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03/04/2017

BASES BIOLÓGICAS DA TERAPIA DO ESQUEMA


E A TEORIA DO APEGO
SILVANA FRASSETTO

Psicóloga Clínica. Especialização em TCC e Formação em Terapia


do Esquema – Wainer Psicologia Cognitiva.
Doutorado com ênfase em Neurociência – UFRGS.
Profª do Curso de Psicologia da ULBRA e da UNISINOS

TEORIA DO APEGO

- John Bowlby (1907-1990), nasceu em Londres;

- Como estudante de Medicina, trabalhou com jovens infratores,


quando percebeu o efeito da separação dos pais no desenvolvimento
desses jovens;

- Psiquiatra, se interessava por psicologia infantil;

- Psicanalista, formado pelo Instituto Britânico de Psicanálise,


supervisionado por Melanie Klein; desafiou alguns dos dogmas
freudianos (real x fantasia inconsciente);

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FUNDAMENTOS DA TEORIA DO APEGO

- Pesquisador, seu foco era a conexão entre separação e patologia;


explicou seus achados em termos freudianos.

- Em 1949, Bowlby desenvolveu um relatório sobre as necessidades


psiquiátricas de crianças desabrigadas que haviam sido órfãs por causa
da Segunda Guerra Mundial;

- Mary Ainsworth foi admitida na Clínica Tavistock, em 1950, a fim de


ajudar Bowlby com a sua investigação.

OS TRABALHOS DE MARY AINSWORTH (1978)

- Mary Ainsworth (psicóloga do desenvolvimento) continuou os


estudos de Bowlby;

- Ela propôs que a intensidade do apego dos bebês a um cuidador


difere do grau de segurança do apego;

- As diferenças na segurança do apego influenciam nos


relacionamentos sociais na infância e no desenvolvimento da
personalidade.

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COMPORTAMENTOS DE APEGO

- Condutas inatas exibidas pelo bebê, que promovem a manutenção


ou o estabelecimento da proximidade com o cuidador principal, em
geral a mãe;

- O repertório de respostas do comportamento de apego inclui


chorar, estabelecer contato visual, agarrar-se, aconchegar-se e sorrir.

CARACTERÍSTICAS DO COMPORTAMENTO DE APEGO

- Especificidade;

- A ligação persiste por grande parte do ciclo vital;

- Envolvimento emocional;

- Desenvolvimento ao longo da vida;

- É aprendido;

- Organização;

- Função biológica.

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BASE SEGURA DO COMPORTAMENTO DE APEGO

- É a confiança que o indivíduo tem numa figura particular, protetora


e de apoio, que está disponível e é acessível, e a partir da qual se
pode fazer uma exploração coparticipada;

- O comportamento de apego será eliciado quando o bebê estiver


assustado, cansado, com fome ou sob estresse, levando-o a emitir
sinais que podem desencadear a aproximação e a motivação do
cuidador.

BASE SEGURA DO COMPORTAMENTO DE APEGO

- O comportamento de apego traz segurança e conforto e


possibilita o desenvolvimento do comportamento de exploração, a
partir da principal figura de apego;

- Quando uma pessoa está apegada, ela tem um sentimento de


segurança e conforto na presença do outro e pode usá-lo como
uma “base segura”, a partir da qual explora o resto do mundo.

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PADRÕES DE APEGO (Mary Ainsworth)

Apego seguro: quando ameaçada, a criança busca ajuda da mãe, separa-


se com facilidade, é consolada sem dificuldades pela mãe, prefere a mãe a
estranhos

Apego desinteressado/evitativo: a criança evita o contato com a mãe,


não inicia a interação, não tem preferência nem pela mãe nem por
estranhos;

Apego resistente/ambivalente: a criança explora pouco o ambiente e fica


desconfiada de estranhos, separa-se com dificuldade da mãe, não se
consola com facilidade, evita e busca a mãe em momentos diferentes

Apego desorganizado/desorientado: a criança mostra comportamento


entorpecido e contraditório, pode se aproximar da mãe evitando seu
olhar, por exemplo.

PADRÕES DE APEGO

- A teoria do apego prevê que a qualidade da ligação prediz o


desenvolvimento subsequente da criança;

- Bebês seguramente apegados são mais competentes em tarefas


apropriadas à sua idade ao longo da adolescência;

- O estilo de apego de uma criança ao seu cuidador prevê:


funcionamento social eficaz durante a infância e adolescência;
sociabilidade no início, na metade e na parte mais tardia da idade
adulta; autoestima; boas notas escolares; atividade sexual na
adolescência; qualidade do apego aos seus próprios filhos; atitudes em
relação a seus próprios filhos

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FASES DO APEGO

Pré-apego: 0-6 semanas

- O bebê prefere estímulos humanos (rostos);

- Ele não reconhece, ainda, a figura do cuidador;

- Somente reconhece a voz e o cheiro de sua mãe;

- Não há qualquer apego.

FASES DO APEGO

Formação do apego: 6ª semana a 6º/8º mês

- O bebê prefere pessoas com as quais está familiarizado;

- Recusa estranhos;

- Possui uma privilegiada interação com a mãe, sorrindo, chorando


e produzindo vocalizações diferenciais na presença dessa.

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FASES DO APEGO

Apego bem definido: 6º/8º mês – 18º mês

- O afastamento da figura de apego gera ansiedade de separação;

- Ocorre medo do desconhecido, que leva a busca de refúgio na


figura de apego;

- A criança sabe que a mãe continua a existir mesmo quando não


está com ele.

Formação de uma relação recíproca: 18º – 24º mês

- A interação com figuras de apego evolui graças às novas


capacidades mentais e linguísticas adquiridas pela criança.

ESTRUTURA FAMILIAR (apegos não seguros)

- Contextos negligentes;

- Contextos de violência psicológica e física;

- Contextos de caos e de violência, mutáveis e instáveis;

- Contextos de abandono;

- Insegurança e instabilidade;

- Privação de necessidades;

- Contexto punitivo, rejeitador e de subjugação

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TEORIA DO APEGO DE BOWLBY X TERAPIA DO ESQUEMA DE JEFFREY YOUNG

Esquema Inicial Desadaptativo (EID)

“Um tema ou padrão amplo, difuso; formado por memórias,


emoções e sensações corporais; relacionado a si próprio ou aos
relacionamentos com outras pessoas; desenvolvido durante a
infância ou adolescência; elaborado ao longo da vida do indivíduo;
disfuncional em nível significativo (...) São padrões emocionais e
cognitivos autoderrotistas iniciados em nosso desenvolvimento
desde cedo e repetidos ao longo da vida”
(Young, Klosko & Weishaar, 2008)

TERAPIA DO ESQUEMA

- A noção de desenvolvimento e estruturação de esquemas mentais


implica na consideração da forma como a criança lidou com as
situações com que se deparou durante as vivências infantis, e ao longo
do seu desenvolvimento;

- Tais situações se referem à capacidade da criança, e do seu meio na


interação com os cuidadores, de suprir necessidades básicas como:
segurança, previsibilidade, amor, nutrição, atenção, aceitação,
empatia, proteção, validação de sentimentos e necessidades.

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DOMÍNIOS DOS ESQUEMAS - TAREFAS EVOLUTIVAS NO DESENVOLVIMENTO

Desconexão e Rejeição: Pertencimento e Aceitação (Esquemas:


abandono/instabilidade, desconfiança/abuso, privação emocional/vergonha,
isolamento social/ alienação);

Autonomia e Desempenho Prejudicados: Autonomia e Competência (Esquemas:


dependência/incompetência, vulnerabilidade, emaranhamento/self subdesenvolvido,
fracasso

Limites Prejudicados: Limites Realistas (Esquemas: merecimento/grandiosidade,


autocontrole/autodisciplina insuficiente.

Orientação para o Outro: Respeito às Necessidades Individuais (Esquemas:


subjugação, auto-sacrifício, busca de aprovação/reconhecimento.

Supervigilância e inibição: Expressão Emocional Legítima (Esquemas:


negativismo/pessimismo, inibição emocional, padrões inflexíveis, caráter punitivo.

MODELO COGNITIVO ESQUEMAS INICIAIS


DESADAPTATIVOS :
crenças; memórias;
emoções, sensações
corporais

Pensamento Reações: s:
Situação:
Ler o livro para Automático:
Emocionais:
estudar para “É difícil demais.
Tristeza
prova Jamais entenderei.
Sou burro.” Fisiológicas:
Sintomas
gastrointestinais
Comportamentais:
Fecha o livro e desiste
de estudar para a prova

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PROCESSAMENTO COGNITIVO

EVENTO REAL PENSAMENTOS,


REPRESENTAÇÃO
MENTAL (idéias,
imagens)
Ativação de crenças Evocação de memórias

ESQUEMAS MENTAIS filtram, codificam e avaliam os estímulos

MEMÓRIA E APRENDIZAGEM

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APRENDIZAGEM POR CONDICIONAMENTO OPERANTE

Mecanismo de aprendizagem que busca modelar habilidades motoras


capazes de maximizar a obtenção de estímulos reforçadores no meio
ambiente;
Desenvolvimento da personalidade (memórias implícitas de longo prazo,
crenças, esquemas mentais);
Está relacionado a sistemas cerebrais de recompensa;
Centro de recompensa: núcleo acumbens e estriado

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APRENDIZAGEM POR CONDICIONAMENTO CLÁSSICO

O condicionamento clássico acontece por meio de aprendizagem


associativa, sendo uma forma de memória implícita duradoura ou de
longo prazo.
Está relacionado ao sistema límbico (amígdala);
Amígdala: memória emocional

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MEMÓRIAS EXPLÍCITAS E IMPLÍCITAS - Joseph LeDoux (1996)

A etiologia de um transtorno mental está relacionado às aprendizagens


realizadas desde o estágio pré-verbal na infância através da consolidação
de memórias implícitas (processamento inconsciente) ou explícitas
(processamento consciente).

A Terapia do Esquema tem como um dos objetivos alterar processos


relacionados a estes dois tipos de memória.

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(Adaptado de Young et al. 2003; LeDoux, 1996)

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TERAPIA DO ESQUEMA

Aprendizagens durante experiências iniciais de vida, interpretação do


ambiente e respectivos mecanismos cerebrais envolvidos


ESQUEMAS INICIAS DESADAPTATIVOS (EIDS) - JEFFREY YOUNG, 1990


Distorções cognitivas


PSICOPATOLOGIA COGNITIVA

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ESTILOS INCONSCIENTES DE ENFRENTAMENTO DOS EIDS

EIDs E RESPOSTAS DE ENFRENTAMENTO DESADAPTATIVAS

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EIDs E RESPOSTAS DE ENFRENTAMENTO DESADAPTATIVAS

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ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS

O sistema neural responsável pela reflexão consciente ou pelo


pensamento racional de um EID está relacionado ao hipocampo e a
estruturas corticais.

Os aspectos que não passam pela consciência ou a ativação de um


EID são mediados pelo sistema da amígdala cerebral.

(Young; Klosko; Weishaar, 2003)

TERAPIA DO ESQUEMA

O processamento implícito pode determinar a expressão de sintomas


na ausência de qualquer processamento consciente por parte do
paciente.
No início da psicoterapia, é necessário esforço e atenção consciente.
Durante o tratamento, os novos padrões de atribuição de significado
vão se tornando inconscientes.
Com o progresso da psicoterapia, o circuito neural de processamento
dos esquemas mentais vai se modificando, permitindo que o córtex pré-
frontal reavalie as situações.

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TERAPIA DO ESQUEMA

Os pacientes podem identificar seus EIDs e tornam-se conscientes das


memórias, emoções, sensações corporais e cognições associadas aos seus
esquemas.

Podem exercer controle sobre suas reações, aumentando seu poder de


escolha e deliberação consciente em relação aos EIDs.

HIPERREATIVIDADE DA AMÍGDALA NO TP BORDERLINE

(Donegan & cols., 2003)

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CÓRTEX PRÉ-FRONTAL VENTROMEDIAL

É o mais fortemente implicado na ansiedade e na regulação da


amígdala;

O vmPFC desempenha um papel na inibição da expressão do medo


condicionado e extinção do medo condicionado (neurotransmissão
gabaérgica);

Regulação emocional

(Child Adolesc Psychiatr Clin N Am. 2012; 21(3): 501–525)

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CÓRTEX PRÉ-FRONTAL VENTROMEDIAL

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MEMÓRIAS DE ABANDONO E CORRELAÇÕES NEURAIS NO TPB

Disfunções no córtex pré-frontal medial e dorsolateral, incluindo o


cingulado anterior, o córtex temporal esquerdo, e o córtex de
associação visual, provavelmente medeiam o processamento cognitivo
e emocional relacionado ao esquema de abandono neste transtorno.

(Schmahl et al., 2003).

REAVALIAÇÃO COGNITIVA E CORRELAÇÕES NEURAIS NO TPB

(Schulze et al., 2011).

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REAVALIAÇÃO COGNITIVA E CORRELAÇÕES NEURAIS NO TPB

Pacientes demonstram maior ativação da amígdala esquerda e ínsula


direita durante a exibição inicial de estímulos aversivos.

Durante a tentativa de diminuir a resposta emocional negativa inicial,


as pacientes mostram menor ativação do córtex orbitofrontal esquerdo
e ativação aumentada da ínsula bilateral.

(Schulze et al., 2011).

REAVALIAÇÃO COGNITIVA E CORRELAÇÕES NEURAIS NO TPB

Portanto, no TPB há uma reatividade emocional aumentada, e déficits


para diminuir voluntariamente as emoções negativas por meio de
reavaliação cognitiva.

O substrato neural para o déficit na regulação da emoção negativa


explícita no TPB é o córtex orbitofrontal.

(Schulze et al., 2011).

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CÓRTEX ORBITOFRONTAL

CÓRTEX INSULAR

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WAINER, R., PAIM, K.; ERDOS, R.; ANDRIOLA, R. Terapia cognitiva


focada em esquemas: integração em psicoterapia. Porto Alegre:
Artmed, 2016.

YOUNG, J. E.; KLOSKO, J. S.; WEISHAAR, M. E. Terapia do esquema:


guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto
Alegre: Artmed, 2008.

Callegaro, M. M. (2005). A neurobiologia da terapia do esquema e o


processamento inconsciente. Revista Brasileira de Terapias
Cognitivas, 1(1), 09-20.

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