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ITAQUI-RS
I – DOS FATOS
Ocorre que, já transcorreu mais de 06 meses desde o protocolo do recurso, o que sequer foi
distribuído para uma das Juntas de Recursos.
De modo que já transcorreram mais de 06 meses (180 dias) desde a interposição do recurso
ordinário, sem que houvesse julgamento pela Junta e tampouco qualquer justificativa para tanto,
ensejando o ajuizamento do writ.
II – DO DIREITO
Nesse mesmo sentido é a redação do artigo 1º da Lei 12.016 de 2009 ao assegurar que
conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa
física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de
que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.
No caso em tela, o direito líquido e certo está sendo violado por ato ilegal do Presidente do
Conselho de Recursos, eis que até o presente momento não julgou o recurso ordinário
administrativo interposto pelo Segurado, estando seu direito à razoável duração do processo e à
celeridade de sua tramitação violado.
DO INTERESSE DE AGIR
Pelo exposto, denota-se que a omissão e a inércia administrativa, implica grave prejuízo ao
seu direito, e assim configura o interesse de agir.
DO MÉRITO
No que se refere ao mérito da presente ação, é desnecessário grande debate acerca do tema,
na medida em que a prática de atos processuais administrativos e respectiva decisão
encontram limites nas disposições da Lei 9.784/99, sendo de cinco dias o prazo para a prática
de atos e de trinta dias para a decisão:
CAPÍTULO XI
DO DEVER DE DECIDIR
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos
administrativos e sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência.
O prazo acima poderá ser prorrogado até o dobro, desde que justificadamente.
Ultrapassado, sem justificativa plausível, o prazo para a decisão, tem-se hipótese cabível
para impetração de mandado de segurança, eis que fere a razoabilidade permanecer o administrado
sem resposta à postulação por tempo indeterminado.
A esse respeito:
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.
LEGITIMIDADE PASSIVA. PROCESSO ADMINISTRATIVO. 1. A autoridade
coatora no mandado de segurança é aquela que pratica o ato, de forma omissiva ou
comissiva. 2. Estando a análise do recurso submetida à Junta de Recursos do
Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS é desta Junta a legitimidade
para responder pela apreciação do recurso administrativo. 3. Encaminhada a
notificação para a apresentação de informações à Junta de Recursos diversa da
responsável, por conta de ato não atribuível à impetrante, deve ser anulado o julgamento
para que seja adequadamente processado o feito. (TRF4, AC 5041594-
67.2018.4.04.7100, QUINTA TURMA, Relator ALTAIR ANTONIO GREGÓRIO,
juntado aos autos em 12/12/2019)
Desta forma, passado o prazo legal para julgamento do recurso administrativo, o Segurado
sente-se prejudicado pela demora na análise do seu recurso.
Ademais, não é razoável exigir a espera indefinida para ter seu benefício analisado e
julgado.
Assim, deve ser determinado o imediato julgamento pela Junta de Recurso do CRPS do
INSS, a fim de que seja analisado no prazo máximo de 30 dias, sobretudo tratando-se de direito
líquido e certo, que não demanda dilação probatória e que teve violado o prazo estipulado no art.
4º da Lei 9.784/99.
O novo Código de Processo Civil estabelece em seu art. 300 que “A tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano
ou o risco ao resultado útil do processo”.
No presente caso, o direito está manifestamente comprovado, uma vez que o Segurado
interpôs recurso administrativo perante a Junta de Recursos há mais de 180 dias, violando
a lei que regulamenta o processo administrativo no âmbito federal (Lei 9.784/99).
No que concerne ao perigo ou dano ao resultado útil do processo, há que se atentar que o
caráter alimentar do benefício traduz um quadro de urgência que exige pronta resposta do
Judiciário, tendo em vista que nos benefícios previdenciários resta intuitivo o risco de ineficácia
do provimento jurisdicional final.
A respeito do tema:
O princípio constitucional da imediatidade tem a ver com a própria finalidade da
segurança social: remediar ou ajudar a superar situações que ao serem produzidas
por contingências sociais criam problemas ao indivíduo. Para que o socorro seja
verdadeiramente efetivo, é preciso que a ajuda se realize em tempo oportuno, pois
do contrário perderia muito do seu valor. Se a resposta não for imediata, a missão da
Seguridade será cumprida de forma deficiente.[1]
Nas palavras de José Antônio Savaris, a questão crucial diz respeito à irreversível
privação de bem-estar que se agrava com o passar do tempo.[2]
Portanto, imperioso seja determinada, liminarmente, que Junta de Recurso julgue o recurso
interposto pelo Impetrante.
IV – DO PEDIDO
2. A concessão de gratuidade da justiça, tendo em vista que a Autora não tem como suportar as
custas judiciais sem o prejuízo de seu sustento e de sua família;
Nestes termos,
Pede deferimento.
Dá à causa o valor de R$ 1.000,00.
Uruguaiana, 03 de maio de 2022.
[2] Savaris, José Antônio. Direito Processual Previdenciário. Curitiba: Alteridade, 2018.
p. 466.