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Resumo
Muitas são as discussões a respeito do papel da escola na educação e do papel do professor
no processo de aprendizagem das crianças e adolescentes, porém, é preciso ver a escola e o
professor para além de somente transmitir conhecimentos aos alunos. É necessário olhar além do
que os olhos podem ver, pois muito mais do que ensinar conteúdos, é preciso ensinar os alunos a
pensarem sobre o mundo, a sociedade na qual estão inseridos e o mundo das diferenças para dar
subsídios aos alunos para enfrentarem as adversidades da vida, sem esquecer da empatia e da
ética. Os pensadores Henri Wallon e Paulo Freire têm estudos acerca deste tema e mostram como a
afetividade está ligada à aprendizagem. Este trabalho de conclusão do curso de licenciatura em
Letras é uma pesquisa com metodologia bibliográfica das teorias de Wallon e Freire, que buscará
analisar as teorias sobre afetividade desses dois autores. Suas teses buscam embasar a afirmação
de que a afetividade influencia a aprendizagem, ou seja, a boa relação professor-aluno melhora a
aprendizagem de maneira significativa, melhora até mesmo situações comportamentais dos alunos.
O objetivo maior é o de pensar como se constrói laços de afetividade e como esses laços interferem
no processo de ensino-aprendizagem, norteando assim a relação entre professor/aluno, discutindo a
postura do professor.
Palavras-chave: Afetividade; Aluno; Aprendizagem; Relação; Educação; Professor.
Abstract
There are many discussions about the role of the school in education and the role of the
teacher in the learning process of children and adolescents, but it is necessary to see the school and
the teacher and only transmit knowledge to the students. It is necessary to look beyond what the eyes
can see, because much more than teaching content, it is necessary to teach students to think about
the world, the society in which they are inserted and the world of differences to provide students with
support when facing adversity. of life, without forgetting empathy and ethics. Thinkers Henri Wallon
and Paulo Freire have studies on this topic and show how affectivity is linked to learning. This TCC of
Letras course is a research with bibliographical methodology of the theories of Wallon and Freire that
will try to analyze the theories about the affection of these two authors. Their theses will support the
statement that affectivity influences learning, that is, the good teacher-student relationship improves
meaningful learning, even improves student behavioral situations. The main objective is the research
of how bonds of affection are built. These bonds interfere in the teaching-learning process, thus
guiding the relationship between teacher- student, discussing the teacher's attitude.
Key words: Affectivity; Student; Learning; Relationship; Education; Teacher.
1
Artigo produzido como requisito para obtenção do grau de Licenciada em Letras - Português e
Inglês.
2
Acadêmica do Curso de Letras da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul - UNIJUÍ
3
Orientadora, Professora Dra da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul.
Minha segurança como professor
não repousa na falsa suposição de que sei tudo,
de que sou o “maior” e acima dos alunos.
Paulo Freire, 1996.
Introdução
Pensando a partir das ideias de Wallon, Salla ( 2011) afirma que toda pessoa,
assim como uma criança aprendendo a andar, é influenciada tanto por elementos
externos quanto por elementos internos, ou seja, o modo como o outro a vê e trata
influencia na sua aprendizagem. O crescimento é maior quando há cuidado e isso
se manifesta na relação do professor com seu aluno, pois como já afirmado, a
criança aprende melhor quando há cuidado, seja isso em casa com os pais ou na
escola com os professores.
O autor foi o primeiro a levar em consideração não somente o corpo da
criança e do adolescente, mas suas emoções ao longo da vida escolar. Wallon
(1995) explica que essa relação de ensino com cuidado influencia muito na
qualidade da aprendizagem, por esse motivo usa o exemplo da criança que aprende
a andar. O autor defende ainda que o processo de evolução depende tanto da
capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente, que o afeta de alguma forma.
Wallon (1995) estabelece, também, uma distinção entre emoção e
afetividade. Segundo o autor, as emoções são manifestações de estados subjetivos,
mas com componentes orgânicos. Toda alteração emocional provoca flutuações de
tônus muscular. Ou seja, as emoções influenciam diretamente tudo o que acontece
na vida de um indivíduo e, portanto, influenciaram na aprendizagem na sala de aula.
É necessário levar em consideração todo o aspecto emocional do aluno, pois,
muitas vezes, o mesmo tem dificuldades para aprender porque tem problemas
emocionais fortes e complicados. O professor não deve ser um psicólogo, mas deve
considerar tudo isso. Ter consciência disso é fundamental.
A afetividade, para o desenvolvimento humano, o que inclui o período de
escolarização, envolve acreditar que a criança é capaz de se tornar uma pessoa
mais autônoma nas resoluções de problemas em sua vida e ser socialmente
participativa ao interagir em sociedade. Uma convivência baseada no respeito, uma
relação afetiva positiva entre professor e aluno, assim como entre qualquer
indivíduo, colabora no processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno,
segundo os estágios de desenvolvimento que Wallon conceitua. A importância da
afetividade no desenvolvimento humano e do aluno, segundo Wallon (1995), baseia-
se na afirmação de que o ser humano, desde o seu nascimento, é envolvido pela
afetividade e que o afeto desempenha um papel importantíssimo no
desenvolvimento de boas relações sociais.
O movimento é a base do pensamento e das emoções que dão origem à
afetividade, sendo ela fundamental na construção do sujeito também na escola.
Afinal, a maior parte do tempo de desenvolvimento de um ser humano acontece no
âmbito escolar, desde a pré-escola até o ensino médio, que pode continuar na
faculdade e depois para o resto da vida. O afeto, nesse contexto, é visto como uma
atitude pessoal e profissional que o professor deve tomar, sem esquecer-se do seu
compromisso de ensinar é claro, demonstrando respeito ao sujeito aluno e ao
mesmo tempo respeitando o seu fazer docente. O clima emocional, a forma como o
professor se direciona em variadas atividades é determinada pela relação e o clima
que estabelece e, a partir daí constrói o seu campo afetivo. Então, se o aluno tiver
medo, irá se empenhar menos, a partir desse campo afetivo que ele desenvolve em
seu contexto pessoal e desta forma se compõe a inteligência da pessoa a forma que
ela vai abordar o mundo e se relacionar. Com exemplifica Dantas (1994), em seu
livro Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon, o medo, a
angústia, a ansiedade e a frustração, são sentimentos que desgastam o aluno, e a
serenidade e a tranquilidade dos professores auxiliam na redução desses
sentimentos desagregadores.
Em seus textos específicos sobre educação, Henri Wallon considera comuns
as situações de conflito entre professor e aluno no cotidiano escolar, demonstrando
que as complexidades existem e são essenciais para a mobilização e crescimento
do indivíduo. Situações de conflito são comuns em sala de aula, como já citado na
introdução deste artigo, e situação comportamental dos alunos, principalmente dos
adolescentes, está sempre em pauta nas reuniões escolares, pois o mau
comportamento afeta muito a aprendizagem e atrapalha a aula. Em vista disso,
pode-se dizer que ter afeto para com os adolescentes é fundamental.
A fase das emoções fortes é marcante a partir da pré-adolescência, mas
atinge seu ápice com a crise da puberdade, que opera a passagem da infância à
adolescência. Nas palavras de Wallon (1975 p. 319), “Sentem-se mudar e ficam
como que desorientados”. Esta mudança, esta desorientação em relação a eles
mesmos, sentem-na ainda mais em relação ao meio que os rodeia”. Como falar
sobre adolescentes sem considerar toda a questão emocional, nesta etapa pessoal
e escolar, fenômenos muito gerais da vida afetiva tornam-se intensos e podem ser
muito dolorosos. Segundo Wallon trata-se de ambivalência de atitudes ou dos
sentimentos.
Nesta fase, os alunos estão estabelecendo relações com os colegas e essas
relações estão ligadas a desejos comuns de conquistas e eles querem se unir a
outros jovens que pensam e sentem como eles. Por isso, criam-se muitos grupinhos
em sala de aula, e professores que lecionam ou já lecionaram em turmas de Ensino
Médio sabem como os adolescentes estão com suas emoções à flor da pele e como
isso influencia o convívio em sala de aula. Muitas vezes, por estarem desenvolvendo
sua personalidade, em virtude da puberdade, não aceitam ser contrariados pelos
professores e isso normalmente gera conflitos, como já citado anteriormente. Esse
clima emotivo precisa ser levado em consideração e o mediador afetivo consegue
balancear isso muito melhor do que o professor rude e arrogante. Os professores
devem enfrentar seus alunos com amor, ou seja, se for feito de forma rude atrapalga
a aprendizagem.
Na puberdade e adolescência, o recurso principal de aprendizagem do ponto
de vista da afetividade é a oposição, que possibilita a identificação de novas ideias,
sentimentos e valores próprios, assim como a busca de responder: Quem sou eu?
Quais são meus valores? O que vou ser quando crescer? Essas dúvidas são
permeadas por muitas ambiguidades. A afetividade permite que, no processo
ensino-aprendizagem, haja a escuta das expressões pessoais dos alunos,
discutindo suas ideias e diferenças e que a opinião de todos seja levada em conta, a
fim de criar uma relação sólida em sala de aula. Nessa fase da adolescência, o
aluno começa a compreender que é um ser único e complexo, o papel do professor
é entender isso e auxiliá-los. Wallon explica um pouco sobre essa fase da
adolescência ao afirmar que:
Este período de ambivalência existe no adolescente. Faz com que exista
nele uma necessidade de conquista, de renovação, de aventura, uma
necessidade de renunciar a si mesmo, de se libertar pela ação, pelo inédito,
pelo imprevisto, de liquidar o que, aliás, o paralisa. (Wallon, 1975, p.215).
Ninguém pode conhecer por mim, assim como não posso conhecer pelo
aluno. O que posso e o que devo fazer, na perspectiva progressista em que
me acho, são, ao ensinar-lhe certo conteúdo, desafiá-lo a que se vá
percebendo na e pela própria prática, sujeito capaz de saber (FREIRE,
1996 p. 121)
Considerações finais
O professor não deve ser psicólogo ou conselheiro tutelar, mas deve ser
afetivo e isso pode mudar a vida difícil que um aluno possa ter fora da escola e
poderá mudar a realidade desse aluno, fazendo com que aprenda melhor. Para
concluir, pode-se afirmar que a boa relação entre professor-aluno é essencial para
evitar situações desse tipo. A afetividade muda totalmente o ambiente na escola e,
então, não só melhora a aprendizagem da parte cognitiva, mas também ajuda a
melhorar situações comportamentais de crianças e adolescentes. Alunos que têm
muitos problemas pessoais em casa, como pobreza, abuso sexual, pais alcóolatras
e violentos, chegam à sala de aula revoltados com a vida e sem nenhuma
perspectiva, precisam de um professor que tenha compaixão de sua situação,
passando seu conteúdo, exigindo como docente, mas com afeto. Sendo assim, os
alunos também aprenderam com o exemplo do professor e serão afetivos e
empáticos com todos ao seu redor e durante toda sua vida.
Lido com gente e não com coisas. E porque lido com gente, não posso, por
mais que, inclusive, me dê prazer, entregar-me à reflexão teórica e crítica
em torno da própria prática docente e discente, recusar a minha atenção
dedicada e amorosa a problemática mais pessoal deste ou daquele aluno
ou aluna. (FREIRE, 1996 p. 53)
Então, é possível ser profissionalmente afetivo? Para que isso seja possível é
preciso preparar um ambiente com regras combinadas junto aos alunos, para que
haja harmonia e para que todos estejam prontos a realizar as ações devidas sem a
necessidade de intervenção o tempo todo por mau comportamento. Dessa forma, os
alunos irão compreender o que deverão ou não fazer no ambiente, por serem ações
costumeiras iniciadas desde o primeiro dia de aula. Atividades consistentes e
aprendizados diversificados chamam a atenção dos alunos, fazendo-os criar gosto
pelo aprendizado, gerando um ambiente leve e de amor.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e terra, 1981. Edição 10.
WALLON, Henri. (1973/1975). A psicologia genética. Trad. Ana Ra. In. Psicologia
e educação da infância. Lisboa: Estampa (coletânea).