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A Teoria do Apego e a

Terapia do Esquema
Prof. Dra. Aline Henriques Reis
Apego: definição

Apego refere-se a um Envolve as necessidades


desejo de proximidade de segurança e
expressado pela criança proteção do recém-
em relação ao cuidador. nascido.
Teoria do Apego
• Seu princípio mais importante é que um recém-nascido precisa
desenvolver relacionamento com, pelo menos, um cuidador primário para
que seu desenvolvimento social e emocional ocorra bem.
• Bebês apegam-se a adultos que são sensíveis e receptivos às relações
sociais com eles e que permanecem como cuidadores compatíveis por
alguns meses durante o período compreendido entre 6 meses a 2 anos de
vida.
Precursores da Teoria do Apego
• Estudo de Harlow sobre dependência em macacos

• Harlow postulou ser o vínculo entre a mãe e o filhote, essencial para a


saúde mental e o desenvolvimento normal dos primatas, indicando o
conforto do contato como variável-chave para o comportamento de
aproximação e não o alimento (Bowlby, 1984a; 1984b).

https://www.youtube.com/watch?v=qjiioOmWnqg&feature=you
tu.be
Precursores da Teoria do Apego
Efeitos da separação de macacos rhesus e suas mães.

Quando a mãe era retirada do contato com o filhote por alguns dias, este
passava a apresentar diminuição da atividade motora bem como do ritmo
das brincadeiras. Mesmo quando a mãe retornava, alguns sintomas
permaneciam, demostrando os efeitos duradouros da separação no
comportamento dos animais (Hinde citado por Ainsworth & Bowlby, 1991).
Sistema de Apego

• Governa os vínculos entre as crianças e as figuras cuidadoras no início da vida.


• É ativado toda vez que existe uma quebra no equilíbrio entre o organismo e o
ambiente, com alguma espécie de ameaça para a sobrevivência.
• A ativação do Sistema gera reações na criança cujo objetivo é a aproximação da
figura de apego para proteção.

• Quando a figura de apego se aproxima, o equilíbrio é restabelecido, em uma espécie de


retorno à homeostase e o Sistema de Apego é desativado.
• No início da vida, há mesmo a necessidade de contato físico para que a
desativação do sistema ocorra. Futuramente, com o desenvolvimento cognitivo da
criança, outras estratégias como falar ao telefone, fotos ou mesmo apenas pensar
sobre a figura de apego, podem desativar o Sistema de Apego.
Sistema de Apego

• Uma criança pequena é extremamente dependente e incapaz de se


regular emocionalmente sozinha.
• Quando ela se sente ameaçada, o seu Sistema de Apego é ativado,
com a emissão de comportamentos para obter a aproximação da
figura de apego.
• Quando existe uma figura de apego presente e responsiva, o Sistema
de Apego é desativado pela aproximação da figura de apego que
assim regula emocionalmente a criança.
• Caso isto não aconteça com frequência, a fisiologia da criança acaba
por sofrer o impacto da negligência e abuso.
Disponibilidade da figura de Invalidação da figura de apego
Momento de estresse Falta de suporte emocional
Momento de estresse apego
Recebimento de suporte Punição
emocional

Desenvolve um modelo interno de funcionamento - representações das


experiências da infância relacionadas às percepções do ambiente, de si mesmo e das
figuras de apego

Se a figura de apego está disponível e realiza ações para alcançar ou manter proximidade com a criança,
proporciona um sentimento de proteção e segurança que é fortificador da relação.
A mentalização ou função reflexiva possibilita à criança
compreender as atitudes dos outros e agir de maneira adaptada em
contextos interacionais específicos A cognição social reconhece a
criança como ativa e interativa em
seu mundo, atribuindo a ela um
papel construtivo no seu
desenvolvimento.

O papel dos modelos internos de


funcionamento é de grande
importância na modelagem do
comportamento ao longo do ciclo
vital, em uma ampla variedade de
situações, incluindo:
- a seleção de um parceiro;
- a formação de relacionamentos
de amizade;
- a escolha ocupacional;
- a parentalidade;
- a formação de expectativas;
- a imagem do self
“Fases do desenvolvimento do Apego”
Pré-apego (nascimento até oito semanas) - a criança não demonstra
ainda forte preferência por uma figura de apego específica.
Porém, já existe a presença das experiências básicas de regulação
emocional da criança pela figura cuidadora, em relação ao cuidado,
alimentação e higiene. (Marvin et al., 2016).
“Fases do desenvolvimento do Apego”
Fase de formação do apego (dois aos oito meses aproximadamente) - a
criança já começa a distinguir os cuidadores e pessoas próximas,
demonstrando preferência por uma figura de apego específica
(Marvin et al., 2016).
“Fases do desenvolvimento do Apego”
Definição do apego (dos oito meses até os 2 anos de idade) - envolve
comportamentos mais ativos da criança, como a busca de aproximação
da figura de apego e aparecimento da ansiedade de separação.
Neste período, o desenvolvimento cognitivo da criança possibilita que os
MIFs, até então basicamente compostos de respostas afetivas,
comecem a incorporar uma perspectiva mais cognitiva.
“Fases do desenvolvimento do Apego”
• Relação recíproca ou parceria corrigida para a meta (ocorre a partir
dos dois anos) – envolve comportamentos complexos da criança para
alcançar seus objetivos e buscar a aproximação da figura de apego.
• A criança, favorecida também pelo desenvolvimento da capacidade
simbólica, começa a criar modelos de expectativas do ambiente, da
reação de terceiros e da própria reação.
• O desenvolvimento da teoria da mente, da capacidade de perceber
como o outro percebe o mundo, faz com que a criança incorpore
também objetivos de terceiros como sendo seus, resultando em
negociações e atividades em conjunto (Marvin et al., 2016).
• As principais variáveis para a formação da qualidade do vínculo e,
consequentemente do Sistema de Apego são: a presença/ausência,
(no sentido físico mesmo) e a acessibilidade/ inacessibilidade, ou
seja, de que a figura de apego está não apenas presente, mas que a
criança possa acessá-la em busca de suporte (Bowlby, 1984b).

• Sensibilidade parental - sensibilidade da figura de apego para


perceber, interpretar corretamente e responder pronta e
adequadamente aos sinais emitidos pela criança.
• É a partir do histórico de interações com a figura de apego, incluindo
a sua acessibilidade e responsividade que atuam em conjunto com a
sofisticação cognitiva decorrente do desenvolvimento da criança, que
a criança começa a formar representações relacionadas a esta
interação, realizando modelos de como o outro irá reagir em resposta
às suas necessidades.
• A boa qualidade do apego permite gradualmente que a criança crie
um senso de segurança interno, uma espécie de lugar seguro dentro
de si, criando então uma noção de valor pessoal adequado e a
capacidade de se regular emocionalmente (Mendes & Pereira, 2018).
O experimento: Situação
Estranha
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Mãe e criança colocadas


Cenário de 20 minutos em uma sala com Observou-se que as
durante 8 sessões. crianças exploravam o
brinquedos,
acompanhadas, depois de ambiente com mais
energia quando a mãe
um período, por uma
estava presente, em
mulher estranha. Enquanto
a estranha brincava com o contraste com quando a
estranha entrava no
bebê, a mãe se ausentava
ambiente ou a mãe tinha
brevemente e depois
retornava. Após, tanto a saído brevemente.
mãe como a estranha
deixavam o bebê a sós por
um período de tempo, com
ambas retornando logo
depois.

https://www.youtube.com/watch?v=qaXcjExnhbM
• Relacionamento cuidador-criança provido de
uma base segura.

• A criança pode explorar seu ambiente de


forma entusiasmada e motivada e, quando
estressada, mostra confiança em obter

Apego
cuidado e proteção das figuras de apego, que
agem com responsividade.

seguro • As crianças seguras incomodam-se quando


separadas de seus cuidadores, mas não se
abatem de forma exagerada.

• As características da interação entre o


cuidador e a criança, são de cooperação, com
instruções seguras e monitoração por parte
do cuidador, ao mesmo tempo em que este
encoraja a independência daquela.
Apego seguro

Criança Cuidador

• Usa o cuidador como base • Reage de forma apropriada, rápida e


consistente com as necessidades da
segura para exploração. criança.
• Protesta contra a partida do • Conseguiu formar um vínculo com
cuidador e busca sucesso.
proximidade.
• Mostra-se emocionalmente
• Pode ser confortada por disponível, quando necessário, e
responde coerentemente quando a
estranhos, mas prefere criança apresenta sinais de busca de
claramente o cuidador. proximidade.
Apego seguro

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O que mostrava que o bebê tinha Os bebês com apego seguro
um apego seguro não era o respondiam positivamente ao
tempo que ele permanecia no serem pegos no colo, sentindo-
colo, mas a demonstração de se confortáveis rapidamente e
que a mãe também desejava respondendo positivamente
contato, a maneira que ela quando eram colocados
segurava o bebê e o manejava. novamente no chão,
retornando à exploração.

(Ainsworth & Bowlby, 1991).


• Caracterizado pela criança que, antes de ser
separada dos cuidadores, apresenta
comportamento imaturo para sua idade e pouco
interesse em explorar o ambiente, voltando sua
atenção aos cuidadores de maneira preocupada.
• Após a separação, fica bastante incomodada,
Apego sem se aproximar de pessoas estranhas.
Quando os cuidadores retornam, ela não se
resistente ou aproxima facilmente e alterna seu
comportamento entre a procura por contato e a
ambivalente brabeza.
• Expressa raiva e angústia diante da separação e
não se conforta com facilidade.
• M. Ainsworth (1978) sugere que, em alguns
momentos, essa criança recebeu cuidados de
acordo com suas demandas e, em outros, não
obteve uma resposta de apoio, o que pode ter
provocado falta de confiança nos cuidadores, em
relação aos cuidados, à disponibilidade e à
responsividade.
Apego resistente ou ambivalente
Criança Cuidador

• Incapaz de usar o cuidador como • Inconsistente entre respostas


uma base segura, busca apropriadas e negligentes.
proximidade antes que a
separação ocorra. • Geralmente, irá reagir apenas
depois do aumento do
• Irrita-se com a separação com comportamento de apego do
ambivalência, raiva, relutância a recém-nascido.
aconchegar-se ao cuidador.

• Preocupa-se com a
disponibilidade do cuidador,
buscando contato, mas resistindo
furiosamente quando é
alcançado.
Apego evitativo
• Crianças com este tipo de apego brincam de forma tranquila, interagem pouco com os
cuidadores, mostram-se pouco inibidas com estranhos e chegam a se engajar em
brincadeiras com pessoas desconhecidas durante a separação dos cuidadores.
• Quando são reunidas aos cuidadores, essas crianças mantêm distância e não os
procuram para obter conforto. São crianças menos propensas a procurar o cuidador e a
proteção das figuras de apego quando vivenciam estresse. Essas crianças deixam de
procurar os cuidadores após terem sido rejeitadas, de alguma maneira, por eles. Apesar
de os cuidadores demonstrarem preocupação, não correspondem aos sinais de
necessidade quando a criança os indica.
• A hipótese sugerida para a compreensão dessas crianças é de que tenham sido
rejeitadas quando revelaram suas necessidades, aprendendo a ocultá-las em
momentos relevantes.
Apego evitativo

Durante o experimento de Em contrapartida, a mãe se


situação estranha, a criança não mostra emocionalmente rígida,
demonstra sofrimento além de rejeitar ou responder
emocional quando a mãe se raivosamente quando a criança
retira do ambiente, além de a procura, ou busca
evitá-la quando esta retorna. proximidade.
• Esse padrão, identificado por M. Main & E. Hesse
(1990), refere-se a crianças que na presença dos
cuidadores, antes da separação exibem um
comportamento constante de impulsividade, que
envolve apreensão durante a interação, expressa por
brabeza ou confusão facial, ou expressões de transe e
perturbações.

• Elas vivenciam um conflito, sem ter condições de


manter uma estratégia adequada para lidar com o que

Apego
as assusta.

desorganizado
• Esses casos aparecem em situações de abuso, nas
quais o cuidador pode significar uma fonte
amedrontadora quando o abusador é externo e faz
ameaças à criança ou quando o próprio cuidador é o
abusador.

• Assim, o padrão desorganizado é associado a fatores


de risco e aos maus-tratos infantis, sendo que fatores
adicionais podem ser incluídos na manifestação desse
padrão, como, por exemplo, transtorno bipolar nos pais
ou uso parental de álcool.
Apego desorganizado
Cuidador
Criança
• Comportamento assustado ou
• Estereótipos como se sentisse frio ou
balançasse ao retorno, balançando o assustador, intrusão, afastamento,
corpo ou se batendo repetidamente. negatividade, confusão de papeis, erros
de comunicação afetiva e maus-tratos.
• Demonstraram falta de orientação em
relação ao ambiente. • Geralmente, esse padrão está associado
a perdas e traumas, como abuso
• Falta de estratégia de apego coerente parental, alcoolismo, abuso de drogas e,
demonstrada por comportamentos até mesmo, luto materno não resolvido.
contraditórios e/ou desorientados, como
aproximar-se, mas com rosto virado. • Característica de medo sem solução que
está no centro da criança com apego
• Choram quando separadas da mãe, desorganizado, tendo em vista que ela
porém, quando esta retorna, evitam-na, possui dificuldades na busca de conforto
ou se aproximam e ficam paralisadas, (Lyons-Ruth e Jacobvitz, 2008)
ou se jogam no chão.
Ameaça Desativação do Sistema
Apego seguro de Apego e Reativação
do Sistema de exploração

Sistema de exploração

Ativação do sistema de
apego (proteção)
• A ativação crônica do Sistema de Apego e a ausência de uma figura
responsiva que o finalize, leva ao colapso do sistema.

• No experimento da situação estranha Observou-se também o retorno


da criança mesmo quando não existia nenhuma ameaça no ambiente,
como se ela pudesse de alguma maneira “recarregar-se” de
segurança na presença da figura de apego e assim continuar a
explorar o ambiente.
Desenvolvimento do Apego ao longo
do Ciclo Vital

Kobak (1993) constatou que


M. Harvey (2000) examinou a relação adolescentes caracterizados pelo padrão
entre os padrões de apego em de apego seguro são confiantes em seus
adolescentes e o funcionamento familiar, relacionamentos, generosos e tolerantes
apontando que adolescentes que em relação a si mesmos e às suas figuras
percebem a si mesmos como integrantes de apego, e considerados como mais
de relações familiares coesas são estáveis em suas relações românticas. As
considerados com um padrão de apego relações com as figuras de apego são
seguro, sendo que os valores intelectuais marcadas por uma interação de confiança
e culturais familiares são adotados para si e poucas dificuldades para o
mesmos. estabelecimento de autonomia
emocional.
Desenvolvimento do Apego ao longo
do Ciclo Vital

Já os adolescentes caracterizados
como do estilo desapegado/evitativo
demonstram não ter necessidade de Nos dados de M. Harvey (2000), o
confiar em outras pessoas e parecem padrão evitativo de adolescentes
realmente desapegados ou não referiu-se àqueles que se consideram
influenciados pelas experiências de pouco interessados nas relações
apego precoces. Existe uma forte familiares e apresentam sentimentos
associação da predominância desse negativos em relação à família e ao seu
estilo de apego com índices elevados funcionamento.
de transtornos alimentares (KOBAK &
COLE, 1994).
Desenvolvimento do Apego ao longo
do Ciclo Vital

M. Harvey (2000) sugere que o


O padrão padrão ansioso/ambivalente ou
preocupado/ansioso é preocupado/ansioso em
caracterizado por adolescentes está relacionado
adolescentes que têm, Para R. Kobak (1993), a relatos de conflitos familiares,
alto grau de controle entre os
geralmente, esse padrão é fortemente membros da família e falta de
relacionamentos associado à depressão, compreensão da dinâmica do
frustrantes ou principalmente em funcionamento familiar. Além
insatisfatórios, além de mulheres. disso, esses adolescentes
demonstrarem-se sentem que a independência é
desencorajada e evitam
angustiados ou confusos confrontos, mantendo
quanto a essas relações. estratégias de coping passivas.
Teoria do apego e Terapia do Esquema
• “A noção de Bowlby de modelos de funcionamento interno coincide
com a nossa de esquemas desadaptativos remotos” (Young, Klosko,
& Weishaar, 2008, pp. 64)

• O terapeuta auxilia na ressignificação das figuras de apego


internalizadas.
Referências
Bolwby, J. (1984). Apego: a natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes.
Dalbem, J. X., & Dell'Aglio, D. D. (2005). Teoria do apego: bases conceituais
e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos
Brasileiros de Psicologia, 57(1), 12-24. Recuperado de
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
52672005000100003&lng=pt&tlng=pt.
Halperin, C. F., & Carneiro, J. C. R. (2015). A teoria do apego e as bases
familiares da terapia do esquema. In: R. Wainer, K. Paim, R. Erdos & R.
Andriola. Terapia cognitiva focada em esquemas: integração em
psicoterapia. Porto Alegre: Artmed.
Mendes, M. A., Tenenbaum, P. e Santos, V. (2019). A Teoria do Apego e a
Terapia do Esquema para crianças e adolescentes. In: A. H. Reis. Terapia do
Esquema com crianças e adolescentes: do modelo teórico à prática clínica.
Campo Grande: Episteme Editora.

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