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AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM: UMA RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E

ALUNO A PARTIR DE PAULO FREIRE E HENRI WALLON1

Josiane dos Santos2


Rosita da Silva Santos3

Resumo
Muitas são as discussões a respeito do papel da escola na educação e do papel do professor
no processo de aprendizagem das crianças e adolescentes, porém, é preciso ver a escola e o
professor para além de somente transmitir conhecimentos aos alunos. É necessário olhar além do
que os olhos podem ver, pois muito mais do que ensinar conteúdos, é preciso ensinar os alunos a
pensarem sobre o mundo, a sociedade na qual estão inseridos e o mundo das diferenças para dar
subsídios aos alunos para enfrentarem as adversidades da vida, sem esquecer da empatia e da
ética. Os pensadores Henri Wallon e Paulo Freire têm estudos acerca deste tema e mostram como a
afetividade está ligada à aprendizagem. Este trabalho de conclusão do curso de licenciatura em
Letras é uma pesquisa com metodologia bibliográfica das teorias de Wallon e Freire, que buscará
analisar as teorias sobre afetividade desses dois autores. Suas teses buscam embasar a afirmação
de que a afetividade influencia a aprendizagem, ou seja, a boa relação professor-aluno melhora a
aprendizagem de maneira significativa, melhora até mesmo situações comportamentais dos alunos.
O objetivo maior é o de pensar como se constrói laços de afetividade e como esses laços interferem
no processo de ensino-aprendizagem, norteando assim a relação entre professor/aluno, discutindo a
postura do professor.
Palavras-chave: Afetividade; Aluno; Aprendizagem; Relação; Educação; Professor.

Abstract
There are many discussions about the role of the school in education and the role of the
teacher in the learning process of children and adolescents, but it is necessary to see the school and
the teacher and only transmit knowledge to the students. It is necessary to look beyond what the eyes
can see, because much more than teaching content, it is necessary to teach students to think about
the world, the society in which they are inserted and the world of differences to provide students with
support when facing adversity. of life, without forgetting empathy and ethics. Thinkers Henri Wallon
and Paulo Freire have studies on this topic and show how affectivity is linked to learning. This TCC of
Letras course is a research with bibliographical methodology of the theories of Wallon and Freire that
will try to analyze the theories about the affection of these two authors. Their theses will support the
statement that affectivity influences learning, that is, the good teacher-student relationship improves
meaningful learning, even improves student behavioral situations. The main objective is the research
of how bonds of affection are built. These bonds interfere in the teaching-learning process, thus
guiding the relationship between teacher- student, discussing the teacher's attitude.
Key words: Affectivity; Student; Learning; Relationship; Education; Teacher.

1
Artigo produzido como requisito para obtenção do grau de Licenciada em Letras - Português e
Inglês.
2
Acadêmica do Curso de Letras da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul - UNIJUÍ
3
Orientadora, Professora Dra da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul.
Minha segurança como professor
não repousa na falsa suposição de que sei tudo,
de que sou o “maior” e acima dos alunos.
Paulo Freire, 1996.

Introdução

O trabalho do professor se refere em primeiro lugar, a uma dimensão


relacional, ou seja, à relação que o mesmo tem com seus alunos todos os dias e ao
longo do ano letivo. É ilusão pensar que se ensina sem se vincular aos alunos.
Assim como colegas de trabalho criam vínculos por estarem convivendo juntos
todos os dias, professores e alunos, assim como aluno com aluno, criam vínculos,
esse vínculo que podem ser positivo ou não e isso influencia diretamente o ambiente
escolar e, consequentemente, o desempenho letivo.
No mundo atual, há uma emergência em um ponto delicado na educação: o
comportamento dos alunos em geral, sejam eles crianças ou adolescentes e a sua
aprendizagem e como esse comportamento interfere na aprendizagem dos mesmos.
O panorama educacional está sempre em desenvolvimento e questões assim estão
sempre em pauta. Mas o que está ligado diretamente ao comportamento seja ele
mau ou bom, e que pode mudar essa realidade? Talvez mudar seja um pouco
ambicioso, mas que atitudes podem melhorar a questão comportamental dos alunos
ao ponto de avançar a sua aprendizagem?
A relação professor-aluno e a afetividade, assim como o afeto e a empatia,
constroem um ambiente escolar agradável e sociável. Pensadores e pesquisadores
como Henri Wallon e Paulo Freire têm estudos acerca dessa temática que ajudam
na percepção do que seria a afetividade e como ela influencia na aprendizagem. A
relação que o professor tem com seus alunos está sempre em movimento e
crescimento ao longo do ano letivo. Ela é fundamental para a aprendizagem, pois
um clima pesado de desafeto e desrespeito em sala de aula diminui o desempenho
dos alunos e isso pode afetar uma vida inteira. Mas essa relação, que influencia o
aprendizado dos alunos, não é só a relação que o mesmo tem com o professor, mas
também, outras relações e situações da vida do aluno que afetam o comportamento
e sucessivamente, a aprendizagem, os alunos são seres humanos com vidas e
problemas e são seres completos, com emoções e dificuldades.
É perceptível que as demonstrações de afeto durante as práticas de cunho
pedagógico influenciam no aspecto emocional da criança e do adolescente e
também de adultos. Assim, o presente trabalho de conclusão de curso tem como
tema de pesquisa bibliográfica a importância da afetividade na relação professor-
aluno tem o objetivo de mostrar os benefícios de uma relação baseada na
afetividade, diálogo e escuta entre professores e alunos e como isso afeta a
aprendizagem dos mesmos.
Para tanto, é preciso investigar qual é a concepção de afetividade para os
autores Henri Wallon e Paulo Freire, considerando reflexões a partir da afetividade
na relação com o outro nos processos de ensino e de aprendizagem, de acordo com
as teorias dos autores. O diálogo e a afetividade acompanham o ser humano
durante toda sua vida e desempenham um importante papel no seu
desenvolvimento e nas suas relações sociais. Nesse sentido, o indivíduo que possui
uma boa relação afetiva com seu professor, e que ela seja considerada como
segura, tem interesse para adquirir novos conhecimentos e tem chances para um
bom rendimento escolar. Este trabalho busca também refletir o papel das emoções
do adolescente na aprendizagem, com base nos estudos dos mesmos autores,
Wallon e Freire.
Paratanto será apresentado o conceito de afetividade de um modo geral, que
será a abertura para a discussão sobre as concepções dos autores. Posteriormente,
o diálogo entre eles, a fim de fortalecer a premissa de que a afetividade na relação
professor-aluno influencia positivamente a aprendizagem, e por fim a conclusão e
reflexões finais.

O conceito de afetividade e afeto

Segundo o Dicionário Online de Português (2009), a afetividade está ligada à


área da psicologia e é um conjunto dos fenômenos afetivos como tendências,
emoções, sentimentos, paixões etc. A afetividade é uma força constituída por esses
fenômenos, no íntimo de um caráter individual. Um termo que deriva da palavra
afeto. Graças à afetividade, as pessoas conseguem criar laços. As relações e laços
criados pela afetividade não são baseados somente em sentimentos, mas também
em atitudes. Isso significa que, em um relacionamento, existem várias atitudes que
precisam ser cultivadas, para que o relacionamento prospere, e o tipo de
relacionamento explorado neste artigo é no âmbito escolar, do professor com seus
alunos e vice-versa.
Se todos os relacionamentos são essenciais para a vida de um ser humano,
calcula-se a importância de uma boa relação na sala de aula e como ela afeta a
aprendizagem e como isso é importante para a vida inteira de uma pessoa. A
afetividade é um componente importante para que haja equilíbrio e harmonia nos
relacionamentos em geral, assim como na sala de aula. Uma criança bem
estimulada afetivamente pelos pais, familiares e professores, ao chegar à vida
adulta, terá maior capacidade para conviver com fases negativas da vida com
determinação e confiança, saberá que é capaz de resolver seus problemas e
realizar seus sonhos. Relações com afetividade devem surgir da família e continuar
também da escola, pois segundo os autores que aqui serão mencionados, a
afetividade influencia a personalidade, comportamento e aprendizagem e tudo isso
acontece na escola, pois a maior parte do desenvolvimento do indivíduo acontece
nos anos escolares. Todas as atitudes humanas têm a ver com o afeto, e o afeto
influencia as decisões que as pessoas tomam, como tratam uma as outras, e isso
não foge do contexto escolar.
Chegando ao papel ponto do professor, é possível ser profissionalmente
afetivo? Durante muitos anos os professores trabalharam em sala de aula e podem
nunca ter parado para pensar na importância de tal questionamento, e de como o
afeto está presente nas relações educador/educando. O filósofo e escritor Mário
Sérgio Cortella (2017) escreve que muitos profissionais confundem seriedade com
tristeza, e isso é um erro, pois como será citado ao longo deste artigo, o professor
deve usar da sua autoridade, mas não do autoritarismo, pois o autoritarismo faz com
que o aluno “aprenda” com medo ou com ameaças e não é assim que ele aprenderá
com significância e total compreensão do conteúdo proposto. O medo causa
angústia e ninguém aprende dessa forma. Esse medo desgasta o aluno, fazendo-o
criar certa aversão pela escola, e se ele não gostar de estar na escola por não ser
bem tratado em suas relações dentro dela, jamais aprenderá ou crescerá. Isso
demonstra como o professor afetivo afeta sim a aprendizagem, sem causar medo,
pois aprender com medo não é aprender plenamente.
O afeto é essencial para todo o funcionamento do corpo humano, dando
motivação, interesse, e contribuindo para o desenvolvimento. Para as crianças e
adolescentes, o afeto é importantíssimo, pois eles precisam se sentir seguros para
poderem desenvolver seu aprendizado e todo seu crescimento. É necessário que o
professor tenha consciência de como seus atos são extremamente significativos
nesse processo, porque essa relação aluno-professor é permeada de afeto, e as
emoções são estruturantes da inteligência do indivíduo, como defende Wallon
(1995).
Apresentado o conceito global de afetividade e alguns pontos importantes
sobre como a mesma tem influência na aprendizagem dos alunos, o próximo passo
será a apresentação e discussão sobre as concepções de Henri Wallon e, em
seguida, Paulo Freire.

Concepções de Henri Wallon: Desenvolvimento cognitivo, afetividade e


adolescência

Os conceitos de Henri Wallon (1941-1995) sobre afetividade auxiliam na


compreensão do processo de constituição de pessoa, de indivíduo. O movimento de
crescimento vai do bebê ao adulto. Essas teorias sobre o desenvolvimento podem
ampliar a compreensão de professores sobre as possibilidades de crescimento dos
seus alunos no processo de ensino-aprendizagem.
É importante destacar que, impulsionado pela psicologia francesa e pelo
interesse em conhecer a organização biológica do homem, Wallon cursou medicina,
formando-se em 1908. Juntamente com sua atuação como médico e psiquiatra
surgiu seu interesse pela psicologia da criança. Sua teoria psicológica foi construída
através de seus conhecimentos sobre neurologia e psicopatologia adquiridos
durante a experiência clínica. Por isso, todo o tema discutido neste artigo pode ter
um cunho pedagógico e psicológico, pois tudo está interligado.
Para Wallon (apud GALVÃO, 1995), a afetividade envolve as emoções, que é
de natureza biológica, dos sentimentos, das vivências humanas, do
desenvolvimento da fala, que possibilita transmitir ao outro o que sentimos. Wallon
apresenta cinco estágios em que ocorrem a alternância entre aspectos afetivos e
cognitivos. Como afirma Galvão (1995, p. 45), “cada nova fase inverte a orientação
da atividade e do interesse da criança: do eu para o mundo, das pessoas para as
coisas. Trata-se do princípio da alternância funcional.” Cada estágio será
caracterizado a seguir. Em relação aos primeiros quatro estágios, que vão até a
idade escolar, Wallon explica que, desde bebê, o indivíduo tem uma relação muito
forte com a mãe e isso influencia sua aprendizagem e está tudo ligado à emoção.
Após, começa todo o estágio motor até o de personalidade. Chegando aos estágios
mais avançados, a partir do penúltimo, que é chamado de Categorial (6 a 11 anos),
e caracterizado pela objetividade com escolhas mais definidas, um processo de
socialização mais avançado, uma parte da personalidade transformando as
escolhas daqueles indivíduos. O último estágio, que abrange a puberdade e a
adolescência (a partir dos 11 anos) é a fase da autoafirmação em um universo
complexo de várias personalidades diferentes da sua. Configura-se por enquanto
muito diferente e complicado para o adolescente que precisa se auto afirmar e ao
mesmo tempo, se integrar aos grupos. Pensando até que ponto este adolescente é
coerente com suas escolhas, uma questão natural da sua fase psicológica, fase
mais complicado pensando em desenvolvimento emocional, como já citado
anteriormente, este desenvolvimento emocional está ligado a aprendizagem.
Para Wallon (1979), duas funções básicas constituem a personalidade:
afetividade e inteligência. De acordo com Galvão, que estudou Wallon (1995 p. 50),
“A criança reage corporalmente aos estímulos exteriores, adotando posturas ou
expressões, isto é, atitudes, de acordo com as sensações experimentadas em cada
situação”. Pode-se considerar não só a criança, mas também afirmar que todo ser
humano reage a estímulos e isso influencia toda sua vida. Cada pessoa reage
diferente frente a situações diversas, por isso a afetividade é tão importante, pois a
partir dela se constrói a compreensão. A compreensão é importantíssima nas
relações, pois exercitando ela, é possível ter respeito e compreender o outro, o que
ele sente ou acredita. A compreensão é uma característica do comportamento
emocional de cada indivíduo.
A afetividade sadia contribui para melhorar as condições de aprendizagem
dos alunos. Wallon (1995) identificou as primeiras manifestações afetivas do ser
humano através do estudo da criança no decorrer do seu desenvolvimento que vai
até a adolescência. O autor relacionou-as com as atividades psíquicas e afirmou o
papel da afetividade como fundamental na constituição e funcionamento da
inteligência, determinando interesses e necessidades individuais. Sua teoria
contribuiu para o entendimento do processo de desenvolvimento e o processo de
ensino-aprendizagem.
A afetividade, para Wallon (1979), está relacionada às sensibilidades internas
e se orienta em direção ao mundo social e para a construção da pessoa; a
inteligência, por sua vez, vincula-se às sensibilidades externas e está voltada para o
mundo físico, para a construção do objeto. Assim, as dimensões biológicas e sociais
são indissociáveis, porque se complementam mutuamente. A evolução de um
indivíduo não depende somente da capacidade intelectual garantida biologicamente,
mas também do meio ambiente que também vai condicionar a evolução, permitindo
ou impedindo que determinadas potencialidades sejam desenvolvidas. Aqui entra o
papel da escola e do professor, pois a afetividade surge nesse meio e tem uma
grande importância na educação e na aprendizagem, não só em sala de aula, com a
aprendizagem de conteúdos, mas também em todas as áreas da vida das pessoas.
Wallon (1979) coloca a afetividade como um dos aspectos centrais do
desenvolvimento humano. De acordo com Salla (2011), Wallon compara a
afetividade entre professor e aluno com o afeto e proteção que há na relação entre
mãe e filho.
Quando uma mãe abre os braços para receber um bebê que dá seus
primeiros passos, expressa com gestos a intenção de acolhê-lo e ele reage
caminhando em sua direção. Com esse movimento, a criança amplia seu
conhecimento e é estimulada a aprender a andar. Assim como ela, toda
pessoa é afetada tanto por elementos externos - o olhar do outro, um objeto
que chama a atenção, uma informação que recebe do meio - quanto por
sensações internas - medo, alegria, fome - e responde a eles. Essa
condição humana recebe o nome de afetividade e é crucial para o
desenvolvimento. (WALLON, 1962 apud SALLA, 2011).

Pensando a partir das ideias de Wallon, Salla ( 2011) afirma que toda pessoa,
assim como uma criança aprendendo a andar, é influenciada tanto por elementos
externos quanto por elementos internos, ou seja, o modo como o outro a vê e trata
influencia na sua aprendizagem. O crescimento é maior quando há cuidado e isso
se manifesta na relação do professor com seu aluno, pois como já afirmado, a
criança aprende melhor quando há cuidado, seja isso em casa com os pais ou na
escola com os professores.
O autor foi o primeiro a levar em consideração não somente o corpo da
criança e do adolescente, mas suas emoções ao longo da vida escolar. Wallon
(1995) explica que essa relação de ensino com cuidado influencia muito na
qualidade da aprendizagem, por esse motivo usa o exemplo da criança que aprende
a andar. O autor defende ainda que o processo de evolução depende tanto da
capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente, que o afeta de alguma forma.
Wallon (1995) estabelece, também, uma distinção entre emoção e
afetividade. Segundo o autor, as emoções são manifestações de estados subjetivos,
mas com componentes orgânicos. Toda alteração emocional provoca flutuações de
tônus muscular. Ou seja, as emoções influenciam diretamente tudo o que acontece
na vida de um indivíduo e, portanto, influenciaram na aprendizagem na sala de aula.
É necessário levar em consideração todo o aspecto emocional do aluno, pois,
muitas vezes, o mesmo tem dificuldades para aprender porque tem problemas
emocionais fortes e complicados. O professor não deve ser um psicólogo, mas deve
considerar tudo isso. Ter consciência disso é fundamental.
A afetividade, para o desenvolvimento humano, o que inclui o período de
escolarização, envolve acreditar que a criança é capaz de se tornar uma pessoa
mais autônoma nas resoluções de problemas em sua vida e ser socialmente
participativa ao interagir em sociedade. Uma convivência baseada no respeito, uma
relação afetiva positiva entre professor e aluno, assim como entre qualquer
indivíduo, colabora no processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno,
segundo os estágios de desenvolvimento que Wallon conceitua. A importância da
afetividade no desenvolvimento humano e do aluno, segundo Wallon (1995), baseia-
se na afirmação de que o ser humano, desde o seu nascimento, é envolvido pela
afetividade e que o afeto desempenha um papel importantíssimo no
desenvolvimento de boas relações sociais.
O movimento é a base do pensamento e das emoções que dão origem à
afetividade, sendo ela fundamental na construção do sujeito também na escola.
Afinal, a maior parte do tempo de desenvolvimento de um ser humano acontece no
âmbito escolar, desde a pré-escola até o ensino médio, que pode continuar na
faculdade e depois para o resto da vida. O afeto, nesse contexto, é visto como uma
atitude pessoal e profissional que o professor deve tomar, sem esquecer-se do seu
compromisso de ensinar é claro, demonstrando respeito ao sujeito aluno e ao
mesmo tempo respeitando o seu fazer docente. O clima emocional, a forma como o
professor se direciona em variadas atividades é determinada pela relação e o clima
que estabelece e, a partir daí constrói o seu campo afetivo. Então, se o aluno tiver
medo, irá se empenhar menos, a partir desse campo afetivo que ele desenvolve em
seu contexto pessoal e desta forma se compõe a inteligência da pessoa a forma que
ela vai abordar o mundo e se relacionar. Com exemplifica Dantas (1994), em seu
livro Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon, o medo, a
angústia, a ansiedade e a frustração, são sentimentos que desgastam o aluno, e a
serenidade e a tranquilidade dos professores auxiliam na redução desses
sentimentos desagregadores.
Em seus textos específicos sobre educação, Henri Wallon considera comuns
as situações de conflito entre professor e aluno no cotidiano escolar, demonstrando
que as complexidades existem e são essenciais para a mobilização e crescimento
do indivíduo. Situações de conflito são comuns em sala de aula, como já citado na
introdução deste artigo, e situação comportamental dos alunos, principalmente dos
adolescentes, está sempre em pauta nas reuniões escolares, pois o mau
comportamento afeta muito a aprendizagem e atrapalha a aula. Em vista disso,
pode-se dizer que ter afeto para com os adolescentes é fundamental.
A fase das emoções fortes é marcante a partir da pré-adolescência, mas
atinge seu ápice com a crise da puberdade, que opera a passagem da infância à
adolescência. Nas palavras de Wallon (1975 p. 319), “Sentem-se mudar e ficam
como que desorientados”. Esta mudança, esta desorientação em relação a eles
mesmos, sentem-na ainda mais em relação ao meio que os rodeia”. Como falar
sobre adolescentes sem considerar toda a questão emocional, nesta etapa pessoal
e escolar, fenômenos muito gerais da vida afetiva tornam-se intensos e podem ser
muito dolorosos. Segundo Wallon trata-se de ambivalência de atitudes ou dos
sentimentos.
Nesta fase, os alunos estão estabelecendo relações com os colegas e essas
relações estão ligadas a desejos comuns de conquistas e eles querem se unir a
outros jovens que pensam e sentem como eles. Por isso, criam-se muitos grupinhos
em sala de aula, e professores que lecionam ou já lecionaram em turmas de Ensino
Médio sabem como os adolescentes estão com suas emoções à flor da pele e como
isso influencia o convívio em sala de aula. Muitas vezes, por estarem desenvolvendo
sua personalidade, em virtude da puberdade, não aceitam ser contrariados pelos
professores e isso normalmente gera conflitos, como já citado anteriormente. Esse
clima emotivo precisa ser levado em consideração e o mediador afetivo consegue
balancear isso muito melhor do que o professor rude e arrogante. Os professores
devem enfrentar seus alunos com amor, ou seja, se for feito de forma rude atrapalga
a aprendizagem.
Na puberdade e adolescência, o recurso principal de aprendizagem do ponto
de vista da afetividade é a oposição, que possibilita a identificação de novas ideias,
sentimentos e valores próprios, assim como a busca de responder: Quem sou eu?
Quais são meus valores? O que vou ser quando crescer? Essas dúvidas são
permeadas por muitas ambiguidades. A afetividade permite que, no processo
ensino-aprendizagem, haja a escuta das expressões pessoais dos alunos,
discutindo suas ideias e diferenças e que a opinião de todos seja levada em conta, a
fim de criar uma relação sólida em sala de aula. Nessa fase da adolescência, o
aluno começa a compreender que é um ser único e complexo, o papel do professor
é entender isso e auxiliá-los. Wallon explica um pouco sobre essa fase da
adolescência ao afirmar que:
Este período de ambivalência existe no adolescente. Faz com que exista
nele uma necessidade de conquista, de renovação, de aventura, uma
necessidade de renunciar a si mesmo, de se libertar pela ação, pelo inédito,
pelo imprevisto, de liquidar o que, aliás, o paralisa. (Wallon, 1975, p.215).

O sentimento de estranheza de si provoca no adolescente ambivalência de


atitudes e sentimentos, traduzidos pela insatisfação consigo mesmo e com o meio,
que culminam no questionamento de valores, através de oposições à figura do
adulto, seja ele da família, professores, diretores, etc. Os adolescentes questionam
tudo ao seu redor e principalmente as regras, e é por isso que as relações afetivas
são tão importantes, para amenizar a “rebeldia”. Por não conhecer as teorias desse
estágio de crescimento e desenvolvimento, muitos adultos (pais e professores)
acabam ignorando o fato de que tais comportamentos fazem parte da construção da
personalidade e acham que tudo é apenas uma oposição contra o outro. A
orientação do adulto é fundamental nesse estágio.
O conceito de afetividade é amplo, pois envolve mais de uma forma de
expressão, como a emoção e o sentimento, estes estão interligados à
aprendizagem. O que acontece externa ou internamente ao indivíduo, afeta ele
positiva ou negativamente e provoca uma reação como consequência. Ou seja,
explicando de forma direta, apenas contrariar um aluno problemático só piora seu
comportamento, assim, há necessidade da afetividade na relação professor-aluno.
Os adolescentes (desde a pré-adolescência) precisam ser ouvidos, querem e
precisam de atenção, e antes de tudo, precisam ser respeitados como seres
completos para que possam desenvolver autonomia e personalidade. Com limites, o
jovem deve participar ativamente na sociedade. Pois, impor limites também é ser
afetivo.
No momento em que o professor e a escola enxergam isso, tudo se torna
mais simples e prazeroso, visto que, sabendo que está dando autonomia ao aluno, o
professor pode explorar as capacidades do estudante. Quando há diálogo e
respeito, o aluno consegue se desenvolver melhor e aprender melhor obviamente.
Assim como muitos autores e estudiosos, Wallon (1995) também acredita que no
momento que o professor perceber que o aluno é o outro, ou seja, é um indivíduo
com suas particularidades e dificuldades, poderá, com a ajuda da afetividade, fazer
com que o ensino-aprendizagem seja pleno.

Concepções de Paulo Freire sobre afetividade e relação professor-aluno

Assim como o francês Henri Wallon, o autor e pesquisador brasileiro Paulo


Freire, conhecido como o patriarca da educação no país, tem estudos
importantíssimos acerca do tema desta pesquisa: a afetividade e a relação
professor-aluno. Paulo Freire afirmou várias vezes que não há educação sem amor
e afetividade tem a ver com amor. Paulo Freire (1921-1997) foi um educador,
escritor e filósofo pernambucano. É considerado o brasileiro com mais títulos de
doutorados honoris causa e é o escritor da terceira obra mais citada em trabalhos de
ciências humanas do mundo: Pedagogia do oprimido (1981). Outra obra de Paulo
Freire usada neste artigo é a Pedagogia da Autonomia (1996), que trata o
comportamento do professor e como o mesmo deve proceder em sala de aula,
sempre usando da afetividade em seu relacionamento com os alunos. Para começar
a discorrer sobre as concepções de Paulo Freire, seguindo este raciocínio inicial,
Freire (1996), afirma que “O educador que escuta aprende a difícil lição de
transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele (p.
43)”. Dessa forma, uma prática educativa diversificada contribui efetivamente para
uma boa relação dos sujeitos envolvidos e do objeto de estudo. A escuta tem muito
a ver com o afeto nas relações entre professores e alunos.
É preciso, por outro lado, insistir em que não se pense que a prática
educativa vivida com afetividade e alegria, prescinde da formação científica
séria e da clareza política dos educadores ou educadoras. A prática
educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio
técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da permanência do
hoje. (FREIRE, 1996, p. 90).

Compreende-se então que o trabalho docente não se detém apenas a uma


só coisa, mas sim a várias aliadas entre si para a atuação no ambiente escolar. Por
um lado, está o ser humano afetuoso que cuida e educa, e por outro a figura do
profissional que precisa atuar com a responsabilidade de trabalhar os conteúdos
curriculares que a escola e o currículo exigem, dos quais as crianças precisam para
seu crescimento intelectual, na constante busca do uso das mais variadas
metodologias, ou seja, essas duas questões aliadas transformam a aprendizagem
real e significativa. A questão central de todo texto de Freire é a educação
humanizadora, especificidade humana e a intervenção de mundo. Paulo Freire
(1996) afirma que essa intervenção de mundo que a educação proporciona é a
mudança que a mesma pode causar na sociedade. Continuando a pensar sobre
afetividade e sobre a postura do professor diante seus alunos, Freire (1996) afirma
que o autoritarismo é uma ruptura do equilíbrio em sala de aula entre autoridade e
liberdade.
Paulo Freire (1996) comenta sobre uma conversa que teve com a professora
Olgair Garcia, na qual ela diz ter observado como é importante o saber escutar,
sendo isso nas aulas com crianças, adolescentes e até mesmo com outras
professoras. Não é bom que os professores sejam os únicos portadores da verdade
a ser transmitida aos demais, mas sim, falar e escutar a opinião de todos. Somente
quem escuta com atenção e paciência consegue compreender o outro. “O educador
que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes
necessário, ao aluno, em uma fala com ele.” (FREIRE, 1996, página 43).
Para Freire (1996), a importância do silêncio no espaço da comunicação é
fundamental. De um lado, proporciona que, ao escutar, como sujeito e não como
objeto, a fala comunicante de alguém, procure entrar no movimento interno do seu
pensamento, virando linguagem; de outro, torna possível a quem fala, realmente
comprometido com comunica, escutar a indagação, a dúvida, a criação de quem
escutou. Fora disso, fenece a comunicação. Escutar é obviamente algo que vai mais
além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido,
significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a
abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. O educador que
escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao
aluno, em uma fala com ele.
Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque
professor me obrigo a querer bem a todos os alunos de maneira igual.
Significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que não tenho medo
de expressá-la [...] O que não posso obviamente permitir é que minha
afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no
exercício de minha autoridade. (FREIRE, 1996 p. 52.)

A relação entre professor e aluno é fundamental para o processo ensino e


aprendizagem em sala de aula. Como explicado ao longo deste artigo, a relação que
o professor tem com seus alunos está sempre em desenvolvimento é fundamental
para a aprendizagem. Mas essa relação que influencia o aprendizado dos alunos,
não se resume a relação professor-aluno dentro da sala de aula, mas também
muitas outras coisas que rodeiam a vida do aluno, relações familiares, amizades,
etc.
Paulo Freire (1974) defende uma educação problematizadora e libertadora e,
para ele, não é possível ser feita sem o diálogo, ou seja, para que haja esse tipo de
educação, é necessário que haja diálogo e respeito entre as relações em sala de
aula. Freire (1974), no livro Pedagogia do Oprimido, propõe uma pedagogia com
uma nova forma de relacionamento entre professor, estudante e sociedade, pois o
educador não é mais o que apenas educa, mas quando educa também é educado,
em diálogo com o educando. Assim, ambos se tornam sujeitos do processo em que
crescem juntos e o autoritarismo já não vale mais nesse cenário. Aqui entra a
afetividade, visto não ser possível um professor escutar e dialogar não sendo afetivo
e não seria possível essa relação de troca quando há um professor autoritário e sem
afeto.
A relação professor-aluno, em algumas situações, ainda, infelizmente, é
marcada pelo autoritarismo, relação na qual o professor manifesta ser o detentor de
todo o conhecimento. Em sua entrevista para a revista Nova Escola, Mário Sérgio
Cortella (2017), (já citado anteriormente no conceito de afetividade e afeto), afirma
que a base para uma boa relação entre professor-aluno é a autoridade docente, a
autoridade docente é decisiva na aprendizagem, mas autoridade não é
autoritarismo. Para Cortella (2017), o professor é responsável pelo processo de
aprendizagem dos seus alunos, amizade não é intimidade, autoridade não é
autoritarismo. A autoridade está ligada à liderança e comando, com a postura
correta. O objetivo da autoridade é fazer com que as pessoas percebam e respeitem
suas regras e normas, avançando no desenvolvimento. O autoritarismo está mais
ligado às práticas anti sociais é uma imposição e não comando, as regras são dadas
através a força para os indivíduos. Então, quando existe autoridade, as pessoas
agem motivadas pelo líder, mas quando o autoritarismo prevalece as pessoas agem
pela motivação errada, existe medo e angústias. Esse pensamento de Mário Sérgio
Cortella (2017) é como o de Paulo Freire (1996), o papel do professor em sala de
aula com toda a certeza, como mediador do conhecimento, o professor deve ter
autoridade acima de tudo sob sua disciplina e turma, e não ser autoritário. Com
limites, pode ser amigo de seu aluno juntamente com a sua autoridade de docente,
e essa amizade, ou seja, esse vínculo pode mudar a maneira de como o jovem vê a
disciplina que está estudando, ou até mesmo o modo como vê a escola. Para Paulo
Freire (1996), é importante que o professor saiba seu papel na sala de aula, sendo
não só um mediador ou transmissor de conhecimento, mas que tenha consciência
que com regras e autoridade docente poderá ter uma ótima relação com seus
alunos e poderá ajudar no crescimento dos mesmos, como observa-se a seguir:
Faz parte da prática do professor o querer bem a seus alunos, e quem nos
fala desse compromisso. Esta abertura de querer bem não significa, na
verdade, que, porque professor me obrigo a querer bem todos os alunos de
maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que não
tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a
maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os
educandos, numa prática específica do ser humano (FREIRE, 2007 p. 141)

Em Pedagogia da Autonomia (1996), Freire deixa claro que o professor não


pode ser o único dono da razão e deve querer bem seus alunos. O professor não
deve ser um psicólogo ou pai/mãe mas alguém que impulsiona o aluno para que ele
possa crescer e evoluir com afetividade e afeto. Para ele, é compromisso do
professor querer bem seus alunos e não deve se assustar com o fato de expressar
afeto pois são todos seres humanos.

Diálogos entre Wallon e Freire sobre afetividade

É possível concluir que o trabalho de Wallon tem uma visão humanizada da


educação, baseado no estudo da criança e do adolescente em seu aspecto integral,
sendo relevante no repensar das práticas educativas, no respeito ao outro em suas
particularidades e na importância das emoções e sentimentos no processo ensino-
aprendizagem e na relação professor-aluno, assim como Paulo Freire que, com uma
visão mais pedagógica, também dá importância às emoções e afetividade para a
aprendizagem em sala de aula. Tanto Wallon quanto Freire querem humanizar a
educação em seus estudos e concepções, sempre preocupando-se com as crianças
e adolescentes e seu crescimento. Para Freire (1996), essa percepção mais
generosa revelada pelos professores contribui para a humanização dos homens, em
que o educador como pessoa e como profissional, a cada dia se conscientiza de sua
função como agente transformador da sociedade, como citado anteriormente. Nessa
condição, o professor é visto como um trabalhador social e seu papel é o de
propiciar mudanças na estrutura da sociedade. O autor acredita que “tentar a
conscientização dos indivíduos com quem se trabalha, enquanto com eles também
se conscientiza, este e não outro nos parece ser o papel do trabalhador social que
optou pela mudança” (FREIRE, 1996, p. 60).
Com as concepções de Henri Wallon, pode-se dizer que é possível iniciar os
estudos sobre afetividade e relação professor-aluno, pois ele escreve sobre o
desenvolvimento humano, seja ele cognitivo ou biológico. A partir de seus estudos
se consegue compreender como se dá a evolução do ser humano, como o mesmo é
afetado por vários fatores e isso influencia o crescimento, seja ele individual ou
escolar até a vida adulta. Já Freire, após estudar suas colocações e estudos, pode-
se dizer que o sentido de ensinar é o amor, a amorosidade, o afeto e a afetividade.
Suas ideias são de cunho pedagógico e sempre voltado ao professor e ajudam a
continuar o estudo sobre afetividade e relação professor-aluno a partir das
concepções de Wallon. Em ambos, pode-se compreender como a afetividade
melhora as relações humanas, principalmente entre professores e alunos.

Ninguém pode conhecer por mim, assim como não posso conhecer pelo
aluno. O que posso e o que devo fazer, na perspectiva progressista em que
me acho, são, ao ensinar-lhe certo conteúdo, desafiá-lo a que se vá
percebendo na e pela própria prática, sujeito capaz de saber (FREIRE,
1996 p. 121)

Wallon (1995) mostra que as crianças e adolescentes possuem corpo e


emoções na sala de aula, pois sua teoria diz que o desenvolvimento intelectual
envolve muito mais que um simples cérebro recebendo conhecimento. A teoria
proposta por Henry Wallon procura relacionar as funções psíquicas do indivíduo com
sua infraestrutura orgânica. As perspectivas wallonianas contemplam a relação entre
o desenvolvimento da inteligência, do conhecimento e da percepção, sendo que tais
processos são inseparáveis do mundo da afetividade, tornando-se essenciais para a
educação. Essas ideias de Wallon vão de encontro com as concepções de Paulo
Freire no sentido de enxergar o aluno como indivíduo completo que possuem
sentimentos e não são apenas recebedores de informações. Assim como Wallon,
Paulo Freire relaciona o aprendizado do aluno com suas funções biológicas, e não
só as cognitivas apreendidas na escola. Henry Wallon proporciona um estudo amplo
sobre essa questão biológica do ser e isso ajuda o professor a compreender melhor
o crescimento cognitivo de seu aluno. Paulo Freire considera o professor não só
como transmissor de conhecimento, mas, o vê como alguém que influencia a vida
toda do aluno. Assim os dois autores completam-se entre si, pois juntando
concepções psicológicas e pedagógicas os professores conseguem ter uma
dimensão ampla de como o aluno se desenvolve, juntando afetividade e afeto pode
fazer com que o aluno tenha um grande desenvolvimento e desempenho na
aprendizagem escolar.
Paulo Freire (1996) defende que o professor não deve ser autoritário ou rude,
mas sim ter autoridade docente para fazer o melhor que puder pelos seus alunos e
pela educação, Wallon (1975) não se detém na questão comportamental dos
professores, porém, seus estudos são essenciais para entendimento de que o aluno
é uma carrega uma história e emoções, é importante que o professor considere isso
em sala de aula, isso é afetividade.

Considerações finais

Num momento de desvalorização do trabalho do professor em todos os


níveis, exercer a docência é um ato de coragem. Visitando pesquisas de alguns
estudiosos sobre o tema, pode-se perceber que a afetividade está presente na
relação professor-aluno e depende do contexto sócio-cultural. Nesse sentido, a
temática se mostra relevante de ser abordada na formação inicial e continuada de
professores, pois é vivida no dia a dia em sala de aula. Em um mundo repleto de
tecnologia, é normal que as coisas estejam mudando o tempo todo. Muda toda
forma de pensar, aprender, ensinar. É importante saber que cabe à escola ser
afetiva, fazendo com que crianças e jovens criem senso de responsabilidade e que
assumam um papel protagonista nas mudanças do mundo, sempre a preocupação
com o outro é prioridade, pois a falta de empatia e afeto pode ser associada a
problemas como bullying, intolerância, preconceito e violência.

A educação é um processo misto envolvendo escola, família e a comunidade


como um todo. Dessa forma, o ensino afetivo também deve ser desenvolvido e
cultivado em casa. É preciso que pais, professores e gestores estejam unidos,
orientando crianças e jovens a lidarem com as suas emoções, ajudando a entender
quais são as suas necessidades e perspectivas, assim como a do outro para serem
cidadãos aptos para viver em sociedade.

Muito se fala em suicídio e infelizmente isso vem ocorrendo atualmente. A


maioria dos suicídios e crianças e adolescente é causado pelo bullying que sofrem
na escola e o mau comportamento também se dá por esse motivo. Muitas vezes, a
falta de afeto e a falta de boas relações em sala de aula contribuem para tudo isso.
O professor tem o dever de estar atento a tudo o que acontece e deve intervir
quando algo como bullying acontece ou em casos de mau comportamento extremo,
pois, muitas vezes, os alunos mais “rebeldes” são aqueles carentes de amor e afeto
em casa.

O professor não deve ser psicólogo ou conselheiro tutelar, mas deve ser
afetivo e isso pode mudar a vida difícil que um aluno possa ter fora da escola e
poderá mudar a realidade desse aluno, fazendo com que aprenda melhor. Para
concluir, pode-se afirmar que a boa relação entre professor-aluno é essencial para
evitar situações desse tipo. A afetividade muda totalmente o ambiente na escola e,
então, não só melhora a aprendizagem da parte cognitiva, mas também ajuda a
melhorar situações comportamentais de crianças e adolescentes. Alunos que têm
muitos problemas pessoais em casa, como pobreza, abuso sexual, pais alcóolatras
e violentos, chegam à sala de aula revoltados com a vida e sem nenhuma
perspectiva, precisam de um professor que tenha compaixão de sua situação,
passando seu conteúdo, exigindo como docente, mas com afeto. Sendo assim, os
alunos também aprenderam com o exemplo do professor e serão afetivos e
empáticos com todos ao seu redor e durante toda sua vida.

Lido com gente e não com coisas. E porque lido com gente, não posso, por
mais que, inclusive, me dê prazer, entregar-me à reflexão teórica e crítica
em torno da própria prática docente e discente, recusar a minha atenção
dedicada e amorosa a problemática mais pessoal deste ou daquele aluno
ou aluna. (FREIRE, 1996 p. 53)

É através da aprendizagem que o ser humano se posiciona como alguém


capaz de pensar, decidir, questionar, além de capacitar o mesmo para sua inserção
no meio social. Percebe-se que o estudo do comportamento humano busca
entender as reações do indivíduo diante de determinada situação. O ambiente
escolar se caracteriza como um espaço onde ocorre um processo sistematizado da
aprendizagem. Assim se a educação é um processo misto envolvendo escola,
família e a comunidade como um todo. Dessa forma, o ensino da empatia também
deve ser desenvolvido e cultivado em casa. É preciso que pais e gestores estejam
unidos, orientando crianças e jovens a lidarem com as suas emoções, ajudando a
entender quais são as suas necessidades e perspectivas, assim como a do outro.

Ser um professor afetivo não é ser um professor “bonzinho”, não é permitir ao


aluno liberdade plena, ou seja, deixar que ele faça o que quiser. Ser um professor
que põe em prática a afetividade se importa com a vida dos seus alunos e com sua
aprendizagem, prepará-los para o mundo. Nessas relações em sala de aula,
professores obedecem a motivos pedagógicos e institucionais, carregam as marcas
da sua própria história, assim como os alunos também têm uma história, cada um
com seu próprio contexto social, econômico e familiar . Hoje ainda a escola é cheia
de tradição, onde determinadas práticas pedagógicas se perpetuam sem rupturas,
que envolvem o professor, de certa forma, numa condição de segurança e regras a
serem seguidas, muitas vezes tradicionalistas. O professor precisa pensar que a
escola lida com a relação de identidades no seu espaço, uma vez que as novas
identidades de alunos se opõem às representações tradicionais e que esses alunos
precisam ser conhecidos e ouvidos.

Então, é possível ser profissionalmente afetivo? Para que isso seja possível é
preciso preparar um ambiente com regras combinadas junto aos alunos, para que
haja harmonia e para que todos estejam prontos a realizar as ações devidas sem a
necessidade de intervenção o tempo todo por mau comportamento. Dessa forma, os
alunos irão compreender o que deverão ou não fazer no ambiente, por serem ações
costumeiras iniciadas desde o primeiro dia de aula. Atividades consistentes e
aprendizados diversificados chamam a atenção dos alunos, fazendo-os criar gosto
pelo aprendizado, gerando um ambiente leve e de amor.
Referências

CORTELLA, Mario Sergio. Qual a relação entre afetividade, vínculo e


aprendizagem? Entrevista. In: Revista Nova Escola, 2017. Ed 300. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/4862/video-mario-sergio-cortella-responde-qual-
a-relacao-entre-afetividade-vinculo-e-aprendizagem> Acesso em: 15 de maio de
2019.

DANTAS, H. Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon,


em La Taille, Y., DANTAS, H., OLIVEIRA, M K. Piaget, Wygotsky e Wallon:
teorias psicogênicas em discussão. São Paulo: Summus Editorial Ltda, 1992.

DICIONÁRIO ONLINE. Conceito de afetividade. Disponível em:


<https://www.dicio.com.br/afetividade/>. Acesso em: 10 de outubro de 2019.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento


infantil. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

SALLA, Fernanda. O Conceito de afetividade de Henry Wallon. In: Revista Nova


Escola, 2011. Disponível em: novaescola@fvc.org.br. Acesso em: 15 de maio de
2019.

WALLON, Henri. (1941-1995). A evolução psicológica da criança. Lisboa, edição


70.

WALLON, Henri. (1973/1975). A psicologia genética. Trad. Ana Ra. In. Psicologia
e educação da infância. Lisboa: Estampa (coletânea).

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