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Introdução à Administração

Principais Correntes da Administração


Abordagem Sistêmica das
Organizações

Prof. Leandro Moura


O Contexto Histórico e a
Teoria geral dos Sistemas
 A abordagem sistêmica da sociedade surgiu quando a comunidade científica
começou a questionar, na década de 1940, a forma tradicional de interpretar o
mundo e suas relações

 Em vez da concepção mecanicista de compreensão do mundo, propôs-se um


pensamento sistêmico, ou seja, que o mundo fosse analisado pelas relações e
interações das partes que o constituem e não mais a partir de partes isoladas
e processos parciais

 Um dos pioneiros na formulação de uma teoria sistêmica foi o biólogo


austríaco Ludwig von Bertalanffy

 Apesar de ter sido educado sob a influência do positivismo, Bertalanffy dizia


não ter assumido ideias positivistas em seus estudos por considerar tal
pensamento de cunho mecanicista e limitado para a análise do fenômeno da
vida

 Bertalanffy propôs pensar o “mundo como organização”, como um todo


integrado em que “o comportamento do todo é mais complexo do que a soma
do comportamento das partes”
O Contexto Histórico e a
Teoria geral dos Sistemas
 Bertalanffy sugeriu uma unidade de concepção do mundo
marcada pela interdisciplinaridade

 O mundo, em sua concepção, não era fragmentado e, para


compreendê-lo em sua complexidade, seria necessária uma
visão ampla, totalizante, unificada

 Propôs tratar os problemas do homem em sociedade como


típicos de sistemas, o que poderia ser feito por meio da
constituição de um novo campo da ciência, por ele chamado de
teoria geral dos sistemas, que deveria formular uma unidade
de princípios gerais aplicáveis aos “sistemas” em geral

 Segundo Bertalanffy poderia se distinguir duas tendências na


ciência dos sistemas: uma “mecanicista” e uma “organicista”

 A mecanicista estaria associada à teoria cibernética


desenvolvida por Norbert Wiener, por sua associação com as Ludwig Von Bertalanffy
máquinas ou sistemas artificiais simuladores dos sistemas vivos
(1901 – 1972)
 A organicista estaria associada à teoria geral dos sistemas
proposta por ele, Bertalanffy, por sua associação com os
organismos ou sistemas naturais-biológicos e sociais
O Contexto Histórico e a
Teoria geral dos Sistemas
 Os principais pressupostos e propósitos da Teoria Geral dos
Sistemas de Bertalanffy são:

 1. Há uma tendência geral no sentido de integração nas várias ciências,


naturais e sociais

 2. Esta integração parece centralizar-se em uma teoria dos sistemas

 3. Esta teoria pode ser um importante meio para alcançar uma teoria
exata nos campos não físicos da ciência (como as ciências sociais)

 4. Desenvolvendo princípios unificadores que atravessam “verticalmente” o


universo das ciências individuais, esta teoria aproxima-se da meta da
unidade da ciência.

 5. Isto pode conduzir à integração muito necessária da educação científica


O Contexto Histórico e a
Teoria geral dos Sistemas
 As ideias de Bertalanffy sobre sistemas abertos influenciaram
cientistas de diversos campos do conhecimento, entre eles os
da teoria das organizações

 Nessa teoria, a abordagem sistêmica surgiu da necessidade de


aplicar uma teoria mais adequada à realidade organizacional
da segunda metade do século XX

 As organizações cresciam vertiginosamente e tornavam-se


cada vez mais complexas

 Para compreender a aplicação do conceito de sistemas à teoria


organizacional é necessário conhecer a abordagem
sociotécnica das organizações do Tavistock Institute e os
estudos de Katz e Kahn
O Modelo de Tavistock e a abordagem
sociotécnica das organizações
 Um dos principais modelos criados para tentar explicar como as organizações
interagem com seu ambiente, fundamentado em uma visão sistêmica, foi o
desenvolvido por Erick Trist e Fred Emery, dois pesquisadores do Tavistock
Institute of Human Relations
 Conforme o modelo de Tavistock, todos os sistemas organizacionais são
compostos por dois subsistemas que interagem de forma constante: o
subsistema técnico e o subsistema social
 Subsistema técnico – relacionado aos aspectos técnicos presentes na organização,
como máquinas, equipamentos e detalhes das tarefas que cada um deve realizar
 Subsistema social – Diz respeito à interação dos indivíduos e grupos presentes na
organização, que são responsáveis pelo funcionamento do subsistema técnico
 O subsistema social é influenciado por valores, aspirações e normas que
provêm do ambiente externo no qual a organização está inserida, enquanto o
subsistema técnico importa outros elementos, como os suprimentos,
equipamentos, produtos auxiliares, mão de obra, recursos financeiros etc.
 O subsistema social é ainda responsável por converter a eficiência potencial da
organização (técnica) em eficiência real (funcionamento real da organização
que leva em consideração a troca que ocorre entre ela e seu ambiente)
A Perspectiva Sistêmica de
Katz e Kahn
 Outro modelo que se tornou muito conhecido na área da administração e que tenta
explicar as características dos diversos tipos de sistemas abertos – portanto, das
organizações – é o de Katz e Kahn

 Esse modelo tem as seguintes características:

 Importação de energia – todos os sistemas abertos importam algum tipo de energia


de seu ambiente externo
 Transformação ou processamento – Os sistemas abertos transformam a energia que
recebem do ambiente
 Output – os sistemas abertos exportam para o ambiente externo os produtos e
serviços por ele demandados
 Sistemas como ciclos de eventos – O produto exportado para o ambiente alimenta e
é responsável por novas fontes de energia, que, por sua vez, ingressam, no sistema
 Entropia negativa – para sobreviver, os sistemas abertos necessitam reverter o
processo de entropia que os moveria para a desorganização ou morte. Os sistemas
deveriam, então, importar mais energia do que gastam para os períodos de crise
A Perspectiva Sistêmica de
Katz e Kahn
 Input de informação, feedback negativo e processo de codificação – os inputs que
ocorrem no sistema não são compostos apenas por materiais que contem energia.
Também podem ser informativos. O processo de codificação permite à organização
receber apenas as informações para as quais está adaptada. Depois que os
produtos são lançados, a empresa pode disponibilizar central de atendimento para
receber feedback de seus clientes
 Estado firme e homeostase – Ao importarem energia com o objetivo de deter o
processo de entropia, os sistemas estão se autorregulando (homeostase) para
manterem uma certa constância no processo de troca de energia com o ambiente,
ou seja, manterem um estado firme
 Diferenciação – Os sistemas abertos são compostos por partes que exercem
funções diferenciadas entre si, mas que estão inter-relacionadas
 Equifinalidade – Os sistemas abertos podem chegar a uma mesma situação por
diversas maneiras e partindo de diferentes condições iniciais. Essa característica se
difere do pensamento da abordagem clássica, que considerava haver apenas uma
única forma correta de administrar
As Funções Genotípicas das
Organizações
 O objetivo de Katz e Kahn, ao criarem uma tipologia das
organizações, foi analisar o que entendem como funções
genotípicas, ou seja, “o tipo de atividade em que a organização se
acha empenhada como um subsistema do todo maior que é a
sociedade”

 Segundo os autores, as organizações podem ser divididas em


quatro tipos distintos de classes, que são bastante amplas e
podem abrigar outros subtipos, são elas:

 Organizações produtivas – produzem produtos ou serviços para o


público em geral ou para segmentos específicos

 Organizações de manutenção – responsáveis pela integração da


sociedade, ou seja, pela manutenção ou restabelecimento da
ordem (exemplos: escolas, igrejas e hospitais psiquiátricos)
As Funções Genotípicas das
Organizações
 Organizações ou estruturas adaptativas – criam conhecimento,
desenvolvem e testam teorias e, até certo ponto, aplicam as
informações disponíveis aos problemas existentes (exemplo:
universidades, e organizações de pesquisa)

 Organizações ou função gerencial – relacionadas à coordenação e


ao controle dos recursos, pessoas e subsistemas, o principal
exemplo é o Estado, uma vez que este é responsável pela
“principal estrutura de autoridade da sociedade”
Críticas à Abordagem Sistêmica
 Por seu “biologismo”, a análise das organizações por meio de
instrumentos importados da biologia e adaptados à natureza social
das organizações, pode ser responsável por uma “ilusão científica” –
se passa a acreditar que o objeto da sua análise tende a se tornar
tão previsível quanto os sistemas biológicos e que seu campo do
conhecimento se presta ao rigor científico que caracteriza as ciências
físicas

 Tratar-se-ia, portanto, de um novo funcionalismo, que olha para os


sistemas sociais com a visão enviesada das leis e regras dos sistemas
naturais

 Implica admitir um status de naturalidade às organizações sociais e a


opção política de eliminar as disfunções potenciais para garantir a
conservação da ordem geral
Críticas à Abordagem Sistêmica
 Ao considerar a existência de uma realidade independente do
observador, e externa a ele (objetivismo), a abordagem sistêmica
deixa de cumprir sua proposta ou pretensão de ser um novo
paradigma científico, como propunham seus principais formuladores

 Por se tratar de um conceito originário das ciências naturais,


notadamente da biologia, aplicado às ciências sociais, a rede de
metáforas sistêmico-organísmica torna-se limitada para a
compreensão da realidade organizacional

 A ênfase atribuída às relações entre organização e ambiente, e a


importância excessiva ao papel desempenhado por esse último,
negligencia o papel dinâmico das contradições internas das
organizações
Referência
 VIEIRA, Marcelo Milano Falcão et al. Teoria Geral da Administração.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. Capítulo 4.

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