O Contexto Histórico e a Teoria geral dos Sistemas A abordagem sistêmica da sociedade surgiu quando a comunidade científica começou a questionar, na década de 1940, a forma tradicional de interpretar o mundo e suas relações
Em vez da concepção mecanicista de compreensão do mundo, propôs-se um
pensamento sistêmico, ou seja, que o mundo fosse analisado pelas relações e interações das partes que o constituem e não mais a partir de partes isoladas e processos parciais
Um dos pioneiros na formulação de uma teoria sistêmica foi o biólogo
austríaco Ludwig von Bertalanffy
Apesar de ter sido educado sob a influência do positivismo, Bertalanffy dizia
não ter assumido ideias positivistas em seus estudos por considerar tal pensamento de cunho mecanicista e limitado para a análise do fenômeno da vida
Bertalanffy propôs pensar o “mundo como organização”, como um todo
integrado em que “o comportamento do todo é mais complexo do que a soma do comportamento das partes” O Contexto Histórico e a Teoria geral dos Sistemas Bertalanffy sugeriu uma unidade de concepção do mundo marcada pela interdisciplinaridade
O mundo, em sua concepção, não era fragmentado e, para
compreendê-lo em sua complexidade, seria necessária uma visão ampla, totalizante, unificada
Propôs tratar os problemas do homem em sociedade como
típicos de sistemas, o que poderia ser feito por meio da constituição de um novo campo da ciência, por ele chamado de teoria geral dos sistemas, que deveria formular uma unidade de princípios gerais aplicáveis aos “sistemas” em geral
Segundo Bertalanffy poderia se distinguir duas tendências na
ciência dos sistemas: uma “mecanicista” e uma “organicista”
A mecanicista estaria associada à teoria cibernética
desenvolvida por Norbert Wiener, por sua associação com as Ludwig Von Bertalanffy máquinas ou sistemas artificiais simuladores dos sistemas vivos (1901 – 1972) A organicista estaria associada à teoria geral dos sistemas proposta por ele, Bertalanffy, por sua associação com os organismos ou sistemas naturais-biológicos e sociais O Contexto Histórico e a Teoria geral dos Sistemas Os principais pressupostos e propósitos da Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy são:
1. Há uma tendência geral no sentido de integração nas várias ciências,
naturais e sociais
2. Esta integração parece centralizar-se em uma teoria dos sistemas
3. Esta teoria pode ser um importante meio para alcançar uma teoria exata nos campos não físicos da ciência (como as ciências sociais)
4. Desenvolvendo princípios unificadores que atravessam “verticalmente” o
universo das ciências individuais, esta teoria aproxima-se da meta da unidade da ciência.
5. Isto pode conduzir à integração muito necessária da educação científica
O Contexto Histórico e a Teoria geral dos Sistemas As ideias de Bertalanffy sobre sistemas abertos influenciaram cientistas de diversos campos do conhecimento, entre eles os da teoria das organizações
Nessa teoria, a abordagem sistêmica surgiu da necessidade de
aplicar uma teoria mais adequada à realidade organizacional da segunda metade do século XX
As organizações cresciam vertiginosamente e tornavam-se
cada vez mais complexas
Para compreender a aplicação do conceito de sistemas à teoria
organizacional é necessário conhecer a abordagem sociotécnica das organizações do Tavistock Institute e os estudos de Katz e Kahn O Modelo de Tavistock e a abordagem sociotécnica das organizações Um dos principais modelos criados para tentar explicar como as organizações interagem com seu ambiente, fundamentado em uma visão sistêmica, foi o desenvolvido por Erick Trist e Fred Emery, dois pesquisadores do Tavistock Institute of Human Relations Conforme o modelo de Tavistock, todos os sistemas organizacionais são compostos por dois subsistemas que interagem de forma constante: o subsistema técnico e o subsistema social Subsistema técnico – relacionado aos aspectos técnicos presentes na organização, como máquinas, equipamentos e detalhes das tarefas que cada um deve realizar Subsistema social – Diz respeito à interação dos indivíduos e grupos presentes na organização, que são responsáveis pelo funcionamento do subsistema técnico O subsistema social é influenciado por valores, aspirações e normas que provêm do ambiente externo no qual a organização está inserida, enquanto o subsistema técnico importa outros elementos, como os suprimentos, equipamentos, produtos auxiliares, mão de obra, recursos financeiros etc. O subsistema social é ainda responsável por converter a eficiência potencial da organização (técnica) em eficiência real (funcionamento real da organização que leva em consideração a troca que ocorre entre ela e seu ambiente) A Perspectiva Sistêmica de Katz e Kahn Outro modelo que se tornou muito conhecido na área da administração e que tenta explicar as características dos diversos tipos de sistemas abertos – portanto, das organizações – é o de Katz e Kahn
Esse modelo tem as seguintes características:
Importação de energia – todos os sistemas abertos importam algum tipo de energia
de seu ambiente externo Transformação ou processamento – Os sistemas abertos transformam a energia que recebem do ambiente Output – os sistemas abertos exportam para o ambiente externo os produtos e serviços por ele demandados Sistemas como ciclos de eventos – O produto exportado para o ambiente alimenta e é responsável por novas fontes de energia, que, por sua vez, ingressam, no sistema Entropia negativa – para sobreviver, os sistemas abertos necessitam reverter o processo de entropia que os moveria para a desorganização ou morte. Os sistemas deveriam, então, importar mais energia do que gastam para os períodos de crise A Perspectiva Sistêmica de Katz e Kahn Input de informação, feedback negativo e processo de codificação – os inputs que ocorrem no sistema não são compostos apenas por materiais que contem energia. Também podem ser informativos. O processo de codificação permite à organização receber apenas as informações para as quais está adaptada. Depois que os produtos são lançados, a empresa pode disponibilizar central de atendimento para receber feedback de seus clientes Estado firme e homeostase – Ao importarem energia com o objetivo de deter o processo de entropia, os sistemas estão se autorregulando (homeostase) para manterem uma certa constância no processo de troca de energia com o ambiente, ou seja, manterem um estado firme Diferenciação – Os sistemas abertos são compostos por partes que exercem funções diferenciadas entre si, mas que estão inter-relacionadas Equifinalidade – Os sistemas abertos podem chegar a uma mesma situação por diversas maneiras e partindo de diferentes condições iniciais. Essa característica se difere do pensamento da abordagem clássica, que considerava haver apenas uma única forma correta de administrar As Funções Genotípicas das Organizações O objetivo de Katz e Kahn, ao criarem uma tipologia das organizações, foi analisar o que entendem como funções genotípicas, ou seja, “o tipo de atividade em que a organização se acha empenhada como um subsistema do todo maior que é a sociedade”
Segundo os autores, as organizações podem ser divididas em
quatro tipos distintos de classes, que são bastante amplas e podem abrigar outros subtipos, são elas:
Organizações produtivas – produzem produtos ou serviços para o
público em geral ou para segmentos específicos
Organizações de manutenção – responsáveis pela integração da
sociedade, ou seja, pela manutenção ou restabelecimento da ordem (exemplos: escolas, igrejas e hospitais psiquiátricos) As Funções Genotípicas das Organizações Organizações ou estruturas adaptativas – criam conhecimento, desenvolvem e testam teorias e, até certo ponto, aplicam as informações disponíveis aos problemas existentes (exemplo: universidades, e organizações de pesquisa)
Organizações ou função gerencial – relacionadas à coordenação e
ao controle dos recursos, pessoas e subsistemas, o principal exemplo é o Estado, uma vez que este é responsável pela “principal estrutura de autoridade da sociedade” Críticas à Abordagem Sistêmica Por seu “biologismo”, a análise das organizações por meio de instrumentos importados da biologia e adaptados à natureza social das organizações, pode ser responsável por uma “ilusão científica” – se passa a acreditar que o objeto da sua análise tende a se tornar tão previsível quanto os sistemas biológicos e que seu campo do conhecimento se presta ao rigor científico que caracteriza as ciências físicas
Tratar-se-ia, portanto, de um novo funcionalismo, que olha para os
sistemas sociais com a visão enviesada das leis e regras dos sistemas naturais
Implica admitir um status de naturalidade às organizações sociais e a
opção política de eliminar as disfunções potenciais para garantir a conservação da ordem geral Críticas à Abordagem Sistêmica Ao considerar a existência de uma realidade independente do observador, e externa a ele (objetivismo), a abordagem sistêmica deixa de cumprir sua proposta ou pretensão de ser um novo paradigma científico, como propunham seus principais formuladores
Por se tratar de um conceito originário das ciências naturais,
notadamente da biologia, aplicado às ciências sociais, a rede de metáforas sistêmico-organísmica torna-se limitada para a compreensão da realidade organizacional
A ênfase atribuída às relações entre organização e ambiente, e a
importância excessiva ao papel desempenhado por esse último, negligencia o papel dinâmico das contradições internas das organizações Referência VIEIRA, Marcelo Milano Falcão et al. Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. Capítulo 4.