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Processo nº __________________
I. TEMPESTIVIDADE
13. No entanto, analisando o mérito da demanda, o juiz de primeiro grau entendeu que
“Nos casos de conduta omissiva do Estado, como no caso dos autos, em que pese a
existência de intensa divergência sobre o tema, se objetiva ou subjetiva, prevalece o
entendimento de que é subjetiva, mas não com base na culpa individual do agente e sim
com base na culpa do serviço ou culpa anônima “.
18. Não obstante, ainda que a responsabilidade no caso concreto fosse subjetiva, como
sustenta do juiz de primeiro grau, ficou demonstrado no caso em concreto que houve
desídia da Administração em apreciar o requerimento de aposentação da apelante, o que
caracteriza, necessariamente, a culpa estatal, porquanto prestou serviço público em
atraso, afrontando os princípios da razoabilidade e da eficiência. O dever de reparação,
nessas situações, é imperativo.
19. Frise-se que despicienda é a individualização da conduta omissiva, que pode ser
genérica, sendo certo que, no caso dos autos, ficou demonstrado de forma inequívoca de
que não houve quaisquer motivos que justificassem a demora na concessão da
aposentadoria requerida, contrariando de forma nítida os princípios elencados no artigo
37, caput, da Constituição Federal e os dispositivos constantes na legislação distrital.
20. Ora, se o administrador deve pautar seus atos pelos princípios constitucionais,
notadamente o da eficiência e legalidade, que se concretizam pelo cumprimento dos
prazos estabelecidos em lei, a inobservância a estes prazos impõe, ao administrador, o
dever de justificar o retardamento, o que gera uma inversão do ônus probatório a favor
do particular.
21. No caso concreto, no entanto, não houve qualquer justificativa, sendo presumível a
culpa, o que justifica a concessão da indenização postulada pela recorrente.
22. Assim, nota-se que mesmo que se considere que, no caso em questão, a culpa é
subjetiva, a sentença recorrida jamais poderá prevalecer, pois é necessário que se
leve em consideração que o ordenamento jurídico impõe, ao Estado administrador,
justificar o retardo no cumprimento do ato cujo prazo é regulamentado por lei, sob pena
de gerar para o particular o direito de perceber indenização referente ao prejuízo
experimentado que, no caso em concreto, foi a permanência compulsória da apelante no
exercício das atividades do cargo em período em que já fazia jus à aposentadoria.
23. Nesse contexto, é imprescindível que se reforme a sentença de primeiro grau, que
entendeu que a ora apelante não teria se desincumbido do ônus de demonstrar a
ocorrência de danos materiais e morais com o exercício do cargo por mais 10 meses,
prazo relacionado à demora na concessão da aposentadoria, olvidando-se, assim, de
demonstrar fato constitutivo de seu direito à indenização pleiteada, nos termos do artigo
333, inciso I, do Código de Processo Civil.
24. Ora, Excelências, o dano decorre do próprio ato ilícito praticado pela
Administração Pública – qual seja, o atraso injustificado em mais de 10 meses em
deferir a aposentadoria – visto que foi em decorrência deste ato ilícito que a
apelante precisou trabalhar por mais 10 meses de forma compulsória em ambiente
insalubre, durante a pandemia do novo coronavírus, mesmo pertencendo ao
quadro de risco, sendo inibida do descanso merecido.
25. Em outras palavras, a existência do fato danoso e o necessário nexo causal entre
a omissão e os prejuízos decorrentes da mesma conduta ressoa inequívoco
porquanto o simples fato de a pessoa ser compelida a trabalhar no período no qual,
legalmente, já poderia fazer jus à mesma renda na inatividade, decorrente dos
proventos de aposentadoria, já configura, à saciedade, evento lesivo ao interesse da
parte e à livre manifestação de vontade. O dano é o trabalho compulsório, forçado,
daquele servidor que poderia ter sido aposentado.
26. Nesse sentido já decidiu o Conselho Especial deste e. TJDFT, cuja observância é
obrigatória por força do inciso V do art. 927 do CPC, e também a 4a Turma Cível:
28. Além disso, não há que se falar, como entendeu o magistrado de origem, que o
direito à indenização material não seria devido porque a ora apelante recebeu o
pagamento da remuneração a que faziam jus.
29. Ora, o pagamento recebido pela servidora foi realizado como contraprestação ao
serviço prestado, no período em que deveria estar aposentada. Já a indenização
requerida, por sua vez, tem caráter indenizatório e corresponde à remuneração relativa
ao trabalho que desempenhou por ser o parâmetro que melhor se apresenta e indeniza o
ato ilícito consistente na compulsoriedade que lhe foi imposta (art. 186, 187 e 944 do
CC), não havendo que se falar em enriquecimento ilícito da apelante.
31. Aliás, é importante que se traga à colação, ainda, por total pertinência ao tema em
análise, o seguinte precedente deste TJDFT, que aplica exatamente o mesmo parâmetro
requerido pela apelante:
32. Assim, sendo incontroverso nos autos que houve demora injustificada para a
concessão da aposentadoria pleiteada pela ora apelante, está caracterizada a omissão
ilícita e justificadora de reparação (arts. 186, 187 e 944 do CPC), até porque a falta de
decisão tempestiva causa dano ao servidor que, como exposto, deve permanecer
compulsoriamente trabalhando enquanto poderia estar na inatividade remunerada, sendo
devida a indenização material requerida pela ora apelante.
33. No que tange à indenização moral requerida, o magistrado entendeu que “a demora
de um pouco mais de 10 meses, por parte da Administração Pública, em conceder a sua
aposentadoria” não “evidencia qualquer violação a dignidade da autora a conduzir à
compensação moral“, e que “não restou demonstrado que, em razão da mora na
concessão da aposentadoria, a mesma fosse submetida a qualquer situação de violação
dos seus direitos de personalidade, capaz de garantir-lhe a indenização vindicada.”.
34. Ora, Excelências, se não há qualquer debate nos autos sobre a desídia na demora
injustificada em conceder a aposentadoria requerida pela apelante, que precisou
trabalhar por mais de 10 meses em ambiente insalubre, mesmo sendo hipertensa e no
curso de uma pandemia, torna-se incontestável a ocorrência dos graves transtornos,
abalo e angústia experimentados pela servidora enquanto aguardava a decisão
administrativa, especialmente em razão do advento de uma pandemia.
40. E mesmo que não fosse considerado dano in re ipsa, vale salientar que a
injustificada e excessiva concessão da aposentadora da Apelante lhe causou angústia
extrema, pois, em que pese ter suprido todos os requisitos para a aposentadoria na data
do protocolo do pedido, mesmo temendo pela sua saúde, precisou continuar trabalhando
em ambiente insalubre por mais 10 meses, durante a pandemia do COVID-19, até 20 de
julho de 2020, data em que a sua aposentadoria foi publicada no Diário Oficial.
41. Esses fatos, que comprovam a angústia, insegurança quanto à sua integridade
física e constrangimento no trabalho compulsório proporcionado em razão da
desídia verificada causam verdadeiro abalo dos direitos de personalidade da
apelante que permaneceu trabalhando em ambiente insalubre durante a pandemia
em razão de demora excessiva e injustificada da Administração Pública,
rechaçados pelo magistrado de primeiro grau.
43. Para além disso, é evidente que a demora injustificada na conclusão do processo de
aposentadoria frustou a expectativa da Apelante em usufruir dos benefícios de sua
aposentadoria, dentre os quais o legítimo descanso pelos anos laborados no órgão em
condições insalubres e preservação da sua saúde.
47. Pois bem, a Constituição Federal, no seu art. 5º, inciso LXXVIII, garante a todos, no
âmbito judicial e administrativo, a celeridade na tramitação dos processos.
48. No que tange à legislação específica sobre o regime jurídico dos servidores
públicos civis do Distrito Federal, o princípio da razoável duração do processo foi
trazido no art. 173 da LC 840/2011, em que se determina que a Administração Pública
tem o dever de despachar o processo administrativos em 5 dias e proferir decisão em
seus processos administrativos no prazo de até 30 dias, tudo contado a partir da data do
protocolo,
49. De acordo com a Lei nº 2.834/2001, a Lei Federal nº 9.748/2012 foi recepcionada
em sua integralidade pelo Distrito Federal, tendo plena aplicação perante os processos
administrativos no âmbito da Administração Direita e Indireta do Distrito Federal.
50. Pois bem, diante dos prazos legalmente previstos e acima destacados, convém
destacar as fases do pedido de aposentadoria realizado pela Apelante:
51. Os fatos acima narrados são incontroversos nos autos, sendo inclusive citados na
sentença de primeiro grau.
53. Ora, uma vez que não há dúvidas e nem controvérsia sobre a morosidade excessiva
e desídia da Administração Pública em analisar e deferir o pedido de aposentadoria da
Apelante, obrigando-a a trabalhar por mais 10 meses enquanto poderia estar na
inatividade, é evidente a afronta ao princípio constitucional da razoável duração do
processo, disposto no art. 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal.
54. Nesse contexto, sabendo que a Apelante já reunia condições de se aposentar desde
23.12.2013, e a evidente inexistência de discussões mais aprofundadas no processo
administrativo para que fosse finalizado, além da demora exorbitante em cada
tramitação interna daquele processo, resta ainda mais evidente que, a demora
administrativa de mais de 10 meses para conceder o pedido de aposentadoria da
Apelante viola o art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, o art. 173 da LC
840/2011, os arts. 48 e 49 da Lei 9.784/99, para além dos princípios da razoabilidade e
eficiência, previstos no art. 2º da mesma norma. 57. Defender o atraso do processo sem
qualquer justificativa por parte da administração, prejudicando o direito da Apelante,
significa esvaziar todas as previsões legais do art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição
Federal, o art. 173 da LC 840/2011, os arts. 48 e 49 da Lei 9.784/99, para além dos
princípios da razoabilidade e eficiência, previstos no art. 2º da mesma norma.
V. PEDIDO
57. Ante o exposto, requer seja conhecida e provida a presente apelação para reformar a
sentença proferida, reconhecendo-se o direito à indenização material e moral da
Apelante, uma vez que a administração demorou de forma injustificada para conceder a
aposentadoria da Apelante, obrigando-a a trabalhar dez meses a mais em ambiente
insalubre e em período de extrema periculosidade às pessoas com comorbidades, grupo
em que se enquadra a Apelante.