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ação de rescisão de compromisso de compra e venda cumulada com reintegração de

posse e perdas e danos, a qual, julgada parcialmente procedente, determinou a


restituição da quantia paga pelos compradores.

Reconhecida a tempestividade dos Embargos de Declaração opostos pelos


embargantes passo à análise.
As características intrínsecas dos embargos de declaração estão delineadas no artigo
1.022 do Código de Processo Civil. Vejamos:
"Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer
decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;
III - corrigir erro material.
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência
aplicável ao caso sob julgamento;
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º
."
DOS EMBARGOS OPOSTOS PELA PARTE EXEQUENTE
Aduz o embargante ter havido error in procedendo por ter sido dela tolhida a
oportunidade de se manifestar acerca da extinção do feito pela perda superveniente de
seu objeto antes da prolação da sentença.
Ab initio, denoto que não assiste razão ao manejo dos presentes embargos
declaratórios, uma vez que pretendem alterar o conteúdo da decisão e os embargos,
conforme mencionado alhures, tem apenas o condão de corrigir os vícios acima
elencados.
Ademais, o terceiro enunciado da ENFAM (Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados) estabelece que: "é desnecessário ouvir as partes
quando a manifestação não puder influenciar na solução da causa".
Não bastasse a correlação direta, em termos materiais, entre os aclaratórios e os
fundamentos do decisum recorrido, merece registro, ademais, que “...não resulta em
ofensa ao princípio da dialeticidade se das razões do recurso interposto for possível
extrair fundamentos suficientes e notória intenção de reforma da sentença.” (STJ, 4ª
Turma, AgInt no REsp n. 2012613/PA, DJe de 9-3-2023).
No mesmo sentido se manifestou, de forma unânime, a 4ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, que acabou por limitar a conformação do princípio da vedação das
decisões-surpresa, conforme se extraí de trecho da ementa do julgado:
(…) "O 'fundamento' ao qual se refere o art. 10 do CPC/2015 é o
fundamento jurídico- circunstância de fato qualificada pelo direito,
em que se baseia a pretensão ou a defesa, ou que possa ter influência
no julgamento, mesmo que superveniente ao ajuizamento da ação -
não se confundindo com o fundamento legal (dispositivo de lei
regente da matéria). A aplicação do princípio da não surpresa não
impõe, portanto, ao julgador que informe previamente às partes quais
os dispositivos legais passíveis de aplicação para o exame da causa. O
conhecimento geral da lei é presunção jure et de jure"( Embargos de
Declaração no RESP nº 1.280.825-RJ.).

Pois bem. As causas de nulidade decorreriam da falta de intimação dos


exequentes antes de extinguir o feito sem resolução de mérito, entendendo que o
processo em epígrafe perdeu o objeto, em virtude da habilitação do crédito exequendo
junto ao processo de inventário de nº. 200200953650.
Deveras, tratando-se de sentença que julgou extinto o processo, sem resolução
do mérito, por reconhecer a ocorrência da perda superveniente de seu objeto, não há
falar em prejuízo material ou processual direto aos interesses dos réus/apelantes, como
anota a iterativa jurisprudência:
Importante ressaltar o princípio da pas de nullité sans grief (não há nulidade
sem prejuízo), isto é, só podem ser reconhecidas as nulidades processuais quando
verificados, concretamente, os prejuízos decorrentes do ato processual.
A jurisprudência vigente nas Turmas que compõem a Segunda Seção concluiu pela
necessidade de demonstração dos prejuízos para reconhecimento de nulidade de atos
processuais. A propósito:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO DE USUCAPIÃO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. POSSE
COM ÂNIMO DE DONO, MANSA E PACÍFICA POR MAIS DE
VINTE ANOS. COMPROVAÇÃO. REEXAME DE FATOS E
PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Não
configura ofensa aos arts. 165, 458 e 535 do CPC/73 o fato de o col.
Tribunal de origem, embora sem examinar individualmente cada um
dos argumentos suscitados, adotar fundamentação contrária à
pretensão da parte, suficiente para decidir integralmente a
controvérsia. 2. Afasta-se a alegação de julgamento extra petita
quando o provimento jurisdicional decorre de uma compreensão
lógico-sistemática dos fatos e fundamentos expostos na petição inicial,
entendido como aquilo que se pretende com a instauração da
demanda. 3. O reconhecimento da nulidade de atos processuais exige
efetiva demonstração de prejuízo suportado pela parte interessada, em
respeito ao princípio da instrumentalidade das formas (pas de nullité
sans grief). 4. O Tribunal de origem, à luz do acervo fático-probatório
carreado aos autos, concluiu que a parte autora comprovou os
requisitos da usucapião e a parte ré não demonstrou que se opôs à
posse da autora. A pretensão de alterar tal entendimento, considerando
as circunstâncias do caso concreto, demandaria o reexame de matéria
fático-probatória, o que é inviável em sede de recurso especial, nos
termos da Súmula 7/STJ. 5. Agravo interno a que se nega provimento.
( AgInt no AREsp 977.423/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019 - sem
destaque na original)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL


E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
CITAÇÃO POR EDITAL. VALIDADE. REEXAME DE
PROVA. INVIABILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º
7/STJ. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. NECESSIDADE DE
DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. NÃO OCORRÊNCIA.
ARREMATAÇÃO. PREÇO VIL. NÃO OCORRÊNCIA.
INCIDÊNCIA DA SÚMULAS N.º 7. 1. Inexistência de maltrato
ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido, ainda que de
forma sucinta, aprecia com clareza as questões essenciais ao
julgamento da lide. 2. Rever as conclusões do acórdão recorrido
acerca da validade da citação por edital e da existência de
prejuízo à defesa demandaria o reexame de matéria fático-
probatória, o que é vedado em sede de recurso especial, nos
termos da Súmula n.º 7 do Superior Tribunal de Justiça. 3. A
declaração da nulidade dos atos processuais depende da
demonstração da existência de prejuízo à parte interessada (pas
de nullité sans grief). 4. "Inexiste preço vil quando a alienação
atinge 60% do valor atualizado da avaliação". ( AgRg no AgRg
no AREsp 609.253/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/05/2015, DJe
21/05/2015) 5. Inviabilidade de se verificar se a arrematação do
bem na execução se deu por preço vil por demandar revisão do
conjunto fático-probatório dos autos. Incidência da Súmula n.
7/STJ. 6. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. ( AgRg no
REsp 1525471/MS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
01/10/2015, DJe 07/10/2015 - sem destaque na original)
Assim, em relação à violação ao princípio da não surpresa, inexiste a afronta à
referida regra principiológica quando o julgador examinado os fatos expostos aplicar o
entendimento jurídico coerente para a causa. Nesse sentido:
RECURSO ESPECIAL. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM
QUE ADOTOU FUNDAMENTO DIVERSO DO ADOTADO PELA
SENTENÇA, COM BASE EM NOVA SITUAÇÃO DE FATO.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA NÃO SURPRESA. ART. 10 DO
CPC/2015. OCORRÊNCIA. ANULAÇÃO PARA OITIVA DA
PARTE. DESNECESSIDADE. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. 1. "O
'fundamento' ao qual se refere o art. 10 do CPC/2015 é o fundamento
jurídico - circunstância de fato qualificada pelo direito, em que se
baseia a pretensão ou a defesa, ou que possa ter influência no
julgamento, mesmo que superveniente ao ajuizamento da ação -, não
se confundindo com o fundamento legal (dispositivo de lei regente da
matéria). A aplicação do princípio da não surpresa não impõe,
portanto, ao julgador que informe previamente às partes quais os
dispositivos legais passíveis de aplicação para o exame da causa. O
conhecimento geral da lei é presunção jure et de jure" (EDcl no Resp
nº 1.280.825/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma,
julgado em 27/6/2017, DJe 1/8/2017.) 2. O art. 933 do CPC/2015, em
sintonia com o multicitado art. 10, veda a decisão surpresa no âmbito
dos tribunais, assinalando que, seja pela ocorrência de fato
superveniente, seja por vislumbrar matéria apreciável de ofício ainda
não examinada, deverá o julgador abrir vista, antes de julgar o recurso,
para que as partes possam se manifestar. 3. Não há falar em decisão
surpresa quando o magistrado, diante dos limites da causa de pedir, do
pedido e do substrato fático delineado nos autos, realiza a tipificação
jurídica da pretensão no ordenamento jurídico posto, aplicando a lei
adequada à solução do conflito, ainda que as partes não a tenham
invocado (iura novit curia) e independentemente de oitiva delas, até
porque a lei deve ser do conhecimento de todos, não podendo
ninguém se dizer surpreendido com a sua aplicação. 4. Na hipótese, o
Tribunal de origem, valendo-se de fundamento jurídico novo - prova
documental de que o bem alienado fiduciariamente tinha sido
arrecadado ou se encontraria em poder do devedor -, acabou
incorrendo no vício da decisão surpresa, vulnerando o direito ao
contraditório substancial da parte, justamente por adotar tese -
consubstanciada em situação de fato - sobre a qual a parte não teve
oportunidade de se manifestar, principalmente para tentar influenciar o
julgamento, fazendo prova do que seria necessário para afastar o
argumento que conduziu a conclusão do Tribunal a quo em sentido
oposto à sua pretensão. 5. No entanto, ainda que se trate de um
processo cooperativo e voltado ao contraditório efetivo, não se faz
necessária a manifestação das partes quando a oitiva não puder
influenciar na solução da causa ou quando o provimento lhe for
favorável, notadamente em razão dos princípios da duração razoável
do processo e da economia processual. 6. No presente caso, ainda que
não exista prova documental sobre a localização do equipamento (se
foi arrecadado ou se está em poder do devedor ou de terceiros), tal
fato não tem o condão de obstaculizar o pedido de restituição, haja
vista que, conforme os ditames da lei, se a coisa não mais existir ao
tempo do pedido de restituição, deverá o requerente receber o valor da
avaliação do bem ou, em caso de venda, o respectivo preço (art. 86, I,
da Lei nº 11.101/05) 7. Recurso especial provido. ( REsp 1755266/SC,
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 18/10/2018, DJe 20/11/2018).
Os fatos da causa devem ser submetidos ao contraditório, não o ordenamento jurídico,
o qual é de conhecimento presumido não só do juiz (iura novit curia), mas de todos os sujeitos
ao império da lei, conforme presunção jure et de jure (art. 3º da LINDB).

A subsunção dos fatos à lei deve ser feita pelo juiz no ato do julgamento e não
previamente, mediante a pretendida submissão à parte, pelo magistrado, dos dispositivos
legais que possam ser cogitados para a decisão do caso concreto. Da sentença, que subsumiu
os fatos a este ou àquele artigo de lei, caberá toda a sequencia de recursos prevista no novo
Código de Processo Civil.
A aventada exigência de que o juiz submetesse a prévio contraditório das partes não
apenas os fundamentos jurídicos, mas também os dispositivos legais (fundamento legal) que
vislumbrasse de possível incidência, sucessivamente, em relação aos pressupostos
processuais, condições da ação, prejudiciais de mérito e ao próprio mérito, inclusive pedidos
sucessivos ou alternativos, entravaria o andamento dos processos, conduzindo ao oposto da
eficiência e celeridade desejáveis. Seria necessário exame prévio da causa pelo juiz, para que
imaginasse todos os possíveis dispositivos legais em tese aplicáveis, cogitados ou não pelas
partes, e a prolação de despacho submetendo artigos de lei - cujo desconhecimento não pode
ser alegado sequer pelos leigos - ao contraditório, sob pena de a lei vigente não poder ser
aplicada aos fatos objeto de debate na causa.

De toda forma, a manifestação do exequente, então embargante, qualquer que fosse,


não iria alterar ou sequer influenciar na decisão proferida, em razão da perda do objeto,
inexistindo, portanto, violação ao princípio da não surpresa.

DOS EMBARGOS OPOSTOS PELA PARTE EXECUTADO


Entende a embargada/executada que a citação por edital não foi válida e
regular, porquanto houve apenas uma única tentativa de citação por AR, em endereço
diferente do que foi informado no termo de audiência realizada em 28 de maio de
1997, (evento 03, documento 02, pg. 69 dos autos digitais e fls. 174 do processo físico)
e que, não esgotadas as tentativas de citação regular, configurada estaria a prescrição.
Pois bem. Como é cediço, por representar medida extraordinária, a citação
por edital deve ser precedida de providências exaurientes, voltadas à localização da
parte demandada.
Assim, a afirmação da parte exequente, ora embargada, de que a
executada se encontrava em lugar incerto e não sabido, considerada em princípio,
pelo artigo 231, inc. II, do CPC/73 (vigente na época dos fatos), como suficiente para
dar respaldo à citação por edital, deve ser contextualizada com o caráter
extraordinário da medida e com os meios de localização disponíveis.

O que na verdade transparece da inteligência dos artigos 231, inc. II, e


232, inc. I, do Código revogado é que a citação por edital deve ser reservada para as
hipóteses em que restar evidenciada a impossibilidade da citação pelo correio, ou
por oficial de justiça, sob pena de violação ao devido processo legal e consequente
nulidade processual.

Considerando as hipóteses em que remanescem medidas ao alcance da


parte exequente, ou passíveis de adoção mediante a intervenção do próprio
Judiciário, não se pode admitir que a citação seja feita de forma precipitada, pelo
mecanismo editalício.

Com efeito, na presente hipótese, verifico que não foram esgotados os


meios disponíveis para a citação pessoal do ora embargado, porquanto a tentativa
de cumprimento desse indispensável ato processual foi tentado em endereço divero
do indicado na audiência realizada em 28 de maio de 1997, (evento 03, documento 02,
pg. 69 dos autos digitais e fls. 174 do processo físico).

Saliente-se que, sequer, foram efetuadas consultas a órgãos/sistemas


conveniados a este Tribunal.

Portanto, é inimaginável que a citação por edital


pudesse ser realizada sem nenhuma outra tentativa de
citação pessoal. Assim, não há como dizer que foram
esgotadas as medidas prévias necessárias para que se
procedesse à citação ficta, ocorrendo a nulidade
arguida.

Ademais, a intimação da penhora foi realizada na


pessoa do próprio agravante no mesmo endereço (ev.
40 do processo da execução), e este juntou talões de
água e energia elétrica no próprio nome que comprovam
que sempre residiu no local, pelo menos, até o dia que
aforou o exceção de pré-executividade.

Sob tal cenário, forçoso concluir que a citação


editalícia realizada no processo de execução apenso
não é válida.

A propósito:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL - AUTOS DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO NA ORIGEM - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU
PROVIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA RECURSAL DA
AGRAVANTE.
1. Não ficou configurada a violação aos
arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, uma vez
que o Tribunal de origem se manifestou de
forma fundamentada sobre todas as
questões necessárias para o deslinde da
controvérsia. O mero inconformismo da
parte com o julgamento contrário à sua
pretensão não caracteriza falta de
prestação jurisdicional. 2. Nos termos da
jurisprudência desta Corte, a citação por
edital somente é admitida quando
previamente esgotadas as tentativas de
localização da parte demandada. 2.1. "O
comparecimento espontâneo do executado
na fase de cumprimento de sentença não
supre a inexistência ou a nulidade da
citação. Ao comparecer espontaneamente
nessa etapa processual, o executado
apenas dar-se-á por intimado do
requerimento de cumprimento e, a partir de
então, terá início o prazo para o
oferecimento de impugnação, na qual a
parte poderá suscitar o vício de citação,
nos termos do art. 525, § 1º, I, do
CPC/2015." (REsp n. 1.930.225/SP,
relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, DJe de 15/6/2021.). 3. O Tribunal
de origem decidiu em consonância com a
Jurisprudência desta Corte Superior, que
possui firme o entendimento no sentido de
que são devidos honorários advocatícios ao
executado/ impugnante quando o
acolhimento da impugnação do
cumprimento de sentença resulte em
extinção do procedimento executivo ou
redução do montante executado, o que,
segundo o acórdão recorrido, ocorreu no
presente caso. Precedentes. 4. Agravo
interno desprovido. (AgInt no REsp n.
2.002.572/MG, relator Ministro Marco
Buzzi, Quarta Turma, julgado em 3/4/2023,
DJe de 11/4/2023.) grifado.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA.


CONSTITUIÇÃO DO MANDADO
MONITÓRIO EM TÍTULO EXECUTIVO
JUDICIAL. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA
CITAÇÃO EDITALÍCIA POR FALTA DE
ESGOTAMENTO DOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO DAS PARTES
DEMANDADAS NOS
ENDEREÇAMENTOS INDICADOS PELOS
SISTEMAS BACENJUD. A saber que a
citação deverá ser pessoal sempre que
possível, conforme a dicção do art. 242 do
CPC, admitindo-se excepcionalmente a
citação por edital, somente quando
esgotadas todas as possibilidades de
localização do réu ou do devedor, e
aferindo que não houve o exaurimento das
diligências cabíveis para a citação pessoal,
o aspecto da temporalidade dilargada da
prossecução da causa não é bastante para
suprir a exigência legal e jurisprudencial
sobre o fato, exsurgindo, às escâncaras, a
nulidade da citação editalícia, por ofensa
aos termos do § 3º do art. 256 do CPC.
Sentença cassada com declaração de
nulidade da citação editalícia e atos
subsequentes. APELAÇÃO CÍVEL
CONHECIDA E PROVIDA. (TJGO. AC
5000842-80.2018.8.09.0051. 2ª Câmara
Cível. Rel. Des. Leobino Valente Chaves.
02/03/2023).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE
UNIÃO ESTÁVEL C/C ALIMENTOS, EM
FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. NULIDADE DA CITAÇÃO
POR EDITAL, PROMOVIDA NA FASE DE
CONHECIMENTO. RÉU QUE
TRABALHAVA EM OUTRO ESTADO.
SITUAÇÃO QUE ERA DE
CONHECIMENTO DA AUTORA. NÃO
ESGOTAMENTO DAS DILIGÊNCIAS
CABÍVEIS. DECISÃO REFORMADA.
NULIDADE RECONHECIDA. 1. A citação
por edital é medida excepcional, adotada
quando esgotados todos os meios possíveis
de localização da parte ré. 2. Não obstante
as inúmeras tentativas de citação
realizadas no endereço do réu, a autora
tinha pleno conhecimento de que este
trabalhava em outro Estado, daí o motivo
de não ser encontrado em seu domicílio.
Com efeito, as partes mantiveram união
estável, sendo que o apelante trabalha na
mesma empresa há muitos anos, fato que
era de conhecimento da autora, que sabia,
inclusive, o nome da empresa
empregadora, daí por que não se pode
admitir que o réu/apelante estivesse em
local incerto ou ignorado. 3. A
consequência do reconhecimento de
nulidade da citação por edital é a
invalidação dos atos processuais
posteriores. Agravo de instrumento provido.
(TJGO. AI 5212946.11.2020.8.09.0000. 2ª
Câmara Cível. Rel. Des. Zacarias Neves
Coêlho. 05/08/2020).
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS A
EXECUÇÃO FISCAL. CITAÇÃO FICTA.
EXTINÇÃO DO FEITO. NULIDADE. 1. Nos
termos do artigo 256 c/c 8º, da Lei n.
6.830/1980, a citação editalícia só deve
ocorrer depois de esgotados todos os
meios necessários para a localização do
devedor, situação não demonstrada no
caso concreto. 2. É de ser declarada a
nulidade da citação ficta, com fulcro no
artigo 280 do CPC, em privilégio ao
princípio do devido processo constitucional.
APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA.
SENTENÇA CASSADA. (TJGO. AC
5414837-55.2017.8.09.0011. 2ª Câmara
Cível. Rel. Des. Reinaldo Alves Ferreira.
13/05/2022).

Pois bem! Considerada inválida a citação por edital levada a cabo no


processo de execução, conclusão inarredável é a ausência de interrupção da
prescrição, conforme inteligência do art. 219 do CPC/73, vigente na época dos fatos.

No caso, o título exequendo teve seu vencimento em 30/03/2013 e o


pedido executivo foi aforado em 08/11/2013, portanto, a princípio, dentro do prazo
prescricional – que é de 3 anos, segundo a intelecção do art. 60 do Decreto-Lei
167/67 e do art. 70 da Lei Uniforme.

Art. 60. Aplicam-se à cédula de


crédito rural, à nota promissória
rural e à duplicata rural, no que
forem cabíveis, as normas de direito
cambial, inclusive quanto a aval,
dispensado porém o protesto para
assegurar o direito de regresso contra
endossantes e seus avalistas.

Art. 70. Todas as ações contra o


aceitante relativas a letras
prescrevem em 3 (três) anos a contar
do seu vencimento.
Todavia, considerando que no caso não há citação válida, não pode ser
considerada interrompida a prescrição, na forma do art. 219 do CPC/73 (vigente na
época dos fatos), depois de passados mais de 8 anos da publicação do edital.

Neste mesmo sentido, é o entendimento do Colendo Superior Tribunal de


Justiça e desta Egrégia Corte, expressado nas seguintes decisões:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO


INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE COBRANÇA DE TAXA
CONDOMINIAL. AFIRMADA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 183, 467, 468, 471, 472 E 472
DO CPC/73. PREQUESTIONAMENTO INEXISTENTE. INCIDÊNCIA DAS
SÚMULAS NºS. 282 E 356 DO STF. DEFICIÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO.
APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA SÚMULA Nº 284 DO STF. ALEGADA NEGATIVA
DE VIGÊNCIA DOS ARTS. 219 DO CPC/73 E 202, § 5º, I, DO CC/02.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO. RÉUS QUE FALECERAM ANTES DO
AJUIZAMENTO DA AÇÃO. TRÂNSITO EM JULGADO DE DECISÃO QUE ANULOU
O PROCESSO E A CITAÇÃO POR EDITAL. CITAÇÃO DECRETADA NULA NÃO
PODE INTERROMPER O PRAZO PRESCRICIONAL. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. 1. Aplicabilidade das disposições do NCPC, no que se refere aos
requisitos de admissibilidade do recurso especial ao caso concreto ante os termos
do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a
decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos aos requisitos
de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. A ausência do indispensável
prequestionamento do tema federal e a deficiência na fundamentação impossibilitam
o conhecimento do recurso especial, no que tange a alegada ofensa aos arts. 183,
467, 468, 471, 472 e 472 do CPC/73. Aplicação, por analogia, das Súmulas nºs. 282,
356 e 284 do STF. 3. Da interpretação conjugada das normas dos arts. 219 do
CPC/73 e 202, I, do CC/02, extrai-se o entendimento de que a prescrição é
interrompida pelo despacho que ordena a citação e que a sua concretização faz com
que seus efeitos interruptivos retroajam à data da propositura da ação. 4. Processo
em que não houve citação válida é inexistente. 4.1. Decretada a nulidade absoluta
do processo e da citação por edital dos réus falecidos antes da propositura da ação
de cobrança da taxa condominial por decisão já transitada em julgado, não pode ele
renascer já que não existiu, muito menos ela serviu para interromper a prescrição.
4.2. Ato nulo, por resguardar interesse público maior, em regra, é ineficaz, não pode
ser confirmado pelas partes e não pode ser convalidado pelo decurso do tempo. 5. A
Corte Especial já proclamou que não há interrupção da prescrição (i) se a citação
ocorre depois da implementação do prazo prescricional; ou, mesmo antes, (ii) se a
citação não obedece a forma da lei processual. 6. Recurso especial provido para
reconhecer a ocorrência da prescrição. (REsp n. 1.777.632/SP, relator Ministro
Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 25/6/2019, DJe de 1/7/2019).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE


TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CITAÇÃO POR
EDITAL. NULIDADE DECRETADA NA ORIGEM.
CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. PRAZO
PRESCRICIONAL TRIENAL. LEI UNIFORME DE
GENEBRA. CITAÇÃO NULA NÃO INTERROMPE
PRESCRIÇÃO. DECISÃO REFORMADA. 1. O
Agravo de Instrumento é recurso que possui
cognição restrita, isto é, limita-se a apreciação dos
elementos que integralizaram o conhecimento do
julgador ao instante da análise da decisão atacada,
sendo vedado a instância revisora adentrar ao
mérito da demanda originária, sob pena de
supressão de instância. 2. Conforme estabelece o
art. 44 da Lei n. 10.931/2004, aplica-se às Cédulas
de Crédito Bancário, no que couber, a legislação
cambial, de modo que se mostra de rigor a
incidência do art. 70 da Lei Uniforme de Genebra,
que prevê o prazo prescricional de 3 (três) anos a
contar do vencimento da dívida. 3. Se a citação
válida ocorre depois da concretização do prazo
prescricional ou se ela não obedece a forma da lei
processual, há que se reconhecer que se
consumou a prescrição para a cobrança do crédito
representado pela Cédula de Crédito Bancário n.
60221-0, vencida desde julho de 2015, por força
do disposto no art. 70, da Lei Uniforme de
Genebra. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO
REFORMADA. (TJGO. AI 5070648-
22.2023.8.09.0119. 2ª Câmara Cível. Rel. Des.
José Carlos de Oliveira. 13/04/2023).

Ao teor do exposto, conheço do presente agravo de instrumento e lhe dou


provimento para reconhecer a invalidade da citação editalícia e a consequente
prescrição do título exequendo, em relação a João Pereira Espíndula.

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