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T255 Técnico em administração [recurso eletrônico] : gestão e
negócios / Cláudio V. S. Farias, organizador. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2013.

Editado também como livro impresso em 2013.


ISBN 978-85-65837-71-2

1. Administração. I. Farias, Cláudio.

CDU 658(075.3)

Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen - CRB 10/2150


Organizações vistas como sistemas
abertos e teoria da contingência
O cientista Von Bertalanffy (1950), com sua publicação The theory of open systems
in physics and biology, influenciou diversos ramos do conhecimento divulgando o
conceito de sistemas abertos, que entendeu como um complexo de elementos
em interação e em intercâmbio contínuo com o ambiente. Os pressupostos bási-
cos da teoria geral dos sistemas afirmam que:

• Há uma tendência para a integração nas várias ciências naturais e sociais.

• Tal integração parece orientar-se para uma teoria dos sistemas.

• Essa teoria pode ser um meio importante de objetivar os campos não do conhe-
cimento científico, especialmente nas ciências sociais.

• Desenvolvendo princípios unificadores que atravessam verticalmente os uni-


versos particulares das diversas ciências, essa teoria aproxima-nos do objetivo da
unidade da ciência.

• Isso pode levar a uma integração muito necessária na educação científica.

C
Cabe abordar alguns conceitos importantes sobre a teoria geral dos sistemas,
DEFINIÇÃO
ccomo o conceito de sistema (ao lado), sinergia e entropia.
Sistema é um conjunto de
elementos dinamicamente SSinergia é quando duas ou mais partes do sistema produzem, atuando em con-
relacionados, formando uma jjunto, um efeito maior do que a soma dos efeitos que produziriam atuando indi-
atividade para atingir um vvidualmente.
objetivo, que opera sobre
dados/energia/matéria para EEntropia ocorre quando partes do sistema perdem sua integração e comunicação
fornecer informação/energia/ eentre si, fazendo com que o sistema se decomponha, perca energia e informação,
matéria. d
degenerando-se.

A teoria geral dos sistemas passou a influenciar outras ciências, tornando-se uma
fforma explicativa e uma referência para diferentes ciências, entre elas, a adminis-
tração, para a qual possibilitou uma ampliação na visão dos problemas organiza-
cionais, até então percebidos como fechados.

A concepção de homem funcional, com o desempenho de vários papéis e seus


conflitos somados aos da organização (mistos), compõe o quadro organizacional
dessa abordagem, que necessita de melhor sistematização e possui pouca aplica-
ção prática. Existe uma relação entre todos os elementos constituintes da socieda-
de. Os fatores essenciais dos problemas públicos, das questões e dos programas a
serem adotados devem sempre ser considerados e avaliados como componentes
interdependentes (Figura 1.2).

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Ambiente
Recursos a
serem
transformados

Processo de Bens e
Entradas Saídas
transformação Serviços

Recursos de
transformação

Figura 1.2 A empresa em uma perspectiva sistêmica.

A teoria geral dos sistemas considera que as organizações são sistemas que transfor-
mam insumos (recursos) em produtos e/ou serviços e que as partes do sistema ou
departamentos se inter-relacionam, sofrendo intervenções e intervindo no ambien-
te externo da organização.

Talcott Parsons (1964, 1969, 1971) entende que as organizações são a consequên-
cia da divisão do trabalho na sociedade, com atributos da burocracia weberiana,
como uma descrição de funções e papéis, já que “a sociedade está constituída por
subsistemas (estruturas) que operam (funcionam) de modo interdependente,
cada parte do sistema desempenha um papel que busca o equilíbrio e a ordem
social”. Seu modelo explicativo contempla quatro funções de um sistema social
(Quadro 1.5).

Quadro 1.5 Funções de um sistema social segundo Parsons

Latência A forma como o sistema se sustenta e se reproduz


continuamente e como transmite os valores e padrões Fundamentos de administração
culturais que o embasam.

Integração A função que assegura coerência e coordenação entre


indivíduos e grupos que compõem o sistema e entre suas
partes diferenciadas.

Gerar e A função que garante o estabelecimento de metas e


atingir objetivos e a implementação de meios visando atingi-los.
objetivos

Adaptação Quando a organização ou o sistema social buscam


capítulo 1

recursos para a sua sobrevivência.

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TTeoria sociotécnica
Motta e Vasconcelos (2006) afirmam que, quando a tecnologia interage com
NO SITE
indivíduos, não é possível maximizar a eficiência nem da tecnologia nem do
Mais detalhes sobre a organização
sistema social. A teoria sociotécnica foca a integração de pessoas e tecnolo-
do trabalho você encontra no
gias e mostra que é o ser humano que atribui sentido à ferramenta, de acordo
ambiente virtual de aprendizagem.
com os seus padrões cognitivos, seus objetivos pessoais e seus elementos de
identidade social. Os principais teóricos dessa teoria são os psicólogos Eric Trist
e Fred Emery.

Segundo essa abordagem sociotécnica, a organização divide-se em dois subsis-


temas: o técnico e o social. O técnico corresponde às demandas da tarefa, à im-
plantação física e ao equipamento existente, sendo responsável pela eficiência
potencial da organização. O social refere-se às relações sociais daqueles encar-
regados pela execução da tarefa e que transformam a eficiência potencial em
eficiência real.

Conheça os fundamentos da escola sociotécnica, a seguir:

• A organização é um sistema aberto. Ela interage com o ambiente, é capaz de au-


torregulação e pode alcançar um mesmo objetivo a partir de diferentes caminhos
e usando diferentes recursos.

• A organização é formada por dois subsistemas: o técnico e o social.

• A escola sociotécnica considera que o comportamento das pessoas, face ao tra-


balho, depende da forma de organização desse trabalho e do conteúdo das tarefas
a serem executadas.

• Os subsistemas social e técnico devem ser considerados, particularmente, e oti-


mizados de forma conjunta para que os objetivos organizacionais sejam atingidos,
ao mesmo tempo em que alcançamos o desenvolvimento e a integração dos in-
divíduos.
Técnico em administração: gestão e negócios

Teoria da contingência
Chiavenato (2011) afirma que não existe uma única maneira melhor de organizar
uma empresa, assim, as organizações precisam ser sistematicamente ajustadas às
condições ambientais. A teoria da contingência considera que, para cada situa-
ção, existe uma teoria ou combinação de teorias administrativas. Não existe um
modelo administrativo ideal ou único que sirva para todas as organizações, in-
dependentemente de sua natureza. Mas, dependendo do objetivo ou problema,
deve-se estudar qual o melhor modelo para gerir a organização. Essa teoria mostra
que não há one best way, mas um leque de opções.

Segundo Motta e Vasconcelos (2006), a teoria demonstra o princípio da equifi-


nalidade dos sistemas: existe mais de uma maneira de atingir os objetivos pro-

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postos. Para Chiavenato (2011), a teoria da contingência apresenta os seguintes
aspectos básicos:

• a organização é um sistema aberto;

• as características organizacionais apresentam uma interação entre si e com o


ambiente;

• as características ambientais funcionam como variáveis independentes, en-


quanto as características organizacionais são variáveis dependentes.

Assim, os autores da escola contingencial apresentam duas variáveis principais


que determinam toda a organização da empresa e os relacionamentos entre suas
partes: o ambiente e a tecnologia. Ambiente é o que envolve externamente uma
organização (ou um sistema). É o contexto dentro do qual uma organização está
inserida e, como a organização é um sistema aberto, ela mantém transações e in-
tercâmbio com seu ambiente. Isso faz com que tudo o que ocorre externamente
no ambiente passe a influenciar o que ocorre internamente na organização.

Como o ambiente é vasto e complexo, envolvendo tudo ao redor da organização,


ele pode ser analisado em dois extratos: ambiente geral e ambiente de tarefa.
O ambiente geral é o macroambiente, comum a todas as organizações. É cons-
tituído de um conjunto de condições que podem ser semelhantes para todas as
organizações:

• tecnológicas;

• econômicas;

• políticas;

• legais;

• demográficas; Fundamentos de administração

• ecológicas;

• culturais.

Já o ambiente de tarefa é o ambiente mais próximo e imediato de cada organiza-


ção. Consiste em um segmento do ambiente geral, do qual a organização extrai as
suas entradas e deposita suas saídas. É formado por:

• fornecedores de entradas;

• clientes ou usuários;
capítulo 1

• concorrentes;

• entidades reguladoras.

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É importante destacar que as teorias aqui apresentadas analisaram as organiza-
ções sob pontos de vista diferentes, assim, formam conceitos que se sobrepõem.
Não necessariamente negam umas às outras, mas utilizam-se de lentes diferentes
para analisar aspectos diferentes das organizações.

Todavia, elas têm em comum alguns pressupostos vinculados com a atualidade des-
sas organizações e que marcam o momento histórico cultural, como, por exemplo,
a orientação para o resultado e as relações de poder hierarquizadas entre quem de-
tém os meios de produção, ou são seus representantes, e quem detém a força de
trabalho.

Essas abordagens pouco questionam como a sociedade evoluiu até o estágio atual,
partindo do princípio de que o mundo está posto e que as organizações são a forma
hegemônica de produção hoje.

Retomando o caso inicial


em uma perspectiva
crítica
A seguir, serão abordados aspectos centrais presentes nessas teorias, para os quais
deve-se atentar, em especial, aqueles expostos anteriormente, buscando uma re-
Técnico em administração: gestão e negócios

flexão crítica sobre os fundamentos da administração.

O pensamento administrativo atual é fruto de uma conjunção de fatores sociais,


econômicos, políticos, produtivos, científicos e tecnológicos. É, portanto, dotado de
um conjunto ideológico, de uma visão do homem, do estado e do mundo, orienta-
do por interesses pessoais, sociais e coorporativos, por meio de uma perspectiva de
compreensão das organizações e da própria administração.

Assim, concordamos com Tragtenberg (1992) quando afirma que as bases do


pensamento administrativo surgiram a partir da burocracia e das mudanças
sociais por ela proporcionadas. Logo, estão imbricadas com a racionalidade
instrumental legal, já que representam o modo de pensar escolhido pelos
capitalistas. Assim, os fundamentos de administração e a Teoria Geral da Ad-

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ministração são ideológicos, visto que seu aparato técnico-científico autoriza
certos tipos de relações de poder e de dominação, que atribuem força a um
grupo específico.

Para tanto, a administração será situada a partir das proposições de Motta e Vascon-
celos (2006), o que, por consequência, resgata as pesquisas e os conceitos de Max
Weber (2004), apresentados no livro Economia e sociedade, sobre o processo de mo-
dernização da sociedade e sua relação com a emergência do pensamento administra-
tivo e da administração como campo de conhecimento. Além disso, será abordada a
forma como esse pensamento está vinculado com a sociedade capitalista, logo, com
a subordinação do trabalho ao capital e com as formas de reprodução do capital pelo
trabalho.

Segundo Motta e Vasconcelos (2006), ao contrário do que é afirmado por outros


autores, a preocupação de Weber não era propor a burocracia como teoria admi-
nistrativa. Pelo contrário, buscava, a partir de uma perspectiva fenomenológica,
compreender a emergência da burocracia em um processo amplo de evolução da
sociedade, na transição entre o feudalismo e o capitalismo.

Weber (2004) classificou a burocracia como o corpo administrativo das organiza-


ções racionais legais na busca pela colaboração entre um grande número de indi-
víduos com funções especializadas de maneira estável e duradoura. Portanto, não
restrito ao sistema econômico, mas um modelo de sociedade: a sociedade moder-
na, baseada na razão instrumental, ou, como Weber preferiu chamar, dominação
racional instrumental legal.

Fundamentos de administração
capítulo 1

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