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ESTADO DA PARAÍBA

PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE CONCEIÇÃO
JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA

SENTENÇA
JULGAMENTO ANTECIPADO

O diploma instrumental civil disciplina que o magistrado deve velar


pela rápida solução do litígio, bem assim que julgará antecipadamente o pedido quando
não houver necessidade de produção de outras provas, nos termos do art. 354, II, do
NCPC1.

Na hipótese, não há necessidade de dilação probatória, bem como é


improvável a conciliação, de modo que em homenagem aos princípios da economia
processual e da celeridade, é imperativo julgar antecipadamente a lide.

É claro que, caso o magistrado entenda que a prova carreada aos


autos não é suficiente para firmar sua convicção, pode determinar a produção de provas
ou a dilação probatória normal do processo.

Entretanto, não é o caso deste processo, porquanto o pagamento dos


vencimentos de servidores públicos deve ser comprovado por meio de prova documental
(contracheques e holerites), os quais não foram acostados aos autos com a contestação.

DA IMPROCEDÊNCIA LIMINAR

Compulsando os autos, observa-se que os documentos apresentados


com a petição inicial e as assertivas nela lançadas permitem de plano o enquadramento
jurídico, com resultado de improcedência liminar do pedido, na exata dicção do art. 332 do
NCPC, in literis:

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente
da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de assunção de competência;

1 Art. 355.  O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar,
desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da
sentença, nos termos do art.241.
§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com
a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para
apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

Desse modo, a pretensão inicial encontra óbice no entendimento


consolidado em acórdão proferido pelo STF, conforme veremos adiante.

DAS PRELIMINARES

Carência de ação, impossibilidade jurídica e ilegitimidade passiva.

As duas preliminares, apesar de tão diferentes, são na essência a


mesma coisa, ou seja, segundo a edilidade municipal, a parte autora carece do direito de
agir, e não tem legitimidade processual, pois não é parte.

A autora acostou com a inicial, cópia de contracheques, bem como


ficha financeira, comprovando sua qualidade de servidora, portanto indefiro as
preliminares.

Investidura da função pública

Esta preliminar ora levantada não deve prosperar, uma vez que a
alegação de nulidade dos atos administrativos de nomeação da parte autora constitui o
próprio “meritum causae”, razão pela qual rejeito a preliminar, deixando para apreciar a
questão ora suscitada quando da análise do mérito.

Competência da Justiça do Trabalho

A Fazenda Pública diz que o feito é de competência da justiça do


trabalho em razão da matéria.

O pedido não pode prosperar, esta matéria já foi sumulada pelos


nossos Tribunais Superiores, e no caso de funcionário pública municipal, com regime
estatutário, o foro competente de julgamento é a justiça comum.

Diz a Súmula 97 do STJ: “Compete à Justiça do Trabalho processar e


julgar reclamação de servidor público relativo a vantagens trabalhistas anteriores à
instituição do regime jurídico único”.

A Súmula 137 do STJ, afirma, IN VERBIS: “Compete à Justiça


Comum Estadual processar e julgar ação de servidor público municipal, pleiteando
direitos relativos ao vínculo estatutário”.

Sendo assim, repilo esta preliminar.

Da questão prejudicial de mérito.

Prescrição
O instituto da prescrição possui prazo específico quando a parte
promovida for a Fazenda Pública. Trata-se da vulgarmente denominada “prescrição
quinquenal”, expressamente prevista no art.1º do Decreto nº 20.910, de 06 de janeiro de
1932 (Decreto que regula a Prescrição Quinquenal), IN VERBIS:

“Art. 1º: As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim,
todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal,
prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou do fato do qual se
originarem.”

No entanto, em se tratando de prescrição de prestações de trato


sucessivo ou vincendas, e não de prescrição que atinge o próprio “fundo do direito”, todas
as verbas salariais, não atingidas pela aludida prescrição quinquenal, são devidas.

Nesse sentido, estabelece o art. 3º do Decreto nº 20.910/32, IN


VERBIS: “Quando o pagamento se dividir por dias, meses, ou anos, a prescrição atingirá
progressivamente as prestações, à medida que completarem os prazos estabelecidos
pelo presente decreto”.

Ilustre-se esse entendimento com as Súmulas 163 e 443, do Colendo


Supremo Tribunal Federal:

Súmula 163: Nas relações jurídicas de trato sucessivo, em que a Fazenda Pública
figure como devedora, somente prescreve as prestações vencidas antes do
quinquênio anterior à propositura da ação.

Súmula 443: A prescrição das prestações anteriores ao período previsto em lei não
ocorre quando não tiver sido negado, antes daquele prazo, o próprio direito
reclamado, ou a situação jurídica de que ele resulta.

Nesse passo, se a ação foi ajuizada em 17/04/2013, todas as verbas


pleiteadas anteriores a 17/04/2008 encontram-se fulminadas pelo instituto da prescrição
quinquenal, vigorando, assim, a máxima de que o direito não socorre a quem dorme.

Desta feita, vê-se de forma incontroversa que o Poder Público goza


de prazo prescricional privilegiado, razão pela qual reconheço este prejudicial de
mérito, para ter como prescritas todas as verbas salariais vencidas antes do
quinquênio anterior à propositura da ação, que no caso desta ação inexiste
quaisquer verba, indeferindo a prejudicial de mérito.

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