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TEORIAS DA

ADMINISTRAÇÃO

Fernanda da Luz Ferrari


Teoria contingencial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Relacionar a teoria sistêmica com a teoria contingencial.


 Identificar os ambientes organizacionais na visão contingencial.
 Descrever a estrutura da organização de acordo com o desenho
organizacional.

Introdução
A teoria da contingência surgiu a partir da análise de estruturas organiza-
cionais e da sua interface com o ambiente externo. Ela mostra que existe
uma relação funcional entre as técnicas administrativas e as condições do
ambiente.
Neste texto, você vai ver como a teoria sistêmica se relaciona com
a teoria contingencial. Você também vai estudar os ambientes organi-
zacionais do ponto de vista contingencial e conhecer as aplicações do
pensamento sistêmico nas organizações.

A teoria sistêmica e a teoria contingencial


A teoria da contingência se originou a partir da abordagem de sistemas. Ela
parte do princípio de que não existe um modelo organizacional único, uma
forma única de se organizar uma empresa para alcançar objetivos. De acordo
com várias pesquisas sobre as empresas contemporâneas e complexas, uma
nova perspectiva surge com relação à estrutura organizacional: as empresas
dependem das suas relações com o ambiente externo. Cada empresa deve
desenvolver um modelo que contemple e atenda às suas necessidades.
Dessa forma, a teoria da contingência evidencia uma nova marca na teoria
geral da administração (TGA). Ela integra o movimento que demonstra a
importância da visualização de dentro para fora da organização, partindo do
princípio de que as características ambientais é que determinam as caracte-
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rísticas organizacionais, assumindo a inexistência de receitas. Assim, a teoria


da contingência representa um avanço em relação à teoria de sistemas, na
medida em que procura analisar as relações dentro dos subsistemas e entre
eles (CHIAVENATO, 2014b, p. 414).
Ambas as teorias equivalem-se no sentido de que a abordagem sistêmica é
precursora da abordagem contingencial e no sentido de que levam em conside-
ração a integração entre as partes. A abordagem sistêmica analisa a organização
como um todo. As influências ambientais, externas à empresa, dependem de
como a organização interage com elas.
Segundo Matos e Pires (2006, p. 510):

[...] este modelo, dotado de grande flexibilidade, descentralização e desburo-


cratização, é colocado como opção para ambientes em constante mutação e
condições instáveis, contrapondo-se, de certa forma, ao modelo mecanicista
que prevalece em situações e ambientes relativamente estáveis.

Já a abordagem contingencial considera as influências ambientais deter-


minantes para o desenvolvimento das atividades na organização. No que se
refere à complexidade, a abordagem contingencial não apresenta uma única
forma de se compreender a realidade, diferente da sistêmica, que compreende
a realidade pela complexidade.
A escola contingencial deu mais amplitude à análise dos assuntos adminis-
trativos que foram inicialmente abordados pela escola sistêmica. De acordo com
Oliveira (2010), a escola contingencial surgiu na teoria geral da administração
por três razões principais, que você pode ver a seguir.

 Identificação da rápida adaptação que as organizações devem ter em


relação às contingências apresentadas pelo ambiente organizacional:
seguramente, essa foi a principal razão do surgimento da escola con-
tingencial e se refletiu, principalmente, na teoria da contingência.
 Melhoria da qualidade do processo decisório: a questão da amplitude de
análise das questões administrativas gerou a necessidade de um conjunto
de técnicas decisórias que facilitassem a atuação dos profissionais das
organizações nesse contexto. Inclusive, a escola contingencial criou
alguns parâmetros que podem auxiliar no entendimento dos fatores e
variáveis que influenciam a realidade das organizações e, consequen-
temente, possibilitam maior qualidade nas decisões.
 Tratamento das questões administrativas no contexto de “cada caso
é um caso”: isso porque a escola contingencial considera que nada é
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absoluto nas organizações. Tudo é relativo e depende das realidades


do ambiente organizacional e do resultado das negociações realizadas
pelas pessoas que têm poder de decisão nas organizações.

A escola contingencial é constituída por duas teorias da administração:

 teoria da administração por objetivos, estruturada por Peter Drucker


em 1954;
 teoria da contingência, iniciada em 1958, sendo que os primeiros estudos
podem ser creditados a Joan Woodward.

A partir da teoria da contingência, é possível identificar cinco instrumentos


administrativos de grande influência no gerenciamento das organizações:

a) análise externa da organização;


b) planejamento estratégico;
c) estratégias e técnicas estratégicas;
d) cenários estratégicos;
e) modelos organizacionais.

A abordagem contingencialista afirma que não existe uma única maneira


de organizar as empresas. Elas precisam ser ajustadas sistematicamente de
acordo com as condições ambientais. Veja os principais aspectos da abordagem:

 a organização é um sistema aberto e a sua natureza é sistêmica;


 as características da empresa interagem com o ambiente e entre si;
 as características organizacionais são variáveis dependentes, enquanto
as características ambientais funcionam como variáveis independentes.

No que se refere aos departamentos, é preciso um esforço unificado, ou seja,


uma coesão, para que ocorra a integração e a diferenciação. Para a empresa, a
diferenciação das unidades se constitui a partir das diferenças na orientação
e no formalismo da estrutura. Fazem parte da diferenciação os grupos inter-
nos, com caraterísticas próprias. Já a integração se dá por meio dos grupos
interorganizacionais, que se integram para garantir a produtividade.
Assim, você pode notar que as pesquisas realizadas na década de 1960
foram surpreendentes. Elas indicaram que não há uma forma melhor ou única
de as empresas funcionarem. Tanto a estrutura quanto o funcionamento das
organizações dependem da sua relação com o ambiente externo.
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Para saber mais sobre as novas abordagens na teoria administrativa, leia o artigo Novas
abordagens na teoria administrativa, disponível no link a seguir.

https://goo.gl/2KqVqo

Os ambientes organizacionais na visão


contingencial
O ambiente é o contexto que envolve externamente a organização ou o
sistema. Ele inclui a interação que a empresa desenvolve com o meio em
que está instalada. De acordo Lacombe (2009), uma organização contém
elementos humanos e materiais empenhados, coordenadamente, em ati-
vidades orientadas para resultados, ligados por sistemas de informação e
influenciados por um ambiente externo, com o qual a organização interage
permanentemente.
A partir dessa noção e de diversas pesquisas realizadas pela escola contin-
gencial, é possível notar que o ambiente pode ser analisado em dois segmentos.
Você vai conhecê-los a seguir.

Ambiente geral
É o macroambiente, ou seja, o ambiente genérico e comum a todas as organi-
zações. De acordo Lacombe (2009), o macroambiente é um amplo sistema que
envolve as organizações, abrangendo os aspectos demográficos, científicos,
tecnológicos, ecológicos, físicos, políticos, econômicos, sociais e culturais.
Tudo o que acontece no ambiente geral afeta direta ou indiretamente todas
as organizações. O ambiente geral é constituído de um conjunto de condições
semelhantes para todas as organizações. Conforme Chiavenato (2014b, p. 426),
tais condições incluem as listadas a seguir.

- Condições tecnológicas: para não perder a sua competitividade, as empre-


sas precisam se atualizar, incorporando a tecnologia do ambiente geral por
meio da inovação.
- Condições legais: constituem a legislação vigente e que afeta direta ou
indiretamente as organizações, auxiliando-as ou impondo restrições às suas
operações.
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- Condições políticas: decisões e definições políticas tomadas em níveis


federal, estadual e municipal, que influenciam as organizações e orientam
as condições econômicas.
- Condições econômicas: conjuntura que determina o desenvolvimento eco-
nômico ou a retração econômica que condiciona fortemente as organizações.
- Condições demográficas: taxa de crescimento, população, raça, religião,
distribuição geográfica, distribuição por sexo e idade, que determinam as
características do mercado atual e futuro.
- Condições ecológicas: condições relacionadas ao ambiente natural que
envolve a organização. O ecossistema refere-se ao sistema de intercâmbio
entre os seres vivos e o seu meio ambiente.
- Condições culturais: a cultura de um povo penetra nas organizações por
meio das expectativas de seus participantes e de seus consumidores.

Ambiente da tarefa
O ambiente da tarefa é constituído pelos fornecedores de entradas, pelos
clientes ou usuários, pelos concorrentes e pelas entidades reguladoras. É o
segmento do ambiente geral do qual cada organização extrai as suas entradas
e no qual deposita as suas saídas.

No ambiente de tarefas, os grupos reguladores podem ser compostos pelo governo e


por sindicatos, ou seja, grupos que impõem controle, limitações e restrições às empresas.

A análise ambiental é específica de cada organização e necessita de uma


definição que inclui as características próprias de cada empresa e a parte do
ambiente a que ela está exposta. Para compreender melhor, veja, a seguir,
como os ambientes podem ser classificados.

 Estrutura: os ambientes são considerados homogêneos quando existe


pouca diferenciação dos mercados e a maioria dos fornecedores, clientes
e concorrentes é semelhante. Já nos ambientes heterogêneos existe
grande diversidade de mercados, fornecedores, clientes e concorrentes.
 Dinâmica: o ambiente é considerado estável quando apresenta poucas
mudanças. Se estas ocorrem, são lentas e previsíveis. Já os ambientes
instáveis são aqueles em que a mudança ocorre de forma constante.
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Dessa forma, uma empresa que está situada em ambientes homogêneos


apresenta uma estrutura organizacional simples e centralizada no espaço.
Em contrapartida, uma empresa que está situada em ambientes heterogêneos
precisa de uma estrutura organizacional mais complexa, diferenciada e des-
centralizada no espaço.
De acordo com a teoria da contingência, não há uma única maneira de
organizar e estruturar as organizações. Enquanto a tecnologia impõe desafios
internos à organização, o ambiente impõe desafios externos. Diante desses
desafios, é possível identificar três níveis organizacionais nas empresas, como
você pode ver a seguir.

 Nível institucional ou nível estratégico: é considerado o nível mais


elevado da empresa, composto por diretores, proprietários ou acio-
nistas e altos executivos. É o nível em que as decisões são tomadas e
em que os objetivos da organização são estabelecidos, bem como as
estratégias para alcançá-los. É o nível que mantém a interface com
o ambiente.
 Nível intermediário (mediador ou gerencial): esse nível está entre o
institucional e o operacional e cuida da articulação interna entre eles.
É responsável pela escolha e pela captação dos recursos necessários,
bem como pela distribuição e pela colocação do que foi produzido pela
empresa nos diversos segmentos do mercado. Lida também com os
problemas de adequação das decisões tomadas pelo nível institucional
e com as operações realizadas pelo nível operacional. Em geral, esse
nível é composto por administradores, e são eles que fazem a ligação
do nível operacional com o nível institucional, de modo que cada su-
bordinado tenha apenas um supervisor.
 Nível operacional (técnico ou núcleo técnico): está localizado nas áreas
inferiores da organização. É o nível em que as tarefas são executadas e
em que as operações são realizadas. Envolve trabalho básico relacionado
diretamente com os produtos ou serviços da organização.

Observe, nas Figuras 1 e 2, as relações do ambiente com os níveis organi-


zacionais e as relações destes com a incerteza.
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Figura 1. Relação sistêmica entre a organização e o seu ambiente.


Fonte: Chiavenato (2014a, p. 525).

Figura 2. Níveis organizacionais e sua relação com a incerteza.


Fonte: Chiavenato (2014b, p. 438).
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Quando se consideram o ambiente de tarefas e os consumidores ou usuários, é possível


analisar o market share (participação de mercado). Acompanhe: uma empresa de
cervejas, por exemplo, produz e vende 2 milhões de garrafas ao mês, num mercado
cujo total de vendas, considerando várias marcas concorrentes, é 10 milhões de garrafas.
Essa organização possui um market share de 20%.

Desenho organizacional
Em razão da influência da abordagem dos sistemas abertos, a teoria da contin-
gência preocupou-se com o desenho dos cargos. Dessa forma, o desenho retrata
a configuração da estrutura organizacional e implica o arranjo dos órgãos, objeti-
vando maximizar a eficiência e a eficácia organizacionais (CHIAVENATO, 2014b).

Estrutura matricial
Oliveira (2010) salienta que a estruturação matricial surgiu porque as formas
tradicionais de organizar as empresas não eram eficazes ao lidar com atividades
complexas, que envolvem várias áreas do conhecimento científico e têm prazos
determinados para serem realizadas.
A estrutura matricial apresenta vantagens e desvantagens no seu desenho e
na sua estrutura funcional. Um aspecto particular da estrutura matricial é a dupla
ou múltipla subordinação. Determinado especialista responde simultaneamente
ao gerente funcional da área técnica, na qual está alocado, e ao gerente do projeto
para o qual está prestando serviço (VASCONCELOS; HEMSLEY, 1997).
A estrutura matricial visa a reunir as vantagens das estruturas funcionais
(chefe do departamento) e divisionais (chefe do projeto), neutralizando fraque-
zas, enfatizando a especialização e não o negócio, mantendo a identificação por
especialidade e para os resultados. Ela ainda objetiva maximizar resultados e é
a forma mais utilizada por grandes organizações, pois possibilita um ambiente
mais participativo, já que depende da colaboração de muitos profissionais
com diferentes formações. Os funcionários que estão alocados no nível mais
baixo da escala hierárquica também possuem mais oportunidades de tomar
decisões. Na estrutura matricial, há maior contribuição pessoal, seja por meio
das oportunidades de delegação ou da interdependência.
Em contrapartida, a estrutura matricial apresenta desvantagens, tal como
a possibilidade de ocorrerem conflitos entre os diversos comandos devido
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à dupla subordinação entre chefes funcionais e divisionais e entre chefes e


departamentos. Para que diminuam os riscos de conflito, é necessário definir
as áreas de autoridade de cada linha de comando sobre os subordinados. Isso é
possível, por exemplo, com a melhoria do processo de comunicação. A estrutura
matricial impõe um novo tipo de comportamento dentro da organização, por
meio de uma nova cultura e de uma nova mentalidade.
Observe a Figura 3, que apresenta uma gama de combinações de desenhos
organizacionais.

Figura 3. Continuum de desenhos organizacionais.


Fonte: Chiavenato (2014b, p. 442).

Organização por equipes

Cada vez mais as organizações vêm implementando o trabalho em equipe. Ele


permite a flexibilização das atividades, favorece o desenvolvimento organizacional
e apresenta diversas vantagens. Entre elas, você pode considerar: a redução de
barreiras entre os setores, o aproveitamento dos recursos investidos em treina-
mento, o desenvolvimento de atividades e projetos criativos e a redução de custos.

Estrutura em rede

A estrutura em rede oportuniza a transferência de algumas das funções tradi-


cionais para empresas ou unidades separadas interligadas por um órgão coor-
denador, que constitui o núcleo central. Assim, tais unidades são conectadas
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eletronicamente a um escritório central. A estrutura em rede apresenta como


características a modularidade (áreas ou processos da empresa que constituem
módulos completos e separados) e o sistema celular (combinação de arranjos
de produtos em células autônomas e autossuficientes).
Ao longo deste capítulo, você viu a importância da teoria sistêmica e
também da teoria contingencial. Além disso, pôde ver que a abordagem
contingencial percebe o ambiente e a tecnologia como fundamentais para o
equilíbrio das organizações.

CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. 9. ed. Barueri: Manole, 2014a.


CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 4. ed. Barueri: Manole, 2014b.
LACOMBE, F. Teoria geral da administração. São Paulo: Saraiva, 2009.
MATOS, E.; PIRES, D. Teorias administrativas e organização do trabalho: de Taylor aos
dias atuais, influências no setor saúde e na enfermagem. Texto & Contexto Enfermagem,
v. 15, n. 3, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v15n3/v15n3a17.pdf>.
Acesso em: 1 out. 2018.
OLIVEIRA, D. P. R. Sistemas, organização e métodos: uma abordagem gerencial. 19. ed.
São Paulo: Atlas, 2010.
VASCONCELOS, E.; HEMSLEY, J. R. Estrutura das organizações: estruturas tradicionais,
estruturas para inovação, estrutura matricial. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.

Leitura recomendada
CHIAVENATO, I. Novas abordagens na teoria administrativa. Revista de Administração
de Empresas, v. 19, n. 2, maio/jun. 1979. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901979000200002>. Acesso em: 1 out. 2018.
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