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3 EU COM OS OUTROS

AS RELAÇÕES PRECOCES

Psicologia B 12
Luís Rodrigues | Fernando Rua
© Plátano Editora, 2015
3 Relações precoces

As relações precoces são as primeiras ligações que um bebé adquire.


Os bebés estabelecem um vínculo afectivo, normalmente com a mãe biológica,
mas também a mãe afetiva e o pai podem estabelecer esse vínculo.

Quando se fala em relações precoces, fala-se também em


desenvolvimento social:

Estas relações e as que vamos desenvolvendo ao longo da vida explicam o


que pensamos, o que sentimos, o que aprendemos. Assim, as relações
precoces desempenham um papel fundamental na construção de relações com os
outros e na construção do eu psicológico. Por isso, quando se fala em
relações precoces também se fala em desenvolvimento social.
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3 Relações precoces

Ao contrário do que se pensava, o bebé não é um sujeito passivo. É, pelo contrário,


um sujeito ativo. Existe uma interação entre o bebé e os progenitores em que
ambas as partes comunicam estados emocionais e respondem de modo adequado:
regulação mútua. O bebé emite sinais daquilo que pretende e responde, com
agrado ou desagrado, ao tratamento disponibilizado.

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3 Vinculação

A teoria da vinculação surgiu no seguimento de estudos feitos pelo psicanalista britânico


John Bowlby acerca da carência afetiva e da perda de ligação maternal.

A introdução do conceito de vinculação


evidencia a necessidade que existe no bebé
em estabelecer contacto e laços afetivos com
as pessoas mais próximas, na maior parte
das vezes com a mãe.

Segundo Bowlby, é a primeira relação afetiva da criança, que, não sendo fruto de uma
aprendizagem, é algo de fundamental para a construção do seu equilíbrio biológico e
emocional.
A ligação que o bebé irá estabelecer com a mãe servirá de base e de molde para futuras
relações da criança.
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3 A teoria de Bowlby

A teoria de Bowlby representa a tentativa mais exaustiva de compreender o


fenómeno da vinculação. O autor argumentou que, nascendo completamente
dependentes, os bebés estão geneticamente programados para se comportarem
em relação às mães de modo a assegurarem a sua sobrevivência. O bebé deve,
para Bowlby, viver uma relação calorosa, íntima e contínua com a mãe (ou uma
figura materna permanente) na qual ambos encontrem satisfação e prazer.

Para Bowlby, a construção e a manutenção do vínculo materno (com a mãe


ou com uma figura materna) durante a infância tem um impacto duradouro e
persistente. A perda do vínculo afetivo primordial produz inevitavelmente no
futuro desequilíbrios comportamentais, incapacidade de cuidar dos outros, falta
de profundidade afetiva, insensibilidade à culpa e ao remorso, ou seja, assinalável
deficiência nas relações interpessoais.

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3 Necessidade de vinculação – Perspetiva de Harlow

As experiências de Harlow provam a necessidade de vinculação gratificante com a mãe.

Harlow, a partir das experiências realizadas com macacos, concluiu que a mãe funciona
como um símbolo de proteção, conforto e segurança.
Este vínculo que se estabelece entre o recém-nascido e a mãe também se verifica com
seres humanos, provando que os laços afetivos positivos servem de base ao
desenvolvimento da criança.
Harlow considerou que a necessidade do contacto físico com a mãe, ou com outro
cuidador, estaria na origem da vinculação, sendo tão importante como a alimentação na
construção dessa relação.

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3 Experiência de Harlow

Harlow separou macacos recém-nascidos das mães e, para verificar se o conforto era
mais importante do que o alimento para a vinculação, colocou-os sucessivamente numa
jaula com duas mães substitutas artificiais: uma feita de arame e com um biberão preso à
zona do peito; outra feita de tecido felpudo suave e macio, mas sem qualquer fonte de
alimentação. Harlow pretendia saber quanto tempo os macacos recém-separados das suas
mães biológicas passariam junto da mãe artificial equipada com um biberão.
Harlow concluiu que os macacos passavam mais de metade do tempo agarrados à
mãe de tecido felpudo e muito pouco tempo com a de arame, que fornecia alimento. A
necessidade de contacto aconchegante era uma base mais forte para a formação de um
vínculo do que a satisfação da fome ou da necessidade de sucção.

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3 Experiência de Harlow

Harlow prolongou a experiência introduzindo um urso gigante de peluche que


produzia um barulho arrepiante ao bater num tambor. Amedrontados, os pequenos
macacos fugiam e refugiavam-se junto da «mãe» de tecido felpudo não procurando a
«mãe» de arame.
Perante outros novos estímulos, o macaco-bebé afastava-se progressivamente
daquela para uma exploração inicial, retornando quando necessitava de se sentir seguro
para posteriores explorações.

O vinculo afetivo só em parte deriva da satisfação de necessidades biológicas,


dependendo fundamentalmente de respostas emocionais.

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3 O «hospitalismo» de René Spitz

Apesar de muitos cientistas contestarem as conclusões tiradas das experiências de Harlow,


essas conclusões vieram a confirmar-se através das investigações de Spitz..

René Spitz, psiquiatra infantil, designou por hospitalismo o conjunto de perturbações


vividas por crianças institucionalizadas e privadas decuidados maternos, atraso no
desenvolvimento corporal, dificuldades na habilidade manual e na adaptação ao meio
ambiente e atraso na linguagem. Os efeitos do hospitalismo, presente nas crianças que
foram abandonadas em orfanatos ou asilos, são duradouros e muitas vezes irreversíveis.

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3 Comportamentos vinculativos

Podemos apenas observar comportamentos de vinculação e não a vinculação.

Os comportamentos vinculativos podem ser:

• Comportamentos de sinalização

Chorar
Sorrir (Para chamar a mãe/figura vinculativa e mantê-la próxima.)
Vocalizar

• Comportamentos de aproximação

Seguir
Agarrar
Trepar

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3 Funções da vinculação

A vinculação tem uma função biológica e psicológica:

Manutenção da proximidade da
criança e proteção da mesma
de eventuais perigos.

A criança internaliza o modelo da


relação com a figura materna, o
que lhe proporciona a segurança
necessária para explorar o meio.

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3 Qualidade da vinculação – Mary Ainsworth

A qualidade da vinculação varia de criança para criança, podendo a ligação ser mais ou
menos segura.
A qualidade da vinculação foi estudada pela psicóloga Mary Ainsworth por meio de uma
experimentação designada «situação estranha».

Mary Ainsworth distingue então:


Vinculação Insegura
Segura
As crianças manifestam
ansiedade mesmo antes
As crianças choram perante
Evitante da mãe se ausentar e
a ausência da mãe, mas
perturbação quando esta
procuram contacto físico
As crianças se ausenta, hesitando
logo que a reencontram,
entre a aproximação e o
acalmando. parecem
afastamento dela quando
indiferentes à esta regressa.
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ausência da mãe.
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3 Figura vinculativa… da díade à triade… o papel do pai

Segundo Michael Lamb, os bebés também


desenvolvem um forte apego em relação ao elemento paterno.
O papel do pai tem sofrido, ao longo dos tempos, uma mudança
radical. Enquanto outrora o pai apenas tinha o dever de impor a autoridade e
de sustentar a família, recentemente, com a emancipação da mulher, o
homem tem vindo a ter um papel mais integrante na vida familiar: além de
partilhar as tarefas com a mulher, ajuda a tratar das crianças, tarefa
tradicionalmente atribuída à mulher.

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Qualidade da vinculação/desenvolvimento social da
3 criança

Existe uma relação efetiva entre a qualidade da vinculação e o desenvolvimento social da


criança, ou seja, uma vinculação segura implica maior autoestima, competência social,
independência e confiança.

Vinculação segura proporciona melhor desenvolvimento ao nível cognitivo, emocional e


social.

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