Você está na página 1de 12

Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.

html

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª REGIÃO

PROCESSO nº 0000631-77.2020.5.05.0001 (ROT)


RECORRENTES: EDNALDO FERREIRA DOS SANTOS, EXPRESSO METROPOLITANO
TRANSPORTES LTDA
RECORRIDOS: EDNALDO FERREIRA DOS SANTOS, PLATAFORMA TRANSPORTES SPE
S/A, EXPRESSO METROPOLITANO TRANSPORTES LTDA, REALSI SERVIÇOS E
TRANSPORTES LITORAL NORTE LTDA
RELATOR: RENATO MÁRIO BORGES SIMÕES

DANO MORAL. REQUISITOS DA REPARAÇÃO CIVIL. A


reparação civil por danos morais, na forma do art. 186 do Código
Civil, reclama prova do abalo psíquico sofrido pelo paciente
(quando não presumível); o ato culposo ou doloso (comissivo ou
omissivo) do agente; e o nexo causal que os una.

EXPRESSO METROPOLITANO TRANSPORTES LTDA e


EDNALDO FERREIRA DOS SANTOS, nos autos do processo em que litigam entre si,
interpõem Recurso Ordinário contra a sentença que julgou procedente, em parte, a
Reclamação Trabalhista. Os apelos são tempestivos e atendem aos pressupostos de
admissibilidade. Contrarrazões apresentadas. Parecer do MPT no D. 9d963e7. É o relatório.

Em razão do entrelaçamento de matéria recorrida, os Recursos


Ordinários serão apreciados conjuntamente.

PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO - DIALETICIDADE

A Reclamada suscita a preliminar de não conhecimento do Recurso


Ordinário do Reclamante, por ofensa ao Princípio da Dialeticidade. Afirma que o Autor não
trouxe, no recurso, argumentos fáticos e jurídicos que embasassem a sua pretensão recursal,
sendo uma "mera repetição dos termos da inicial" e, portanto, insuficiente ao conhecimento do
apelo.

Sem razão.

Decerto, a apresentação de recurso genérico não pode ser


admitida no processo trabalho porque, além de impedir o exercício do contraditório e da ampla
defesa, impede o reexame da matéria pelo Órgão ad quem. Deste modo, deve a parte
Recorrente apresentar impugnação específica aos termos da sentença, dizendo exatamente o
que pretende na instância recursal. Tal é o posicionamento adotado pela jurisprudência
sedimentada através da Súmula 422/TST.

SUM-422 - RECURSO. APELO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA

1 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

DECISÃO RECORRIDA. NÃO CONHECIMENTO. ART. 514, II, do CPC - Não se


conhece de recurso para o TST, pela ausência do requisito de admissibilidade
inscrito no art. 514, II, do CPC, quando as razões do recorrente não impugnam
os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que fora proposta. (ex-OJ
nº 90 da SBDI-2 - inserida em 27.05.2002).

Na hipótese dos autos, diversamente do quanto sustenta a


Recorrida, o recurso apresenta-se claro e bem fundamentado, tendo a Recorrente especificado
as razões do seu inconformismo. Observa-se que, além de insurgir-se contra a fundamentação
adotada na sentença, o Reclamante faz uma análise da defesa e do conjunto probatório.
Mostra-se, portanto, descabida a afirmação da Reclamada de que houve repetição da inicial.

Inaplicável a Súmula 422/TST, rejeita-se a preliminar.

PRESCRIÇÃO

O reclamante pugna pela reforma da sentença "para declarar


prescritos tão somente os pleitos cuja obrigação de pagar ou fazer tenha se vencido antes de
21/05/2015 (5 anos + 140 dias da data da propositura da ação ocorrida em 18/12/2020), em
consonância com o quanto disposto no artigo 3º, da Lei nº 14.010/2020".

Razão lhe assiste.

De fato, o artigo 3º da Lei nº 14.010/20 (o qual dispôs sobre o


Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado no período
da pandemia do coronavírus - Covid-19) previu a suspensão dos prazos prescricionais a partir
da entrada em vigor (12/06/2020) do referido diploma "até 30 de outubro de 2020".

Ante o exposto, dou provimento para declarar prescritos tão


somente os pleitos cuja obrigação de pagar ou fazer tenha se vencido antes de 31/07/2015.

DOENÇA OCUPACIONAL - DANOS MORAIS - MAJORAÇÃO

Reclamante e Reclamada se insurgem contra a sentença de


primeira instância, no capítulo relacionado à doença ocupacional.

A Reclamada afirma que a Autora não possui doença de cunho


ocupacional, não havendo, ainda, qualquer incapacidade para o trabalho.

Já a Reclamante, pugna pela majoração da indenização.

Ao exame.

2 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

Para que o Reclamante faça jus à indenização por danos morais e


materiais em face de acidente de trabalho/doença ocupacional, se faz necessário o
preenchimento dos pressupostos legais da obrigação reparatória, quais sejam, o dano, o nexo
causal e a conduta empresária ilícita (art. 186 do CC c/c o inc. XXVIII do art. 7º da CF).

Na hipótese dos autos, o laudo pericial (fls.313/324) produzido


constatou que "O periciado teve lombalgia conforme atestado médico com data de 05.08.20 e
relatório médico com data de 18.09.20. Considerando o tempo de exposição ao risco
ocupacional e a literatura médica, o trabalho contribuiu para a lombalgia; O periciado tem
restrição temporária para o trabalho como motorista de ônibus".

Com efeito, em que pese a conclusão do laudo pericial no sentido


de que algumas das patologias que acometem a Autora não possuem origem ocupacional, mas
sim degenerativa, o expert foi expresso ao afirmar que o reclamante tem restrição temporária
ao labor, tendo o trabalho contribuído para sua enfermidade.

Com efeito, comprovados no caso concreto, nos termos da


fundamentação supra, o dano, bem como o nexo de concausalidade, da análise do conjunto
probatório dos autos, a conduta culposa da empregadora vem materializada na negligência em
não adotar os procedimentos necessários a garantir o direito do trabalhador de laborar em um
ambiente de trabalho hígido.

Por seu turno, a sentença deve ser mantida no tocante ao


reconhecimento da estabilidade do reclamante e deferimento do pedido de restabelecimento do
vínculo de emprego, com reativação do plano de saúde, expedição da Comunicação de
Acidente de Trabalho e retificações na Carteira Profissional.

No que tange aos danos morais, considerando a capacidade do


agente agressor, a dimensão do dano, a concausalidade, a situação social e econômica do
ofendido e o caráter punitivo e pedagógico da obrigação reparatória, entendo coerente o valor
arbitrado na origem.

Sem reformas.

DANOS MORAIS ASSALTOS

Tenciona o Reclamante o pagamento de indenização por dano


moral decorrente de assaltos sofridos no seu meio ambiente laboral

Ao exame.

3 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

O reclamante trouxe aos autos elementos para sustentar a sua tese


de que sofreu assaltos, no desempenho de suas atividades (s (fls. 40-49 do PDF) conforme (ID.
a5934ed; ID. cf08ce5; ID. 2efc4d1; ID. bbdb853; ID. 79e3775).

Consoante os elementos dos autos, se extrai que a atividade


desempenhada pelo reclamante (em transporte coletivo) era de risco acentuado, face a indene
e notória constatação dos assaltos ocorridos nesse seguimento econômico. Por conta disso, os
Tribunais vêm firmando posicionamento acerca da responsabilidade objetiva dos
empregadores, em razão dos assaltos sofridos por seus empregados.

Neste Regional, podemos citar as ementas das Turmas:

MOTORISTA E COBRADOR DE ÔNIBUS. ASSALTO. RESPONSABILIDADE


OBJETIVA DO EMPREGADOR. DANO MORAL. A jurisprudência dos Tribunais
vem se posicionando no sentido de reconhecer que a atividade exercida por
estes profissionais é de risco, de modo que o dano moral prescindindo de prova,
e a responsabilidade civil do empregador é objetiva na forma do art. 927,
parágrafo único, do Código Civil, que consagra a adoção da Teoria do Risco pela
legislação civil pátria. Processo 0000579-41.2018.5.05.0037, Origem PJE,
Relator(a) Juiz(a) Convocado(a) RUBEM DIAS DO NASCIMENTO JUNIOR,
Quinta Turma, DJ 18/03/2021

DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ATIVIDADE DE RISCO. RESPONSABILIDADE


OBJETIVA. Confirma-se a responsabilidade objetiva do empregador, em virtude
do que estabelece o parágrafo único do art. 927 do Código Civil, presentes dano
e nexo causal a autorizar a reparação pretendida pelo ex-empregado. No
presente caso, o reclamante laborava na atividade de Motorista, trabalhador que,
obrigatoriamente, trabalha nas ruas, atividade que implicava naturalmente em
maior exposição e risco potencial à sua integridade física e psíquica, além
daquela inerente aos demais membros da coletividade, diante das circunstâncias
do trabalho em si executado, tendo sido vítima de assalto no exercício da função.
Processo 0000708-57.2018.5.05.0001, Origem PJE, Relator(a)
Desembargador(a) MARGARETH RODRIGUES COSTA, Quarta Turma, DJ
01/03/2021

MOTORISTAS E COBRADORES DE ÔNIBUS. ASSALTO.


RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. As
atividades desenvolvidas por motoristas e cobradores de ônibus são
consideradas de risco e permitem a imputação objetiva de reparar os danos
sofridos pelo empregado em caso de assalto. Processo
0000674-17.2019.5.05.0561, Origem PJE, Relator(a) Desembargador(a)
SUZANA MARIA INACIO GOMES, Primeira Turma, DJ 15/10/2020

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSALTO. EMPRESA DE ÔNIBUS.


RESPONSABILIDADE OBJETIVA. A profissão de motorista de ônibus, da qual
se beneficiava a empresa empregadora, submetia o trabalhador a risco maior a
assaltos a que estão expostos os demais membros da coletividade e daí é
devida ao empregado a indenização por dano moral, ocasionado por assalto de
que foi vítima o obreiro no exercício de suas funções, independentemente da
culpa (responsabilidade subjetiva) da empresa na produção do evento danoso.
Processo0000643-32.2010.5.05.0037 RecOrd, Origem LEGADO, Relatora Juíza
Convocada HELIANA NEVES DA ROCHA, 3ª. TURMA, DJ 27/08/2013

Sob o viés da responsabilidade objetiva, não se requer a existência


de culpa, bastando tão somente a verificação do fato (ocorrido demonstradamente no caso
autos) e o nexo de causalidade.

4 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

Não fosse isso, expondo seu empregado a perigo real de assalto,


resta indene o dano moral também sob o viés da culpa, posto que seja ilegal a conduta da
empresa. O ato de o empregador obrigar o empregado a trabalhar em ambiente inseguro sem
as medidas devidas de redução dos riscos, presumidamente, causa constrangimento e ofensa
ao trabalhador, resultando em angústia, temor e desgaste emocional, pois este não pode
resistir ao abuso e tem que conviver com um risco anormal e desnecessário. Também não há
necessidade de que seja ultrapassada a barreira do risco, com o acontecimento de roubos,
furtos, lesão corporal ou ameaça direta. Diante da simples exposição ao risco, fica nitidamente
evidenciado o sofrimento moral e emocional do obreiro, com violação à dignidade do
trabalhador e caracterização de estresse no ambiente de trabalho, face à conduta irresponsável
e ilícita do empregador.

Com efeito, uma vez reconhecido o dano moral, a indenização


arbitrada a esse título deve considerar o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade, a
situação fática ocorrida no presente feito e as condições pessoais e profissionais do ofendido,
sem caracterizar o enriquecimento sem causa de um lado e servindo, também, como medida
reparatória, sem afastar o caráter punitivo e pedagógico da medida pelo outro lado. Com fulcro
nesses parâmetros, reputo como adequada a fixação de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ao valor
da indenização por danos morais a ser quitado pelas reclamadas.

Sentença reformada para deferir o pagamento de R$ 10.000,00


(dez mil reais) a título de danos morais, observada a Súmula 439 do TST.

NORMAS COLETIVAS - JORNADA DE TRABALHO - INTERVALO INTRAJORNADA

Insurge-se a Reclamada contra a sentença no que toca à aplicação


das normas coletivas juntadas com a petição inicial. Alega que "as normas coletivas
colacionadas pelo Autor, embora seja da territorialidade correta, não condiz com as atividades
desenvolvidas pelo Reclamante, já que o mesmo não realizava atividade de fretamento ou
turismo".

Sem razão.

A sentença aplicou com correção o direito ao caso concreto.

O enquadramento sindical se faz com base na atividade econômica


preponderante do empregador. A atividade preponderante das reclamadas é o transporte de
passageiros de Salvador, sendo, portanto, representadas pelo SETPS - SINDICATO DAS
EMPRESAS DE TRANSPORTES DE PASSAGEIROS DE SALVADOR.

5 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

Quanto à jornada, também sem razão o Recorrente quando


defende que a sentença não poderia ter reconhecido que a jornada convencional seria de 07
(sete) diárias e de 42 (quarenta e duas) horas semanais a partir de 30/04/2017, por conta das
normas coletivas que entende aplicáveis.

Como se observa nos cartões de ponto (ID. e07e8fc) a própria


reclamada estabelecia o limite da jornada de 07:00 horas.

No que tange ao intervalo intrajornada, tal como assinalou o Juízo


de base, "a norma coletiva que possibilita o fracionamento do intervalo intrajornada dos
empregados que trabalham como motorista e cobradores de transporte coletivo de passageiro
não se aplica nas situações em que há prestação de horas extras".

A sentença, no particular, está em sintonia com os posicionamentos


do TRT5 acerca do tema, conforme se infere da ementa que segue:

"INTERVALO INTRAJORNADA. MOTORISTAS E COBRADORES DE


VEÍCULOS RODOVIÁRIOS. FRACIONAMENTO E REDUÇÃO POR MEIO DE
NEGOCIAÇÃO COLETIVA. POSSIBILIDADE. LEI 13.103/2015. LABOR
HABITUAL EM SOBREJORNADA. Com a alteração legislativa promovida pela
Lei 13.103/2015 subsiste a possibilidade de fracionamento e redução do intervalo
intrajornada dos motoristas e cobradores de transportes coletivos, quando
estabelecidos por instrumento normativo da categoria, tendo em vista a natureza
do serviço e as condições especiais de trabalho a que são submetidos. Contudo,
o sobrelabor habitual, bem como a inobservância do tempo mínimo de descanso
pactuado invalida o fracionamento e redução do intervalo intrajornada, sendo
devido o respectivo pagamento. [...]. (TRT5, 0000274-17.2019.5.05.0039, Rel.
Des. Ana Paola Santos Machado Diniz, Segunda Turma, DJ 26/01/2022).

Nada a reparar.

RESPONSABILIDADE DAS RECLAMADAS - GRUPO ECONÔMICO

O Autor investe contra a sentença preventa, alegando que o


Magistrado de piso deveria ter reconhecido o grupo econômico, já que, supostamente, a
documentação presente nos autos comprovaria a existência de participação societária.

Ao exame.

A formação de grupo econômico pressupõe "a direção, controle ou


administração" de uma empresa por outra e ainda o "interesse integrado, a efetiva comunhão
de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrante" - art. 2º da CLT.

No caso em análise, corroboro com o entendimento esposado pelo


Juízo de base, no sentido de que os requisitos supra citados não restaram demonstrados aos
autos.

6 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

Assim, resta indeferida toda a pretensão formulada contra


Plataforma Transportes SPE S.A. e Realsi Serviços e Transportes Litoral Norte Ltda.

Sem reformas.

HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

Pugna o Autor pela exclusão da condenação do reclamante na


parcela epigrafada (isenção e não suspensão da exigibilidade), bem como pela majoração ao
percentual de 15%, na condenação da reclamada.

Ao exame.

Quanto aos honorários devidos pela Reclamada, considerando os


critérios estabelecidos no §2° do art. 791-A da CLT, reputo razoável a fixação da verba em
destaque ao percentual de 5%.

Quanto à condenação imposta ao autor, beneficiário da justiça


gratuita, mantenho o entendimento da impossibilidade de condenação de reclamante em
honorários sucumbenciais, quando ingressa em juízo pleiteando direitos e parcelas decorrentes
da relação mantida e que não foram devidamente quitados. Não pode ser sucumbente quem
pleiteia direitos que lhe foram sonegados e que venham a ser reconhecidos, ainda que
parcialmente.

A condenação, no caso concreto, vai de encontro aos incisos XXXV


e LXXIV do artigo 5º da Constituição, sendo obrigação estatal proporcionar o acesso à justiça
àqueles que não possuem condições de custear o processo. É contraditório penalizar o
trabalhador (na sua imensa maioria desempregados) em honorários, quando em outras esferas,
comum e federal, não há tal possibilidade para quem é, de forma comprovada ou presumida,
hipossuficiente.

A Constituição Federal, no artigo 5º, estabelece:

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do


pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos


ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão


ou ameaça a direito;

7 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita


aos que comprovarem insuficiência de recursos;

É direito constitucional do trabalhador ter acesso livremente, sem


óbices, à Justiça. Essa é a principal garantia do regular exercício de sua cidadania. Ameaçado
de ser condenado em honorários advocatícios sucumbenciais recíprocos se não conseguir
realizar a prova do quanto alega, principalmente quando busca o cumprimento das obrigações
básicas que foram descumpridas pelo próprio empregador, viola o princípio da isonomia de
tratamento que deve existir entre as partes, com mais razão na seara trabalhista, onde os
direitos se encontram em patamares desiguais.

Fulminando a pretensão patronal, colhe-se da redação do art. 98, §


1º, VI do CPC que:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

§ 1º A gratuidade da justiça compreende:

(...)

VIII - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do


intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de versão em português de documento
redigido em língua estrangeira;

Dessa maneira, a pretensão de condenação da parte obreira em


honorários de sucumbência é indevida.

Sentença reformada para afastar completamente a condenação da


parte autora no pagamento de honorários de sucumbência.

Ante o exposto, REJEITO A PRELIMINAR SUSCITADA E, NO


MÉRITO, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DO RECLAMANTE PARA DECLARAR
PRESCRITOS TÃO SOMENTE OS PLEITOS CUJA OBRIGAÇÃO DE PAGAR OU FAZER
TENHA SE VENCIDO ANTES DE 31/07/2015, DEFERIR O PAGAMENTO DE R$ 10.000,00
(DEZ MIL REAIS) A TÍTULO DE DANOS MORAIS, OBSERVADA A SÚMULA 439 DO TST, E
AFASTAR A CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS.

8 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

QUANTO AO RECURSO DA RECLAMADA, NEGO PROVIMENTO. TUDO NOS TERMOS DA


FUNDAMENTAÇÃO SUPRA. MANTIDO O VALOR DA CAUSA.

A 2ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA


QUINTA REGIÃO, em sua 32ª Sessão Ordinária Telepresencial, realizada no dia 28 de
setembro de 2022, cuja pauta foi divulgada no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, edição
do dia 14 de setembro de 2022, sob a Presidência, em exercício, do Excelentíssimo
Desembargador RENATO SIMÕES, com a presença dos Excelentíssimos Desembargadores
ESEQUIAS DE OLIVEIRA e ANA PAOLA DINIZ, bem como do(a) Excelentíssimo(a)
Procurador(a) do Trabalho, DECIDIU,

POR UNANIMIDADE, REJEITAR A PRELIMINAR SUSCITADA E,


NO MÉRITO, POR MAIORIA, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DO
RECLAMANTE PARA DECLARAR PRESCRITOS TÃO SOMENTE OS PLEITOS CUJA
OBRIGAÇÃO DE PAGAR OU FAZER TENHA SE VENCIDO ANTES DE 31/07/2015, DEFERIR
O PAGAMENTO DE R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS) A TÍTULO DE DANOS MORAIS E
AFASTAR A CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS.
QUANTO AO RECURSO DA RECLAMADA, SEM DIVERGÊNCIA, NEGAR-LHE
PROVIMENTO. TUDO NOS TERMOS DA FUNDAMENTAÇÃO. MANTIDO O VALOR DA
CAUSA. Vencida a Exmª. Desª. ANA PAOLA DINIZ que mantinha a condenação da parte
autora ao pagamento da verba honorária sucumbencial, a despeito da sua condição de
beneficiária da justiça gratuita, observada a condição suspensiva de exigibilidade, pelo prazo
de 2 anos a contar do trânsito em julgado desta reclamação trabalhista.

Obs.: 1ª) A Exmª. Desª. ANA PAOLA DINIZ apresentou voto


divergente, nos termos a seguir transcritos: "Peço vênia para divergir quanto a exclusão da
condenação do reclamante em honorários advocatícios sucumbenciais, considero cabível,
apenas a condição suspensiva.

Em 20.10.2021 sobreveio o julgamento pelo Supremo Tribunal


Federal, em sua composição Plena, da ADI 5.766, declarando a inconstitucionalidade do caput
e do parágrafo 4º do artigo 790-B e do parágrafo 4º do artigo 791-A da Consolidação das Leis
do Trabalho. Naquela oportunidade não foi imediatamente disponibilizado o acórdão, o que
tornou factível inferir que a Corte Constitucional declarara inconstitucional o inteiro teor dos
dispositivos legais mencionados, a impedir, portanto, no processo do trabalho, a sucumbência
do beneficiário da gratuidade da justiça em honorários advocatícios.

Sempre entendi que a sucumbência em honorários advocatícios do

9 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

beneficiário da gratuidade da justiça conflita com o acesso à justiça, sequer admitindo a


aplicação subsidiária do processo comum, pela especificidade que há na seara trabalhista. O
beneficiário da gratuidade, recorrentemente, é o trabalhador, que tem na sua remuneração a
única fonte de renda, de natureza manifestamente alimentar e destinada ao custeio de
despesas essenciais próprias ou de sua família. Assim, sendo declarada a inconstitucionalidade
do §4º do art. 790-A da CLT, não havia norma legal a autorizar a sucumbência em honorários
advocatícios no processo do trabalho, salvo as exceções já contempladas na Lei 5.584/70 e
Súmulas 219 do TST.

Nessa mesma linha de entendimento firmou-se relevante


jurisprudência do TST, frequentemente referenciada nos julgamentos sob minha relatoria.
Também esse era o entendimento prevalecente nesta 2ª Turma

Contudo, ao tempo da publicação do acórdão ficou mais bem


explicitada a tese fixada. Assim constou na certidão de julgamento:

"O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido


formulado na ação direta, para declarar inconstitucionais os arts. 790-B, caput e § 4º, e 791-A,
§ 4º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), vencidos, em parte, os Ministros Roberto
Barroso (Relator), Luiz Fux (Presidente), Nunes Marques e Gilmar Mendes. Por maioria, julgou
improcedente a ação no tocante ao art. 844, § 2º, da CLT, declarando-o constitucional, vencidos
os Ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. vencidos, em parte, os
Ministros ROBERTO BARROSO (Relator), LUIZ FUX (Presidente), NUNES MARQUES e
GILMAR MENDES."

O pedido na petição inicial da ADI 5.766 ficou assim expresso:

"Requer que, ao final, seja julgado procedente o pedido, para


declarar inconstitucionalidade das seguintes normas, todas introduzidas pela Lei 13.467, de 13
de julho de 2017: a) da expressão "ainda que beneficiária da justiça gratuita", do caput, e do §
4º do art. 790-B da CLT; b) da expressão "desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em
outro processo, créditos capazes de suportar a despesa," do § 4º do art. 791-A da CLT; c) da
expressão "ainda que beneficiário da justiça gratuita," do § 2º do art. 844 da CLT."

O Min. Alexandre de Moraes, cujo voto prevaleceu, por maioria,


assentou:

"Em vista do exposto, CONHEÇO da Ação Direta e, no mérito, julgo


PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para declarar a inconstitucionalidade da expressão

10 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

"ainda que beneficiária da justiça gratuita", constante do caput do art. 790-B; para declarar a
inconstitucionalidade do § 4º do mesmo art. 790-B; declarar a inconstitucionalidade da
expressão "desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos
capazes de suportar a despesa", constante do § 4º do art. 791-A; para declarar constitucional o
art. 844, § 2º, todos da CLT, com a redação dada pela Lei 13.467/2017. É o voto."

Portanto, na certidão de julgamento, com a referência que se fez ao


pedido formulado na ADI 5.766, considerando-se o teor do voto prevalecente, ficou evidente
que a Corte Constitucional, no tocante ao §4º do art. 791-A da CLT declarou inconstitucional
apenas a expressão "desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo,
créditos capazes de suportar a despesa". Não obsta a condenação em honorários advocatícios
sucumbenciais do beneficiário da gratuidade da justiça, prevalecendo, em casos tais, a
condição suspensiva de exigibilidade a que se refere a própria norma, na parte em que
preservada.

O Min. Fachin, cujo voto, nesse particular foi acompanhado pelo


Min. Alexandre de Moraes, nos fundamentos que sustentou observou que "o benefício da
gratuidade da Justiça não constitui isenção absoluta de custas e outras despesas processuais,
mas, sim, desobrigação de pagá-las enquanto perdurar o estado de hipossuficiência econômica
propulsor do reconhecimento e concessão das prerrogativas inerentes a este direito
fundamental (art. 5º, LXXIV da CRFB)".

Portanto, o §4º do art. 791-A da CLT passa a ter o seguinte teor,


após a impositiva redução de texto ensejada pela declaração de inconstitucionalidade:

§ 4º Vencido o beneficiário da justiça gratuita, as obrigações


decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente
poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que
as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos
que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações
do beneficiário.

Portanto, por disciplina judiciária, adoto a tese fixada pelo STF na


ADI 5.766 e considero factível a condenação em honorários sucumbenciais ao beneficiário da
gratuidade da justiça. Contudo, permanecerão sob suspensão de exigibilidade pelo prazo de
dois anos, prazo a ser observado pelo credor para fins de comprovar eventual desaparecimento
da condição de insuficiência econômica da reclamante, e assim possibilitar a execução, sob
pena de extinção do débito após transcorrido o período. Superada está, em razão desse

11 of 12 07/10/2022 13:08
Firefox file:///C:/Users/TRT05/AppData/Local/Temp/documento-1.html

julgamento pelo STF, a tese fixada pelo Órgão Especial do TRT-5 no Incidente de
Inconstitucionalidade 0001543-77.2020.5.05.0000."

2ª) Registrou pedido de preferência e ocupou a tribuna virtual, pelo


reclamante, a advogada Aiana Gidi.

RENATO MÁRIO BORGES SIMÕES


Relator

12 of 12 07/10/2022 13:08

Você também pode gostar