
algum tipo de idolatria, por outro lado não podemos nos esquecer de que
esses homens piedosos foram levados à morte por sua fé em Cristo; eles
dedicaram suas vidas à causa do Evangelho e ao ministério de auxiliar
outros cristãos a estarem preparados para responder a qualquer um que
lhes pedir a razão da esperança que há neles (1 Pedro 3:15).

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