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Licenciatura em Pedagogia
SÃO PAULO
2018
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EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DA ESCOLA
NA EDUCAÇÃO E NA SOCIALIZAÇÃO DE IRMÃO GÊMEOS
RESUMO
Fundamentado na pesquisa de revisão bibliográfica, este artigo tem como objetivo contribuir
para a reflexão e análise das relações fraternas, considerando irmãos gêmeos no contexto da
educação infantil. O papel da escola e as relações sociais que lá ocorrem, são de extrema
importância na formação do indivíduo. Nesta perspectiva, buscamos com esse trabalho
permear o universo da educação infantil na dimensão dos irmãos gêmeos, abordando algumas
características deste grupo, assim como os desafios encontrados no contexto da
competitividade, da comparação e do estereótipo. Como resultado, nos depararmos com
elementos deste universo, que nos possibilitaram uma reflexão sobre o papel do educador,
considerando alguns aspectos da formação da identidade e de como as relações interpessoais
são importantes no sentido de colaborarem ou não para um desenvolvimento pleno e seguro
destes irmãos.
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INTRODUÇÃO
O presente artigo, tem como objetivo principal proporcionar uma análise reflexiva
para as relações fraternas, considerando irmãos gêmeos no contexto da educação infantil.
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METODOLOGIA
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proposto, será baseada artigos científicos, publicados e já revisados, assim como teses e
dissertações.
Neste pressuposto, vale ressaltar que a infância não é uma etapa da vida composta por
passividade e nem tão pouco a criança deve ser definida com um ser frágil. Muitas pesquisas
na área da psicologia, psicolinguística e educação, apontam para a riqueza do universo e da
comunicação infantil. As crianças “são aquelas “figurinhas” curiosas e ativas, com direitos e
necessidades”. Sendo assim a escola deve buscar uma aproximação cultural, onde a
linguagem e a cognição sejam também elementos estruturais para o desenvolvimento do
indivíduo em cada fase da sua vida. (OLIVEIRA, 2011, p.45)
Desafios surgem diariamente no universo da educação infantil e sob esta ótica, podemos
considerar que além das questões que abordam o indivíduo nas dimensões da vida em
sociedade dentro e fora do ambiente escolar, temos uma questão pouco explorada, mas nem
por isso menos relevante, que é a compreensão do universo dos irmãos gêmeos. Atualmente,
segundo Vieira (2011) as técnicas de reprodução assistida, contribuíram para um aumento das
gestações gemelares. Estima-se que o número de gestações múltiplas aumentou em 30% nos
últimos 20 anos, por consequência também houve um aumento no número de irmãos gêmeos
em idade escolar.
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Dias e Fonsêca (2013), ressaltam que não é recente, a curiosidade e o interesse pelos
gêmeos e nos lembra que na história da humanidade essa condição fraterna aparece nas
fábulas, na religião, na mitologia e até mesmo em obras de ficção em novelas, séries e livros.
A exemplo temos os irmãos Esaú e Jacó, figuras bíblicas que aparecem em Gênesis, Rômulo
e Remo que de acordo com a mitologia são os fundadores de Roma, Castor e Pólux, que
representam o mito do signo de gêmeos; os irmãos Corso da obra de Alexandre Dumas,
Cosme e Damião entre outros.
Apesar do exposto acima, Vieira e Branco (2010), nos alertam sobre os riscos de
tratarmos as concepções sobre os gêmeos de forma generalizadas e estereotipada. Partindo
desta premissa, o que nos parece uma reflexão lógica, demanda do professor um olhar
sensível e pontual, pois o processo de individualização está demarcado pela sensibilidade do
educador em perceber como se desenvolve cada um dos irmãos.
No entanto Oliveira (2009), apoiada nos estudos de Vygotsky, nos apresenta um olhar
relevante onde, reforça a ideia de que o homem se desenvolve a partir da sua interação com as
pessoas, no meio social e ainda apresenta um olhar para essa questão, pois ela defende a,
Isto posto, podemos discutir que apesar dos vínculos fraternos, o ambiente da escola é
considerado um ótimo local para proporcionar interação dos irmãos para além do subsistema,
pois nele encontramos os elementos necessários para o desenvolvimento de forma integral,
que proporciona a convivência entre as crianças da mesma faixa etária. (OLIVEIRA, 2012).
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Adriana Oliveira e Maria Cerveny (2010), no texto “O vínculo entre irmãos”,
reforçam a percepção que a separação dos gêmeos, não é garantia para um melhor
desempenho e nem tampouco ao fracasso ou dificuldades no desenvolvimento. Elas afirmam
que a relações entre irmãos não podem ser associadas de forma exclusiva a ambientes
compartilhados ou não. O fato de irmãos estarem ou não na mesma sala de aula, não
representaria de acordo com as autoras, um problema já que ambientes escolares em sua
maioria podem não ser totalmente desligados.
Alguns estudos afirmam que manter irmãos gêmeos na mesma sala de aula, se justifica
pelo fato de que haverá maior equilíbrio emocional. Em caso de separação a relação fraterna
dos gêmeos os conduziria a um estresse e de certa forma até uma angústia que poderia
impactar negativamente no desenvolvimento de ambos. (WEBBINK; HAY; VISSCHER,
2007, apud RODRIGUES, 2014). David et al. (2007), em suas pesquisas constataram que
irmãos gêmeos que ficam juntos na pré-escola, apresentam maiores chances sucesso
acadêmico, do que os que foram separados de forma impositiva.
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Como podemos perceber, as opiniões se dividem, não existe um consenso para definir
qual é a melhor alternativa. Nos parece que o mais importante é observarmos o
relacionamento e as especificidades dos irmãos, considerando inclusive a relação parental,
pois conforme Vygotsky, “o aprendizado das crianças começa muito antes de elas
frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta
na escola tem sempre uma história prévia”. (VYGOTSKY, 2007, p. 94). Isto é pais e
professores, podem certamente chegar a um denominador comum, respeitando o espaço e as
necessidades de cada um, sempre considerando que a criança é também um sujeito histórico.
(OLIVEIRA; CERVENY, 2010).
Neste ponto o presente trabalho, vai buscar em Vygotsky (2006), elementos que de
forma articulada, podem contribuir na compreensão o universo dos irmãos gêmeos. Pois
Vygotsky, se apropria da ideia de que não existe um conhecimento já pronto, eles estão em
constantes processos de mudança, já que o tempo todo os indivíduos recebem novas
informações. Essas informações auxiliam na reorganização dos significados, permitindo uma
melhor percepção do mundo e até uma mudança na visão do mesmo.
“Essas interações que o indivíduo estabelece com as pessoas que o cercam, seja na
escola ou em outro ambiente, exercem, portanto, papel fundamental no
desenvolvimento humano, pois é a partir da internalização dos signos socialmente
construídos que as funções intrapsicológicas se constituem o que vem a ressaltar a
gênese social da consciência humana. ” (1994, p.100)
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Oliveira, ainda a partir do pensamento de Vygotsky, nos diz, que:
Sendo assim, se pensarmos nas relações fraternais, elas por si só não poderiam
sobrepor as relações interpessoais com os sujeitos do ambiente escolar. No entanto cabe a
escola oportunizar essa interação, que vai além dos adultos, pois as experiências das crianças
umas com as outras, podem ser ricas no sentido de que proporcionam identificação e
aproximação. (OLIVEIRA, 2012) logo, por consequência geram um ambiente que favorece
para que os irmãos gêmeos, criem e desenvolvam seus próprios laços e relacionamentos,
Vygotsky (2007), ainda nos lembra que a escola é um ambiente propício para o
desenvolvimento cognitivo, pois neste espaço ocorrem mediações e relacionamentos que vão
mobilizar processos externos e internos que juntos desencadearão a aprendizagem e o
desenvolvimento do intelecto.
O tema socialização, nos conduz quase que de forma imediata a pensarmos sobre a
construção identitária, uma vez que a mesma não se encontra alheia aos diversos contextos
que acompanham o percurso das crianças neste ambiente. Podemos de certa forma
compreender que a experiência vivida na escola, na dimensão de seus pares, professores e
comunidade escolar, participa ativamente da formação da identidade do sujeito. São essas
experiências individuais ou em conjunto, que combinadas estruturam o processo de formação
de identidade no contexto do universo escolar. (DUBET; MARTUCELLI, 1996, p. 62, apud
LIMA, 2014)
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Se durante a vida escolar as crianças vão construindo as bases da sua identidade a
partir da socialização, cabe um olhar para refletirmos sobre a questão dos gêmeos neste
processo. Vieira e Branco (2010), em seu trabalho “Cultura, crenças e práticas de
socialização de gêmeos monozigóticos”, nos leva a crer que sim, pois segundo as autoras, os
grupos de socialização, tanto na escola como no ambiente doméstico, acabam de forma
imperativa influenciando na construção da identidade dos gêmeos. São as crenças dos pais,
seus valores e a forma como percebem e reagem ao comportamento dos filhos, também as
atitudes e expectativas dos professores em relação as ações que acabam por via de regra
participando na construção do próprio indivíduos, no caso na construção da identidade dos
irmãos, tanto individualmente como mutuamente.
Harris (2007, apud Vieira e Branco, 2010), ainda ressalta que as experiências dos
irmãos, que por consequência apoiam e auxiliam na construção das identidades, são
estruturadas por meio das expectativas que os grupos sociais, “professores, colegas de sala,
(…) e outras crianças com quem convivem” (Vieira e Branco, 2010a:584).
Um exemplo do exposto acima, é como as pessoas de modo geral possuem uma visão
de que a gemelaridade obrigatoriamente é um fator de aproximação entre esses irmãos. Não se
pretende discutir aqui as questões genéticas e biológicas intrinsicamente associadas aos
gêmeos, no entanto vale refletir sobre a ótica de autores como Stewart (2003) que apresenta e
defende que a gemelaridade pode ser definida como um fenômeno construído socialmente.
Neste caso, o que se pensa sobre o que é “ser irmão gêmeo” tem influência nas relações
interpessoais com esses irmãos e a partir deste pressuposto deles com o mundo. (Stewart,
2003, citada por Vieira e Branco, 2010, p 582).
Por fim, devemos também em nosso caminho de reflexão, pensarmos a respeito das
características que definem as relações gemelares. Entre várias, citamos aqui a questão da
competitividade, da comparação e do estereótipo.
Segal e Russel (1992, apud Stewart, 2003), apresentam uma outra questão além da
competitividade: a comparação. Segundo os autores a comparação é um dos motivos que
levam as escolas a optarem por manter gêmeos em classes separadas. Ela existe dentro e fora
da dimensão escolar e pode ser de natureza pedagógica ou social. Neste caso cabe aos
educadores um olhar sensível, inclusive para propor uma separação de classe se for o caso.
Neste cenário tão desafiador a questão da gemelaridade, pode e deve ser equaciona pelos
profissionais envolvidos, principalmente no que se diz respeito a educação infantil, já que a
construção social se dá de alguma forma, neste universo. Apesar do biológico, os gêmeos são
indivíduos que se veem constantemente, confrontados com as expectativas de terceiros, além
das próprias descobertas e necessidades. Logo é relevante minimizarmos essas expectativas
enfrentarmos esses desafios a partir da compreensão de que é necessário perceber os irmãos
gêmeos como os indivíduos, para além da dupla. (STEWART, 2003:268).
CONCLUSÃO
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A relações fraternas neste trabalho, apresentadas pelo prisma da gemelaridade, nos traz
uma oportunidade de refletirmos sobre o papel no educador neste contexto e também, como
podemos contribuir para a socialização dos irmãos no âmbito da educação infantil.
De fato, a gemelaridade como objeto de estudo, aparece em sua grande maioria nas
áreas da medicina e psicologia. No entanto, estas bases científicas, se cruzam com as ciências
das humanidades que nos apresentam o fenômeno dos irmãos gêmeos como um processo de
construção não só do indivíduo e das suas identidades, mas também, nos permitem um olhar
para o sujeito histórico, que se socializa e se desenvolve a partir do meio em que convive.
Ao nos depararmos com elementos deste universo, foi possível conduzir uma reflexão
sobre alguns aspectos da formação da identidade e de como as relações interpessoais são
importantes no sentido de colaborarem ou não para um desenvolvimento pleno e seguro
destes irmãos. Esta reflexão permanece quando abordamos algumas características deste
grupo, como a competitividade, a comparação e o estereótipo, uma vez que essas
características somadas ao ambiente se traduzem no comportamento e ações, que envolvem
não só os irmãos, mas também professores, amigos e comunidade escolar. Isto, nos
possibilitou uma discussão sobre a vantagem ou a desvantagem de mantermos ou não irmãos
gêmeos na mesma sala de aula, ou não, além de nos auxiliar a pensarmos nos irmãos gêmeos
como indivíduos e não como uma unidade. Embora a genética e os aspectos biológicos
estejam presentes, devemos estar alertas ao papel docente neste processo.
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