Você está na página 1de 3

4.

7 A organização e o enfoque sistêmico

Ainda sobre as organizações, é oportuno tecer algumas considerações sobre o enfoque sistêmico, muito útil
para a compreensão dos problemas da sociedade atual, de rápidas e constantes mudanças e da influência do
sistema social, maior, sobre o sistema organizacional, menor.
É sabido que a teoria tradicional, por seu enfoque mecânico, apresentou como pressuposto implícito o caráter
fechado das estruturas sociais. Todavia, a partir de 1951, quando Parsons equacionou a abordagem dos sistemas
abertos, na evolução dos estudos das estruturas sociais, as explicações dos sistemas sociais, que trilhavam o
caminho dos sistemas fechados, ganharam nova dimensão, passando uma grande parte do pensamento sociológico
a percorrer o caminho dos sistemas abertos. A teoria do sistema aberto, em tese, parece favorecer um tratamento
mais amplo sem que o estudioso corra o risco muito comum da supersimplificação, motivo de críticas na análise
de sistemas. A teoria do sistema aberto enfatiza, por meio da suposição básica de entropia – tendência à
desorganização –, a necessária dependência de qualquer instituição social em relação ao sistema de valores de sua
ambiência.28
No entender de Katz e Kahn, a organização, como sistema, tem uma produção, um resultado ou um produto,
mas este, no entanto, não é necessariamente idêntico às finalidades individuais dos membros dos grupos. Os
conceitos teóricos de abordagem das organizações devem começar com o insumo, o produto e o funcionamento
da organização, como sistema e não com os propósitos racionais de seus líderes. O modelo teórico para a
compreensão da organização é de um sistema de energia insumo-produto, no qual o retorno da energia do produto
reativa o sistema. As organizações sociais são flagrantemente sistemas abertos, porque o insumo de energias e a
conversão do produto em novo insumo de energia consiste em transações entre a organização e seu meio
ambiente.29
Ainda na palavra dos autores citados, as organizações, como classes especiais de sistemas abertos, têm
propriedades que lhes são peculiares, mas compartilham outras propriedades com todos os sistemas abertos. Estas
propriedades incluem a importação de energia do ambiente, a transformação da energia importada em alguma
forma de produto que é característica do sistema, a exportação desse produto para o ambiente e a renovação de
energia para o sistema, de fontes que existem no ambiente. Por outro lado, os sistemas sobrevivem e mantêm suas
características intrínsecas de ordem somente enquanto importam do ambiente mais energia do que expedem no
processo de transformação e importação.30
Além disso, as organizações criam e desenvolvem seu próprio caráter, sua própria cultura ou clima, com suas
normas, seus tabus, costumes e crenças. O caráter do sistema organizacional, que distingue uma organização de
outra, reflete tanto as normas e valores do sistema formal como sua reinterpretação no sistema informal. A cultura
também reflete a história das lutas internas e externas, dos tipos de pessoas que a organização recruta, de seus
métodos e processos de trabalho e layout físico, do sistema de comunicações, do exercício da autoridade dentro
do sistema. Partilhando a organização do mesmo sistema de valores da sociedade em que se integra, e tendo, assim
como essa sociedade, uma herança cultural, as organizações sociais – subsistemas dessas sociedades – possuem
padrões distintos de sentimentos e crenças coletivos que são transmitidos aos novos membros do grupo. 31
Portanto, a interdependência da organização (microssistema) do meio social em que se integra
(macrossistema) é o fundamento básico do moderno enfoque das organizações como sistemas abertos, máxime
atualmente, quando cada vez mais as organizações precisam estar atentas para o cenário internacional e nacional,
uma vez que as grandes decisões de política internacional ou as mudanças nas diretrizes governamentais são fontes
poderosas que indicam quase sempre a necessidade de mudanças e adaptações internas.
Finalmente, os mesmos autores citados por Chris Argyris asseveram, de maneira bem clara:
“Começamos por definir a organização como um sistema aberto e dinâmico; em outras palavras, trata-se de
uma entidade caracterizada por um contínuo processo de insumo, transformação e produto. O insumo
organizacional inclui indivíduos, matérias-primas e energia; o produto organizacional surge tipicamente na forma
de mercadorias e serviços, embora possa consistir de recompensas psicológicas para os membros da instituição. A
abertura da organização, como sistema, significa que ela está eternamente dependente de seu meio ambiente para
a colocação de seus produtos e serviços e para a obtenção dos necessários insumos que ativam os processos
organizacionais de transformação, mantendo em existência a entidade.’’32
A Figura 4.2 ilustra o enfoque da organização como um sistema aberto, evidenciando a importação de
insumos do ambiente, o processamento desses insumos, por meio dos sistemas internos (tecnológico, social e
gerencial), gerando os produtos organizacionais, que são exportados para o ambiente.

Figura 4.2 A organização como um sistema aberto.

Finalmente, o microssistema organizacional, por meio de feedback externo, permanentemente, deve avaliar
sua efetividade, diagnosticando os impactos exógenos e seus reflexos nos sistemas internos, para poder
internalizar, tempestivamente, as mudanças ditadas pelo macrossistema social – advindas do ambiente e/ou da
tecnologia –, reativando, dessa forma, o ciclo vital da organização.
É oportuno ressaltar, a sociedade é o macrossistema. A organização, parte da sociedade, é o microssistema,
estruturando-se nos sistemas tecnológico, social e gerencial. Os insumos são os recursos importados do ambiente
(recursos humanos, materiais, energéticos, financeiros, científicos, tecnológicos etc.). Finalmente, os produtos
resultam do trabalho final da organização, como bens, serviços, delinquentes reabilitados, doentes curados,
programa de treinamento aplicado, epidemia erradicada etc.
É significativo reforçar, os sistemas sobrevivem e mantêm suas características internas de ordem somente
enquanto importam do ambiente mais energia do que consomem no processo de transformação/exportação. Em
consequência, nos diagnósticos de avaliação da efetividade organizacional, é imprescindível a identificação das
relações existentes entre os estados e processos da empresa e as demandas externas do ambiente, porque uma
importante função de um sistema é a adaptação ao que se passa em seu mundo exterior.
Portanto, sob a ótica de manipulação da organização como um sistema aberto, sua efetividade depende da
elaboração de produtos com valor social, isto é, com ampla aceitação do mercado ou comunidade atendida. Para
alcançar esse resultado, é óbvio, a organização, ao formular sua estratégia, deve considerar, conforme sua
natureza, o ambiente ou, mais particularmente, a tecnologia. Portanto, em sua essência, “a estratégia é a postura
que as organizações adotam para gerenciar o relacionamento entre elas e seus ambientes’’ (Ansoff); “a estratégia
é também a determinação das metas básicas de longo prazo e dos objetivos da empresa e a adoção dos cursos de
ação e da alocação de recursos, necessários para atingir aquelas metas’’ (Chandler).
Juntando essas visões e definições de estratégia, Nadler, Hackman e Lawler III, traçando um quadro de
referência, asseveram que as organizações estão continuamente analisando seus ambientes para identificar
restrições, demandas e oportunidades. Ao mesmo tempo, a organização avalia seus próprios recursos e a maneira
pela qual os utiliza, tomando decisões sobre sua necessária alocação, para obter esse ajuste. Esse conjunto de
decisões é o curso de uma estratégia. Dessas decisões flui um conjunto de objetivos, metas e planos, que
representam como a organização irá tentar implementar sua estratégia. Por fim, esses objetivos, metas e planos
definem o conjunto de atividades/tarefas que devem ser executadas.33
Ainda, na palavra dos referidos autores, em um sentido amplo, a estratégia é a determinação do que a
organização precisa fazer, tornando-se claro, como resultado de seu desenvolvimento, quais, dentre as
atividades/tarefas que os indivíduos, grupos e a organização como um todo devem fazer, são as mais críticas.
É fundamental priorizar as atividades porque, assim, estratégia e organização devem combinar-se para a
efetividade da própria organização, que não só deve ter uma estratégia adequada como também deve dispor dos
meios para implementá-la, valendo-se dos indivíduos, grupos e do projeto organizacional. Finalmente, a estratégia
influencia como uma organização é projetada, e o comportamento organizacional tem implicações em que tipos
de estratégias se desenvolvem. Portanto, a estratégia, o projeto organizacional e o tipo de gerência devem ser
consistentes.34
Outrossim, devemos considerar a existência de feedback interno, aderente à cultura da organização,
emergindo seus sintomas de sua camada informal. Isso se traduz no clima de trabalho diário, na qualidade das
atitudes e no grau de interação entre indivíduos, grupos e órgãos, no nível de satisfação e de motivação, existentes
ou não, com reflexos finais na qualidade dos produtos, nos índices de produtividade e na própria lucratividade da
empresa, enfim, em sua efetividade. Por conseguinte, quaisquer dessas disfunções, diagnosticadas, seja no ângulo
formal seja no informal – independentemente de impactos do ambiente – ou mesmo antecipando-se a estes,
podem evidenciar necessidades de ajustamento no plano estratégico, no que concerne ao projeto organizacional,
por problemas oriundos do sistema social. Complemente a ideia com o item 9.9.
Como é lógico, os sistemas tecnológico e gerencial também vão ser afetados pelas dificuldades do sistema
social. Por esses motivos, são necessárias intervenções planejadas, visando identificar os problemas, suas causas e
suas consequências, em nível dos três sistemas internos, de forma que o novo plano ideal de organização não só
solucione os problemas iniciais como também otimize o funcionamento harmônico dos sistemas organizacionais.
Essa ênfase no sistema social deve ser uma preocupação constante dos administradores, pois pesquisas têm
evidenciado que, dentre as forças-chave do ambiente interno de uma empresa, estão as atitudes dos empregados
de todos os níveis e a capacidade dos empregados na realização de suas tarefas.

Cury, Antonio. Organização e métodos: uma visão holística / Antonio Cury. – 9. ed. – São Paulo : Atlas, 2017.

Você também pode gostar