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INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

GERENCIA EXECUTIVA BELEM


AV NAZARE - 79, 6º ANDAR - NAZARE - CEP: 66035445 - BELEM/PA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO


______

MANDADO DE SEGURANÇA nº Ação Judicial: 10044645820194013900

O INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, por intermédio de seu GERENTE-EXECUTIVO DO INSS


BELÉM/PA vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, prestar as seguintes INFORMAÇÕES:

I. DA SÍNTESE DO PEDIDO

Trata-se de mandado de segurança impetrado com o escopo de compelir a Autoridade Impetrada, inclusive
liminarmente, a proferir decisão nos autos do protocolo de requerimento nº / 53494237204.

Aduz, em síntese, que protocolou pedido administrativo para concessão de benefício previdenciário, em
04/04/2019, mas que até a presenta data não houve análise do requerimento pela Administração. Alega, portanto,
já haver escoado o prazo limite para emissão de decisão acerca do pleito.

Conforme será demonstrado a seguir, a pretensão deduzida não pode ser acolhida, pois destituída de qualquer
fundamento jurídico.

II. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA: AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ E CERTEZA – NECESSIDADE DE DILAÇÃO


PROBATÓRIA

Na via processual constitucional do mandado de segurança, a liquidez e certeza do direito devem vir demonstradas
initio litis, não comportando discussão sobre a matéria objeto da prova no âmbito do processo administrativo.
Nesse sentido, a prova pré-constituída é condição essencial e indispensável para a propositura de mandado de
segurança que vise a proteger direito líquido e certo violado ou ameaçado por ilegalidade ou abuso de poder de
autoridade pública. Isto porque é uma ação de rito especial que pressupõe a pronta verificação, sem dilação
probatória, da ilegalidade ou abuso de poder cometido.

Nessa senda, a existência de eventuais entraves ou óbices que pudessem criar obstáculos a uma regular
tramitação do processo administrativo é matéria que demanda dilação probatória, já que haveria a
necessidade de demonstrar quais os percalços que motivaram o suposto atraso na decisão administrativa
neste caso concreto. E o mandado de segurança constitui-se via imprópria para esta discussão, já que, calha
repetir, não admite dilação probatória. (Precedentes jurisprudenciais: TRF-2ª REGIÃO, AMS nº 2001.02.01.036636-
2, Relator: Des. Fed. Raldênio Bonifácio Costa, 5ª Turma, decisão unânime, DJU de 23/09/2002, página: 320; TRF – 2ª
REGIÃO - AMS nº 98.02.22961-0/RJ, Relator Des. Fed. J. E. Carreira Alvim, 4ª Turma, decisão unânime, DJU de
25.03.1999.) Dessa forma, deve ser extinto o presente writ por ausência de prova pré-constituída.

A jurisprudência supratranscrita destaca com clareza que a estreita via do mandado de segurança não comporta o
pedido postulado na inicial, uma vez que é necessária a produção de provas para demonstrar cabalmente se houve
ou não justificativa para o eventual atraso na decisão administrativa.

Tais questionamentos, para serem regularmente respondidos, demandariam uma fase probatória própria, o que
demonstra a absoluta ausência de direito líquido e certo.

De todo o exposto, é de se reconhecer a impropriedade da via eleita, não só pela ausência dos requisitos
necessários à caracterização do direito líquido e certo, mas também pela indisfarçável necessidade de dilação
probatória no caso presente, devendo ser extinto o feito sem julgamento de mérito.
Nos termos do art. 5º, LXIX, da Constituição Federal/1988, 'conceder-se-á mandado de segurança para proteger
direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público'.
Com efeito, o mandado de segurança é uma ação constitucional de rito sumário, para proteção de direitos
individuais ou coletivos, violados ou ameaçados por ato administrativo ilegal, o que não é o caso descrito nestes
autos.

Assim, a presente demanda viola, ainda, o art. 1º da Lei nº 12.016/2009:

Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica
sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam
quais forem as funções que exerça.
Deve o feito, portanto, ser extinto sem resolução do mérito, conforme prescreve o art. 485, IV, do Código de
Processo Civil c/c art. 10 da Lei 12.016/09.

III. DA ALEGADA DEMORA NA APRECIAÇÃO DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO PELO INSS.


IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE PRAZO POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTO LEGAL. NECESSIDADE DE
ADEQUAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DIANTE DE CIRCUNSTÂNCIAS PECULIARES

A obtenção de benefício perante o Regime Geral de Previdência Social – RGPS ou a solicitação da


emissão/retificação de Certidão de Tempo de Serviço requer do segurado a apresentação de requerimento
administrativo capaz de permitir à Administração a avaliação do cumprimento dos requisitos previstos em lei,
realizando a verdadeira execução da política pública.

Não se pode perder de vista que a ausência do ato administrativo impede, por regra, a busca da tutela jurisdicional,
na medida em que se deve resguardar a atuação dos Poderes dentro das searas de competências definidas pelo
legislador constitucional.

O Supremo Tribunal Federal decidiu, sob a sistemática de repercussão geral, que era imprescindível a manifestação
administrativa antes do segurado instar o Poder Judiciário sobre o pretenso direito a benefício previdenciário:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO E INTERESSE


EM AGIR. 1. A instituição de condições para o regular exercício do direito de ação é compatível com o art. 5º,
XXXV, da Constituição. Para se caracterizar a presença de interesse em agir, é preciso haver necessidade de ir
a juízo. 2. A concessão de benefícios previdenciários depende de requerimento do interessado, não se
caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se excedido
o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio requerimento não se
confunde com o exaurimento das vias administrativas. 3. A exigência de prévio requerimento administrativo
não deve prevalecer quando o entendimento da Administração for notória e reiteradamente contrário à
postulação do segurado. 4. Na hipótese de pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de
benefício anteriormente concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a prestação mais
vantajosa possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo – salvo se depender da análise de
matéria de fato ainda não levada ao conhecimento da Administração –, uma vez que, nesses casos, a conduta
do INSS já configura o não acolhimento ao menos tácito da pretensão. 5. Tendo em vista a prolongada
oscilação jurisprudencial na matéria, inclusive no Supremo Tribunal Federal, deve-se estabelecer uma fórmula
de transição para lidar com as ações em curso, nos termos a seguir expostos. 6. Quanto às ações ajuizadas até
a conclusão do presente julgamento (03.09.2014), sem que tenha havido prévio requerimento administrativo
nas hipóteses em que exigível, será observado o seguinte: (i) caso a ação tenha sido ajuizada no âmbito de
Juizado Itinerante, a ausência de anterior pedido administrativo não deverá implicar a extinção do feito; (ii)
caso o INSS já tenha apresentado contestação de mérito, está caracterizado o interesse em agir pela
resistência à pretensão; (iii) as demais ações que não se enquadrem nos itens (i) e (ii) ficarão sobrestadas,
observando-se a sistemática a seguir. 7. Nas ações sobrestadas, o autor será intimado a dar entrada no
pedido administrativo em 30 dias, sob pena de extinção do processo. Comprovada a postulação
administrativa, o INSS será intimado a se manifestar acerca do pedido em até 90 dias, prazo dentro do qual a
Autarquia deverá colher todas as provas eventualmente necessárias e proferir decisão. Se o pedido for
acolhido administrativamente ou não puder ter o seu mérito analisado devido a razões imputáveis ao próprio
requerente, extingue-se a ação. Do contrário, estará caracterizado o interesse em agir e o feito deverá
prosseguir. 8. Em todos os casos acima – itens (i), (ii) e (iii) –, tanto a análise administrativa quanto a judicial
deverão levar em conta a data do início da ação como data de entrada do requerimento, para todos os
efeitos legais. 9. Recurso extraordinário a que se dá parcial provimento, reformando-se o acórdão recorrido
para determinar a baixa dos autos ao juiz de primeiro grau, o qual deverá intimar a autora – que alega ser
trabalhadora rural informal – a dar entrada no pedido administrativo em 30 dias, sob pena de extinção.
Comprovada a postulação administrativa, o INSS será intimado para que, em 90 dias, colha as provas
necessárias e profira decisão administrativa, considerando como data de entrada do requerimento a data do
início da ação, para todos os efeitos legais. O resultado será comunicado ao juiz, que apreciará a subsistência
ou não do interesse em agir. (RE 631.240/MG, Pleno, Rel. Min. Roberto Barroso, jul. 03/09/2014, DJe
07/11/2014)
O que pretende a parte impetrante é a imposição judicial de prazo intransponível de avaliação do requerimento
pela Autarquia, sem que sejam levados em considerações os critérios, as peculiaridades e as dificuldades inerentes
ao desempenho das funções administrativas pelo Poder Público, o que não se pode admitir pelas razões abaixo
expostas.

IV. DA OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA IMPESSOALIDADE E DA IGUALDADE. ARTIGO 37, CAPUT,


CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Carta Magna de 1988, também conhecida como Constituição Cidadão, estabelece a igualdade no rol de direitos e
garantias fundamentais, estando o referido conceito espalhado por diversas previsões constitucionais, desde o
preâmbulo até a inserção como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. Conforme se
observa do art. 5º:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Importante asseverar que a concretização da isonomia resulta não apenas em tomar por critério aspectos
meramente formais (igualdade formal), mas sim uma efetiva garantia de tratamento igualitário (igualdade material),
mantendo-se tratamento equânime entre todos os integrantes da sociedade.

Na mesma trilha, o legislador constituinte originário entendeu pertinente incluir a impessoalidade como um dos
princípios norteadores da Administração Pública, senão vejamos:

Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
Portanto, não há como o Poder Público, no exercício do seu mister, distanciar-se das balizas estruturantes do
tratamento isonômico e impessoal, estando a referida norma voltada para todos os Poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário).

Ao tratar do princípio da impessoalidade, urge trazer à baila as lições de Celso Antônio Bandeira de Melo:

Nele se traduz a ideia de que a Administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações,
benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismos nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades
pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e muito menos interesses
sectários, de facções ou grupos de qualquer espécie[1].

No que importa ao tema em debate, garantir na via da tutela jurisdicional que o requerimento da parte
impetrante seja apreciado de forma antecedente a outros pedidos administrativos, possivelmente mais
antigos, acarreta o tratamento díspar com aqueles cidadãos que aguardam o pronunciamento da Autarquia
Previdenciária, constituindo uma verdadeira burla na fila de análise dos requerimentos.

A maioria dos requerentes serão prejudicados porque não foram ao Poder Judiciário e aguardam a decisão
administrativa sobre o seu direito ao benefício previdenciário/assistencial ou a emissão/retificação de CTC, ao passo
que a Autarquia terá que redirecionar sua força de trabalho para atender à decisão judicial que determinou a
análise do requerimento em 30 ou 45 dias.

Por outro lado, a persistir o entendimento de ser válida a imposição dos prazos acima indicados, o Poder
Judiciário vai atrair para seus escaninhos todos os requerimentos administrativos dirigidos ao INSS, diante de
problemática administrativa momentânea e pontual, abarrotando ainda mais as filas de processos judiciais.
Nesse contexto, não é justo que se permita a determinado segurado, mais instruído e/ou com mais condições de
acesso ao Judiciário, o direito de análise célere do seu requerimento administrativo em detrimento daqueles
cidadãos que aguardam o pronunciamento da Autarquia Previdenciária.

Pode-se afirmar com clareza que a concessão de ordens mandamentais como a que ora se pretende, importa na
instituição de uma lista específica de segurados que terão uma injustificada prioridade na análise do seu
requerimento, em detrimento da grande maioria dos segurados da Previdência Social, que aguada a apreciação do
seu pedido em obediência a ordem cronológica de apresentação à Autarquia.

Entender pela possibilidade de imposição desta ultrapassagem na fila temporal de análise dos pleitos de
benefícios/serviços previdenciários viola o disposto nos artigos 5º, caput, e 37, caput, ambos da Constituição
Federal de 1988, os quais garantem o tratamento isonômico e impessoal a todos os brasileiros. Repise-se. Retirar os
processos dessa ordem cronológica, porquanto eventualmente ultrapassado o prazo previsto para o servidor
analisar e julgar o pedido administrativo não é, de forma alguma, solução razoável e racional, e criará mais
embaraços ao bom andamento do serviço público.

As Agências da Previdência Social estão sendo obrigadas a deslocar servidores que poderiam estar analisando e
decidindo os processos administrativos na ordem cronológica, para simplesmente retirar da lista e analisar em
separado os processos de impetrantes com liminares deferidas, sem que isso implique em qualquer acréscimo de
produtividade. Muito pelo contrário, a retirada da análise na lista de ordem cronológica implica em maior tempo
gasto para análise dos processos administrativos como um todo.

Assim, o pedido do INSS é que o juízo compreenda que embora possa haver prazo extrapolado na via
administrativa, a Autarquia deve atender o administrado de forma CRONOLÓGICA, eis que ao processo
administrativo federal se aplica SUPLETIVAMENTE o CPC (arts. 12 e 15 do CPC).

A antecipação do atendimento requerida pela parte impetrante, se deferida pela autoridade administrativa ou
judicial, inexoravelmente importará em quebra da isonomia, vez que outros requerentes/interessados terão seu
serviço previdenciário postergado. Não há fundamentos jurídicos para que se possa praticar ato administrativo
nesse sentido, uma vez que o INSS deve tratar impessoalmente os requerentes de serviços previdenciários. Os
segurados/beneficiários mais favorecidos economicamente, que se valem de advogados, não podem ter ainda
mais privilégios que os demais que precisam até com mais urgência da cobertura pretendida, sob pena de
violação ao princípio da eficiência, impessoalidade e igualdade de direitos, previstos no caput do art. 5º e 37
da CF.

Assim, a fim de não privilegiar a parte impetrante em detrimento de todos os demais segurados da Previdência,
faz-se mister a denegação da segurança, objetivando evitar seja “FURADA A FILA” do INSS, em desrespeito
aos demais administrados, tendo como base a aplicação supletiva dos arts. 12 e 15 do CPC ao processo
administrativo.

V. DOS PRINCÍPIOS DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E DA RESERVA DO POSSÍVEL

No sistema de tripartição dos poderes de Montesquieu, compete ao Poder Executivo velar pela execução das
normas, sobretudo em se tratando da execução de política pública, cuja definição é feita pelos protagonistas
escolhidos pela sociedade, no caso os agentes políticos do Executivo e do Legislativo.

A Constituição Federal claramente estabelece que os Poderes são independentes e harmônicos entre si (art. 2º), de
sorte que não existe qualquer espaço para submissão entre quaisquer deles, existindo definições normativas sobre
as suas searas de atuação.

No caso presente, dúvidas não há quanto ao dever-direito da Autarquia Previdenciária em apreciar os


requerimentos administrativos de benefícios e serviços previdenciários/assistenciais, sendo esta a sua função
essencial definida pelo legislador, estando dentro da seara de competência do Poder Executivo.

Acontece que os recursos públicos são finitos e a Administração precisa eleger prioridades de atuação, inclusive
sendo necessário tempo para realizar as devidas adequações necessárias para garantir o desempenho satisfatório
de suas atividades.

Com esse propósito, e tendo em vista a carência de servidores que a Autarquia enfrenta, foram traçadas as
seguintes prioridades para 2019:

Manter os bons indicadores de atendimento:


Aumentar a produtividade na análise de benefícios;
Reagrupar as linhas de novos requerimentos e de despachos;
Reduzir o tempo médio de despacho.
Nesta toada, a Autarquia Previdenciária tem adotado medidas para solucionar eventuais atrasos nas análises de
benefícios, tais como:

Criação do INSS DIGITAL (https://www.inss.gov.br/inss-digital-nova-forma-de-atender-


aossegurados/);
Implantação do Gerenciador de Tarefas – GET:
Implantação das Centrais de Análises de Benefícios, visando ganhar eficiência diante da expertise
dos seus integrantes (Portaria Conjunta nº 2/DIRBEN/DIRAT/INSS, de 23 de outubro de 2018);
Implementação de ferramentas de concessão automática de benefícios (PORTARIA CONJUNTA Nº
6/PRES/DIRBEN/DIRAT/INSS, DE 27 DE JULHO DE 2017);
Com a edição da Medida Provisória nº 871/2019, convertida na Lei nº 13.846, de 19 de junho de 2019, restou
prevista a concessão de retribuição pecuniária (“bônus”) para que os servidores realizem a análise de benefícios em
período após a jornada ordinária de trabalho, visando otimizar a atuação do INSS e garantir celeridade no
atendimento das demandas administrativas dos segurados.

O Projeto de Transformação Digital do INSS é resultado de uma inédita parceria interinstitucional entre o Instituto,
a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, a Secretaria de Governo Digital do
Ministério da Economia, a Secretaria Especial de Modernização do Estado da Presidência da República e a
DATAPREV, institucionalizada por meio da Portaria Interinstitucional nº 4/SPREV/SGD/INSS/DATAPREV, de 10 de
abril de 2019, que definiu as diretrizes e ações do projeto.

São objetivos centrais do projeto: gerar mais comodidade ao cidadão, permitindo-lhe acessar praticamente todos
os serviços previdenciários de forma remota; franquear ao INSS condições de aprimorar e otimizar a gestão dos
recursos humanos de que dispõe e garantir mais segurança e higidez aos processos internos de combate a
irregularidades na concessão e manutenção de benefícios.

O planejamento conjunto e interinstitucional de Transformação Digital do INSS e o esforço para o atendimento


tempestivo já começam a gerar resultados, os quais serão demonstrados graficamente a seguir.

Desde julho/2019, 90 dos 96 serviços do INSS passaram a estar disponíveis de forma digital e remota, tanto pelo
Meu INSS quanto pela Central 135. Apenas 6 serviços prestados pelo INSS continuam exigindo a presença do
segurado, como a perícia médica, a avaliação social e a prova de vida, por exemplo.

Todos os requerimentos ao INSS podem ser feitos de forma remota (Meu INSS e 135), inclusive pedidos de
aposentadoria, de pensão, de salário maternidade, de benefícios assistenciais, de revisão e de recurso. Da mesma
forma, todos os serviços de manutenção de benefícios já existentes foram disponibilizados para acesso digital, tais
como: alteração da forma de pagamento, atualização de dados cadastrais, bloqueio de benefícios para empréstimos
consignados, exclusão de descontos de mensalidades associativas e emissão de extratos, entre outros.

Também pelo Meu INSS o segurado passou a ter acesso a uma nova ferramenta de simulação de aposentadoria,
por meio da qual consegue verificar se os requisitos para a concessão de sua aposentadoria por idade ou por
tempo de contribuição já estão preenchidos, e também se inteirar sobre o valor provável do benefício na data da
simulação, caso as condições legais estejam atendidas. Esse novo serviço tem significativo potencial para reduzir os
atendimentos presenciais nas Agências.

Com os 90 (dos 96) serviços digitalizados, cerca de 700 mil atendimentos, que obrigatoriamente eram realizados
todos os meses nas Agências físicas, podem ser realizados pelo telefone ou pela internet. Com isso, a Secretaria de
Governo Digital, do Ministério da Economia, estima uma economia de R$ 147 milhões para o INSS e de R$ 653
milhões para os cidadãos, que não mais precisam se deslocar a uma Agência para apresentar requerimentos à
Autarquia.

Outrossim, o planejamento de transformação digital não desconsiderou o fato de que parte significativa da
população atendida pelo INSS tem algum nível de vulnerabilidade digital e, portanto, dificuldade de acessar e
operar algumas das novas ferramentas, razão pela qual, ao lado do Meu INSS, a Central 135 – atendimento
telefônico gratuito – foi inteiramente reformulada. No modelo anterior, o segurado precisava ligar para a Central
135 a fim de solicitar o agendamento do atendimento presencial; agora, na mesma oportunidade em que mantiver
contato telefônico com a Central, o segurado já poderá apresentar, por telefone, o requerimento que desejar. Em
outras palavras, ao invés de solicitar uma data para formalizar o pedido de aposentadoria, o segurado já pode
formalizar tal requerimento na mesma ligação telefônica. O procedimento, portanto, foi radicalmente simplificado.

Seja pelas medidas preventivas adotadas para minimizar as potenciais dificuldades do segurado no uso de
ferramentas digitais, seja pela real simplificação dos procedimentos, o fato é que houve enorme adesão dos
segurados à nova sistemática de interação com o INSS, conforme demonstra o gráfico abaixo:

No início da execução do Projeto de Transformação Digital, em maio/2019, praticamente todos os requerimentos


ao INSS eram feitos de forma presencial (linha vermelha), ao passo que os canais remotos (Meu INSS e Central 135)
tinham participação inexpressiva no conjunto de requerimentos recebidos (linhas verde e amarela). Atualmente, as
tradicionais Agências físicas já se tornam o canal menos buscado pelos segurados para a apresentação de
requerimentos.

Na esteira do que sucede no âmbito dos serviços privados, onde a utilização das ferramentas de atendimento
remoto tem prevalecido, o atendimento presencial nas Agências caminha, rapidamente, para se tornar uma forma
residual de acesso ao INSS. Ressalta-se que os quatro marcos temporais destacados no gráfico acima registram as
etapas, iniciadas em maio e concluídas em julho, de transformação digital dos serviços. Em 10/07 (P4), todos os 90
serviços já estavam integralmente disponíveis pela via digital.

O INSS tem registrado mais de 640 mil visitas diárias ao Meu INSS, distribuídas ao longo das 24 horas do dia e dos
7 dias da semana. Têm se tornado cada vez mais usuais visitas ao site e apresentação de requerimentos tanto
durante o período noturno quanto nos finais de semana. Esse dado demonstra que o cidadão compreendeu e
abraçou espontaneamente a transformação digital da Autarquia.

O alcance das mudanças empreendidas também pode ser visualizado no gráfico a seguir, que demonstra de forma
bastante didática a inversão ocorrida desde maio de 2019, a partir de quando é possível constatar um
encolhimento radical do percentual de pedidos apresentados perante os canais físicos, assim como um aumento
inversamente proporcional do percentual de requerimentos formulados pelas novas vias digitais. Com efeito, veja-se
que, já em outubro do corrente ano, os requerimentos formulados por meio dos canais remotos respondiam por
90% das solicitações endereçadas ao INSS, enquanto apenas 10% do total de pedidos foi apresentado
presencialmente, em uma das Agências físicas do Instituto:
A busca dos segurados pelos canais remotos do INSS não tem se restringido à formulação de requerimentos de
reconhecimento de direitos. Os segurados, igualmente, estão buscando acessar, de forma digital, serviços simples,
que representavam parte expressiva do volume de atendimentos presenciais nas Agências, como a emissão do
extrato do benefício, por exemplo. A solicitação desse serviço específico já teve uma expressiva redução nas
Agências desde maio/2019:

E antes que se imagine que o forte redimensionamento da lotação e o incremento do número de servidores
dedicados à análise de requerimentos – medidas já explanadas acima – contribuirá para a deterioração de alguns
indicadores de atendimento, como o tempo de espera desde o agendamento até o efetivo atendimento (naqueles
nos quais o agendamento ainda é necessário), convém registrar que, em agosto, o INSS registrou o menor prazo
de espera do agendamento de sua história: apenas 7 dias, o que, na prática, pode ser considerado atendimento em
tempo real:

Ao lado desses indicadores de atendimento, que refletem o sucesso do Projeto de Transformação Digital do INSS,
também vale destacar que são igualmente exitosos os resultados relativos ao aumento da produtividade na análise
dos requerimentos de concessão de benefícios. A produtividade global na análise de benefícios quase dobrou nesse
mesmo período, por muito pouco não atingindo a marca de um milhão de decisões (concessões ou indeferimentos)
em apenas um mês.

O crescimento do número de decisões administrativas foi determinante para que o INSS conseguisse não apenas
alcançar o necessário reagrupamento das linhas de requerimento e de decisões, mas também a sua inversão, com
volume de decisões superior à quantidade de novos requerimentos. Esse aspecto é fundamental para a diminuição
do estoque de benefícios pendentes de análise e também para a redução do tempo de espera pela decisão. O
gráfico abaixo permite uma comparação visual entre o cenário de 2018 e o observado em 2019:

O comparativo entre o número de decisões administrativas (análises concluídas com a concessão ou o


indeferimento) e a quantidade de novos requerimentos (criados) no mês de agosto, consoante o gráfico abaixo,
demonstra de forma irretorquível a verdadeira revolução de produtividade por que vem passando o INSS,
sobretudo quando esses dados são confrontados com os oriundos do mesmo período de 2018:

Enquanto em agosto de 2018 o INSS não conseguia dar vazão sequer ao número de requerimentos que aportavam
na Autarquia, o que resultou em um déficit naquele mês da ordem de 84 mil processos, em agosto de 2019, com
quase 6 mil servidores a menos, a produção do Instituto superou a demanda, gerando um saldo positivo mensal
superior a 100 mil processos.
Bastante sintomática nesse processo é a produtividade aferida nos finais de semana, como resultado de algumas
das ações da Estratégia Nacional de Atendimento Tempestivo – ENAT, instituída pela RESOLUÇÃO INSS 695 de
08/08/2019 (teletrabalho, metas de produtividade e bônus). Na verdade, a transformação digital experimentada
pelo INSS possibilitou o surgimento de um fluxo cada vez mais ordinário de requerimentos recebidos durante os
finais de semana (pelo Meu INSS e pela Central 135), demanda que hoje a Autarquia só consegue absorver e
responder em função das inovações implementadas no âmbito da ENAT.

Conforme expressa o gráfico a seguir, até mesmo nos finais de semana a produção tem sido maior do que o
volume de novos requerimentos:

Acrescente-se que os resultados acima foram obtidos a despeito do severo desfalque ocorrido no quadro de
servidores do Instituto durante os últimos anos, ilustrado pelo gráfico a seguir, o que só corrobora a importância
das ações desenvolvidas no contexto da ENAT e da Transformação Digital.

Entre as principais ações do projeto, também está a concessão automática de benefícios, modelo em que o
requerimento é processado e decidido eletronicamente, sem interação humana e de forma instantânea, em muitos
casos em apenas 60 segundos após sua formalização. A concessão automática é um legado definitivo da
transformação digital do INSS.

Assim, é inegável que o conjunto de medidas acima descrito está contribuindo para a melhoria dos
indicadores de atendimento, de análise de benefício e de tempo médio de decisão. Embora ainda haja muito a
ser feito, a clara inversão de tendência das curvas estatísticas já é suficiente para demonstrar que a execução
do planejamento tem surtido efeito, sobretudo após a instituição da ENAT. Ademais, há outras providências
em curso que, somadas àquelas já detalhadas em linhas precedentes, farão com que o INSS continue a evoluir
e a apresentar resultados ainda mais significativos.

Vê-se, portanto, que o INSS não tem ficado inerte com a problemática em questão, porém é indubitável a
necessidade de tempo para adoção das adequações necessárias ao ordenamento da atuação administrativa.

Neste ponto, elucidativo foi a manifestação do Desembargador Federal Edilson Pereira Nobre Júnior, do Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, na condição de relator do processo nº 0801806-81.2014.4.05.8500, ao dispor sobre a
atuação da Administração dentro de suas possibilidades:
“Não se pode olvidar que o princípio da eficiência não pode ser concebido senão na intimidade do princípio
da legalidade, como bem diz Celso Antonio Bandeira de Mello (Curso De Direito Administrativo, 26ª edição,
Ed. Malheiros, 2009, p. 122-123). Ademais, o princípio da eficiência exige que a Administração atenda a
contento os pleitos dos administrados, mas de acordo com os meios e recursos de que aquela dispõe. É
sabido que a Administração não é inteiramente livre, não podendo o gestor investir funcionários livremente
ou, da mesma forma, realizar contratos administrativos. A medida imposta pelo Judiciário, sem atentar para as
condições dos órgãos administrativos, configura uma intromissão indevida na função administrativa. No caso
concreto, seria preciso a admissão de mais peritos, o que, além de exigir cargos vagos e dotação
orçamentária, requer a realização de concurso, o qual não se realiza num só átimo, singularidades do
cotidiano administrativo que parece o MPF desconhecer por completo.” Destarte, cai como uma luva
encomendada no presente caso o enquadramento do princípio da reserva do possível feito pelo Ministro
Teori Zavaski quando do julgamento do Recurso Extraordinário nº 580.252/MS (jul. 16/02/2017): Faz sentido
considerar tal princípio em situações em que a concretização de certos direitos constitucionais fundamentais a
prestações, nomeadamente os de natureza social, depende da adoção e da execução de políticas públicas
sujeitas à intermediação legislativa ou à intervenção das autoridades administrativas. Em tais casos, pode-se
afirmar que o direito subjetivo individual a determinada prestação, que tem como contrapartida o dever
jurídico estatal de satisfazê-la, fica submetido, entre outros, ao pressuposto indispensável da reserva do
possível, em cujo âmbito se insere a capacidade financeira do Estado de prestar o mesmo benefício, em
condições igualitárias, em favor de todos os indivíduos que estiverem em iguais condições.”
Ora, não se mostra crível impor ao INSS a análise em prazo exíguo do requerimento administrativo de determinado
segurado por ordem judicial, quando inexistem condições fáticas e momentâneas de aplicar o mesmo
entendimento para todos os demais casos pendentes de apreciação.

Ainda no sentido da necessária observância ao pilar republicano da Separação dos Poderes, em recentíssima
decisão monocrática do ilustre relator Ministro Herman Benjamin, da 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça,
asseverou que:

Aprioristicamente, deve-se destacar que não se discute o dever da autarquia de realizar perícia em tempo
razoável para a obtenção, pelos interessados, de benefícios previdenciários. Entretanto, é importante
proceder com ressalvas naquilo que diz respeito à intervenção do Judiciário na esfera administrativa. O
dispositivo legal supostamente violado possui a seguinte redação: Lei 8.213/1991 Art. 41-A. (...).§ 5º O primeiro
pagamento do benefício será efetuado quarenta e cinco dias após a data da apresentação, pelo segurado, da
documentação necessária a sua concessão. (...) Carece de fundamento jurídico sustentável, portanto, a fixação
de prazo máximo para realização de perícia médica pretendida pelo ora recorrente, não se aplicando ao caso
concreto o §5º do art. 41-A da Lei 8.213/1991. A fixação, pelo Judiciário, de prazo máximo para realização
de perícia médica sem que haja dispositivo legal expresso prevendo tal prazo viola, portanto, o princípio
da Separação dos Poderes, com o que não se há de concordar. O STJ entende que o princípio da reserva
do possível requer considerações sobre a situação econômico-financeira do ente público envolvido. Ou seja , a
análise da situação fática por que passa o ente público não pode ser ignorada quando da determinação da
implementação imediata de políticas públicas por parte do Poder Judiciário. Nesse sentido: AGRAVO
REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO.INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. OMISSÃO E RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA.
PRINCÍPIO DA RESERVADO POSSÍVEL. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7-STJ.1. Caracterizado o ato ilícito
ensejador da possível responsabilidade civil estatal em sua modalidade omissiva, faz-se necessária a
verificação do elemento subjetivo (dolo ou culpa) do ente público.2. A seu turno, também a aplicabilidade do
princípio da reserva do possível requer considerações sobre a situação econômico-financeira do ente público
envolvido. 3. Essas duas ordens de investigação importam em detida análise da situação de fato por que
passa o ente público - seja em relação à administração, seja em relação às finanças -, esbarrando, portanto,
no óbice da Súmula 7 deste Tribunal.3. Agravo regimental não-provido.(AgRg no Ag 1.014.339/MS, Ministro
Mauro Campbell Marques,Segunda Turma, DJe 24/9/2008). Há de ser observados os princípios da reserva do
possível e da proporcionalidade. Por isso, não pode o Judiciário determinar providências sem previsão na lei
nem pode ignorar a presunção de legitimidade dos atos administrativos. O cumprimento dos princípios da
legalidade, da eficiência, da impessoalidade e da moralidade recomenda não ir além da previsão legal
nem desconsiderar as legítimas escolhas do administrador que não tenham características
discriminatórias ou contrárias à moralidade administrativa. Ademais, não se pode descurar que a medida
exigida pela recorrente pode trazer graves consequências, como o pagamento indevido a segurados e o
aumento da quantidade de fraudes à Previdência Social. Também é preciso levar em consideração as medidas
adotadas pelo INSS, trazidas aos autos, para melhorar as condições de atendimento no Estado de Sergipe, o
que afasta a alegação de inércia da Administração. Por conseguinte, não se pode fazer prevalecer o
princípio da eficiência, emasculando o princípio da legalidade. Pelo exposto, nega-se provimento ao
Recurso Especial. (Ação Civil Pública. Recurso Especial nº 1.818.579/SE, publicada no DJe de 1º de julho de
2019)
Nesse contexto, atenta contra a separação dos poderes à imposição pelo Poder Judiciário de realização pelo INSS
de análise dos requerimentos administrativos em 30 ou 45 dias, estando esta avaliação na seara da reserva de
administração, utilizando-se das ferramentas disponíveis ao Poder Público.

VI. DA INAPLICABILIDADE DOS PRAZOS DEFINIDOS NOS ARTIGOS 49 DA LEI Nº 9.784/1999 E 41-A DA LEI Nº
8.213/1991 PARA OS FINS PRETENDIDOS PELA IMPETRANTE

Os segurados têm corriqueiramente invocado as disposições da Lei nº 8.213/91 e da Lei de Processo Administrativo
Federal (Lei nº 9.784/99) como sustentáculos normativos para a imposição de prazo peremptório de análise dos
requerimentos administrativos pelo INSS.

Acontece que os diplomas legais em questão não dispõem sobre a temática ora em debate, conforme se passa a
expor.

Inicialmente, merece colação os dispositivos legais que supostamente garantem a pretensão da impetrante:

Lei nº 8.213/91
Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do
salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com
base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE. (Incluído pela Lei nº 11.430, de 2006)
[...]
§ 5o O primeiro pagamento do benefício será efetuado até quarenta e cinco dias após a data da
apresentação, pelo segurado, da documentação necessária a sua concessão. (Incluído pelo Lei nº 11.665, de
2008)
Lei nº 9.784/99
Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias para
decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente motivada.
No que concerne ao disposto à Lei 8.213/91, é de bom alvitre inferir que a referida norma não impõe prazo
peremptório para análise do requerimento administrativo, com marco inicial a partir da apresentação do mesmo à
Autarquia Previdenciária.

Em verdade, o que a legislação traz é um prazo mínimo para início do pagamento administrativo após a integral
disponibilização da documentação necessária à concessão do benefício, o que exige, sem sombra de dúvidas, uma
análise preliminar pela Administração.

Ou seja, trata-se de prazo contado da conclusão da análise administrativa, quando já se definiu o direito ao
benefício com a averiguação da apresentação pelo segurado de todas as informações necessárias, para que o INSS
inicie o pagamento.

Com relação ao artigo 49 da Lei nº 9.784/99, da leitura do dispositivo já se evidencia que o referido prazo de 30
dias não é o lapso temporal de que dispõe a Administração para iniciar e concluir o processo administrativo, mas
sim de prazo concedido para decidir após a conclusão de toda instrução processual.

Ora, no caso em apreço sequer ocorreu a integral instrução processual, muito menos a sua conclusão, razão
pela qual inaplicável o prazo de 30 dias como lapso temporal máximo de apreciação de requerimento.

VII. DAS PROVIDÊNCIAS ADMINISTRATIVAS PARA SOLUÇÃO DE DESAFIOS: AUSÊNCIA DE INÉRCIA DA


ADMINISTRAÇÃO

Conforme apontado em linhas pretéritas, longe de se admitir que o INSS disporia de prazo ad eternum para
apreciar os requerimentos formulados pelos segurados, até porque se reconhece a importância da política pública
previdenciária e assistencial para garantia de vida digna aos cidadãos.
No entanto, situações excepcionais merecem tratamento especial, inclusive pelo Poder Judiciário, o qual não pode
se furtar em avaliar as consequências de suas decisões na organização da Autarquia Previdenciária, sob pena de
instaurar caos administrativo em evidente prejuízo a todos os segurados.

Aplica-se ao caso o disposto no artigo 21 e 22 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, in verbis:
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências
jurídicas e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses
gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades
do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos
dos administrados.
Nesse contexto, conforme visto, o INSS tem adotado providências para regularização da análise dos requerimentos
administrativos, com implementação das Centrais de Análises, implantação do INSS Digital, implementação de
concessão automática de determinados benefícios, instituição do trabalho remoto aos servidores com exigência de
maior produtividade, entre outros, não havendo que se falar em inércia ou desídia da Autarquia na solução da
problemática apontada.

No entanto, impor a análise preferencial de requerimento administrativo do segurado que optou por judicializar em
detrimento daqueles que aguardam as ações do fluxo administrativo fere de morte o princípio da isonomia, além
de incrementar a já assustadora judicialização da política previdenciária.

VIII. DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, requer o INSS que Vossa Excelência se digne a acatar as preliminares arguidas, com a consequente
extinção sem resolução do mérito deste processo, nos termos preconizados pelo art. 485, IV e VI do CPC c/c art. 1º
e art. 10º da Lei nº 12.016/2009 e art. 5º, LXIX, da Constituição Federal/1988.

Na improvável hipótese de ultrapassadas as preliminares suscitadas, o que se admite apenas a título de


argumentação, no mérito, pugna pela DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA, conforme art. 6º, §5º, da Lei nº
12.016/2009[2], condenando-se a impetrante nas cominações de estilo, uma vez que, in casu, resta clara a
inexistência de ofensa a direito líquido e certo, bem como a inocorrência de ato ilegal ou abusivo por parte da
autoridade apontada como coatora.

Pede deferimento.
Belém, 27 de dezembro de 2019.

GEOVANI BATISTA SPIECKER

Gerente-Executivo Substituto

Notas

1. ^ MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 4ª edição. Editora Malheiros. São Paulo. 1993. P. 58.

2. ^ § 5o Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código
de Processo Civil.
(documento digital criado no sistema e-Tarefas - http://www-eintegracao.prevnet/)

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