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Teoria do Apego

Por: Alexandre Coimbra Amaral


Uma teoria surgida no pós-Segunda Guerra
Mundial, na Inglaterra assolada pela orfan-
dade de muitos bebês, pergunta:
Como seria o processo de desenvolvimento
destas pessoas?

Como podemos operar para facilitar suas


trajetórias de vida, marcadas pela perda e
pela ausência?

O interesse originário de John Bowlby, psiquiatra inglês e


autor desta teoria, centrou-se nos efeitos psicológicos e psi-
copatológicos resultantes da perda da figura materna na
infância.
Apego significa vinculação com uma figura importante e de
referência. Uma tradução do inglês attachment que quer
dizer muito mais do que ligar-se a um outro.
Somos indivíduos constituídos em relações. Através do olhar do outro, vamos construin-
do uma identidade flexível e maleável a qualquer novo grupo de pessoas com os quais
nos relacionamos. A cada novo momento de vida, a cada novo grupo a que pertencemos,
vamos redefinindo nossa forma de vincularmo-nos às pessoas. A forma como nos vincu-
lamos é o cerne da Teoria do Apego. Paradoxalmente, uma teoria que começou per-
guntando como seria o desenvolvimento de bebês órfãos, e terminou descobrindo a
inequívoca necessidade de sempre termos vínculos significativos na vida.

Construir vínculos de apego


seguro é confiar em alguém, ter
nesta pessoa uma referência de
segurança emocional, de apoio
para lidar com as angústias da
vida.
A vivência de uma relação calorosa, íntima e contínua com a mãe (ou figura
substituta permanente – alguém que desempenhe, regular e constante-
mente, o papel de cuidador), na qual ambos encontrem satisfação e prazer,
é o mais importante para o desenvolvimento de um bebê no início de sua
vida. Esta relação complexa, rica e compensadora com a mãe nos primeiros
anos, constitui a base do desenvolvimento da personalidade e da saúde
mental do indivíduo.

A primeira conexão estabelecida pela criança com seu cuidador principal,


chamado de figura de apego se estenderá para outros vínculos futuros com
o passar dos anos.

Bowlby afirmou que o apego é um estado interno, definido pela disposição


para buscar proximidade e contato com uma figura específica, tendo como
aspecto central o estabelecimento do senso de segurança.

A qualidade do apego dependerá da natureza da interação entre o adulto e a


criança, da capacidade deste adulto se mostrar sensível às pistas da criança,
e da capacidade de responder nos momentos adequados.

Para que haja a construção do apego entre a criança e o cuidador principal,


é necessário que o cuidador se posicione como provedor da sensação de
segurança e proteção para a criança, o que será conquistado através de uma
proximidade segura entre ambos.
O Apego Seguro permite à criança
explorar o mundo, ser encorajada a buscar
seus desejos e promover a autonomia de
lutar para satisfazer suas próprias neces-
sidades. Há um equilíbrio entre exploração
e busca de proximidade. O cuidador é
sensível em perceber as pistas da criança,
interpretá-las e responder a elas pronta e
corretamente. Ele não diz à criança o que
fazer, mas dá a ela os recursos necessários
para terminar a tarefa sozinha. É esta responsividade que produz na criança a crença
de controle sobre seu ambiente, facilitando, assim, um apego seguro para com o
cuidador, produzindo o desenvolvimento de competência social, emocional e cogniti-
va.
(ROTHBAUM et al, 2002). [Referência deste texto: Rothbaum, F., Rosen, K., Ujiie, T., & Ushida, N. (2002). Family systems theory, attachment theory,
and culture.Family Process, 41(3),328-350.]

Byng-Hall (1995) traz o termo família “de base segura”, para defender que uma rede
familiar que promova um sentimento de segurança e apoio para todos os membros é tão
importante quanto relações diádicas seguras. Nestas famílias há um senso de responsab-
ilidade compartilhada, onde qualquer integrante, em qualquer idade ou situação, poderá
contar com o suporte de um ou mais familiares – podendo ser a própria figura de apego,
ou um avô ou avó, por exemplo.
[Referência deste texto: Byng-Hall, J. (1995). Rewriting family scripts: improvisation and systems change. New York/London: The Guilford Press.]
A Teoria do Apego é o solo fértil para avançarmos o nosso entendimento sobre os relacio-
namentos que atravessam nossas vidas: os que nos alimentam, ofertando experiências
emblemáticas de amor e segurança e os que nos negligenciam, demonstrando que na vida
também teremos desafios, pois nem todos que nos cercam são capazes de garantir as
nossas necessidades básicas.

A Teoria do Apego descreve o trauma da privação, da perda, da rejeição e do abandono


por parte daqueles que mais necessitamos e o forte impacto dessas carências no sujeito.
(Johnson, 2012) [Referência deste texto: Johnson, S. M. (2012). Introdução ao apego - Um guia terapêutico para lidar com os vínculos primários e sua
renovação. In S. M. Jonhson & V. E. Whiffen (Orgs.), Os processos do apego na terapia de casal e família (pp. 03-16). São Paulo: Roca.]

Estudar sobre Teoria do Apego é dar um novo


colorido à forma de perceber o outro, com mais
singularidade e respeito à maneira como ele ou
ele prefere se relacionar com a intimidade nas
relações. Cada um de nós tem uma forma de
desenhar estes laços e mantê-los ativados e lon-
gevos. A forma como nos despedimos, como
elaboramos os lutos dos relacionamentos ou das
pessoas que se foram, tudo isto também está
estudado pela Teoria do Apego.
É uma teoria útil, acessível e muito complemen-
tar a várias outras formas de ver o ser humano e seus dilemas. Não por acaso, é uma teoria que
faz interseção com vários paradigmas em psicologia, em psicoterapia e em psiquiatria. Pode
fazer sentido para terapeutas de várias abordagens, para profissionais de saúde que trabalham
com famílias em todas as suas fases de vida (e não somente na fase da chegada do bebê), para
profissionais de educação e demais ciências humanas.
É uma forma de falarmos de amor e pertencimen-
to, temas tão caros aos nossos tempos. A Teoria do
Apego é um chamado para a reflexão sobre nossa
capacidade de amar e restaurar relacionamentos
diante das ausências, das falhas, do desespero e da
morte. A todo momento é possível recuperar laços,
estabelecer pontes. Os vínculos humanos são o
oxigênio mais imprescindível à vida, em qualquer
de suas fases.
O Instituto Aripe é uma plataforma digital de compartilhamento
de conteúdos que facilitam processos de transformação e de ex-
pansão da consciência. Estamos a coletar e a reunir pérolas que
nascem dos processos de reflexão na busca essencial do ser,
començando por temas relacionados a maternidade e paternidade.

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