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RELATÓRIO DE ATIVIDADES
1º ANO DE FORMAÇÃO - 2020
DEPARTAMENTO DE NEUROCIÊNCIAS
DIRETOR DE SERVIÇO DE PSIQUIATRIA E SAUDE MENTAL: PROF. DR. LUIS CÂMARA PESTANA
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2
O SERVIÇO DE PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL DO HOSPITAL DE SANTA MARIA ................. 3
O INTERNATO MÉDICO DE PSIQUIATRIA ...........................................................................12
ATIVIDADE CLÍNICA ...........................................................................................................15
INTERNAMENTO.....................................................................................................................15
CONSULTA EXTERNA ..............................................................................................................23
SERVIÇO DE URGÊNCIA ..........................................................................................................26
ATIVIDADE CIENTÍFICA E FORMATIVA ...............................................................................29
FORMAÇÕES E SESSÕES CLÍNICAS ..........................................................................................29
CURSOS E WORKSHOPS ..........................................................................................................30
ARTIGOS CIENTÍFICOS ............................................................................................................31
ATIVIDADES EM CURSO ..........................................................................................................31
REFLEXÃO CRÍTICA ............................................................................................................32
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................33
ANEXOS ............................................................................................................................34
1
INTRODUÇÃO
De facto, este interesse milenar não é surpreendente, uma vez que a busca pela
compreensão dos processos obscuros da mente e a tentativa de modificá-los é, essencialmente,
a busca por nós próprios enquanto Homens (e Mulheres). Desta forma, a psiquiatria também
capturou-me desde cedo nas suas rédeas, com toda a sua profundidade repleta de cadafalsos e
fogos-fátuos, de subtis iluminações e vislumbres de novos horizontes. Percebi, não muito
tardiamente no meu percurso na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, que a
psiquiatria era realmente a única especialidade que capturava todo o meu entusiasmo, sendo a
minha única hipótese de escolha como especialidade. Felizmente, não necessitei de ir para
muito longe para continuar a minha formação, e não me arrependi em nenhum momento desta
opção.
Ao longo deste ano, compreendi que a psiquiatria está, em parte, ainda a tatear no
escuro; contudo, apesar de não termos encontrado a chave da hipotética porta que esclarecerá
todas as nossas questões, e que talvez nunca a encontremos de facto, sinto que estamos a trilhar
o caminho correto. Há um certo heroísmo, se me for permitida a vaidade em tal afirmação, em
todos os psiquiatras: apesar de não saberem a resposta para todos os problemas que lhes são
trazidos constantemente pelos seus pacientes, esforçam-se em ajudá-los o melhor que podem,
com todo conhecimento lentamente destilado ao longo do tempo. Talvez estejam realmente
fadados em parte a um fracasso eterno, se de facto não for possível ascender ou descender a
uma Verdade derradeira – como defendia Nietzsche –, mas continuam os psiquiatras a sua
busca, dia após dia, geração após geração, como homens na caverna de Platão que, apesar de
se encontrarem ainda parcialmente às cegas, ao menos não se contentam apenas em observar
passivamente as sombras na parede.
2
O SERVIÇO DE PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL DO
HOSPITAL DE SANTA MARIA
História do Serviço3,4
Previamente à abertura do Hospital de Santa Maria (HSM), iniciou-se, no antigo Hospital
Escolar de Santa Marta, a então denominada “Consulta de Neuroses”, sob a coordenação do
Prof. Doutor Barahona Fernandes. Estava ligada ao Serviço de Neurologia e destinava-se a dar
resposta às patologias causadas por processos não orgânicos.
Dois anos após a inauguração do HSM, em 1955, teve então início a consulta externa de
“Neuroses” neste hospital, funcionando em regime de ambulatório e ligação aos restantes
serviços. Estava sob a alçada do Prof. Doutor Henrique João de Barahona Fernandes e tinha
como colaboradores o Prof. Doutor João Fragoso Mendes, o Prof. Doutor Eduardo Luís Cortesão,
o Prof. Doutor Simões da Fonseca, o Dr. Manuel Paes de Sousa, o Dr. João França de Sousa, o
Dr. Guilherme Ferreira, entre outros. Em 1957 foi inaugurado o Hospital de Dia (atual Hospital
de Dia Programa A), uma unidade de internamento reservada apenas ao período diurno,
surgindo subsequentemente um serviço de internamento a tempo completo, que funcionava
no espaço físico do Hospital Júlio de Matos (HJM). Esses serviços, em conjunto, constituíram a
Clínica Psiquiátrica Universitária da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL).
No final da década de 1960s foi aberto o piso 3 no HSM para hospitalização de casos
psiquiátricos agudos, expandindo-se para o piso 4 passados 4 anos. Assim, o Serviço de
Psiquiatria e Saúde Mental tornou-se o primeiro serviço de Psiquiatria num hospital geral em
Portugal.
- Prof. Doutor José Luís Simões da Fonseca (1986 a 1989 e 1993 a 2002)
3
O Serviço nos dias de hoje4
No ano de 2004, é criado o Departamento de Neurociências e Saúde Mental do Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN) – constituído pelo HSM e pelo Hospital Pulido
Valente (HPV) –, no qual está atualmente integrado o Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental.
Fisicamente, o serviço está situado na chamada “torre de neurociências”, distribuindo-se pelos
pisos 1, 3 e 4. Ao longo dos anos, foram criadas diversas unidades, atendendo às crescentes
necessidades da população e à própria evolução assistencial da especialidade de Psiquiatria.
Atividade Assistencial
O sistema Livre Acesso e Circulação de Utentes no SNS (LAC) aprovado pelo Despacho
n.º 5911-B/2016, de 3 de maio, permite ao utente optar por qualquer uma das unidades
hospitalares do SNS onde exista a consulta de especialidade de que necessita5. O LAC não se é
aplicável no que se refere ao internamento. Por conseguinte, este destina-se exclusivamente
aos doentes residentes nas freguesias lisboetas de Alvalade, Avenidas Novas, Benfica,
Campolide, Carnide, Lumiar, São Domingos de Benfica e Santa Clara. São também internados os
doentes provenientes da área de referenciação do Centro Hospitalar do Oeste (Unidade sediada
em Caldas da Rainha – Alfeizerão, Benedita, S. Martinho do Porto, Bombarral, Caldas da Rainha,
Óbidos e Peniche). Adicionalmente a destes doentes, existe um protocolo com o Hospital Beatriz
Ângelo (HBA), que dita que os doentes pertencentes à área dessa instituição serão internados
no HSM nos períodos em que esta não tenha vagas.
4
Unidades de Dia
Estas unidades têm 4 objetivos fundamentais: a atividade assistencial clínica, formativa
e de investigação em hospitalização a tempo parcial; o desenvolvimento de intervenções
terapêuticas específicas e adaptadas; a promoção da autonomia e da integração familiar, social
e laboral; o tratamento de doentes psiquiátricos em fase subaguda e crónica. Funcionam todos
os dias úteis, entre as 9 e as 16 horas. Devido à pandemia, contudo, as atividades presenciais
tiveram de ser interrompidas, sendo realizadas através de plataformas virtuais.
Iniciada em 2015, sob coordenação do Prof. Doutor Carlos Góis, esta unidade direciona-
se essencialmente a doentes com doença mental grave resistente a múltiplas intervenções ou
em estado subclínico pós-internamento com elevado risco de recaída. Tem como objetivo a
melhoria da consciência da doença, a promoção da adesão terapêutica com envolvimento da
família e redução dos episódios de reinternamentos. Tem capacidade para 6 doentes, e a equipa
multidisciplinar é composta pelo Prof. Doutor Carlos Góis, internos de Psiquiatria, uma psicóloga
clínica, uma enfermeira e uma terapeuta ocupacional.
Unidade de Adolescentes
Esta unidade teve início em 2009 e é coordenada, como referido, pela Dr.ª Nazaré
Santos. Destina-se ao tratamento e manejo de adolescentes dos 15 aos 21 anos, através de uma
intervenção sistémica e psicodinâmica, mantendo os jovens na família e na comunidade. Tem
diversas atividades, nomeadamente consultas individuais, grupos terapêuticos, grupos de pais,
5
terapias familiares e terapias expressivas. A equipa é composta por uma equipa multidisciplinar
de psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e uma assistente social.
Consulta Externa
6
• Intervenção Psiquiátrica em Oncologia (realizada pela Dr.ª Licínia Ganança às quintas-
feiras no período matinal)
Serviço de Urgência
A Urgência de Psiquiatria é coordenada pelo Prof. Doutor Carlos Góis desde março de
2017; no ano de 2021, contudo, passará a ser coordenada pelo Dr. João Miguel Pereira e pela
Dr.ª Manuela Abreu. Este serviço abrange a urgência externa e interna, funcionando
ininterruptamente todos os dias da semana.
Desde 2013 que integra a Urgência Metropolitana de Lisboa, juntamente com o Centro
Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, cuja urgência externa se localiza no Hospital de São José. A
Urgência Metropolitana de Lisboa define-se como “local de atendimento urgente no período
noturno em serviço de urgência polivalente na cidade de Lisboa, que concentra recursos e
especialidades médicas e cirúrgicas. Para além de receber os doentes da sua área de
referenciação direta, recebe por referenciação inter-hospitalar, todos os doentes urgentes da
Região de Lisboa e Vale do Tejo, da Região do Alentejo e do Algarve.”6
Psiquiatria Comunitária
Coordenada pela Dr.ª Manuela Silva, esta unidade propõe-se a prestar cuidados aos
doentes psiquiátricos na comunidade, facilitando a sua adesão terapêutica, a articulação com
psiquiatra assistente e a reinserção psicossocial. Existem essencialmente três meios através do
qual são atingidos estes objetivos:
- Articulação com os cuidados de saúde primários pertencentes ao ACES Lisboa Norte (através
de consultoria clínica e psicossocial com deslocação de psiquiatras, psicólogos, assistentes
sociais e terapeutas de referência para supervisão com os técnicos de saúde dessas instituições);
7
mantendo sempre articulação com o psiquiatra assistente. São também responsáveis pelo
treino de competências de vida diária e pela procura de meios que conduzam à reinserção social.
Psiquiatria de Ligação
A Psiquiatria de Ligação é coordenada atualmente pelo Prof. Doutor Carlos Góis. Trata-
se de uma equipa multidisciplinar que inclui médicos e psicólogos, destinando-se à observação
não urgente de doentes internados no CHULN. Os pedidos de parecer são efetuados através de
um formulário eletrónico, e as avaliações realizados num período de até 48 horas após sua
receção.
Equipa da adolescência
Coordenada pelo Dr. Arlindo Ralas, esta unidade dedica-se à realização de exames
médico-legais. Estes documentos periciais são solicitados pela autoridade judicial por
intermédio do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, sendo realizada pelos
assistentes hospitalares do serviço de Psiquiatria. Os exames podem ser solicitados para
averiguação de capacidade civil, responsabilidade penal, regulação do poder parental e
avaliação psiquiátrica para determinação de internamento compulsivo tutelar.
8
Núcleos Clínico-Científicos
Núcleo de Gerontopsiquiatria
O NETER é coordenado pela Dr.ª Fátima Ismail. A equipa é também constituída de forma
permanente pelo Prof. Samuel Pombo e pela Enf.ª Cândida Urbano. Tem o objetivo de tratar,
estudar e investigar a Perturbação de Uso do Álcool. Simultaneamente, é responsável pela
formação de internos de Psiquiatria, Medicina Geral e Familiar e de estagiários de Psicologia.
Sob a coordenação do Dr. Ricardo Coentre, este programa procura assegurar cuidados
assistenciais diferenciados a doentes até aos 35 anos com primeiro episódio psicótico, aceitando
pontualmente doentes com idade acima desta faixa etária. A sua intervenção é feita em duas
vertentes. Durante o internamento (realizado preferencialmente na Equipa 4B), através da
avaliação clínica psiquiátrica, e com recurso a várias escalas de sintomas e a um protocolo que
compreende uma vasta gama de exames complementares de diagnóstico; e no ambulatório,
através da consulta externa e intervenções familiares. Dedica-se também ao estudo e
investigação destes quadros.
9
Núcleo de Utilização Problemática da Internet
Em funcionamento desde 2014, a consulta externa deste núcleo é coordenada pelo Prof.
Dr. Luís Câmara Pestana e pela Dr.ª Rita Barandas, e dirige-se a jovens a partir de 15 anos de
idade com uso patológico de internet e jogos de vídeo. Visa avaliar o seu impacto no
comportamento e na saúde mental, com posterior diagnóstico e tratamento. Pretende também
caracterizar em termos sociodemográficos e psicopatológicos os utentes que a ela recorrem.
Coordenado pelo Prof. Dr. Luís Câmara Pestana e pela Dr.ª Susana Loureiro, funciona
em colaboração com os Serviços de Neurologia e de Neurocirurgia. É responsável pela avaliação
dos candidatos à cirurgia de epilepsia, por detetar esta importante comorbilidade psiquiátrica e
verificar a capacidade do doente de dar o seu consentimento informado para a realização da
cirurgia. É também responsável pelo acompanhamento pós-operatório.
Consulta de Toxicodependências
Atividade Docente
O Serviço presta formação a diversos níveis:
10
- No ensino pós-graduado, o Serviço colabora na organização de vários cursos e
mestrados.
Atividade de Investigação
11
O INTERNATO MÉDICO DE PSIQUIATRIA
- Estágio de formação em Psiquiatria (48 meses) que se subdivide nos seguintes estágios
obrigatórios:
h) Estágio em Primeiro
- Estágios opcionais — 6 meses: cada estágio opcional tem a duração mínima de 3 meses
e pode ser efetuado em qualquer uma das áreas ou estágios anteriormente mencionados ou em
outras áreas, nomeadamente reabilitação psiquiátrica, sexologia, perturbações do
comportamento alimentar ou psicologia médica.
12
d) Quarto ano — Avaliação global do doente em todo um contexto biopsicossocial, com
propostas de atuação, se for caso disso, nas estruturas sociais da comunidade e nos serviços de
reabilitação e de formação profissional.”
13
Organização do Internato
Penso que o plano traçado seja flexível, de forma a albergar espaço para o surgimento
de novas áreas de interesse. São assim deixados espaços lacunas por preencher, para estágios
opcionais em áreas que me poderão vir a interessar. Ambiciono também realizar um estágio no
estrangeiro, em local e área igualmente por definir, dentro dos meus interesses.
1º Ano
12 meses – Estágio em Internamento masculino e feminino
2º Ano
4 meses – Estágio em Hospital de Dia A
3º Ano
3 meses – Estágio em Psiquiatria de Ligação
4º Ano
3 meses – Estágio em Perturbações do Comportamento Alimentar
5º Ano
3 meses – Estágio em Gerontopsiquiatria
14
ATIVIDADE CLÍNICA
INTERNAMENTO
15
sendo desta forma confrontado com diferentes formas de praticar psiquiatria. Tornou-se-me
rapidamente evidente que existem inúmeras abordagens distintas à entrevista e à colheita de
história clínica, e que a discussão diagnóstica entre os vários membros da equipa não é apenas
edificante do ponto de vista formativo mas essencial para uma abordagem mais subtil e
completa do utente.
A seguir, realiza-se uma nova anamnese e exame do estado mental junto à cabeceira do
leito reservado ao utente no internamento. Muitas vezes, este passo é realizado em conjunto
pela equipa pela qual o paciente foi distribuído, que inclui um médico assistente e pelo menos
um interno de especialidade. Desta maneira é possível então realizar a discussão clínica e
decidir, juntamente com os outros membros da equipa e atendendo a toda a panóplia
informativa supracitada, quais as hipóteses diagnósticas que mais se adequam ao quadro e qual
plano terapêutico a ser instituído. É também realizada uma projeção – ou esboço – da evolução
expectável do quadro clínico e do plano provável após a alta do utente: é assim possível agilizar
o contacto com as assistentes sociais nos casos em que tal apoio é necessário, assim como
planear-se a eventual instituição de terapêutica injetável de longa duração.
16
Como já referido, os 12 meses passados em internamento foram infelizmente marcados
pela situação de pandemia, que limitou alguns aspectos do funcionamento normal da unidade.
De modo a assegurar a proteção dos médicos assistentes e dos internos, institui-se
primeiramente um modelo rotativo em que se dividiram os profissionais de cada serviço por
equipas que deviam alternar-se bissemanalmente. Contudo, de modo a proteger os internos do
primeiro ano de exporem-se desnecessariamente à infecção pelo novo coronavírus, institui-se
que estes não deveriam fazer parte das equipas de internamento durante o período de
contingência. Cabe-me aqui primeiro observar a diligência absolutamente louvável da Direção
de Serviço em relação à saúde dos seus profissionais: senti-me, desde o início da pandemia,
muito seguro e protegido, o que ajudou-me pessoalmente a ultrapassar a fase de grande
incerteza por todos sentida no início da quarentena. Não obstante, tornou-se-me evidente
também que, apesar de benéfica para a minha própra saúde mental, a suspensão das minhas
atividades em intenamento durante quase dois meses (Abril e Maio) foram prejudiciais ao meu
percurso formativo. Aproveitei este tempo potencialmente ocioso para estudar psicopatologia
conforme o preconizado para o primeiro ano de internato, porém ficou-me rapidamente claro
que a instrução académica divorciada da prática clínica é facilmente superficial e pouco
edificante.
17
Apresentação e análise dos doentes seguidos em internamento
14
12
12
10 10
10
10
6
5
4
4
3
2
2
1
0
<20 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 >80
Como podemos observar, a maioria dos doentes encontravam-se na faixa etária dos 30
aos 59 anos de idade. Estes valores são sensivelmente sobreponíveis aos relatados num estudo
realizado num serviço de psiquiatria italiano8.
18
A média de escolaridade dos utentes era de 11 anos, variando desde um mínimo de 4
anos de escolaridade até 18 anos. De todos os pacientes, 9 (19.15%) não haviam completado o
9º ano de escolaridade, e 17 (36.17%) não haviam completado o 12º ano de escolaridade.
Apenas 11 (23.40%) completaram o ensino superior. A média de idade dos utentes que não
haviam completado o 9º ano era de 48.78 anos, valor que não difere de forma relevante da
média etária total.
No que toca ao estado civil, 26 pacientes (55.32%) eram solteiros, 10 (21.28%) eram
casados ou em união de facto, também 10 (21.28%) eram divorciados, e apenas 1 (2.13%) era
viúvo.
Em relação ao agregado familiar, a maioria dos utentes viviam com a família de origem,
sendo 17 (36.17%) ao todo. 12 utentes (25.53%) viviam com a segunda família, e também 12
(25.53%) viviam sozinhos. De resto, 3 pacientes (6.38%) viviam em situação de sem-abrigo, 2
(4.25%) partilhavam a casa com amigos e apenas 1 (2.13%) vivia com a primeira e com a segunda
família na mesma residência. Importa referir que todos os doentes sem situação de sem-abrigo
possuíam diagnóstico de perturbação psicótica, um com esquizofrenia paranóide, outro com
esquizofrenia desorganizada e ainda outro com perturbação delirante crónica.
No que diz respeito à área de residência, a maior parte dos doentes era proveniente da
área de referenciação do Centro Hospitalar Lisboa Norte, sendo ao todo 40 (85.11%) utentes.
Dos restantes, 3 (6.38%) eram da área de referência do Hospital Beatriz Ângelo, também 3
(6.38%) do Centro Hospitalar do Oeste, e apenas 1 (2.13%) do Centro Hospitalar Universitário
do Porto.
19
A seguir, passo a apresentar os diagnósticos formais de saída dos doentes por mim
acompanhados, de acordo com a International Statistical Classification of Diseases and Related
Health Problems 10th Revision (ICD-10):
Perturbações afetivas 19
F31.4 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual depressivo grave sem sintomas 1
psicóticos
F31. 5 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual depressivo grave com sintomas 1
psicóticos
20
F33.1 – Perturbação depressiva recorrente, episódio atual moderado 5
Deficiência intelectual 1
A maioria dos doentes por mim seguidos em internamento tiveram diagnóstico dentro
do grupo das perturbações psicóticas, sendo ao todo 22 utentes (46.81%), sendo a esquizofrenia
paranóide o subtido mais representado neste grupo, com 13 pacientes (27.66% do total de
doentes) recebendo este diagnóstico quando da alta. O segundo maior grupo de pacientes foi o
das perturbações afetivas, representando 19 (40.43%) dos 47 utentes; dentro deste grupo, a
perturbação afetiva bipolar foi o diagnóstico mais expressivo, com 10 pacientes (21.28% do
total).
Deficiência intelectual 3
P. de uso de substâncias 9
P. da personalidade 6
21
Como podemos observar, foram ao todo 19 comorbilidades diagnosticadas, o que
implica que alguns doentes tinham mais do que uma comorbilidade. O grupo de comorbilidades
mais comum foi o das perturbações do uso de substâncias, sendo os canabinóides as substâncias
mais abusadas, representando 8 dos 9 casos deste grupo. Em segundo lugar dentro das
comorbilidades estava o grupo das perturbações da personalidade, sendo a perturbação da
personalidade emocionalmente instável a mais comum, presente em 3 dos 6 casos.
Tiroideias 1
Respiratórias 4
Neurológicas 3
Infecciosas 3
Neoplásicas 7
Metabólicas e cardiovasculares 12
22
A duração de internamento variou entre 3 (um caso de perturbação da personalidade
transferida ao país de origem) a 84 dias (uma perturbação esquizoafetiva que aguardou
resolução social); a duração média foi de 21 dias. Contudo, devido ao facto de que a duração de
internamento em psiquiatria não ter, em geral, uma distribuição normal 10, talvez a forma mais
adequada de analisar a estadia dos doentes seja utilizar a mediana: esta, nos meus doentes, foi
de 17 dias.
CONSULTA EXTERNA
Acompanhei ainda algumas primeiras consultas da Dr.ª Licínia Ganança, após haver
notado que a maior parte das consultas da Dr.ª Susana Loureiro por mim observadas tratavam-
se de subsequentes. Assim, para preencher esta lacuna de aprendizagem observei mais 6
primeiras consultas no período entre final de Agosto e início de Novembro.
Abaixo segue a tabela de impressões diagnósticas das consultas observadas e por mim
realizadas (presencial e telefonicamente), de acordo com a classificação da ICD-10:
23
Categorias Diagnósticas (ICD-10) Total
Perturbações afetivas 33
24
F41.1 – Perturbação de ansiedade generalizada 6
Deficiência intelectual 1
Importa também relevar que nenhum doente por mim observado era totalmente naïve
em termos psicofarmacológicos, o que se deve provavelmente ao facto de terem sido
referenciados por consultas de MGF ou após vindas ao serviço de urgência. Assim, as consultas
de psiquiatria são essencialmente uma segunda (ou mesmo terceira) linha de suporte às
doenças mentais. Tal pode ser benéfico, por um lado, em termos do alargamento da cobertura
a pessoas que necessitam da prescrição de psicofármacos; por outro, contudo, pode ser a causa
de casos de má prática prescritiva ou mesmo de iatrogenia franca. Não obstante, muitos destes
doentes possuirão certamente níveis de sofrimento subjetivo maiores, níveis de resposta
terapêutica tendencialmente inferiores (seja por polimorfismos genéticos, seja por padrões de
incumprimento terapêutico) e, consequentemente, pior prognóstico quando comparados com
a população geral.
25
SERVIÇO DE URGÊNCIA
Durante o meu primeiro ano de internato, e conforme a prática habitual do serviço, não
fui distribuído a nenhuma equipa fixa de urgência, de modo a passar rotativamente por todas
as equipas. Assim, foi possível integrar-me junto de muitos colegas, o que é positivo não apenas
a nível formativo – pela observação de diferentes formas de abordagem das diversas situações
de urgência –, como também a nível pessoal. Tornou-se-me claro que a mudança de ambiente
das urgências obriga-nos a mudar a forma como praticamos a nossa atividade clínica, e também
é particularmente condutora a sentimentos de companheirismo e cumplicidade que conduzem
ao fortalecimento do espírito de equipa tão fundamental à nossa profissão.
26
Apresentação e análise dos doentes observados no Serviço de Urgência
30
22%
Número de doentes
25 19%
20 15% 14%
15 11%
8% 7%
10
5 2%
0
<20 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 ≥80
Intervalo de idades
Fig. 3 – distribuição etária dos doentes de SU
Como podemos observar, a faixa etária dos 30 aos 39 anos foi a que mais procurou o
atendimento de urgência.
2%
1%
5%
5%
10% 30%
10%
24%
11%
27
O grupo de impressões diagnósticas mais observado em contexto de urgência, portanto,
foi o das perturbações depressivas, num total de 35 utentes (30%). Destas, 12 foram
consideradas graves, 19 moderadas, e apenas 4 ligeiras. A este grupo, seguiram-se o das
perturbações psicóticas (28 no total – 16 esquizofrenias paranóides, 8 psicoses sem outra
especificação, 3 perturbações delirantes crónicas e apenas 1 perturbação esquizoafetiva) e o
das perturbações da personalidade (13 no total).
28
ATIVIDADE CIENTÍFICA E FORMATIVA
Sessões Clínicas
As Sessões Clínicas do Serviço são realizadas no auditório Professor Barahona
Fernandes, todas as segundas-feiras pelas 09:00h. A sessão clínica destina-se a todos os
profissionais do serviço, sendo um espaço essencialmente de discussão, com impressões dos
mais diversos pontos de vista na psiquiatria. O calendário das sessões é realizado pelo Dr.
Arlindo Ralas e divulgado com antecedência a todos os colaboradores do serviço.
Esta atividade foi, a meu ver, extremamente positiva, preparando-me para as diversas
vicissitudes que viria a encontrar neste primeiro ano de internato. Infelizmente, o curso teve
também de ser interrompido frente à situação de pandemia.
29
Supervisão de Consultas
Com periodicidade semanal realizam-se as denominadas sessões de supervisão,
presididas alternadamente pelo Prof. Dr. Luís Câmara Pestana e pelo Prof. Doutor Carlos Góis.
Estas sessões têm com objetivo o suporte dos internos – especialmente os mais novos – nas suas
atividades clínicas várias, com enfoque particular na discussão de casos seguidos em consulta.
Tive a oportunidade de apresentar um caso com que tive alguma dificuldade numa
destas sessões, sentindo pessoalmente a sua grande utilidade. Contudo, mesmo nos casos de
terceiros, a discussão promovida pela supervisão é amplamente benéfica para o
desenvolvimento de agilidade no pensamento clínico e na decisão terapêutica.
Journal Club
Organizado pela Prof.ª Doutora Maria Luís Figueira, o Journal Club consiste na
apresentação, pelos internos do primeiro ano, de um artigo escolhido em conjunto com a
Professora. Esta atividade visa a leitura crítica do artigo e a familiarização do interno em resumir
e apresentar um artigo científico para terceiros. Após a apresentação, segue-se a discussão em
grupo do artigo, presidida pela Professora, que possui particular aptidão na análise e produção
de publicações científicas.
Infelizmente, apesar de assistir a múltiplas sessões, não tive neste ano a oportunidade
de apresentar um artigo, uma vez que também o Journal Club foi interrompido devido ao
Coronavírus. Contudo, espero poder realizar a minha apresentação assim que possível no início
do próximo ano formativo.
CURSOS E WORKSHOPS
30
ARTIGOS CIENTÍFICOS
ATIVIDADES EM CURSO
31
REFLEXÃO CRÍTICA
A minha produção científica este ano foi, para todos os efeitos, praticamente nula.
Apesar de esforçar-me para a produção de alguns estudos nos meses finais do ano, sinto que
não foi de todo o suficiente, e esta será uma das áreas nas quais irei certamente focar-me no
ano vigente. Além disso, iniciamos a nossa consulta externa apenas no mês de Novembro, pelo
que sinto que me falta mais experiência clínica nesta área, algo que já comecei a procurar
retificar com a marcação adicional de doentes observados no serviço de urgência.
Em termos de formação académica, penso que também fiquei aquém das minhas
próprias expectativas iniciais, porém acho que todos os profissionais de saúde sentiram o
mesmo este ano. Tive a oportunidade de realizar o curso “Essentials of Phenomenological
Psychopathology” com o Prof Doutor Luís Madeira em Setembro, que renovou em mim o
interesse pela psicopatologia e despertou a minha curiosidade para as subtilezas da
fenomenologia e outros ramos da filosofia em psiquiatria, caminho este que quero continuar a
explorar nos próximos anos. Contudo, penso que possuo ainda importantes lacunas na área da
psicofarmacologia, que é também muito subtil e fulcral para a prática clínica, e a qual quero
também esforçar-me para dominar no futuro.
Espero que este próximo ano seja melhor para todos, e que mantenhamos o espírito de
entreajuda que marcou o inesquecível ano de 2020. Lutarei com todo o meu afinco para
32
melhorar em todas as áreas que ficaram aquém das minhas expectativas, e jamais olvidarei este
início de especialidade cheio de atribulações, incertezas, ansiedades, descobertas, esforços mas,
acima de tudo, cooperação.
BIBLIOGRAFIA
1- Kendler, K. S., Engstrom, E. J. (2017) Kahlbaum, Hecker, and Kraepelin and the Transition
From Psychiatric Symptom Complexes to Empirical Disease Forms. American Journal of
Psychiatry 174:102-104
2- Reynolds, E.H., Wilson, J.W. (2014) Neurology and psychiatry in Babylon. Brain,
137;9:2611-2619
3- Moura B., S.D., Guia do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental, in Lundbeck, C.H.L. Norte,
Editor. 2014. p. 23.
4- http://www.chln.pt/index.php/as-nossas-especialidades/neurociencias-e-saude-
mental/psiquatria-e-saude-mental
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ANEXOS
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