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Centro Universitário para Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí

Professora: Rosa Maria Kahl Lehmkuhl


Alunas: Bianca Emanuela Sens e Franciane Souza Weber
Laboratório de Práticas Jurídicas VIII- Direito Processual Civil

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NAS EXECUÇÕES FISCAIS

RESUMO: O Código de Processo Civil regula com muita precisão o chamado prazo
prescricional intercorrente, que é o motivo da suspensão e da extinção da ação. A
prescrição intercorrente é aquela que, via de regra, ocorre no curso do processo, em
razão de sua paralisação injustificada, por desídia da parte, configurando-se na
hipótese de paralisação do feito por prazo igual ou superior à prescrição do direito
material tutelado. Assim, deve correr a prescrição em desfavor do exequente a partir
do momento em que verificada sua inércia - interessado maior na persecução de
seu crédito - sob pena de eternização do processo enquanto estiver suspenso, visto
que nesse interregno cabe apenas ao expropriante - e a mais ninguém - diligenciar
efetivamente para obter a satisfação do crédito exequendo.

Palavras-chaves: Prescrição intercorrente. Extinção. Suspensão. Desídia.

1 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

A prescrição intercorrente é uma figura jurídica que se refere à perda do


direito de ação decorrente da inércia do autor em dar andamento ao processo
judicial. Em outras palavras, ocorre quando o autor deixa de tomar as medidas
necessárias para dar continuidade ao processo por um longo período de tempo, o
que acaba por prejudicar a defesa do réu.
O art. 1.056 do estabelece como início da prescrição intercorrente (art. 921, §
4º), que pode justificar a extinção da execução (art. 924, V), a data do início de
vigência do CPC de 2015, inclusive para as execuções em curso. (Bueno. Cassio
Scarpinella. Manual de Direito Processual. p. 154).
Para sua caracterização, necessária a ocorrência simultânea de dois
pressupostos, de natureza: a) objetiva, consistente no decurso de prazo superior ao
da prescrição do título executivo, sem impulso processual; b) subjetiva, que se
configura diante da efetiva desídia do exequente, consistente no propósito
deliberado de abandonar o processo, ao não impulsionar o feito quando lhe cabia
alguma providência para tanto (Apelação Cível n. 2012.069189-1. Segunda Câmara
de Direito Comercial. Rel. Des. Robson Luz Varella).
Conforme Vilson Rodrigues Alves, [...] prescrição intercorrente, ou
superveniente, é pois a que sobrevém após a propositura da pretensão de direito
material. Caracteriza-se pela inércia do titular, de que também decorre prescrição.
[...] Como bem se acentuou doutrinariamente, 'diante da necessidade de reprimir a
conduta desidiosa do credor, que não dá sequência ao processo, se concebeu a
figura da prescrição intercorrente, que, se não foi prevista pelo legislador, está
implícita no princípio informador do instituto e da sistemática da prescrição [...] (Da
prescrição e da decadência no Código Civil de 2002, 4. ed. rev., ampl. e atual.
Campinas: Servanda, 2008, p. 694).
Humberto Theodoro Júnior elucida que a eternização da execução é
incompatível com a garantia constitucional de duração razoável do processo e de
observância de tramitação conducente à rápida solução dos litígios (CF, art. 5º,
LXXVIII). Tampouco, se pode admitir que a inércia do credor, qualquer que seja sua
causa, redunde em tornar imprescritível uma obrigação patrimonial. O sistema de
prescrição, adotado por nosso ordenamento jurídico, é incompatível com pretensões
obrigacionais imprescritíveis. Nem mesmo subordina a prescrição civil a algum tipo
de culpa por parte do credor na determinação da inércia no exercício da pretensão.
A prescrição, salvo os casos legais de suspensão ou interrupção, flui objetivamente,
pelo simples decurso do tempo. Daí a criação pretoriana da apelidada prescrição
intercorrente, que se verifica justamente quando a inércia do processo perdure por
tempo superior ao lapso da prescrição prevista para a obrigação disputada em juízo.
Poder-se-ia objetar que, interrompida pela citação, a prescrição somente voltaria a
correr depois de encerrado o processo (Cód. Civil, art. 202, parágrafo único). A
regra, no entanto, pressupõe processo que esteja em andamento regular, não
aquele que, anomalamente, tenha sido acometido de paralisação por longo tempo,
isto é, por tempo superior àquele em que a obrigação seria atingida pela prescrição.
(Curso de direito processual civil, v. II, Processo de execução e cumprimento da
sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 46. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2011, p. 490-491).
O art. 1.056 estabelece como início da prescrição intercorrente (art. 921, §
4º), que pode justificar a extinção da execução (art. 924, V), a data do início de
vigência do CPC de 2015, inclusive para as execuções em curso. (Bueno. Cassio
Scarpinella. Manual de Direito Processual. p. 154).
Sendo assim, o CPC, art. 921, §1° diz que na hipótese do inciso III, isto é,
quando não for localizado o executado ou bens penhoráveis, o juiz suspenderá a
execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se suspenderá a prescrição; o §
2º, é taxativo: Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o
executado ou que sejam encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o
arquivamento dos autos. Note-se, ainda, que, nos termos do § 3º, os autos serão
desarquivados para prosseguimento da execução se a qualquer tempo forem
encontrados bens penhoráveis.
O § 4°, por sua vez, estabelece que o termo inicial da prescrição no curso do
processo será a ciência da primeira tentativa infrutífera de localização do devedor
ou de bens penhoráveis, e será suspensa, por uma única vez, pelo prazo máximo
previsto no § 1º deste artigo, e o § 4º-A resolve que, no caso, somente a efetiva
constrição de bens penhoráveis interrompe o prazo de prescrição.
Note-se, ainda, que não há previsão legal de necessidade de intimação da
parte exequente para impulso do processo antes do reconhecimento da prescrição
intercorrente.
Indo adiante, na identificação de qual prazo prescricional deve ser aplicado, é
preciso destacar a Súmula 150 do STF, que enuncia que a execução prescreve no
mesmo prazo que a ação.
O Incidente de Assunção de Competência 1 do Superior Tribunal de Justiça
definiu que o termo inicial do prazo prescricional, na vigência do CPC/1973,
conta-se do fim do prazo judicial de suspensão do processo ou, inexistindo prazo
fixado, do transcurso de 1 (um) ano (aplicação analógica do art. 40, § 2º, da Lei
6.830/1980).
O que se conclui da análise das disposições legais citadas é que uma vez
suspenso o feito por ausência de bens, a execução só prossegue diante da efetiva
localização de bens penhoráveis. Do contrário, o processo e a prescrição serão
suspensos por um ano, após o que o prazo para prescrição intercorrente começa a
fluir. Os atos posteriores realizados no feito com o intuito localizar bens não têm o
condão de reiniciar a contagem dos prazos legais mencionados, do contrário,
esvaziar-se-ia o conteúdo da norma, já que a qualquer tempo podem ser
reutilizados mecanismos judiciais de busca por novos bens penhoráveis. O curso da
prescrição, ainda, só pode ser suspenso uma única vez (CC, art. 202), de modo que
as diligências no período de arquivamento administrativo não ensejam nova
suspensão do prazo prescricional.
A esse respeito, aliás, colaciona-se:

(...) 4.3.) A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que


por edital) são aptas a interromper o curso da prescrição
intercorrente, não bastando para tal o mero peticionamento em juízo,
requerendo, v.g., a feitura da penhora sobre ativos financeiros ou
sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro da
soma do prazo máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de
prescrição aplicável (de acordo com a natureza do crédito exequendo)
deverão ser processados, ainda que para além da soma desses dois
prazos, pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os
bens, a qualquer tempo - mesmo depois de escoados os referidos prazos -,
considera-se interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na
data do protocolo da petição que requereu a providência frutífera. (REsp n.
1.340.553/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, j.
12-9-2018, grifamos).

Nos termos do novel art. 206-A, tem-se que a prescrição intercorrente


observará o mesmo prazo de prescrição da pretensão, observadas as causas de
impedimento, de suspensão e de interrupção da prescrição previstas neste Código e
observado o disposto no art. 921 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
de Processo Civil), em harmonia com a Súmula 150 do STF.
No entanto, a prescrição intercorrente pode variar de acordo com o tipo de
processo e com a legislação aplicável. Por exemplo, em casos de dívidas tributárias,
a prescrição intercorrente é regulamentada pelo Código Tributário Nacional, que
estabelece um prazo de 5 anos de inatividade para a extinção do processo.
Conforme julgado do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina:
APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE. CARACTERIZAÇÃO. DESPACHO INICIAL
PROLATADO ANTERIORMENTE À LEI COMPLEMENTAR N. 118/05, QUE
ALTEROU O INCISO I DO ART. 174 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO
NACIONAL. ATO CITATÓRIO EFETUADO APÓS O TRANSCURSO DO
QUINQUÊNIO PRESCRICIONAL (ART. 174, CAPUT, DO CTN).
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "Nos processos de
cobrança de dívidas tributárias, a incidência válida da norma processual
contida [...] na atual redação do art. 174, I, do CTN, pressupõe que o
despacho ordenador da citação do devedor tenha ocorrido após a vigência
da Lei Complementar nº 118/2005; caso tenha sido proferido em momento
anterior, a prescrição somente se interromperá com a citação pessoal do
devedor, segundo o antigo enunciado do inc. I do art. 174, do CTN". (AI n.
2008.055781-9, da Capital, rel. Des. Newton Janke, j. 7.7.09). No caso dos
autos ocorreu citação, por edital, mas depois de transcorridos 5 (cinco)
anos da data da constituição definitiva do crédito tributário, nos termos do
art. 174, caput, do antes invocado Código, evidenciando cristalina
prescrição. (TJSC, Apelação Cível n. 2010.056711-6, de Jaraguá do Sul,
rel. João Henrique Blasi, Segunda Câmara de Direito Público, j.
28-09-2010).

A prescrição intercorrente não é automática e depende de uma decisão


judicial para ser aplicada. Além disso, as regras que regem a prescrição
intercorrente podem variar de acordo com o tipo de processo e o país em questão.

2 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO CÓDIGO DE 1973

Tratando-se de ação de execução ou cumprimento de sentença submetido ao


procedimento do Código de Processo Civil de 1973, embora a prescrição pudesse
ser contada e reconhecida, o despacho que determinou a suspensão do processo e
o arquivamento administrativo, com fundamento no art. 791, III, do CPC/1973, não
poderia ser marco inicial de prescrição, à falta de regra específica sobre o tema, o
que somente veio a se concretizar com o art. 921 do CPC/2015.
A mescla de duas leis - ou mesmo a incidência de uma terceira Lei, por
analogia [art. 40, § 2º, da Lei 6.830/1980] e praticamente a criação de uma quarta
norma, como parece ser a incidência do art. 921 do CPC/2015 às ações
anteriormente ajuizadas e que estavam suspensas administrativamente, sem que
houvesse disposição específica de contagem do prazo prescricional, como sucede
com o novo Código de Processo Civil.
De todo modo, cumpre reconhecer que incidem às regras Código de
Processo Civil de 1973 para o cômputo do termo inicial da prescrição intercorrente,
conforme o entendimento fixado no julgamento do Recurso Repetitivo n. 1.604.412,
de relatoria do Ministro Marco Aurélio Belizze.
Nesse sentido:

"RECURSO ESPECIAL. INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA.


AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. CABIMENTO.
TERMO INICIAL. NECESSIDADE DE PRÉVIA INTIMAÇÃO DO
CREDOR-EXEQUENTE. OITIVA DO CREDOR. INEXISTÊNCIA.
CONTRADITÓRIO DESRESPEITADO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. As teses a serem firmadas, para efeito do art. 947 do CPC/2015 são as
seguintes: 1.1 Incide a prescrição intercorrente, nas causas regidas pelo
CPC/73, quando o exequente permanece inerte por prazo superior ao de
prescrição do direito material vindicado, conforme interpretação extraída do
art. 202, parágrafo único, do Código Civil de 2002. 1.2 O termo inicial do
prazo prescricional, na vigência do CPC/1973, conta-se do fim do prazo
judicial de suspensão do processo ou, inexistindo prazo fixado, do
transcurso de um ano (aplicação analógica do art. 40, § 2º, da Lei
6.830/1980). 1.3 O termo inicial do art. 1.056 do CPC/2015 tem incidência
apenas nas hipóteses em que o processo se encontrava suspenso na data
da entrada em vigor da novel lei processual, uma vez que não se pode
extrair interpretação que viabilize o reinício ou a reabertura de prazo
prescricional ocorridos na vigência do revogado CPC/1973 (aplicação
irretroativa da norma processual). 1.4. O contraditório é princípio que deve
ser respeitado em todas as manifestações do Poder Judiciário, que deve
zelar pela sua observância, inclusive nas hipóteses de declaração de ofício
da prescrição intercorrente, devendo o credor ser previamente intimado
para opor algum fato impeditivo à incidência da prescrição. 2. No caso
concreto, a despeito de transcorrido mais de uma década após o
arquivamento administrativo do processo, não houve a intimação da
recorrente a assegurar o exercício oportuno do contraditório" (REsp.
1.604.412, de Santa Catarina).

O STJ firmou orientação em Incidente de Assunção de Competência, pela


possibilidade de reconhecer-se a ocorrência de prescrição intercorrente ainda ao
tempo do anterior CPC/1973, nos seguintes termos:

RECURSO ESPECIAL. INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA.


AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. CABIMENTO.
TERMO INICIAL. NECESSIDADE DE PRÉVIA INTIMAÇÃO DO
CREDOR-EXEQUENTE. OITIVA DO CREDOR. INEXISTÊNCIA.
CONTRADITÓRIO DESRESPEITADO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. As teses a serem firmadas, para efeito do art. 947 do CPC/2015 são as
seguintes: 1.1 Incide a prescrição intercorrente, nas causas regidas pelo
CPC/73, quando o exequente permanece inerte por prazo superior ao de
prescrição do direito material vindicado, conforme interpretação extraída do
art. 202, parágrafo único, do Código Civil de 2002. 1.2 O termo inicial do
prazo prescricional, na vigência do CPC/1973, conta-se do fim do prazo
judicial de suspensão do processo ou, inexistindo prazo fixado, do
transcurso de um ano (aplicação analógica do art. 40, § 2º, da Lei
6.830/1980). 1.3 O termo inicial do art. 1.056 do CPC/2015 tem incidência
apenas nas hipóteses em que o processo se encontrava suspenso na data
da entrada em vigor da novel lei processual, uma vez que não se pode
extrair interpretação que viabilize o reinício ou a reabertura de prazo
prescricional ocorridos na vigência do revogado CPC/1973 (aplicação
irretroativa da norma processual). 1.4. O contraditório é princípio que deve
ser respeitado em todas as manifestações do Poder Judiciário, que deve
zelar pela sua observância, inclusive nas hipóteses de declaração de ofício
da prescrição intercorrente, devendo o credor ser previamente intimado
para opor algum fato impeditivo à incidência da prescrição. 2. No caso
concreto, a despeito de transcorrido mais de uma década após o
arquivamento administrativo do processo, não houve a intimação da
recorrente a assegurar o exercício oportuno do contraditório. 3. Recurso
especial provido. (REsp 1604412/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/06/2018, DJe 22/08/2018).

Tem-se, então, que se admite, sim, a prescrição, na hipótese de suspensão


por falta de localização de bens penhoráveis, ainda ao tempo do anterior CPC, bem
como que o prazo começa a fluir automaticamente após passado 1 anos da
suspensão, sem necessidade de intimação do credor.
Para além disso, ocorre a prescrição intercorrente quando, durante a
execução, a parte exequente deixa de promover o prosseguimento do feito, na
providência que lhe competir, permanecendo o processo paralisado por lapso
temporal idêntico ao da prescrição do direito postulado (Agravo de Instrumento n.
4004472-69.2019.8.24.0000, de Maravilha, rel. Des. Sebastião César Evangelista).
De todo modo, sabe-se que "a extinção do feito expropriatório pela prescrição
intercorrente, em razão da ausência de bens penhoráveis do executado, não afasta
o princípio da causalidade em desfavor do devedor, tampouco atrai a sucumbência
ao credor" (Apelação n. 0012641-90.1999.8.24.0008, rel. Des. Torres Marques).

3 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NAS EXECUÇÕES FISCAIS

Como é cediço, a prescrição é a perda da ação atribuída a um direito, de toda


a sua capacidade defensiva, em conseqüência do não uso dela, durante um
determinado espaço de tempo. Não é a falta de um exercício do direito, que lhe tira
o vigor, o direito pode conservar-se inativo, por longo tempo, sem perder a sua
eficácia. É o não uso da ação que lhe afronta a capacidade de agir (Clóvis
Beviláqua, in: Código Civil de 1916, 11ª Edição, v. I, p.349).
A ação de execução visa à materialização de uma prestação devida e
também está sujeita a prazo prescricional, nos termos da clássica Súmula 150 do
Supremo Tribunal, estabelece que prescreve a execução no mesmo prazo de
prescrição da ação.
No âmbito federal, o prazo de prescrição intercorrente é de cinco anos,
conforme previsto no artigo 40 da Lei n. 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais). Após
esse período, o processo poderá ser extinto sem resolução de mérito a pedido do
executado, desde que comprovada a paralisação do processo por inércia da
Fazenda Pública.
Ainda, o artigo 40 da Lei de Execuções Fiscais (Lei 6.830/80) prevê o
estabelecimento de prazos prescricionais superiores, após o ajuizamento da ação
excepcional, pelo prazo de cinco anos previsto no artigo. Essa reciprocidade
decorrente da negligência do exequente fundamenta-se na regra constitucional de
que, ressalvadas as exceções do art. 5º, incisos XLII e XLIV, ninguém pode ser
responsabilizado indefinidamente, CF/88.
Nos termos do artigo 40 da Lei 8.630/80, as execuções fiscais ficam
suspensas por até um ano quando o devedor não for encontrado ou não possuir
bens, momento em que o juiz determinará o arquivamento dos autos. Se a situação
não mudar cinco anos após a apresentação, o magistrado intimará a Fazenda
Pública para se manifestar e, ao ouvi-la, decretará a prescrição intercorrente.
A concreta citação, ainda que mediante citação por edital, e a limitação
patrimonial válida quebram o prazo prescricional concorrente, e, mesmo após tal
prazo, as petições apresentadas para tais fins dentro do prazo prescricional devem
ser julgadas, pois se as medidas permanecerem em vigor (citado ou constrição),
com interrupções ocorrendo retroativamente à data de apresentação da petição.
Nesse sentido, a permanência do processo por mais de cinco anos na
ausência de devedor ou de bem penhorável implica presunção de inércia para o
credor e, portanto, a prescrição intercorrente, poderá ser reconhecida e decretada
ex oficio pelo juiz. (art. 40, §4º da Lei n. 6.830/80). O prazo deve ser contado a partir
do despacho do juiz que decidiu arquivar a ação.
Conforme Súmula n. 314 do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 314 do STJ: Em execução fiscal, não localizados bens


penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o
prazo da prescrição quinquenal intercorrente.

Diversos são os precedentes do nosso Tribunal, destacando-se dentre eles:


"(...) EXECUÇÃO FISCAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO.
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. [...]
CÔMPUTO DO LAPSO PRESCRICIONAL QUINQUENAL, QUE TEM
INÍCIO APÓS O DECURSO DO PRAZO DE 1 ANO DE SUSPENSÃO DA
DEMANDA. ART. 40 DA LEI Nº 6.830/80 E ENUNCIADO Nº 314 DA
SÚMULA DO STJ. INÉRCIA DO ENTE FEDERADO CREDOR [...],
DEIXANDO DE PROMOVER O REGULAR PROSSEGUIMENTO DO
FEITO. [...] PRECEDENTES DO STJ E DESTA CORTE. SENTENÇA
MANTIDA. "[...] 'Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis,
suspende-se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da
prescrição qüinqüenal intercorrente'. (Súmula 314 do STJ) [...] (AC nº
2012.076621-5, de Chapecó, Rel. Des. Paulo Henrique Moritz Martins da
Silva. J. em 01/04/2014)". (AC n. 0000036-67.1985.8.24.0020, de Criciúma,
rel. Des. Luiz Fernando Boller, Primeira Câmara de Direito Público, j.
20-6-2017) (TJSC, Apelação Cível n. 0023860-16.2003.8.24.0023, da
Capital, rel. Des. Paulo Henrique Moritz Martins da Silva, Primeira Câmara
de Direito Público, j. 19-06-2018). Ainda: Apelação Cível n.
0000121-03.1997.8.24.0030, rel. Des. Francisco Oliveira Neto; Apelação
Cível n. 0002612-07.2002.8.24.0030, rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz;
Apelação Cível n. 0001926-83.2000.8.24.0030, rel. Des. Cid Goulart;
Reexame Necessário n. 0001883-35.2002.8.24.0012, rel. Des. Paulo
Henrique Moritz Martins da Silva; Apelação Cível n.
0005112-81.2003.8.24.0007, rel. Des. Ricardo Roesler.

E ainda:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO


CPC/2015 (ART. 543-C, DO CPC/1973). PROCESSUAL CIVIL.
TRIBUTÁRIO. SISTEMÁTICA PARA A CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE (PRESCRIÇÃO APÓS A PROPOSITURA DA AÇÃO)
PREVISTA NO ART. 40 E PARÁGRAFOS DA LEI DE EXECUÇÃO FISCAL
(LEI N. 6.830/80). 1. O espírito do art. 40, da Lei n. 6.830/80 é o de que
nenhuma execução fiscal já ajuizada poderá permanecer eternamente nos
escaninhos do Poder Judiciário ou da Procuradoria Fazendária
encarregada da execução das respectivas dívidas fiscais. 2. Não havendo a
citação de qualquer devedor por qualquer meio válido e/ou não sendo
encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora (o que permitiria o
fim da inércia processual), inicia-se automaticamente o procedimento
previsto no art. 40 da Lei n. 6.830/80, e respectivo prazo, ao fim do qual
restará prescrito o crédito fiscal. Esse o teor da Súmula n. 314/STJ: "Em
execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o
processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição
qüinqüenal intercorrente". 3. Nem o Juiz e nem a Procuradoria da Fazenda
Pública são os senhores do termo inicial do prazo de 1 (um) ano de
suspensão previsto no caput, do art. 40, da LEF, somente a lei o é (ordena
o art. 40: "[...] o juiz suspenderá [...]"). Não cabe ao Juiz ou à Procuradoria a
escolha do melhor momento para o seu início. No primeiro momento em
que constatada a não localização do devedor e/ou ausência de bens pelo
oficial de justiça e intimada a Fazenda Pública, inicia-se automaticamente o
prazo de suspensão, na forma do art. 40, caput, da LEF. Indiferente aqui,
portanto, o fato de existir petição da Fazenda Pública requerendo a
suspensão do feito por 30, 60, 90 ou 120 dias a fim de realizar diligências,
sem pedir a suspensão do feito pelo art. 40, da LEF. Esses pedidos não
encontram amparo fora do art. 40 da LEF que limita a suspensão a 1 (um)
ano. Também indiferente o fato de que o Juiz, ao intimar a Fazenda Pública,
não tenha expressamente feito menção à suspensão do art. 40, da LEF. O
que importa para a aplicação da lei é que a Fazenda Pública tenha tomado
ciência da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido e/ou da
não localização do devedor. Isso é o suficiente para inaugurar o prazo, ex
lege. 4. Teses julgadas para efeito dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015
(art. 543-C, do CPC/1973): 4.1.) O prazo de 1 (um) ano de suspensão do
processo e do respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º e 2º
da Lei n. 6.830/80 - LEF tem início automaticamente na data da ciência da
Fazenda Pública a respeito da não localização do devedor ou da
inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem
prejuízo dessa contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter
ocorrido a suspensão da execução; 4.1.1.) Sem prejuízo do disposto no
item 4.1., nos casos de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de
natureza tributária (cujo despacho ordenador da citação tenha sido
proferido antes da vigência da Lei Complementar n. 118/2005), depois da
citação válida, ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa infrutífera
de localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução.
4.1.2.) Sem prejuízo do disposto no item 4.1.) em se tratando de execução
fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho
ordenador da citação tenha sido proferido na vigência da Lei Complementar
n. 118/2005) e de qualquer dívida ativa de natureza não tributária, logo
após a primeira tentativa frustrada de citação do devedor ou de localização
de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução. 4.2.) Havendo
ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronuciamento
judicial nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de suspensão inicia-se
automaticamente o prazo prescricional aplicável (de acordo com a natureza
do crédito exequendo) durante o qual o processo deveria estar arquivado
sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º e 4º da Lei n.
6.830/80 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de
imediato; 4.3.) A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda
que por edital) são aptas a interromper o curso da prescrição intercorrente,
não bastando para tal o mero peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a
feitura da penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os
requerimentos feitos pelo exequente, dentro da soma do prazo máximo de
1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo
com a natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que
para além da soma desses dois prazos, pois, citados (ainda que por edital)
os devedores e penhorados os bens, a qualquer tempo – mesmo depois de
escoados os referidos prazos –, considera-se interrompida a prescrição
intercorrente, retroativamente, na data do protocolo da petição que
requereu a providência frutífera. 4.4.) A Fazenda Pública, em sua primeira
oportunidade de falar nos autos (art. 245 do CPC/73, correspondente ao
art. 278 do CPC/2015), ao alegar nulidade pela falta de qualquer intimação
dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo
que sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial - 4.1.
onde o prejuízo é presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência
de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. 4.5.) O
magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar
o ato judicial por meio da delimitação dos marcos legais que foram
aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto ao período em
que a execução ficou suspensa. 5. Recurso especial não provido. Acórdão
submetido ao regime dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015 (art. 543-C,
do CPC/1973)”.

Se, no prazo de 5 anos, contados após o decurso do prazo de 1 ano de


suspensão do despacho que determinou o arquivamento da ação, a Fazenda
Pública, como credora, não tiver requerido seu desarquivamento, nem solicitado
qualquer nova medida para a localização de bens do devedor, caracteriza-se o seu
desinteresse na ação, fundamento da prescrição.
Ainda, de acordo com o julgado do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa
Catarina:

AGRAVO INTERNO - EXECUÇÃO FISCAL - TEMAS 566 A 571 DO STJ -


PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - INÍCIO AUTOMÁTICO DO PRAZO
SUSPENSIVO - CONTAGEM QUE SE PRINCIPIA DA CIÊNCIA DO FISCO
A RESPEITO DA INEXISTÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS E/OU DA
NÃO LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR - DECLARAÇÃO DE SUSPENSÃO
DO PROCESSO DISPENSÁVEL - INEXISTÊNCIA DE CARÁTER
PROCRASTINATÓRIO DO RECURSO - MULTA INCABÍVEL. 1. De acordo
com as teses fixadas a propósito dos Temas 566 a 571 do STJ, não
encontrado o devedor ou na ausência de bens penhoráveis (o que ocorrer
primeiro) e ciente disso o Fisco, começa a fluir automaticamente o prazo de
suspensão de um ano (art. 40 da LEF), mesmo que não haja prévio
requerimento nesse sentido. Do seu término, independentemente de
manifestação do juízo ou do credor, fluem os cinco anos prescricionais, os
quais, uma vez superados - sem que haja interrupção da marcha -,
conduzem à extinção do feito pela prescrição intercorrente. A falta de
declaração e intimação da suspensão não são empecilhos para o curso do
prazo suspensivo, que é automático e começa a fluir "no primeiro momento
em que constatada a não localização do devedor e/ou ausência de bens
pelo oficial de Justiça e intimada a Fazenda Pública" (REsp 1.340.553). Há,
ainda, expressa disposição no Repetitivo no sentido de ser "indiferente o
fato de que o Juiz, ao intimar a Fazenda Pública, não tenha expressamente
feito menção à suspensão do art. 40, da LEF. O que importa para a
aplicação da lei é que a Fazenda Pública tenha tomado ciência da
inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido e/ou da não
localização do devedor. Isso é o suficiente para inaugurar o prazo, ex lege".
2. Temos proposto diferenciação em relação ao Tema 434 do STJ quando
haja a identificação de um propósito malicioso, uma rebeldia injustificável.
Aqui não é o caso, porém. A municipalidade, muito ciosa das finanças
locais, assumiu uma tese, mesmo árdua, que tinha seus fundamentos
técnicos, algo muito longe da perniciosidade que caracterizaria a
protelação. 3. Recurso desprovido. (TJSC, Apelação n.
0029572-68.2005.8.24.0038, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel.
Hélio do Valle Pereira, Quinta Câmara de Direito Público, j. 25-04-2023).

Vale ressaltar que a prescrição intercorrente não é automática e depende de


manifestação do credor/exequente para ser reconhecida pelo juízo competente.
Além disso, o prazo de prescrição intercorrente pode ser interrompido por atos da
Fazenda Pública que demonstrem a sua intenção de prosseguir com a cobrança do
crédito tributário.

3 CONCLUSÃO
A prescrição intercorrente deriva da paralisação injustificada, por longo
período de tempo, da ação de execução ou cumprimento de sentença, em virtude
da inércia do exequente.
É importante destacar que a prescrição intercorrente é uma figura que varia
de acordo com o tipo de processo e com as leis de cada país. No Brasil, por
exemplo, a prescrição intercorrente é prevista em alguns casos específicos, como
na Lei de Execução Fiscal (Lei nº 6.830/1980) e no Código de Processo Civil (Lei nº
13.105/2015).
Sendo assim, em outras palavras, a prescrição intercorrente ocorre quando
uma ação judicial fica parada por um prazo considerado demasiado, sem que haja
qualquer manifestação ou diligência do interessado em dar andamento ao processo.
Nesse caso, a parte que não tomou as medidas necessárias para dar
prosseguimento ao processo pode perder o direito de prosseguir com a ação
judicial.
Então, ocorre a prescrição intercorrente quando, durante a execução, a parte
exequente deixa de promover o prosseguimento do feito, na providência que lhe
competir, permanecendo o processo paralisado por lapso temporal idêntico ao da
prescrição do direito postulado (Agravo de Instrumento n.
4004472-69.2019.8.24.0000, de Maravilha, rel. Des. Sebastião César Evangelista).
Cumpre, assim, observar que, após o decurso de determinado lapso
temporal, sem promoção de continuidade pela parte interessada, deve-se estabilizar
o conflito, pela via da prescrição, impondo segurança jurídica aos litigantes, uma vez
que a prescrição indefinida afronta, conforme anotado supra, princípios
informadores do sistema constitucional pátrio.

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