Você está na página 1de 6

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

1 FUNDAMENTO JURÍDICO
Ante a inexistência de regramento jurídico próprio, a exceção de pré-
executividade encontra respaldo no direito constitucional de petição (art. 5º,
XXXIV, a, CF).

2 CABIMENTO
A expressão pré-executividade representa a ideia do ato praticado antes da
penhora (apreensão judicial dos bens do devedor, uma das etapas mais
importantes na ação de execução).
Exceção de pré-executividade é a faculdade dada ao executado para levar ao
conhecimento do juiz da execução, sem a necessidade da penhora ou dos
embargos, matérias que somente poderiam ser arguidas nos embargos do
devedor.
A exceção só pode ser relativa à matéria suscetível de conhecimento ex
officio (pressupostos processuais e condições da ação) ou originária de nulidade
do título.
Não se pode negar a aplicabilidade da exceção de pré-executividade no
processo do trabalho.
A prudência recomenda que não se faça uma interpretação ampla quanto às
hipóteses de cabimento da exceção de pré-executividade.
As matérias passíveis dessa articulação são as pertinentes às matérias as
quais possam ser conhecidas de ofício pelo magistrado e que não necessitam de
dilação probatória muito profunda. Com isso, estamos afirmando que a exceção
de pré-executividade necessita estar fundada em prova documental, como ocorre
com o mandado de segurança, não exigindo do juiz da execução, para apreciação
da matéria, grandes indagações (cognição exauriente) para o acolhimento da
pretensão.
As matérias da exceção de pré-executividade são: (a) nulidade da execução;
(b) pagamento, transação, novação e outras modalidades que impliquem a
extinção da execução (essas matérias, apesar de não serem de ordem pública,
pelo seu realce para a ação de execução, podem e devem ser arguidas pelo
devedor); (c) prescrição intercorrente; (d) ausência dos pressupostos processuais
de existência (petição inicial, jurisdição e a citação); (e) ausência dos
pressupostos processuais de validade positivos (petição inicial válida, órgão
jurisdicional competente e imparcial e a capacidade); (f) ausência dos
pressupostos processuais de validade negativos (litispendência e coisa julgada);
(g) condições da ação (legitimidade, interesse processual e a possibilidade
jurídica do pedido).
O TST tem admitido a exceção de pré-executividade e o mandado de
segurança para atacada a execução de decisão proferida em ação de
cumprimento, quando a sentença normativa foi alterada em grau de recurso
(Súm. 397).

3 PRAZO
Enquanto pendente a fase de execução, a exceção de pré-executividade pode
ser apresentada.

4 CUSTAS PROCESSUAIS
Por ausência de previsão legal, não existem custas processuais a serem
pagas.

5 PROCEDIMENTO
Apresentada a exceção de pré-executividade e mostrando-se incabível, a
mesma deverá ser rejeitada de plano. Essa decisão é de natureza interlocutória,
logo, não comporta recurso de imediato pelo devedor (art. 893, § 1º, CLT). 1 A
questão poderá ser objeto de preliminar de embargos à execução.
Admitida a exceção de pré-executividade, a parte contrária deverá ser
intimada para se manifestar (princípio do contraditório) no prazo fixado pelo
magistrado.
Após a manifestação, cabe ao magistrado a decisão quanto ao mérito da
exceção de pré-executividade.
A decisão que acolhe a exceção é uma sentença, atacável por meio do

1 “AGRAVO DE PETIÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. DECISÃO DE


NATUREZA INTERLOCUTÓRIA. A decisão que rejeita a exceção de pré-executividade
é tipicamente interlocutória, não ensejando impugnação imediata (artigo 893, parágrafo
1º, da septuagenária CLT), posto que poderá ser reapresentada via embargos à execução,
após a garantia do MM. Juízo. Agravo de petição não conhecido” (TRT – 2ª R. – 11ª T. –
AP 00021831620145020084 – Rel. Ricardo Verta Luduvice – j. 10-2-2015).
“A decisão que rejeitou a exceção de pré-executividade tem natureza de decisão
interlocutória, e, portanto, irrecorrível de imediato, nos termos do parágrafo 1º do art. 893
da CLT. Tal discussão somente poderá ser levada a efeito por ocasião dos embargos à
execução, quando o juízo estiver garantido” (TRT – 2ª R. – 17ª T. – AP
00025801420115020203 – Rel. Thais Verrastro de Almeida – j. 29-1-2015).
agravo de petição (art. 897, a).
Os Enunciados 47 e 48 da Jornada Nacional sobre Execução na Justiça do
Trabalho (2010) (realizada nos dias 24 a 26 de novembro de 2010 em Cuiabá)
assim dispõem: “En. 47 – Cabe agravo de petição de decisão que acolhe
exceção de pré-executividade (CLT, art. 897, ‘a’). Não cabe, porém, da decisão
que a rejeita ou que não a admite, por possuir natureza interlocutória, que não
comporta recurso imediato.” “En. 48 – Incabível mandado de segurança da
decisão que rejeita ou que não admite exceção de pré-executividade.”

6 ESTRUTURA
A petição da exceção de pré-executividade (do excipiente) é dirigida ao juiz
da execução trabalhista.
O conteúdo é limitado às questões de ordem pública ou àquelas que o
magistrado deve conhecer de oficio (fatos e fundamento jurídico).
Deve-se requerer o regular processamento da exceção, com a intimação da
parte contrária (excepto).
Deve-se pleitear o reconhecimento da nulidade alegada.
Deve-se protestar pelas provas que se pretende produzir.

7 CONTRAMINUTA
A parte contrária tem o direito a se manifestar sobre o conteúdo da exceção
de pré-executividade (princípio do contraditório, art. 5º, LV, CF).
A manifestação se fará por simples petição ao juiz da execução,
oportunidade na qual deverão ser apresentados os argumentos de fato e de direito
contrários às alegações do excipiente.

8 Modelo de exceção de pré-executividade

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA


VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO – SP

(10 cm)

Processo nº

CASA DE CARNE NEGRÃO LTDA., por seu advogado, nos autos da reclamação
trabalhista movida por NEIDE CAMINHA SEM FIM, vem, à presença de Vossa Excelência,
apresentar EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE, com fulcro no direito constitucional de
petição (art. 5º, XXXIV, a, CF), pelas razões que passa a expor.

CABIMENTO

No direito constitucional de petição (art. 5º, XXIV, a, CF), a Excipiente (outrora Reclamada)
leva ao conhecimento de V. Exª, sem a necessidade da penhora ou dos embargos, matérias de
ordem pública, as quais poderiam ser conhecidas de ofício e independentemente de qualquer
questionamento ou alegação das Partes.

Desnecessário dizer que o prosseguimento da execução sem observância dos preceitos legais
processuais resultará em sensível prejuízo para as Partes, em especial, com a realização de atos
processuais desnecessários e decurso de tempo.

No caso concreto, inexiste a citação válida no processo de conhecimento da Excipiente (art.


884, CLT; arts. 535, I, 917, I, 525, § 1º, I, NCPC).

NULIDADE DA EXECUÇÃO: FALTA DE CITAÇÃO

Pela simples análise dos autos, pode-se afirmar que não houve a regular citação do
Excipiente no processo de conhecimento.

Ato necessário e indispensável à formação da relação processual válida (art. 240, NCPC),
até para que sejam observados os princípios constitucionais do devido processo legal e do amplo
direito de defesa (art. 5º, LIV e LV, CF).

Não há nos autos a juntada do comprovante do SEED dos Correios aos autos. Em outras
palavras, não há a prova de que a citação postal tenha sido entregue no endereço da Excipiente.

A Excipiente diligenciou junto à Secretaria da Vara do Trabalho e, após uma exaustiva pesquisa e
levantamento, nada foi encontrado quanto ao comprovante do SEED (certidão da Secretaria da Vara
anexa).

Como é de notório saber, nas lides trabalhistas, ao contrário do que ocorre no processo civil,
a citação não necessita ser pessoal. Basta a entrega da notificação postal no endereço indicado.
A comprovação se faz por meio do recibo de entrega da notificação em poder dos Correios, com
a assinatura da pessoa que a recebeu.
No entender do TST, compete ao destinatário comprovar que não recebeu a citação (Súm.
16, TST), contudo, há de ser ressaltado que no mínimo deve haver a comprovação que a
correspondência tenha sido entregue pelos Correios no endereço.

Essa comprovação da entrega da correspondência pelos Correios não há nos autos e, muito
menos, foi localizada pela Secretaria da Vara.

Nesse sentido, já julgou o TST:

“EMBARGOS. CITAÇÃO. PRESUNÇÃO MITIGADA. AUSÊNCIA NOS AUTOS DO AVISO


DE RECEBIMENTO. SÚMULA Nº 16/TST 1. A presunção de citação a que se refere a
Súmula nº 16/TST tem por fato constitutivo a efetiva ocorrência da postagem. Assim,
nascida a presunção com a demonstração da regular postagem, incumbe ao Réu a
demonstração de fato que lhe seja impeditivo. É dizer, comprovada a realização da
postagem, cabe ao Réu a prova de que esta não se deu da forma adequada, por erro, culpa,
ou mesmo dolo. 2. Na espécie, o Eg. Tribunal Regional consignou inexistir nos autos o
aviso de devolução postal, prova necessária à constituição da presunção a que se refere a
Súmula nº 16/TST. 3. Assim, ausente demonstração da materialidade da postagem, a
adoção da presunção aqui referida importaria em exigência de realização de prova
negativa e impossível dirigida contra a mera abstração, a ofender o princípio constitucional
da ampla defesa. 4. Precedentes da C. SBDI-1 e do Eg. Superior Tribunal de Justiça.
Embargos conhecidos e providos” (TST – SDI-II – E-RR 619.698.2000-2 – Relª Minª Maria
Cristina Irigoyen Peduzzi – DJ 25-5-2007).

A citação válida é um pressuposto de existência da relação processual.

Com a ausência de citação válida, todos os demais atos processuais, em especial, a decisão
que decretou a revelia da Excipiente e a sentença de fls. , são atos jurídicos inexistentes
(desprovidos de validade e eficácia).

Esse é o entendimento pacífico no TST:

“RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE


DE CITAÇÃO NO PROCESSO DE CONHECIMENTO. EXISTÊNCIA DE MEDIDA
PROCESSUAL PRÓPRIA. ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 92 DO SBDI-2 DO
TST. INCIDÊNCIA. A jurisprudência desta Eg. SBDI-2, consubstanciada na O.J. nº 92, está
orientada no sentido de que ’não cabe mandado de segurança contra decisão judicial
passível de reforma mediante recurso próprio, ainda que com efeito diferido. A existência
de recurso próprio para impugnar o ato apontado como coator, na forma do art. 5º, II, da
Lei nº 1.533/51, vigente no momento do manejo do mandamus, afasta o cabimento desse
writ por subsidiariedade, evidenciando a ausência do interesse de agir do postulante’. No
caso em exame, para impugnar a tese de regularidade da citação firmada na sentença e
confirmada em despacho ulterior, a parte dispunha de recurso ordinário e, após o trânsito
em julgado, de exceção de pré-executividade e, uma vez garantido o juízo, seria cabível o
manejo de embargos à execução, situação que atrai a incidência da citada O.J. nº 92 da
SBDI-2. Recurso ordinário não provido” (TST – SDI-II – RO 250-18.2013.5.23.0000 – Rel.
Min. Emmanoel Pereira – j. 18-8-2015).

Destarte, deverá ser reconhecida a nulidade de todos os atos processuais, a partir da citação,
com a determinação de nova citação.

CONCLUSÃO

Ante o exposto, espera o regular processamento da presente exceção de pré-executividade,


com a intimação da parte contrária para que se manifeste no prazo fixado por Vossa Excelência.

Após, deverá ser reconhecida a nulidade de todos os atos processuais realizados após a
citação, vez que não houve a citação válida da Excipiente.

Com isso, deverá também ser determinada nova citação da Excipiente.

Pretende-se provar o alegado por todos os meios admitidos em Direito (art. 5º, LVI, CF).

Nestes termos,

pede deferimento.

Local e data

Advogado

OAB nº

Você também pode gostar