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Pensamento
Sistêmico
Teoria sistêmica e terapia familiar
Profa. Dra. Angela Marin
Espinha dorsal do fluxo de conhecimento em ciências sociais – Web of Science
• Para falarmos em pensamento sistêmico primeiro é preciso falar em paradigmas.
Paradigmas são modelos e padrões que orientam o nosso pensamento e o de todos que
estão inseridos em uma determinada sociedade, cultura e tempo.
Ciência positivista Ciências emergentes
Busca-se uma verdade e o objetivo da ciência é buscar, Não há uma única verdade e o objetivo da ciência é construir
compreender e explicar a realidade e reconstruir o conhecimento
Busca por leis universais a partir de características Não existem leis universais que expliquem a complexidade
comuns a todos os fenômenos dos fenômenos
O observador deve se distanciar da realidade para O observador faz parte da realidade e o seu conhecimento
apreendê-la – postura neutra está vinculado a percepção que ele tem da mesma – não é
possível haver neutralidade
Os fenômenos são simples e únicos e é possível isolar as Os fenômenos são complexos e dinâmicos e as partes
partes do todo somente fazem sentido em função do todo
Para compreender os fenômenos, deve-se isolá-los e A compreensão dos fenômenos é mais completa se os
dividi-los, de modo que não interfiram nos resultados e sistemas se relacionarem entre si - sentido mais abrangente e
nas leis universais desde diferentes perspectivas
Metodologia experimental e manipulativa – ênfase Metodologia crítica e dialética – ênfase qualitativa
quantitativa
Pensamento linear Pensamento circular
• Paradigma da Circularidade: não há causa
• Paradigma da linearidade: causa Mudança
paradigmática
e efeito, nem início e fim, e sim um
e efeito. processo de influências mútuas e contínuas.
Séculos XVI e XVII Séculos XVIII e XIX Século XX
Mecanicismo Organicismo
Influência na construção do
pensamento sistêmico
Reconhece que a simplificação obscurece as inter-
relações e, portanto, busca-se contextualizar os
fenômenos e explorar os sistemas dos sistemas,
Fenômenos são entendendo que não há uma causalidade linear e
simples e únicos sim, circular
e é possível isolar
as partes do todo
MECANICISMO ORGANICISMO
SIMPLICIDADE COMPLEXIDADE
Mundo está em processo de constante
ESTABILIDADE INSTABILIDADE transformação e é indeterminado. Por isso,
alguns fenômenos são imprevisíveis e
OBJETIVIDADE INTERSUBJETIVIDADE irreversíveis, e, portanto, incontroláveis
• Qual dos paradigmas vem ao meu encontro, considerando a forma como penso
minha formação em psicologia?
CONCEITO BÁSICO DO PENSAMENTO
SISTÊMICO
• As propriedades de um sistema pertencem ao todo de maneira que nenhuma das
partes as possuem, pois tais propriedades se manifestam justamente da interação
entre as partes.
• Princípio hologramático: não só a parte está no todo, mas também o todo está na
parte.
• Essa constatação exige o abandono de um tipo de explicação linear por um tipo de
explicação em movimento, circular, no qual as partes interagem com o todo e o
todo com as partes para tentar compreender um fenômeno.
O QUE É UM SISTEMA?
• Sistema – do grego synhistanai – colocar junto
▪ O sistema é uma complexidade organizada - ainda que tenha uma aparência caótica, há sempre
uma organização subjacente, uma espécie de caoticidade organizada por sistemas de
autorregulação (auto-organização, autocorreção).
▪ O sistema possui limites - existe uma seleção em relação ao que entra e sai do seu interior.
• Na perspectiva sistêmica, a família é mais que uma coleção de indivíduos, ela é uma rede de
relacionamentos.
Características comuns aos sistemas
• Circularidade: as relações entre os elementos não são lineares, mas circulares; não
há uma causa que provoque um efeito de forma unívoca.
2) pensamento é contextual
• A análise das propriedades das partes não explica o todo - a ênfase está nas relações.
TEORIA
• A clínica de abordagem sistêmica valeu-se de teorias como:
• Cibernética (Wiener, 1961)
• Teoria geral dos sistemas (Bertalanffy, 1975/2008)
• Teorias construcionistas (construtivismo e construcionismo social)
• Teoria do apego (Bowlby, 1982)
• Pensamento Complexo (Morin, 1991)
• Foco na compreensão do indivíduo não mais no âmbito apenas de sua individualidade, mas
também das relações e dos contextos em que está inserido.
• Centra-se no contexto inter-relacional ao invés de focar-se no campo intrapsíquico
(Grandesso, 2009).
Cibernética
▪ Cibernética (do grego Κυβερνήτης = condutor, governador, piloto) - tentativa de
compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e grupos sociais
através de analogias com máquinas cibernéticas (homeostatos, servomecanismos
etc.).
Feedback positivo:
• É a informação que confirma e reforça a direção que o sistema toma.
• Os circuitos de feedback positivo podem levar ao descontrole, fazendo com que a máquina estrague.
▪ Processo pelo qual um sistema obtém a informação necessária para manter um curso
estável.
▪ O feedback pode ser positivo e negativo – efeito que tem sobre o desvio em relação a
um estado homeostático.
▪ Não significa que sejam benéficos ou prejudiciais.
▪ O estudo da Cibernética foi dividido em duas fases:
▪ Primeira ordem
▪ Interesse pela estabilidade, pela estrutura (homeostase ou homeostasia) e
transformação para adaptação ao meio.
* Sluzki, C. E. (1987). Cibernética y terapia familiar: Un mapa mínimo. Sistemas Familiares, 3(2), 65-69.
• Essa nova cibernética implica em uma teoria sobre o observador, fundamentada
na crença de que é impossível separar o observador do sistema observado,
portanto, questiona a possibilidade de conhecimento objetivo, de previsão e
controle.
• A teoria dos sistemas enfatizou como a vida das pessoas é influenciada por seus
intercâmbios com aqueles que os cercam, mas ao focar os padrões de interação,
deixou de assinalar como as crenças dos membros da família afetam suas ações e
como a cultura pode determinar essas crenças.
Construtivismo
* GRANDESSO, M. A. Sobre a reconstrução do significado: Uma análise epistemológica e hermenêutica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
▪ Externalização: reconstrução da
definição de problema, não como
propriedade das pessoas que sofrem,
mas como opressor.
• Para Morin (1991)* a primeira coisa que devemos levar em conta é que
existe uma distinção entre a complexidade e as coisas complicadas.
• O pensamento complexo, no entanto, nos leva a outro lugar, de pensar que o mundo
é contraditório e paradoxal.
• Pode-se ter “certezas” focais ou locais, sempre temporárias, mas nunca universais,
gerais ou atemporais
Third-order thinking – Terceira cibernética
(Knudson‐Martin, McDowell, & Bermudez, 2020; McDowell, Knudson-Martin, & Bermudez, 2019).
HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR
ANOS 60
• 1960 - consolidação de um corpo teórico e técnico que passa a introduzir-se no campo da clínica geral.
• 1961 - primeiro handbook e revista (Family Process).
BRASIL
FUNDADORES Murray Bowen Don Jackson Salvador Minuchin Steve de Shazer Mara Selvini Michel White
Jay Haley Insoo Kim Berg Palazzoli, David Epston
Gianfranco
Cecchin, Luigi
Boscolo, Giuliana
Prata
• Os terapeutas perceberam que os sistemas de crenças não surgiam em um vácuo, por isso
o atual interesse é pelas influências sociais e culturais.
Teoria bioecológica do desenvolvimento humano
(Bronfrenbrenner, 2011)
Desenvolvimento humano: fenômeno de continuidade e de mudança das características biopsicológicas dos seres
humanos como indivíduos e grupos. Esse fenômeno se estende ao longo do ciclo de vida humano por meio das
sucessivas gerações e ao longo do tempo histórico, tanto passado quanto presente.
• Necessidade de apego emocional para desenvolvimento e bem-estar – relação entre pais e filhos
• O desenvolvimento ocorre por meio de interações recíprocas que se tornam progressivamente mais complexas
– processos proximais.
Estudos em modo Estudos em modo
descoberta verificação
Acessar como os
processos proximais se Uso de modelos estatísticos
apresentam conforme Levantam multivariados que prevejam
diferentes características hipóteses a serem as interações complexas
pessoais e contextuais, ao testadas entre os elementos do
longo do tempo modelo PPCT
Modelo PPCT
“De que maneira as relações interpessoais estabelecidas por adolescentes em cumprimento de medidas
socioeducativas contribuem para a elaboração de seus projetos de vida?”
No processo de composição dos grupos, levou-se em consideração o local da unidade socioeducativa e a faixa
etária dos adolescentes, de modo a configurar um estudo de delineamento fatorial 2 x 2 (grupo etário x região).
O uso de delineamentos fatoriais nesse momento da pesquisa não teve como finalidade a comparação de grupos,
como ocorre nos delineamentos fatoriais de pesquisas quantitativas. Sua função é, sobretudo, possibilitar o
acesso aos processos proximais em análise sob a influência de diferentes características pessoais e contextuais.
Coscioni, V., Nascimento, D. B. D., Rosa, E. M., & Koller, S. H. (2018). Pressupostos teórico-metodológicos da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento
Humano: Uma pesquisa com adolescentes em medida socioeducativa. Psicologia USP, 29(3), 363-373. https://doi.org/10.1590/0103-656420170115
Referências
• Bertalanffy, L. V. (2008). A teoria geral dos sistemas em psicologia e psiquiatria. In L. V. Bertalanffy, Teoria geral dos sistemas (pp.261-280).
Petrópolis: Vozes.
• Bronfenbrenner, U. (2011). Bioecologia do desenvolvimento humano: tornando os seres humanos mais humanos. Artmed Editora.
• Calil, V. L. L. (1987). O modelo sistêmico. In: V. L. L. Calil, Terapia familiar e de casal (pp.17-33). São Paulo: Summus Editorial.
• Gomes, L. B., Bolze, S. D. A., Bueno, R. K., & Crepaldi, M. A. (2014). As origens do pensamento sistêmico: das partes para o todo. Pensando
Famílias, 18(2), 3-16.
• Knudson‐Martin, C., McDowell, T., & Bermudez, J. M. (2020). Sociocultural attunement in systemic family therapy. The Handbook of
Systemic Family Therapy, 1, 619-637.
• McDowell, T., Knudson‐Martin, C., & Bermudez, J. M. (2019). Third‐order thinking in family therapy: Addressing social justice across family
therapy practice. Family Process, 58(1), 9-22.
• Nichols, M. P., & Schwartz, R. C. (2007). Os conceitos fundamentais da terapia familiar. In: M. P. Nichols & R. C. Schwartz, Terapia familiar:
conceitos e métodos (pp.100-125). Porto Alegre Artmed.
• Papp, P. (1992). O dilema da mudança. In P. Papp, O Processo da Mudança (pp.21-24). Porto Alegre: Artmed.
• Vasconcellos, M. J. E. de. (2002). Rastreando as origens das abordagens teóricas dos sistemas. In M. J. E. Vasconcellos, Pensamento
sistêmico: o novo paradigma da ciência (pp.185-252). Campinas, SP: Papirus.
• Watzlawick, P., Beavin, J., & Jackson, D. (1976). Alguns axiomas conjeturais de comunicação. In: P. Watzlawick, J. Beavin, & D. Jackson,
Pragmática da comunicação humana (pp. 44-65). São Paulo: Cultrix.