Você está na página 1de 5

Absorção

Por absorção entende-se a fase inicial da indução, necessária para focalizar a atenção
do cliente. Relembrando o conceito de hipnose, a mente consciente fica absorvida em
uma sensação, sentimento, percepção ou ideia, enquanto a mente inconsciente elicia
fenômenos hipnóticos que levam o sujeito a experienciar algo “magnífico”,
diferentemente do estado de vigília. Por isso, utilizamo-nos de técnicas de absorção para
fazer o transe hipnótico.

De acordo com Zeig, a linguagem utilizada para a indução tem relevância neste
momento por absorver a atenção e focalizá-la de algum modo. O que precisamos neste
estágio é promover a dissociação, quando o sujeito sairá do estado de vigília para um
estado “alterado” (no bom sentido) de consciência.

Existem vários métodos para se fazer absorção:

1. Você pode absorver pela percepção: visual, auditiva, cenestésica, interna, externa.
Pela percepção visual, podemos citar a técnica de fixação em um ponto, quando externa.
Quando interna, visualizações mentais de uma imagem, lugar ou cor. Pela percepção
auditiva, fazendo o cliente perceber os sons do ambiente, ou por meio de música. Pela
percepção cenestésica, fazendo-o perceber suas sensações físicas, tônus muscular, calor,
temperatura, conforto etc. E você pode misturar um pouco de cada percepção (visual,
auditiva, cenestésica), dando preferência em começar por aquele que é predominante
para o seu sujeito hipnótico. O mesmo ocorre em relação a focalizar sua atenção ao
meio externo, ou ao seu mundo interno, conforme o critério de avaliação que veremos à
frente.

2. Você pode absorver, descrevendo detalhes. Este método consiste em descrever


minuciosamente detalhes de coisas (focalização de um ponto), sensações (em
percepções visuais, cenestésicas e auditivas) e ideias, de forma que se possa enfocar a
atenção do sujeito.

3. Por meio de possibilidades. Uma forma de colocar em palavras muitas possibilidades,


mas, em todas, estará implícita a ideia de que você entrará em transe. Exemplo: Talvez
você possa entrar em transe sentindo seu corpo acomodado ao sofá... Ou talvez você
possa ouvir os pássaros cantando lá fora... Ou talvez você possa apreciar, sentir sua
respiração... Enquanto encontra à sua maneira de entrar em transe.

4. Usando métodos não verbais. A sua forma de olhar para o chão, de se posicionar
confortavelmente em sua cadeira, ou inspirando profunda e confortavelmente.

5. Você pode absorver, usando a dissociação. É uma forma de usar a linguagem


dissociando parte da conversa para a mente consciente, parte para a mente inconsciente.

6. Você pode absorver por meio de um determinado fenômeno hipnótico. Temos como
exemplo a levitação das mãos, a hipermnésia na lembrança de uma memória etc.

Técnicas de linguagem para a montagem da absorção:


Truísmos
Yes set - Conjunto de Sim/A/o set - Conjunto de Não
Pressuposições
Injunções simbólicas
Dissociação entre mente consciente e mente inconsciente
Comando embutido
Possibilidades
Citações
Causalidade implícita
Imagens e fantasias.

Truísmos — são verdades incontestáveis que ajudam a absorver a atenção do cliente.

Exemplos externos:

Você pode ir ouvindo os barulhos que vêm da rua.


Você pode observar cada detalhe do ponto que está focando.
Você pode sentir o sofá no qual está sentado.

São exemplos internos:


Você pode sentir como sua respiração acontece agora, em você...
Você pode perceber a tensão do seu corpo...
Você pode perceber cada lágrima que corre como algo que vem de dentro de você...

Yes set — é o conjunto de três truísmos, que são significativos, com uma afirmativa para
entrar em transe. É como se a pessoa fosse falando sim a cada afirmativa colocada.
Depois de três afirmativas, você faz uma pressuposição de algo que você deseja guiar
para absorvê-la no transe.

Por exemplo:

Você pode perceber seu corpo confortavelmente recostado no sofá... (1)


Você pode perceber seus pés apoiados ao chão... (2)
Você pode perceber sua cabeça também apoiada... (3)
E, desta maneira, você pode “apoiar” agora seus pensamentos confortavelmente (a
verdade pressuposta). (4)

O número quatro não é um truísmo, mas a pessoa já vem dizendo sim a cada passo, que
acaba por seguir o mesmo movimento e se guia por estas novas palavras pela “lei da
inércia”.

Há também o no set, que segue o mesmo princípio e é utilizado principalmente para


pessoas dominantes, que gostam de comandar seu próprio transe.

No set — é um conjunto de nãos, igual a como você faz o conjunto de sins.


Por exemplo:
Eu não sei o que você está sentindo agora...
Eu não sei o que você está ouvindo agora...
Talvez o som do aparelho do ar condicionado, ou dos pássaros...
Eu também não sei o que você está pensando agora...
Mas o que eu sei é que você pode sentir, ouvir e pensar alguma coisa que lhe faça
muito bem agora...

Pressuposições — o nome já diz que, por meio de uma forma de linguagem, você vai
pressupor que alguma coisa acontecerá.
Por exemplo: Eu não sei dizer qual será a profundidade do seu transe. Ou talvez você
possa entrar em transe sentindo o conforto do sofá... Eu não sei dizer quando você se
sentirá mais confortavelmente relaxado...
As pressuposições serão criadas a partir daquilo que você deseja que o cliente faça
(relaxar/respirar/imaginar).

Injunções simbólicas — são mensagens implícitas usando provérbios e expressões


idiomáticas, como, por exemplo: Abra os seus olhos internos... Respire aliviado...

Dissociação entre mente consciente e mente inconsciente — é uma forma de linguagem


que manda uma fala (ordem) à mente consciente e, em seguida, outra fala complementar
à mente inconsciente, com mudança na entonação de voz (mais suave), quando se dirige
à segunda. O paciente fica dividido e se distrai, além de mandar uma metamensagem.
Esta é uma forma importante de indução do transe.

Possibilidades — utilizando as muitas possibilidades de absorver a atenção do cliente


em detalhes, sensações, sentimentos, ideias. Talvez você possa sentir seus pés... Talvez
você possa sentir seu corpo se suavizando... Ou talvez você possa perceber sua cabeça
se soltando... Se suavizando.

Citações — são relatos ou citações de situações ou fala de alguém. Exemplo: “Eu tive
um cliente que, ao me ver respirar profundamente, já fechava seus olhos e entrava em
transe”.
“Um professor meu dizia: Quando a gente fecha os olhos, respira profundamente, um
novo fôlego sempre vem acompanhado de uma nova inspiração.”

Causalidade implícita - usando das pressuposições com advérbios específicos. “À


medida que você inspira profundamente, permite-se abrir um novo espaço.”
“Se você pode soltar seu corpo no sofá, então pode soltar outras partes suas.”
“Quando você fecha os olhos para fora, então pode abrir seus olhos internos, os
olhos da mente.”

Imagens e fantasias - você descreve imagens, paisagens, fantasias com detalhes que
absorvam a atenção do sujeito.

Assim, utilizando-se de uma linguagem variada, pode fazer o sujeito perceber o mundo
e o seu mundo interno e se absorver em algum ponto específico. Você fará com que a
pessoa fique imersa em detalhes e possibilidades de ter uma sensação, uma percepção,
uma fantasia, uma memória, um fenômeno hipnótico, ou formas combinadas destes.

Ratificação
Ratificar significa dar ao cliente um feedback daquilo que se observa ao vê-lo entrar em
transe, para ele saber que está indo bem, que está conseguindo uma boa resposta na sua
tentativa de se colocar em transe. E dizer as mudanças fisiológicas que você vai
observando na pessoa. Isto aumenta a confiança e aprofunda o transe. “Se eu estou indo
bem, posso continuar caminhando em frente.” Você observa e fala ao sujeito sobre as
mudanças que você notou. Elas fazem parte da constelação hipnótica:

Economia de movimentos — catalepsia


Literalismo
Demora nas respostas
Mudança no reflexo de deglutição
Alterações e diminuição do ritmo respiratório e cardíaco
Relaxamento muscular
Mudanças nos olhos:
Reflexo de piscar
Dilatação das pupilas (midríase)
Lacrimejamento
Desfocalização, olhar vago
Movimentos sacádicos (do globo ocular)
Decréscimo ou mudança nos movimentos de orientação
Perseveração
Fasciculação
Assimetria direito/esquerdo
Mudanças na circulação periférica
Aumento da responsividade
Movimentos ideomotores/ideossensórios.

As palavras são ditas da seguinte maneira:

À medida que eu fui falando com você...”


ou
“... Enquanto eu tenho falado com você... certas mudanças ocorreram... sua respiração
mudou, seu ritmo de pulsação se modificou... há pequenos movimentos nos seus
dedos...”

Eliciação
Eliciar é fazer alguma coisa acontecer. E o momento-chave, quando a terapia acontece.
É aqui que vamos trabalhar as mudanças, pois os fenômenos hipnóticos já estão
presentes, dando nós o acesso mais rápido ao inconsciente. Podemos nos utilizar destes
fenômenos ou de técnicas especiais que veremos logo à frente quando falarmos do
metamodelo, do diamante de Milton Erickson. Como eliciar um fenômeno hipnótico,
como utilizar o material magnífico do inconsciente e produzir mudanças? E aqui que
vamos introduzir as técnicas de fazer metáforas, utilizar a levitação das mãos, induzir
sonhos, distorcer o tempo, promover regressão, progressão, amnésia. A terapia ocorre o
tempo todo, mas o processo tem sua fase de elaboração neste ponto.
Pacing e leading

Dentro da abordagem de Milton H. Erickson, encontramos uma técnica peculiar.


Erickson só dava o passo do tamanho que o cliente podia acompanhar. Caso ele desse
uma sugestão, um comando um pouco mais arrojado, ao qual o cliente não seguia, ele
logo voltava atrás, dando um passo bem pequeno para que o sujeito pudesse
acompanhar.

Pacing pode ser traduzido por acompanhamento passo a passo de pequenas dicas que
o cliente lhe dá de que está entrando em transe. E você segue. Assim, por exemplo, se
você respirar profundamente e o cliente o acompanhar, siga em frente. Você pode pedir
que feche os olhos e assim por diante. Você vai dando pequenos passos de absorção e
observando se o cliente consegue realizá-los. Observe a responsividade e crie passos
que ele possa seguir. Você trará confiança à indução e estará fazendo o pacing.

O leading é o guiar ao complemento. É aquela frase que, após dar uns passos, você
coloca, guiando para uma nova direção, ressignificando.

Podemos dar o seguinte exemplo:

Io) Pacing. “Você pode respirar fundo” - espere; se a pessoa o fez, continue.
2o) Pacing. “Você pode acomodar-se na cadeira” — espere e veja se a pessoa o fez.
3o) Pacing. “Você pode fechar seus olhos” — se o fez, passe ao “leading”.
4o) Leading. “Então você pode acomodar seus sentimentos suavemente.”

Você também pode gostar