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MINUTA DE RESOLUÇÃO TCE/MA Nº NNN, DE DD DE MM DE 2022.

Regulamenta, no âmbito do Tribunal de Contas do


Estado do Maranhão, a prescrição para o exercício das
pretensões punitiva e de ressarcimento e dá outras
providências.

O TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO MARANHÃO, no uso de suas atribuições


constitucionais e legais,

CONSIDERANDO que a atuação administrativa deve encontrar limites temporais, sob pena de
ofensa aos princípios basilares do Estado Democrático de Direito, como a segurança jurídica,
confiança legítima, celeridade e ampla defesa;

CONSIDERANDO o disposto no artigo 5º, LXXVII, da Constituição Federal, c/c o art. 4º do Código
de Processo Civil no tocante às partes terem solução dos processos em prazo razoável;

CONSIDERANDO o Tema: “445 — Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança


legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade
do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à
respectiva Corte de Contas.”;

CONSIDERANDO o "Tema 666 — É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública


decorrente de ilícito civil"; "Tema 897 — São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa" e "Tema 899 —
É prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de Contas";

CONSIDERANDO que a jurisprudência em voga é no sentido de reconhecer a aplicação do prazo


quinquenal para a atuação do Tribunal de Contas da União e que, pelo princípio da simetria
constitucional, igualmente deve ser aplicado aos demais Tribunais de Contas do Brasil;

CONSIDERANDO que a prescrição é instituto de ordem pública e que, por aplicação analógica e
integrativa do art. 1º, caput, da Lei Federal nº 9.873/1999, o exercício da função sancionatória pelos
Tribunais de Contas observaria o prazo comum de 05 (cinco) anos, conforme Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 5.509;

CONSIDERANDO o Mandado de Segurança nº 34467 de 15/03/2021, no qual se decidiu que eventual


aplicação do art.1º da Lei nº 9.873/1999, é para regular a atuação do TCU, na imputação de débito, e
não apenas na aplicação de multa ou outras sanções (MS 32.201, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira
Turma, DJe de 07.8.2017; e MS 35.940, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 14.7.2020; e

CONSIDERANDO precedentes do Supremo Tribunal Federal, MS 53.940 DF, que discutiu a


observância do §1º, art. 1º da Lei nº 9.873/1999 quanto à prescrição intercorrente e ADIs 5259 e 5509
que debateram temas da prescrição.

RESOLVE:

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CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º A prescrição nos processos de controle externo em curso no Tribunal de Contas do Estado do
Maranhão, exceto os de apreciação, para fins de registro, da legalidade dos atos de admissão de
pessoal ou de concessão de aposentadorias, reformas e pensões que estão sob a égide da
RESOLUÇÃO TCE/MA Nº 350, DE 23 DE JUNHO DE 2021, observará o disposto na Lei 9.873, de
23 de novembro de 1999, na forma aplicada pelo Supremo Tribunal Federal e regulamentada por esta
resolução.

CAPÍTULO II

DA PRESCRIÇÃO

Seção I

Do Prazo de Prescrição

Art. 2° Prescrevem em 5 (cinco) anos a pretensão punitiva do Tribunal de Contas do Estado do


Maranhão – TCE/MA, no exercício do controle externo, objetivando apurar infração à legislação,
contados nos termos iniciais indicados a seguir:

I - da data em que as contas deveriam ter sido prestadas, no caso de omissão de prestação de contas;

II - da data da apresentação da prestação de contas ao órgão competente para a sua análise inicial;

III - do recebimento da denúncia ou da representação pelo Tribunal, quanto às apurações decorrentes


de processos dessas naturezas;

IV - da data do conhecimento da irregularidade ou do dano, quando constatados em fiscalização


realizada pelo Tribunal;

V - do dia em que tiver cessado a permanência ou a continuidade, no caso de irregularidade


permanente ou continuada.

Art. 3º Quando houver recebimento de denúncia na esfera criminal sobre os mesmos fatos, a
prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.

Parágrafo único. Alterado o enquadramento típico na ação penal, reavaliar-se-á o prazo de prescrição
definido anteriormente.

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Seção II

Das Causas Interruptivas e Suspensivas da Prescrição

Art. 4° São causas suspensivas da prescrição:

I – a fluência de prazo concedido à parte para cumprimento de diligência determinada pelo Tribunal,
desde a data da intimação;

II – a vigência de Termo de Ajustamento de Gestão, desde a data da celebração;

III – o período em que o processo estiver sobrestado, desde a data da prolação da decisão de
sobrestamento;

IV – o período em que for omitido o envio, determinado em lei ou ato normativo, de informações ou
documentos ao Tribunal, desde a data em que se caracterizar a omissão;

V – o período em que o desenvolvimento do processo estiver impossibilitado por desaparecimento,


extravio ou destruição dos autos, a que tiver dado causa a parte ou seu procurador, desde a data do
evento ou, se desconhecida esta, desde a data da determinação de reconstituição ou restauração.

VI – a decisão que conceder prorrogação de prazo requerido pela parte, retomando-se a contagem do
prazo prescricional no dia seguinte à data da juntada do ato de defesa ou do esgotamento do prazo;

VII – a decisão que, acolhendo petição que não se enquadre nas hipóteses previstas expressamente
nas normas aplicadas ao Tribunal, tenha motivado a realização de nova instrução ou diligência nos
autos, retomando-se a contagem:

a) na data de remessa dos autos ao Relator pela Secretaria de Fiscalização, após emissão de Relatório
de Instrução, nos casos em que a petição tenha sido apresentada quando já havia nos autos
manifestação de mérito do Ministério Público de Contas;

b) na data de remessa dos autos ao Relator pelo órgão técnico, após emissão da informação técnica
aditiva, nos casos em que a petição tenha sido apresentada quando ainda não havia manifestação de
mérito do Ministério Público de Contas.

VIII – a decisão judicial que, por qualquer motivo, determinar a suspensão do processo, enquanto
esta perdurar.

Parágrafo único. Cessada a causa suspensiva da prescrição, retoma-se a contagem do prazo do ponto
em que tiver parado.

Art. 5° São causas interruptivas da prescrição:

I – despacho ou decisão que determinar a realização de inspeção cujo escopo abranja o ato passível
de sanção a ser aplicada pelo Tribunal ou por qualquer ato inequívoco de apuração do fato;

II – autuação do feito no Tribunal, nos casos de prestação e tomada de contas especial;

III – autuação de feito no Tribunal em virtude de obrigação imposta por lei ou ato normativo;

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IV – instauração ou conversão de processos de fiscalização em tomada de contas especial pelo
Tribunal;

V – despacho que receber denúncia ou representação de qualquer natureza;

VI – pela notificação, oitiva, citação válida ou audiência do responsável, inclusive por edital;

VII - por qualquer ato inequívoco de tentativa de solução conciliatória;

VIII – decisão de mérito recorrível.

§ 1° A prescrição pode se interromper mais de uma vez por causas distintas ou por uma mesma causa
desde que, por sua natureza, essa causa seja repetível no curso do processo.

§ 2° Interrompida a prescrição, começa a correr novo prazo a partir do ato interruptivo.

§ 3º Não interrompem a prescrição o pedido e concessão de vista dos autos, emissão de certidões,
prestação de informações, juntada de procuração ou subestabelecimento e outros atos de instrução
processual de mero seguimento do curso das apurações.

§ 4° A interrupção da prescrição em razão da apuração do fato ou da tentativa de solução conciliatória,


tal como prevista nos incisos II e III do caput, pode se dar em decorrência da iniciativa do próprio
órgão ou entidade da Administração Pública onde ocorrer a irregularidade.

§ 5º Aproveitam-se as causas interruptivas ocorridas em processo diverso, quando se tratar de fato


coincidente ou que estejam na linha de desdobramento causal da irregularidade ou do dano em
apuração.

§ 6º Aplica-se o disposto no caput deste artigo aos atos praticados pelos jurisdicionados do TCE/MA,
tais como os órgãos repassadores de recursos mediante transferências voluntárias e os órgãos de
controle interno, entre outros, em processo diverso, quando se tratar de fato coincidente ou que
estejam na linha de desdobramento causal da irregularidade ou do dano em apuração.

Seção III

Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição

Art. 6º Não corre o prazo de prescrição:

I - enquanto estiver vigente decisão judicial que determinar a suspensão do processo ou, de outro
modo, paralisar a apuração do dano ou da irregularidade ou obstar a execução da condenação;

II - durante o sobrestamento do processo, desde que não tenha sido provocado pelo TCE/MA, mas
sim por fatos alheios à sua vontade, fundamentadamente demonstrados na decisão que determinar o
sobrestamento;

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III - enquanto estiver ocorrendo o recolhimento parcelado da importância devida ou o desconto
parcelado da dívida nos vencimentos, salários ou proventos do responsável;

IV - no período em que, a juízo do Tribunal, justificar-se a suspensão das apurações ou da


exigibilidade da condenação, quanto a fatos abrangidos em Acordo de Leniência, Termo de
Ajustamento de Conduta, Acordo de Não Persecução Civil, Acordo de Não Persecução Penal ou
instrumento análogo, celebrado na forma da legislação pertinente;

V - sempre que delongado o processo por razão imputável unicamente ao responsável, a exemplo da
submissão extemporânea de elementos adicionais, pedidos de dilação de prazos ou realização de
diligências necessárias causadas por conta de algum fato novo trazido pelo jurisdicionado não
suficientemente documentado nas manifestações processuais.

Seção IV

Da Prescrição Intercorrente

Art. 7º Incide a prescrição intercorrente se o processo ficar paralisado por mais de três anos, pendente
de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte
interessada, sem prejuízo da responsabilidade funcional decorrente da paralisação, se for o caso.

§ 1° A prescrição intercorrente interrompe-se por qualquer ato que evidencie o andamento regular do
processo, excetuando-se pedido e concessão de vista dos autos, emissão de certidões, prestação de
informações, juntada de procuração ou subestabelecimento e outros atos que não interfiram de modo
relevante no curso das apurações.

§ 2° As causas impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrição principal também impedem,


suspendem ou interrompem a prescrição intercorrente.

Seção V

Do recurso de revisão

Art. 8º A interposição do recurso de revisão previsto no art. 139 da Lei nº 8.258/2005 dá origem a um
novo processo de controle externo para fins de incidência dos prazos prescricionais.

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CAPÍTULO III

DOS EFEITOS DO RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO

Art. 9º A ocorrência de prescrição será aferida, de ofício ou por provocação do interessado, em


qualquer fase do processo, sendo sempre submetida a julgamento por órgão colegiado do Tribunal,
ressalvado o disposto no parágrafo único.

Parágrafo único. No caso de dívidas sujeitas à cobrança judicial, o Tribunal não se manifestará sobre
a prescrição caso já tenha sido remetida a documentação pertinente aos órgãos ou entidades
executores.

Art. 10. Reconhecida pelo Tribunal a prescrição da pretensão punitiva e da pretensão ressarcitória em
relação à totalidade das irregularidades, o processo deverá ser arquivado, ressalvada a hipótese do art.
12.

Art. 11. O reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva e da pretensão ressarcitória, a despeito


de obstar a imposição de sanção e de reparação do dano, não impede o julgamento das contas, a
adoção de determinações, recomendações ou outras providências motivadas por esses fatos,
destinadas a reorientar a atuação administrativa.

Parágrafo único. O julgamento das contas na hipótese do caput deste artigo somente ocorrerá quando
o colegiado competente reconhecer a relevância da matéria tratada, a materialidade exceder em 10
vezes o valor mínimo para a instauração de Tomada de Contas Especial e já tiver sido realizada a
citação ou audiência.

Art. 12. Verificada a prescrição, o TCE/MA poderá imputar o dano ao erário integralmente a quem
lhe deu causa, na forma deste artigo, sem prejuízo de remeter cópia da documentação pertinente ao
Ministério Público do Estado, para ajuizamento das ações cabíveis, se houver indícios de crime ou da
prática de ato de improbidade administrativa.

§ 1º Reconhecida a prescrição causada por omissão da autoridade administrativa competente ou do


agente público no exercício da atividade de controle interno, o respectivo órgão de controle interno
ou a autoridade superior competente deverá, ao ter ciência da irregularidade, promover a imediata
apuração desse ilícito e dar a imediata ciência da falha ao TCE/MA, sob pena de responsabilidade
solidária.

§ 2º O TCE/MA poderá promover a apuração administrativa sobre a responsabilidade pela prescrição


causada por omissão da autoridade administrativa competente ou do agente público no exercício da
atividade de controle interno, aplicando-lhe as sanções cabíveis proporcionais à conduta e, se for o
caso, imputando-lhe a integralidade débito, quando comprovado o dolo.

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CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 13. Os processos com maior risco de prescrição das pretensões punitiva ou ressarcitória terão
andamento urgente e tratamento prioritário pelas unidades técnicas e pelos gabinetes, sendo objeto
de alerta específico a ser regulamentado pela Presidência.

Parágrafo Único. Qualquer unidade de controle externo que, sob posse de processo submetido à sua
análise, verificar a ocorrência, em tese, de prescrição, deve comunicar o fato ao Relator mediante a
indicação expressa do dispositivo em que se enquadra a hipótese de prescrição.

Art. 14. Não estará sujeita à prescrição a obrigatoriedade de apreciação das contas de governo, por
este Tribunal e, consequentemente, o julgamento do parecer prévio exarado, pelo Poder Legislativo
Estadual e Municipal, nos termos do art. 51, inciso I, art. 172, inciso I e §1º, art. 151 da Constituição
do Estado do Maranhão.

Art. 15. A determinação de inclusão dos ordenadores e/ou terceiros responsáveis, junto ao rol
encaminhado à Justiça Eleitoral, por força do previsto na Lei Federal nº 9.504/1997 e Lei
Complementar nº 135/2010, observará, para fins de prescrição, a data do trânsito em julgado das
respectivas contas, no âmbito do TCE/MA.

Art. 16. Os atos necessários à operacionalização desta resolução serão expedidos pela Presidência ou
pelo Tribunal.

Art. 17. Para os fatos ocorridos antes de 1º de julho de 1995, aplica-se a regra de direito intertemporal
prevista no art. 4º da Lei 9.873/1999.

Art. 18. O disposto nesta resolução aplica-se somente aos processos nos quais não tenha ocorrido o
trânsito em julgado no TCE/MA até a data de publicação desta norma.

Art. 19. Esta Resolução entra em vigor na data da sua publicação.

Publique-se e cumpra-se.

Tribunal de Contas do Estado do Maranhão, em São Luís, DD de MMMMM de 2022.

Conselheiro Joaquim Washington Luiz de Oliveira


Presidente

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