Você está na página 1de 44

PSICOLOG

IA
ESCOLAR

Márcia dos Reis Fagundes


Docente Psicologia Escolar / Especialista em Metodologia de Ensino Superior / Terapeuta Comunitário/
Psicóloga
CRP 06/83556
PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO- UMA INTRODUÇÃO DAS
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA À COMPREENSÃO
DO COTIDIANO ESCOLAR
As análises buscam mostrar as razões e questões que
levaram os trabalhos críticos à uma redefinição das
contribuições da psicologia à educação empreendidos
pelas pesquisas e reflexões de vários autores, a partir dos
anos 80.

Como nos recorda Nóvoa (1999)” aprender a relativizar


as ideias e as propostas educativas, e a percebe-las no
tempo, é uma condição de sobrevivência de qualquer
HISTÓRIA da
escolaRIZAÇÃO....
Ribeiro(2006) apresenta três
momentos da escolarização: a
escolarização feudal, a
escolarização moderna e a
escolarização contemporânea.
Escolarização feudal
Séculos X a XV, a escola não tem grande importância, uma vez
que o aprendizado de atividades produtivas e do trabalho se dá
pela transmissão, pela oralidade e convivência. Os valores e os
saberes são aprendidos pela tradição familiar.

A atividade artesanal “não exigia leitores e muito menos


escritores para
desenvolvê-la”.
Porém a atividade comercial, em plena
ascensão, exige o domínio da leitura, da
escrita e dos cálculos. Surgem as escolas de
primeiras letras e as de àbaco nas cidades
comerciais, para filhos de família mercantil.

A escolarização destina-se para poucos, cujo


ingresso acontece por volta dos 10 anos de
escolarização moderna
Sob a perspectiva de Ribeiro(2006), a sociedade
moderna situa-se entre os séculos XV e XVIII e
constrói um processo de civilização que não se
transforma a sociedade como também os
comportamentos. A luta religiosa gera a necessidade de
escolarização para um contingente muito maior.
Nesse período é escrita a Didática Magna de
Comenius. Vincula-se à igreja e às ordens religiosas,
havendo preocupação em assistir um grande número
escolarização contemporâneo
No século XVIII, manifesta-se na crise pela
instauração da escola elementar única. Esse fato
associa-se a dois movimentos: a intervenção do
Estado no oferecimento dessa escola e as forças
sociais e políticas do proletariado industrial e do
movimento socialista, cuja defesa consiste no
direito à escola, e a crítica refere-se ao acesso à
A escola pode ser considerada como uma instituição gerada
pelas necessidades produzidas por sociedades que, por sua
complexidade crescente, demandavam formação específica de
seus membros.

A escola adotou ao longo da história diversas formas, em


função das necessidades a que teria que responder, tendo
sido, em geral, destinada a uma parcela privilegiada da
população, a quem caberia desempenhar funções específicas,
articuladas aos interesses dominantes de uma dada sociedade.
A escola, tal como nós
a concebemos, tem
como finalidade
promover a
universalização do
acesso aos bens
culturais produzidos
pela humanidade,
Considerando o
percurso histórico,
percebe-se,
atualmente, a
emergência de uma
postura pedagógica
que pressupõe uma
concepção de ser no
mundo que permita
compreender os
processos de
desenvolvimento e
aprendizagem em
A trajetória da
psicologia escolar
no Brasil...
Um dos primeiros movimentos da psicologia escolar no
século XIX estava ligado aos trabalhos realizados por
Stanley Hall, nos Estados Unidos.

Dentre eles, destacam-se a publicação de um artigo no ano


de 1882 sob o título: "O conteúdo da mente das crianças
quando ingressam na escola", e o surgimento de clínicas e
revistas de divulgação de pesquisas ligadas, principalmente,
à área da psicometria e da psicologia experimental.
(Pfromm Netto, 2001).
No cenário europeu, sobressaía a Psicologia
Escolar desenvolvida na França, caracterizada
principalmente pela intervenção psicológica junto
aos alunos com necessidades escolares especiais e
pelos trabalhos desenvolvidos por Alfred Binet,
que focalizava, dentre outros objetivos, o
desenvolvimento de instrumentos psicométricos
capazes de avaliar a inteligência humana (Gomes,
2004).
O surgimento em 1906
do Laboratório de
Psicologia
Experimental no Rio
de Janeiro, planejado
por Alfred Binet e
Manoel Bomfim, em
Paris, vem atestar a
preocupação de
A Psicologia Escolar norte-americana e a francesa
configuraram-se como as duas principais fontes de
influência na área por todo o mundo, inclusive no Brasil.
A esse respeito, Campos e Jucá (2006, p.37)
comentaram: "(a psicologia escolar no Brasil) se
configurou menos como ciência experimental, voltada
para a pesquisa básica, produção de conhecimentos, e
mais como um campo de aplicação na medicina e na
educação.
Cruces (2006, p.20) destacou que "a psicologia desenvolveu-se
no Brasil principalmente para atender problemas da educação,
sobretudo a formação de professores", mas não como área
específica de atuação em psicologia escolar (Campos & Jucá,
2006).

Nessa perspectiva, foram criados, em vários estados brasileiros,


laboratórios de psicologia ligados às escolas normais, onde eram
desenvolvidas pesquisas junto aos alunos com necessidades
especiais e dificuldades de aprendizagem (Antunes, 1999).
No início da psicologia escolar no Brasil, evidenciou-se o
caráter clínico e terapêutico das intervenções realizadas;
vale destacar, nesse sentido, o livro de Franco, datado do
ano de 1915 e intitulado "Noções de pedagogia
experimental", que, além de trazer reflexões sobre as
capacidades mentais elementares, apresentava definições
de retardatários escolares e comentários acerca da
educação especial de deficientes visuais e auditivos em
consonância com estudos de Binet, Simon e Pestalozzi
(Pfromm Netto, 2001).
Também no início do século XX, Clemente Quaglio
realizou pesquisa sobre deficiência mental em
escolares, utilizando instrumento de medição da
inteligência desenvolvido por Binet e Simon.
Laboratórios de psicologia espalhados pelo país
produziram diversas pesquisas com foco na medição
do desenvolvimento mental, aprendizagem e
maturidade para leitura e escrita por meio de testes
(Gomes, 2004).
O avanço das discussões propiciou, no final dos anos de 1980
e início da década de 1990, a criação da Associação
Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE).

A entidade vem contribuindo, desde então, com a divulgação


de reflexões acerca da identidade do psicólogo escolar, dos
conhecimentos psicológicos que se aplicam à área e das
possibilidades de atuação em espaços educacionais.
Recentemente, a partir do ano 2000, observou-se
o avanço da discussão teórica acerca da atuação
do psicólogo escolar. Dentre os temas
contemplados estão a atuação institucional, a
participação do psicólogo escolar na formação de
professores e na elaboração do projeto político
pedagógico da escola e experiências de estágios
baseadas em metodologias de pesquisa-ação.
Reflexões em
Psicologia Escolar
na Atualidade
Maluf (2001, p.65) afirmou:
É preciso reconhecer que a psicologia convive, neste
início de um novo século, com paradigmas diversos
inspirados por diferentes concepções do real ...
convivemos com profundas discordâncias a respeito
do estatuto do saber científico. Este é, em nosso
entender, um dos muitos desafios que enfrenta o
psicólogo e mais especificamente o psicólogo que
trabalha no campo da educação.
Uma primeira questão refere-se à divergência de
entendimento sobre os termos Psicologia Escolar
e Psicologia Educacional. Para alguns estudiosos,
trata-se de áreas com especificidades distintas:
uma relacionada à produção de conhecimentos
psicológicos que se direcionam à educação, e
outra, à aplicação dessas construções teóricas
junto à comunidade escolar.
PSICOLOGIA
ESCOLAR
X
PSICOLOGIA
EDUCACIONAL
Abordar a história,
os compromissos e as
perspectivas da
Psicologia Escolar e
Educacional
significa tratar de
dimensões
fundamentais de seu
estatuto como área
de conhecimento
articulada a um
Entendemos educação como
prática social
humanizadora, intencional,
cuja finalidade é transmitir
a cultura construída
historicamente pela
humanidade. O homem não
nasce humanizado, mas
torna-se humano por seu
pertencimento ao mundo
histórico-social e pela
incorporação desse mundo
Relações entre
Psicologia e
Educação no
Brasil: uma breve
história
A história da Psicologia Escolar e Educacional no
Brasil pode ser identificada desde os tempos coloniais,
quando preocupações com a educação e a pedagogia
traziam elaborações sobre o fenômeno psicológico.

Massimi (1986; 1990), ao estudar obras produzidas no


período colonial, no âmbito da filosofia, moral,
educação e medicina, entre outras, identifica temas
como: aprendizagem, desenvolvimento, função da
família, motivação, papel dos jogos, controle e
No século XIX, ideias
psicológicas articuladas
à educação foram
também produzidas no
interior de outras áreas
de conhecimento,
embora de maneira mais
institucionalizada. No
campo da pedagogia,
escolas normais (criadas
a partir da década de
Em meados do século, essa preocupação
torna-se mais sistemática e frequente e, nos
anos finais desse mesmo século, é possível
perceber a incorporação de conteúdos que
mais tarde viriam a ser considerados como
objetos próprios da psicologia educacional,
com particular interesse por temas
anteriormente estudados, como
aprendizagem e desenvolvimento, mas
Deve-se destacar,
no âmbito oficial, a
Reforma Benjamin
Constant, de 1890,
que transformou a
disciplina filosofia
em psicologia e
lógica, que, por
desdobramento,
gerou mais tarde a
disciplina
pedagogia e
As escolas normais passaram a ser o principal centro de
propagação das novas ideias, baseadas nos princípios
escolanovistas, com vistas à formação dos novos
professores, encarregando-se do ensino, da produção de
obras e do início da preocupação com a produção de
conhecimentos por meio dos então inaugurados
laboratórios de psicologia, fatores estes que deram as
bases para as reformas estaduais de ensino promovidas
nos anos 1920 e foram por estas potencializados.
Pode-se afirmar que o processo pelo qual a
psicologia conquistou sua autonomia como área
de saber e o incremento do debate educacional
e pedagógico nas primeiras décadas do século
XX estão intimamente relacionados, de tal
maneira que é possível afirmar que psicologia e
educação são, historicamente, no Brasil,
mutuamente constituintes uma da outra.
O período seguinte, a partir da década de 1930, caracteriza-se pela
consolidação da psicologia no Brasil e tem como base a estreita
relação estabelecida entre essa área e a educação. Os campos de
atuação da psicologia que se desenvolveram a partir dessa época,
tornando-se campos tradicionais da profissão, como a atuação
clínica e a intervenção sobre a organização do trabalho, tiveram
suas raízes na educação, respectivamente pela criação dos Serviços
de Orientação Infantil nas Diretorias de Educação do Rio de
Janeiro e de São Paulo e da Clínica do Instituto Sedes Sapientiae,
com a finalidade de atender crianças com dificuldades escolares, e
pela Orientação Profissional, dentre outras ações educacionais, no
campo do trabalho.
Muitos foram os
trabalhos realizados pela
psicologia no âmbito da
educação, dentre os
quais:
 Serviço de Psicologia Aplicada do Instituto
Pedagógico da Diretoria de Ensino de São
Paulo;

 Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais e,


posteriormente, Sociedade Pestalozzi do Brasil;

 "Escola para Anormais" em Recife;


 Atividades realizadas no INEP, particularmente com a
utilização de testes psicológicos;

 Criação das Clínicas de Orientação Infantil; o trabalho


desenvolvido por Helena Antipoff na Escola de
Aperfeiçoamento de Professores e na Fazenda do Rosário;

 Instituto de Seleção e Orientação Profissional - ISOP-


FGV;
 Trabalhos desenvolvidos por Ana Maria Poppovic com
"crianças abandonadas" no Abrigo Social de Menores da
Secretaria de Bem-Estar Social do Município de São Paulo;

 A fundação do Instituto de Psicologia da PUCSP,


oferecendo serviços de medidas escolares, pedagogia
terapêutica e orientação psicopedagógica;

 Muitas instituições estritamente educacionais que


desenvolviam trabalhos relacionados à Psicologia.
Nesse contexto, começam a se diferenciar, ainda que de
forma não sistemática e formal, a Psicologia
Educacional, como conjunto de saberes que pretende
explicar e subsidiar a prática pedagógica, sendo,
portanto, de domínio necessário para todos os
educadores, e a psicologia escolar, como campo de
atuação de profissionais da psicologia que atuariam no
âmbito da escola, desempenhando uma função
especifica, alicerçada na psicologia e que se caracterizou
inicialmente por adotar o modelo clínico de intervenção.
Entretanto, as relações entre educação e psicologia vão se diferenciando. De
um lado, a área da psicologia educacional, foco de interesse tanto de
pedagogos como de psicólogos, e, de outro, o campo da psicologia escolar,
como atributo específico do profissional da psicologia que atua no espaço
escolar. O conhecimento psicológico estava incorporado à Pedagogia e à
prática dos educadores e a atuação do psicólogo escolar adotava um modelo
cada vez mais clínico-terapêutico, agindo fora da sala de aula, focando sua
atenção na dimensão individual do educando e em seus "problemas",
atendendo, sobretudo, demandas específicas da escola, que encaminhava as
crianças que tinham, a seu ver, "problemas de aprendizagem" ou outras
manifestações consideradas como "distúrbios" inerentes ao próprio educando.
Pode-se falar que esse período herdou do período anterior o
que pode ser interpretado como hipertrofia da psicologia na
educação, numa tendência reducionista, que passou, na
década de 1970, a ser criticada tanto por pedagogos como por
psicólogos. Criticava-se a utilização dos testes e a
interpretação de seus resultados, que atribuía ao aluno a
determinação de seus "problemas", desconsiderando as
condições pedagógicas; o encaminhamento de alunos com
deficiência que, sob a justificativa de lhes proporcionar uma
"educação especial", relegava-os a condições aligeiradas de
ensino e sem solução de continuidade, reforçando estigmas e
preconceitos e produzindo social e pedagogicamente a
deficiência intelectual; as interpretações e ações
A educação é constituída por múltiplos determinantes, dentre os
quais os fatores de ordem psicológica; portanto, a psicologia tem
contribuição para a Educação.
Que seja uma psicologia capaz de compreender o processo ensino-
aprendizagem e sua articulação com o desenvolvimento,
fundamentada na concreticidade humana (determinações sócio-
históricas), compreendida a partir das categorias totalidade,
contradição, mediação e superação. Deve fornecer categorias teóricas
e conceitos que permitam a compreensão dos processos psicológicos
que constituem o sujeito do processo educativo e são necessários para
a efetivação da ação pedagógica.
Collares e Moyses (1997) propõe o
seguinte:
(...) é preciso aprender a olhar. Olhar o
que a criança sabe, o que ela tem, o que
ela pode, o que ela gosta(...)o
profissional busca, nestas atividades, nas
expressões que ela já adquiriu, o que
subsidia e permite estas expressões. Ao
invés de a criança se adequar ao que o
profissional sabe perguntar, este é quem
deverá se adequar às suas expressões, a
seus valores, a seus gostos. (p.85).

Você também pode gostar