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EXCELENTÍSIMO DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA FEDERAL DA UAA DE

ITAQUI-RS

RECURSO ADMINISTRATIVO PROTOCOLADO EM 13/10/2021

VALDECIR PRENDEL, já cadastrado eletronicamente, vem, com o


devido respeito, por meio de seu procurador, perante Vossa Excelência,
impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO


LIMINAR

Visando proteger direito líquido e certo seu, indicando como coator a


PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE RECURSO DE BRASÍLIA na
representação do PRESIDENTE DO CONSELHO DE RECURSOS EM
BRASÍLIA, tendo como interessado a UNIÃO (AGU), pelos seguintes
fundamentos fáticos e jurídicos que passa a expor:

I – DOS FATOS

O Impetrante protocolou administrativamente, em 13/11/2021, foi protocolado recurso


junto ao INSS, visto que reúne direito ao benefício previdenciário. Vale registrar, que até a presente
data não foi julgado o recurso administrativo, o que caracteriza total prejuízo ao Impetrante.

O recurso administrativo foi protocolado pelo número 671467980 referente ao NB


42/183.079.504-7.

O julgamento do recurso administrativo é necessário para demonstrar o interesse de agir,


uma vez que o INSS deverá adentrar no mérito do recurso. Na espécie, há claro prejuízo ao
segurado que depende do julgamento do recurso para ingressar com demanda judicial visando
concessão do benefício.
De início, revela que o recurso sequer foi distribuído para uma das juntas de recurso, modo
que, figura como entidade coatora PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE RECURSO DE
BRASÍLIA na representação do PRESIDENTE DO CONSELHO DE RECURSOS EM
BRASÍLIA, tendo como interessado a UNIÃO (AGU).

Ocorre que, já transcorreu mais de 06 meses desde o protocolo do recurso, o que sequer foi
distribuído para uma das Juntas de Recursos.

De modo que já transcorreram mais de 06 meses (180 dias) desde a interposição do recurso
ordinário, sem que houvesse julgamento pela Junta e tampouco qualquer justificativa para tanto,
ensejando o ajuizamento do writ.

II – DO DIREITO

DO CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA

Conforme o artigo 5º, inciso LXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil,


conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
“habeas-corpus” ou “habeas-data”, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

Nesse mesmo sentido é a redação do artigo 1º da Lei 12.016 de 2009 ao assegurar que
conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa
física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de
que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

No caso em tela, o direito líquido e certo está sendo violado por ato ilegal do Presidente do
Conselho de Recursos, eis que até o presente momento não julgou o recurso ordinário
administrativo interposto pelo Segurado, estando seu direito à razoável duração do processo e à
celeridade de sua tramitação violado.

DO INTERESSE DE AGIR

No presente caso, o interesse processual do Impetrante assenta-se na omissão da


Presidência do Conselho da Junta de Recursos que até o momento violou o prazo disposto
na Lei 9.784/99 e não procedeu o julgamento do recurso ordinário administrativo.
Nessa esteira, evidente a presença do trinômio necessidade-utilidade-adequação que
caracteriza o interesse de agir, na medida em que o ato ilegal emanado pelo Administrador somente
poderá ser reparado pela atuação do Poder Judiciário, por meio do processo, instrumento útil e
adequado para persecução deste fim.

Pelo exposto, denota-se que a omissão e a inércia administrativa, implica grave prejuízo ao
seu direito, e assim configura o interesse de agir.

DO MÉRITO

No que se refere ao mérito da presente ação, é desnecessário grande debate acerca do tema,
na medida em que a prática de atos processuais administrativos e respectiva decisão
encontram limites nas disposições da Lei 9.784/99, sendo de cinco dias o prazo para a prática
de atos e de trinta dias para a decisão:
CAPÍTULO XI
DO DEVER DE DECIDIR

Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos
administrativos e sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência.

Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o


prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período
expressamente motivada.

O prazo acima poderá ser prorrogado até o dobro, desde que justificadamente.

Ultrapassado, sem justificativa plausível, o prazo para a decisão, tem-se hipótese cabível
para impetração de mandado de segurança, eis que fere a razoabilidade permanecer o administrado
sem resposta à postulação por tempo indeterminado.

Nesse sentido, observe-se o entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:


PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DETERMINAÇÃO DE
DILIGÊNCIAS PELA 3ª JUNTA DE RECURSOS. DEMORA NO
CUMPRIMENTO DA DECISÃO. PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E DA
RAZOABILIDADE. DIREITO FUNDAMENTAL À RAZOÁVEL DURAÇÃO DO
PROCESSO E À CELERIDADE DE SUA TRAMITAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA.
1. Não se desconhece o acúmulo de serviço a que são submetidos os servidores do INSS,
impossibilitando, muitas vezes, o atendimento dos prazos determinados pelas Leis
9.784/99 e 8.213/91. Não obstante, a demora excessiva no cumprimento das
determinações da 3ª Junta de Recursos, constantes do procedimento administrativo
do impetrante, ao passo que ofende os princípios da razoabilidade e da eficiência da
Administração Pública, bem como o direito fundamental à razoável duração do
processo e à celeridade de sua tramitação, atenta, ainda, contra a concretização de
direitos relativos à seguridade social 2. A Lei n. 9.784/99, que regula o processo
administrativo no âmbito federal, dispôs, em seu art. 49, um prazo de 30 (trinta) dias
para a decisão dos requerimentos veiculados pelos administrados (prorrogável por
igual período mediante motivação expressa). A Lei de Benefícios (Lei nº 8.213/91),
por sua vez, em seu art. 41-A, §5º (incluído pela Lei n.º 11.665/2008), dispõe
expressamente que o primeiro pagamento do benefício será efetuado até 45 (quarenta e
cinco) dias após a data da apresentação, pelo segurado, da documentação necessária a sua
concessão, disposição que claramente tem o escopo de imprimir celeridade ao
procedimento administrativo, em observância à busca de maior eficiência dos serviços
prestados pelo Instituto Previdenciário. Ademais, deve ser assegurado o direito
fundamental à razoável duração do processo e à celeridade de sua tramitação (art. 5º,
LXXVIII, da CF). 3. Mantida a sentença que determinou à Autarquia Previdenciária que
cumprisse a determinação da 3ª Junta de Recursos proferida no processo administrativo
de concessão de benefício previdenciário da parte impetrante. (TRF4 5010134-
47.2018.4.04.7202, TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DE SC, Relator CELSO
KIPPER, juntado aos autos em 10/10/2019)

PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRAÇÃO.


PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. RECURSO. DECISÃO. PRAZO.
DESCUMPRIMENTO. LEI 9.784/99. 1. A Administração Pública direta e indireta
deve obediência aos princípios estabelecidos na Constituição Federal, art. 37, dentre os
quais o da eficiência. 2. A prática de atos processuais administrativos e respectiva
decisão encontram limites nas disposições da Lei 9.784/99, sendo de cinco dias o
prazo para a prática de atos e de trinta dias para a decisão. Aqueles prazos poderão
ser prorrogados até o dobro, desde que justificadamente. 3. Ultrapassado, sem
justificativa plausível, o prazo para a decisão, deve ser concedida a ordem, eis que
fere a razoabilidade permanecer o administrado sem resposta à postulação por
tempo indeterminado. (TRF4, AC 0014420-86.2009.404.7100, Quinta Turma, Relatora
Maria Isabel Pezzi Klein, D.E. 29/03/2010)

Aliado a isso, repise-se que a LEGITIMIDADE PASSIVA é da Presidência do Conselho


de Recursos na representação do Presidente, pois o que se está pleiteando é a apreciação e
julgamento do recurso administrativo interposto pelo Segurado perante a Junta.

A esse respeito:
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.
LEGITIMIDADE PASSIVA. PROCESSO ADMINISTRATIVO. 1. A autoridade
coatora no mandado de segurança é aquela que pratica o ato, de forma omissiva ou
comissiva. 2. Estando a análise do recurso submetida à Junta de Recursos do
Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS é desta Junta a legitimidade
para responder pela apreciação do recurso administrativo. 3. Encaminhada a
notificação para a apresentação de informações à Junta de Recursos diversa da
responsável, por conta de ato não atribuível à impetrante, deve ser anulado o julgamento
para que seja adequadamente processado o feito. (TRF4, AC 5041594-
67.2018.4.04.7100, QUINTA TURMA, Relator ALTAIR ANTONIO GREGÓRIO,
juntado aos autos em 12/12/2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE


SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO PARA JULGAMENTO DE RECURSO
ADMINISTRATIVO CONTRA INDEFERIMENTO DE BENEFÍCIO.
ILEGITIMIDADE PASSIVA DA AUTORIDADE COATORA INDICADA NA
INICIAL. 1. O recurso administrativo interposto pelo segurado Carlos de Santis, em
24/04/2017, foi cadastrado no sistema e-Recursos (processo eletrônico do Conselho de
Recursos da Previdência Social - CRPS) sob o nº 44233.080972/2017-68, situação apta
ao encaminhamento para análise por uma Junta de Recursos da Previdência Social. 2.
Conforme dispõe o parágrafo único do art. 6º do Decreto-Lei 72/66, na redação dada pela
Lei 5.890/73, o Conselho de Recursos da Previdência Social - CRPS integra a estrutura
do Ministério da Previdência Social, órgão da União Federal, o que está regulamentado
no art. 303 do Decreto 3.048/99. 3. Logo, uma vez que a apreciação do recurso pelo
CRPS não se insere na competência jurídica do INSS, é ilegítima a autoridade
coatora eleita no writ (Gerente-Executivo do INSS) para responder em relação à
apreciação do recurso endereçado à Junta de Recursos do CRPS, caso em que o
processo da ação mandamental originária deve ser extinto, sem resolução do mérito, por
ilegitimidade passiva da autoridade coatora apontada na exordial. (TRF4, AG 5058791-
29.2017.4.04.0000, SEXTA TURMA, Relator ARTUR CÉSAR DE SOUZA, juntado aos
autos em 12/04/2018)

Desta forma, passado o prazo legal para julgamento do recurso administrativo, o Segurado
sente-se prejudicado pela demora na análise do seu recurso.

Ademais, não é razoável exigir a espera indefinida para ter seu benefício analisado e
julgado.

Assim, deve ser determinado o imediato julgamento pela Junta de Recurso do CRPS do
INSS, a fim de que seja analisado no prazo máximo de 30 dias, sobretudo tratando-se de direito
líquido e certo, que não demanda dilação probatória e que teve violado o prazo estipulado no art.
4º da Lei 9.784/99.

III – DA TUTELA DE URGÊNCIA

O novo Código de Processo Civil estabelece em seu art. 300 que “A tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano
ou o risco ao resultado útil do processo”.

No presente caso, o direito está manifestamente comprovado, uma vez que o Segurado
interpôs recurso administrativo perante a Junta de Recursos há mais de 180 dias, violando
a lei que regulamenta o processo administrativo no âmbito federal (Lei 9.784/99).

No que concerne ao perigo ou dano ao resultado útil do processo, há que se atentar que o
caráter alimentar do benefício traduz um quadro de urgência que exige pronta resposta do
Judiciário, tendo em vista que nos benefícios previdenciários resta intuitivo o risco de ineficácia
do provimento jurisdicional final.

A respeito do tema:
O princípio constitucional da imediatidade tem a ver com a própria finalidade da
segurança social: remediar ou ajudar a superar situações que ao serem produzidas
por contingências sociais criam problemas ao indivíduo. Para que o socorro seja
verdadeiramente efetivo, é preciso que a ajuda se realize em tempo oportuno, pois
do contrário perderia muito do seu valor. Se a resposta não for imediata, a missão da
Seguridade será cumprida de forma deficiente.[1]
Nas palavras de José Antônio Savaris, a questão crucial diz respeito à irreversível
privação de bem-estar que se agrava com o passar do tempo.[2]

Portanto, imperioso seja determinada, liminarmente, que Junta de Recurso julgue o recurso
interposto pelo Impetrante.

IV – DO PEDIDO

ISSO POSTO, REQUER:

1. O recebimento e o deferimento da presente peça inaugural;

2. A concessão de gratuidade da justiça, tendo em vista que a Autora não tem como suportar as
custas judiciais sem o prejuízo de seu sustento e de sua família;

3. A concessão tutela de urgência em caráter liminar para determinar o imediato julgamento do


recurso ordinário administrativo referente ao protocolo do requerimento 671467980 pelo
PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE RECURSO DE BRASÍLIA na representação do PRESIDENTE DO
CONSELHO DE RECURSOS EM BRASÍLIA, tendo como interessado a UNIÃO (AGU);

4. A notificação da autoridade coatora, PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE RECURSO DE BRASÍLIA na


representação do PRESIDENTE DO CONSELHO DE RECURSOS EM BRASÍLIA, tendo como
interessado a UNIÃO (AGU);

5. A CONCESSÃO DA SEGURANÇA a fim de confirmar a tutela de urgência, para determinar o


julgamento do recurso administrativo interposto pelo Impetrante referente ao protocolo do
requerimento 671467980, determinando que a PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE RECURSO DE
BRASÍLIA na representação do PRESIDENTE DO CONSELHO DE RECURSOS EM BRASÍLIA para que
julgue o recurso, tendo como interessado a UNIÃO (AGU), sob pena de multa diária.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Dá à causa o valor de R$ 1.000,00.
Uruguaiana, 03 de maio de 2022.

Alberto Otávio Desidério Machado


OAB-RS 113.419

[1] Ruprecht apud Savaris. Direito Processual Previdenciário. Curitiba: Alteridade,


2018. p. 465/466.

[2] Savaris, José Antônio. Direito Processual Previdenciário. Curitiba: Alteridade, 2018.
p. 466.

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