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TEORIA DO TREINAMENTO

DESPORTIVO

Autor: Tiago Contesini Vinotti

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Profa. Jociane Stolf

Revisão de Conteúdo: Prof. Antônio José Müller

Revisão Gramatical: Profa. Camila Thaisa Alves

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2012


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

613.7
V788t Vinotti, Tiago Contesini
Teoria do treinamento desportivo / Tiago Contesini
Vinotti. Indaial : Uniasselvi, 2012.
116 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-583-3
Ebook 978-85-7141-197-5

1. Educação física – treino.


I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

Impresso por:
Tiago Contesini Vinotti

Graduado em Educação Física pela Fundação


Universidade Regional de Blumenau (FURB).
Especialista em Treinamento Desportivo pela
Universidade Gama Filho (UGF), em que apresentou seu
Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Periodização
em Futebol na Categoria Juniores Masculino”. Mestre
em Educação pela FURB, na sua pesquisa de mestrado
buscou compreender a relação da educação física com
o processo de alfabetização. Atualmente é professor
da rede estadual de ensino de Santa Catarina e
professores da rede municipal de ensino em
Brusque-SC.
Sumário

APRESENTAÇÃO...................................................................... 7

CAPÍTULO 1
Fundamentos do Treinamento Desportivo ......................... 9

CAPÍTULO 2
Classificação das Habilidades e dos Desportos.............. 25

CAPÍTULO 3
Métodos Tradicionais e Modernos de Organização
do Treinamento Desportivo................................................. 37

CAPÍTULO 4
Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência............................. 55

CAPÍTULO 5
Periodização ......................................................................... 85

CAPÍTULO 6
Ciclo de Supercompensação............................................. 107
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):

Você já parou para pensar sobre o treinamento desportivo? Pois bem, iremos
iniciar os nossos estudos compreendo as teorias que circundam o Treinamento
esportivo, portanto é de suma importância que você estude e entenda o que será
abordado nessa disciplina. Para este caderno de estudos, procuramos buscar as
informações com autores que possuem referências no estudo do Treinamento
Desportivo. Porém, cada autor tem seu modo de visão em determinadas
situações. O que apresentamos também está colocado de forma mais resumida, o
que faz com que busquemos em outras literaturas, ou nas aqui utilizadas, maiores
informações.

Então, no primeiro capítulo, abordaremos os fundamentos do Treinamento


Desportivo, apresentando conceitos, a evolução e os objetivos do treinamento.

O capítulo seguinte tratará da classificação das habilidades e dos desportos,


tendo em vista a necessidade de sabermos como são classificadas as modalidades
na qual estamos envolvidos no treinamento.

No terceiro capítulo, apresentaremos os métodos tradicionais e modernos


de organização do Treinamento Desportivo, com a finalidade de aplicá-los com
segurança ao contexto dos atletas.

No capítulo quatro, analisaremos as tendências atuais para o treinamento


da força, da velocidade, da flexibilidade e da resistência. No quinto capítulo,
estudaremos a respeito da periodização e de como um treinamento pode ser
dividido durante uma temporada. No último capítulo, abordaremos o ciclo de
supercompensação e suas implicações no treinamento.

Bons Estudos!
O autor.
C APÍTULO 1

Fundamentos do Treinamento
Desportivo

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Identificar os conceitos, a evolução e os objetivos do Treinamento Desportivo.

33 Analisar os conceitos, a evolução e os objetivos inerentes ao Treinamento.


Teoria do Treinamento Desportivo

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Capítulo 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo

Contextualização
Neste capítulo, temos como objetivos centrais identificar os conceitos, a
evolução e os objetivos do Treinamento Desportivo e analisar os conceitos, a
evolução e os objetivos inerentes ao Treinamento.

Com isso, podemos identificar os mais variados conceitos presentes no


Treinamento Desportivo, através de diferentes autores. Estaremos aptos também
para analisarmos a evolução dos métodos de treinamento, que a cada ano, ou
no alto nível para cada Ciclo Olímpico, sofre significativas transformações,
com diferentes métodos. Identificaremos, também, os mais variados objetivos
do Treinamento Desportivo, cada qual com sua especificidade, mas que, em um
conjunto, são interdependentes.

Para uma compreensão do que é Ciclo Olímpico, Platonov


(2004) argumenta que o fato de que a estrutura da preparação
plurianual dos desportistas de elite destaca os ciclos de quatro anos,
o que se deve à necessidade de organizar uma preparação gradual
para os Jogos Olímpicos. Nesse caso, os objetivos e o conteúdo
de cada etapa anual do macrociclo estão relacionados com a
execução de objetivos intermediários pré-determinados pelo objetivo
da preparação dos desportistas para as competições principais do
quadriênio

O estudo do Treinamento Desportivo é importante para que possamos


preparar os atletas da maneira mais correta, a fim de alcançar os objetivos em
cada competição, atingir os níveis elevados de preparação física e saber dosar as
cargas de treinamento, evitando as lesões.

Conceitos
O Treinamento Desportivo se constitui como parte fundamental para se
explicar e compreender o avanço do desporto. Diversos resultados obtidos pelos
atletas são consequência de horas de treinamentos, de sofisticados programas e
sistemas de treinamento a que são submetidos com a supervisão do técnico ou
preparador físico.

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Teoria do Treinamento Desportivo

De acordo com Granell e Cervera (2003, p.9),

A teoria do treinamento em âmbito científico tem se convertido


em uma disciplina em torno da qual os mais qualificados
cientistas e técnicos desportivos têm descoberto novas formas
de trabalho, as quais favorecem o progresso no campo da
excelência motora, como ocorre no desporto de competição.

Essas novas formas de trabalho podem ser usadas em outros níveis de


treinamentos, cada qual com sua especificidade. Tomemos como exemplo, a
Fórmula 1. Em diversos comerciais que assistimos, há uma relação entre o carro
de corrida e o carro que usamos para passeio, como testes com
A prática desportiva
combustíveis, a aerodinâmica utilizada ou mesmo em peças que
se torna um
laboratório, compõem os veículos. Dessa forma, Granell e Cervera (2003, p. 09)
colocando em prática afirmam que “os avanços produzidos no treinamento dos desportistas
teorias científicas das de elite terminam sendo aplicados mais tarde no desporto recreativo,
mais diversas áreas, no desporto voltado à saúde e no domínio da aprendizagem ou da
como a Fisiologia, educação”.
necessária para o
controle das funções
metabólicas dos Nesse sentido, a prática desportiva se torna um laboratório,
atletas; a Medicina, colocando em prática teorias científicas das mais diversas áreas,
fundamental para como a Fisiologia, necessária para o controle das funções metabólicas
o apontamento dos atletas; a Medicina, fundamental para o apontamento de lesões;
de lesões; e a e a Psicologia, essencial para o preparo mental do atleta, alertando-o
Psicologia, essencial
sobre as diversas pressões a que ele estará submetido.
para o preparo
mental
do atleta. Há também que se levar em conta uma diferença entre dois
termos utilizados no âmbito do Treinamento Desportivo. Um deles
é a respeito da preparação do desportista e o outro é o treinamento desportivo
propriamente dito. Para isso, Matveiev (1985, apud GRANELL e CERVERA, 2003,
p. 9), definiu a preparação do desportista como um processo formado de várias
facetas, com uma utilização racional de diversos fatores, entre eles os meios, os
métodos e as condições. Esses fatores permitem uma interferência direta sobre
o crescimento do atleta e garantem uma alta disposição para alcançar as marcas
desejadas.

A preparação do atleta, como processo sistemático, inclui


os seguintes componentes: 1º O treinamento desportivo; 2º A
competição; e 3º Os fatores complementares ao treinamento com
capacidade de intensificar seu efeito ou acelerar os processos

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Capítulo 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo

de restauração após as cargas (MATVEIEV, 1985 apud GRANELL


e CERVERA, 2003, p. 10).

O treinamento desportivo representa uma estrutura especialmente montada


na preparação do atleta. É basicamente fundamentada em exercícios sistemáticos,
voltados a um processo pedagógico de preparação do atleta, buscando a sua
evolução e o aperfeiçoamento.

Os traços mais decisivos são os seguintes:

1º O treinamento desportivo representa um processo didaticamente


organizado que se caracteriza por aplicar de maneira
rigorosa todas as formas do processo de ensino, educação e
autoeducação.

2º A base do treinamento é constituída por um sistema metodológico


para a aplicação dos exercícios físicos, com o objetivo de atingir o
maior efeito possível de desenvolvimento (MATVEIEV, 1985 apud
GRANELL e CERVERA, 2003, p. 10).

Outros conceitos também fazem parte do treinamento desportivo. Um deles


é a cultura física. Ela pode ser representada como parte da cultura do homem
voltada inteiramente para o físico. Parte para a obtenção de um aperfeiçoamento
físico, passando pela estética corporal humana, tão difundida pelo culto ao corpo
perfeito. Dentro do conceito de cultura física, podemos inserir a Educação Física
e a Preparação Física.

A Educação Física pode ser entendida como uma educação A Educação


cujo objetivo é alcançar um nível de desenvolvimento físico. Para se Física pode ser
alcançar esse nível, são necessários alguns fatores, como o nível entendida como
de vida que o indivíduo tem na sociedade, o acesso às práticas, a uma educação
propaganda que se faz em cima da atividade física, as condições das cujo objetivo
é alcançar
praças esportivas e dos materiais utilizados e as tradições implícitas
um nível de
na sociedade. desenvolvimento
físico.
A Preparação Física seria a especificidade da Educação Física
com uma orientação mais especializada e elaborada sobre determinada atividade.

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Teoria do Treinamento Desportivo

Faz parte da preparação de diversas atividades, das mais variadas, como policiais,
bombeiros e, principalmente, atletas. Quanto maior o nível de preparação física
do atleta, mais ele estará preparado.

O Esporte

O esporte, em síntese, pode ser definido como uma cultura ao corpo, sob a
forma competitiva e regulamentada das atividades físicas. O esporte decorre de
uma prática intencional, metódica, através de exercícios físicos, relacionando-se
com atividades de tempo livre, como, por exemplo, os atletas de final de semana
e com objetivos competitivos, respeitando as regras de cada modalidade.

Zakharov e Gomes (2003) dividem o esporte em grupos. No grupo 1 estão as


modalidades complexas de coordenação, pois são as que exigem expressividade
estética e artística, como a ginástica artística, nado sincronizado, patinação artística,
saltos ornamentais, ginástica rítmica desportiva. No grupo 2 estão as modalidades
de força e de velocidade, pois são de caráter acíclico, com medidas exatas de
deslocamento, como os saltos do atletismo, arremessos e halterofilismo. No grupo
3 estão as modalidades de tiro, em que a atividade motora é pequena, como arco
e flecha, tiro com pistola e dardo. No grupo 4 estão as modalidades de condução,
que são ligadas à direção de meios de condução, como as corridas de automóvel,
motocicletas, vela e hipismo. No grupo 5 estão as modalidades cíclicas, que tem
como característica a resistência, como as corridas no atletismo, ciclismo, natação,
remo, esqui, patinação e triatlon. No grupo 6 estão os jogos desportivos, como
futebol, voleibol, basquetebol, tênis, handebol, hóquei, entre outros. No grupo 7 estão
os combates, com características de contatos, golpes, como luta Greco-romana, judô,
karatê, boxe, esgrima, jiu-jitsu. No grupo 8 estão as provas combinadas, com várias
modalidades reunidas, como o pentatlo moderno, decatlo, atletismo.

Após a identificação e análise dos conceitos que são a base do conhecimento


para um profissional de Educação Física, na próxima seção abordaremos os
aspectos da evolução do Treinamento Desportivo.

Atividade de Estudos:

1) Agora que você já leu sobre Treinamento Desportivo e baseado


nos seus saberes, crie o seu conceito sobre essa área do
conhecimento.
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Capítulo 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo

A Evolução do Treinamento
Desportivo
A preparação e o planejamento de treinamentos não é exclusividade apenas
dos tempos modernos. Na antiguidade grega, algumas formas e modelos de
periodização já eram aplicados para melhorar o condicionamento físico dos
atletas, principalmente os que participavam dos Jogos Olímpicos. De acordo com
Granell e Cervera (2003, p. 30),

Naquela época, o treinamento já era organizado em ciclos.


O mais característico era o denominado tetra, o plano de
quatro dias que viria a ser um exemplo do que, atualmente,
entendemos como microciclo, o qual introduziu as primeiras
formas de alternância das cargas de treinamento (grifos do
autor).

Nesse sistema de treinamento, no primeiro dia era realizado um trabalho


suave de preparação. No segundo dia, o treinamento entrava numa fase de alta
intensidade. No terceiro dia, eram realizados treinamentos suaves ou se tirava o
dia para descansar. Por fim, no quarto dia, era realizado um treinamento de média
intensidade.

Porém, em virtude dos escassos registros, a antiguidade grega pode


não ser a ideal para estudos. As mais significativas inovações no campo do
treinamento iniciaram a partir dos Jogos Olímpicos da Modernidade, no ano
de 1896. Juntamente com os jogos da Era Moderna, houve uma evolução
no cenário de competições, que inspiraram novas formas de treinamentos,
advindas da profissionalização dos técnicos e dos atletas, aliadas ao interesse
dos países em obter vitórias, trazendo consigo todo um contexto político e
social.

Para entender esse contexto político e social, você poderá


aprofundar os seus estudos visitando a obra:

BETTI, Mauro. Educação Física e sociedade. São Paulo: Editora:


Movimento, 1991.

Conforme Granell e Cervera (2003), a partir desse período, mas com


uma maior ênfase no início dos anos 50, é que são produzidas as mais decisivas

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Teoria do Treinamento Desportivo

contribuições para o Treinamento Desportivo. Sendo assim, o princípio da


organização do treinamento é a obra de Matveiev (1958), chamada Estrutura do
Planejamento Anual. Tinha como objetivo principal “a preparação do desportista
para competir, baseando-se na estrutura do treinamento em fases, nas quais se
consegue a ‘forma’ desportiva (construção-estabilização-regressão progressiva)”
(GRANELL e CERVERA, 2003, p. 30, grifos do autor).

As principais características da estrutura proposta por Matveiev podem ser


definidas da seguinte forma:

não são consideradas as particularidades biológicas do


desportista; o ciclo anual é completo; o principal papel do
condicionamento geral é caracterizado por um período
preparatório de alto volume de treinamento; a alternância das
curvas de volume/intensidade das cargas separa a preparação
condicionante da preparação técnica (GRANELL e CERVERA,
2003, p. 30).

Essa seria uma ideia geral e básica da forma de treinamento e de


planejamento, sendo válida para uma orientação quanto às primeiras etapas da
formação desportiva de iniciantes. Para Granell e Cervera (2003), nos dias atuais,
são poucos os atletas que utilizam estrutura semelhante para organizarem seus
treinamentos. Isso se dá pelo fato das competições exigirem uma divisão no ciclo
anual de treinamento em pelo menos duas fases, não deixando de considerar as
particularidades de cada atleta.

Mais adiante na história, por volta dos anos 80, surgiu a estrutura pendular,
proposta por Arosiev. Esse modelo de treinamento era uma adaptação ao modelo
de Matveiev, visto anteriormente. Conforme Granell e Cervera (2003, p. 32), a
estrutura pendular tem sua aplicação com preferência no boxe, na luta e no remo,
tendo como princípios de desenvolvimento uma distinção entre a preparação
condicional e a preparação técnica. Ainda de acordo com os autores, as principais
características da estrutura pendular podem ser definidas da seguinte forma:

distingue entre cargas de caráter genérico e específico; o critério


básico de desenvolvimento consiste em ir diminuindo as cargas
genéricas e aumentando as específicas; assim como a estrutura
de planejamento anual de Matveiev, não considera os esquemas
O modelo de blocos individuais. (GRANELL; CERVERA, 2003, p. 32)
foi criado com o
objetivo de aprimorar E a respeito dos modelos mais utilizados atualmente pelos
a força, construindo
técnicos, para a organização do treinamento de atletas, temos
um método mais
adequado para o o modelo de blocos de Verkhoshanski e o modelo da estrutura
desenvolvimento individual de Bondartchuk.
dessa capacidade
física. O modelo de blocos foi criado com o objetivo de aprimorar a

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Capítulo 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo

força, construindo um método mais adequado para o desenvolvimento dessa


capacidade física. Por isso, nos desportos em que o uso da força prevalece
sobre as demais capacidades, o modelo de blocos é o mais adequado, sem
esquecermos também que pode ser utilizado para a obtenção de uma melhora no
rendimento condicionando a altos níveis de força explosiva. O modelo se constitui
de uma concentração de cargas de treinamento direcionadas ao aprimoramento
da força, utilizando dois ou mais blocos em intervalos de dois meses e meio.
Como objetivo, o modelo de blocos impede que sejam produzidos índices de
fadiga desnecessários, sendo assim, tem como propósito uma melhor distribuição
das cargas.

Para Granell e Cervera (2003, p.32), a compreensão do modelo de blocos


parte de alguns princípios, como:

cada bloco está caracterizado e definido pelo objetivo principal


de desenvolvimento; apesar da existência desse objetivo
principal, as cargas de treinamento se direcionam também
para o desenvolvimento de outros objetivos complementares
para estimular os efeitos de treinamento necessários; cada
bloco de trabalho não se constitui em uma estrutura isolada da
principal. Ao contrário, os blocos sucedem-se uns aos outros,
de forma que parte dos conteúdos de um sobrepõe-se aos
do bloco seguinte, e assim sucessivamente, de acordo com o
princípio básico de aproveitamento dos efeitos retardados do
treinamento.

Em relação ao modelo de estrutura individual, foi desenvolvida no início dos


anos 80 e recebeu definição de ser o modelo mais avançado e, consequentemente,
o mais utilizado pelos atletas de alto nível. De acordo com Granell e Cervera (2003,
p. 37), “essa estrutura fundamenta-se no princípio de que o sujeito é indivisível, e
a diferença em relação às estruturas anteriores está no fato de que é necessário
unificar e tornar compatíveis os trabalhos de preparação física e técnica”.

Desse modo, as cargas apresentam um caráter específico, se transformando


num dos modelos mais utilizados e que mais facilmente se adapta aos desportistas.

Finalizando, percebemos por quanta evolução passou a preparação física,


com suas atividades mais básicas durante a antiguidade grega até a especificidade
para cada componente da preparação física da atualidade. Na sequência,
abordaremos os objetivos do Treinamento Desportivo e as suas particularidades.

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Teoria do Treinamento Desportivo

Atividade de Estudos:

1) Faça um breve resumo sobre a evolução do Treinamento


Desportivo.
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Objetivos do Treinamento
Desportivo
No Treinamento Desportivo estão inseridos vários objetivos. Um deles
se refere ao desenvolvimento físico multilateral, ou seja, o aprimoramento do
condicionamento físico geral, através do aumento dos níveis de resistência
e força, de velocidade, do aprimoramento da flexibilidade e da coordenação
motora.

O desenvolvimento físico específico pode melhorar aspectos de acordo


com a necessidade do atleta, como as forças absoluta e relativa, a massa
muscular, a potência ou resistência muscular, o tempo de reação e de
movimentação, a coordenação e a flexibilidade. Com isso, o atleta pode chegar
à facilidade máxima na execução dos movimentos que determinado desporto
exige.

Em relação aos fatores técnicos, o treinamento técnico desenvolve a


capacidade de realizar corretamente os movimentos específicos de cada esporte,
como um arremesso no basquete, um chute no futsal ou um ataque no vôlei.
Através disso, o atleta aperfeiçoa a técnica para um desempenho racional e

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Capítulo 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo

econômico, executa técnicas específicas para situações normais de competição e


para momentos de adversidade.

Nos fatores táticos estão incluídas as estratégias que cada atleta ou equipe
irá utilizar para vencer o adversário, que vão desde o treinamento intensivo de
jogadas até o estudo das táticas dos adversários. Podemos ver um exemplo disso
no futebol, quando uma equipe manda um membro da comissão técnica assistir
um determinado jogo de um futuro adversário, ou ao estudá-lo através de vídeos
de jogos.

Os aspectos psicológicos levam em consideração o treinamento mental,


para assegurar que o atleta tenha boa disciplina, perseverança, força de vontade,
confiança e coragem.

Nas habilidades para o trabalho em equipe, a preparação da equipe é


uma das principais metas do treinador, resultando num relacionamento
mais consistente e maduro, através da preparação técnica, tática, física e
psicológica.

Quanto aos fatores ligados à saúde, o atleta deve ser submetido a exames
médicos periódicos e a exercícios intercalados de alta e baixa intensidade,
alternando com períodos de regeneração.

No que tange à prevenção de lesões, o atleta deve ser orientado a


tomar precauções quanto à segurança, como elevar a flexibilidade acima do
necessário, fortalecer os músculos, tendões e ligamentos e realizar exercícios
que desenvolvam a força muscular e a elasticidade, a fim de evitar lesões em
movimentos improváveis.

Em relação ao conhecimento teórico, devem ser levados em conta os


fundamentos fisiológicos do treinamento, a questão da anatomia, para o atleta
conhecer seu corpo, noções de nutrição para o atleta saber se cuidar quanto à
alimentação, e abordagem das regras dos esportes.

Princípios do Treinamento A utilização correta


desses princípios
Desportivo proporciona uma
organização
de conteúdos,
O Treinamento Desportivo tem princípios que norteiam a prática,
meios, métodos e
baseados nas ciências biológicas, psicológicas e pedagógicas. São componentes do
princípios específicos que têm como objetivo a elevação dos níveis de treinamento.

19
Teoria do Treinamento Desportivo

habilidade e de desempenho. A utilização correta desses princípios proporciona


uma organização de conteúdos, meios, métodos e componentes do treinamento.

Conforme Dantas (2003), são seis os princípios: A) Princípio da individualidade


biológica; B) Princípio da adaptação; C) Princípio da sobrecarga; D) Princípio da
continuidade; E) Princípio da interdependência volume-intensidade; F) Princípio
da especificidade.

O princípio da individualidade biológica revela que cada pessoa é diferente


da outra. Embora nasçam gêmeas, possuindo o mesmo genótipo, durante a vida
serão expostos a experiências diversas, formando indivíduos diferentes. Sendo o
genótipo a carga genética que cada indivíduo traz consigo, de acordo com Dantas
(2003), ela determinará alguns fatores, como a composição corporal, o biótipo, a
altura máxima esperada, a força máxima possível, aptidões intelectuais e físicas,
como maior VO2.

Por sua vez, o fenótipo é aquilo que o indivíduo acrescenta a partir do


nascimento, que Dantas (2003) aponta como as habilidades desportivas,
o consumo máximo de oxigênio que um indivíduo apresenta, o percentual
observável real dos tipos de fibras musculares, as potencialidade expressas.

O princípio da adaptação, através do Treinamento Desportivo, provoca


adaptações no organismo de uma pessoa, tornando-a mais apta para realizar
determinadas atividades. De acordo com Weineck (2005, p. 12 apud Israel 1983,
p. 141),

na biologia, compreende-se adaptação fundamentalmente


como uma reorganização orgânica e funcional do organismo,
ante exigências internas e externas, adaptação é a reflexão
orgânica, a adoção interna de exigências. Ela ocorre
regularmente e está dirigida à melhor realização das
sobrecargas que induz. Ela representa a condição interna de
uma capacidade melhorada de funcionamento e existe em
todos os níveis hierárquicos do corpo. Adaptação e capacidade
de adaptação pertencem à evolução e são características
importantes da vida. Adaptações são reversíveis e precisam
ser constantemente revalidadas.

O princípio da sobrecarga está relacionado ao desempenho que sofrerá


aumento se os atletas realizarem trabalhos de capacidade máxima contra cargas
de trabalho que são maiores que as normalmente encontradas. Conforme Bompa
(2002), “a sobrecarga é típica do princípio ‘sem dor não há ganho’ [...], que é
fisiológica e psicologicamente muito estressante (p.48)”. Em curto prazo, o atleta
pode suportar o estresse imposto pela sobrecarga, porém, em longo prazo,
poderá levar a níveis de fadiga elevados e ao supertreinamento, pois não permite
fases de regeneração ou relaxamento.

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Capítulo 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo

O princípio da continuidade está ligado ao da adaptação, pois a continuidade


é primordial para uma adaptação progressiva. Para isso, devem ser aplicadas
novas cargas de trabalho durante o período de recuperação ampliada, ou seja,
antes que o organismo se recupere totalmente, evitando retornar ao nível de
homeostase inicial. Também deve ser levada em conta a duração mínima do
treinamento. Para Dantas (2003, p. 57),

para se obter os primeiros resultados no desenvolvimento


das qualidades físicas visadas, é necessário um mínimo
de persistência nos exercícios, com o intuito de propiciar
uma duração que permita ocorrer alterações bioquímicas e
morfológicas necessárias.

O princípio da interdependência volume-intensidade está ligado ao da


sobrecarga, pois o aumento das cargas é um dos fatores que provoca melhora
na performance. O organismo, quando submetido a um trabalho muito intenso,
só poderá executá-lo por um curto período de tempo. Por sua vez, se há uma
necessidade de realizar um trabalho de longa duração, devem ser usadas cargas
mais moderadas. Dantas (2003) afirma que dois critérios servem de base para a
escolha da incidência de sobrecarga na intensidade ou no volume: a qualidade
física visada e o período de treinamento.

As qualidades
As qualidades físicas que utilizam curtos espaços de tempo físicas que utilizam
requerem uma ênfase maior sobre a intensidade, mesmo em curtos espaços de
detrimento da quantidade (ritmo, força e velocidade). O inverso se tempo requerem
dá com qualidades físicas de uso prolongado (resistência muscular uma ênfase
localizada, flexibilidade, resistência anaeróbica). O treinador também maior sobre a
intensidade,
deve observar em que período de treinamento o atleta se encontra.
mesmo em
Durante o período preparatório, o volume tem grande relevância sobre detrimento da
a intensidade. Quando se inicia um período específico, se inverte, quantidade
dando maior importância à intensidade do que ao volume. (ritmo, força e
velocidade).
O princípio da especificidade, para Dantas (2003, p.58),

é aquele que impõe, como ponto essencial, que o treinamento


deve ser montado sobre os requisitos específicos da
performance desportiva em termos de qualidade física
interveniente, sistema energético preponderante, segmento
corporal e coordenações psicomotoras utilizadas.

Esse princípio faz com que o treinador, sabedor do tempo de duração da


performance e da intensidade, determine com propriedade a via energética
preponderante. Para o autor, isso tem serventia para fazer com que o treinador,
em períodos próximos de competições, realize treinos estritamente específicos.

21
Teoria do Treinamento Desportivo

Princípios do treinamento

São mandamentos científicos que comandam o planejamento e


a execução do processo de treinamento. As verificações empíricas,
até agora, são limitadas exclusivamente aos pronunciamentos sobre
os processos de adaptação biológica. O princípio da sobrecarga
(da supercompensação) está de acordo com as leis biológicas
e repousa nas raízes dos processos de adaptação; o princípio da
especificidade diz respeito ao tipo de estímulo com adaptação
específica a esse tipo; e o princípio da reversibilidade da ação coloca
que as adaptações que não continuarem a ser estimuladas voltam
ao seu estado anterior (desadaptação). Outros princípios existentes
na literatura são de natureza metodológica (princípio da repetição,
princípio da relação ótima entre carga e recuperação; princípio da
regularidade e durabilidade; princípio da periodicidade; princípio
da variação; princípio da individualidade; princípio do aumento da
especialização; e outros). Guias gerais que podem ser usados como
regras que governam as adaptações produzidas pelo treinamento

Fonte: BARBANTI, Valdir J. Dicionário de educação Física


e Esporte. 2. Ed. Barueri: Manole, 2003, p.480.

Atividade de Estudos:

1) Faça um resumo dos principais objetivos do Treinamento


Desportivo.
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Capítulo 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo

Algumas Considerações
Finalizando e retomando os pontos centrais do capítulo, identificamos os
conceitos, a evolução e os objetivos do Treinamento Desportivo. Em cada seção,
procuramos apresentar uma síntese das principais ideias apresentadas pelos
autores que são referência em treinamento.

Vale lembrar que, na literatura especializada, há divergências entre autores,


com nomenclaturas distintas, ou dependendo da situação, cada autor defendendo
suas posições.

Como análise final, podemos afirmar que cada um utilizará um conceito de


forma diferente, pois a compreensão é individual. Percebemos também que a
evolução é parte do processo e que o modelo utilizado hoje, amanhã pode estar
modificado em razão da alta busca por resultados, pela melhor marca, pela quebra
de recordes. E outro item que pode ser considerado é a respeito dos objetivos.
Cada atleta, cada preparador, tem seu objetivo, que pode ser diferente dos que
foram apresentados. Cabe a cada um ir atrás desse objetivo e ao alcance de
outros.

No capítulo seguinte, veremos a classificação das habilidades e dos


desportos, para que possamos compreender as modalidades esportivas que nos
são apresentadas.

Referências
BARBANTI, Valdir J. Dicionário de educação Física e Esporte. 2. Ed. Barueri:
Manole, 2003.

BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São


Paulo: Phorte Editora, 2002.

DANTAS, Estélio H. M. A Prática da Preparação Física. 5. Ed. Rio de Janeiro:


Shape, 2003.

GRANELL, José Campos; CERVERA, Vítor Ramón. Teoria e Planejamento do


Treinamento Desportivo. Porto Alegre: Artmed, 2003.

PLATONOV, V. N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto


Alegre: Artmed, 2004.

23
Teoria do Treinamento Desportivo

WEINECK, Jurgen. Biologia do Esporte. 7. Ed. Barueri: Manole, 2005.

ZAKHAROV, Andrei Anatolocitch; GOMES, Antonio Carlos. Ciência do


Treinamento Desportivo. 2. ed. Rio de Janeiro: Palestra Sport, 2003.

24
C APÍTULO 2

Classificação das Habilidades


e dos Desportos

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Apontar as habilidades e os desportos inerentes ao treinamento.

33 Classificar as habilidades e os desportos.


Teoria do Treinamento Desportivo

26
Capítulo 2 Classificação das Habilidades e dos Desportos

Contextualização
Neste capítulo, temos como objetivos principais apontar as habilidades
e os desportos inerentes ao treinamento e classificar as habilidades e os
desportos. Vale aqui ressaltar a importância de classificar os desportos e as
habilidades, para que possamos nos adequar às especificidades de cada
um, promovendo os treinamentos corretos, buscando, da melhor maneira
possível, aprimorar as capacidades dos atletas. No capítulo anterior, na seção
I.I, ao falarmos sobre os conceitos do Treinamento Desportivo, utilizamos a
classificação de Zakharov e Gomes (2003). De certa forma parecida, neste
capítulo apresentaremos uma classificação semelhante, de outros autores,
porém indo mais fundo nas questões das modalidades do programa das
Olimpíadas.

Quando falamos em classificar as habilidades, automaticamente nos


reportamos a questões biomotoras. Por isso, as habilidades esportivas podem
ser classificadas em três grupos de exercícios: cíclicos, acíclicos e acíclicos
combinados.

Contextualização das Habilidades


As habilidades cíclicas podem ser exemplificadas através da marcha,
da corrida, do cross country, da natação, do remo, do ciclismo, do caiaque
e da canoagem. Esses desportos têm como característica fundamental o ato
motor que envolve movimentos repetitivos. Desse modo, “cada ciclo consiste
em fases distintas e idênticas que se repetem na mesma sucessão. Assim,
as quatro fases de uma remada – a entrada e a condução do remo na água,
a finalização e a recuperação – são partes de um único ciclo” (BOMPA, 2002,
p.8).

Em relação às habilidades acíclicas, podemos citar como exemplos o


arremesso de peso, o lançamento de disco, as ginástica artística e rítmica, os
desportos coletivos, a luta greco-romana, o boxe e a esgrima. Essas modalidades
se constituem em ações completas, sendo realizadas em um movimento.
Tomemos como exemplo prático o lançamento de disco, em que o atleta, no ato
de lançar, “incorpora a preparação preliminar, a transição, o giro, a liberação e a
reversão, porém, o atleta executa todas essas etapas em uma só ação” (BOMPA,
2002, p. 8).

As habilidades acíclicas combinadas são representadas por movimentos

27
Teoria do Treinamento Desportivo

cíclicos seguidos por movimentos acíclicos. Nessa questão, estão representados


saltos no atletismo, a patinação artística, alguns exercícios de ginástica artística,
e saltos ornamentais. Mesmo as ações sendo interligadas, pode-se distinguir
os movimentos cíclicos dos acíclicos. Para isso, temos como exemplo “os
movimentos acíclicos de um saltador em altura em relação aos movimentos
cíclicos precedentes que formam a corrida” (BOMPA, 2002, p. 9).

Em relação a essas três habilidades, o conhecimento do técnico tem um


papel fundamental na escolha do método adequado de treinamento. Para Bompa
(2002), o método de aprendizagem global, ou seja, a habilidade completa, tem
mais eficiência em desportos cíclicos, em razão da dificuldade de se dividir as
habilidades correspondentes na corrida, por exemplo. Quanto às habilidades
acíclicas, é possível dividi-las e ensinar os seus componentes separadamente,
revelando um método de aprendizagem por partes, e resultando num aprendizado
mais rápido. Com isso, podemos dividir a técnica de salto em distância em
distintas fases, fazendo com que os atletas realizem cada uma delas de modo
satisfatório, aprendendo e apreendendo a técnica num todo.

Quanto à classificação dos desportos, utilizaremos duas


A divisão em
categorias dos referências. Em um primeiro momento, Bompa (2002, apud
desportos se dá GANDELSMAN e SMIRNOV, 1970) ressalta que ações motoras
através dos objetivos voluntárias resultam de uma série complexa de contrações
do treinamento. musculares realizadas sob condições estáticas ou dinâmicas, e têm
nelas envolvidas a força, a velocidade, a resistência, a coordenação
e a flexibilidade. A divisão em categorias dos desportos se dá através dos objetivos
do treinamento, nas particularidades fisiológicas e nas habilidades do desporto
em questão, necessárias para alcançar e garantir um desempenho adequado. Os
desportos então são divididos em grupos.

1° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da


coordenação e da execução perfeita de uma habilidade.
2° grupo: desportos em que é preciso atingir uma velocidade
superior, caso dos desportos cíclicos.
3° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da
força e da velocidade de uma habilidade
4° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento de
uma habilidade realizada em uma competição com oponentes.
5° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da
condução de diferentes meios de transporte.
6° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da
atividade do sistema nervoso central (SNC) sob estresse e
baixo envolvimento físico.
7° grupo: desportos que necessitam do desenvolvimento da
capacidade de participação em várias atividades combinadas
(BOMPA, 2002 apud GANDELSMAN E SMIRNOV, 1970).

28
Capítulo 2 Classificação das Habilidades e dos Desportos

No primeiro grupo estão inseridas a ginástica artística, a ginástica


No primeiro grupo
rítmica desportiva, a patinação artística e os saltos ornamentais. O estão inseridas a
desempenho desses desportos está intimamente ligado ao máximo da ginástica artística,
perfeição da coordenação, da complexidade técnica da habilidade e da a ginástica rítmica
apresentação artística. As habilidades, na maior parte, são acíclicas, desportiva, a
com algumas sendo cíclicas. Por exemplo, a corrida de aproximação patinação artística
e os saltos
na ginástica de solo ou no salto sobre o cavalo na ginástica artística,
ornamentais.
ou os saltos na patinação artística.

O segundo grupo agrega desportos como corrida, marcha, remo, ciclismo,


canoagem e natação. Percebemos que, nesses esportes, a maior velocidade
é o objetivo principal. A habilidade necessária a esses desportos se dá através
da forma cíclica com que os atletas os executam. Sendo assim, a velocidade
desenvolvida para a distância da competição que os atletas irão participar
depende do aperfeiçoamento dos movimentos cíclicos. Depende também da
capacidade de administrar a fadiga, comum em provas de longa distância.

Já o terceiro grupo tem como característica o desenvolvimento Já o terceiro


da força máxima para alcançar o melhor desempenho. Com isso, os grupo tem como
característica o
atletas podem desenvolver a força, através do aumento da massa
desenvolvimento
muscular. Podemos perceber essa situação no levantamento de da força máxima
peso, quando o atleta precisa aumentar a massa para ganhar força, para alcançar
revelando uma aceleração constante, ou apenas elevando a força, o melhor
enquanto a massa se mantém constante, como nos lançamentos e desempenho.
saltos no atletismo.

O grupo seguinte inclui os desportos coletivos e individuais


O grupo seguinte
disputados contra adversários como, por exemplo, o boxe, a luta inclui os desportos
greco-romana, o judô e a esgrima. Nesses esportes, é essencial ter coletivos e
um excelente funcionamento dos órgãos sensoriais e ter uma grande individuais.
capacidade de perceber e agir rapidamente sob circunstâncias que
são rapidamente modificadas durante a competição. São esportes que dependem
inteiramente do atleta e da sua capacidade de tomar decisões. É necessária
também uma grande velocidade de membros, tanto inferiores como superiores.

O quinto grupo incorpora atividades como equitação, vela e


O quinto grupo
desportos motorizados. Para esse grupo são necessárias habilidades incorpora
de manejo dos equipamentos. Para isso, são muitas horas de atividades como
treinamento. Uma qualidade presente também nos atletas dessas equitação, vela
modalidades é a rapidez de raciocínio. A preparação física, através e desportos
da força, do equilíbrio e da resistência, estão entre as habilidades motorizados.
necessárias para esse grupo de desportos.

29
Teoria do Treinamento Desportivo

Os desportos do sexto grupo são formados pelo tiro, arco e flecha e xadrez.
São atividades em que o componente motor utilizado para a realização é baixo,
por isso não são considerados exercícios físicos. O que necessitam, é de um
aumento da função do sistema nervoso central, e de muita resistência, já que é
através dela que os competidores conseguem uma maior concentração, paciência
e autocontrole psicológico.

O sétimo grupo agrega os desportos combinados, como o decatlo, o pentatlo


moderno, o heptatlo, o triatlo e o biatlo. Os treinamentos fisiológicos e psicológicos
precisam ser feitos de acordo com cada evento, pois são utilizadas intensidades
diferentes.

Para Platonov (2008), a classificação leva em conta as particularidades dos


treinamentos e das competições. Portando, os grupos são divididos em:

1° grupo: modalidades atléticas relacionadas com a atividade


motora máxima dos desportistas (atletismo, halterofilismo,
remo, canoagem, ginástica rítmica, jogos desportivos, luta livre
etc.).
2° grupo: modalidades desportivas em que a atividade
motora é orientada para o controle de meios na locomoção
(automóvel, avião, motocicleta, iate etc.).
3° grupo: modalidades desportivas que dependem da
utilização de armas especiais (carabina, pistola, arco etc.).
4° grupo: modalidades desportivas cujos resultados dependem
de uma atividade de construção (aeromodelismo, modelismo
naval etc.).
5° grupo: modalidades desportivas relacionadas com
deslocamentos de um local para outro (turismo, alpinismo
etc.).
6° grupo: modalidades desportivas em que a atividade do
atleta é caracterizada pelo raciocínio abstrato (xadrez, dama
etc.) (PLATONOV, 2008, p. 110).

Mas essa classificação não é adotada pelo desporto olímpico, pois algumas
das modalidades não obedecem aos critérios do regulamento. Isso deixa de fora
as modalidades do segundo, do quarto, do quinto e do sexto grupos, pois são
chamadas de modalidades técnicas, em que os resultados dependem de uma
força motriz.

Para uma classificação de acordo com o programa olímpico, são levadas em


consideração a especificidade dos movimentos, a estrutura do treinamento e das
competições. Portanto, de acordo com Platonov (2008, p. 110), as modalidades
são classificadas em:

Modalidades cíclicas – corridas no atletismo, natação, remo,


canoagem, ciclismo.
Modalidades de velocidade-força – halterofilismo, saltos e
lançamentos no atletismo.

30
Capítulo 2 Classificação das Habilidades e dos Desportos

Modalidades de complexa coordenação – ginástica rítmica,


ginástica artística, salto ornamental, tiro, nado sincronizado,
patinação artística, vela.
Modalidades de luta – boxe, esgrima, luta livre, luta greco-
romana, judô, tae kwon do.
Jogos desportivos – basquetebol, badminton, beisebol,
voleibol, handebol, futebol, polo aquático, hóquei na grama,
tênis de mesa, tênis, voleibol de praia.
Modalidades combinadas – pentatlo moderno, decatlo e
heptatlo no atletismo, triatlo, equitação (concurso completo)
(grifos do autor).

No primeiro período olímpico, entre os anos de 1896 a 1912, são reveladas


algumas particularidades. Na época, eram mais comuns as modalidades cíclicas
e de difícil coordenação, representando mais da metade do programa. O restante
era dividido entre as modalidades de velocidade-força, as lutas e os jogos
desportivos. Nesta fase, as modalidades combinadas foram incluídas apenas
duas vezes: o atletismo, em 1904, e, em 1912, o pentatlo e o decatlo no atletismo
e o pentatlo moderno. Neste primeiro período, os programas eram marcados pela
instabilidade, e a inclusão dependia de alguns fatores, como a tradição desportiva
da sede dos jogos, a posição no ranking do Comitê Olímpico Internacional, das
federações internacionais e dos membros delas.

Conforme Platonov (2008), no segundo período dos Jogos Olímpicos, que


compreende o espaço entre os anos de 1920 a 1948, houve mudanças no número
de provas de cada grupo. Aumentou significativamente o número de provas das
modalidades cíclicas, houve ampliação na proporção das lutas individuais e
reduziu-se a representatividade dos jogos desportivos e das modalidades de difícil
coordenação. Em 1948, foram incluídas as modalidades mais difundidas, como o
basquetebol, polo aquático, futebol e o hóquei na grama. No terceiro período das
Olimpíadas, entre 1952 e 1964, as modalidades se encontraram mais estáveis,
sem grandes mudanças no programa.

No quarto período dos Jogos Olímpicos, entre 1968 e 1980, houve uma
ampliação no programa olímpico, com a inclusão de novas competições. Ocorreu
uma leve tendência de diminuição das provas das modalidades de velocidade-
força e de difícil coordenação e um aumento no número de competições de lutas
e jogos desportivos.

De 1980 a 2000, o programa olímpico teve uma ampliação mais intensa.


Surgiram novas modalidades, como badminton, beisebol, voleibol de praia,
softbol, ginástica rítmica, nado sincronizado, tênis de mesa, tênis, tae kwon do
e triatlo. Houve também aumento nas competições femininas. Como exemplo,
em 1992, pela primeira vez foram disputadas provas de perseguição individual
no ciclismo de pista, disputa em sete categorias no judô e individual e duplas no

31
Teoria do Treinamento Desportivo

badminton. Em 1996, as primeiras competições femininas de ciclismo de pista


em equipe, individual, contrarrelógio e mountain bike, e em equipe de ginástica
rítmica. Também foram incluídas as modalidades futebol feminino e voleibol
de praia feminino. Em 2000, foram introduzidas as competições femininas de
lançamento de martelo e salto com vara, pentatlo moderno e nado sincronizado.

Em 2004, nos Em 2004, nos jogos em Atenas, foram realizadas pela primeira
jogos em Atenas, vez as competições femininas de luta livre.
foram realizadas
pela primeira vez
Com base em Platonov (2008), será apresentado um resumo
as competições
femininas de luta das principais características das modalidades do programa
livre. olímpico. O atletismo está incluído nos jogos desde 1896. Atualmente
são disputadas 46 competições, sendo 24 para homens e 22 para
mulheres. Estão divididas em corridas, marchas, saltos, lançamentos e provas
combinadas.

A natação está nos jogos Olímpicos desde 1896, porém as


mulheres começaram a competir somente em 1912. Só perde para o
atletismo em número de provas, com 32 no total.

O remo foi incluído no programa olímpico em 1900 para


os homens, e em 1976 para as mulheres, sendo disputadas 14
competições. A canoagem está nos jogos olímpicos desde 1936 e
são realizadas 12 provas atualmente.

O ciclismo está presente nos jogos desde a primeira edição, em


1896. Atualmente, teve a inclusão do BMX, com dois tipos de prova.

A ginástica artística foi incluída já nos primeiros jogos, cuja


curiosidade se dá pelo fato de que, nas 4 primeiras edições, as
provas combinadas de ginástica incluíam exercícios de atletismo,
como salto com vara, lançamento de dardo e ainda halterofilismo.

A ginástica rítmica é recente nos jogos, sendo incluída em 1988.


São disputadas duas competições femininas, a prova combinada e
os exercícios em grupo.

O tiro está no programa olímpico desde 1896. São disputadas


11 competições e, por motivos de segurança, cogita-se a substituição
das armas de fogo por pistolas pneumáticas. O tiro ao prato foi
incluído depois, em 1904.

32
Capítulo 2 Classificação das Habilidades e dos Desportos

O arco e flecha tem sua história nos jogos Olímpicos iniciada no


ano de 1900, depois em 1908, e em 1920. Após um período fora do
programa, retornou em 1972. São quatro competições, individuais e
por equipes.

O hipismo faz parte dos jogos Olímpicos desde 1900, com as


competições de corrida de obstáculos, salto em altura e distância. Em
1912, foi introduzido o concurso completo individual e por equipe.

A vela está presente no programa olímpico desde 1896,


porém, naquele ano, não foram realizadas as provas por causa
do tempo ruim. As competições começaram então em 1900. São
disputadas 11 competições, sendo quatro masculinas, quatro
femininas e três abertas.

O salto ornamental foi incluído em 1904 para os homens e em


1912 para as mulheres. O salto em trampolim é recente e está desde
2000. O nado sincronizado está desde 1984, com competições em
conjunto e dueto.

O boxe, incluído em 1904, é disputado em 11 categorias. Mas


só está presente devido a mudanças que sofreu para garantir a
segurança dos lutadores.

A luta livre faz parte do programa olímpico desde 1904,


sendo disputada em 10 competições masculinas. Em 2001, foram
introduzidas novas categorias de peso para homens e mulheres.

A luta greco-romana foi incluída na primeira Olimpíada, em


1896, com disputas em 10 categorias. Em 1997, as categorias foram
reduzidas para 8 e em 2001 para 7 categorias.

O Judô está presente no programa olímpico desde 1964. Em


1998, foram introduzidas 7 novas categorias para homens e 7 para
mulheres. O tae kwon do foi introduzido em 2000, com competições
em 4 categorias para homens e mulheres.

A esgrima faz parte do programa olímpico desde 1896, com


competições masculinas de florete e sabre. Em 1990, foi introduzida
a competição masculina de espada. Em 2004, a prova feminina em
equipe com florete foi substituída pela individual com sabre.

33
Teoria do Treinamento Desportivo

O halterofilismo entrou no programa olímpico já nos primeiros


jogos, em 1896. A partir de 2000, em Sidney, são disputadas oito
competições para homens e sete para mulheres.

O badminton foi incluído nos Jogos Olímpicos no ano de 1992,


disputando medalhas em duas competições para homens, duas para
mulheres e uma mista.

O basquetebol faz parte do programa olímpico desde 1936 no


masculino. O feminino entrou somente em 1976.

O beisebol foi incluído no programa olímpico em 1988, com


disputas apenas para os homens.

O polo aquático está presente nos jogos desde 1900, com


disputas no masculino e no feminino, que entrou no programa em
2000. Porém, pode ser excluído do quadro por falta de espectadores
e de popularidade.

O voleibol é parte integrante do programa olímpico desde 1964.


O voleibol de praia, por sua vez, estreou nos jogos em 1996.

O handebol, no formato 11 contra 11, estreou em Jogos Olímpicos


em 1936. O handebol com as regras atuais, ou seja, 7 contra 7, foi
introduzido em 1972 no masculino e em 1976 no feminino.

O tênis faz parte do programa olímpico desde 1896, no


masculino, e desde 1900, no feminino. Foi excluído em 1924, por ser
modalidade profissional, retornando aos jogos em 1977.

O tênis de mesa é parte integrante dos Jogos Olímpicos desde


1988, com disputas individuais e em duplas. Há a questão da
possibilidade da inclusão da categoria mista.

O softball está incluído no programa dos Jogos Olímpicos desde


1996.

O futebol teve suas disputas nos Jogos Olímpicos iniciadas em


1900, no masculino. As disputas femininas começaram em 1996.

O hóquei na grama faz parte do programa olímpico desde 1908


para os homens e desde 1980 para as mulheres.

34
Capítulo 2 Classificação das Habilidades e dos Desportos

O pentatlo moderno foi incluído nos jogos em 1912, como uma


modalidade militar, devido à preparação necessária para as disputas
(equitação, esgrima, tiro, natação, corrida). A categoria feminina foi
introduzida em 2000.

O triátlon está presente nos Jogos Olímpicos desde 2000, com


1500 metros de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros
de corrida.

Atividade de Estudos:

1) Levando em consideração o que foi estudado, indique em


que classificação por especificidade de movimento está cada
modalidade.

Remo –_________________________________________________

Vela –__________________________________________________

Futebol – _______________________________________________

Judô –__________________________________________________

Equitação –_____________________________________________

Halterofilismo –__________________________________________

Tiro –___________________________________________________

Ciclismo –______________________________________________

Salto em altura –_________________________________________

Esgrima –_______________________________________________

Tênis de mesa –__________________________________________

Decatlo –_______________________________________________

35
Teoria do Treinamento Desportivo

Algumas Considerações
Ao apresentarmos a classificação dos desportos, percebemos as
especificidades inerentes a cada um. De forma semelhante, abordamos a
classificação das habilidades em cíclicas, acíclicas e acíclicas combinadas.

Em conjunto, analisamos também a evolução de cada modalidade dentro


do programa olímpico, com sua estreia, se houve interrupção. Assim, podemos
perceber que, em alguns países, eram introduzidas as modalidades praticadas
naquele local, como experiência, e que, em alguns casos, acabaram se tornando
obrigatórias no programa das Olimpíadas.

Na sequência, estudaremos os métodos tradicionais e modernos utilizados


na preparação física dos atletas.

Referências
BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do Treinamento. São
Paulo: Phorte Editora, 2002.

PLATONOV, Vladimir N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo:


Phorte Editora, 2008.

36
C APÍTULO 3

Métodos Tradicionais e
Modernos de Organização do
Treinamento Desportivo
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

33 Descrever os métodos relativos ao Treinamento Desportivo.

33 Analisar os métodos relativos ao treinamento desportivo.


Teoria do Treinamento Desportivo

38
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

Contextualização
Neste capítulo, nosso objetivo é descrever os métodos relativos ao
Treinamento Desportivo e analisar os métodos relativos ao treinamento desportivo.
Entramos em uma parte mais voltada ao treinamento, falando diretamente sobre
os métodos utilizados em um programa de aperfeiçoamento técnico e físico
para, no capítulo seguinte, darmos ênfase às questões fisiológicas sobre força,
velocidade, flexibilidade e resistência.

Treinar um atleta não é simplesmente fazer com que ele percorra 200 metros
ou que nade 100, ou ainda que arremesse 50 bolas na cesta. Treinar um atleta é
fazer com ele aproveite cada exercício para seu crescimento e aprendizado. Tudo
tem de ser bem estruturado, pensado da melhor forma possível, a fim de evitar
lesões e cometer os menores erros possíveis. Por isso, a seguir, apresentaremos
os métodos de preparação desportiva.

Modelos
Os modelos de treinamento surgiram na Grécia antiga, em que
Os modelos
se acreditava na transformação do indivíduo num perfeito desportista. de treinamento
Os atletas eram submetidos a treinamentos intensos, que duravam surgiram na
meses. Grécia antiga, em
que se acreditava
Nesse período já se podia perceber a divisão do processo de na transformação
do indivíduo
treinamento de quatro dias, similar a um microciclo, mesociclo ou
num perfeito
macrociclo. A carga utilizada no primeiro dia era leve, se intensificava desportista.
no segundo dia. No terceiro dia, eram utilizadas cargas médias em
exercícios de curta duração, e o quarto dia era reservado para exercícios suaves.

a) O modelo tradicional

Este modelo também é chamado de moderno, foi introduzido por volta


dos anos 1950 por Matveiev. Ele aprofundou e atualizou os conhecimentos
apresentados até os anos 1950, com alguns pressupostos, como:

Alguns autores trazem como Matveiev e outros como Matveev.


No entanto, é o mesmo autor.

39
Teoria do Treinamento Desportivo

a) afirma que as condições climáticas são fatores


determinantes na periodização do treinamento desportivo;
b) entende que o calendário de competições influi na
organização do processo de treinamento; c) argumenta que as
leis biológicas devem servir como base para a periodização no
treinamento; d) propõe que a unidade de formação especial e
geral do desportista deve ser respeitada; e) demonstra que o
caráter contínuo do processo de treinamento deve combinar
sistematicamente carga e recuperação; f) defende o aumento
progressivo e máximo dos esforços de treinamento [...]
(GOMES, 2002, p. 142).

Após críticas de outros especialistas, Matveev revisa seus estudos, e utiliza-


se de alguns princípios. O primeiro deles fala da unidade entre preparação geral
e especial do atleta. De acordo com Gomes (2002, p. 144), o princípio leva em
conta “a indissolubilidade entre preparação geral e especial; a interdependência
dos conteúdos (o conteúdo da preparação especial do atleta depende dos
pressupostos criados pela preparação geral); e a necessidade de dividir o treino
em preparação geral e especial.”

O segundo princípio diz respeito à dinâmica da carga de treinamento, ou seja,


o atleta deve ser submetido a treinamentos específicos em volumes aceitáveis. O
terceiro princípio faz relação com os parâmetros da forma desportiva e a estrutura
dos macrociclos de treinamento, pois estes sofrem modificações profundas, tendo
em vista que há mudanças nos calendários de competições, levando o atleta a
participar de vários eventos, modificando todo o sistema de planejamento.

Após esse período, surgiu o sistema conhecido como pêndulo, em que


o treinamento é dividido em dois microciclos, o principal e o regulador. Os
microciclos principais têm como função o aperfeiçoamento das capacidades do
atleta. Por sua vez, os microciclos reguladores têm como objetivo recuperar as
capacidades do atleta e aumentar a preparação física.

Outro sistema que surgiu é o modelo de adaptação biológica, em que as


cargas de treinamento são distribuídas de forma ondulatória, alternando volume e
intensidade, sem baixar de 80% da carga máxima.

40
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

b) Modelos contemporâneos
Os modelos
contemporâneos
Os modelos contemporâneos receberam grande contribuição dos receberam grande
modelos tradicionais, gerando uma evolução no aspecto qualitativo, contribuição
dando início a propostas para cada modalidade. dos modelos
tradicionais,
gerando uma
evolução
De acordo com Gomes (2002, p. 145),
no aspecto
qualitativo, dando
os estudos demonstram que, definitivamente,
o raciocínio científico da periodização do
início a propostas
treinamento desportivo deve respeitar os para cada
desportos em suas dimensões específicas no que modalidade.
se refere ao sistema de competição. No início,
os planos modernos de treinamento passaram a exigir uma
metodologia idealizada separadamente para os desportos
individuais e para os coletivos.

Sendo assim, surgem ideias sobre o respeito ao sistema energético em


que a modalidade está inserida. Destaca-se também a biomecânica A biomecânica
do gesto motor utilizado em cada modalidade, referindo-se a um do gesto motor
trabalho cíclico ou acíclico. E leva-se em conta também o aspecto utilizado em cada
psicológico inerente a cada modalidade. modalidade,
referindo-se a um
trabalho cíclico ou
Dessa forma, os modelos contemporâneos levam em acíclico.
consideração alguns aspectos, como

a individualização das cargas de treinamento justificada


pela capacidade individual de adaptação do organismo; a
concentração das cargas de treinamento da mesma orientação
em períodos de curta duração e a necessidade de conhecer
profundamente o efeito que produz cada tipo de carga de
trabalho e sua distribuição no ciclo médio de treinamento
(mesociclo); o desenvolvimento consecutivo de capacidades,
utilizando o efeito residual de cargas já trabalhadas; a
ênfase no trabalho específico de treinamento. As adaptações
necessárias para o desporto moderno só são possíveis com a
realização na prática de cargas especiais (GOMES, 2002, p.
145).

Surgem então outros estudos, que utilizam os conceitos citados acima para
que sejam desenvolvidas outras metodologias.

Uma delas pertence ao professor Verkhoshanski, que não faz uso de


conceitos de planejamento, uma vez que defende que o sistema deve ser baseado
em conceitos de programação, organização e controle. Conforme Gomes (2002,
p. 146),

41
Teoria do Treinamento Desportivo

a programação é compreendida por uma primeira


determinação da estratégia, do conteúdo e da forma de
estruturar o processo de treinamento. A organização trata-
se da realização prática do programa, considerando-se as
condições reais e as possibilidades concretas do desportista.
O controle seriam os critérios estabelecidos previamente com
o objetivo de informar periodicamente o nível de adaptação
apresentado pelo desportista.

Verkhoshanski ainda propõe um método programado, iniciando com a


utilização de tarefas concretas, com as etapas de treinamento durando de 3 a 5
meses de preparação, seguidas de programas de treinamentos e de competições.

c) Modelo de treinamento em bloco

Este modelo também proposto por Verkhoshanski tem como base a divisão
das cargas concentradas ao longo do ciclo anual.

Esse ciclo tem como base uma estrutura de 52 semanas, divididos em


blocos. No bloco A, se objetiva um maior volume de toda a temporada, levando
em conta os níveis da temporada anterior e preparando para a temporada atual.
Geralmente, o bloco A dura em torno de 12 semanas, e tem como objetivo preparar
o aparelho locomotor, com exercícios de musculação, exercícios para aumento do
impulso nervoso, com exercícios de força rápida e treinamento de cargas mistas
na musculação. No bloco A também se deve aumentar a influência das cargas no
organismo, tendo em vista que o volume ainda continua alto.

No bloco B, que tem duração aproximada de dois e meio a três meses, devem
ser levados em conta exercícios para que o volume seja diminuído, permitindo o
desenvolvimento das capacidades competitivas, preparando o atleta para o bloco
C, em que estão distribuídas as principais competições.

Com isso, podemos perceber que o modelo de blocos possui uma


concentração de cargas, principalmente com grande volume no bloco A.

d) Modelo integrador

Modelo proposto por Bondarchuk, que divide a temporada em três fases,


desenvolvimento, manutenção e descanso. Ele verificou, então, que cada atleta
atinge sua melhor forma em momentos diferentes.

42
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

O planejamento deve ser fundamentado na resposta adaptativa do organismo


de cada atleta, sendo que em atletas de alto nível o pico do desempenho pode ser
atingido entre 2 a 8 meses, dependendo do grau de treinamento, da idade, entre
outros fatores.

e) Modelo de cargas seletivas

Este modelo tem como objetivo atender o calendário dos desportos coletivos,
em especial o futebol, que possui campeonatos longos, com número excessivo de
jogos, o que ocasiona uma dificuldade na distribuição das cargas.

No modelo de cargas seletivas, é dada ênfase principalmente para a


velocidade. O ciclo anual dura em torno de 52 semanas, dividido em duas etapas
de igual divisão, ou seja, 26 semanas.

Atividade de Estudos:

1) Quais as principais características dos modelos tradicional,


contemporâneo, de treinamento em bloco, integrador e de cargas
seletivas?
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43
Teoria do Treinamento Desportivo

A preparação do Desportista
O método de preparação desportiva está intimamente ligado aos objetivos
pretendidos pelo atleta e pela equipe a que ele representa. Ou seja, para cada
parte do sistema de treinamento de um atleta, existe uma composição de métodos.

A preparação do atleta depende de uma especificidade, que pressupõe


uma orientação predominante de como o aperfeiçoamento das capacidades
locomotoras do organismo humano sofrem influências. Para um melhor
entendimento dos métodos, teremos como base Gomes (2002).

O método de influência prática programado tem como característica uma


programação que se constitui como uma condição indispensável de influência,
sendo orientada a partir de meios de treinamento que contribuem para uma
melhor solução das tarefas de preparação. Qualquer dos métodos utilizados tem
graus de programação determinados, variando apenas alguns parâmetros.

Os exercícios do método programado apresentam uma grande diversidade.


Cada um dos métodos apresenta também um conteúdo de caráter específico.
Cada método apresenta uma série de variáveis que podem ser utilizadas à medida
que as exigências das tarefas motoras vão crescendo.

Os métodos de ensino da técnica de ações motoras são


Os métodos de
ensino da técnica caracterizados por enfoques metodológicos do ensino da técnica das
de ações motoras ações, o integral e o dividido. O método de ensino integral caracteriza
são caracterizados um estudo da técnica das ações motoras numa única vez, com um
por enfoques caráter integral. A principal vantagem deste método é que a técnica
metodológicos do da atividade motora pode ser assimilada à interação permanente
ensino da técnica das
de suas fases, de forma integral. O método apresenta algumas
ações, o integral e o
dividido. dificuldades, como aplicar o método no ensino das ações motoras
complexas; na correção de erros; em prestar atenção seletiva ao
aperfeiçoamento de certos elementos das ações motoras; e o rápido cansaço do
atleta resultante da múltipla repetição dos exercícios.

Esse método pode ser utilizado na fase inicial da aprendizagem das ações
motoras que são relativamente fáceis em relação à técnica. O método pode ser
utilizado com algumas variantes, como a execução repetida da ação motora com
um aperfeiçoamento dos elementos e dos detalhes; com a repetição múltipla
da ação motora, objetivando sua consolidação; com execução em condições
crescentes que se aproximam da realidade das competições; e com a execução
em condições complexas, como com muito cansaço, com presença do adversário

44
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

ou em condições climáticas adversas.

O método de ensino dividido pode ser representado por uma divisão da


atividade motora em fases independentes, que podem ser aprendidas de modo
autônomo e unidas posteriormente. Como aspecto positivo, o método tem a
possibilidade de concentrar a atenção dos atletas de modo mais completo. É dada
ênfase aos componentes da técnica, porém excluindo as repetições das partes
e das fases ainda não assimiladas, evitando erros estáveis (característica do
método integral).

Uma deficiência é que não deve ser aplicada em casos em que a ação motora
não pode ser dividida, como nos saltos na ginástica ou no chute na bola. Como
variantes desse método, é possível destacar o estudo separado dos elementos
da ação para depois ligá-los ao movimento total; uma gradativa ligação entre os
elementos da técnica da ação motora; o destaque dos elementos da ação motora
em curto período de tempo; e o aperfeiçoamento das ações motoras sob a forma
de exercícios.

O método de treino das capacidades motoras tem como


O método de
característica exercícios que podem ser executados no regime contínuo
treino das
ou intervalado. Cada uma dessas variantes pode se caracterizar por capacidades
parâmetros variáveis ou constantes do exercício. motoras tem como
característica
O método de exercício de carga permanente se caracteriza pela exercícios que
reprodução da ação motora na composição contínua em intervalos podem ser
executados no
relativamente constantes de descanso, “corridas de 60 metros,
regime contínuo
repetidas com velocidade próxima à do limite e com intervalo de 10 ou intervalado.
minutos de descanso” (GOMES, 2002, p. 61). Ou, de trabalho contínuo, Cada uma dessas
“como nadar 30 minutos no mesmo ritmo ou até mesmo a união dos variantes pode
métodos dependendo do objetivo almejado” (GOMES, 2002, p. 61). se caracterizar
por parâmetros
Figura 1 – Método de exercício de carga permanente variáveis ou
constantes do
exercício.
Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )
Fonte: Gomes (2002, p. 61).

45
Teoria do Treinamento Desportivo

O método de exercício de carga crescente tem os exercícios alterados durante


a execução, de modo que o volume da influência do treino sobre o organismo
sofra aumentos, como o “levantamento de peso com a elevação progressiva de
carga em cada tentativa, elevação da velocidade em cada trecho de corrida, de
natação ou redução do período dos intervalos de descanso” (GOMES, 2002, p.
61).

Figura 2 – Método de Exercício de Carga Crescente

Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )
Fonte: Gomes (2002, p. 63).

O método de exercício de carga decrescente é semelhante ao método de


carga crescente, porém com a influência do treinamento sobre o organismo
sofrendo diminuição, como “pedalar a bicicleta iniciando com ritmos fortes e
diminuir a velocidade a cada novo esforço ou a cada determinada distância”
(GOMES, 2002, p. 63).

Figura 3 – Método de Exercício de Carga Decrescente

Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )
Fonte: Gomes (2002, p. 63).

O método de exercício de carga permanente e decrescente tem as cargas


de exercícios iniciadas de forma permanente e com posterior decréscimo como,
por exemplo, “um atleta do remo que realiza 30 minutos de trabalho na zona
glicolítica com frequência cardíaca de 180 bpm e mais 30 minutos, diminuindo o
ritmo a cada 10 minutos, terminando o trabalho na zona aeróbia de recuperação”
(GOMES, 2002, p. 63).
46
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

Figura 4 – Método de Exercício de Carga Permanente e Decrescente

Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )

Fonte: Gomes (2002, p. 63).

O método de exercício de carga permanente e crescente é semelhante ao


de carga permanente e decrescente, porém, após o momento constante, se torna
mais forte. Por exemplo, “um lutador de boxe realiza cinco séries de um minuto de
combate com pausa de dois minutos; na sequência, passa a aumentar o tempo de
combate a cada novo momento de esforço” (GOMES, 2002, p. 64).

Figura 5 – Método de Exercício de Carga Permanente e Crescente

Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )
Fonte: Gomes (2002, p. 64).

O método de exercício de carga crescente e permanente tem como


característica um crescimento e, em determinado momento, se estabiliza. Como
por exemplo,

no exercício em ciclo ergômetro, inicia-se com a carga de um


minuto e, a cada dois minutos, aumenta-se a carga até completar
dez minutos; depois, estabiliza-se a carga e trabalha-se até
aparecer o cansaço suficiente que afeta de forma negativa a
ação motora concreta (GOMES, 2002, p. 64).

47
Teoria do Treinamento Desportivo

Figura 6 – Método de exercício de carga crescente e permanente

Frequência
Cardiaca
( FC )

Fonte: Gomes (2002, p. 64). Volume ( V )

O método de exercício de carga decrescente e crescente se caracteriza por


um início com carga alta, que vai decrescendo, passando a crescer novamente.
Por exemplo, “em cada treinamento tático de defesa no handebol, inicia-se com
séries de quatro minutos de trabalho e vai-se diminuindo para três, dois e um e,
depois, volta-se a acrescer o tempo de trabalho; o mesmo pode ser realizado nos
trabalhos contínuos” (GOMES, 2002, p. 64).

Figura 7 – Método de exercício de carga decrescente e crescente

Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )
Fonte: Gomes (2002, p. 64).

O método de exercício de carga crescente e decrescente se caracteriza por


um início de forma lenta, crescendo até atingir o nível objetivado no treinamento,
e na sequência passa a diminuir a carga, propiciando uma boa recuperação
metabólica, ou seja, “inicia-se o treinamento de triatletas na corrida com carga
lenta até atingir o limiar anaeróbio; depois, o ritmo deve cair com o objetivo de
recuperar a produção lática na corrente sanguínea” (GOMES, 2002, p. 65).

48
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

Figura 8 – Método de Exercício de Carga Crescente e Decrescente

Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )
Fonte: Gomes (2002, p. 65).

O método de exercício de carga variável tem como característica uma carga


variada de forma permanente, ou crescente e decrescente, permitindo ao treinador
criar situações aproximadas de competição, resultando numa performance de alto
nível.

Figura 9 – Método de Exercício de Carga Variável

Frequência
Cardiaca
( FC )

Volume ( V )
Fonte: Gomes (2002, p. 65).

De acordo com Gomes (2002, p. 65),

os métodos abordados não abrangem toda a


multifuncionalidade dos meios de solução das tarefas de
preparação dos atletas. Na prática, tem-se utilizado largamente
diversas variantes de combinação dos métodos, ou seja, os
chamados “métodos combinados”. A estruturação dos treinos
com base em métodos combinados permite frequentemente
resolver com mais sucesso as tarefas de preparação, pois isso
tem ampliado as possibilidades de prescrição dos exercícios
(grifos do autor).

49
Teoria do Treinamento Desportivo

O método competitivo é realizado a partir de atividades que simulem as


competições.

A competição é a expressão mais brilhante do método


competitivo, que possui uma esfera muito ampla de aplicação e
pode ser utilizado em qualquer modalidade com base nos exercícios
físicos (GOMES, 2002, p. 65).

O método competitivo representa a mobilização máxima


A parte deficitária do
método competitivo das potencialidades físicas e psíquicas do atleta. A simulação cria
fica a cargo da condições emocionais favoráveis ao atleta, acirrando a rivalidade,
limitação de uma favorecendo mudanças funcionais no organismo do atleta.
direção por parte do
atleta no processo A parte deficitária do método competitivo fica a cargo da
de execução
limitação de uma direção por parte do atleta no processo de execução
do exercício em
forma competitiva, do exercício em forma competitiva, em especial na dificuldade de
em especial na dosagem e controle das cargas.
dificuldade de
dosagem e controle O método competitivo “aplica-se com o objetivo de resolver
das cargas. diversas tarefas de preparação dos atletas, assegurando a influência
complexa (conjugada) sobre diferentes aspectos de preparação
e, por isso, é de grande eficiência na etapa de aperfeiçoamento desportivo”
(GOMES, 2002, p. 66).

O método de jogo não é realizado apenas com os jogos mais tradicionais,


como voleibol ou futebol, mas representa uma ampla variedade de formas e
meios para a realização. Uma das principais particularidades do método de jogo
é desenvolver a atividade locomotora do atleta. A base do desenvolvimento está
em proporcionar situações imaginárias de vida, ou seja, os jogos de imitação. Por
exemplo,

se o aperfeiçoamento de deslocamento em equilíbrio tem


como desenvolver a forma de “travessia do rio por uma ponte
estreita”, nesse caso, aplica-se o método de jogo. Se o mesmo
exercício não tem semelhante sentido de desenvolvimento e
se subordina por completo à tarefa de aperfeiçoamento da
técnica da ação ou da rapidez de deslocamento, nesse caso,
é aplicado o método de exercício programado ou o método
competitivo (GOMES, 2002, p. 66).

50
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

A diversidade presente nas situações de jogo exige independência para


criar na escolha das soluções que são mais eficazes das tarefas motoras. Sendo
assim, no jogo, a complexidade de diversos hábitos e capacidades motoras é
manifestada. A parte negativa do método é que, ao ser aplicado, não é permitido
dosar com precisão a carga, pois não há como prever as ações de cada atleta.

O método de influência verbal revela uma relação entre técnico e atleta que
não exige nenhuma prova. É impossível a solução de qualquer que seja a tarefa
de preparação do atleta sem a utilização de meios verbais de contato. Dentre os
métodos de influência verbal, de acordo com Gomes (2002), “podem ser citados
a explicação, a conversa, o comando, a indicação corretiva, a análise verbal, a
avaliação etc.” (p. 67). Há que se levar em conta também o conteúdo emocional e
o sentido lógico de cada método verbal.

O alto nível pedagógico do técnico é manifestado na maneira em que


são tratados os atletas, utilizando as palavras com bom senso, resultando
em uma ativação e uma direção eficiente da atuação. O técnico geralmente
se fundamenta em critérios de difícil detecção ou ligados à intuição,
às experiências pessoais ou ao conhecimento das particularidades dos atletas.

O método de influência demonstrativa tem como base os diferentes sistemas


sensoriais do atleta. De acordo com Gomes (2002, p. 67), são três os
grupos: “métodos demonstrativos visuais, métodos demonstrativos A demonstração
de materiais
auditivos, métodos demonstrativos motores (cinestésicos)”.
didáticos
baseia-se na
Os métodos demonstrativos visuais podem ter sua divisão possibilidade de
baseada na apresentação da atividade motora, na demonstração de o atleta receber
materiais didáticos e na orientação visual. estímulos para
melhorar os
movimentos,
A demonstração da atividade motora é a forma mais comumente
utilizando
utilizada de ensino, quando aplicada na fase de aprendizagem. gravações em
Através da demonstração, posteriormente ocorre a imitação. Esse vídeos, cartazes,
trabalho é preferencialmente utilizado com crianças. Utiliza-se também desenhos ou
a demonstração para representar em detalhes as particularidades da esquemas.
atividade motora.

A demonstração de materiais didáticos baseia-se na possibilidade de o atleta


receber estímulos para melhorar os movimentos, utilizando gravações em vídeos,
cartazes, desenhos ou esquemas.

A orientação visual é aquela em que o atleta utiliza pontos visuais como


referências ou marcações para executar os movimentos. Como exemplo,

51
Teoria do Treinamento Desportivo

podemos citar as demarcações que um atleta de salto em distância utiliza para


determinar a posição mais eficaz para o salto.

Os métodos demonstrativos auditivos utilizam de pontos sonoros como


referência, sendo utilizados no início ou no fim dos movimentos. Com sinais
sonoros previamente combinados, pode ser utilizado como forma de indicar um
movimento mais intenso.

Os métodos demonstrativos motores (cinestésicos) têm como objetivo uma


melhor organização do aparelho motor do atleta. Um exemplo pode ser a ajuda
direta, em que o treinador executa os movimentos junto com o atleta, fazendo
com que este sinta a diferença entre as posições corretas e incorretas de cada
movimento.

Outros autores trazem diferentes métodos. Dessa forma, nos basearemos


em Dantas (2003) para apresentar o que vem a seguir.

Para o autor, são cinco os métodos: métodos contínuos, métodos


intervalados, métodos fracionados, métodos em circuito e métodos adaptativos.

O método contínuo se caracteriza pela aplicação de cargas contínuas, como


o próprio nome sugere. Nesse método, o volume predomina sobre a intensidade.
Dentro do método contínuo, há outros de treinamento, como o cerutty, o marathon-
training, o cross-promenade, o aeróbico, o zona alvo, o fartlek e o corrida contínua.
Cada um possui suas características específicas, mas não entraremos no mérito
da questão.

Para maior conhecimento, busque em: DANTAS, Estélio H.M. A


Prática da Preparação Física. 5. Ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

O método intervalado consiste numa série de estímulos, através de esforços


submáximos, intercalados de intervalos que propiciem uma recuperação parcial.

O método fracionado tem como característica a aplicação de um segundo


estímulo somente após a neutralização quase total dos efeitos causados pelo
anterior, realizados com um tempo de recuperação compatível.

52
Capítulo 3 Métodos Tradicionais e Modernos de
Organização do Treinamento Desportivo

O método em circuito é um método misto, pois tem utilidade


O método em
tanto para o condicionamento cardiopulmonar como para o
circuito é um
neuromuscular. Um circuito anaeróbico se caracteriza por estações método misto,
de alta intensidade e curta duração, que são separadas por estações pois tem utilidade
de baixa intensidade. Já o circuito aeróbico possui estações menos tanto para o
intensas, com maior duração e similares no esforço executado. condicionamento
cardiopulmonar
como para o
O método adaptativo tem como característica a diminuição da
neuromuscular.
oxigenação. Há dois métodos adaptativos, o hypoxic training e o
altitude training. O método hypoxic training é muito utilizado na natação,
pois procura reduzir a oxigenação por meio do aumento do número de braçadas.
O método altitude training visa o desenvolvimento das resistências aeróbica e
anaeróbica, utilizando a altitude como carga de um exercício. Nesse método, o
trabalho a ser realizado é inversamente proporcional à altura a ser vencida.

A apresentação dos métodos nos faz refletir naquele que melhor se encaixa
com os objetivos que pretendemos alcançar. Aliados aos métodos, os modelos de
treinamento serão apresentados a seguir.

Atividade de Estudos:

1) Baseado nos estudos, e em outras referências, o que pode ser


definido como método de treinamento?
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53
Teoria do Treinamento Desportivo

Algumas Considerações
Conforme assinalamos no início desse capítulo, treinar não é simplesmente
fazer exercícios de forma desordenada. Dessa forma, não se chegará a nenhum
objetivo que se pretenda.

Apresentamos os métodos para que cada um possa fazer a melhor opção


para o atleta. Caso queira fazer com que o atleta sinta a pressão de uma
competição, então este passará pelo método competitivo. Se a intenção for
apenas estimulá-lo, é indicada a utilização do método de influência verbal.

De forma semelhante, é preciso selecionar qual o melhor modelo para os


treinamentos. Se o treino for direcionado a esportes coletivos, é necessário saber
que o método de cargas seletivas pode dar melhor resultado. Se o objetivo for
fazer com que o atleta tenha um desempenho melhor, é possível treiná-lo no
sistema de blocos. Cada treinamento tem suas particularidades, e cabe a cada
treinador identificá-las e aprimorá-las.

No capítulo seguinte, apresentaremos o que consta, na literatura


especializada, acerca do treinamento da força, da velocidade, da flexibilidade e
da resistência.

Referências
DANTAS, Estélio H. M. A Prática da Preparação Física. 5. Ed. Rio de Janeiro:
Shape, 2003.

GOMES, Antonio Carlos. Treinamento Desportivo: estruturação e periodização.


Porto Alegre: Artmed, 2002.

54
C APÍTULO 4

Tendências Atuais do
Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade
e Resistência
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

33 Compreender as tendências do treinamento de força, velocidade,


flexibilidade e resistência.

33 Analisar as tendências do treinamento de força, velocidade,


flexibilidade e resistência. Contextualização
Teoria do Treinamento Desportivo

56
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

Contextualização
Neste capítulo, temos como objetivo compreender e analisar as tendências
do treinamento de força, velocidade, flexibilidade e resistência.

Em um primeiro momento, traremos ao conhecimento o que a literatura


trata a respeito da força, os tipos de força, as características e alguns métodos
de treinamento. Em sequência, traremos as questões voltadas à velocidade e
de que forma pode ser treinada e melhorada. Em seguida, discutiremos sobre a
flexibilidade e a metodologia que pode ser trabalhada. Por fim, sobre a resistência,
apresentando também a metodologia, além de parâmetros para o treinamento da
resistência.

Força
Para falarmos sobre o treinamento de força, precisamos primeiro adquirir o
conceito de força. De acordo com Barbanti (2003, p. 273), é

qualquer ação que causa uma mudança no estado de


movimento de um objeto. É o produto da massa de um objeto
pela sua aceleração linear. A força é medida em Newtons
(N). Do ponto de vista fisiológico, a força é a capacidade de
exercer tensão contra uma resistência, que ocorre por meio de
diferentes ações musculares.

As diversas manifestações de força podem ser consideradas como


Se entende a força
as de aspecto geral e específico. Em termos de força geral, se entende
que é utilizada por
a força que é utilizada por todos os grupos musculares, independente todos os grupos
do esporte. Em se tratando de força específica, tem-se como exemplo musculares,
a força desenvolvida por um grupo específico de músculos utilizados independente do
para desenvolver determinado movimento de um esporte. esporte.

A força não faz parte de uma modalidade esportiva de uma


forma abstrata, mas sempre em combinação com outros fatores
determinantes do desempenho (WEINECK, 2003, p. 224).

57
Teoria do Treinamento Desportivo

Força Máxima
A força máxima é representada através da maior força que um
A força máxima é
atleta pode alcançar, ou seja, o que o sistema neuromuscular pode
representada através
da maior força que mobilizar através de contrações voluntárias.
um atleta pode
alcançar. A força absoluta é maior que a força máxima, pois é o somatório
da força máxima e da força de reserva, que é somente executada em
condições extremas.

A força máxima apresenta algumas diferenças em relação à força máxima


estática e dinâmica. Como anteriormente citado, a força máxima estática é a
maior força que se pode produzir através de contrações voluntárias. Já a força
máxima dinâmica é a maior força que o sistema neuromuscular pode produzir
através de contrações voluntárias, porém dentro de uma determinada sequência
de movimentos.

A força máxima estática é sempre maior que a força máxima


dinâmica.

A força máxima depende dos seguintes componentes: a) das


estrias transversais dos músculos (linhas Z); b) da coordenação
intermuscular (coordenação entre músculos que atuam como
agonistas em um mesmo movimento, que trabalham juntos num
mesmo movimento); c) da coordenação intramuscular (coordenação
dentro do músculo) (WEINECK, 2003, p. 226).

A força máxima estática possui alguns fatores determinantes, como a seção


transversal da fibra muscular, o volume muscular, a estrutura muscular, o tipo de
fibra muscular, a obtenção muscular de energia, o comprimento da fibra muscular
e ângulo de tração, a capacidade coordenativa de desempenho do músculo, a
motivação, o sexo e idade, o período do dia (WEINECK, 2005).

Por sua vez, a força máxima dinâmica também tem seus fatores, como o
nível da força estática, a capacidade coordenativa da musculatura, o alongamento
prévio do músculo, a velocidade do movimento, o tipo de desenvolvimento da
força, o grau de fadiga (WEINECK, 2005).

58
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

O emprego da força máxima concêntrica e excêntrica provoca,


num curto espaço de tempo, um significativo aumento da força, através O emprego da
força máxima
da melhoria da coordenação intramuscular.
concêntrica
e excêntrica
É possível que haja um aumento de força através
da melhoria da coordenação intramuscular sem provoca, num curto
que haja um aumento das estrias transversais, o espaço de tempo,
que é importante sobretudo em modalidades em um significativo
que o peso corporal deve ser acelerado, como aumento da
por exemplo, no salto em altura (WEINECK, força, através
2003, p. 226).
da melhoria da
coordenação
Os fosfatos de alta energia, chamados ATP-CP, têm papel intramuscular.
fundamental no desenvolvimento da força máxima, levando em
conta que o período de desenvolvimento da força máxima é de apenas alguns
segundos. O desenvolvimento da força máxima resulta em um rápido acúmulo
de ácido lático no interior da célula, ou seja, aumento dos níveis de lactato, tendo
como consequência uma queda no desempenho para um nível submáximo. A
força rápida pode ser diferentemente distribuída em uma mesma pessoa.

A força rápida compreende a capacidade do sistema


neuromuscular de movimentar o corpo ou parte do corpo
(braços, pernas) ou ainda objetos (bolas, pesos, esferas,
discos etc.) com uma velocidade máxima (WEINECK, 2003,
p. 226).

Os movimentos
Os movimentos com força rápida devem ser previamente
com força
programados, sendo processados através do sistema nervoso central. rápida devem
ser previamente
Em relação à resistência de força, é a capacidade que o atleta tem programados,
de resistir à fadiga durante prolongados períodos de força. Os critérios sendo
que são utilizados para a resistência de força são a intensidade do processados
através do sistema
estímulo e o volume do estímulo.
nervoso central.

O Trabalho Muscular O trabalho


muscular cedente
Quanto aos tipos de trabalho muscular, estes podem ser tem relação com
designados como dominante, cedente, permanente e combinado. a neutralização
de saltos ou a
implementação
O trabalho muscular dominante está presente na maioria dos dos primeiros
movimentos,
movimentos esportivos, pois possibilita, através do encurtamento dos sendo
músculos, movimentar o próprio corpo ou ainda um corpo externo. caracterizado por
um aumento do
comprimento do
O trabalho muscular cedente tem relação com a neutralização de músculo.

59
Teoria do Treinamento Desportivo

saltos ou a implementação dos primeiros movimentos, sendo caracterizado por


um aumento do comprimento do músculo.

O trabalho muscular permanente é caracterizado pela manutenção da


postura do corpo e dos membros. Outra característica é a contração, mas não
pelo alongamento dos músculos.

O trabalho muscular combinado tem como característica a união dos


elementos dominantes, cedentes ou permanentes.

Quanto aos tipos de contração muscular presentes nos exercícios de força,


elas podem ser divididas em isotônicas, isométricas e auxotônicas.

A Contração Muscular
Na contração Na contração muscular isotônica, os elementos contráteis do
muscular isométrica, músculo entram em contração, enquanto os elementos elásticos
os elementos não apresentam variação no comprimento, ocorrendo, assim, um
contráteis encurtamento do músculo.
apresentam
contração, enquanto
Na contração muscular isométrica, os elementos contráteis
os elementos
elásticos sofrem apresentam contração, enquanto os elementos elásticos sofrem
um alongamento, um alongamento, de modo que a contração muscular não se torna
de modo que a visível.
contração muscular
não se torna visível. A contração muscular auxotônica é a combinação da contração
isométrica e isotônica. O sistema neuromuscular ativa um sistema
“liga-desliga” (WEINECK, 2003, p. 231) das unidades motoras neuromusculares,
em conformidade com o tipo e a velocidade dos movimentos realizados.

A relação com outras variantes


A relação entre força e velocidade se apresenta de forma estreita, em um
curto tempo de processamento.

A relação com a flexibilidade não tem consideráveis variáveis em razão


do aumento ou da redução da força. Para que haja um aumento simultâneo da
flexibilidade no desenvolvimento dos músculos em torno de uma determinada
articulação, é fundamental a execução de exercícios de alongamento e

60
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

relaxamento. Um aumento exagerado da massa muscular, sem que sejam


feitos exercícios para equilibrar esse aumento, pode acarretar uma limitação da
flexibilidade.

A relação com as capacidades coordenativas não apresenta uma diminuição


com o aumento da força. Deve-se levar em conta exercícios de coordenação para
movimentos finos após um treino de força.

Em relação à resistência, com o aumento das estrias transversais e


diminuição da disponibilidade de substratos, oxigênio e metabolismo, pode haver
limitação na capacidade de resistência.

Metodologia do Treinamento de
Força
Um atleta pode optar por aumentar sua força por meio de superposição
interna ou resistência externa. De acordo com Bompa (2002, p. 338), as principais
fontes externas para desenvolver a força podem ser

exercícios com o peso corporal individual, como flexão/


extensão de cotovelos, com um parceiro, como segurar as
mãos e puxar os braços contra a resistência do parceiro;
Medicine Balls (levantamentos, arremessos etc.); tiras
elásticas e cordas (amarradas em objetos
sólidos ou presas por um parceiro), conforme
a corda estica, a resistência aumenta; halteres;
Em um programa
barras; resistência fixa (contração isométrica). de treinamento de
força, deve haver
uma combinação
Em um programa de treinamento de força, deve haver uma de pesos livres
combinação de pesos livres com outros meios e treinamento, como a com outros meios
utilização de medicine balls, aparelhos e saltos direcionados. e treinamento,
como a utilização
Um treinamento utilizando pesos pode conter tanto exercícios de medicine balls,
aparelhos e saltos
analíticos quanto exercícios sintéticos, uma vez que os resultados
direcionados.
são diferentes. Os exercícios analíticos envolvem um pequeno grupo
muscular, resultando em efeitos estritamente locais. Com isso, o atleta
pode alternar os grupos musculares trabalhados. Em contrapartida, os desportos
que requerem resistência, devem se basear em exercícios sintéticos, ou seja, que
envolvem vários grupos musculares.

Antes de desenvolver a força, é necessário desenvolver uma boa flexibilidade,


para assim evitar um enrijecimento das articulações, ou intercalar os exercícios de
flexibilidade entre os exercícios com pesos.

61
Teoria do Treinamento Desportivo

Parâmetros Relevantes para o


Treinamento de Força
A força é uma das capacidades mais importantes para o desenvolvimento
esportivo de um atleta, tendo papel fundamental em seu treinamento. Para isso,
é necessário compreender o desenvolvimento da força, pois pode afetar tanto
a velocidade quanto a resistência. Sendo assim, é necessária uma seleção
adequada dos exercícios, evitando assim um treinamento ineficaz e fatigante. Ou
seja, devemos levar em consideração alguns aspectos, como a idade e o nível de
desempenho.

Para atletas jovens ou iniciantes, são necessários exercícios para


desenvolver um fundamento anatômico e fisiológico sólido. Por isso, podem ser
selecionados de nove a doze exercícios para os principais grupos musculares.
Para atletas avançados ou de alto nível, o objetivo do treinamento de força é
elevar para os níveis mais altos possíveis. Deve ser mais específico, voltado para
os movimentos principais, com três a seis exercícios.

Outro aspecto importante é a necessidade do desporto. Devemos selecionar


exercícios em conformidade com as necessidades de cada desporto. Por exemplo,
um saltador de altura pode executar três ou quatro exercícios específicos para
seu esporte, enquanto um lutador precisaria de cinco a oito exercícios.

Em relação à fase de treinamento, um atleta precisa fazer um programa


de treinamento de força geral durante a fase preparatória. Na fase de transição,
são delineados exercícios para o fundamento que o atleta irá utilizar. Conforme
o programa vai evoluindo, entrando na fase competitiva, o atleta deve executar
apenas exercícios específicos.

Carga de Treinamento
A carga de treinamento refere-se à massa ou quantidade de peso que é utilizada
para o desenvolvimento da força. Podem ser usadas as seguintes cargas, de acordo
com Bompa (2002): supramáxima, que é uma carga que excede a força máxima do
atleta. Devem ser usadas altas cargas, variando acima dos 100% da força máxima,
duas ou três vezes por semana. Porém, o uso das cargas supramáximas deve ser
empregado apenas com atletas que já possuem histórico de treinamento de força. Os
outros atletas utilizam treinamentos de força com carga máxima, que possui variantes
entre de 90 a 100%. Na carga pesada, são utilizadas variantes entre 80 e 90% da
máxima. As cargas médias utilizam de 50 a 80% da máxima. As cargas baixas são as
menores que 50%.
62
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

Métodos de Treinamento de Força


Para se desenvolver a força, cada desporto influencia no treinamento. Alguns
desportos requerem maior potência, outros mais resistência muscular. Desse
modo, não há como elaborar um método que supra as necessidades de todos os
desportos.

Para o desenvolvimento de força máxima, deve-se envolver no exercício a


maioria das unidades neuromusculares. Emprega-se, então, com frequência, os
máximos ou supramáximos estímulos. Em razão do alto desgaste dos exercícios,
é recomendado alternar os grupos musculares, obtendo assim uma melhor
recuperação entre as sessões.

Para o desenvolvimento da potência, é necessário executar o movimento


dinamicamente ligado à força empregada. No caso da potência acíclica, a
carga de exercícios fica entre 50 e 80%, com o movimento sendo executado
rapidamente. É recomendada a execução de quatro a seis séries, com intervalos
de 3 a 5 minutos. Em se tratando da potência cíclica, a carga de exercícios fica
entre 30 e 50% da máxima, sendo executadas em ritmo dinâmico, com até 10
repetições e intervalo de 5 minutos.

Para o desenvolvimento da resistência muscular, primeiro deve-se dividi-


la de acordo com as especificidades de cada desporto. Ela pode ser acíclica
ou de curta duração, como pode ser cíclica ou de longa duração. Em relação
à resistência muscular acíclica, ela pode ser melhorada usando exercícios com
intensidade mais alta que na competição, com cargas entre 50 e 80% da máxima
e repetições entre 10 e 30. Para a resistência muscular cíclica, os exercícios de
contração devem ser alternados com exercícios de relaxamento, com cargas
entre 20 e 50% da máxima.

Para um esportista não treinado, algumas metodologias servem de base


para um bom treinamento. Quanto menos treinado for o atleta, o treinamento deve
ser mais geral e abrangente. O treinamento de forma geral é o fundamento para
outros exercícios de treinamento especial que porventura serão utilizados mais
adiante. A utilização de cargas pequenas já provoca efeitos, como o aumento da
força. Em relação à estrutura corporal, deve-se tomar cuidado, pois o aumento da
força ocorre muito rapidamente, mas a adaptação do aparelho locomotor acontece
de forma lenta. Assim, deve haver um tempo de adaptação dessas estruturas, em
especial os tendões e ligamentos.

O aumento da força provoca a hipertrofia muscular. De acordo com


Dantas (2003), são quatro os tipos de hipertrofia. A aguda é aquela que ocorre

63
Teoria do Treinamento Desportivo

imediatamente após o exercício e tem pequena duração. Ela consiste na formação


de edemas no músculo pelo acúmulo de catabólitos. A hipertrofia crônica é aquela
que surge com a continuidade do treinamento, devido à anabolização de proteínas
contráteis ou pelo aumento das organelas das fibras musculares. A hipertrofia
actomiossínica ocorre quando há uma anabolização das proteínas, de forma
especial a actina e a miosina. A hipertrofia sarcoplasmática ocorre quando há um
aumento das substâncias existentes dentro do sarcoplasma, como organelas,
glicogênio, triglicérides.

Exemplos de métodos para desenvolvimento da força em


corridas de velocidade:

Força Dinâmica – na fase básica do período preparatório, é


desenvolvida através da musculação.

Força Explosiva – na fase específica do período preparatório,


é desenvolvida através do Power training e no período de
competição através da musculação.

Para mais exemplos, consultar:

DANTAS, Estélio H. M. A prática da preparação Física. 5. Ed.


Rio de Janeiro: Shape, 2003.

Atividade de Estudos:

1) Quais os três tipos de contração muscular? E o que significa cada


um?
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Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

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Agora que já estudamos os conceitos e os exemplos práticos sobre a força,


na seção seguinte iremos compreender qual é a relação entre a velocidade e o
treinamento desportivo.

Velocidade
Mecanicamente, pode-se dizer que a velocidade é a relação entre espaço
e tempo. Em se tratando do termo velocidade, ele pode ter incorporado alguns
elementos. Um deles é o tempo de reação, ou seja, a velocidade de reação de
um atleta numa largada em provas do atletismo. Outro elemento é a frequência
do movimento por unidade de tempo, ou seja, a velocidade que um atleta
consegue impelir para percorrer determinada distância. O terceiro elemento seria
a velocidade de transposição de uma determinada distância, que se representa
pela frequência de passada.

De acordo com Weineck (2003, p. 379), a velocidade pode ser definida como:

a velocidade de jogadores é uma capacidade complexa,


composta de diferentes outras capacidades psicofísicas
secundárias, a saber: capacidade de percepção das
situações de jogo e suas alterações no menor espaço de
tempo possível = velocidade de percepção. Capacidade de
antecipação do desenvolvimento do jogo e, em especial, do
comportamento dos adversários no menor tempo possível =
velocidade de antecipação. Capacidade de decisão, no menor
tempo possível, quanto aos passes potenciais exequíveis =
velocidade de decisão. Capacidade de reação a uma jogada
inesperada no decorrer do jogo = velocidade de reação.
Capacidade de realização de movimentos cíclicos e acíclicos
sem a bola com grande ritmo = velocidade de movimento
cíclico e acíclico. Capacidade de rápida realização de jogadas
específicas com a bola diante do adversário num curto prazo
de tempo = velocidade de ação. Capacidade de ajuste rápido
das possibilidades cognitivas, técnico-táticas e condicionais =
velocidade de ajuste.

65
Teoria do Treinamento Desportivo

A velocidade geral A velocidade pode também ser dividida em dois tipos,


é a capacidade conforme Bompa (2002), a geral e a específica. A velocidade geral
de desempenhar é a capacidade de desempenhar qualquer tipo de movimento de
qualquer tipo de maneira rápida. Por sua vez, a velocidade específica é a capacidade
movimento de
de realizar um exercício a uma velocidade consideravelmente alta.
maneira rápida.

Para Weineck, a velocidade pode ser dividida em pura e complexa.

São identificadas como formas de velocidade “puras”:


velocidade de reação = capacidade de reação a um
estímulo num menor espaço de tempo. Velocidade de ação
= capacidade de realizar movimentos únicos, acíclicos, com
máxima velocidade e contra pequenas resistências (não
há cargas ou halteres aos quais se imprime velocidade).
Velocidade de frequência = capacidade cíclica, o que equivale
a dizer realizar repetidos movimentos, iguais, com máxima
velocidade, frente a pequenas resistências. Essas formas
de velocidade “puras” são dependentes do sistema nervoso
central e de fatores genéticos. Às formas “complexas” da
velocidade pertencem: velocidade de força = capacidade
de resistir a uma força, a mais alta possível, por um tempo
determinado. Resistência de força rápida = capacidade de
manutenção de uma velocidade sob fadiga, manutenção
da velocidade de contração de movimentos acíclicos sob
resistência crescente. Resistência de velocidade máxima
= capacidade de resistência sob fadiga, na manutenção da
velocidade em movimentos cíclicos e de máxima velocidade
de contração (2003, p. 379, grifos do autor).

a) Fatores que afetam a velocidade

A velocidade pode ser influenciada por diversos fatores. Um deles é a


hereditariedade. Comparada com a força e a resistência, em que os atletas treinam
para atingir melhores resultados, a velocidade é determinada pela hereditariedade
e parte de um talento natural.

O tempo de reação também é hereditário. O tempo de reação é o tempo entre


a assimilação de um estímulo e a primeira reação muscular após esse estímulo.
Fisiologicamente, o tempo de reação tem cinco componentes.

A aparição de um estímulo no nível receptor; a propagação


do estímulo ao SNC; a transmissão do estímulo pelo caminho
O tempo de reação nervoso e a produção do sinal efetor; a transmissão do sinal
do SNC para o músculo; a estimulação do músculo para
de escolha ou desempenhar o trabalho mecânico (BOMPA, 2002, p. 385).
complexo é o
momento em que o
atleta recebe vários A reação simples é a resposta pré-determinada a um sinal já
estímulos e tem que conhecido pelo atleta. O tempo de reação de escolha ou complexo é
optar por um. o momento em que o atleta recebe vários estímulos e tem que optar

66
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

por um.

Outro fator é a capacidade de superar a resistência externa. Durante os


treinamentos, o atleta é exposto a uma resistência imposta pela gravidade, pelo
aparelho, pelo ambiente ou pelos oponentes. Para superar esses desafios, ao
atleta cabe melhorar sua potência, resultando num aumento da contração
muscular, tornando-o capaz de acelerar os movimentos.

A técnica também tem influência na velocidade. Ao adquirir uma melhora na


execução dos movimentos, o atleta tem uma melhora na velocidade. Quanto maior
a técnica, melhor o desempenho na atividade, pois a velocidade de execução é
maior.

Ao atleta também é necessário uma maior concentração e força de vontade.


Para executar movimentos com maior rapidez, o atleta precisa estar na mais
plena concentração, empenhado em suas atividades.

A elasticidade muscular é a capacidade de relaxar os músculos agonistas


e antagonistas separadamente, atingindo alta frequência de movimento. A
mobilidade nas articulações também é importante para desempenhar movimentos
rápidos, como, por exemplo, longas passadas necessárias a qualquer desporto.

b) Métodos para desenvolver a velocidade máxima

Para um maior desenvolvimento da velocidade, são necessários alguns


métodos. Um deles diz respeito à intensidade dos estímulos. Essa intensidade
deve se basear nos níveis submáximo e supramáximo.

A duração dos estímulos deve preferencialmente ser otimizada.


Quanto maior a duração dos estímulos, melhores os resultados da O volume dos
estímulos pode
velocidade máxima. Sugere-se que essa duração seja entre 5 e 20
prevalecer por
segundos. Quanto maior a duração, melhor a resistência anaeróbica. até 90% do
volume total de
O volume dos estímulos pode prevalecer por até 90% do volume treinamento, com
total de treinamento, com um volume total de trabalho entre 5 e 15 um volume total
vezes maior que a distância da competição. de trabalho entre 5
e 15 vezes maior
que a distância da
A frequência dos estímulos deve ser levada em consideração. Um competição.
atleta pode repetir as intensidades máximas cinco ou seis vezes por
sessão, duas a quatro vezes por semana durante a fase competitiva.

Os intervalos de descanso devem garantir a total recuperação do atleta. Se

67
Teoria do Treinamento Desportivo

não houver, os trabalhos de alta intensidade podem não se repetir. Os intervalos


podem estar por volta de 4 a 6 minutos. Se for usado intervalo mais longo, 12
minutos, é recomendado um curto aquecimento para elevar os níveis do sistema
nervoso central. Em intervalos normais, entre 2 a 6 minutos, propõe-se o descanso
ativo.

c) Métodos para desenvolver velocidade

Um dos métodos para desenvolver a velocidade, tido como o mais básico, é


o da repetição. Pode-se relacionar uma distância determinada várias vezes a uma
determinada velocidade. É ideal para atletas que não têm condições de manter a
velocidade máxima por um longo período.

O método alternado O método alternado se refere às repetições alternadas com


se refere às altas e baixas intensidades.
repetições alternadas
com altas e baixas
intensidades. O método da desvantagem põe os melhores em desvantagem
inicial, permitindo aos atletas com diferentes capacidades trabalhar
juntos. Quando uma repetição é realizada, cada atleta é colocado ou à frente ou
atrás, fazendo com que cheguem ao final do trajeto ao mesmo tempo.

Os revezamentos e jogos podem ser utilizados para melhorar a velocidade,


em especial para iniciantes ou durante a fase preparatória para atletas de elite.
Esse método pode eliminar a pressão excessiva.

d) Periodização do treinamento de velocidade

Para isso, utilizaremos como referência, Weineck (2003). Para


O primeiro
período, que é a esportes de alto desempenho, pode-se utilizar a periodização dupla,
fase preparatória, com períodos na quadra e ao ar livre. Nesse método, o ano deve
compreende 3 ser dividido em oito macrociclos, com 4 até 8 semanas de exercícios
macrociclos de
seis semanas. específicos.
Nesse tempo,
são realizados
treinamentos de O primeiro período, que é a fase preparatória, compreende
formação geral 3 macrociclos de seis semanas. Nesse tempo, são realizados
básica, treinamentos treinamentos de formação geral básica, treinamentos de formação
de formação geral
especial para geral especial para um esporte e treinamentos de formação
um esporte e específica. Com isso, o conteúdo básico do treinamento deve
treinamentos de
ter, no início, pelo menos uma sessão semanal de treinamento de
formação específica.
velocidade. As intensidades oscilam em níveis submáximos (90%
da intensidade máxima). As corridas de velocidade submáxima

68
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

devem funcionar como meio de treinamento para a preparação da intensidade


máxima de velocidade. Nesta fase, também inicia-se o emprego dos métodos
para o treinamento de sprint e de relaxamento. Em intensidade submáxima, o
sistema nervoso central tem sua capacidade menos forçada. Os meios principais
de treinamento são as corridas com aumento de intensidade e as corridas com
variação de velocidade (80m), com 3 a 5 repetições.

Para o treinamento básico específico, deve haver transição para duas


sessões semanais de treinamento de velocidade; uma integração ideal de duas
sessões de treinamento de velocidade no planejamento semanal; deve haver
também aumento do volume de corridas submáximas com um menor percentual
de corridas de velocidade máxima. O objetivo do treinamento da velocidade
máxima está na recuperação da amplitude e da freqüência da passada, aliada a
uma boa técnica de corrida. Os meios principais de treinamento são as corridas
com aceleração (80 – 100m), corridas com aposta de velocidade (80 – 100m),
corridas lançadas (20 – 30m) e corridas velozes a partir da posição ereta (80m).

Conforme o autor, podemos tomar como exemplo de uma sessão de


treinamento:
2 corridas de aceleração (até intensidade submáxima); 1
corrida de aceleração (até intensidade máxima); 3 x 30m de
saídas submáximas (a partir da posição ereta); 2 x 60m de
saídas submáximas (a partir da posição ereta); 2 x 3 x 30m
de corridas submáximas lançadas (2 destas corridas até a
intensidade máxima) (WEINECK, 2003, p. 447).

Para o programa específico, deve haver acentuado desenvolvimento da


velocidade máxima; um aumento progressivo e acentuado da intensidade; um
grande número de corridas submáximas; e corridas submáximas como preparação
para um treinamento de intensidade máxima. Como meios de treinamento, são
usadas corridas de aceleração (até a intensidade máxima); corridas rítmicas
(com saídas a partir da posição ereta ou baixa); corridas lançadas; e corridas de
revezamento com intensidade máxima.

De acordo com o autor, pode ser um exemplo de sessão de treinamento:

1 corrida de aceleração (até intensidade submáxima); 2


corridas de aceleração (até intensidade máxima); 1x 30m
de saída submáxima (a partir da posição ereta); 1 x 30m de
saída máxima (a partir da posição ereta); 1 x 60m de saída
submáxima (a partir da posição ereta); 1 x 60m de saída
máxima (a partir da posição ereta); 4 x 30m de corridas
lançadas (em intensidade máxima); 1 x 80m de saída (a partir
da posição ereta) (WEINECK, 2003, p. 448).

Para a primeira temporada de competições é recomendado uma


representação do nível de desempenho atingido nas competições. Uma

69
Teoria do Treinamento Desportivo

determinação da carga ideal para a competição e para o treinamento. Uma


sessão semanal de treinamento de velocidade em associação ao treinamento de
aceleração e resistência de velocidade, e ainda intensidades de treinamento entre
95 a 98%, sem exigir intensidades empregadas em competições. Como meios
de treinamento, são utilizadas corridas rítmicas com saídas a partir das posições
ereta e baixa; corridas lançadas e corridas de revezamento.

Para o autor, pode ser exemplo de sessão de treinamento:

1 corrida submáxima de aceleração; 2 corridas máximas de


aceleração; 1 x 30m de saída submáxima (a partir da posição
ereta); 2 x 30m de saída máxima (a partir da posição ereta);
2 x 60m de saída submáxima (a partir da posição ereta); 2 x
80m de saída (a partir da posição ereta) (98%); 2 x 120m de
saída (a partir da posição ereta) (90-95%). (WEINECK, 2003,
p.448).

e) Sugestões metodológicas para o treinamento de velocidade

Aqui também nos basearemos em Weineck (2003) para otimizar os


treinamentos de velocidade. Para isso, o treinamento de velocidade deve ser
iniciado bem cedo, ainda na primeira idade escolar, devido às condições dos
processos neuromusculares e à estrutura das fibras musculares, que podem ser
bem trabalhadas nessa fase. A formação do desempenho ao longo do ano ou de
diversos anos é requisito para um futuro treinamento mais complexo de velocidade.
O treinamento de velocidade deve ser realizado com grande motivação, sendo
sempre realizado no início das sessões, quando o atleta ainda não apresenta
cansaço. A apresentação de sinais de fadiga aponta para a finalização do treino
de velocidade.

O treinamento de Para o treinamento de velocidade e força rápida, é necessário


velocidade só tem estar atento à proporção adequada entre carga e recuperação. O
eficiência quando treinamento de velocidade só tem eficiência quando realizado em
realizado em velocidade máxima ou submáxima, com ênfase na intensidade e
velocidade máxima não no volume. É imprescindível o aquecimento antes do treino de
ou submáxima,
velocidade, devido ao alto risco de lesão que pode ocorrer. Como é
com ênfase na
intensidade e não no realizado sempre em intensidades máximas, não variar a carga pode
volume. acarretar em uma estagnação do desempenho. Para cada sessão
de treinamento de velocidade, a intensidade das cargas deve variar
entre máxima, submáxima e supramáxima. O tempo é que deve determinar a
extensão do percurso, com a duração dos exercícios não ultrapassando o tempo
de 8 a 10 segundos. O atleta deve ter total domínio dos exercícios empregados
no treinamento, devido à intensidade máxima que é utilizada. Deve-se levar em
consideração outros fatores que influenciam a velocidade, como coordenação,
força e resistência, que devem ser treinados paralelamente.

70
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

O treinamento de velocidade é dividido em parte seletiva e complexa, sendo


a parte seletiva composta por programas gerais e semiespecíficos. A progressão
da dificuldade deve ser gradual, evoluindo de níveis mais fáceis até os mais
complexos. O treinamento deve ser realizado durante todo o ano, pois pausas
longas prejudicam os componentes da velocidade.

Exemplo de método para desenvolver a velocidade de


movimentos no basquetebol:

Na fase básica do período preparatório, pode ser através de


métodos intervalados. Na fase específica do período preparatório,
pode ser através de circuito. No período de competição, pode ser
através de circuito também.

Atividades de Estudos:

1) Qual a diferença entre a velocidade geral e a específica?


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2) Faça um resumo dos métodos para desenvolver a velocidade.


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Teoria do Treinamento Desportivo

Flexibilidade
Começamos falando sobre a flexibilidade com a definição de Weineck
Weineck (2003, p. (2003, p. 470): “flexibilidade é a capacidade e a característica de
470): “flexibilidade um atleta de executar movimentos de grande amplitude, ou sob
é a capacidade e a forças externas, ou ainda que requeiram a movimentação de muitas
característica de um articulações”.
atleta de executar
movimentos de
A flexibilidade pode ser diferenciada em flexibilidade geral
grande amplitude,
ou sob forças e específica, ativa e passiva, e ainda em estática. A flexibilidade
externas, ou ainda geral é aquela em que há grande extensão dos principais sistemas
que requeiram a articulares, como os ombros, quadris e coluna vertebral. A
movimentação de flexibilidade específica tem referência em determinadas articulações,
muitas articulações”. como, por exemplo, um atleta de corrida com barreiras deve ter boa
flexibilidade nos quadris. A flexibilidade ativa é a maior amplitude
de movimento que se consegue dar a uma articulação com a contração dos
agonistas e relaxamento dos antagonistas. A flexibilidade passiva é a maior
amplitude articular conseguida com auxílio de forças externas. A flexibilidade
estática é a manutenção de um alongamento por determinado período de tempo.
A flexibilidade passiva é sempre maior que a flexibilidade ativa.

Alguns fatores podem afetar a flexibilidade. A forma, o tipo e a estrutura


de uma articulação podem interferir no desempenho. Os ligamentos e tendões
também têm parte nesse processo, pois quanto mais elásticos, mais alta é a
amplitude de movimento.

Os músculos adjacentes a uma articulação ou os próximos também


influenciam na flexibilidade. A capacidade que uma fibra muscular tem de
se alongar é aumentada com os treinamentos, porém se torna limitada com o
excesso de treinamento para os músculos antagonistas.

Idade e sexo também influenciam na flexibilidade. As mulheres têm níveis de


flexibilidade maior que os homens. E a flexibilidade máxima se dá por volta dos 15
aos 16 anos de idade.

A temperatura corporal e a temperatura do músculo também interferem na


flexibilidade. Por isso, o correto é realizar primeiro um aquecimento, para um
posterior alongamento.

O horário do dia também aumenta os níveis de amplitude muscular. Por


volta das 10 e 11 horas da manhã é que pode se chegar a um nível maior de
flexibilidade.

72
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

A força, por ser um componente importante na flexibilidade, deve ser


considerada, tendo em vista que a falta de força inibe a amplitude de vários
movimentos.

a) Métodos para desenvolver a flexibilidade

Pode-se considerar como métodos para o desenvolvimento da Pode-se


flexibilidade o método ativo, dividido em estático e balístico, o método considerar como
passivo e o método combinado. métodos para o
desenvolvimento
O método ativo é aquele em que o atleta atinge a maior da flexibilidade
o método ativo,
amplitude de uma articulação através da ativação muscular. Baseia-
dividido em
se no alongamento dos músculos agonistas com o relaxamento dos estático e balístico,
músculos antagonistas. Para o método estático, o atleta flexiona dois o método passivo
segmentos de um membro ao nível máximo, mantendo por entre 6 e o método
a 12 segundos. Por sua vez, o método balístico propõe que o atleta combinado.
realize torções de um segmento de membro que é móvel, contra outro
que está parado.

O método passivo se utiliza de treinamento com pesos ou com a ajuda


de outra pessoa. Com o auxílio de um parceiro, o atleta segura ou pressiona o
membro em direção ao ponto máximo de flexibilidade, sem que o sujeito tenha
envolvimento.

O método combinado ou facilitação proprioceptiva neuromuscular (FNP)


requer que o atleta execute uma flexão de membro até o limite da articulação,
executando em seguida uma contração isométrica contra a resistência de um
parceiro.

b) Metodologia para o desenvolvimento da flexibilidade

Podemos elencar dois tipos de flexibilidade, a geral e a específica. A


flexibilidade geral é aquela em que o atleta tem bons níveis de amplitude articular,
independentemente das especificidades de cada esporte. Por outro lado, a
flexibilidade específica tem implicações nos desportos ou nas articulações mais
utilizadas pelos atletas.

De acordo com Weineck (2003), o aumento da flexibilidade requer um


treinamento de várias semanas, de forma gradual. Pode ser executado no início
do período de competições, mas o ideal é que seja trabalhado durante o ano
todo, com exercícios diários. Conforme relatado antes, exercícios de alongamento
necessitam de exercícios preliminares de aquecimento, pelo menos 5 minutos. A

73
Teoria do Treinamento Desportivo

intensidade dos alongamentos deve ser aumentada a cada exercício. Deve haver
um alongamento alternado dos músculos relevantes de cada atividade. A posição
para o alongamento deve ser mantida por pelo menos 10 segundos. A respiração,
durante o alongamento, deve ser profunda, aumentando seus efeitos. Quando
possível, executar o alongamento também após as sessões de treinamento,
favorecendo a recuperação dos músculos, acarretando em um relaxamento.

Ainda segundo o mesmo autor, a instrução da flexibilidade deve ser diária,


sem sofrer longas interrupções. Como é orientado, o alongamento após um
aquecimento, de forma contrária, é indicado após fadiga muscular. As pausas
devem ser utilizadas para exercícios de relaxamento. O limite máximo das
amplitudes articulares deve ser atingido várias vezes e ser gradualmente
aumentado. A flexibilidade atingida através de exercícios ativos tem maior duração
do que exercícios passivos.

Exemplo de método para desenvolver a flexibilidade no voleibol:

Na fase básica do período preparatório, pode ser usado o


método 3S, assim como na fase específica do período preparatório
e no período de competição. No período de transição, podem ser
usados métodos passivos.

Atividades de Estudos:

1) Qual a diferença entre flexibilidade geral e específica?


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2) Diferencie flexibilidade ativa, passiva e estática.


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Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

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Resistência
A resistência pode ser definida como a capacidade que o indivíduo tem
de manter um trabalho com determinada intensidade durante determinado
tempo. A resistência é dependente de diversos fatores, entre eles a velocidade,
a força muscular, as habilidades que os atletas desenvolvem para executar
os movimentos com a máxima eficiência, a capacidade de utilizar de forma
econômica os potenciais fisiológicos, além do estado psicológico em que executa
as atividades.

A resistência pode ser classificada quanto à participação da musculatura, em


geral e localizada; quanto à modalidade esportiva, em geral e específica; quanto
à mobilização energética, em aeróbica e anaeróbica; quanto à duração, em
curta, média e longa; e quanto aos requisitos motores, em resistência de força,
resistência de força rápida, resistência de velocidade.

A resistência muscular geral é aquela em que são envolvidos a maior parte de


grupos musculares. Com um bom nível de resistência geral, o atleta tem sucesso
em diversas atividades. É expressa em função do consumo máximo de oxigênio.

A resistência muscular localizada é determinada pela força específica, uma


vez que requere menos agrupamentos musculares. A resistência localizada não
tem influências sobre a resistência geral.

A respeito da modalidade esportiva, a resistência geral é aquela que não


depende de modalidade esportiva. Por sua vez, a resistência específica se refere
à resistência manifestada em função de uma determinada modalidade esportiva.

Sob o ponto da mobilização energética, a resistência aeróbica apresenta


oxigênio suficiente para a queima das substâncias energéticas. A resistência
anaeróbica, que ocorre sob estímulos de alta intensidade e fornecimento
insuficiente de oxigênio, passa a buscar oxigênio através de mecanismos
anaeróbicos.

75
Teoria do Treinamento Desportivo

A resistência, quanto à duração, pode ser curta, tendo como referência


desportos que possuem como característica a duração entre 45 segundos e 2
minutos. Nessas condições, os processos anaeróbicos têm participação intensa
no suprimento da energia. O débito de oxigênio é alto, sendo 80% para uma
corrida de 400 metros e de 60 a 80% para corridas de 800 metros. Mesmo com
alto débito de oxigênio, os atletas precisam desenvolver uma alta capacidade
aeróbica.
A resistência de média duração é específica para desportos com duração
de 2 a 6 minutos. Tem uma fase crescente de mobilização energética por via
aeróbica. Para uma corrida de 3000 metros, por exemplo, o sistema anaeróbico
supre apenas 20% da energia de que um atleta precisa.

A resistência de longa duração é específica para esportes


A resistência
que duram mais de 8 minutos, e utiliza exclusivamente o sistema
de velocidade é
representada pela aeróbico, que envolve o cardiovascular e respiratório. A frequência
resistência dos cardíaca é alta, com volume de sangue bombeado pelo coração
atletas à fadiga, entre 30 e 40 litros e com os pulmões ventilando de 120 a 140 litros
em intensidades de ar por minuto.
máximas. A maior
parte das atividades
A resistência de velocidade é representada pela resistência
é feita em apnéia,
requerendo aos dos atletas à fadiga, em intensidades máximas. A maior parte das
atletas velocidade atividades é feita em apnéia, requerendo aos atletas velocidade
máxima e força máxima e força máxima.
máxima.

a) Resistência muscular localizada

Trataremos sobre a resistência muscular localizada (RML) por ser uma das
mais conhecidas. Para a resistência muscular localizada, o sistema cardiovascular
não tem papel importante para o aumento da capacidade de desempenho
esportivo. Ela pode ser dividida em aeróbica e anaeróbica, sob o aspecto de
energia. Pode ser dividida pelo tipo de trabalho da musculatura, em resistência
muscular localizada aeróbica dinâmica e aeróbica estática, além de resistência
muscular localizada anaeróbica dinâmica e anaeróbica estática.

Para maiores informações sobre os tipos de resistência muscular


localizada, consultar:

WEINECK, Jurgen. Biologia do esporte. 7. Ed. Barueri: Manole,
2005.

76
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

b) Fatores que afetam a resistência

Assim como as outras capacidades físicas, a resistência também tem fatores


que afetam seu desempenho. Um deles está relacionado ao sistema nervoso
central. O sistema se adapta às especificidades do treinamento, resultando no
aumento da capacidade de trabalho. A fadiga ocorre ao nível do sistema nervoso
central, que quando tem suas capacidades diminuídas, leva a um aumento da
fadiga. O atleta deve aumentar a resistência do sistema nervoso central, sendo
facilitado pelo treinador ao selecionar meios adequados de treinamento.

A força de vontade atlética é requerida principalmente quando A força de vontade


o atleta tem de desempenhar um trabalho em estado de fadiga ou atlética é requerida
quando o nível de fadiga é aumentado em razão de uma atividade principalmente
quando o
prolongada.
atleta tem de
desempenhar
Em relação à capacidade aeróbica, o seu potencial, ou um trabalho em
a capacidade que o corpo tem de produzir energia, tem papel estado de fadiga
fundamental na capacidade de resistência do atleta. A respiração é ou quando o
de suma importância para o treinamento de resistência. Ela deve ser nível de fadiga
é aumentado
realizada de forma profunda e rítmica. O atleta que possui uma alta
em razão de
capacidade aeróbica tem uma boa capacidade anaeróbica. uma atividade
prolongada.
Em se tratando de capacidade anaeróbica, a energia produzida
para desportos que necessitam de esforço máximo ou submáximo é através do
sistema anaeróbico. Para ampliar a capacidade anaeróbica, o melhor método é o
treinamento específico, porém o treinamento anaeróbico deve ser alternado com
o treinamento aeróbico.

A reserva de velocidade é a diferença entre o tempo mais rápido alcançado


numa distância mais curta do que a distância da corrida, por exemplo, 100 metros,
e a mesma distância curta durante uma corrida mais longa, ou seja, 800 metros.
Para efeitos de validade, o teste deve ser realizado durante o mesmo tempo.

c) Metodologia de desenvolvimento da resistência

De acordo com Bompa (2002, p.363), “para melhorar a resistência, os atletas


devem aprender a superar a fadiga, o que deve ser feito na adaptação à demanda
de treinamento.” O autor explicita também “que qualquer grau de adaptação é
refletido na melhoria da resistência” (2002, p. 363).

Devem ser desenvolvidos nos atletas dois tipos de resistência, a aeróbica e

77
Teoria do Treinamento Desportivo

Devem ser a anaeróbica, primeiramente levando em conta as necessidades de


desenvolvidos nos cada atleta. A intensidade está ligada aos sistemas de suprimento de
atletas dois tipos
energia e pode ser classificadas em subcrítica, crítica e supracrítica.
de resistência,
a aeróbica e
a anaeróbica, A intensidade subcrítica está relacionada à velocidade reduzida,
primeiramente com um gasto de energia mais baixo e uma demanda de oxigênio
levando em conta as abaixo da potência aeróbica do atleta. A demanda fisiológica é
necessidades de suprida pelo oxigênio, levando o atleta a desempenhar o trabalho
cada atleta.
dentro de uma condição estável.

A intensidade A intensidade crítica é alcançada quando a velocidade aumenta


crítica é alcançada e a demanda de oxigênio alcança a capacidade de suprimento. A
quando a velocidade intensidade crítica é desempenhada pelo atleta no limite da zona
aumenta e a anaeróbica, resultando numa velocidade diretamente proporcional
demanda de oxigênio ao potencial respiratório.
alcança a capacidade
de suprimento. A
intensidade crítica A intensidade supracrítica envolve as atividades que são mais
é desempenhada rápidas, levando o atleta a desempenhar a atividade sob a demanda
pelo atleta no limite de oxigênio, resultando em um aumento mais rápido de desempenho.
da zona anaeróbica,
resultando numa
velocidade
d) Resistência aeróbica
diretamente
proporcional ao
potencial respiratório. É a resistência que depende principalmente da capacidade dos
sistemas cardiovascular, respiratório e metabólico. Depende também
da qualidade da coordenação do movimento, otimizando cada um deles, evitando
o desgaste desnecessário das reservas energéticas.

A resistência aeróbica é dividida em curta, média e de longa duração. De


acordo com Weineck (2005, p. 218),

essa divisão temporal dos diferentes tipos de resistência, sob


o aspecto da biologia do esporte, diferencia-se da teoria do
treinamento. Na teoria do treinamento ocorre uma divisão em
resistência de velocidade (até cerca de 45 s), resistência de
curta duração (cerca de 45 s a 2 min), resistência de média
duração (cerca de 2 a 10 min), resistência de longa duração I
(cerca de 10 a 30 min), resistência de longa duração II (cerca
de 30 a 90 min) e resistência de longa duração III (mais de 90
min).

Ao voltarmos para a biologia do esporte, a resistência aeróbica de curta


duração tem como característica a duração do exercício de 2 até 10 minutos e
o máximo consumo de oxigênio absoluto é alcançado. Essa resistência depende
decisivamente da capacidade de consumo máximo de oxigênio, assim como da
capacidade de manter esse consumo num alto nível pelo maior tempo possível.
78
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

Ao voltarmos
A resistência aeróbica de média duração tem como característica para a biologia
a duração do exercício variando entre 10 e 30 minutos, utilizando como do esporte,
substrato energético quase que exclusivo a glicose. a resistência
aeróbica de curta
A resistência aeróbica de longa duração tem como característica duração tem como
característica
exercícios acima dos 30 minutos, e tem como fatores limitantes o
a duração do
consumo máximo de oxigênio, sua utilização durante determinado exercício de 2
período e a altura do limiar anaeróbico. até 10 minutos
e o máximo
e) Parâmetros de treinamento para resistência aeróbica consumo de
oxigênio absoluto
é alcançado.
Conforme Bompa (2002), alguns parâmetros têm relevante
significado para o desenvolvimento da resistência aeróbica. A
intensidade do treinamento deve ter níveis 70% abaixo da velocidade máxima. Os
estímulos do treinamento que não elevam a frequência cardíaca acima dos 130
batimentos por minuto não aumentam a capacidade aeróbica.

Um estímulo isolado, ou seja, uma repetição, deve ter uma duração de


magnitudes diferentes. Por vezes, pode ser de 60 a 90 segundos para melhorar a
resistência anaeróbica, importante para o início de uma corrida.

Calcular os intervalos de descanso, para que um estímulo seguinte ocorra


em sintonia ao que o trabalho anterior provocou. Sendo assim, algo em torno
de 45 a 90 segundos. Para a resistência aeróbica, o repouso não deve exceder
de 3 a 4 minutos, recomeçando com uma frequência cardíaca abaixo dos 120
batimentos por minuto.

A atividade que possa vir a ser realizada durante o intervalo deve A atividade que
ser de baixa intensidade, com o objetivo de estimular a recuperação possa vir a ser
biológica. realizada durante
o intervalo deve
ser de baixa
Deve-se determinar o número de repetições através da intensidade,
capacidade fisiológica do atleta para o consumo estável de oxigênio. com o objetivo
Se essa estabilidade não ocorrer de forma suficientemente alta, o de estimular a
sistema anaeróbico se torna incapaz de satisfazer as demandas de recuperação
energia. biológica.

79
Teoria do Treinamento Desportivo

f) Resistência anaeróbica

É a resistência baseada na ausência de oxigênio, para esportes que


exigem esforço máximo e submáximo. A energia que é abastecida pelo sistema
anaeróbico tem relação direta com a intensidade do desempenho. Por exemplo,
em “um atleta que participa de uma corrida de 400 metros com uma velocidade de
7,41 metros por segundo, a ergogênese (produção de energia) é 14% aeróbica e
86% anaeróbica” (BOMPA, 2002, p. 362). Dessa forma, o uso dos dois sistemas
de energia depende da distância da corrida e do nível de desempenho do atleta.

g) Parâmetros de treinamento para resistência anaeróbica

Conforme Bompa (2002), a resistência anaeróbica tem um papel importante


para muitos desportos, sendo desenvolvida por exercícios cíclicos e executados
com alta intensidade. Por isso, devem ser levados em conta alguns parâmetros.

É interessante observar a intensidade, por ter uma variação entre níveis


submáximos à máximos. Sendo assim, para uma melhor resistência anaeróbica,
devem prevalecer intensidades por volta de 90 a 95% do máximo.

A duração do trabalho pode variar entre 5 e 120 segundos, levando em conta


o tipo de intensidade empregada ao atleta.

O intervalo de descanso após uma atividade de alta intensidade deve ser


longo, o necessário para suprir o débito de oxigênio. Pode variar entre 2 e 10
minutos, uma vez que o intervalo é em função da intensidade e da duração do
trabalho.

Para um intervalo com atividades, elas devem ser leves e relaxantes. Evita-
se o descanso total, ou seja, deitar.

O número de repetições deve ser de baixo a médio, pois o trabalho que se


realiza é intenso.

h) Métodos para desenvolver a resistência

Um dos Um dos métodos para o desenvolvimento da resistência é o


métodos para o estável. Ele é caracterizado por um alto volume de trabalho sem
desenvolvimento nenhum tipo de interrupção. Pode ser utilizado em todas as fases
da resistência é o do treinamento, sendo mais dominante na fase preparatória. É
estável. recomendado para desportos que requerem resistência aeróbica,

80
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

principalmente para desportos cíclicos, com duração de 60 segundos ou mais. A


duração de uma sessão de treinamento pode ser entre 1 a 2,5 horas. Pode variar
com um aumento progressivo da velocidade de moderada a média. Dessa forma,
o atleta percorre um primeiro trecho da distância em uma velocidade moderada,
aumentando para intermediária e, por último, para média velocidade. De acordo
com Bompa (2002, p. 367), “esse é um método eficaz de desenvolvimento de
resistência aeróbica porque a elevação progressiva desafia o atleta tanto física
quanto psicologicamente”.

O método alternativo tem uma grande eficácia para o desenvolvimento da


resistência. Em uma mesma sessão, o atleta muda a intensidade de desempenho
em uma distância pré-determinada. A intensidade pode ser determinada por
fatores externos, fatores internos e fatores planejados. Em estímulos de alta
velocidade, a frequência cardíaca pode atingir os 180 batimentos por minuto,
com a fase de recuperação em torno de 140 batimentos por minuto. Para Bompa
(2002, p. 368),

esse método promove uma adaptação flexível dos


processos orgânicos, resultando em um desenvolvimento
forte de resistência geral. Esse método pode ser aplicado
em atletas envolvidos em desportos cíclicos durante
as fases pré-competitiva e competitiva, bem como em
desportos coletivos, ou ainda luta, boxe etc., durante as
fases preparatória e pré-competitiva.

O método fartlek, também conhecido como método do jogo rápido, faz com
que o atleta utilize sua própria contribuição, alternando o treinamento com porções
curtas de desempenho de intensidade mais alta. Esses momentos não são
planejados, pois são baseados no sentimento e no julgamento do atleta. Segundo
Bompa (2002, p. 369), “o uso do método fartlek é específico em sua maior parte,
mas não inteiramente, para a fase preparatória, para introduzir variedade na
monotonia do treinamento uniforme.”

O treinamento intervalado tem um nível de exaustão muito alto O treinamento


com pausas entre os esforços. A alta intensidade é permitida pelo fato intervalado tem um
de existirem as pausas, sendo essas completas ou incompletas. nível de exaustão
muito alto com
pausas entre os
Dentro do treinamento intervalado, existe o método de repetição.
esforços. A alta
Está baseado em distâncias mais curtas ou mais longas que a distância intensidade é
de corrida, desenvolvendo a resistência específica ou de corrida. permitida pelo
As repetições mais longas exigem fortes componentes aeróbicos de fato de existirem
resistência de corrida, uma vez que a velocidade do desempenho as pausas, sendo
é similar à velocidade da corrida. Por sua vez, as repetições curtas essas completas
ou incompletas.
exigem maior componente anaeróbico, pois o atleta desenvolve débito

81
Teoria do Treinamento Desportivo

de oxigênio, com intensidades maiores que a de uma corrida. De acordo com


Bompa (2002, p. 370),

um ponto importante do método de repetição é o


desenvolvimento da força de vontade por meio da
necessidade de executar muitas repetições. O volume
total de trabalho pode ser de quatro a oito vezes àquele da
distância da corrida, com um intervalo de descanso entre 5
e 10 minutos, dependendo da distância e da intensidade de
repetição.

O treinamento modelo é uma variante do treinamento de repetição, pois o


atleta realiza a repetição de várias distâncias de treinamento. Na primeira parte
do treinamento, são realizadas várias repetições, mais curtas que a distância
da corrida, executadas com intensidade próxima à velocidade da corrida. Na
metade do treinamento, são utilizadas distâncias e intensidades para melhorar
e aperfeiçoar a resistência aeróbica. A última parte do treinamento consiste em
empregar repetições de curta distância, reproduzindo a corrida, aprimorando a
aceleração final.

O treinamento de intervalo faz uso de repetição de estímulos de várias


intensidades, com intervalo de descanso previamente planejado. Durante o
descanso, o atleta não obtém uma regeneração completa. A duração do intervalo
é calculada pela frequência cardíaca. Para um treinamento mais eficiente, pode-
se combinar os três métodos de treinamento de intervalo, conforme Bompa (2002,
p. 371):

treinamento de intervalo de curta distância, entre 15 segundos


e 2 minutos, que desenvolve principalmente a resistência
anaeróbica. Treinamento de intervalo de distância média,
de 2 a 8 minutos, que pode desenvolver ambos os sistemas
de produção de energia. Treinamento de intervalo de longa
distância, de 8 a 15 minutos, com um efeito de treinamento
principal de melhoria da resistência aeróbica. Os principais
elementos de progressão são: a intensidade e a duração dos
estímulos, o número de repetições, o intervalo e a intensidade
durante o descanso.

Nesse capítulo, foi possível perceber o quão importante é o conhecimento


das principais capacidades exigidas dos atletas. Deve-se saber dosar com cautela
cada uma delas, pois treinos excessivos de força podem prejudicar a flexibilidade,
se ela não for bem trabalhada. Treinamentos de resistência anaeróbica incorretos
podem ter interferência na velocidade.

Cada professor ou preparador, então, deve saber as reais necessidades dos


atletas, sem esquecer as compensações, permitindo que o atleta se complete.

Após os estudos sobre as capacidades físicas, velocidade, força, flexibilidade e

82
Capítulo 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força,
Velocidade, Flexibilidade e Resistência

resistência, partimos para o próximo capítulo, em que abordaremos a periodização e


a utilização dessas capacidades nos treinamentos.

Exemplo de método para desenvolver a resistência no handebol:

Para desenvolver a resistência muscular localizada, na fase


básica do período preparatório, pode ser usada a musculação. Na
fase específica do período preparatório, pode ser usado o circuito,
assim como no período de competição. No período de transição,
pode ser usada a calistenia.

Para desenvolver a resistência aeróbica, na fase básica e


específica do período preparatório, pode ser usado o fartlek. No
período de competição, pode ser usada a corrida contínua e no
período de transição pode ser usado o cross promenade.

A resistência anaeróbica, na fase específica do período


preparatório e no período de competição, pode ser desenvolvida
através de circuito.

Atividade de Estudos:

1) Faça um resumo sobre a resistência.


_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Algumas Considerações
Observamos, nesse capítulo, algumas das principais qualidades físicas,
como força, velocidade, flexibilidade e resistência.

Estudamos que a força tem suas variantes, como força máxima, força
dinâmica, força rápida, além de métodos e parâmetros para o treinamento de
força.
83
Teoria do Treinamento Desportivo

Vimos também que a velocidade depende da hereditariedade, representando


um dom natural, mas que pode ser desenvolvida, além de métodos e parâmetros
para o treinamento da velocidade.

Falamos sobre a flexibilidade, importante para todos os esportes, todos


os exercícios. Abordamos também as metodologias para o treinamento da
flexibilidade.

Por últimos, discutimos a respeito da resistência e suas variantes, como a


resistência muscular localizada, resistência aeróbica e resistência anaeróbica.
Também discorremos sobre os fatores que afetam a resistência, além de métodos
e parâmetros para o treinamento da resistência.

No próximo capítulo, estudaremos a respeito da periodização e os tipos de


ciclos utilizados no treinamento.

Referências
BARBANTI, Valdir J. Dicionário de educação física e esporte. 2. ed. Barueri:
Manole, 2003.

BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do Treinamento. São


Paulo: Phorte Editora, 2002.

DANTAS, Estélio H. M. A prática da preparação física. 5. Ed. Rio de Janeiro:


Shape, 2003.

WEINECK, Jurgen. Biologia do esporte. 7. Ed. Barueri: Manole, 2005.

WEINECK, Jurgen. Treinamento ideal. 9. Ed. Barueri: Manole, 2003.

84
C APÍTULO 5

Periodização

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Apresentar a periodização para o treinamento desportivo.

33 Organizar a periodização para o treinamento desportivo.


Teoria do Treinamento Desportivo

86
Capítulo 5 Periodização

Contextualização
Planejar, programar, esquematizar um plano de treinamentos exige
conhecimentos necessários para que o atleta consiga aproveitar ao máximo suas
qualidades e enfatizar o treinamento na correção dos erros. Cada movimento,
cada exercício tem como propósito a competição que está lá na frente. E todos
nós sabemos que um treinamento mal organizado, mal estruturado, pode “jogar
fora” toda uma preparação, fazendo com que o trabalho de 1 ano seja destruído
em menos de um minuto, por exemplo, em uma eliminatória de 100 metros rasos
no atletismo (segundos nesse caso).

A seguir, apresentaremos o que a literatura traz a respeito da organização


do treinamento desportivo, com as sessões, os microciclos, mesociclos e
macrociclos, tão essenciais para o desenvolvimento do atleta.

As sessões são as unidades estruturais do processo de preparação.


Microciclos são sequências de sessões que são realizadas durante vários dias.
Mesociclos são etapas de treinamento que duram em média de três a seis
semanas. Os macrociclos são as estruturas de treinamento anual.

Neste capítulo, temos como objetivos apresentar a periodização para o


treinamento e organizar a periodização para o treinamento.

O Planejamento de Treinamento
O planejamento no treinamento desportivo é um processo
Bompa (2002,
metodológico e de caráter científico, que tem como objetivo o auxílio ao
p. 158), “o plano
atleta para que alcance o alto nível de treinamento e de desempenho. precisa ser
Um plano de treinamento bem estruturado possibilita ao atleta ter simples, sugestivo
direção, sentido e um alvo para o qual deve ser realizado. e flexível, podendo
ser modificado
O programa de treinamento deve ter como base o desempenho do conforme o nível
de progressão
atleta em testes ou competições, no progresso que apresenta em todos
e a elevação do
os fatores de treinamento, e deve considerar também o calendário das conhecimento
competições. Segundo Bompa (2002, p. 158), “o plano precisa ser metodológico por
simples, sugestivo e flexível, podendo ser modificado conforme o nível parte do atleta”.
de progressão e a elevação do conhecimento metodológico por parte
do atleta”.

Para um planejamento a longo prazo, a habilidade e o desempenho devem

87
Teoria do Treinamento Desportivo

ser melhorados de forma contínua. O nível de desenvolvimento do desempenho


deve ser considerado pelo técnico, assim como prever os níveis que podem ser
atingidos pelo atleta e ponderar o programa de treinamento na direção desses
objetivos. Os objetivos de um plano a longo prazo são baseados nos parâmetros
e nos conteúdos que estão incluídos em macrociclos e microciclos, dando
continuidade entre o presente e o futuro. Tal continuidade se reflete também
no nível de desempenho e no padrão dos testes, que devem ser planejados e
executados de forma progressiva.

No treinamento, devem ser enfatizados igualmente, ou de acordo com as


necessidades dos atletas, cada fator do treinamento e deve ser enfatizada
a importância do volume ou da intensidade. Muitas vezes, um atleta domina e
melhora uma habilidade mais rapidamente que outra. Em competições e testes,
devem ser avaliados e comparados o desenvolvimento do atleta e os níveis
alcançados com os objetivos planejados para a etapa em questão. Esse processo
permite a observação das áreas em que o atleta ainda não desenvolveu ou perdeu
capacidades.

Os objetivos de cada fase do treinamento devem ser cumpridos


periodicamente. Dessa forma, os níveis de treinamento e a capacidade
de desempenho podem ser elevados de forma gradual, assegurando uma
continuidade com qualidade ao programa de treinamento. Ao estabelecer os
objetivos para o desempenho, para os fatores de treinamento e para os testes de
cada fase de treinamento, elimina-se a abordagem aleatória, promovendo, assim,
padrão ao treino. De acordo com Bompa (2002, p. 160), “os treinadores precisam,
portanto, empregar o conceito de realização cíclica do plano de treinamento e
esforçar-se na exposição de padrões ou objetivos para o desempenho que vai
maximizar o potencial do atleta para o sucesso”.

Tipos de Plano de Treinamento


A eficiência de um A eficiência de um treinador é refletida na capacidade que
treinador é refletida tem para organizar e empregar as ferramentas adequadas ao
na capacidade que treinamento. O técnico pode utilizar como planos de treinamento a
tem para organizar sessão de treinamento, o microciclo, o mesociclo, o macrociclo ou
e empregar as plano anual de treinamento e o plano quadrienal de treinamento (4
ferramentas
anos).
adequadas ao
treinamento.
A sessão de treinamento pode ser dividida em aprendizagem,
repetição, aperfeiçoamento das habilidades e avaliação. A organização de
sessões específicas para a aprendizagem de gestos motores é de forma simples.

88
Capítulo 5 Periodização

O treinador explica os objetivos e faz com que os atletas se aqueçam. O período


seguinte é utilizado então para adquirir as habilidades. O objetivo da sessão de
treinamento é a repetição de gestos para melhora da habilidade. Sessões para
aprendizagem e repetição são mais frequentes para iniciantes. Em contrapartida,
as sessões de aperfeiçoamento técnico devem ser planejadas para atletas que já
alcançaram níveis aceitáveis de habilidade. Por fim, sessões de avaliação devem
ser realizadas periodicamente. Os atletas devem ser testados ou participar de
competições ou jogos de exibição para avaliar o nível de preparação atingido na
fase de treinamento.

As sessões de treinamento podem ser organizadas de forma que reúnam


um grupo de atletas ou um só atleta. Em sessões de treinamento em grupo
podem ser reunidos atletas que necessariamente não fazem parte de uma equipe,
pois atletas de modalidades individuais podem treinar juntos. Como principais
vantagens desse tipo de treinamento estão o desenvolvimento do espírito de
equipe e das qualidades psicológicas.

Em uma sessão de treinamento individual, os problemas físicos Em sessões


ou psicológicos podem ser resolvidos pelo treinador. Ele pode avaliar de treinamento
a carga de treinamento individualmente, ajustar habilidades conforme mistas, há uma
combinação de
as características de cada atleta e dar espaço à criatividade individual.
treinamentos
em grupo e
Em sessões de treinamento mistas, há uma combinação de individuais.
treinamentos em grupo e individuais.

As sessões livres de treinamento são mais indicadas aos atletas de nível


avançado. Este tipo de sessão aprimora o crédito e a confiança entre o treinador e
o atleta. Possibilita também uma participação mais consciente por parte do atleta
no treinamento e estimula a independência na resolução dos exercícios quando o
técnico não está presente. Como características, as sessões podem durar de 2 a
5 horas, dependendo da tarefa a ser executada, do modelo, do tipo de atividade e
do nível de preparação do atleta.

Para maiores informações sobre sessão de treinamento,


consultar:

BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do


treinamento. São Paulo: Phorte Editora, 2002.

89
Teoria do Treinamento Desportivo

Estrutura de uma Sessão de


Treinamento
A estrutura de uma sessão de treinamento pode ser dividida em três etapas,
a preparação ou aquecimento, a parte principal e a conclusão. Para atletas
iniciantes, a sessão pode ser dividida em quatro etapas. Na parte introdutória,
são explicados os objetivos da sessão de treinamento e de que forma podem ser
alcançados.

Em relação à introdução, nessa etapa deve ser anotada a presença dos


atletas, especialmente para esportes coletivos, e apresentar-lhes os objetivos. Os
objetivos a serem cumpridos devem ser apontados, quais meios e métodos serão
utilizados, além de motivar os atletas para os momentos de maior dificuldade do
treinamento. Sendo assim, na sequência, a equipe é organizada em pequenos
grupos, conforme os objetivos específicos dos atletas.

A fase de preparação compreende o aquecimento, ou seja, a preparação


fisiológica e psicológica para as fases de treinamento que estão por vir. O objetivo
do aquecimento é atingir ou se aproximar do estado de alta eficiência fisiológica
antes do treinamento e da competição. O aquecimento eleva a temperatura
corporal, estimula a atividade do sistema nervoso central, reduz o tempo de
reação motora e melhora a coordenação e o desempenho motor. Além disso, um
bom aquecimento também auxilia na prevenção de lesões. Embora pareça ser
uma atividade única, o aquecimento deve ser dividido em duas partes, a geral
e a especial. No aquecimento geral, devem ser aumentadas a capacidade de
trabalho por meio de funções orgânicas, tendo como consequência um processo
metabólico que funciona mais rapidamente.

O tempo de aquecimento deve ser de 20 a 30 minutos, com 5 a 10 minutos


finais dedicados às atividades específicas. Por sua vez, o aquecimento especial
tem como objetivo “sintonizar” (BOMPA, 2002, p. 165) o atleta e o tipo de esforço
que será realizado na parte principal da sessão. Essa sintonia não se refere
apenas a uma preparação mental ou à coordenação de exercícios, mas tem
função primordial na preparação do sistema nervoso central e na elevação da
capacidade de trabalho por parte do organismo.
Na parte principal
da sessão de Na parte principal da sessão de treinamento é que são
treinamento é que realizados de forma enfática os objetivos da sessão. É nessa fase
são realizados de que o atleta aprende novas habilidades e formas táticas, desenvolve
forma enfática os capacidades biomotoras e qualifica a parte psicológica. De acordo
objetivos da sessão.

90
Capítulo 5 Periodização

com Bompa (2002, p. 166),

o conteúdo da sessão para atletas menos avançados pode


apresentar esta sequência: 1. Execução de movimentos para
aprendizagem e aperfeiçoamento de elementos técnicos ou
táticos; 2. Desenvolvimento da velocidade ou coordenação; 3.
Desenvolvimento da força; 4. Desenvolvimento da resistência.

Exercícios que desenvolvem ou aperfeiçoam a velocidade devem


Não é
ter alta intensidade e curta duração. Como esses exercícios requisitam aconselhado
todo o potencial do atleta, é necessário realizá-los enquanto ele ainda reverter a
está descansado, por isso precedem exercícios de força e resistência. sequência,
Todos os exercícios para desenvolvimento da força são importantes pois exercícios
para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da técnica e da velocidade. baseados em altas
cargas prejudicam
Dessa forma, não é aconselhado reverter a sequência, pois exercícios
o desenvolvimento
baseados em altas cargas prejudicam o desenvolvimento da da velocidade.
velocidade. Exercícios para o desenvolvimento geral ou específico da Exercícios para o
resistência são então realizados na parte final da sessão. Como são desenvolvimento
extremamente extenuantes, após esses exercícios o atleta não tem geral ou específico
condições de adquirir novas técnicas ou desenvolver a velocidade. da resistência são
então realizados
na parte final da
Na parte conclusiva da sessão de treinamento, deve ser diminuída sessão.
progressivamente a carga de trabalho, com objetivo de atingir o
repouso. Isso deve ser levado em conta, tendo em vista que uma interrupção
abrupta do trabalho pode levar a efeitos psicológicos e fisiológicos negativos.
Também são elevados os níveis de recuperação, diminuindo de forma progressiva
os níveis de ácido lático presente no sangue. Nessa parte são utilizados de 3 a
5 minutos de exercícios leves, dependendo do tipo de desporto. E em desportos
cíclicos, podem ser executadas as habilidades do desporto em questão com baixa
intensidade.

Gomes (2002) apresenta uma combinação de cargas para sessões de


treinamento. Como modelo de sessão 1, deve haver treinamento da técnica
desportiva e treinamento da resistência aeróbica. Na sessão 2, treinamento
da força explosiva, treinamento da velocidade e treinamento da resistência
anaeróbica-lática. Na sessão 3, treinamento da flexibilidade, treinamento da força
máxima e treinamento da resistência aeróbica. Na sessão 4, treinamento da
velocidade, treinamento técnico-tático e treinamento da flexibilidade. Na sessão
5, treinamento da resistência anaeróbica-lática e treinamento da resistência
aeróbica. Na sessão 6, treinamento da força máxima e treinamento da resistência
aeróbica. Na sessão 7, treinamento técnico e treinamento da resistência da
velocidade. Na sessão 8, treinamento técnico, treinamento da flexibilidade,
treinamento da resistência. Na sessão 9, treinamento da resistência de força e
treinamento da flexibilidade. Na sessão 10, treinamento da resistência aeróbica e

91
Teoria do Treinamento Desportivo

treinamento da flexibilidade.

De acordo com Bompa (2002), uma sessão de treinamento tem duração


de 2 horas. Sendo assim, uma sessão com quatro etapas pode ser dividida em
introdução (5 minutos), preparação (30 minutos), parte principal (75 minutos),
conclusão (10 minutos), fazendo um total de 120 minutos. Já uma sessão de
treinamento com três etapas pode ser dividida em preparação (25 a 35 minutos),
parte principal (75 a 85 minutos), conclusão (10 minutos), fazendo um total de 120
minutos.

Como exemplo de plano de treinamento, apresentamos a tabela abaixo.


O formato deve ser simples e que apresente funcionalidade, justificando a
importância que o plano tem como ferramenta para o técnico. Na tabela, à
esquerda, aparece a data e o local da sessão e à direita aparecem os objetivos
e os equipamentos que serão utilizados. A segunda coluna demonstra o que o
técnico deve explicar aos atletas, de forma rápida, todos os exercícios que serão
utilizados em cada uma das partes da sessão de treinamento. A terceira coluna
demonstra a dosagem que será utilizada, a duração de cada uma das partes da
sessão, os exercícios que serão aplicados, as distâncias e o número de repetições
por exercício.

Tabela 01 – Plana de sessão de treinamento para um velocista

Sessão de treinamento

Objetivos: aperfeiçoar a largada, resis-


Data: 14 de junho
tência específica, potência. Equipa-
Local: Estádio York
mento: blocos de partida e barras.

Fonte Exercícios Carga Observações Observações

- Descrição dos objetivos da


sessão e como alcançá-los.
John: observe
I - O que os atletas devem
3 min. o trabalho dos
observar durante o treina-
braços.
mento.

92
Capítulo 5 Periodização

20 min
- Aquecimento
1200m
- Trote
8x Rita: coloque dois
-Exercícios calistênicos
8x agasalhos para
- Rotação dos braços
12x aquecer.
- Rotação do tronco

II 8-10x Ênfase na flexibili-


- Exercícios de flexibilidade
dade do quadril.
para o quadril
8-10x
- Exercícios de flexibilidade
Ênfase na perna
para o tornozelo
4x20m fraca.
- Exercícios de salto
- Aceleração
4x40m – 60m

12x30m Ênfase no trabalho


Rec I = 2min de braço.

- Largadas
8x120m Mantenha uma
¾ (14s) velocidade cons-
- Resistência específica
III tante em todas as
repetições.

- Treinamento de potência
Relaxe os braços e
60kg / 8-10 as pernas entre os
reps exercícios.

- Trote 800m
Leve e relaxante.
Trabalho com um
companheiro.
- Massagem 5min

Fonte: BOMPA (2002, p. 172).

Cada sessão de treinamento possui suas características específicas,


dependendo de cada modalidade. Cada treinador deve ter a base do que quer
exigir do atleta na sessão de treinamento, se quer exercícios específicos para
movimentos de braços, para saltos ou arremessos.

Sugestão de atividade de estudo: cada um de nós tem uma modalidade de


preferência, ou por gosto, ou por já termos praticado, ou ainda por tempo dedicado
como atleta. Por isso, elabore uma sessão de treinamento da modalidade que
preferir, não se esquecendo de apresentar os objetivos. As observações da última
coluna são opcionais, podendo ficar de fora. Não se esqueça de pesquisar

93
Teoria do Treinamento Desportivo

também na literatura específica sobre isso.

Os Ciclos de Treinamento
Após a apresentação sobre as sessões de treinamento, partimos agora
para o “conjunto da obra”. Falamos em conjunto da obra, pois várias sessões
de treinamento se reúnem em microciclo, que vários microciclos formam um
mesociclo e os mesociclos unidos compreendem um macrociclo. Sendo assim,
traremos a seguir o que se diz respeito dos microciclos e suas características,
sobre os mesociclos e suas especificidades e sobre os macrociclos ou ciclos
anuais e suas particularidades.

a) Microciclo

De acordo com Bompa (2002), “o termo microciclo tem sua


Se em uma sessão
anterior foi projetada origem nos idiomas grego e latim. Em grego, mikros significa
para exercícios pequeno e em latim cyclus refere-se à sequência de um fenômeno
de resistência ou que se sucede regularmente” (p. 176) (grifos do autor). O microciclo
com estímulos
intensos, a sessão é tido como a programação semanal. É tido como a parte mais
seguinte não deve importante e funcional do planejamento.
ter como objetivo o
aperfeiçoamento da
técnica, pois pode Dentro do microciclo, uma sessão de treinamento é projetada
não haver período para o desenvolvimento de elementos técnicos. Se em uma
suficiente para a
recuperação do sessão anterior foi projetada para exercícios de resistência ou com
atleta. estímulos intensos, a sessão seguinte não deve ter como objetivo o
aperfeiçoamento da técnica, pois pode não haver período suficiente
para a recuperação do atleta. Para Bompa (2002, p. 176 apud Ozolin, 1971),

a sequência ótima é aprender e aperfeiçoar a técnica com


média intensidade; aperfeiçoar a técnica em intensidades
submáxima e máxima; desenvolver a velocidade de curta
duração (acima do limite); desenvolver a resistência
anaeróbica; elevar a força utilizando uma carga de 90 a
100% de seu máximo; desenvolver a resistência muscular
utilizando cargas médias e baixas; desenvolver a resistência
muscular com intensidade alta e máxima; desenvolver a
resistência cardiorrespiratória com intensidade máxima;
desenvolver a resistência cardiorrespiratória com
intensidade moderada.

Em relação à estrutura do microciclo, um atleta frequentemente tem


necessidade de repetir as sessões de treinamento com um mesmo objetivo e
conteúdo para obter um melhor efeito de treinamento. A repetição é válida para

94
Capítulo 5 Periodização

o aprendizado de um elemento ou desenvolvimento de capacidade motora.


O trabalho máximo não deve ser feito mais que duas vezes por semana com
a recuperação ativa ou treino de baixa intensidade uma vez por semana. Os
dias de recuperação ativa devem ser realizados após um treinamento que exija
intensidade máxima do atleta.

O microciclo deve ser constituído de forma que cada sessão de


treinamento contenha exercícios específicos para o desenvolvimento
de velocidade, da força rápida, técnica e coordenação, visando o
desempenho ideal. (WEINECK, 2003, p. 64 apud HARRE, 1976).

Sobre os fatores envolvidos na construção de um microciclo, Bompa (2002,


p. 178) dá algumas orientações que devem ser levadas em conta, como: “fixe
os objetivos do microciclo, especialmente em relação aos fatores dominantes
do treinamento; especifique as demandas do treinamento (número de sessões,
volume, intensidade e complexidade); fixe o nível de intensidade para o microciclo
– quantas cargas máximas e a alternância com cargas menos intensas; decida
o caráter do treinamento em relação aos métodos e meios a serem utilizados;
indique os dias de treinamento e de competição, se for o caso; inicie um microciclo
com sessões de treinamento de baixa e média intensidade e progrida aumentando
a intensidade; antes de uma competição importante, utilize um microciclo com
apenas um pico de carga, o que deve ser feito de 3 a 5 dias antes da competição”.
Para Granell e Cervera (2003), como exemplo da organização de um
microciclo, no primeiro dia é trabalhada a velocidade e a força com carga elevada.
No segundo dia, apenas a velocidade é trabalhada, mas com carga média. No
terceiro dia, a ênfase é na resistência e na velocidade com cargas submáximas.
No quarto dia, há uma recuperação passiva ou ativa, com carga muito baixa. No
quinto dia, é a vez da velocidade de resistência, com carga submáxima. O sexto
dia é reservado para a velocidade novamente, com exercícios realizados em
cargas máximas. No sétimo dia, há um trabalho em resistência geral, com carga
baixa.

Para maiores informações sobre microciclos, consultar:

ZAKHAROV, Andrei Anatolocitch; GOMES, Antonio Carlos.


Ciência do treinamento desportivo. 2. ed. Rio de Janeiro:
Palestra Sport, 2003.

95
Teoria do Treinamento Desportivo

A classificação dos microciclos pode variar de acordo com a dinâmica


utilizada. Depende do período de treinamento e da prioridade dos fatores do
treinamento, sendo o microciclo estruturado de acordo com o número de sessões
semanais de treinamento.

A tabela 02 representa um microciclo com 8 unidades de treinamento,


maximizando a utilização do tempo livre do atleta aos finais de semana. Os
períodos marcados com a letra T representam os dias de treinamento e a linha em
diagonal representa os períodos de recuperação.

Tabela 02 – Microciclo com 8 sessões de treinamento

Seg. Ter. Qua. Qui. Sex. Sab. Dom.


Manhã T T
Tarde T T T T T T

Fonte: BOMPA (2002, p. 179).

A tabela 03 representa uma estrutura de 3+1, indicando que um atleta treine


seguidamente 3 períodos, com um 4° período sendo utilizado para recuperação
em 2 dias. Esse modelo serve para atletas que estão em concentração ou que
participam de alguma clínica, alterando a estrutura de acordo com o tempo
disponível e o potencial de treinamento que apresentam.

Tabela 03 – Microciclo com uma estrutura 3+1

Seg. Ter. Qua. Qui. Sex. Sab. Dom.

Manhã T T T T T T

Tarde T T T

Fonte: BOMPA (2002, p. 179).

A tabela 04 representa um microciclo mais elaborado, com uma estrutura


levemente alterada, representando uma combinação 5+1, sendo 5 unidades de
treinamento com meio período de recuperação.

Tabela 04 – Microciclo com estrutura 5+1

Seg. Ter. Qua. Qui. Sex. Sab. Dom.


Manhã T T T T T T
Tarde T T T T

Fonte: BOMPA (2002, p. 179).

96
Capítulo 5 Periodização

A tabela 05 representa uma estrutura de 5+1+1, com 5 unidades de


treinamento seguidas de meio período de recuperação e, após, meio período de
trabalho.

Tabela 05 – Microciclo 5+1+1

Seg. Ter. Qua. Qui. Sex. Sab. Dom.

Manhã T T T T T T T
Tarde T T T T

Fonte: BOMPA (2002, p. 179).

A estrutura de um microciclo é baseada nos objetivos gerais e na fase de


treinamento em que o atleta se encontra. Sendo assim, de acordo com Bompa
(2002, p. 184), os microciclos podem ser classificados da seguinte forma:

Microciclo de desenvolvimento: específico do período


preparatório de treinamento. O objetivo é incrementar
as habilidades e desenvolver capacidades biomotoras
específicas. Tais ciclos podem ter dois ou três picos. Utilize
tanto cargas progressivas quanto cargas horizontais,
dependendo da classificação do atleta. Microciclo de choque:
apresenta elevações repentinas das exigências de treinamento
acima daquelas comumente utilizadas. Microciclo típico do
período preparatório, pode ter três ou quatro picos com altas
cargas. Objetiva quebrar o limite de adaptação alcançado na
fase prévia, levando o atleta a alcançar um limite superior
de homeostase. Um microciclo sobrecarrega o organismo do
atleta psicológica e fisiologicamente e não se deve planejar
este tipo de microciclo imediatamente antes de competições
ou testes. Portanto, já que o microciclo de choque resulta em
um alto nível de fadiga, é aconselhável utilizar um microciclo
de recuperação. Microciclo de recuperação: tem como
objetivo remover a fadiga do corpo e da mente, restaurando
a energia. Um treinamento aeróbico de baixa intensidade
é o mais adequado para esse caso. Uma atmosfera alegre
relaxa a mente e prepara para os ciclos de treinamento de
maior exigência que vêm a seguir. Organize microciclos
de regeneração após séries de competições importantes
ou após microciclos de choque. Esses ciclos restauram o
potencial do atleta e previnem contra o supertreinamento.
Microciclos de competição e de descarga: manipulam o
volume e a intensidade de treinamento para facilitar um melhor
desempenho nas competições principais. Este microciclo
diminui visivelmente a sobrecarga do treinamento e facilita a
supercompensação antes da competição, ajustando o corpo e
a mente para um bom desempenho.

De acordo com Dantas (2003, p. 79), a distribuição dos microciclos pelas


fases e períodos pode ocorrer da seguinte forma:

97
Teoria do Treinamento Desportivo

Periodização Tipo de Microciclo


Preparatório Geral: Incorporação
Ordinário
Fase Básica
Choque
Recuperação
Preparatório Específico: Ordinário
Fase Específica Choque
Recuperação
Pré-competitivo
Choque
Período de Competição Competitivo
Recuperação
Recuperação
Período de Transição
Ordinário

Microciclo de Microciclo ordinário é aquele que tem como objetivo provocar


incorporação é adaptações orgânicas desejáveis. É caracterizado pela aplicação de
aquele que tem como cargas moderadas.
objetivo possibilitar a
passagem de forma
gradual do atleta Microciclo de incorporação é aquele que tem como objetivo
de uma situação
de transição para possibilitar a passagem de forma gradual do atleta de uma situação
uma realidade de de transição para uma realidade de treino. Tem como característica a
treino. Tem como utilização de estímulos não muito fortes.
característica
a utilização de
estímulos não muito Microciclo pré-competitivo tem como objetivo fazer a transferência
fortes. do que foi obtido com o treinamento para as necessidades da
competição. Objetiva também adaptar e ambientar o atleta às provas
que serão enfrentadas na competição.

Tabela 06 - Planejamento do período competitivo na modalidade basquetebol

Objetivos: - desempenho de 67 metros


- aperfeiçoar o ritmo das últimas 3 passa-
Microciclo das de velocidade
-desenvolver a capacidade de concentra-
ção para as competições matinais
-manutenção da potência de membros
inferiores e superiores

Período Seg. Ter. Qua. Qui. Sex. Sáb.

98
Capítulo 5 Periodização

Compe-
Aquecimento Competição Competição
tição
Aquecimento Aquecimento
10:00 – Idem a
-Sprints
11:00 terça feira
-6 lançamentos
20, 30, 40m/6
Aquecimento Competição
Competição
Aquecimento
Aquecimento

Sprints 15 lança-
6 lançam. 4/4
30m/3 mentos com
(15 lançam. ¾
aproximação
com corrida de Jogo de
média
aprox. curta). basque-
15 min. Andar tebol
7 min de aqueci- 2x15
Técnica nas e lançar em di-
17:00- mento específico Jogo de Idem a min.
últimas 3 ferentes alvos
19:30 passadas basque- segunda na grama
30 minutos de tebol feira
treinamento de 2x15 min.
30 lançamen- Exercícios
força
tos com a bola especiais de
de baseball relaxamento
5 min. Exercícios
de flexibilidade
15 lançamen-
tos com o
medicine ball
10 min. 1x1
jogos
2x30m saltos

Fonte: BOMPA (2002, p. 185).

Por falta de espaço, omitimos o domingo. Mas deve ser levado em


consideração que nesse caso o domingo é o período de descanso, em dois
períodos

Como em muitos casos a realidade é a escola, para treinamentos de crianças


em idade escolar deve-se levar em conta algumas considerações:

Um treinamento para crianças nesta faixa etária deve


sempre considerar o calendário escolar. A inclusão de
competições no ciclo anual de treinamento confere-lhe uma
finalidade, da qual muitas vezes ele parece desprovido. A
inclusão de competições permite avaliar a eficácia de um
treinamento, bem como de seus métodos e programas
adotados, possibilitando um melhor direcionamento do
mesmo. O treinamento dividido em curtos períodos garante

99
Teoria do Treinamento Desportivo

as fases de recuperação e regeneração, que são tão


necessárias ao organismo infantil (WEINECK, 2003, p. 66
apud BLEY, 1977).

Atividade de Estudos:

1) Como deve ser a estrutura de um microciclo?


_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

O mesociclo pode b) Mesociclo


ser compreendido
como um elemento O mesociclo pode ser compreendido como um elemento da
da estrutura de
estrutura de preparação do atleta e inclui uma série de microciclos
preparação do atleta
e inclui uma série de visando à solução das tarefas do macrociclo de preparação.
microciclos visando à
solução das tarefas De acordo com Zakharov e Gomes (2003), existem alguns
do macrociclo de indícios que permitem classificar os mesociclos. Sendo assim, pode-
preparação. se destacar

a principal tarefa resolvida pelo mesociclo no sistema de


preparação; o lugar do mesociclo referido na estrutura do
macrociclo de preparação; a composição dos meios de treino
aplicados no mesociclo; os tipos de microciclos que compõem
o conteúdo predominante do mesociclo estabelecido; a
grandeza sumária das cargas e sua dinâmica no mesociclo (p.
255).

Baseando-se nesses indícios, podemos destacar alguns tipos de mesociclo,


como incorporação, básico, desenvolvimento, estabilizador, recuperativo, controle,
pré-competitivo e competitivo.

O mesociclo de O mesociclo de incorporação é tido como o ciclo que começa o


incorporação é tido período preparatório do macrociclo de preparação. O objetivo desse
como o ciclo que mesociclo é assegurar a passagem paulatina do organismo do atleta
começa o período do estado reduzido da atividade de treino para nível competitivo em
preparatório do
altos parâmetros, com níveis próximos dos máximos de cargas de
macrociclo de
preparação. treino nos mesociclos posteriores. O mesociclo de incorporação
tem como conteúdos de 2 a 3 microciclos de recuperação de apoio

100
Capítulo 5 Periodização

ou estabilizadores e, na parte final, um microciclo de recuperação. Tem como


característica uma intensidade relativamente baixa, com aumento gradual do
volume geral de exercícios.

O mesociclo básico apresenta uma divisão, baseando-se nos aspectos da


preparação do atleta. Sendo assim, pode ser dividido em preparatório geral e
preparatório especial, e em relação às cargas divide-se em desenvolvimento e
estabilizador. O mesociclo de desenvolvimento é a forma principal de organização
do treinamento, visando a uma obtenção do efeito acumulativo, formando a base
da elevação do nível de treino do atleta. Tem como característica a grandeza
considerável de cargas próximas da máxima.

O mesociclo estabilizador tem como objetivo uma consolidação das


mudanças obtidas anteriormente, asseguradas pela redução ou estabilização dos
níveis alcançados antes.

O mesociclo recuperativo é aplicado no período transitório de preparação,


quando, após um longo período de cargas máximas de treino e de competição,
a recuperação tem papel fundamental. Permite prevenir a transformação da
fase de resistência na fase de esgotamento profundo. Tem como característica
a redução do volume e da intensidade das cargas, a níveis entre 20 a 30% em
relação ao mesociclo de desenvolvimento. É nesse período que se encaixam as
recuperações ativas, os tratamentos fisioterápicos, visando eliminar supostos
traumatismos, e ainda análises médicas para verificar o estado de saúde do atleta.

Para maiores informações sobre mesociclos, consultar:

BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do


treinamento. São Paulo: Phorte Editora, 2002.

O mesociclo de controle é o que termina o período preparatório. Tem como


objetivo controlar a eficiência dos mesociclos básicos e a adaptação do atleta às
exigências dos mesociclos competitivos posteriores. O trabalho no treinamento
é combinado com a participação em competições, desempenhando função
preparatória e de controle. É importante para se descobrir falhas na preparação
do atleta.

O mesociclo pré-competitivo assegura a preparação imediata para a


competição principal do macrociclo. Conforme Zakharov e Gomes (2003, p. 258),
é neste mesociclo que se resolve um conjunto de tarefas, como
101
Teoria do Treinamento Desportivo

O mesociclo pré- a recuperação após a etapa precedente de competições


competitivo assegura seletivas, a manutenção e a provável elevação do nível de
a preparação preparo conseguido, a eliminação de pequenos defeitos
imediata para a da preparação, a solução do estado psíquico do atleta, a
adaptação às condições de realização das competições
competição principal
principais.
do macrociclo.

O mesociclo competitivo representa a base do período competitivo


de preparação do atleta. O conteúdo e a estrutura são determinados pela
especificidade da modalidade, pelas particularidades do calendário, pelo
sistema de preparação e pelo nível da qualificação do atleta. A duração
do período competitivo pode ser de até 6 ou 8 meses, principalmente em
esportes coletivos. Sendo assim, podem ser destacados de 4 a 6 mesociclos
competitivos.

Granell e Cervera (2003) apresentam nomenclaturas um pouco diferentes das


apresentadas anteriormente. O mesociclo inicial tem como objetivo a regeneração
e a formação geral, e como conteúdos, essencialmente, os meios de treinamento
geral, com intensidade média e volume de carga baixo.

O mesociclo de base tem como objetivo a melhora de nível funcional,


fatores de rendimento, acentuação no desenvolvimento de certas capacidades
e aprendizagem. Como conteúdos, podem ser destacados meios
O mesociclo de
de treinamento orientados e carga ótima nos planos qualitativo e
desenvolvimento
tem como objetivo a quantitativo.
transformação dos
níveis de rendimento O mesociclo de desenvolvimento tem como objetivo a
para um nível transformação dos níveis de rendimento para um nível superior.
superior. Como conteúdos, são enfatizados os meios de treinamento
específicos e a acentuação dos meios de recuperação.

Os mesociclos

O mesociclo de controle objetiva a verificação do nível atingido,


utilizando como conteúdos competições secundárias e testes.

O mesociclo de aperfeiçoamento almeja a melhora dos pontos


fracos, a correção e a estabilização do nível de capacidade de novos
fatores. Como conteúdos, destacam-se os meios de treinamento
específicos e especiais, com carga ótima.

O mesociclo de competição tem como alvo a construção da

102
Capítulo 5 Periodização

forma desportiva e o aperfeiçoamento dos componentes competitivos,


através de cargas de treinamento competitivas, competições em
intensidades elevadas e medidas de regeneração e recuperação.

O mesociclo intermediário tipo A tem como fim o trabalho


dos fatores de base e a correção dos pontos fracos após o ciclo de
competição. Os conteúdos são exercícios especiais que permitam
elevar o nível dos fatores de rendimento de caráter competitivo, com
volume importante, porém pouco intenso.

O mesociclo intermediário tipo B tem como finalidade a


regeneração e a estabilização da capacidade de rendimento quanto
o período de competição é prolongado. O conteúdo utilizado é a
utilização dos exercícios gerais, a diminuição da carga de trabalho e
a utilização dos meios regenerativos.

O mesociclo pré-competitivo tem como objetivo o


desenvolvimento ótimo da forma e do conjunto de fatores
determinantes do rendimento e de sua estabilização e ainda a
preparação do objetivo principal. Como conteúdos, são destacados
a sequência lógica dos conteúdos depois dos ciclos anteriores e a
carga elevada em relação ao objetivo principal.

O mesociclo de transição tem como objetivo a recuperação


física e mental depois do ciclo de competições e a fase de transição
até um novo ciclo de desenvolvimento. Como conteúdos, pode-
se relacionar o descanso ativo inespecífico, a manutenção física,
volume baixo e a intensidade muito reduzida.

Atividade de Estudos:

1) Quais as principais características do mesociclo?


_____________________________________________________
_____________________________________________________

c) Macrociclo

De acordo com Bompa (2002, p. 197), “a palavra macro é derivada do grego


103
Teoria do Treinamento Desportivo

makros, significa algo com um grande tamanho”.

A duração de um macrociclo pode ser de 4 a 6 semanas no


A duração de um
período preparatório. Como critérios, são utilizados os diferentes
macrociclo pode ser
de 4 a 6 semanas no tipos e objetivos de treinamento para essa etapa. O macrociclo deve
período preparatório. ser considerado como o período necessário para desenvolver ou
aperfeiçoar um elemento técnico ou tático. Geralmente é mais curto
em períodos de competição, com duração de 2 a 4 semanas. Os macrociclos
longos são apenas indicados para treinamentos que desenvolvem a capacidade
aeróbica.
No período
preparatório, os
No período preparatório, os treinamentos têm como objetivo
treinamentos têm
como objetivo induzir induzir o organismo à adaptação. Para isso, os mais apropriados são
o organismo à os macrociclos de desenvolvimento e de choque. Para macrociclos
adaptação. de desenvolvimento, o treinamento semanal é de acordo com a
aplicação de cargas progressivas. Os macrociclos de choque, ou de
cargas máximas, devem ser trabalhados duas ou três vezes durante
o período preparatório, com o objetivo de elevar a adaptação dos
atletas.

Para melhor visualizar uma planilha anual de treinamento,


verificar em Granell e Cervera (2003, p. 56).

Para maiores informações sobre macrociclos, consultar:

ZAKHAROV, Andrei Anatolocitch; GOMES, Antonio Carlos.


Ciência do treinamento desportivo. 2. ed. Rio de Janeiro:
Palestra Sport, 2003.

Em macrociclos para o período de competição, é o calendário dos eventos


que dita a dinâmica para os períodos pré-competitivo e competitivo. Em se
tratando de competição, há também o macrociclo de polimento, que tem como
objetivo treinar especificamente para determinado evento, reproduzindo as
condições que serão encontradas. Também, como objetivo, pode-se remover
a fadiga e facilitar a supercompensação através do decréscimo das cargas de
treinamento. O macrociclo de polimento não deve durar mais que duas semanas.
104
Capítulo 5 Periodização

A obtenção do Peak
Quando o treinamento começou a atingir os limites da capacidade do atleta,
percebeu-se que era possível avançar um pouco mais na preparação, chegar um
pouco mais além no nível do atleta. Esse nível se manteria por algum
tempo, sofrendo depois uma queda, a fim de evitar o sobretreinamento. Número de peaks
que um atleta
Nesse sentido, surge o conceito de peak, que, de acordo com Dantas pode obter durante
(2003, p. 91), “é o ápice da forma física, técnica, tática e psicológica um ano (de 1 a
atingido por um atleta como resultado de um programa de treinamento”. 4), e também a
duração de cada
um, depende de
O número de peaks que um atleta pode obter durante um ano (de alguns fatores,
como o desporto
1 a 4), e também a duração de cada um, depende de alguns fatores, considerado e
como o desporto considerado e qualidades físicas intervenientes, a qualidades físicas
experiência desportiva (lastro fisiológico), a duração da fase básica do intervenientes,
a experiência
período preparatório, a idade e a individualidade biológica (DANTAS, desportiva (lastro
2003). fisiológico), a
duração da fase
básica do período
Para a obtenção do peak, alguns instrumentos estão ao alcance preparatório,
do treinador. Com isso, podemos destacar a correta aplicação do a idade e a
individualidade
princípio oscilatório da carga, que permite o máximo aproveitamento biológica
da supercompensação e a variação da hegemonia do volume ou da (DANTAS, 2003).
intensidade do treinamento.

Atividade de Estudos:

1) Baseado nas informações do capítulo, mais a pesquisa nas


referências acima listadas e em outras referências, elabore um
microciclo de choque para o futebol, com objetivo de resistência
especial e velocidade:
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Algumas Considerações
Ao lado do planejamento anual, o microciclo é a mais importante ferramenta
para o planejamento do treinamento. A técnica utilizada para alternar as
intensidades de treinamento durante o microciclo é a ciência. Na maioria dos
casos, ela é baseada no tempo necessário para restaurar o combustível que supre
105
Teoria do Treinamento Desportivo

os sistemas energéticos durante o treinamento. Quanto melhor for trabalhada a


alternância de cargas durante o microciclo, mais fácil será para o atleta tolerar
fadiga e evitar o supertreinamento. Igualmente importante é alternar os microciclos
de choque, pois a recompensa será a aquisição de altos níveis de fadiga.

Deve-se lembrar também de que o principal objetivo do


Deve-se lembrar
também de que o treinamento é adaptar o corpo e a mente aos estímulos do treinamento,
principal objetivo desejando dobrar as reações do organismo durante a competição.
do treinamento é Com o propósito de aumentar a eficiência do treinamento, os ciclos
adaptar o corpo e a
mente aos estímulos de desenvolvimento e choque devem ser constantemente repetidos.
do treinamento, Outro fator importante é a responsabilidade que o treinador tem em
desejando dobrar
as reações do optar por esse ou aquele microciclo, por uma ou outra atividade. O
organismo durante a que é em demasia pode levar o atleta a lesões ou a nem alcançar o
competição. nível ideal. E, ao contrário, também, o que é deixado de lado será o
motivo do fracasso na competição, que é o alvo principal. Por isso,
cada exercício deve ser pensado naquele que foi executado anteriormente e
naquele que virá depois, promovendo sempre a evolução.

Na busca pela qualidade do treinamento, deve ser considerada a intensidade.


A alternância semanal da carga auxiliará o treinador a planejar os dias em que o
atleta atingirá a supercompensação, que é assunto para nosso próximo capítulo.

Referências
BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São
Paulo: Phorte Editora, 2002

DANTAS, Estélio H. M. A prática da preparação física. 5. Ed. Rio de Janeiro:


Manole, 2003.

GOMES, Antonio Carlos. Treinamento desportivo: estruturação e periodização.


Porto Alegre: Artmed, 2002.

GRANELL, José Campos; CERVERA, Vítor Ramón. Teoria e planejamento do


treinamento desportivo. Porto Alegre: Artmed, 2003.

WEINECK, Jurgen. Biologia do esporte. 7. Ed. Barueri: Manole, 2005.

WEINECK, Jurgen. Treinamento ideal. 9. Ed. Barueri: Manole, 2003.

ZAKHAROV, Andrei Anatolocitch; GOMES, Antonio Carlos. Ciência do


treinamento desportivo. 2. ed. Rio de Janeiro: Palestra Sport, 2003.

106
C APÍTULO 6

Ciclo de Supercompensação

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33 Apontar as características do ciclo de supercompensação.

33 Analisar o ciclo de supercompensação presente no Treinamento Desportivo.


Teoria do Treinamento Desportivo

108
Capítulo 6 Ciclo de Supercompensação

Contextualização
Neste capítulo, temos como objetivo apontar as características do ciclo
de supercompensação e analisar o ciclo de supercompensação presente no
Treinamento Desportivo.

Aliado com o que vimos anteriormente, o ciclo de supercompensação


também possui papel fundamental na organização do Treinamento Desportivo.
Se bem organizado, trará bons frutos aos atletas. Deve-se levar em conta as
características do ciclo, evitando que se transforme em um período de desgaste.
A seguir, apresentaremos suas características e como pode ser estruturado, além
do ciclo de supercompensação de cunho psicológico.

As Características da
Supercompensação
Caro pós-graduando, para iniciarmos os nossos estudos neste último
capítulo, precisamos primeiro conceituar a supercompensação.

Designar as adaptações estruturais, funcionais, ou ambas,


que ocorrem em virtude de se submeter o corpo a um estímulo de
treinamento. Todo gasto energético para realização de um movimento
traz em si um estímulo para a reconstituição de energia, que se faz
acima da condição anterior. A quantidade ou condição reconstituída
acima da condição anterior é a supercompensação, caracterizando
as substâncias vivas de um notável poder de adaptação a esforços
físicos (BARBANTI, 2003, p. 560).

O processo de adaptação condicionado pelo desenvolvimento consequente


do treinamento ocorre em fases: a fase de sobrecarga e a fase de recuperação.
Há uma diferença entre a fase de sobrecarga e a fase de recuperação,
Supercompen-
sendo que essa última compreende uma fase de supercompensação. sação significa
recuperação acima
Sobre essa diferença, a sobrecarga vem logo após um decréscimo do nível usual
transitório do desempenho esportivo, ou seja, a queda do potencial (WEINECK, 2003,
energético, e finalmente uma recuperação do nível de partida, ou seja, p. 32).

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Teoria do Treinamento Desportivo

a fase de recuperação. Essa recuperação é seguida por um estado de elevada


capacidade de desempenho denominado supercompensação. Supercompensação
significa recuperação acima do nível usual (WEINECK, 2003, p. 32).

Conforme podemos ver na figura 10 (WEINECK, 2003, p. 32), o número


1 representa a fase de retrocesso da capacidade esportiva. O número
2 representa a fase de aumento da capacidade esportiva. E o número 3
representa a fase de supercompensação, ou seja, de elevada capacidade
esportiva.

WEINECK, Jurgen. Treinamento ideal. 9. Ed. Barueri: Manole, 2003.

Figura 10 – Fases das alterações da capacidade de


desempenho após uma dada estimulação
Nível de
desempenho
esportivo

3
1 2

Tempo

Estimulação

Fonte: WEINECK (2003, p. 32).

Exemplo: ao oferecermos um estímulo forte, submetemos as


estruturas a algum tipo de estresse, estamos dando efeito catalizador,
ou seja, retirando reservas de energia local, diminuindo níveis de
força, estressando as estruturas temporariamente. Quando esse
estímulo é dado de forma correta e é oferecido ao corpo condições
de recuperação, ocorrerá o fenômeno da supercompensação, que é
justamente a devolução de tudo que foi perdido temporariamente, só
que em níveis um pouco mais altos do que antes.

110
Capítulo 6 Ciclo de Supercompensação

Para Weineck (2003), deve-se ter atenção com o uso do termo


supercompensação. Atualmente, o termo é utilizado em diversos contextos, que
muitas vezes não representam o aumento do potencial energético sob a forma
de aumento das reservas intracelulares de glicogênio no músculo e fígado. Na
prática esportiva, o termo também significa aprimoramento neuromuscular, ou
seja, um aprimoramento na coordenação nervosa dos processos de velocidade e
flexibilidade.

O termo supercompensação somente deve ser utilizado em se


tratando de alterações condicionadas por treinamento, alterações
estas relacionadas ao metabolismo energético, sobretudo com o
nível de fosfato e de glicogênio (WEINECK, 2003, p. 32).

A partir do término dos estímulos, o nível inicial começa a ser atingido. Com
a aplicação de novos estímulos, então há o aumento progressivo do desempenho
esportivo.
A supercompensa-
Para Bompa (2002), a supercompensação tem referência com ção tem referência
com uma relação
uma relação entre trabalho e recuperação, como fundamento biológico
entre trabalho
para a excitação física e psicológica, antes de uma competição. e recuperação,
como fundamento
Quando o indivíduo realiza um treinamento, vários estímulos biológico para a
alteram seu estado biológico normal, através de uma maior depleção excitação física e
de energia. Isso resulta em consequências, como a fadiga e a alta psicológica, antes
de uma compe-
concentração de ácido lático no sangue e nas células. Uma queda
tição.
repentina da homeostase revela uma rápida elevação da fadiga,
levando a uma redução simultânea da capacidade funcional do organismo. O
organismo então repõe as fontes de energia durante a fase de restauração que
ocorre após o treinamento e entre as unidades de treinamento. Durante a fase de
restauração, é necessário repor e equilibrar o que foi gasto durante o treinamento.

O retorno ao estado biológico normal é lento e progressivo, significando que


a regeneração é um processo vagaroso, requerendo várias horas. Conforme
Bompa (2002, p. 16), “toda vez que ocorre uma supercompensação, o atleta
estabelece um novo e elevado nível de homeostase, com benefícios positivos
para o treinamento e para o desempenho”.

111
Teoria do Treinamento Desportivo

INTERESSANTE: conforme Nuno Cobra (2005, p. 147),


fisiologicamente, o movimento provoca algo que é chamado de
“estrago” por especialistas. Por que estrago? Sempre que alguém faz
uma caminhada, por exemplo, tem um gasto de energia e provoca
uma agressão ao organismo. Esse “estrago” causa, pela lei da ação
e reação, uma resposta orgânica. Imagine que o organismo esteja
lá, tranquilo, no seu processo natural de equilíbrio, vem o esforço e
o desequilibra. O corpo, na busca do equilíbrio perdido, funciona a
todo vapor, estabelecendo uma série de adaptações que provocam
uma sequência de transformações orgânicas, denominadas
supercompensação. A pessoa vai então ao nível em que estava
inicialmente, mas com um pequeno progresso. Fazendo novamente
o exercício, tem-se outro estrago para provocar a supercompensação
e ter mais avanço. O que vai acontecer? Lá na frente, depois de
vários “estragos” e da supercompensação, a pessoa alcançará um
nível superior de condição física. Mas, se a palavra para definir o
desgaste físico é estrago, é porque realmente ocorre uma violência
contra o organismo. Só que é justamente o estrago que força a
reação orgânica para a transformação física, propiciando à pessoa
atingir um nível superior ao que estava antes.

O ciclo de supercompensação é então compreendido por uma primeira fase,


que após a aplicação de exercícios no treinamento, o organismo experimenta a
fadiga. A segunda fase representa o período de recuperação, no qual as reservas
bioquímicas não são apenas repostas, mas excedem os níveis normais. Dessa
forma, o organismo compensa a depleção totalmente, quando ocorre a fase
de supercompensação, que seria a terceira fase, quando o atleta é exposto a
uma alta adaptação do organismo. A quarta fase ocorre quando um atleta não é
submetido a um estímulo durante a fase de supercompensação, levando a uma
regressão, perdendo os benefícios obtidos durante a fase de supercompensação.

O autor afirma que:

as variações na supercompensação dependem do tipo e da


intensidade do treinamento, como a supercompensação,
que pode ocorrer cerca de 6 a 8 horas após uma unidade
de treinamento da resistência aeróbia. Porém, atividades
intensas, que impõe uma alta demanda ao SNC, podem exigir
mais que 24 horas e, às vezes, de 36 a 48 horas para que
ocorra a supercompensação. (BOMPA, 2006, p. 17).

112
Capítulo 6 Ciclo de Supercompensação

Na fase de supercompensação, o técnico tem papel fundamental,


Na fase de super-
pois precisa desafiar constantemente o atleta a elevar seu limite de compensação, o
adaptação, resultando em um aumento do desempenho. Em termos técnico tem papel
práticos, o treinador precisa planejar estímulos de alta intensidade de fundamental, pois
forma alternada, para que os dias com treinamento de alta intensidade precisa desafiar
tenham alternância com dias de baixa intensidade. Dessa forma, o constantemente o
atleta a elevar seu
atleta terá sua recuperação melhorada, levando ao desejado estado
limite de adapta-
de supercompensação. ção, resultando em
um aumento do
Resumindo: a supercompensação é um processo de quatro fases. desempenho.
A primeira fase consiste na aplicação de carga e na consequente
reação do organismo à mesma. Nesse período, pode ser constatada uma
diminuição da performance. A segunda fase é a de recuperação, em que devem
ocorrer treinos de baixa intensidade. O resultado é a recuperação das capacidades
funcionais pelo organismo e o alcance do nível de homeostasia. A terceira fase é
a supercompensação, não sendo apenas uma resposta fisiológica, mas também
uma resposta de nível psicológico e técnico. Se o atleta não for submetido a outro
estímulo, ocorre a última fase, que é a perda dos benefícios obtidos durante a
fase de supercompensação.

Bompa (2002) fala em supercompensação psicológica. Para ele, a


supercompensação fisiológica tem impacto fundamental no estado psicológico
do atleta. Ela tem início antes da supercompensação fisiológica, nos primeiros
dias de treinamento para a competição. O ciclo é dividido em fases, cada
qual com seu objetivo bem definido. Na fase geral, tem como objetivo avaliar
a capacidade mental e aprender as capacidades mentais básicas. Na fase
preparatória específica, tem como objetivo adaptar e praticar as capacidades
mentais nas situações específicas do esporte, e manter a capacidade
mental básica. Na fase pré-competitiva, os objetivos são desenvolver Em relação à
e praticar o plano principal, utilizar o plano principal em simulações e estimulação
manter a capacidade mental básica. Na fase competitiva, tem como pré-competitiva,
o atleta deve ser
objetivos avaliar e aperfeiçoar o plano principal, utilizar a capacidade
submetido a uma
mental para preparar oponentes específicos e competições e utilizar estratégia mental
a capacidade mental para o gerenciamento do estresse. Na fase de com o objetivo
descarregamento, o objetivo é utilizar a capacidade mental para uma de auxiliar a lidar
melhor regeneração e para a diminuição do estresse. Por fim, na com o estresse
fase de transição, o objetivo é manter a aptidão e prevenir o cansaço associado à
competição, aos
durante o período de recreação.
adversários e aos
torcedores. Tal
Em relação à estimulação pré-competitiva, o atleta deve ser estimulação pode
submetido a uma estratégia mental com o objetivo de auxiliar a lidar ser iniciada entre 2
com o estresse associado à competição, aos adversários e aos a 3 semanas antes
torcedores. Tal estimulação pode ser iniciada entre 2 a 3 semanas da competição.

113
Teoria do Treinamento Desportivo

antes da competição.

Quando da motivação pré-competitiva, deve ser organizada durante as horas


que antecedem a competição. O treinador substitui pensamentos negativos por
pensamentos positivos e usa palavras de apoio, elevando, assim, a autoconfiança.

A motivação durante a competição é baseada na comunicação direta que


o treinador possui com o atleta, principalmente em desportos coletivos e de
combate. O treinador encoraja o atleta ao usar palavras de apoio, buscando um
esforço a mais do esportista.

A fadiga pós-competição é o estresse que é causado após o evento,


resultando em uma fadiga física e psicológica. A fadiga psicológica é causada
pela concentração máxima que o atleta emprega, com o objetivo de alcançar o
objetivo traçado.

Quando os atletas removem essa fadiga, liberando o estresse e repondo os


estoques de energia, é quando ocorre a supercompensação psicológica e mental.

Tanto fisiologicamente quanto psicologicamente, deve-se tomar cuidado com


a supercompensação. Em níveis elevados, com intensidades altas, pode-se levar
o atleta à lesão pelo esforço, ou a um aumento do estresse pela intensa motivação
pré-competitiva, como a cobrança excessiva durante a competição.

O atleta precisa ter as doses certas de cada estímulo, pois precisará estar em
condições de suportar a fase em que se encontra e as fases seguintes. Portanto,
em qualquer etapa do treinamento, o treinador deve ter conhecimento daquilo que
está fazendo e dos possíveis resultados e consequências.

Atividades de Estudos:

1) Diferencie a fase de sobrecarga e a fase de recuperação.


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Capítulo 6 Ciclo de Supercompensação

2) O que é a supercompensação psicológica e quais as suas fases?


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Algumas Considerações
A supercompensação, apesar do pouco material existente, tem papel
fundamental na preparação do atleta, assim como qualquer outro componente.
Serve tanto para alcançar o melhor nível do atleta, como para corrigir possíveis
deficiências.

Para finalizar nosso caderno de estudos, percebemos o quão importante


é a preparação do treinador para construir com eficiência e responsabilidade,
promovendo os corretos exercícios, ciclos, recuperações e características para
cada atleta ou equipe.

Vimos também que a organização do Treinamento Desportivo possui objetivos


bem definidos. Apresentamos também conceitos inerentes ao treinamento
essenciais para o treinador. E ainda, através da evolução, percebemos o quanto
se modificou desde os inícios das competições, lá na Antiguidade Grega, até os
dias atuais.

Dispomos também as habilidades e os desportos, classificados de acordo


com suas especificidades. Isso é necessário para que tanto treinador como atleta
saibam em que categoria de movimentos seu esporte se encontra e em que grupo
de desporto está inserido.

Após, apresentamos como são dispostos os métodos e modelos do


treinamento desportivo, como são constituídos e suas características. Depois
apresentamos o treinamento para força, velocidade, flexibilidade e resistência,

115
Teoria do Treinamento Desportivo

com características de cada uma dessas qualidades e de que forma podem ser
treinadas.

Nos capítulos anteriors, trouxemos a organização do treinamento, com as


sessões, microciclos, mesociclos, macrociclos, e como cada um desses pode
ser utilizado, com as respectivas cargas e metodologias. E por último, o ciclo de
supercompensação, mostrando como deve ser utilizado, aproveitando ao máximo
as capacidades do atleta.

Referências
BARBANTI, Valdir J. Dicionário de educação física e esporte. 2. ed. Barueri:
Manole, 2003.

BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do Treinamento. São


Paulo: Phorte Editora, 2002.

COBRA, Nuno. A semente da vitória. 77. ed. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2005.

WEINECK, Jurgen. Treinamento ideal. 9. Ed. Barueri: Manole, 2003.

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