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A TERAPIA FAMILIAR

SISTÊMICA DE BOWEN
“A razão pelo qual as pessoas não veem as tríades é
que elas são assim emocionalmente encurraladas na
dança automática da vida que não conseguem ver.”

(M. Bowen)
• Murray Bowen (1913-1990)
• Psiquiatra, psicanalista
• Famílias de pacientes esquizofrênicos
(1940)
• 1954 iniciou um projeto de hospitalizar
famílias inteiras com membros
esquizofrênicos
Apego ansioso:
• Dificuldade de autonomia pessoal
• Prisioneiros emocionais da forma
como os outros se comportavam
• 1959 mudou-se para Georgetown e
começou a trabalhar com famílias
com outras demandas
Toda criança nasce fusionada,
indiferenciada em relação à
sua família. Durante seu
desenvolvimento, sua principal
tarefa será diferenciar-se para
alcançar autonomia e
independência.

❖ Pertencer significa participar, saber-se membro desta família,


partilhar as suas crenças, valores, regras, mitos e segredos.

❖ Diferenciar refere-se à afirmação de sua singularidade, à sua


individuação e ao seu direito de pensar e expressar-se
independentemente dos valores defendidos por sua família.
Os relacionamentos humanos são impulsionados por duas forças
de vida que se equilibram:

Individualidade
(individuação)

Proximidade
(união)
Todas as famílias variam ao longo de um contínuo que vai
da fusão emocional à diferenciação!

Fusão emocional Diferenciação

 Diferenciação: capacidade do funcionamento autônomo, auxiliando os


indivíduos a evitar seu aprisionamento nas reatividades emocionais.

 Indiferenciação: desequilíbrio voltado à união, chamado variavelmente


de fusão emocional ou aglutinação; posições relacionais dicotômicas
como o bem e o mal.
Conceitos:
Estão interligados e moldam a relação
dos membros no gradiente
aproximação-distanciamento.

1. Diferenciação do self

2. Triângulos

3. Processo emocional da família nuclear

4. Processo de projeção familiar

5. Processo de transmissão multigeracional

6. Posição de nascimento entre os irmãos


1. Diferenciação do self

• A pessoa indiferenciada tende a agir com submissão ou


de forma opositora.

• Capacidade de equilibrar pensamentos e sentimentos,


espontaneidade, autocontenção que acompanha a
capacidade de resistir à pressão dos impulsos
emocionais.

Pior Melhor
funcionamento funcionamento
dos membros dos membros

Indiferenciado Diferenciado

GRAU DE DIFERENCIAÇÃO
• Diferenciar-se é se libertar do emaranhado emocional da família.
• Envolve analisar o próprio papel no sistema relacional como
um papel ativo, assumir a sua responsabilidade e não
culpabilizar o outro.

• Ocorre em nível intrapsíquico e interpessoal.

• É a capacidade de ser flexível e agir sabiamente, mesmo diante


da ansiedade.
1. Diferenciação do self

Indiferenciação Diferenciação
/ Fusão Ansiedade
do self
➢ A escala de diferenciação do self ajuda a compreender o
processo de amadurecimento do indivíduo, as respostas
significativas, o funcionamento e as disfunções ocorridas nos
processos relacionais.

➢ Essa escala, de uma importância teórica mais do que


classificatória, é dividida em quatro quadrantes: no quadrante
inferior, a diferenciação do eu é mínima.
DIFERENCIAÇÃO

75-100: pessoas dotadas de uma plena maturidade, que funcionariam com alto
grau de independência. São pessoas seguras de si, com opinião bem definida,
embora não necessitem expressá-las de forma dogmática ou rígida. Assumem
responsabilidade por seus atos, são tolerantes a opiniões divergentes e não
entram em debates para provar que estão certas.

50 - 75: Pessoas que têm opiniões bem diferenciadas, conseguem assumir a


“posição eu” e apoiar-se menos no julgamento dos outros.

25-50: Aquelas pessoas ainda pobremente diferenciadas, mas capazes de


funcionarem de maneira limitada. São pessoas facilmente influenciadas, pois não
têm opiniões próprias.

0-25: diferenciação do eu mínima. As pessoas que funcionam nessa categoria


vivem em um mundo de sentimentos e são quase inteiramente dependentes das
demais. São pessoas incapazes de distinguirem a emoção da razão. São
extremamente reativas e apresentam dificuldades relacionais.

FUSÃO
2. Triângulos emocionais

Pai • Estrutura de relacionamento

• Triangulação – processo reativo no qual


uma terceira pessoa é puxada para
atenuar o conflito

• A maior influência sobre a atividade dos


triângulos é a ansiedade

• A interação de cada dupla está ligada


ao comportamento da terceira pessoa.

• A triangulação deixa sair o vapor, mas


Filho Mãe congela o conflito.

Mais estresse → maior ansiedade → maior fusão


Exemplos comuns nos casais:

- submissão X dominação
- adoecimento de um filho
- relação extraconjugal
- trabalho excessivo

As pessoas tendem a se envolver com alguém com o


mesmo nível de diferenciação de self.
“Na anamnese com os pais, o profissional recebe as
informações de que o casal esteve casado por 20 anos, e
teve o filho em um momento de crise conjugal. Desde o
início, o bebê passou a dormir na cama do casal. Com o
passar do tempo, a cama foi ficando pequena para os três, e
o pai então resolveu ir dormir na cama do filho, deixando-o
com a mãe.”
✓ Na sistêmica se entende que as relações são complementares.

✓ Atenção para atender crianças sem a presença dos pais!

✓ Ensinar a uma mãe técnicas melhores para disciplinar seu filho


não resolverá o problema se ela estiver muito envolvida com
ele como resultado do distanciamento do marido.
3. Processo emocional da família nuclear
ou massa do ego familiar

• Este conceito trata das forças emocionais na família que operam


ao longo dos anos em padrões recorrentes.

• Processo emocional que circula dentro da massa do ego da


família nuclear com modos precisos de resposta emocional.

• Se perpetua, pois as pessoas acabam se relacionando com


indivíduos com o mesmo grau de diferenciação.

Em uma família emaranhada, com dificuldade de diferenciação, o


que ocorre se ninguém evoluir no grau de diferenciação?
Rompimento com a família e fusão no novo casamento.

Refém, seguir os passos da família e evitar o conflito.

“Se conformar ou se rebelar. Em vez de aprender a pensar por si


mesmos, estes filhos funcionam em reação aos outros. Quando
saem de casa tem a expectativa de serem os autores das próprias
vidas, não serão iguais aos pais!”
4. Processo de projeção
familiar

• Processo pelo qual os pais transmitem sua falta de diferenciação aos


filhos.

• O objeto deste processo atinge menor nível de diferenciação do self e


se torna mais vulnerável a problemas.

• Quanto menos ansiedade estiver concentrada nos filhos, mais eles


poderão crescer com diferenciação.

• A projeção é diferente do “cuidado” e se caracteriza por uma


preocupação ansiosa, confusa e excessiva com um ou mais filhos ou
filhas.
Marido desligado + esposa concentrada
nos filhos

O envolvimento da esposa com os filhos


alivia o pai, o que reforça o
comportamento e aumenta a distância do
casal

O filho triangulado apresenta


dificuldades/sintomas que reforçam o maior
envolvimento da mãe.

Este filho alvo vai ser menos diferenciado


5. Processo de transmissão multigeracional

• Transmissão da ansiedade de
geração para geração.

• O filho mais envolvido na fusão familiar avança para um nível


mais baixo de diferenciação do self. Quando se casar, tenderá a
escolher um parceiro com o mesmo nível de diferenciação.

• Os mecanismos para conter a ansiedade (conflito conjugal,


disfunção do cônjuge e disfunção dos filhos) serão maiores que
na geração anterior.
6. Posição de nascimento
dos irmãos

• Os filhos desenvolvem características de personalidade com


base em sua posição na família.

• Nova perspectiva da rivalidade fraterna.


• De algo inevitável para funcionamento em triângulo
Desenvolvimento Familiar Normal

❖ Desenvolvimento familiar saudável → quando os membros


da família são diferenciados, a ansiedade é baixa e os
parceiros mantêm um bom contato emocional com as
próprias famílias.
Objetivos da Terapia

• Processo de aprendizado sobre si e sobre as suas relações.

• Auxiliar na percepção do modo de resposta emocional: razão X


emoção.

• Verificar a influência da família de origem.

• Analisar triangulações estáticas.

• Aumentar a diferenciação da família de origem.

• Assumir a responsabilidade pelos próprios problemas.

• Dialogar para resolver conflitos.


Aparecimento dos sintomas

• Os sintomas surgem quando os problemas verticais de ansiedade


familiar cruzam com os estresses horizontais que acompanham os
pontos de transição no ciclo de vida da família.

• Ele resulta do estresse que supera a capacidade da pessoa


manejá-lo.

• O indivíduo mais vulnerável será o que absorverá a ansiedade do


sistema e desenvolverá sintomas.

• A fusão emocional com a família de origem baseia-se no apego


ansioso, que pode se manifestar como dependência ou
isolamento.
• Essas pessoas respondem aos conflitos com reatividade
emocional.
Terapia: Avaliação e técnicas

• Avaliação inicial detalhada.

• Genograma.

• Busca por padrões – perguntas que estimulam autorreflexão.

• Tomada da posição EU – falar de si.

• Para modificar um sistema, a mudança precisa ocorrer no triângulo


mais importante da família – o casal. Para isto, o terapeuta cria um
novo triângulo, um triângulo terapêutico.

• Posição autônoma em relação à família: “Você é muito preguiçosa”


X “Eu gostaria que você ajudasse mais”
Condições para mudança de
comportamento

Traçar o padrão dos problemas familiares significa prestar atenção


ao processo e à estrutura.

Processo ➔ padrões de reatividade emocional


Estrutura ➔ rede interligada de triângulos
• Fortalecer o nível de funcionamento emocional do casal,
aumentando sua capacidade de agir com menos ansiedade em suas
famílias de origem

• Aumentar a capacidade dos pais de manejar a própria ansiedade e,


assim, lidar melhor com o comportamento dos filhos

• Desenvolver a capacidade de distinguir entre pensamento e


sentimento - o entendimento, não a ação, é o veículo de cura
• Diminuir a ansiedade e aumentar o foco no self – capacidade
de ver o próprio papel nos processos interpessoais

• Terapeuta deve controlar a própria reatividade emocional

• A terapia pode não exigir a presença de toda a família, mas


requer o conhecimento da família ampliada

• A diferenciação do self, que começa como um processo


pessoal e individual é o fundamental para transformar
relacionamentos do sistema familiar
Críticas
▪ Subutiliza o poder de se trabalhar diretamente com a família
nuclear

▪ Foco maior nos indivíduos e casais

▪ Não derivada de pesquisa empírica

▪ Teorizações e observação clínica


Referências:

• Nichols, M.P. & Schwartz, R.C. (2007) A terapia Familiar


Sistêmica de Bowen. In:Terapia Familiar: conceitos e
métodos. Porto Alegre: Artmed

• Bowen, M. (1979) De la família al indivíduo. Barcelona:


Paidos

• Martins, E.M.A., Rabinovich, E.P. & Silva, C.N. (2008) Família e


o processo de diferenciação na perspectiva de Murray
Bowen: Um estudo de caso. Psicologia USP, 19(2), 181-197

• Rosenberg, M. B. (2006). Comunicação não-violenta:


técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e
profissionais. Agora

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