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TEORIAS DA

ADMINISTRAÇÃO

Fernanda da Luz Ferrari


Teoria sistêmica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar como as organizações atuam como sistemas abertos.


 Correlacionar o pensamento sistêmico com a visão holística de
gerenciamento.
 Descrever as aplicações do pensamento sistêmico nas organizações.

Introdução
A teoria sistêmica percebe as empresas como sistemas abertos, isto é, sis-
temas que interagem com diferentes elementos e que realizam contínuos
intercâmbios com o ambiente. Dessa perspectiva, a organização se adapta
e se ajusta constantemente para se tornar cada vez mais competitiva.
Neste texto, você vai ver como as organizações atuam como sistemas
abertos, correlacionado o pensamento sistêmico com a visão holística
de gerenciamento. Além disso, você vai ver como ocorrem as aplicações
do pensamento sistêmico nas organizações.

Organizações como sistemas abertos


No mundo contemporâneo, as mudanças externas à organização ocorrem
de forma muito rápida e constante. Elas causam impactos significativos nos
processos, produtos e serviços que uma empresa oferece a determinado mer-
cado. Assim, as empresas podem ser consideradas sistemas abertos, já que os
acontecimentos do meio externo podem afetá-las diariamente.
Por não serem isoladas, as empresas se inter-relacionam com muitas vari-
áveis, sejam elas do ambiente interno ou externo. Segundo Chiavenato (2014),
o sistema aberto caracteriza-se por um intercâmbio de transações com o
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ambiente e conserva-se constantemente no mesmo estado (autorregulação),


apesar de a matéria e a energia que o integram se renovarem constantemente
(equilíbrio dinâmico ou homeostase).
As empresas interagem muito com seus fornecedores, clientes internos e
externos, sindicatos e também concorrentes. Nesse sentido, Chiavenato (2014,
p. 476) afirma que o sistema aberto

[...] pode ser compreendido como um conjunto de partes em constante interação


e interdependência, constituindo um todo sinérgico (o todo é maior do que a
soma das partes), orientando para determinados propósitos (comportamento
teológico orientado para fins) e em permanente relação de interdependência
com o ambiente (entendida como a dupla capacidade de influenciar o meio
externo e ser por ele influenciado).

A seguir, você pode ver as principais características das organizações


enquanto sistemas abertos (ABRANTES, 2012).

1. Importação de energia (entradas ou input): os sistemas abertos impor-


tam alguma forma de energia do ambiente externo; do mesmo modo, as
organizações sociais necessitam de diversos tipos de energia de outras
instituições, pessoas ou meios. Matérias-primas e demais insumos, como
energia elétrica, são exemplos de energia que as empresas importam
do ambiente externo.
2. Transformação (processamento): os sistemas abertos transformam a
energia disponível executando um trabalho; a organização cria um ou
mais produtos, ou proporciona um serviço. Isto é, existe uma reorgani-
zação das entradas. Por exemplo, a madeira se transforma em móveis.
3. Exportação (saídas ou output): todos os sistemas abertos exportam
certos produtos para o meio ambiente, fazendo com que a energia
transformada retorne a ele. Por exemplo, o móvel pronto devolve ao
ambiente externo a energia da madeira usada como matéria-prima.
4. Sistema como ciclo de eventos repetitivos: o padrão de atividades de
uma troca de energia tem caráter cíclico. Assim, o produto exportado
para o ambiente supre as fontes de energia para a repetição das ativi-
dades do ciclo. Em uma estrutura social, o fechamento e a renovação
do ciclo de atividades se dão por meio de uma série inter-relacionada
de eventos que se voltam sobre si mesmos. Produtos e serviços iguais
são produzidos e reproduzidos de forma cíclica.
5. Entropia negativa: para sobreviver, as organizações sociais precisam
deter o processo entrópico (entropia significa desorganização). Essa é
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uma lei universal da natureza, pela qual todas as formas de organização


se movem para a desorganização ou a morte. Porém, em um sistema
aberto, como é o caso das empresas, existe uma tendência geral para
se maximizar a sua razão de energia, importando mais energia do que
expedindo, armazenando para adquirir entropia negativa, ou se opondo
à desorganização. É assim que as empresas conseguem se manter vivas,
sempre “importando” elementos do ambiente externo.

Para visualizar como funciona um macrossistema, observe a Figura 1, a seguir.

Figura 1. Exemplo de uma empresa vista como um sistema de produção.


Fonte: Abrantes (2012, p. 145).

Observando a Figura 1, você pode perceber que os macrossistemas contém


vários subsistemas, que por sua vez compõem partes interdependentes: corte,
furação, fixação e montagem. No caso da situação mostrada na figura, para
que todas as partes possam existir e funcionar, existe um distribuidor que
adquiriu inicialmente as chapas de uma siderúrgica. Essa siderúrgica apenas
produziu as chapas após adquirir matérias-primas, tais como produtos quí-
micos, minério, energia, etc.
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O pensamento sistêmico e a visão holística


de gerenciamento
Para começar, você deve se familiarizar com o termo “holístico”, que vem do
grego (holos) e quer dizer completo, inteiro. Assim, a palavra “holística” quer
dizer totalidade, ou seja, a característica de sintetizar unidades. A visão holís-
tica nas empresas consiste em uma imagem única formada a partir de vários
elementos, tais como as estratégias, as atividades, as informações e os elemen-
tos intrínsecos (equipe, cultura, missão, visão, valores). Dessa forma, a visão
holística determina como todos esses elementos interagem de forma sistêmica.
A visão holística oferece inúmeros benefícios para as organizações. Ela
permite que os gestores deem diferentes ênfases para os mesmos elementos.
Além disso, a visão do todo torna a empresa mais competitiva. Uma empresa
que possui visão holística preocupa-se com o todo, formando o foco, a cultura
organizacional e a estratégia corporativa. De acordo com Barney e Hesterly
(2007), a estratégia de negócio é a teoria de uma empresa sobre como ganhar
vantagem competitiva em um único negócio ou setor.
A visão sistêmica está intimamente ligada aos sistemas de informações
gerenciais. Sem sistemas integrados, fica difícil tomar decisões e solucionar
possíveis problemas. Os sistemas integram as áreas funcionais e se concentram
na execução de processos relativos aos negócios da organização.

Ambientes organizacionais
O ambiente organizacional é composto pelas concorrentes, pelas mudanças
tecnológicas, por outras organizações, pelas regulações do governo, por fe-
nômenos sociais e por inúmeros outros fatores que permeiam o contexto em
que a empresa está inserida. Assim, conhecer os ambientes internos e externos
permite que o gestor domine todas as variáveis, de todos os elementos que
atuam sobre a organização. Isso o leva a tomar decisões por meio da visão
holística do gerenciamento.
O ambiente interno das organizações inclui as suas unidades ou depar-
tamentos. Já o ambiente externo pode ser dividido em macroambiente e am-
biente de tarefas. São considerados fatores do macroambiente: os ecológicos,
demográficos, econômicos e político-legais.
O ambiente organizacional instável é aquele em que os processos de mu-
dança ocorrem muito rápido, muitas vezes gerando incertezas. Já o ambiente
estável apresenta maior previsibilidade e pode ser considerado ideal para
empresas mecanicistas.
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Os elementos que influenciam as organizações de forma direta e específica


são os concorrentes, as instituições financeiras, os fornecedores, os meios de
comunicação e os grupos de interesses especiais, como você pode observar
na Figura 2, a seguir.

Figura 2. Ambiente organizacional.


Fonte: Garcia (2016, p. 93).

O pensamento sistêmico, associado à visão holística, permite que tanto a empresa


quanto o profissional desempenhem as atividades de forma mais competitiva. Assim,
é possível agir de forma imediata na solução de problemas ou na busca por resulta-
dos futuros. Em síntese, a visão holística proporciona uma tomada de decisões mais
responsável, aumentando a maximização de resultados.
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Aplicações do pensamento sistêmico


nas organizações
O pensamento sistêmico pode ser amplamente utilizado pelas organizações,
desde que seja criado um ritmo organizacional adequado para que as media-
ções sejam eficazes. De acordo com Chiavenato (2014), as organizações são
sistemas sociais sem limitação de amplitude. A seguir, você pode ver como
o pensamento sistêmico se aplica às organizações.

a) As organizações sociais estão vinculadas a um mundo concreto de seres


humanos, recursos materiais, fábricas e outros artefatos. Porém, esses
elementos não se encontram em interação natural entre si. O sistema
social é dependente de qualquer parte física, podendo substituí-la, pois
representa a estrutura de eventos ou acontecimentos, não a estrutura-
ção de partes físicas. Enquanto os sistemas físicos ou biológicos têm
estruturas anatômicas que podem ser identificadas (como automóveis
ou organismos), os sistemas sociais não podem ser representados por
modelos físicos. Há uma enorme diferença entre a estrutura socialmente
planejada do sistema social e a estrutura física da máquina, do organismo
humano e do sistema físico ou biológico.
b) Os sistemas sociais não necessitam de entradas de manutenção e de
produção. As entradas de manutenção são importações de energia
que sustentam o funcionamento do sistema, enquanto as entradas
de produção são as importações da energia processada para pro-
porcionar resultado produtivo. As entradas de produção incluem
as motivações que atraem as pessoas e as mantêm trabalhando no
sistema social.
c) Os sistemas sociais têm sua natureza planejada. São sistemas inventados
pelo homem e, portanto, imperfeitos. Eles se baseiam em atitudes, crenças,
percepções, motivações, hábitos e expectativas das pessoas. Apesar da
rotatividade do pessoal, apresentam constância nos padrões de relações.
d) Os sistemas sociais apresentam maior variabilidade do que os sistemas
biológicos. Por isso, precisam utilizar forças de controle para reduzir
a variabilidade e a instabilidade das ações humanas, situando-as em
padrões uniformes e dignos de confiança.
e) As funções, normas e valores são os principais componentes do sistema
social. As funções descrevem os comportamentos associados a deter-
minadas tarefas a partir dos requisitos destas. Além disso, constituem
formas padronizadas de comportamento, requeridas das pessoas que
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desempenham as tarefas. As normas são expectativas gerais com caráter


de exigência, atingindo todos os incumbidos pela função. Já os valores
são as justificações e aspirações ideológicas mais generalizadas. Assim,
os comportamentos de função dos membros, as normas que prescrevem
e sancionam esses comportamentos e os valores em que as normas se
acham implantadas constituem as bases sociopsicológicas dos sistemas
sociais para garantir a sua integração.
f) As organizações sociais constituem um sistema formalizado de fun-
ções. Esse sistema representa um padrão de funções interligadas que
definem atividades prescritas ou padronizadas. As regras definem o
comportamento esperado das pessoas no sistema e são explicitamente
formuladas. Para a imposição das regras, existem sanções.
g) A inclusão parcial significa que a organização utiliza apenas os co-
nhecimentos e as habilidades que são importantes para ela. Os demais
aspectos das pessoas são simplesmente ignorados. Assim, a organização
não requer nem solicita a pessoa “por inteiro”. Afinal, uma pessoa pode
pertencer simultaneamente a muitas organizações e nenhuma delas
constitui sozinha a sua personalidade. As pessoas incluem-se apenas
parcialmente nas organizações.
h) O funcionamento organizacional deve ser estudado em relação às
transações com o meio ambiente. Essa relação envolve os conceitos
de sistemas, subsistemas e supersistemas: os sistemas sociais — como
sistemas abertos — dependem de outros sistemas sociais. Sua caracte-
rização como subsistemas, sistemas ou supersistemas depende do grau
de autonomia na execução de suas funções.

O pensamento sistêmico e a cultura organizacional


Cada organização institui sua própria cultura organizacional, seus hábitos e
seus costumes. Dessa forma, a cultura dos sistemas se reflete nas normas e
valores da instituição. Isso ocorre por meio dos processos, das pessoas, das
modalidades de comunicação e das distribuições físicas de espaço. Assim, cada
novo membro recebe as regras, os padrões e as crenças coletivas, instituídas
pelos colaboradores.
De acordo com Machado (2001), dentro de uma organização trabalham
indivíduos com visões de mundo distintas, mas que precisam criar um pa-
drão de trabalho, um modo de agir, um pensar semelhante que padronize os
comportamentos. Nesse contexto, a cultura do local em que a organização
está inserida influencia a sua própria cultura.
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É muito comum nas empresas, a nível de liderança, o desenvolvimento da cultura “nossa


empresa não possui pensamento sistêmico”. Porém, é preciso rever as atividades de
planejamento e as bases culturais da empresa para que essa percepção seja modificada.
Esse processo de mudança, seja de hábito ou de cultura, pode levar tempo para
ocorrer. Contudo, é fundamental que os líderes desenvolvam atividades, por meio
de capacitações, para que todos os funcionários, em todos os níveis organizacionais,
conheçam as diretrizes da empresa e participem delas.

Ao longo deste capítulo, você viu a importância do pensamento sistêmico


aplicado à dinâmica de interação com fornecedores, clientes internos e externos,
sempre com a ativa participação dos funcionários. O pensamento sistêmico
favorece a visão compartilhada, o trabalho em equipe, os modelos mentais e
a capacidade da empresa de maximizar resultados.

ABRANTES, J. Teoria geral da administração: TGA: a antropologia empresarial e proble-


mática ambiental. Rio de Janeiro: Interciência, 2012.
BARNEY, J. B.; WILLIAM, S. H. Administração estratégica e vantagem competitiva. São
Paulo: Pearson, 2007.
CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. 9. ed. Barueri: Manole, 2014.
GARCIA, E. O. P. Visão sistêmica da organização: conceitos, relações e eficácia operacional.
Curitiba: Intersaberes, 2016.
MACHADO, D. D. P. N. A cultura brasileira influencia a aprendizagem nacional. Revista
de Negócios, v. 6, n. 4, 2001. Disponível em: <http://proxy.furb.br/ojs/index.php/rn/
article/view/356>. Acesso em: 27 set. 2018.
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