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Excelentíssimo Senhor Juiz da ____ª vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do

Distrito Federal e dos Territórios

Processo nº __________________

IVANI (“Apelante”), devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, por


seus advogados devidamente constituídos, com fundamento nos artigo 1.009 e seguintes
do Código de Processo Civil, vem apresentar RECURSO DE APELAÇÃO contra
sentença que julgou improcedente o pedido de ____________________________, pelas
razões de fato e de direito a seguir expostas.

I. TEMPESTIVIDADE

1. A intimação a respeito da sentença foi publicada no DJE do dia _______, assim, se


encerra o prazo de apelação em ________, conforme certificado por este sistema PJE.

II. RAZÕES PARA REFORMA DA SENTENÇA

a) Consolidação do entendimento sobre a responsabilidade objetiva do Estado.


Prova inequívoca do dano material indenizável. Precedentes não afastados e não
enfrentados pelo juiz a quo.
12. Inicialmente, convém destacar que, como bem ressaltado na sentença de primeiro
grau, a demora na concessão da aposentadoria da ora Apelante é fato
incontroverso nos autos, não havendo nenhum aspecto extraordinário que a justificasse.

13. No entanto, analisando o mérito da demanda, o juiz de primeiro grau entendeu que
“Nos casos de conduta omissiva do Estado, como no caso dos autos, em que pese a
existência de intensa divergência sobre o tema, se objetiva ou subjetiva, prevalece o
entendimento de que é subjetiva, mas não com base na culpa individual do agente e sim
com base na culpa do serviço ou culpa anônima “.

14. Tal entendimento, no entanto, desafia a jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal, do Superior Tribunal de Justiça e do próprio e. Tribunal de Justiça do Distrito
Federal.
15. Conforme reiteradamente exposto, a Administração Pública tem o dever de proferir
decisão nos processos administrativos sobre solicitações ou reclamações, em matéria de
sua competência, no prazo de 30 (trinta) dias (Lei Federal nº 9.784/99 e Lei Distrital nº
840/11).

16. Assim, em razão do dever instituído em lei, a demora injustificada na análise do


requerimento de aposentadoria, em caso tais, gera o dever de indenizar o servidor que
foi obrigado a continuar exercendo suas funções compulsoriamente, sem perquirir sobre
a culpa.

17. Frise-se que o Supremo Tribunal Federal consolidou entendimento no sentido de


que obrigar o servidor público a trabalhar quando já poderia estar apostando configura
ato ilícito indenizável em razão da responsabilidade objetiva do Estado, de modo
diametralmente oposto, portanto, ao que decidiu o juiz de primeiro grau, como se vê
abaixo:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


APOSENTADORIA. CONCESSÃO. DEMORA. RESPONSABILIDADE
CIVIL DO ESTADO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME
DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. 1. A demora na concessão de aposentadoria de
servidor configura responsabilidade civil objetiva do Estado. 2. A análise da
controvérsia demanda o exame da matéria fático-probatória dos autos.
Incidência da Súmula 279 do STF. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STF, RE 576779 AgR, Relator(a): EROS GRAU, Segunda Turma,
julgado em 03/06/2008, DJe-117 DIVULG 26-06-2008 PUBLIC 27-06-2008
EMENT VOL02325-09 PP-01788)

18. Não obstante, ainda que a responsabilidade no caso concreto fosse subjetiva, como
sustenta do juiz de primeiro grau, ficou demonstrado no caso em concreto que houve
desídia da Administração em apreciar o requerimento de aposentação da apelante, o que
caracteriza, necessariamente, a culpa estatal, porquanto prestou serviço público em
atraso, afrontando os princípios da razoabilidade e da eficiência. O dever de reparação,
nessas situações, é imperativo.

19. Frise-se que despicienda é a individualização da conduta omissiva, que pode ser
genérica, sendo certo que, no caso dos autos, ficou demonstrado de forma inequívoca de
que não houve quaisquer motivos que justificassem a demora na concessão da
aposentadoria requerida, contrariando de forma nítida os princípios elencados no artigo
37, caput, da Constituição Federal e os dispositivos constantes na legislação distrital.
20. Ora, se o administrador deve pautar seus atos pelos princípios constitucionais,
notadamente o da eficiência e legalidade, que se concretizam pelo cumprimento dos
prazos estabelecidos em lei, a inobservância a estes prazos impõe, ao administrador, o
dever de justificar o retardamento, o que gera uma inversão do ônus probatório a favor
do particular.

21. No caso concreto, no entanto, não houve qualquer justificativa, sendo presumível a
culpa, o que justifica a concessão da indenização postulada pela recorrente.

22. Assim, nota-se que mesmo que se considere que, no caso em questão, a culpa é
subjetiva, a sentença recorrida jamais poderá prevalecer, pois é necessário que se
leve em consideração que o ordenamento jurídico impõe, ao Estado administrador,
justificar o retardo no cumprimento do ato cujo prazo é regulamentado por lei, sob pena
de gerar para o particular o direito de perceber indenização referente ao prejuízo
experimentado que, no caso em concreto, foi a permanência compulsória da apelante no
exercício das atividades do cargo em período em que já fazia jus à aposentadoria.

23. Nesse contexto, é imprescindível que se reforme a sentença de primeiro grau, que
entendeu que a ora apelante não teria se desincumbido do ônus de demonstrar a
ocorrência de danos materiais e morais com o exercício do cargo por mais 10 meses,
prazo relacionado à demora na concessão da aposentadoria, olvidando-se, assim, de
demonstrar fato constitutivo de seu direito à indenização pleiteada, nos termos do artigo
333, inciso I, do Código de Processo Civil.

24. Ora, Excelências, o dano decorre do próprio ato ilícito praticado pela
Administração Pública – qual seja, o atraso injustificado em mais de 10 meses em
deferir a aposentadoria – visto que foi em decorrência deste ato ilícito que a
apelante precisou trabalhar por mais 10 meses de forma compulsória em ambiente
insalubre, durante a pandemia do novo coronavírus, mesmo pertencendo ao
quadro de risco, sendo inibida do descanso merecido.

25. Em outras palavras, a existência do fato danoso e o necessário nexo causal entre
a omissão e os prejuízos decorrentes da mesma conduta ressoa inequívoco
porquanto o simples fato de a pessoa ser compelida a trabalhar no período no qual,
legalmente, já poderia fazer jus à mesma renda na inatividade, decorrente dos
proventos de aposentadoria, já configura, à saciedade, evento lesivo ao interesse da
parte e à livre manifestação de vontade. O dano é o trabalho compulsório, forçado,
daquele servidor que poderia ter sido aposentado.

26. Nesse sentido já decidiu o Conselho Especial deste e. TJDFT, cuja observância é
obrigatória por força do inciso V do art. 927 do CPC, e também a 4a Turma Cível:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA. APOSENTADORIA ESPECIAL. DEMORA
INJUSTIFICADA NA APRECIAÇÃO DO PEDIDO. CONCESSÃO
PARCIAL.

8 A via é adequada, estando o pedido devidamente instruído com o


procedimento administrativo referente ao pedido de concessão de aposentadoria
da impetrante, que comprova a condição insalubre do trabalho, o tempo de
contribuição e os prazos levados pela Administração para analisar a
aposentadoria.

O artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, garante a duração


razoável do processo, nos âmbitos administrativo e judicial. O artigo 48 da Lei
9.784/99 dispõe que a Administração tem o dever de emitir decisão nos
processos administrativos de sua competência. O artigo 49 institui o prazo de
trinta dias, prorrogável por uma vez motivadamente, para proferir essa decisão.

Comprovada a desídia do Estado em apreciar o pedido de aposentadoria da


impetrante, o que lhe ocasiona dano material, eis que continua laborando em
condições insalubres.

Segurança parcialmente concedida, determinado à Administração o


cumprimento do disposto na decisão proferida no Mandado de Injunção 837,
para que decida se a impetrante possui os requisitos necessários à aposentadoria
especial, no prazo de trinta dias, prorrogável por uma vez, motivadamente, pena
de resulta diária.

(Acórdão 520058, 20110020017464MSG, Relator: MARIO MACHADO,


CONSELHO ESPECIAL, data de julgamento: 12/7/2011, publicado no DJE:
25/7/2011. Pág.: 51)

APELAÇÃO CÍVEL. ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA ESPECIAL.


PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. DEMORA INJUSTIFICADA NA
CONCESSÃO. 1. Preenchidos os requisitos para a concessão da aposentadoria,
o servidor público deve ser indenizado pela demora injustificada na análise de
seu requerimento.

2. Negou-se provimento ao apelo. (Acórdão 1264969, 07044303520178070018,


Relator: SÉRGIO ROCHA, 4ª Turma Cível, data de julgamento: 22/7/2020,
publicado no DJE: 28/8/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

28. Além disso, não há que se falar, como entendeu o magistrado de origem, que o
direito à indenização material não seria devido porque a ora apelante recebeu o
pagamento da remuneração a que faziam jus.
29. Ora, o pagamento recebido pela servidora foi realizado como contraprestação ao
serviço prestado, no período em que deveria estar aposentada. Já a indenização
requerida, por sua vez, tem caráter indenizatório e corresponde à remuneração relativa
ao trabalho que desempenhou por ser o parâmetro que melhor se apresenta e indeniza o
ato ilícito consistente na compulsoriedade que lhe foi imposta (art. 186, 187 e 944 do
CC), não havendo que se falar em enriquecimento ilícito da apelante.

30. Frise-se: o fundamento da pretensão indenizatória danos materiais deduzida decorre


da obrigatoriedade de permanecer na atividade após a conquista do direito à inativação,
ou seja, cada dia laborado após este termo é um evento lesivo, totalizando, no caso
concreto 289 dias.

31. Aliás, é importante que se traga à colação, ainda, por total pertinência ao tema em
análise, o seguinte precedente deste TJDFT, que aplica exatamente o mesmo parâmetro
requerido pela apelante:

DIREITO ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA. DEMORA


INJUSTIFICADA NO ATO DE CONCESSÃO. OMISSÃO.
RESPONSABILIDADEDO ESTADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. VALOR
CORRESPONDENTE AOS PROVENTOS. SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA. 1 - É ilícita a omissão da Administração Pública que, sem
justificativa, extrapola o prazo legal para análise do pedido de aposentadoria,
compelindo os servidores públicos a trabalharem por mais dez meses além do
período necessário para a aquisição do direito. 2 – A indenização deve
corresponder aos proventos que seriam devidos caso não houvesse ilícita
omissão estatal, observados os descontos legais incidentes. Apelação Cível e
Remessa Oficial parcialmente providas. (Acórdão n.
488595,20070110388994APC, Relator: ANGELO CANDUCCI PASSARELI,
Revisor: JOÃOEGMONT, 5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 16/03/2011,
Publicado no DJE:21/03/2011. Pág.: 167)

32. Assim, sendo incontroverso nos autos que houve demora injustificada para a
concessão da aposentadoria pleiteada pela ora apelante, está caracterizada a omissão
ilícita e justificadora de reparação (arts. 186, 187 e 944 do CPC), até porque a falta de
decisão tempestiva causa dano ao servidor que, como exposto, deve permanecer
compulsoriamente trabalhando enquanto poderia estar na inatividade remunerada, sendo
devida a indenização material requerida pela ora apelante.

b) Do dano moral. Necessidade de indenização. Comprovação da sua ocorrência.

33. No que tange à indenização moral requerida, o magistrado entendeu que “a demora
de um pouco mais de 10 meses, por parte da Administração Pública, em conceder a sua
aposentadoria” não “evidencia qualquer violação a dignidade da autora a conduzir à
compensação moral“, e que “não restou demonstrado que, em razão da mora na
concessão da aposentadoria, a mesma fosse submetida a qualquer situação de violação
dos seus direitos de personalidade, capaz de garantir-lhe a indenização vindicada.”.

34. Ora, Excelências, se não há qualquer debate nos autos sobre a desídia na demora
injustificada em conceder a aposentadoria requerida pela apelante, que precisou
trabalhar por mais de 10 meses em ambiente insalubre, mesmo sendo hipertensa e no
curso de uma pandemia, torna-se incontestável a ocorrência dos graves transtornos,
abalo e angústia experimentados pela servidora enquanto aguardava a decisão
administrativa, especialmente em razão do advento de uma pandemia.

35. É preciso frisar que em razão da demora exacerbada no processo de aposentadoria, a


Apelante foi compelida a trabalhar em ambiente insalubre durante a pandemia do
novo coronavírus em decorrência do descaso do órgão em analisar o seu pedido no
tempo que manda a Lei.

36. A situação da Apelante junto ao órgão público, acrescida do acirramento do número


de contágio pelo novo coronavírus foi causa de tanto abalo para a Apelante que, em
razão de ser hipertensa, enquadrandose, portanto, dentro dos parâmetros de riscos do
novo coronavírus, foi necessário requerer a sua remoção do Núcleo de Patologia
Clínica, local de lotação, para outro setor (DOC 4).

37. Ocorre que para além da demora injustificada no processo de aposentadoria, a


Administração Pública sequer finalizou o pedido de remoção formulado pela
Apelante, pois concluiu que o setor onde a servidora estava lotada não tinha a
opção de teletrabalho e que seria necessário procurar outros setores como
alternativa para agregar força de trabalho, sem, no entanto, dar qualquer
encaminhamento ao pedido que lhe foi feito, mantendo a Apelante, no quadro de
risco do contágio do COVID-19, trabalhando compulsoriamente.

38. O direito à aposentadoria e as angústias da Apelante quanto à sua saúde foram, em


verdade, objeto de descaso da Administração Pública que, como visto, falhou no seu
dever em responder o pleito de aposentadoria que lhe foi formulado em tempo razoável,
abandonando a servidora, que se dedicou por anos ao serviço público, em ambiente
insalubre, mesmo estando na faixa de risco de contaminação pelo novo coronavírus.
39. No caso concreto, a demora injustificada administrativa em conceder a
aposentadoria a apelante, que estava desesperada para preservar a sua saúde, em razão
do COVID-19 e demonstrava, a toda evidência, o preenchimento dos requisitos para o
benefício, proporciona a compensação moral, em virtude de previsível constrangimento
que lhe fora causado, sendo, o dano, in re ipsa.

40. E mesmo que não fosse considerado dano in re ipsa, vale salientar que a
injustificada e excessiva concessão da aposentadora da Apelante lhe causou angústia
extrema, pois, em que pese ter suprido todos os requisitos para a aposentadoria na data
do protocolo do pedido, mesmo temendo pela sua saúde, precisou continuar trabalhando
em ambiente insalubre por mais 10 meses, durante a pandemia do COVID-19, até 20 de
julho de 2020, data em que a sua aposentadoria foi publicada no Diário Oficial.

41. Esses fatos, que comprovam a angústia, insegurança quanto à sua integridade
física e constrangimento no trabalho compulsório proporcionado em razão da
desídia verificada causam verdadeiro abalo dos direitos de personalidade da
apelante que permaneceu trabalhando em ambiente insalubre durante a pandemia
em razão de demora excessiva e injustificada da Administração Pública,
rechaçados pelo magistrado de primeiro grau.

42. Patente, Excelências, que a injustificável delonga do processo administrativo (mais


de 10 meses) causou, de forma contundente, muito mais que mero dissabor, para invadir
a esfera da personalidade da apelante, causando-lhe angústia e sofrimento, já que passou
a temer pela sua vida em razão do ambiente insalubre e da sua idade avançada
favorecerem ao contágio pelo COVID-19.

43. Para além disso, é evidente que a demora injustificada na conclusão do processo de
aposentadoria frustou a expectativa da Apelante em usufruir dos benefícios de sua
aposentadoria, dentre os quais o legítimo descanso pelos anos laborados no órgão em
condições insalubres e preservação da sua saúde.

44. Assim, evidente o direito à indenização moral, conforme se observa da


jurisprudência desse e. Tribunal:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR


PÚBLICO. REUNIÃO DOS REQUISITOS PARA A APOSENTADORIA
VOLUNTÁRIA. PERMANÊNCIA NA ATIVIDADE. DIREITO AO
RECEBIMENTO DO ABONO PERMANÊNCIA. REQUERIMENTO.
DESNECESSIDADE. DEMORA NO ANDAMENTO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO PARA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA.
DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. 1. A partir do momento em que o
servidor público reúne os requisitos para a concessão da aposentadoria
voluntária e permanece em atividade, passa a fazer jus à percepção do benefício
do abono permanência, independentemente de requerimento, pois, "embora o
abono permanência se trate de um direito facultativo de cada servidor, em
momento algum o legislador restringiu tal direito a requerimento
administrativo. Não pode a administração criar requisitos que não constam da
Constituição". (Acórdão n. 495329, 20080110431164APC, Relator JOÃO
BATISTA TEIXEIRA, 3ª Turma Cível, julgado em 16/02/2011, DJ 12/04/2011
p. 304). 2. O transcurso de lapso de mais de dois anos entre o requerimento
administrativo da aposentadoria e sua efetiva concessão, resta anormal e
injustificado pela má prestação do serviço público, caracterizando, assim,
dano moral experimentado pela parte que foi obrigada a trabalhar quando
já poderia estar em gozo de aposentadoria. 3. Embargos Infringentes
improvidos. (TJDFT, Acórdão 833184, 20110112078547EIC, Relator:
ARNOLDO CAMANHO, , Revisor: FERNANDO HABIBE, 2ª CÂMARA
CÍVEL, data de julgamento: 3/11/2014, publicado no DJE: 21/11/2014. Pág.:
Sem Página Cadastrada.)

45. Assim, considerando a comprovação de que a demora injustificada na conclusão do


processo de aposentadoria frustrou a expectativa da Apelante em usufruir dos benefícios
de sua aposentadoria, dentre os quais o legítimo descanso pelos anos laborados no órgão
em condições insalubres e privação à sua segurança, já que o local do seu trabalho e a
sua idade avançada favorecerem ao contágio pelo COVID-19, resta evidente a violação
aos seus direitos personalíssimos, o que merece ser indenizado.

c) Violação ao art. 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal, ao art. 173 da LC


840/11, bem como aos arts. 2º, 48 e 49 da Lei Federal nº 9.784/99
46. Ainda que a sentença de primeiro grau tenha entendido que a demora na concessão
da aposentadoria da ora Apelante é fato incontroverso nos autos, não havendo nenhum
aspecto extraordinário que o justificasse, em razão do aspecto devolutivo da apelação,
cumpre defender, aqui, a violação ao art. 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal,
ao art. 173 da LC 840/11, bem como aos arts. 2º, 48 e 49 da Lei Federal nº 9.784/99.

47. Pois bem, a Constituição Federal, no seu art. 5º, inciso LXXVIII, garante a todos, no
âmbito judicial e administrativo, a celeridade na tramitação dos processos.

48. No que tange à legislação específica sobre o regime jurídico dos servidores
públicos civis do Distrito Federal, o princípio da razoável duração do processo foi
trazido no art. 173 da LC 840/2011, em que se determina que a Administração Pública
tem o dever de despachar o processo administrativos em 5 dias e proferir decisão em
seus processos administrativos no prazo de até 30 dias, tudo contado a partir da data do
protocolo,

49. De acordo com a Lei nº 2.834/2001, a Lei Federal nº 9.748/2012 foi recepcionada
em sua integralidade pelo Distrito Federal, tendo plena aplicação perante os processos
administrativos no âmbito da Administração Direita e Indireta do Distrito Federal.

50. Pois bem, diante dos prazos legalmente previstos e acima destacados, convém
destacar as fases do pedido de aposentadoria realizado pela Apelante:

05.09.2019: pedido de aposentadoria foi devidamente preenchido e assinado


pela Requerente

03.03.2020 (mais de 6 (seis) meses após o protocolo do pedido): O órgão deu o


primeiro despacho, abrindo a instrução do processo administrativo de
requerimento de aposentadoria.

12.05.2020 (mais de 8 (oito) meses após entrar com pedido de aposentadoria): O


Núcleo de Gestão de Pessoas finalizou a instrução e forneceu, no bojo do
processo administrativo, mapa da aposentadoria da Requerente.

___________(mais de 10 (dez) meses após dar entrada no pedido de


aposentadoria): a Autora que reconhecidamente tinha o abono permanência
desde 23.12.2013, teve seu direito reconhecido e publicado no Diário Oficial.

51. Os fatos acima narrados são incontroversos nos autos, sendo inclusive citados na
sentença de primeiro grau.

52. Ademais, conforme se observa da contestação apresentada e dos documentos


juntados ao processo, não há nenhuma justificativa para que o processo administrativo
iniciado pela Apelante tenha demorado quatro meses para dar início à sua instrução,
enquanto o art. 173 da LC 840/11 determina o prazo de 5 dias para ser despachado.

53. Ora, uma vez que não há dúvidas e nem controvérsia sobre a morosidade excessiva
e desídia da Administração Pública em analisar e deferir o pedido de aposentadoria da
Apelante, obrigando-a a trabalhar por mais 10 meses enquanto poderia estar na
inatividade, é evidente a afronta ao princípio constitucional da razoável duração do
processo, disposto no art. 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal.
54. Nesse contexto, sabendo que a Apelante já reunia condições de se aposentar desde
23.12.2013, e a evidente inexistência de discussões mais aprofundadas no processo
administrativo para que fosse finalizado, além da demora exorbitante em cada
tramitação interna daquele processo, resta ainda mais evidente que, a demora
administrativa de mais de 10 meses para conceder o pedido de aposentadoria da
Apelante viola o art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, o art. 173 da LC
840/2011, os arts. 48 e 49 da Lei 9.784/99, para além dos princípios da razoabilidade e
eficiência, previstos no art. 2º da mesma norma. 57. Defender o atraso do processo sem
qualquer justificativa por parte da administração, prejudicando o direito da Apelante,
significa esvaziar todas as previsões legais do art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição
Federal, o art. 173 da LC 840/2011, os arts. 48 e 49 da Lei 9.784/99, para além dos
princípios da razoabilidade e eficiência, previstos no art. 2º da mesma norma.

55. Ainda, importante destacar que a sentença de primeiro grau está em


desconformidade com o que diz a jurisprudência mais atual sobre o assunto, que
determina que, a morosidade excessiva e a desídia da Administração Pública em
analisar e deferir o pedido de aposentadoria se servidor, obrigando o mesmo a trabalhar
por tempo maior do que o previsto – no caso dos autos, mais 10 meses – enquanto
poderia estar na inatividade, sem dúvidas, fere o princípio constitucional da razoável
duração do processo, disposto no art. 5º, inciso LXXVIII da Constituição Federal,
como reiteradamente decidido pelo e. STJ:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO.


AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE
CIVIL DO ESTADO. APOSENTADORIA. CONCESSÃO. ATRASO
INJUSTIFICADO. INDENIZAÇÃO. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL.
DATA DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. PRINCÍPIO DA ACTIO NATA.
1. "O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a
demora injustificada da Administração em analisar o requerimento de
aposentadoria [...] gera o dever de indenizar o servidor, que foi obrigado a
permanecer no exercício de suas atividades. Precedentes: STJ, REsp
968.978/MS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, DJe de 29/03/2011; AgRg no REsp 1.260.985/PR, Rel. Ministro
CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJe de 03/08/2012; REsp
1.117.751/MS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, DJe
de 05/10/2009"

56. Assim, em atenção aos princípios instituídos na Constituição Federal e na Lei


Federal 9.784/99, bem como o disposto no art. 173 da LC 840/11 e dos precedentes
acima colacionados, bem como a confissão da demora da finalização do processo de
aposentadoria da Requerente, fica cabalmente demonstrado o direito à indenização da
Requerente.

V. PEDIDO

57. Ante o exposto, requer seja conhecida e provida a presente apelação para reformar a
sentença proferida, reconhecendo-se o direito à indenização material e moral da
Apelante, uma vez que a administração demorou de forma injustificada para conceder a
aposentadoria da Apelante, obrigando-a a trabalhar dez meses a mais em ambiente
insalubre e em período de extrema periculosidade às pessoas com comorbidades, grupo
em que se enquadra a Apelante.

Termos em que se pede deferimento.

Brasília, 27 de setembro de 2021

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