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INTERNATO DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM PSIQUIATRIA

RELATÓRIO DE ATIVIDADES
1º ANO DE FORMAÇÃO - 2020

ERIK POMMERENING DORNELLES


ORIENTADORA DE FORMAÇÃO: DR.ª LICÍNIA GANANÇA

SERVIÇO DE PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL

DEPARTAMENTO DE NEUROCIÊNCIAS

CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO LISBOA NORTE, HOSPITAL SANTA MARIA

DIRETOR DE SERVIÇO DE PSIQUIATRIA E SAUDE MENTAL: PROF. DR. LUIS CÂMARA PESTANA
ÍNDICE

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2
O SERVIÇO DE PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL DO HOSPITAL DE SANTA MARIA ................. 3
O INTERNATO MÉDICO DE PSIQUIATRIA ...........................................................................12
ATIVIDADE CLÍNICA ...........................................................................................................15
INTERNAMENTO.....................................................................................................................15
CONSULTA EXTERNA ..............................................................................................................23
SERVIÇO DE URGÊNCIA ..........................................................................................................26
ATIVIDADE CIENTÍFICA E FORMATIVA ...............................................................................29
FORMAÇÕES E SESSÕES CLÍNICAS ..........................................................................................29
CURSOS E WORKSHOPS ..........................................................................................................30
ARTIGOS CIENTÍFICOS ............................................................................................................31
ATIVIDADES EM CURSO ..........................................................................................................31
REFLEXÃO CRÍTICA ............................................................................................................32
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................33
ANEXOS ............................................................................................................................34

1
INTRODUÇÃO

O título de fundador da psiquiatria moderna é diversas vezes atribuído a Kahlbaum, que


exerceu a sua atividade clínica ainda no século XIX, devido à sua aplicação – juntamente com o
menos galardoado Ewald Hecker – de técnicas que permitiram a definição das formas de doença
e influenciaram toda a prática subsequente1. Contudo, o interesse pela mente e seus estados
mórbidos, apesar de ostentar diferentes roupagens ao longo das épocas, esteve presente desde
os berços babilónicos da civilização humana2.

De facto, este interesse milenar não é surpreendente, uma vez que a busca pela
compreensão dos processos obscuros da mente e a tentativa de modificá-los é, essencialmente,
a busca por nós próprios enquanto Homens (e Mulheres). Desta forma, a psiquiatria também
capturou-me desde cedo nas suas rédeas, com toda a sua profundidade repleta de cadafalsos e
fogos-fátuos, de subtis iluminações e vislumbres de novos horizontes. Percebi, não muito
tardiamente no meu percurso na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, que a
psiquiatria era realmente a única especialidade que capturava todo o meu entusiasmo, sendo a
minha única hipótese de escolha como especialidade. Felizmente, não necessitei de ir para
muito longe para continuar a minha formação, e não me arrependi em nenhum momento desta
opção.

Ao longo deste ano, compreendi que a psiquiatria está, em parte, ainda a tatear no
escuro; contudo, apesar de não termos encontrado a chave da hipotética porta que esclarecerá
todas as nossas questões, e que talvez nunca a encontremos de facto, sinto que estamos a trilhar
o caminho correto. Há um certo heroísmo, se me for permitida a vaidade em tal afirmação, em
todos os psiquiatras: apesar de não saberem a resposta para todos os problemas que lhes são
trazidos constantemente pelos seus pacientes, esforçam-se em ajudá-los o melhor que podem,
com todo conhecimento lentamente destilado ao longo do tempo. Talvez estejam realmente
fadados em parte a um fracasso eterno, se de facto não for possível ascender ou descender a
uma Verdade derradeira – como defendia Nietzsche –, mas continuam os psiquiatras a sua
busca, dia após dia, geração após geração, como homens na caverna de Platão que, apesar de
se encontrarem ainda parcialmente às cegas, ao menos não se contentam apenas em observar
passivamente as sombras na parede.

2
O SERVIÇO DE PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL DO
HOSPITAL DE SANTA MARIA

História do Serviço3,4
Previamente à abertura do Hospital de Santa Maria (HSM), iniciou-se, no antigo Hospital
Escolar de Santa Marta, a então denominada “Consulta de Neuroses”, sob a coordenação do
Prof. Doutor Barahona Fernandes. Estava ligada ao Serviço de Neurologia e destinava-se a dar
resposta às patologias causadas por processos não orgânicos.

Dois anos após a inauguração do HSM, em 1955, teve então início a consulta externa de
“Neuroses” neste hospital, funcionando em regime de ambulatório e ligação aos restantes
serviços. Estava sob a alçada do Prof. Doutor Henrique João de Barahona Fernandes e tinha
como colaboradores o Prof. Doutor João Fragoso Mendes, o Prof. Doutor Eduardo Luís Cortesão,
o Prof. Doutor Simões da Fonseca, o Dr. Manuel Paes de Sousa, o Dr. João França de Sousa, o
Dr. Guilherme Ferreira, entre outros. Em 1957 foi inaugurado o Hospital de Dia (atual Hospital
de Dia Programa A), uma unidade de internamento reservada apenas ao período diurno,
surgindo subsequentemente um serviço de internamento a tempo completo, que funcionava
no espaço físico do Hospital Júlio de Matos (HJM). Esses serviços, em conjunto, constituíram a
Clínica Psiquiátrica Universitária da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL).

No ano de 1958 foram criados dois laboratórios, o de Psicologia, anexo à Clínica


Psiquiátrica e pioneiro na utilização das técnicas de avaliação psicológica aos doentes
psiquiátricos, e o de Psicofisiologia, ligado ao Centro de Estudos Egas Moniz. Desta forma, o
serviço possui, desde as fundações da sua conceção, uma íntima ligação entre as disciplinas
formativas e de investigação e as atividades assistenciais.

No final da década de 1960s foi aberto o piso 3 no HSM para hospitalização de casos
psiquiátricos agudos, expandindo-se para o piso 4 passados 4 anos. Assim, o Serviço de
Psiquiatria e Saúde Mental tornou-se o primeiro serviço de Psiquiatria num hospital geral em
Portugal.

Foram diretores de serviço do Serviço de Psiquiatria do HSM por ordem cronológica:

- Prof. Doutor Henrique João de Barahona Fernandes (1955 a 1977)

- Prof. Doutor Pedro Polónio (1977 a 1985)

- Prof. Doutor José Carlos Dias Cordeiro (1986 e 1989 a 1991)

- Prof. Doutor José Luís Simões da Fonseca (1986 a 1989 e 1993 a 2002)

- Prof. Doutor João Ribeiro da Silva (1991 a 1993)

- Prof. Doutora Maria Luísa Figueira (2003 a 2013)

- Prof Doutor Daniel Sampaio (2014 a 2016)

- Prof. Dr. Luís Câmara Pestana (2016 até ao presente)

3
O Serviço nos dias de hoje4
No ano de 2004, é criado o Departamento de Neurociências e Saúde Mental do Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN) – constituído pelo HSM e pelo Hospital Pulido
Valente (HPV) –, no qual está atualmente integrado o Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental.
Fisicamente, o serviço está situado na chamada “torre de neurociências”, distribuindo-se pelos
pisos 1, 3 e 4. Ao longo dos anos, foram criadas diversas unidades, atendendo às crescentes
necessidades da população e à própria evolução assistencial da especialidade de Psiquiatria.

Atividade Assistencial

Unidade de Estabilização de Doentes Agudos (Internamento)


A unidade dea internamento do Serviço de Psiquiatria destina-se ao manejo de quadros
psiquiátricos agudos, em termos de diagnóstico, estabilização, tratamento e planeamento de
seguimento posterior em ambulatório, sendo dividido em 3 equipas, cada qual com algumas
especificidades.

A equipa 3B – que tive o prazer de integrar – localiza-se no piso 3 e é coordenada pelo


Dr. Arlindo Ralas. No caso de haver necessidade de internamento de doentes de
Gerontopsiquiatria (idade superior a 65 anos no que toca a internamento), este será feito
preferencialmente nesta equipa. No piso 3 está também convencionada a alocação de camas a
doentes do Núcleo de Etilo-Risco (coordenado pela Dr.ª Fátima Ismail) e dos Hospitais de Dia A
e B. Tem um total de 15 vagas, com 5 vagas suplementares em períodos de necessidade. No piso
4 encontram-se as restantes duas equipas: 4A e 4B. A equipa 4A é coordenada pelo Dr. João
Miguel Pereira e a equipa 4B pela Dr.ª Manuela Abreu. No total têm 28 vagas, com outras 5
suplementares à semelhança do piso 3. No piso 4 encontra-se também o internamento de
doentes ao cuidado da Equipa de Doenças do Comportamento Alimentar (coordenada pelo Dr.
António Neves), com 6 camas atribuídas. É também preferencialmente atribuído a este piso o
internamento de doentes com primeiro episódio psicótico, ao cuidado do Programa de
Intervenção nas Fases Iniciais das Psicoses (PROFIP). Ainda neste piso, está prevista a
possibilidade de serem distribuídas camas de internamento a doentes seguidos pela Unidade de
Adolescentes (coordenada pela Dr.ª Nazaré Santos).

O sistema Livre Acesso e Circulação de Utentes no SNS (LAC) aprovado pelo Despacho
n.º 5911-B/2016, de 3 de maio, permite ao utente optar por qualquer uma das unidades
hospitalares do SNS onde exista a consulta de especialidade de que necessita5. O LAC não se é
aplicável no que se refere ao internamento. Por conseguinte, este destina-se exclusivamente
aos doentes residentes nas freguesias lisboetas de Alvalade, Avenidas Novas, Benfica,
Campolide, Carnide, Lumiar, São Domingos de Benfica e Santa Clara. São também internados os
doentes provenientes da área de referenciação do Centro Hospitalar do Oeste (Unidade sediada
em Caldas da Rainha – Alfeizerão, Benedita, S. Martinho do Porto, Bombarral, Caldas da Rainha,
Óbidos e Peniche). Adicionalmente a destes doentes, existe um protocolo com o Hospital Beatriz
Ângelo (HBA), que dita que os doentes pertencentes à área dessa instituição serão internados
no HSM nos períodos em que esta não tenha vagas.

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Unidades de Dia
Estas unidades têm 4 objetivos fundamentais: a atividade assistencial clínica, formativa
e de investigação em hospitalização a tempo parcial; o desenvolvimento de intervenções
terapêuticas específicas e adaptadas; a promoção da autonomia e da integração familiar, social
e laboral; o tratamento de doentes psiquiátricos em fase subaguda e crónica. Funcionam todos
os dias úteis, entre as 9 e as 16 horas. Devido à pandemia, contudo, as atividades presenciais
tiveram de ser interrompidas, sendo realizadas através de plataformas virtuais.

Hospital de Dia Programa A

Conforme mencionado acima, o Hospital de Dia do Serviço de Psiquiatria do HSM


funciona desde 1957 como a primeira unidade de internamento do serviço. Dirigido
principalmente às perturbações de personalidade, a equipa multidisciplinar que o constitui é
coordenada pela Dr.ª Paula Godinho. Engloba psiquiatras, internos da especialidade, psicólogos,
enfermeiros e terapeuta ocupacional, com capacidade total para 20 doentes. Tem atividades
diárias que contemplam terapia ocupacional e psicoterapias individuais e de grupo, com
promoção ativa da família no processo terapêutico. O objetivo principal é a autonomização e
integração dos doentes em contexto familiar, social, académico e profissional.

Hospital de Dia Programa B

Iniciada em 2015, sob coordenação do Prof. Doutor Carlos Góis, esta unidade direciona-
se essencialmente a doentes com doença mental grave resistente a múltiplas intervenções ou
em estado subclínico pós-internamento com elevado risco de recaída. Tem como objetivo a
melhoria da consciência da doença, a promoção da adesão terapêutica com envolvimento da
família e redução dos episódios de reinternamentos. Tem capacidade para 6 doentes, e a equipa
multidisciplinar é composta pelo Prof. Doutor Carlos Góis, internos de Psiquiatria, uma psicóloga
clínica, uma enfermeira e uma terapeuta ocupacional.

Unidade de Projeto e Reabilitação

Fundada em 2010, esta unidade funciona como interface entre o internamento


completo e o ambulatório para doentes com patologia mental grave e/ou incapacidade
psicossocial marcada. Visa à construção de um projeto de reabilitação específico para cada
doente com perturbação mental grave e/ou marcada incapacidade psicossocial, promovendo a
aquisição de competências necessárias à sua execução.

Unidade de Adolescentes

Esta unidade teve início em 2009 e é coordenada, como referido, pela Dr.ª Nazaré
Santos. Destina-se ao tratamento e manejo de adolescentes dos 15 aos 21 anos, através de uma
intervenção sistémica e psicodinâmica, mantendo os jovens na família e na comunidade. Tem
diversas atividades, nomeadamente consultas individuais, grupos terapêuticos, grupos de pais,

5
terapias familiares e terapias expressivas. A equipa é composta por uma equipa multidisciplinar
de psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e uma assistente social.

Consulta Externa

A consulta externa localiza-se no piso 1 do HSM e no HPV, atualmente sob a


coordenação do Dr. Pedro Levy, com o apoio da Enfermeira-Chefe da consulta, Enf.ª Maria
Manuela Cordeiro. A referenciação para a consulta pode ser feita a partir dos Cuidados de Saúde
Primários (sob o sistema LAC), do Serviço de Urgência ou após a alta do internamento do nosso
Serviço ou outros Serviços do CHULN.

A consulta externa divide-se em consulta geral, de subespecialidades e de psicoterapia.


A consulta externa geral tem a seguinte divisão, conforme a faixa etária dos utentes:

• Adolescência, para doentes entre os 15 e os 21 anos (à quarta-feira, coordenada pela


Dr.ª Nazaré Santos);
• Psiquiatria Geral de Adultos (diariamente, coordenada pelo Dr. Pedro Levy);
• Gerontopsiquiatria, para doentes com idade superior a 74 anos (à quinta-feira, no
período da manhã, coordenada pelo Prof. Dr. Luís Câmara Pestana e Prof. Doutor
Frederico Simões do Couto).

Relativamente às diferentes áreas de subespecialização, o serviço dispõe das seguintes


consultas:

• Perturbações do Comportamento Alimentar (à quarta-feira, no período da tarde,


coordenada pela Dr.ª Jennifer Santos);
• Toxicodependência (à segunda-feira, no período da tarde, coordenada pela Dr.ª Fátima
Ismail);
• Etilo-Risco (à terça-feira, no período da tarde, coordenada pela Dr.ª Fátima Ismail);
• Sexologia (diariamente, no período da manhã, coordenada pelo Professor Doutor Rui
Xavier Vieira);
• Comportamentos autolesivos e suicídio adolescente (coordenada pela Dr.ª Nazaré
Santos; integra a triagem diária do Núcleo de Estudos de Suicídio e consultas
subsequentes incluídas na Consulta de Adolescência);
• Primeiro Episódio Psicótico ou em elevado risco de psicose (no período da manhã de
sexta-feira, coordenada pelo Dr. Pedro Levy);
• Doença Bipolar (à sexta feira no período da manhã);
• Psiquiatria Ocupacional (à terça-feira, no período da manhã sendo da responsabilidade
da Dr.ª Lucinda Bastos, no Serviço de Saúde Ocupacional);
• Avaliação pré e pós-operatória de candidatos a Estimulação Cerebral Profunda (à sexta-
feira, realizada pela Dr.ª Inês Chendo e Dr. João Miguel Pereira)
• Núcleo de Utilização Problemática da Internet - NUPI (coordenado pelo Prof. Dr. Luís
Câmara Pestana e Dr.ª Rita Barandas);
• Psicoterapia (coordenada pelas Dr.ª Teresa Fialho e Dr.ª Alexandra Fonseca);
• Psicologia clínica e de apoio psicológico aos Serviços do HPV (coordenada pela Dra.
Lourdes Borges);
• Avaliações psicológicas e neuropsicológicas;
• Luto (consulta coordenada pelo Prof. Doutor Carlos Góis).

6
• Intervenção Psiquiátrica em Oncologia (realizada pela Dr.ª Licínia Ganança às quintas-
feiras no período matinal)

Serviço de Urgência

A Urgência de Psiquiatria é coordenada pelo Prof. Doutor Carlos Góis desde março de
2017; no ano de 2021, contudo, passará a ser coordenada pelo Dr. João Miguel Pereira e pela
Dr.ª Manuela Abreu. Este serviço abrange a urgência externa e interna, funcionando
ininterruptamente todos os dias da semana.

Na Urgência Externa são observados os doentes provenientes da triagem do Serviço de


Urgência Central, os doentes reencaminhados por outras especialidades e os doentes
internados no Serviço de Observação ao cuidado das equipas de Medicina e Cirurgia. Na
Urgência Interna são observados os doentes internados em todos os serviços do CHULN que
necessitem de observação urgente a nível psiquiátrico, incluindo também os próprios doentes
do Serviço de Psiquiatria quando fora do horário dos médicos das unidades de internamento.

Desde 2013 que integra a Urgência Metropolitana de Lisboa, juntamente com o Centro
Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, cuja urgência externa se localiza no Hospital de São José. A
Urgência Metropolitana de Lisboa define-se como “local de atendimento urgente no período
noturno em serviço de urgência polivalente na cidade de Lisboa, que concentra recursos e
especialidades médicas e cirúrgicas. Para além de receber os doentes da sua área de
referenciação direta, recebe por referenciação inter-hospitalar, todos os doentes urgentes da
Região de Lisboa e Vale do Tejo, da Região do Alentejo e do Algarve.”6

No período diurno, e em dias úteis, recebe ainda os doentes da área de abrangência do


Centro Hospitalar Oeste.

Psiquiatria Comunitária

Coordenada pela Dr.ª Manuela Silva, esta unidade propõe-se a prestar cuidados aos
doentes psiquiátricos na comunidade, facilitando a sua adesão terapêutica, a articulação com
psiquiatra assistente e a reinserção psicossocial. Existem essencialmente três meios através do
qual são atingidos estes objetivos:

- Articulação com os cuidados de saúde primários pertencentes ao ACES Lisboa Norte (através
de consultoria clínica e psicossocial com deslocação de psiquiatras, psicólogos, assistentes
sociais e terapeutas de referência para supervisão com os técnicos de saúde dessas instituições);

- Ligação com diversas estruturas e organizações da comunidade, especificamente do Fórum


Socio-Ocupacional, com apoio técnico ao GAC (Grupo de Ação Comunitária), que funciona em
parceria com a Junta de Freguesia de Carnide;

- Projeto de Terapeutas de Referência; iniciado em 2010, este programa é constituído por um


enfermeiro (Enf. Celso Paradas) e uma assistente social (Dr.ª Marta Repolho). Destina-se a
pessoas com doença mental grave cuja incapacidade lhes reduziu a autonomia para o processo
reabilitativo, com falta de apoios familiares ou sociais e que necessitem de cuidados
continuados. Pretende, assim, assegurar a prestação de cuidados na comunidade,
nomeadamente através da promoção da adesão ao tratamento por meio de psicoeducação,

7
mantendo sempre articulação com o psiquiatra assistente. São também responsáveis pelo
treino de competências de vida diária e pela procura de meios que conduzam à reinserção social.

Psiquiatria de Ligação

A Psiquiatria de Ligação é coordenada atualmente pelo Prof. Doutor Carlos Góis. Trata-
se de uma equipa multidisciplinar que inclui médicos e psicólogos, destinando-se à observação
não urgente de doentes internados no CHULN. Os pedidos de parecer são efetuados através de
um formulário eletrónico, e as avaliações realizados num período de até 48 horas após sua
receção.

Equipa da adolescência

Sob a coordenação da Dr.ª Nazaré Santos, a equipa da adolescência é composta por


psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e uma assistente social. Esta
equipa dedica-se ao tratamento, estudo e investigação da saúde mental do adolescente e suas
famílias. Realiza também articulação com os Cuidados de Saúde Primários e a comunidade no
acesso, tratamento e reintegração dos jovens.

A sua população-alvo são adolescentes dos 15 aos 21 anos da área geodemográfica do


Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental, ou até aos 18 anos se pertencentes ao ACES Oeste Sul.
Se os jovens referenciados tiverem comportamentos suicidários, são integrados a partir dos 13
anos, sem área geodemográfica definida. A intervenção terapêutica divide-se em três vertentes:

• Núcleo de Estudos do Suicídio (NES) – Este núcleo clínico-científico fundado em 1987


tem como objetivos clínicos receber e acompanhar jovens em risco de suicídio, entre os
11 e os 21 anos de idade. É de livre acesso, sem marcação prévia, funcionando
diariamente (exceto à quinta-feira) das 11h às 13h. Quanto aos objetivos científicos,
estes passam pelo estudo do suicídio, da tentativa de suicídio e dos comportamentos
para-suicidas e autolesivos na adolescência, tendo em vista a divulgação, formação e
prevenção do suicídio nesta população. É constituído por uma equipa multidisciplinar
que inclui psiquiatras, pedopsiquiatras, psicólogos, pediatras, médicos de medicina
geral e familiar, sociólogos, técnicos de serviço social e professores. São também
realizadas, junto da comunidade, ações de prevenção e de formação.
• Consulta de Adolescência;
• Unidade de Dia.

Unidade de Psiquiatria Forense

Coordenada pelo Dr. Arlindo Ralas, esta unidade dedica-se à realização de exames
médico-legais. Estes documentos periciais são solicitados pela autoridade judicial por
intermédio do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, sendo realizada pelos
assistentes hospitalares do serviço de Psiquiatria. Os exames podem ser solicitados para
averiguação de capacidade civil, responsabilidade penal, regulação do poder parental e
avaliação psiquiátrica para determinação de internamento compulsivo tutelar.

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Núcleos Clínico-Científicos

Núcleo de Gerontopsiquiatria

O Núcleo de Gerontopsiquiatria, sob a coordenação do Prof. Dr. Luís Câmara Pestana e


do Prof. Doutor Frederico Simões do Couto, é responsável pela assistência hospitalar tanto no
internamento (>65 anos), como em ambulatório (>75 anos), após triagem específica.

Adicionalmente ao diagnóstico e acompanhamento terapêutico de perturbações


psiquiátricas, ou “de fronteira”, como a patologia demencial, que afetam esta faixa etária, soma-
se a formação especializada em psiquiatria geriátrica de internos da especialidade e a
investigação científica nesta área.

Núcleo de Estudo e Tratamento do Etilo-Risco (NETER)

O NETER é coordenado pela Dr.ª Fátima Ismail. A equipa é também constituída de forma
permanente pelo Prof. Samuel Pombo e pela Enf.ª Cândida Urbano. Tem o objetivo de tratar,
estudar e investigar a Perturbação de Uso do Álcool. Simultaneamente, é responsável pela
formação de internos de Psiquiatria, Medicina Geral e Familiar e de estagiários de Psicologia.

O regime de tratamento é preferencialmente de ambulatório, e divide-se na fase de


motivação ou preparação para a desintoxicação, na fase de desabituação do álcool com
intervenção farmacológica e na fase de prevenção da recaída.

Núcleo de Estudos do Suicídio – (vide Equipa da adolescência)

Núcleo de Doenças do Comportamento Alimentar (NDCA)

Fundado em 1995, o NDCA é composto por uma equipa multidisciplinar de psiquiatras,


internista, psicólogos, dietistas e enfermeiros, coordenada pelo Dr. António Neves. Rege-se pelo
modelo de intervenção sistémica, psicodinâmica e cognitivo-comportamental e tem as
vertentes de consulta externa e internamento. Em termos científicos, dedica-se, como o nome
indica, ao estudo das doenças do comportamento alimentar, com organização de reuniões
científicas sobre o tema.

Programa de Intervenção nas Fases Iniciais da Psicose (PROFIP)

Sob a coordenação do Dr. Ricardo Coentre, este programa procura assegurar cuidados
assistenciais diferenciados a doentes até aos 35 anos com primeiro episódio psicótico, aceitando
pontualmente doentes com idade acima desta faixa etária. A sua intervenção é feita em duas
vertentes. Durante o internamento (realizado preferencialmente na Equipa 4B), através da
avaliação clínica psiquiátrica, e com recurso a várias escalas de sintomas e a um protocolo que
compreende uma vasta gama de exames complementares de diagnóstico; e no ambulatório,
através da consulta externa e intervenções familiares. Dedica-se também ao estudo e
investigação destes quadros.

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Núcleo de Utilização Problemática da Internet

Em funcionamento desde 2014, a consulta externa deste núcleo é coordenada pelo Prof.
Dr. Luís Câmara Pestana e pela Dr.ª Rita Barandas, e dirige-se a jovens a partir de 15 anos de
idade com uso patológico de internet e jogos de vídeo. Visa avaliar o seu impacto no
comportamento e na saúde mental, com posterior diagnóstico e tratamento. Pretende também
caracterizar em termos sociodemográficos e psicopatológicos os utentes que a ela recorrem.

Núcleo de Epilepsia Refratária

Coordenado pelo Prof. Dr. Luís Câmara Pestana e pela Dr.ª Susana Loureiro, funciona
em colaboração com os Serviços de Neurologia e de Neurocirurgia. É responsável pela avaliação
dos candidatos à cirurgia de epilepsia, por detetar esta importante comorbilidade psiquiátrica e
verificar a capacidade do doente de dar o seu consentimento informado para a realização da
cirurgia. É também responsável pelo acompanhamento pós-operatório.

Unidade de Terapia Electroconvulsiva

A Unidade é coordenada pela Dr.ª Susana Loureiro, e dedica-se a tratar os doentes


selecionados com recurso à electroconvulsivoterapia. Tratam-se de casos em que é necessária
uma resposta rápida, devido a risco de vida, ou quando a psicofarmacologia se revela ineficaz
ou mesmo contraindicada.

Consulta de Toxicodependências

Consulta pioneira na introdução da terapêutica de substituição opiácea com metadona


na zona de Lisboa, desde 1995. É atualmente coordenada pela Dr.ª Fátima Ismail e conta desde
o 2o semestre de 2017 com a colaboração do Dr. Ricardo Coentre. É também composto por
médicos internos de Psiquiatria a realizar estágio de Perturbações da Adição nesta componente,
pelo Prof. Doutor Samuel Pombo, e pela Enf.ª Andreia Vilaça. Tem dois grupos
psicoterapêuticos, associados à terapêutica de substituição opiácea, separadamente para
utentes seropositivos (VIH) e seronegativos.

Atividade Docente
O Serviço presta formação a diversos níveis:

- Ensino pré-graduado dos alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa


(FMUL), em todos os anos com disciplinas obrigatórias e optativas. Colabora com a FMUL
também no estágio profissionalizante de Saúde Mental a alunos no 6º ano;

- Formação de novos especialistas em Psiquiatria;

- Formação de internos de Medicina Geral e Familiar, Psiquiatria da Infância e da


Adolescência e Neurologia, no âmbito de estágios curriculares obrigatórios;

10
- No ensino pós-graduado, o Serviço colabora na organização de vários cursos e
mestrados.

O Serviço organiza ainda, desde 2016, o Curso de Introdução à Psiquiatria e


Psicopatologia e o Curso de Formação do Internato Médico.

Atividade de Investigação

O Serviço tem um papel ativo na investigação médica, com diversos projetos de


investigação em curso. Existem projetos transversais a todo o serviço, contando com a
colaboração de vários profissionais, tais como a investigação sobre as razões para a substituição
de antipsicóticos em doentes internados. O Serviço encontra-se integrado no Centro Académico
de Medicina de Lisboa (CAML), com projetos com o Instituto de Medicina Molecular, com a
FMUL e outras instituições de âmbito nacional e internacional.

11
O INTERNATO MÉDICO DE PSIQUIATRIA

Disposição Legal do Internato7

O Internato de Formação de Especialização de Psiquiatria é regulado pelo Regulamento


do Internato Médico (Portaria n.º 224-B/2015, de 29 de julho) e pelo Programa de Formação da
Área de Especialização de Psiquiatria (Portaria n.º 340/2016, de 29 de dezembro). Conforme
contemplado nos documentos supramencionados, o Internato Médico de Psiquiatria tem a
duração total de 60 meses (5 anos), e tem início após os 12 meses regulamentares do Ano
Comum, com o seguinte programa:

- Estágio de formação em Psiquiatria (48 meses) que se subdivide nos seguintes estágios

obrigatórios:

a) Estágio em Internamento masculino e feminino — 27 meses;

b) Estágio em Internamento parcial (hospital de dia) — 6 meses;

c) Estágio em Perturbações da Adição (alcoolismo e toxicodependências) — 3 meses;

d) Estágio em Psiquiatria de Ligação — 3 meses;

e) Estágio em Psiquiatria Geriátrica — 3 meses;

f) Estágio em Psiquiatria Forense — 3 meses;

g) Estágio em Psiquiatria Comunitária e/ou de articulação com Centros de Saúde — 3


meses.

h) Estágio em Primeiro

- Durante toda a área de formação em psiquiatria, os médicos internos devem efetuar


Consulta Externa e Serviço de Urgência, com periodicidade mínima semanal.

- Estágio em Neurologia — 3 meses.

- Estágio em Psiquiatria da Infância e da Adolescência — 3 meses.

- Estágios opcionais — 6 meses: cada estágio opcional tem a duração mínima de 3 meses
e pode ser efetuado em qualquer uma das áreas ou estágios anteriormente mencionados ou em
outras áreas, nomeadamente reabilitação psiquiátrica, sexologia, perturbações do
comportamento alimentar ou psicologia médica.

São também referidos os “objetivos gerais da Formação em Psiquiatria:

a) Primeiro ano — História clínica e semiologia psiquiátrica;

b) Segundo ano — Psicopatologia e Diagnóstico diferencial em Psiquiatria;

c) Terceiro ano — Psicofarmacologia e Psicoterapia;

12
d) Quarto ano — Avaliação global do doente em todo um contexto biopsicossocial, com
propostas de atuação, se for caso disso, nas estruturas sociais da comunidade e nos serviços de
reabilitação e de formação profissional.”

É ainda aconselhado que, ao longo do Internato em Psiquiatria, os internos “adquiram


competências nas principais correntes da psicoterapia com uma componente didática de, pelo
menos, um ano de duração”.

São igualmente fornecidas várias recomendações quanto à sequência dos diversos


estágios, que passo a citar:

“3.1 — O estágio de formação em Psiquiatria inicia-se, preferencialmente, em serviços


de internamento masculino e feminino.

3.2 — O estágio em Psiquiatria Forense realiza-se, preferencialmente, durante o terceiro


ou quarto ano de formação.

3.3 — Os estágios em serviços de tratamento de Perturbações Aditivas, em Psiquiatria


de Ligação, em Psiquiatria Comunitária e/ou de articulação com Centros de Saúde, em serviços
de Psiquiatria Geriátrica e Psiquiatria Forense, conforme o plano de formação do interno,
poderão, de acordo com as especificidades de cada instituição, ser realizados de forma
descontínua, sem prejuízo do cumprimento da duração total prevista para cada um deles.

3.4 — O estágio em Neurologia realiza-se, preferencialmente, após o segundo ano de


formação.

3.5 — O estágio em Psiquiatria da Infância e da Adolescência realiza-se,


preferencialmente, durante o segundo ou terceiro ano de formação.

3.6 — Os estágios opcionais realizam-se preferencialmente no quinto ano do internato.”

13
Organização do Internato

Relativamente à organização do meu internato, procurei, dentro do possível, que a


sequência de estágios fosse de encontro às recomendações supracitadas.

Penso que o plano traçado seja flexível, de forma a albergar espaço para o surgimento
de novas áreas de interesse. São assim deixados espaços lacunas por preencher, para estágios
opcionais em áreas que me poderão vir a interessar. Ambiciono também realizar um estágio no
estrangeiro, em local e área igualmente por definir, dentro dos meus interesses.

1º Ano
12 meses – Estágio em Internamento masculino e feminino

2º Ano
4 meses – Estágio em Hospital de Dia A

2 meses - Estágio em Hospital de Dia B

3 meses – Estágio em Neurologia

3 meses – Estágio em Internamento masculino e feminino

3º Ano
3 meses – Estágio em Psiquiatria de Ligação

3 meses – Estágio em Pedopsiquiatria

3 meses – Estágio em Internamento masculino e feminino

4º Ano
3 meses – Estágio em Perturbações do Comportamento Alimentar

3 meses – Estágio opcional a definir

3 meses – Estágio em Primeiro Episódio Psicótico

3 meses – Estágio em Perturbações da adição (alcoolismo e toxicodependência)

5º Ano
3 meses – Estágio em Gerontopsiquiatria

3 meses – Estágio opcional a definir

3 meses – Estágio em Psiquiatria Forense

3 meses – Estágio em Internamento masculino e feminino

14
ATIVIDADE CLÍNICA

INTERNAMENTO

Ingressei o Internato de psiquiatria em janeiro de 2020, iniciando as minhas atividades


formativas pelo serviço de internamento. Após os dias de acolhimento realizados no início do
ano, os internos de psiquiatria foram distribuídos pelos internamentos, sendo-me destinada a
equipa de internamento 3B, a qual integrei juntamente com a Dra. Inês Simões, também interna
do primeiro ano. Desta forma cumpri, com esta equipa, os primeiro 12 meses dos 27 totais
preconizados para o estágio de internamento em psiquiatria.

A equipa em questão é composta por 5 médicos especialistas em psiquiatria: Dr. Arlindo


Ralas (chefe de equipa), Dr. Paulo Martins, Prof. Doutor Frederico Simões do Couto, Dr.ª Susana
Loureiro e Dra. Cristina Costa. Além destes, encontravam-se presentes os internos de psiquiatria
(exceptuando os do primeiro ano, já referidos) Dr.ª Inês Braz, Dr. Tiago Duarte, Dr.ª Inês Duarte
e Silva, Dr. Pedro Câmara-Pestana, Dr.ª Beatriz Côrte-Real, Dr.ª Gabriela Andrade, Dr.ª Catarina
Costa. A equipa trabalha em articulação com a equipa de enfermagem, liderada pela Enfermeira-
Chefe Palmira Carvalho e as assistentes sociais Dr.ª Clara Sousa, Dr.ª Patrícia Plácido e Dr.ª
Sandra Marta. No que refere à organização interna da equipa, cada doente é atribuído a um
médico especialista e a alguns internos (como regra geral até 3 internos por especialista).

Em termos formativos, a equipa recebe internos de outras áreas de formação (Medicina


geral e familiar, Neurologia e Psiquiatria da infância e da adolescência), bem como alunos de 6º
ano do curso de Medicina e Internos do Ano Comum. Uma vez que, para além do
acompanhamento de doentes do âmbito da Psiquiatria Geral, está também direcionada para
acompanhamento de doentes com idades superiores a 65 anos, a equipa recebe, em períodos
trimestrais, outros internos da especialidade a realizar estágio de Gerontopsiquiatria.

A reunião de equipa realiza-se todas as terças-feiras às 09:00 e conta com a presença de


toda a equipa médica, de um representante da equipa de enfermagem e de uma assistente
social. Esta reunião multidisciplinar destina-se à apresentação resumida do caso de cada um dos
doentes e sua evolução, após a qual é feita a discussão em termos de diagnósticos diferenciais
e projeto terapêutico, social e de referenciação futura. Infelizmente, a reunião de equipa foi
afetada pela pandemia, dado que as reduzidas dimensões dos gabinetes disponíveis impediam
a prática correta de distanciamento social. Por esta razão, após meados de Março as reuniões
passaram a ser realizadas por turnos, sendo a equipa divida de modo a que apenas um
especialista apresentasse seus doentes, juntamente com os internos com que os partilhava.
Desta forma, a oportunidade para a discussão mais ampla e partilhada dos doentes foi bastante
reduzida durante este ano em relação ao início do mesmo. Senti esta perda com algum pesar,
uma vez que estas mesmas discussões são relevantes não apenas para a melhoria da assistência
clínica prestada individualmente a cada doente, mas também para a própria formação dos
internos de psiquiatria. Trata-se de um espaço prolífico para a colocação de dúvidas, discussões
de casos e mesmo para o debate de perspectivas divergentes sobre várias áreas da nossa
especialidade.

Na fase inicial da minha formação, a minha atividade clínica no internamento era de


cariz essencialmente observacional, de forma que acompanhei diferentes elementos da equipa,

15
sendo desta forma confrontado com diferentes formas de praticar psiquiatria. Tornou-se-me
rapidamente evidente que existem inúmeras abordagens distintas à entrevista e à colheita de
história clínica, e que a discussão diagnóstica entre os vários membros da equipa não é apenas
edificante do ponto de vista formativo mas essencial para uma abordagem mais subtil e
completa do utente.

De forma a elucidar as dinâmicas do internamento, passo a resumir as etapas e rotinas


pelas quais o utente e o médico atravessam juntos neste serviço. A jornada do utente pelo
internamento inicia-se, na maioria dos casos, pelo serviço de urgência, sendo então imperativa
a consulta do relatório elaborado pelos colegas que primeiro o observaram no serviço em
questão. Caso possível, procede-se também à consulta de processos clínicos de internamentos
anteriores e dados de consultas externas (se o doente já for seguido no nosso hospital ou noutro
que também utilize a Plataforma de Dados de Saúde [PDS]). Nalgumas instâncias, é possível
contactar diretamente o psiquiatra assistente do utente, de modo a obter informações e
eventuais impressões diagnósticas; noutras, entrevistamos familiares e outras pessoas próximas
ao utente para obtermos uma visão ao mesmo tempo mais clinicamente leiga e mais próxima
do perimundo do paciente. Evidentemente, todo este processo deveria ser realizado com a
suspensão simultânea do nosso julgamento clínico para não nos deixarmos contaminar em
demasia com opiniões terceiras – devemos sempre lutar por conservar a nossa subtilitas
aplicandi (parafraseando Rambach) em relação ao diagnóstico.

A seguir, realiza-se uma nova anamnese e exame do estado mental junto à cabeceira do
leito reservado ao utente no internamento. Muitas vezes, este passo é realizado em conjunto
pela equipa pela qual o paciente foi distribuído, que inclui um médico assistente e pelo menos
um interno de especialidade. Desta maneira é possível então realizar a discussão clínica e
decidir, juntamente com os outros membros da equipa e atendendo a toda a panóplia
informativa supracitada, quais as hipóteses diagnósticas que mais se adequam ao quadro e qual
plano terapêutico a ser instituído. É também realizada uma projeção – ou esboço – da evolução
expectável do quadro clínico e do plano provável após a alta do utente: é assim possível agilizar
o contacto com as assistentes sociais nos casos em que tal apoio é necessário, assim como
planear-se a eventual instituição de terapêutica injetável de longa duração.

Subsequentemente, são requisitados exames complementares de diagnóstico,


atendendo às especificidades de cada caso, de forma a excluir causa orgânica e, o mais
importante, praticar boa medicina. Também podem ser realizadas análises (episódicas ou
seriadas conforme entender-se) dos níveis séricos de fármacos de maneira a controlar a toma
da terapêutica ou excluir a possibilidade de iatrogenia. Todos os utentes, à entrada, realizam
avaliação analítica e electrocardiograma; outros exames como a RM-CE ou a avaliação
neuropsicológica poderão ser ocasionalmente requisitados.

O utente é observado, idealmente, todos os dias por algum membro da equipa


destinada a segui-lo, assim como discutido semanalmente nas reuniões de serviço. Para além
disso, recorremos sempre que possível à equipa de enfermagem, que, por encontrar-se mais
tempo e em contacto mais próximo com os pacientes internados, tem a oportunidade de
facultar-nos informações pertinentes acerca de intercorrências, queixas, comportamentos e
evolução clínica dos mesmos.

Durante o estágio de internamento realizei, em conjunto com a Dr.ª Inês Simões, o


registo dos utentes internados na base de dados da equipa.

16
Como já referido, os 12 meses passados em internamento foram infelizmente marcados
pela situação de pandemia, que limitou alguns aspectos do funcionamento normal da unidade.
De modo a assegurar a proteção dos médicos assistentes e dos internos, institui-se
primeiramente um modelo rotativo em que se dividiram os profissionais de cada serviço por
equipas que deviam alternar-se bissemanalmente. Contudo, de modo a proteger os internos do
primeiro ano de exporem-se desnecessariamente à infecção pelo novo coronavírus, institui-se
que estes não deveriam fazer parte das equipas de internamento durante o período de
contingência. Cabe-me aqui primeiro observar a diligência absolutamente louvável da Direção
de Serviço em relação à saúde dos seus profissionais: senti-me, desde o início da pandemia,
muito seguro e protegido, o que ajudou-me pessoalmente a ultrapassar a fase de grande
incerteza por todos sentida no início da quarentena. Não obstante, tornou-se-me evidente
também que, apesar de benéfica para a minha própra saúde mental, a suspensão das minhas
atividades em intenamento durante quase dois meses (Abril e Maio) foram prejudiciais ao meu
percurso formativo. Aproveitei este tempo potencialmente ocioso para estudar psicopatologia
conforme o preconizado para o primeiro ano de internato, porém ficou-me rapidamente claro
que a instrução académica divorciada da prática clínica é facilmente superficial e pouco
edificante.

Apesar da metafórica “quebra de ritmo” causada pela incerteza da pandemia, esforcei-


me para recuperar a minha marcha formativa durante os meses que se seguiram ao plano inicial
de contigência. Devo agradecer ao Dr. Arlindo Ralas pela sua capacidade organizadora e pela
celeridade de resposta face às adversidades, ao Dr. Paulo Martins pelos seus vários conselhos
durante todo o ano, à Dr.ª Cristina Costa pela sua abertura à discussão dos mais variegados
tópicos da psiquiatria, ao Prof. Doutor Frederico Couto pela sua boa disposição e acessibilidade
em como profissional e à Dr.ª Susana Loureiro pelo seu sempre presente entusiasmo em
responder a todas as questões que lhe foram por mim colocadas. Também foram todos os
internos impecáveis em relação ao apoio que me proporcionaram neste primeiro ano de
internato. Penso que, com o auxílio dos meus colegas, evoluí tanto do ponto de vista profissional
quanto humano, e sinto-me deste modo mais capaz de enfrentar as exigências do restante
internato.

Contacto com a Lei de Saúde Mental


No contexto do cumprimento da Lei de Saúde Mental, ao longo do ano assisti ao internamento
compulsivo de diversos doentes e realizei várias respostas a tribunal.

17
Apresentação e análise dos doentes seguidos em internamento

Ao longo do primeiro ano de internato, acompanhei ao todo 47 doentes. Destes, 28


(59.57%) eram do sexo feminino, e 19 (40.43%) eram do sexo masculino. A média de idade dos
doentes observados era de 45.85 anos, com mediana de 46 anos. As idade mínima foi de 18
anos, e a máxima de 83 anos. Abaixo apresento um histograma com a distribuição das idades
por faixas etárias:

14

12
12

10 10
10
10

6
5
4
4
3
2
2
1
0
<20 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 >80

Fig. 1 – Distribuição etária de doentes de internamento

Como podemos observar, a maioria dos doentes encontravam-se na faixa etária dos 30
aos 59 anos de idade. Estes valores são sensivelmente sobreponíveis aos relatados num estudo
realizado num serviço de psiquiatria italiano8.

Relativamente à nacionalidade, 39 (82.98%) eram portugueses, sendo os restantes 8


(17.02%) estrangeiros. Destes, 2 eram provenientes de Angola, 1 da Bélgica, 1 do Brasil, 1 da
Hungria, 1 da Namíbia, 1 da Romena e 1 da Ucrânia.

Fig. 2 – Distribuição das nacionalidades dos doentes

18
A média de escolaridade dos utentes era de 11 anos, variando desde um mínimo de 4
anos de escolaridade até 18 anos. De todos os pacientes, 9 (19.15%) não haviam completado o
9º ano de escolaridade, e 17 (36.17%) não haviam completado o 12º ano de escolaridade.
Apenas 11 (23.40%) completaram o ensino superior. A média de idade dos utentes que não
haviam completado o 9º ano era de 48.78 anos, valor que não difere de forma relevante da
média etária total.

Controlando o nível de escolaridade pelas diferentes patologias, observamos que o


grupo das esquizofrenias tinha uma média de escolaridade de 9.9 anos, não muito inferior à
média total dos doentes – ao contrário do que se esperaria numa doença marcada, em muitos
casos, pela deterioração cognitiva e diminuição de rendimento. A média de escolaridade dos
pacientes com diagnóstico de perturbação afetiva bipolar era de 11.7 anos, e a dos utentes com
perturbações depressivas era de 10.9 anos. Desta forma, não é evidente uma grande
discrepância de rendimento académico entre as diferentes patologias dentro da amostra por
mim acompanhada.

Relativamente à atividade profissional, 26 (55.32%) utentes encontravam-se em


situação de desemprego quando do internamento, 10 (21.28%) encontravam-se reformados; os
restantes 11 (23.40%) pacientes estavam ativos em atividade profissional/académica. É bastante
provável que a patologia mental em si interfere ativamente na capacidade laboral, porém não
se deve excluir a possibilidade de existência de casos em que o inverso é verdade: a própria
atividade laboral pode ter efeito protetor em relação ao sofrimento subjetivo e ao consequente
desenvolvimento de doenças mentais – como teorizado por Marie Jahoda9, que reiterou o efeito
protetor da estruturação temporal, do contacto social, do propósito coletivo, do status social e
da mera atividade física e mental garantidos pela atividade laboral.

Dentro do grupo de pacientes desempregados, a patologia mais predominante era a


esquizofrenia, com 8 casos (30.77% dos pacientes desempregados). Seguiram-se a perturbação
afetiva bipolar e a perturbação depressiva recorrente, ambas com 5 utentes desempregados
cada (representando 19.23% cada).

No que toca ao estado civil, 26 pacientes (55.32%) eram solteiros, 10 (21.28%) eram
casados ou em união de facto, também 10 (21.28%) eram divorciados, e apenas 1 (2.13%) era
viúvo.

Em relação ao agregado familiar, a maioria dos utentes viviam com a família de origem,
sendo 17 (36.17%) ao todo. 12 utentes (25.53%) viviam com a segunda família, e também 12
(25.53%) viviam sozinhos. De resto, 3 pacientes (6.38%) viviam em situação de sem-abrigo, 2
(4.25%) partilhavam a casa com amigos e apenas 1 (2.13%) vivia com a primeira e com a segunda
família na mesma residência. Importa referir que todos os doentes sem situação de sem-abrigo
possuíam diagnóstico de perturbação psicótica, um com esquizofrenia paranóide, outro com
esquizofrenia desorganizada e ainda outro com perturbação delirante crónica.

No que diz respeito à área de residência, a maior parte dos doentes era proveniente da
área de referenciação do Centro Hospitalar Lisboa Norte, sendo ao todo 40 (85.11%) utentes.
Dos restantes, 3 (6.38%) eram da área de referência do Hospital Beatriz Ângelo, também 3
(6.38%) do Centro Hospitalar do Oeste, e apenas 1 (2.13%) do Centro Hospitalar Universitário
do Porto.

19
A seguir, passo a apresentar os diagnósticos formais de saída dos doentes por mim
acompanhados, de acordo com a International Statistical Classification of Diseases and Related
Health Problems 10th Revision (ICD-10):

Categorias Diagnósticas (ICD-10) Total

Perturbação mental orgânica 3

F02.8 – Demência de etiologia mista 1

F03 – Demência não especificada 2

Perturbações mentais e comportamentais induzidas por substâncias psicoativas 4

F10.2 – Perturbação de uso de álcool – síndrome de dependência 1

Perturbações esquizofrénicas, esquizotípicas, delirantes e outras perturbações 22


psicóticas
F20.0 – Esquizofrenia paranóide 13

F20.1 – Esquizofrenia desorganizada 1

F22 – Perturbação delirante crónica 1

F23 – Perturbação psicótica aguda transitória 2

F25.0 – Perturbação esquizoafetiva – tipo maníaco 3

F29 – Piscose, sem outra especificação 2

Perturbações afetivas 19

F31.0 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual hipomaníaco 1

F31.1 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual maníaco sem sintomas 1


psicóticos
F31.2 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual maníaco com sintomas 5
psicóticos
F31.3 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual depressivo moderado 1

F31.4 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual depressivo grave sem sintomas 1
psicóticos
F31. 5 – Perturbação afetiva bipolar – episódio atual depressivo grave com sintomas 1
psicóticos

20
F33.1 – Perturbação depressiva recorrente, episódio atual moderado 5

F33.2 – Perturbação depressiva recorrente, episódio atual grave sem sintomas 1


psicóticos
F33.3 – Perturbação depressiva recorrente, episódio atual grave com sintomas 3
psicóticos
Perturbações neuróticas, relacionadas com stress e somatoformes 5

F40.0 – Perturbação do pânico com agorafobia 1

F41.1 – Perturbação de ansiedade generalizada 2

F43.1 – Perturbação de stress pós-traumático 1

F45.1 – Perturbação somatoforme indiferenciada 1

Perturbação da personalidade e do comportamento do adulto 1

F69 – Perturbação da personalidade, sem outra especificação 1

Deficiência intelectual 1

F79.9 – Deficiência intelectual não especificada 1

Tabela 1 – Diagnósticos observados em internamento

A maioria dos doentes por mim seguidos em internamento tiveram diagnóstico dentro
do grupo das perturbações psicóticas, sendo ao todo 22 utentes (46.81%), sendo a esquizofrenia
paranóide o subtido mais representado neste grupo, com 13 pacientes (27.66% do total de
doentes) recebendo este diagnóstico quando da alta. O segundo maior grupo de pacientes foi o
das perturbações afetivas, representando 19 (40.43%) dos 47 utentes; dentro deste grupo, a
perturbação afetiva bipolar foi o diagnóstico mais expressivo, com 10 pacientes (21.28% do
total).

De todos os doentes observados, 14 (29.79%) possuíam comorbilidades psiquiátricas.


Estas comorbilidades distribuíam-se da seguinte forma:

Deficiência intelectual 3

P. de uso de substâncias 9

P. da personalidade 6

P. Neuróticas, relacionadas com stress e


1
somatoformes

Fig.3 – Comorbilidades psiquiátricas

21
Como podemos observar, foram ao todo 19 comorbilidades diagnosticadas, o que
implica que alguns doentes tinham mais do que uma comorbilidade. O grupo de comorbilidades
mais comum foi o das perturbações do uso de substâncias, sendo os canabinóides as substâncias
mais abusadas, representando 8 dos 9 casos deste grupo. Em segundo lugar dentro das
comorbilidades estava o grupo das perturbações da personalidade, sendo a perturbação da
personalidade emocionalmente instável a mais comum, presente em 3 dos 6 casos.

Em termos de comorbilidades médico-cirurgicas, 20 utentes (42.55%) possuíam algum


diagnóstico médico-cirurgico concomitante. Estas distribuíam-se da seguinte forma:

Tiroideias 1

Respiratórias 4

Neurológicas 3

Infecciosas 3

Neoplásicas 7

Metabólicas e cardiovasculares 12

Fig.4 – Comorbilidades médico-cirúrgicas

No total houve 30 diagnósticos médico-cirúrgicos, novamente indicando a coexistência


de múltiplos diagnósticos nalguns doentes. O grupo de comorbilidades mais frequentemente
observado foi o das doenças metabólicas e cardiovasculares (incluindo obesidade, dislipidémia,
hipertensão arterial e diabetes mellitus). Em seguida, encontravam-se as comorbilidades
neoplásicas (adenocarcinomas, leucemias, neoplasias mamárias e lipossarcomas).

Em relação à adesão à terapêutica, apenas 16 (34.04%) doentes foram considerados


bons cumpridores terapêuticos. Dos restantes, 20 (42.55%) eram maus cumpridores e 11
(23.40%) cumpriam parcialmente a terapêutica. Dos maus cumpridores, 12 (60%) possuíam um
diagnóstico do grupo das perturbações psicóticas – o que era expectável, devido ao
comprometimento do insight, uma característica central especialmente nas fases agudas destas
doenças (fases estas que muitas vezes culminam no internamento). De facto, destes 12 doentes,
7 (58.33%) necessitaram de ser internados compulsivamente, o que corrobora a ausência de
insight. Extendendo esta análise ao total dos 20 doentes maus cumpridores, 13 (65%) foram
internados de modo compulsivo. Ademais, apenas 1 doente internado compulsivamente foi
considerado bom cumpridor; todos os restantes faziam parte dos supracitados maus
cumpridores.

Outra questão que certamente influencia a consequente adesão terapêutica é o nível


de suporte social disponível a estes doentes. Importa talvez aqui apontar o facto de que todos
os doentes em condição de sem-abrigo observados (3 ao todo) faziam parte do grupo de maus
cumpridores.

Quanto ao modo de internamento, 14 (29.79%) utentes foram internados


compulsivamente. Nestes, os diagnósticos de esquizofrenia e de perturbação afetiva bipolar
representavam igualmente 6 (42.86%) utentes cada. De referir que todos os doentes bipolares
que necessitaram de internamento sob abrigo da Lei de Saúde Mental apresentavam-se em
episódio maníaco.

22
A duração de internamento variou entre 3 (um caso de perturbação da personalidade
transferida ao país de origem) a 84 dias (uma perturbação esquizoafetiva que aguardou
resolução social); a duração média foi de 21 dias. Contudo, devido ao facto de que a duração de
internamento em psiquiatria não ter, em geral, uma distribuição normal 10, talvez a forma mais
adequada de analisar a estadia dos doentes seja utilizar a mediana: esta, nos meus doentes, foi
de 17 dias.

CONSULTA EXTERNA

Durante a fase inicial do primeiro ano do internato de Psiquiatria, assisti às consultas


semanais de psiquiatria geral, e algumas de gerontopsiquiatria, da Dr.ª Susana Loureiro. Como
já referido à exaustão neste relatório, as atividades clínicas foram interrompidas pela pandemia.
Assim, a partir de meados de Março, todas as consultas passaram a ser realizadas de forma não
presencial, impossibilitando assim a minha comparência. Na totalidade, observei a consulta de
15 doentes neste período.

Contudo, no período de contigência, foram distribuídos doentes de psiquiatras que se


encontravam com certificado de incapacidade temporária para o trabalho pelos internos do
primeiro ano. O objetivo era de organizar os doentes em questão pelo seu grau de gravidade,
dando apoio aos casos mais graves até que a redistribuição dos mesmos fosse possível. A mim,
ficou-me incumbido de ordenar e seguir os doentes da Dr.ª Marta Croca. No total, revi o
processo de 254 doentes; quando necessário, nomeadamente quando os doentes encontravam-
se instáveis ou durante demasiado tempo sem consulta, contactei-os telefonicamente. Ao todo,
foram 31 doentes por mim contactados. Após o período de contigência, os doentes foram
adequadamente redistribuídos.

Acompanhei ainda algumas primeiras consultas da Dr.ª Licínia Ganança, após haver
notado que a maior parte das consultas da Dr.ª Susana Loureiro por mim observadas tratavam-
se de subsequentes. Assim, para preencher esta lacuna de aprendizagem observei mais 6
primeiras consultas no período entre final de Agosto e início de Novembro.

Finalmente, iniciei a minha própria atividade de consulta regular em Novembro,


recebendo ao todo 8 doentes até o final do ano.

Contando apenas as consultas por mim assistidas ou realizadas presencialmente, assim


como os doentes contactados telefonicamente durante o período de quarentena, acompanhei
ao todo 60 consultas. Destes, 31.67% (n=19) eram do sexo masculino e 68.33% (n=41) do sexo
femino. As idades variaram dos 17 aos 82 anos de idade, sendo a idade média cerca de 58 anos.

Abaixo segue a tabela de impressões diagnósticas das consultas observadas e por mim
realizadas (presencial e telefonicamente), de acordo com a classificação da ICD-10:

23
Categorias Diagnósticas (ICD-10) Total

Perturbação mental orgânica 1

F03 – Demência SOE 1

Perturbações mentais e comportamentais induzidas por substâncias psicoativas 4

F12 – Perturbações mentais e comportamentais devido ao uso de canabinóides (uso 1


nocivo)
F13 – Perturbações mentais e comportamentais devido ao uso de benzodiazepinas 3
ou hipnóticos (síndrome de dependência)
Perturbação esquizofrénica, esquizotípica, delirante e outras perturbações 10
psicóticas
F20.0 – Esquizofrenia Paranóide 6

F20.1 – Esquizofrenia Hebefrénica 1

F22 – Perturbação Delirante Crónica 1

F25 – Perturbação Esquizoafetiva 2

Perturbações afetivas 33

F31 – Perturbação afetiva bipolar 9

F32.0 – Episódio depressivo ligeiro 1

F32.1 – Episódio depressivo moderado 1

F32.2 – Episódio depressivo grave, sem sintomas psicóticos 3

F32.3 – Episódio depressivo grave, com sintomas psicóticos 1

F33.1 – Perturbação depressiva recorrente, episódio atual moderado 4

F33.2 – Perturbação depressiva recorrente, episódio atual grave sem sintomas 12


psicóticos
F33.3 – Perturbação depressiva recorrente, episódio atual grave com sintomas 1
psicóticos
F34.1 – Distimia 1

Perturbações neuróticas, relacionadas com stress e somatoformes 11

F40.0 – Perturbação do pânico com agorafobia 1

24
F41.1 – Perturbação de ansiedade generalizada 6

F43.1 – Perturbação de stress pós-traumático 2

F43.2 – Perturbação de adaptação 2

Deficiência intelectual 1

F70 – Défice cognitivo ligeiro 1

Tabela 2 – Diagnósticos observados em consulta

Ao realizar a análise dos dados supramencionados, destaca-se como grupo diagnóstico


mais representado o das perturbações afetivas, equivalendo a 55% do total de doentes por mim
observados. Seguem-se os grupos das perturbações da personalidade e do comportamento do
adulto, representando cerca de 22% dos pacientes.

De todos os pacientes, 18 (30%) possuiam comorbilidades psiquiátricas. O diagnóstico


mais frequentemente encontrado como comorbilidade tratou-se da perturbação da
personalidade emocionalmente instáveis, observado em 10 (56% do total dos pacientes com
comorbilidade) utentes; a esta seguiu-se a perturbação de ansiedade generalizada, observada
em 5 (28%) dos 18 doentes supracitados.

O diagnóstico específico mais observado este ano foi a perturbação depressiva


recorrente – episódio atual grave. Penso que utentes com este diagnóstico são particularmente
representados na consulta de psiquiatria geral por serem os episódios depressivos menos graves
e não recorrentes tratados muitas vezes pelos colegas da Medicina Geral e Familiar (MGF).
Também o nível de sofrimento subjetivo em casos refratários às intervenções não
medicamentosas ou aos fármacos de primeira linha pode impelir os utentes a aceitarem ou
mesmo procurarem ativamente a referenciação à consulta da nossa especialidade, surpassando
a barreira tão conhecida do estigma da psiquiatria – sem contar com os casos em que o
sofrimento é aumentado sinergicamente por comorbilidades.

Importa também relevar que nenhum doente por mim observado era totalmente naïve
em termos psicofarmacológicos, o que se deve provavelmente ao facto de terem sido
referenciados por consultas de MGF ou após vindas ao serviço de urgência. Assim, as consultas
de psiquiatria são essencialmente uma segunda (ou mesmo terceira) linha de suporte às
doenças mentais. Tal pode ser benéfico, por um lado, em termos do alargamento da cobertura
a pessoas que necessitam da prescrição de psicofármacos; por outro, contudo, pode ser a causa
de casos de má prática prescritiva ou mesmo de iatrogenia franca. Não obstante, muitos destes
doentes possuirão certamente níveis de sofrimento subjetivo maiores, níveis de resposta
terapêutica tendencialmente inferiores (seja por polimorfismos genéticos, seja por padrões de
incumprimento terapêutico) e, consequentemente, pior prognóstico quando comparados com
a população geral.

25
SERVIÇO DE URGÊNCIA

Durante o meu primeiro ano de internato, e conforme a prática habitual do serviço, não
fui distribuído a nenhuma equipa fixa de urgência, de modo a passar rotativamente por todas
as equipas. Assim, foi possível integrar-me junto de muitos colegas, o que é positivo não apenas
a nível formativo – pela observação de diferentes formas de abordagem das diversas situações
de urgência –, como também a nível pessoal. Tornou-se-me claro que a mudança de ambiente
das urgências obriga-nos a mudar a forma como praticamos a nossa atividade clínica, e também
é particularmente condutora a sentimentos de companheirismo e cumplicidade que conduzem
ao fortalecimento do espírito de equipa tão fundamental à nossa profissão.

No decorrer do ano, adotei inicialmente uma atitude essencialmente observacional,


tornando-me progressivamente mais ativo conforme adquiri mais experiência. Acabei por
realizar individualmente algumas consultas no final do ano (discutindo sempre a decisão clínica
com algum profissional mais graduado). Foi possível realizar, inclusive, duas observações a
doentes internados noutros serviços (um em hematologia e outro em medicina interna) de
forma autónoma. O apoio dos colegas seniores foi constante, estando todos sempre prontos a
ajudar-me na observação de doentes, no esclarecimento de dúvidas teóricas e nas decisões
clínicas.

Em contexto de urgência, é relativamente frequente encontrar doentes cuja


descompensação do quadro psiquiátrico de base traduz-se em agitação psicomotora,
irritabilidade fácil e maior intolerância à frustração. Deparei-me, não poucas vezes, com
situações tensas em relação à segurança dos profissionais de saúde – não apenas médicos, mas
também enfermeiros e auxiliares. Infelizmente, a proteção dos colaboradores não é, de todo,
garantida de forma contínua: há poucos seguranças distribuídos pelos diversos serviços de
urgência, e muitas vezes ausentam-se por razões várias.

Devido à pandemia, os internos do 1º ano de internato foram dispensados da atividade


no serviço de urgência durante o período entre final de Março e início de Junho. Como tal, isto
afetou em parte o número de casos totais observados. É evidente que não considero errada a
decisão em poupar os internos do 1º ano, principalmente no período inicial em que a atividade,
como referido, era apenas observacional: penso que a nossa proteção em relação à pandemia
foi sempre garantida. Não obstante, esforcei-me para estar, nos restantes meses, sempre
fisicamente presente no serviço de urgência, de modo a recuperar os meses perdidos. Penso
que adquiri alguma confiança e agilidade no manejo de doentes vistos nesta modalidade.

26
Apresentação e análise dos doentes observados no Serviço de Urgência

Ao todo, observei no serviço de urgência 118 doentes durante o primeiro ano de


internato. Destes, 73 (61.86%) eram do sexo feminino, e 45 (38.14%) eram do sexo masculino.
Estes números estão de acordo com um estudo realizado no Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra11; foi teorizado que isto deve-se a uma atitude mais positiva em relação à procura
de ajuda psiquiátrica pelas mulheres12.

Relativamente à faixa etária, segue abaixo um gráfico ilustrativo:

30
22%
Número de doentes

25 19%
20 15% 14%
15 11%
8% 7%
10
5 2%
0
<20 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 ≥80
Intervalo de idades
Fig. 3 – distribuição etária dos doentes de SU

Como podemos observar, a faixa etária dos 30 aos 39 anos foi a que mais procurou o
atendimento de urgência.

Em termos de impressões diagnósticas, atentemos ao gráfico abaixo:

2%
1%
5%
5%

10% 30%

10%

24%
11%

Fig. 4 – distribuição de impressões diagnósticas

27
O grupo de impressões diagnósticas mais observado em contexto de urgência, portanto,
foi o das perturbações depressivas, num total de 35 utentes (30%). Destas, 12 foram
consideradas graves, 19 moderadas, e apenas 4 ligeiras. A este grupo, seguiram-se o das
perturbações psicóticas (28 no total – 16 esquizofrenias paranóides, 8 psicoses sem outra
especificação, 3 perturbações delirantes crónicas e apenas 1 perturbação esquizoafetiva) e o
das perturbações da personalidade (13 no total).

Em relação ao destino do utente após a observação de urgência, a maioria recebeu alta


(81 ao todo), 22 utentes foram internados num dos serviços de Psiquiatria do Hospital Santa
Maria, 11 foram tranferidos externamente a outros hospitais, 2 foram transferidos
internamente a outras especialidades, e 2 abandonaram o serviço de urgência precocemente.
Dentro do grupo de doentes internados, o diagnóstico mais comum foi o de esquizofrenia
paranóide, presente em 10 (45.45%) dos 22 pacientes; seguiu-se o de episódio depressivo grave,
presente em 5 (22.73%) utentes internados.

Quanto à prevalência de tentativas de suicídio, estas estiveram presentes em 11 (9.32%


do total) casos, dos quais 5 (45.45% das TS) possuíam o diagnóstico primário de episódio
depressivo grave.

28
ATIVIDADE CIENTÍFICA E FORMATIVA

FORMAÇÕES E SESSÕES CLÍNICAS

Sessões Clínicas
As Sessões Clínicas do Serviço são realizadas no auditório Professor Barahona
Fernandes, todas as segundas-feiras pelas 09:00h. A sessão clínica destina-se a todos os
profissionais do serviço, sendo um espaço essencialmente de discussão, com impressões dos
mais diversos pontos de vista na psiquiatria. O calendário das sessões é realizado pelo Dr.
Arlindo Ralas e divulgado com antecedência a todos os colaboradores do serviço.

As várias unidades do serviço apresentam, de forma rotativa, um caso clíco considerado


de especial interesse clínico. A estrutura das sessões costuma seguir um padrão uniforme. Num
primeiro momento é apresentado o caso clínico com suporte audiovisual, sendo posteriormente
reservado um espaço para a colocação de questões pela plateia. Em seguida, o paciente em
questão, sempre que possível, é entrevistado por um psiquiatra sénior, com nova abertura a
perguntas. Segue-se a discussão do caso.

As diferentes perspectivas dos vários psiquiatras e psicólogos do serviço são de extrema


mais vali no enriquecimento formativo dos internos, e a discussão fomenta uma maior
integração teórica e prática. Na fase final da sessão, são deixadas orientações específicas e
recomendações por parte do Prof. Dr. Luís Câmara Pestana.

Este ano, tive a oportunidade de participar pessoalmente numa das sessões,


participando em todas as etapas da sua elaboração: estive presente na colheita da história junto
do doente, na preparação do suporte audiovisual e apresentei oralmente parte do caso clínico.

Infelizmente, as sessões clínicas foram descontinuadas em meados de Fevereiro de


forma a evitar a aglomeração de pessoas e limitar o contágio pelo novo Coronavírus.

Curso de Formação do Internato Médico de Psiquiatria


Este curso, criado em 2014 pelo Prof. Doutor António Barbosa, trata-se de um módulo
de cariz introdutório aos internos do 1º ano, de forma a prepará-los para as diversas situações
da prática clínica. Recebemos, de vários especialistas, os conceitos fundamentais de
psicopatologia e entrevista clínica. Realizámos ainda entrevistas encenadas na presença de
especialistas, sendo assim possível intervenções em tempo real em relação à nossa postura
junto do doente e às técnicas de colheita de história clínica e realização de diagnósticos. Foram
também realizadas sessões de introdução à psicofarmacologia, muito úteis para a familiarização
dos internos em relação ao vasto mundo da farmacologia psiquiátrica.

Esta atividade foi, a meu ver, extremamente positiva, preparando-me para as diversas
vicissitudes que viria a encontrar neste primeiro ano de internato. Infelizmente, o curso teve
também de ser interrompido frente à situação de pandemia.

29
Supervisão de Consultas
Com periodicidade semanal realizam-se as denominadas sessões de supervisão,
presididas alternadamente pelo Prof. Dr. Luís Câmara Pestana e pelo Prof. Doutor Carlos Góis.
Estas sessões têm com objetivo o suporte dos internos – especialmente os mais novos – nas suas
atividades clínicas várias, com enfoque particular na discussão de casos seguidos em consulta.

Tive a oportunidade de apresentar um caso com que tive alguma dificuldade numa
destas sessões, sentindo pessoalmente a sua grande utilidade. Contudo, mesmo nos casos de
terceiros, a discussão promovida pela supervisão é amplamente benéfica para o
desenvolvimento de agilidade no pensamento clínico e na decisão terapêutica.

As supervisões foram interrompidas pela pandemia, mas, passado o período inicial de


quarentena, foram recomeçadas.

Journal Club
Organizado pela Prof.ª Doutora Maria Luís Figueira, o Journal Club consiste na
apresentação, pelos internos do primeiro ano, de um artigo escolhido em conjunto com a
Professora. Esta atividade visa a leitura crítica do artigo e a familiarização do interno em resumir
e apresentar um artigo científico para terceiros. Após a apresentação, segue-se a discussão em
grupo do artigo, presidida pela Professora, que possui particular aptidão na análise e produção
de publicações científicas.

Infelizmente, apesar de assistir a múltiplas sessões, não tive neste ano a oportunidade
de apresentar um artigo, uma vez que também o Journal Club foi interrompido devido ao
Coronavírus. Contudo, espero poder realizar a minha apresentação assim que possível no início
do próximo ano formativo.

CURSOS E WORKSHOPS

• Formação de cotação da Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS) – Janssen-Clag


Farmacêutica; 23 de Julho de 2020

• Curso “Essentials of Phenomenological Psychopathology” – (Prof. Doutor Luís Madeira)


– Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental; de 01 de Setembro a 31 de
Outubro de 2020

30
ARTIGOS CIENTÍFICOS

• Dornelles, E., Marques, J.G., Ouakinin, S. (2019) Unconjugated bilirubin and


schizophrenia: a systematic review. CNS spectrums 24(6):1-12

ATIVIDADES EM CURSO

• Dornelles, E. Formal Thought Disorder and Intersubjectivity– aceitação pendente para


EPA Virtual 2021
• Dornelles, E. Formal Thought Disorder and its prognostic implications: a systematic
review – aceitação pendente para EPA Virtual 2021
• Dornelles, E. The Hermeneutical geometry of diagnosis. Em processo de pesquisa de
dados.
• Prata, D. Et al NEUROGENAI - Oxitocina intranasal para a psicopatologia social:
mecanismos de acção e biomarcadores preditivos usando neuroimagiologia, genética e
inteligência artificial. – realização em curso
• Estudo fenomenológico sobre a experiência Borderline – a ser realizado em conjunto
com Dr. João Rema e Dr.ª Tânia Cavaco

31
REFLEXÃO CRÍTICA

O primeiro ano é, em geral, reservado para o início da exploração do interno da nova


especialidade e para a aquisição dos alicerces sobre os quais serão posteriormente erguidos os
restantes conhecimentos mais aprofundados. Neste ano, a minha missão principal foi, desde o
início, a leitura do maior número de textos fundamentais sobre a psicopatologia e a obtenção
das ferramentas para o manejo de doentes, através do seguimento do maior número de doentes
possível.

Contudo, parece-me inegável o facto deste primeiro ano de internato na especialidade


de psiquiatria ter sido extremamente peculiar, ao ser marcado pelo início de uma situação
completamente imprevisível – pelo menos para quem não trabalhava na área da medicina
epidemiológica –, nomeadamente, o início da pandemia do novo Coronavírus. Devo confessar
que, apesar de ter tido sorte por haver a infeção poupado a mim e a meus familiares, sinto que
a grande incerteza causada inicialmente por esta situação afetou-me mais do que gostaria de
admitir. Apesar de ter aproveitado o tempo em confinamento para ler alguns livros seminais e
artigos importantes, a falta de contacto com doentes de internamento acabou por tornar a
minha aprendizagem algo abstrata, uma vez que não tinha a oportunidade de aplicá-la
diretamente em casos clínicos. Após a volta do confinamento, senti um ambiente algo mudado,
com uma atmosfera de incerteza que cobria um fundo de medo ubíquo nos profissionais de
saúde. Assim, ainda não sei ao certo o que é o “normal” do nosso serviço, e não sei realmente
se algum dia vou chegar a sabê-lo; sinto uma grande tristeza ao constatá-lo.

A minha produção científica este ano foi, para todos os efeitos, praticamente nula.
Apesar de esforçar-me para a produção de alguns estudos nos meses finais do ano, sinto que
não foi de todo o suficiente, e esta será uma das áreas nas quais irei certamente focar-me no
ano vigente. Além disso, iniciamos a nossa consulta externa apenas no mês de Novembro, pelo
que sinto que me falta mais experiência clínica nesta área, algo que já comecei a procurar
retificar com a marcação adicional de doentes observados no serviço de urgência.

Em termos de formação académica, penso que também fiquei aquém das minhas
próprias expectativas iniciais, porém acho que todos os profissionais de saúde sentiram o
mesmo este ano. Tive a oportunidade de realizar o curso “Essentials of Phenomenological
Psychopathology” com o Prof Doutor Luís Madeira em Setembro, que renovou em mim o
interesse pela psicopatologia e despertou a minha curiosidade para as subtilezas da
fenomenologia e outros ramos da filosofia em psiquiatria, caminho este que quero continuar a
explorar nos próximos anos. Contudo, penso que possuo ainda importantes lacunas na área da
psicofarmacologia, que é também muito subtil e fulcral para a prática clínica, e a qual quero
também esforçar-me para dominar no futuro.

Aproveito para voltar a agradecer a equipa de internamento do Piso 3, que muito se


esforçou para apoiar-me e ensinar-me neste ano complexo; à Direção do Serviço, que, a meu
ver, tentou sempre proteger os seus colaboradores quando outras não o fizeram; e a todos os
internos, que me fizeram sempre sentir acolhido nesta especialidade.

Espero que este próximo ano seja melhor para todos, e que mantenhamos o espírito de
entreajuda que marcou o inesquecível ano de 2020. Lutarei com todo o meu afinco para

32
melhorar em todas as áreas que ficaram aquém das minhas expectativas, e jamais olvidarei este
início de especialidade cheio de atribulações, incertezas, ansiedades, descobertas, esforços mas,
acima de tudo, cooperação.

BIBLIOGRAFIA

1- Kendler, K. S., Engstrom, E. J. (2017) Kahlbaum, Hecker, and Kraepelin and the Transition
From Psychiatric Symptom Complexes to Empirical Disease Forms. American Journal of
Psychiatry 174:102-104
2- Reynolds, E.H., Wilson, J.W. (2014) Neurology and psychiatry in Babylon. Brain,
137;9:2611-2619
3- Moura B., S.D., Guia do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental, in Lundbeck, C.H.L. Norte,
Editor. 2014. p. 23.
4- http://www.chln.pt/index.php/as-nossas-especialidades/neurociencias-e-saude-
mental/psiquatria-e-saude-mental
5- http://www.acss.min-saude.pt/2016/09/13/livre-acesso-e-circulacao/
6- http://www.arslvt.min-
saude.pt/uploads/writer_file/document/2654/Relat_rio_de_Monitoriza__o_UML_abri
l_2016.pdf
7- https://dre.pt/application/conteudo/105643547
8- Di Lorenzo R., Vecchi L., Artoni C., Mongelli F., Ferri P. (2018) Demographic and clinical
characteristics of patients involuntarily hospitalized in an Italian psychiatric ward: a 1-
year retrospective analysis. Acta Biomed. 2018;89(6-S):17-28.
9- Jahoda, M. (1982). Employment and unemployment. Cambridge, England: University
Press.
10- Priest R.G., Fineberg N., Merson S., Kurian T. (1995) Length of stay of acute psychiatric
inpatients: an exponential model. Acta Psychiatrica Scandinavica 92: 315/7
11- Gonçalves, M., Teixeira, J., Diana, R., Craveiro, A. (2016) Gender difference among
psychiatric patient's profile in emergency department. European Psychiatry 33:S442
12- Mackenzie, C. S., Gekoski W.L., Knox V.J. (2006) Age, gender, and the underutilization of
mental health services: the influence of help-seeking attitudes. Aging Mental Health.
10;6:574-82

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ANEXOS

• Certificado da Formação de cotação da Positive and Negative Syndrome Scale


(PANSS)

• Certificado do Curso “Essentials of Phenomenological Psychopathology”

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