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TEORIA PSICOGENÉTICA DE

WALLON E SUA APLICAÇÃO NA


EDUCAÇÃO
~ Henri Wallon ~
UC Psicologia e Educação
Henri Wallon: vida e obra
• Henri Paul Hyacinthe
Wallon nasceu em 15 de
junho de 1879, em Paris,
na França;
• Família liberal e
republicana;
• Influência no cunho
humanista e solidário de
suas obras;
Henri Wallon: vida e obra
• 1899 – 1902: Estudou estudou
na Escola Normal Superior,
onde obteve o diploma de
Licenciatura em Filosofia, e
mais tarde em Medicina
(1908);
• 1908 – 1914: Trabalhou em
instituições psiquiátricas
francesas;
• Dedicou-se a psiquiatria
infantil com ênfase na área de
anomalias motoras e mentais;
Henri Wallon: vida e obra
• Trabalhou como médico no
Exércio francês durante a I
Guerra Mundial (1914 - 1918);
• Repensar algumas das
concepções que havia idealizado
quando atendia crianças com
problemas neurológicos;
• Em 1919 foi chamado para
ministrar uma série de palestras
sobre psicologia da criança, em
Sobornne;
Henri Wallon: vida e obra
• Wallon continuou a ministras
palestras em diversas instituições;
• Foi entre as décadas de 20 e 40 que
a produção acadêmico-cientifica
“deslanchou”, produzindo vários
livros;
• Em 1925 publicou a sua tese de
doutorado “A criança turbulenta” e
ministrou a disciplina de psicologia
da educação;
Henri Wallon: vida e obra
• Em 1935, ocorreu sua viagem ao
Brasil;
• Recepção feita por Paulo Freire;
• Ministrou palestras no Rio de
Janeiro, São Paulo e Bahia;
• No percurso da II Guerra Mundial,
quando a França foi ocupada pelos
nazistas alemães, Wallon filiou-se
ao Partido Comunista fazendo
oposição ao nazismo;
Henri Wallon: vida e obra
• Perseguição por parte da Gestapo,
a polícia política dos nazistas.
• Devido a perseguição, Wallon teve
que suspender as atividades
acadêmicas;
• Não parou as produções
científicas, publicando inclusive,
nessa época tumultuada, o livro
“Do ato ao pensamento” (1942);
Henri Wallon: vida e obra
• Em 1944 Wallon foi nomeado pelo Ministério
da Educação Nacional para compor uma
comissão responsável pela reformulação do
sistema de ensino francês;
• Em 1947 vieram os resultados desse trabalho:
➢ O “Projeto Langevin-Wallon”, que a
despeito da sua não implantação, “priorizava a
adequação da educação às necessidades da
sociedade da época e às características do
indivíduo, favorecendo ao máximo o
desenvolvimento de aptidões individuais e a
formação do cidadão”.
Henri Wallon: vida e obra
• Em 1948 criou a Revista Enfance, de
psicologia infantil;
• Importantes considerações a respeito da
criança, nas áreas da psicologia,
pedagogia, neuropsiquiatria e sociologia;
• Wallon se aposentou oficialmente em
1949, embora tenha continuado as
atividades cientificas no seu laboratório;
• Em 1953 um acidente retirou sua
mobilidade quase total, Wallon continua
seu trabalho na sua residência;
• Em 1962 faleceu aos 83 anos, compondo
o que seria o seu último artigo “Mémoire
et raisonnement”.
• Explicação do desenvolvimento cognitivo da
criança;
• Conceito de “campos funcionais” que são
FUNDAMENTOS categorias de atividades cognitivas específicas;
PSICOLÓGICOS • Existem quatro campos funcionais: movimento
DA TEORIA (ato motor ou motricidade), afetividade,
WALLONIANA: inteligência e pessoa (formação do eu);
CONCEITOS DE • Apesar de distinguir quatro campos funcionais,
CAMPOS Wallon trabalha com a ideia de integração
FUNCIONAIS funcional desses campos, afirmando que esses são
complementares e atuam de forma totalizante;
• É um dos poucos teóricos da época que considera
a criança em sua totalidade, pensando-a de uma
forma holística;
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA TEORIA
WALLONIANA: CONCEITOS DE CAMPOS FUNCIONAIS

Movimento/Motricidade

O movimento possibilita às crianças


Está intimamente ligado às situações que lhe proporcionarão
Um dos primeiros a se emoções, pois são estes que aprendizado e é isso que fará a
mobilizam a afetividade em individualização entre a criança e o meio,
desenvolver. É o movimento ou seja, o movimento e as emoções, irão
suas mais variadas facetas. O
que dá apoio a evolução dos movimento é a tradução da vida
de forma complementar, ajudar no
outros campos funcionais. processo de formação do eu, criando na
psíquica, antes do surgimento criança um senso de particularização, de
da palavra. singularidade entre ela e o ambiente que
a cerca.
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA TEORIA WALLONIANA:
CONCEITOS DE CAMPOS FUNCIONAIS
Afetividade
• É a fase mais primitiva do desenvolvimento, antecedendo a
cognitividade;
• Conjunto funcional que responde pelos estados de bem-estar e mal-
estar quando o homem é atingido e afeta o mundo que o rodeia;
• Todo o domínio das emoções, dos sentimentos, das experiências
sensíveis e, principalmente, da capacidade de entrar em contato
com sensações, referindo-se às vivências dos indivíduos e às
formas de expressão mais complexas e essencialmente humanas;
• São manifestações de dimensões tanto psicológicas como
biológicas;
• As manifestações psicológicas são representadas pelos
sentimentos e desejos, e as manifestações biológicas são
representadas nos batimentos cardíacos, a respiração e tônus
muscular;
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA TEORIA WALLONIANA:
CONCEITOS DE CAMPOS FUNCIONAIS
Inteligência

• O surgimento da inteligência está vinculado tanto a fatores


biológicos como sociais;
• A gênese da inteligência é genética e organicamente
social;
• Os fatores biológicos referem-se às emoções que tem o
papel de estabelecer “uma relação imediata dos indivíduos
entre si”;
• Os fatores sociais correspondem ao meio social que
contribui significativamente com dois aspectos: o sistema
de símbolos e a linguagem, ambos desenvolvidos
mutuamente aumentando o poder de abstração do
indivíduo;
FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA TEORIA
WALLONIANA: CONCEITOS DE CAMPOS FUNCIONAIS
Pessoa (Formação do eu)
• A pessoa é um campo funcional ao mesmo tempo • A construção da personalidade acontece por
que se constitui dos outros campos como
volta do primeiro ano pós-nascimento;
afetividade, ato motor, e a inteligência;
• Tem intermédio do outro, que é imprescindível
• Num primeiro momento, as atividades cognitivas
infantis encontram-se não claramente distintas;
para a ocorrência desse personalismo;

• O bebê não se vê como um indivíduo singular


(diferenciado) ou seja, há uma indiferenciação do
eu – outro e do eu – ambiente;
• O bebê confunde-se com o meio;
• Embora haja essa indiferenciação, o bebê não
deixa de existir como ser social, pois sabe se
comunicar desde o seu nascimento, como forma
de sobrevivência;
• Teoria “Psicogênese da Pessoa
Completa”;
• Propôs o estudo da criança a partir de
uma perspectiva holística, insistindo
no conhecimento da criança enquanto
ser completo, rompendo assim o
dualismo cartesiano;
• O desenvolvimento é visto a partir de
uma Concepção Dialética, onde este é
este assinalado por conflitos,
retrocessos, rupturas, em
consequências das modificações
ambientais, constituindo um processo
continuo que ocorre através de uma
DESENVOLVIMENTO DO SER sucessão não linear de estágios;

HUMANO NA PERSPECTIVA • Para explicar o desenvolvimento da


pessoa, Wallon fez uso de três
WALLONIANA princípios:
DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO
NA PERSPECTIVA WALLONIANA

• Os aspectos afetivos e cognitivos se


alternam nos diferentes estágios do
desenvolvimento;
• Em um estágio há a predominância de
aspectos afetivos (com orientação
LEI DA centrípeta, voltada para a construção do
ALTERNÂNCIA eu);
• No estágio subsequente, a de aspectos
FUNCIONAL cognitivos (com orientação centrifuga,
voltada para as relações externas a
pessoa);
DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO
NA PERSPECTIVA WALLONIANA

• Durante o desenvolvimento humano


ocorre a predominância de um dos
conjuntos funcionais (cognição, ato
motor, afetividade) embora não
LEI DA signifique a ausência dos outros
PREPONDERÂNCIA componentes;
FUNCIONAL • No primeiro estágio de
desenvolvimento (estagio
impulsivo) ocorre a prevalência da
função motora;
DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO
NA PERSPECTIVA WALLONIANA

• Durante a sucessão dos


estágios de desenvolvimento
do homem são agregadas
novas aquisições que se
integram as conquistas
LEI DA INTEGRAÇÃO passadas;
FUNCIONAL • Essas “experiências passadas
não se perdem, permanecem
latentes até que algumas
situações as faça ressurgir”;
Estágios do Desenvolvimento
ESTÁGIO I: IMPULSIVO-EMOCIONAL

• Abrange o primeiro ano de vida, cuja


ênfase é a emoção (predomínio afetivo);
• Nesta fase o bebê tem total dependência
do adulto para sobrevivência;
• O adulto será o mediador entre fator
fisiológico e o fator social iniciando a
constituição do fator psíquico;
ESTÁGIO I: IMPULSIVO-EMOCIONAL

⮚ 0 a 2-3 meses: Estágio de


impulsividade motriz pura. Predomínio
das reações puramente fisiológicas
(espasmos, contrações, gritos);
ESTÁGIO I: IMPULSIVO-EMOCIONAL

⮚3 a 9 meses: Estágio emocional.


Aparição da mímica (sorriso).
Preponderância das expressões
emocionais como modo dominante das
relações criança-ambiente;
ESTÁGIO I: IMPULSIVO-EMOCIONAL

⮚9 a 12 meses: Começo de
sistematização dos exercícios sensório-
motores;
ESTÁGIO II: SENSÓRIO MOTOR E
PROJETIVO
• O “sensório-motor e projetivo”, que vai
até o terceiro ano, quando o interesse da
criança se volta para a exploração
sensório-motora do mundo físico
(predomínio cognitivo);
• Neste estágio o movimento espontâneo do
corpo transforma-se aos poucos em gestos,
ou seja, os movimentos corporais são
realizados a partir de uma intenção e
reveste-se de significação;
ESTÁGIO II: SENSÓRIO MOTOR
E PROJETIVO
⮚ 12 a 18 meses: Período sensório-
motor. Comportamento de
orientação e investigação.
Exploração do espaço circundante,
ampliada mais tarde pela
locomoção. Inteligência das
situações.
ESTÁGIO II: SENSÓRIO MOTOR
E PROJETIVO
⮚18 meses a 2-3 anos:
Estágio projetivo.
Imitação, atividade
simbólica. Aparição da
inteligência representativa
discursiva (prática).
ESTÁGIO III - PERSONALISMO

• O do “personalismo”, que cobre a faixa dos 3 aos 6


anos, cuja tarefa central é o desenvolvimento da
personalidade, a construção da consciência de si
(predomínio afetivo).
• A criança está dividida entre um desejo intenso de
autonomia e seu vínculo profundo com a família;
• Importante para a formação do caráter;
⮚3 anos: Crise de oposição.
Independência progressiva do eu
(emprego do “eu”). Atitude de recusa
que permite conquistar e salvaguardar a
autonomia da pessoa.

ESTÁGIO III -
PERSONALISMO
⮚4 anos: Idade da graça. Sedução do
outro, idade do narcisismo.

ESTÁGIO III -
PERSONALISMO
⮚5 a 6 anos: Representação de papéis.
Imitação de personagens, esforço de
substituição pessoal por imitação.

ESTÁGIO III -
PERSONALISMO
ESTÁGIO: PENSAMENTO
CATEGORIAL
• Aos seis anos inicia-se o estágio
“categorial”, cuja ênfase recai para
os avanços dos progressos
intelectuais, dirigindo o interesse da
criança para o conhecimento e
conquista do mundo exterior
(predomínio cognitivo);
• O conflito é satisfazer a curiosidade
de conhecer, explorar o mundo e
sentir que o vínculo com as pessoas
significativas continua intacto;
⮚6 a 7 anos: Desmame afetivo, “idade
da razão”, idade escolar. Poder de
autodisciplina mental (atenção).
ESTÁGIO:
PENSAMENTO
CATEGORIAL
⮚7 a 9 anos: Constituição da rede de
categorias, dominadas por conteúdos
concretos.

ESTÁGIO:
PENSAMENTO
CATEGORIAL
⮚9 a 11 anos: Conhecimento operativo
racional, função categorial.

ESTÁGIO:
PENSAMENTO
CATEGORIAL
ESTÁGIO:
PUBERDADE -
ADOLESCENCIA

• Estágio da adolescência quando a crise pubertária impõe


a necessidade de novos contornos da personalidade em
função das mudanças corporais, trazendo a tona questões
pessoais, morais, existenciais, retomando a
predominância da afetividade;
• O conflito é em manter o vínculo com pessoas
significativas enquanto explora o mundo real e vivencia
atitudes, comportamentos e sentimentos ambíguos;
• Procura descobrir sua verdadeira identidade;
ESTÁGIO: PUBERDADE - ADOLESCÊNCIA
⮚ Crise da puberdade. Retorno ao eu corporal e ao eu psíquico
(oposição).
ESTÁGIO PUBERDADE - ADOLESCÊNCIA
⮚Dobra do pensamento sobre si mesmo (preocupações teóricas, dúvida).
ESTÁGIO: PUBERDADE - ADOLESCÊNCIA
⮚Tomada de consciência de si mesmo no tempo (inquietudes metafísicas,
orientação de acordo com eleições e metas definidas).
Compreensão da criança enquanto ser completo:
AS • Alicerçada nos fundamentos da “psicogênese da
CONTRIBUIÇÕES pessoa completa”;
DE WALLON NO
ÂMBITO • Afirma que a criança deve ser compreendida de
EDUCACIONAL forma completa, integral;
• Deve ser percebida em seus aspectos afetivos,
biológicos e intelectuais;
• O entendimento da criança enquanto ser
completo põe por terra a clássica dicotomia
corpo/mente pregada pelo Dualismo cartesiano;
AS Ênfase na relação professor-aluno e
CONTRIBUIÇÕES valorização da afetividade:
DE WALLON NO
ÂMBITO • O componente afetivo ocupa lugar de
EDUCACIONAL destaque nos estudos de Wallon;
• Pioneiro em considerar as emoções infantis
para a sala de aula, além do corpo da
criança;
• As emoções têm uma função
importantíssima no desenvolvimento da
pessoa, pois são por meio delas que o aluno
exterioriza seus desejos e suas vontades;
AS Ênfase na relação professor-aluno e valorização
CONTRIBUIÇÕES da afetividade:
DE WALLON NO
ÂMBITO • Destaca o papel do professor como mediador e
EDUCACIONAL facilitador do processo de construção da
identidade da criança;
• Um docente afetivamente orientado terá a
consciência de que seu papel não é somente atuar
no espaço cognitivo, mas sim que suas atitudes
refletirão diretamente na dimensão afetiva e
motora do indivíduo, onde a partir desse conjunto
se dará o seu desenvolvimento;
AS
CONTRIBUIÇÕES
DE WALLON NO O papel da escola:
ÂMBITO • A escola como “meio social” fundamental
EDUCACIONAL no desenvolvimento desses sujeitos,
destacando o processo de humanização e da
transformação recíproca do sujeito e do
meio;
Enfoque na motricidade:
AS • O ato motor propriamente dito vai além de executar
CONTRIBUIÇÕES as ações pensadas pelo sujeito;
DE WALLON NO • O ato motor também tem o papel de garantir a
ÂMBITO expressão da afetividade, seja por gestos ou
EDUCACIONAL expressões faciais;
• Quanto maior o domínio dos signos culturais e
aspectos cognitivos, traduzindo, assim aprimoração e
qualificação motora;
• A ênfase na motricidade oferece subsídios para uma
educação globalizante e voltada para
interdisciplinaridade;
AS
CONTRIBUIÇÕES
Visão política da educação:
DE WALLON NO
ÂMBITO • Apresenta uma visão política de uma educação
EDUCACIONAL mais justa para uma sociedade democrática, a
partir dos princípios norteadores da Justiça e
Dignidade, valorizando ainda a cultura geral e
defendendo a Escola Única (escola para todos,
independente de classe social, humanista,
solidária).
Teorias do
Desenvolvimento
Humano
Dautro, G. M. & Lima, W. G. M. A teoria
psicogenética de Wallon e sua aplicação na
educação. V Congresso Nacional de Educação.
Anais.
Referências
da Silva, D. L. (2007). Do gesto ao símbolo: a
teoria de Henri Wallon sobre a formação
simbólica. Educar em Revista, (30), 145-163.

de La Taille, Y., De Oliveira, M. K., & Dantas, H.


(2019). Piaget, Vigotski, Wallon: teorias
psicogenéticas em discussão. Summus
editorial.

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