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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA CÍVEL DA COMARCA DE

RECIFE PE

Processo nº 0037799-50.2017.8.17.2001
EXEQUENTE: NEUZA DE CASTRO MONTEIRO LOBO e outro
EXECUTADO: BANCO DO BRASIL SA

NEUZA DE CASTRO MONTEIRO LOBO e outro, devidamente qualificada nos


presentes autos, através de seu advogado infra-assinado, diante do conteúdo da decisão retro,
vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 1.009 e seguintes do Novo Código
Processo Civil, interpor tempestivamente RECURSO DE APELAÇÃO, requerendo desde já
sejam remetidas as razões recursais anexas para o Tribunal de Justiça.

De início, dirigindo-se ao juízo de primeiro grau, a parte exequente, ora apelante,


vem demonstrar o total interesse no prosseguimento do feito, atendendo assim, ao ato
ordinatório praticado nos autos de origem.

Informa que deixa de juntar a guia de custas de preparo do recurso, uma vez que
beneficiária da justiça gratuita.

Termos em que,

Pede deferimento.

Recife/PE, terça-feira, 28 de março de 2023

Evandro José Lago


OAB/PE 1253-A
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Processo nº 0037799-50.2017.8.17.2001
EXEQUENTE: NEUZA DE CASTRO MONTEIRO LOBO e outro
EXECUTADO: BANCO DO BRASIL SA

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco

Emérito(a) Desembargador(a) Relator(a),

Douto(a) Desembargador(a) Relator(a),

I. DO PREPARO

Informa que, deixa de recolher as custas de preparo de interposição do presente


Recurso, por ser beneficiária da justiça gratuita.

II. DA TEMPESTIVIDADE

Inicialmente, cumpre ressaltar a tempestividade do presente recurso, sendo que


o prazo é de 15 (quinze cinco) dias.

Portanto, é tempestivo o presente Recurso apresentado nesta data.

III. DA SÍNTESE PROCESSUAL

Detalhando-se o histórico processual relativo ao presente feito, cumpre informar, de


início, tratar-se de feito com vistas à execução da sentença coletiva do chamado Plano Verão,
instituído em 15 de janeiro de 1989, por meio da Medida Provisória n. 32, convertida
posteriormente na Lei n. 7.730, de 31.1.1989.

Portanto, este feito, em verdade, tem como origem a Ação Civil Pública nº
1998.01.1.016798-9 (já colacionada aos autos) que tramitou na 12ª Vara Cível do DISTRITO
FEDERAL e TERRITÓRIOS, na qual o INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR – IDEC demandou em face do BANCO DO BRASIL S.A objetivando a
condenação no pagamento das diferenças das correções aplicadas às cadernetas de
poupanças, em virtude do Plano Verão.

Ato contínuo, foi prolatada a sentença, decisão em que o Juízo de origem apontou
a ocorrência de prescrição, extinguindo o feito com resolução de mérito.

A partir da leitura do comando decisório exarado nos autos, especialmente na parte


em que se analisou a matéria relativa à prescrição, com a devida vênia, verifica-se que o Juízo
de Origem equivocou-se em relação ao não reconhecimento da interrupção da prescrição
ocasionada com a Medida Cautelar de Protesto manejada pelo MPDFT.

Desta forma, novamente pedindo-se todas as vênias ao entendimento contrário,


não há que se falar em ocorrência de prescrição, conforme restará demonstrada nos termos
abaixo delineados, de modo que torna-se necessário a reforma da sentença de piso.

IV. DA DECISÃO QUE INTERROMPEU A PRESCRIÇÃO

Particularidades da presente demanda

Importante ressaltar que não se está questionando:

a) O prazo prescricional da ação civil pública já decidida que este é quinquenal;

b) Ou o prazo de cobrança individual;

O que se verifica de forma clara, e apesar de não agradável aos olhos do Banco
requerido que por sua vez procederá com as mais diversas tentativas de rechaçar a
presente verdade, esta não poderia ser deixada de lado.

Busca-se apenas, simploriamente o cumprimento do que a Lei aduz, apesar de


não se esperar mais com esperança no cumprimento dela em nossa nação.

Não se fala mais em segurança jurídica e operação do direito, mas da espera


ansiosa de tempos melhores e mais justos, onde causídicos possam orgulhar-se de tentar
manusear o direito como fonte pura de equilíbrio da sociedade, sem deixar nas mentes a
incerteza da pressão externa dentro do tão mutilado judiciário brasileiro.

V. INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO. MEDIDA CAUTELAR DE PROTESTO.


INTERRUPÇÃO. LEGITIMIDADE DO MPDFT. DISTINÇÃO DO CASO CONCRETO COM O
RESP N. 1.273.643/PR. DOUTRINA DO MINISTRO Teori Albino Zavascki.

Como já indicado na peça pórtico destes autos, em 24/09/2014 a 1ª Promotoria de


Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon)  - MPDFT MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITORIOS propôs Medida Cautelar de Protesto contra o BANCO DO
BRASIL S/A requerendo a interrupção da prescrição para a propositura de Ação de
Liquidação/Execução de Sentença, referente à Ação Civil Pública n° 1998.01.1.016798-9,
ajuizada pelo Idec em face do Banco do Brasil.

O Despacho proferido em 03/10/2014 nos autos da Medida Cautelar de Protesto


(fls.79/104 dos autos do processo 2014.01.1148561-3) interrompeu assim o prazo
prescricional: “Expeça-se mandado de notificação ao réu quanto a medida cautelar com o
objetivo específico de interrupção da prescrição”.

Outrossim, cumpre também mencionar, data vênia, que o caso concreto se


distingue do paradigma do RESP N. 1.273.643/PR, apontado na sentença de mérito, pois a
pretensão executiva em debate está amparada pela interrupção da prescrição em razão do
ajuizamento da referida medida cautelar de protesto, fato que NÃO se verifica na “decisão-
quadro” trazida na sentença guerreada.

É fato incontroverso que a regra para o exercício do direito de executar é de 05


anos; todavia, registre-se, no caso concreto, tal prazo fora interrompido diante do manejo da
cautelar de protesto proposta pelo MPDFT, o que torna este processo nitidamente distinto
daquele outro.

De pronto, já se constata uma nulidade da sentença de mérito, por ausência de


fundamento, pois ao magistrado é vedado “se limitar a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos” (art. 489, §1º, V do CPC). Está nítido que o Juízo
a quo não se desincumbiu do ônus de fazer o cotejo analítico entre a racio decidendi do
RESP N. 1.273.643/PR com as peculiaridades do caso concreto, a destacar, os efeitos da
medida cautelar do processo 2014.01.1148561-3.

Cassio Scarpinella Bueno1 ao comentar sobre o ônus do magistrado no


esgotamento da fundamentação explicita que:

A aplicação concreta da ratio decidendi extraída de uma decisão


paradigmática (um verdadeiro precedente), consubstanciada num
enunciado de súmula ou mesmo em vários julgados num mesmo
sentido (“prudentes”) de um tribunal, depende necessariamente
da explicitação exaustiva das razões pelas quais o caso
concreto se ajusta à aquele raciocínio ou àquela “prudência
jurisprudêncial” (inciso V)

Percebe-se que a postura usual, data vênia, de invocar determinada jurisprudência,


precedente ou súmula, sem demonstrar concretamente a sua pertinência com o caso concreto
não satisfaz a fundamentação exauriente exigida pelo atual Código de Processo Civil, cuja
consequência é o irremediável reconhecimento de ausência de fundamento da decisão, como
se apresenta, exatamente, a sentença de mérito atacada.

O mesmo rigor deve ser observado quando o magistrado estiver convencido de não
adequação ao caso concreto do respectivo “precedente” invocado pela parte, fato processual,
inclusive, já abordado pelo Fórum Permanente de Processualistas Civis - FPPC, que resultou
no enunciado 306, senão vejamos:
1
BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Comentários ao Código de Processo Civil. Arts. 318 a
538 – Parte Especial. 2017, Saraiva, pg. 435
O precedente vinculante não será seguido quando o juiz ou o
tribunal distinguir o caso sob julgamento, demonstrando,
fundamentamente, tratar-se de situação particularizada por
hipótese fática distinta, a impor solução jurídica diversa.

Assim, não há dúvida acerca da ausência de fundamentação legal da sentença


atacada, devendo assim, ser anulada por flagrante error in procedendo.

De outra banda, a legitimidade do MPDFT para promover a Medida Cautelar de


Protesto em defesa do direito individual homogêneo tem previsão legal nos arts. 82, inciso I,
83, ambos do CDC, com concretude também firmada na alínea c, do inciso VII, do artigo 6º
da Lei Complementar nº 75/1993.

A via eleita da medida cautelar de protesto como meio para interrupção da


prescrição tem indicação do art. 202, inciso II2, ao passo que o art. 203, registra que “qualquer
interessado” poderá interromper a prescrição.

Todavia, a controvérsia do caso em destaque, é saber se ultrapassado a fase


de conhecimento da Ação Civil Pública o Ministério Público teria legitimidade para
manejar demanda em favor dos consumidores atingidos pela sentença coletiva ? O
Julgamento desse feito cinge-se a essa resposta.

O ratio decidendi da decisão atacada apenas registra que o Ministério Público não
teria legitimidade para propor a Medida Cautelar de Protesto nº 2014.01.1148561-3 com a
finalidade de obter a “interrupção do prazo prescricional acerca das futuras e possíveis ações
executivas e/ou cumprimentos de sentença dos poupadores, os quais são, de fato, os
legitimados para tanto”.

Mas, como visto, a sentença de mérito não fez o devido enfrentamento da natureza
jurídica da medida cautelar, no sentido de dizer se o tratamento conferido a legitimação para
propositura do cumprimento de sentença genérica deve ser o mesmo para o manejo da
cautelar de protesto, a qual, tem como eficácia a proteção dos interesses individuais
homogêneos, distinto, portanto, do pedido de conteúdo executório, que visa a individualização
do quantum debeatur.

A legitimidade do Ministério Público para proposição de demandas coletivas tem


por escopo a defesa da tutela dos interesses sociais e individuais homogêneos, como
substituto processual.

O Ministro Teori Zavascki era um estudioso do direito processual civil, em especial


do direito coletivo, tanto é que, Fredie Diddier Jr faz citação do brilhante voto proferido no RE
631.111/GO3, em obiter dictum em decisão que garantiu a legitimação do Ministério
Público para a defesa dos segurados do DPVAT, confirmando-se a aplicação da teoria num
caso concreto:

2
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do
último ato do processo para a interromper.
Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
3
DIDIER JR, Fredie; ZANETI, Hermes Jr. Curso de Direito Processual Civil. Processo
Coletivo. 11 ed. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2017, pgs.82/83.
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA.
DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS (DIFUSOS E COLETIVOS) E
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DISTINÇÕES.
LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ARTS. 127 E 129, III, DA
CF. LESÃO A DIREITOS INDIVIDUAIS DE DIMENSÃO AMPLIADA.
COMPROMETIMENTO DE INTERESSES SOCIAIS QUALIFICADOS.
SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA LEGITIMIDADE ATIVA. 1. Os
direitos difusos e coletivos são transindividuais, indivisíveis e sem titular
determinado, sendo, por isso mesmo, tutelados em juízo
invariavelmente em regime de substituição processual, por iniciativa dos
órgãos e entidades indicados pelo sistema normativo, entre os quais o
Ministério Público, que tem, nessa legitimação ativa, uma de suas
relevantes funções institucionais (CF art. 129, III). 2. Já os direitos
individuais homogêneos pertencem à categoria dos direitos subjetivos,
são divisíveis, tem titular determinado ou determinável e em geral são
de natureza disponível. Sua tutela jurisdicional pode se dar (a) por
iniciativa do próprio titular, em regime processual comum, ou (b) pelo
procedimento especial da ação civil coletiva, em regime de substituição
processual, por iniciativa de qualquer dos órgãos ou entidades para
tanto legitimados pelo sistema normativo. 3. Segundo o procedimento
estabelecido nos artigos 91 a 100 da Lei 8.078/90, aplicável
subsidiariamente aos direitos individuais homogêneos de um
modo geral, a tutela coletiva desses direitos se dá em duas
distintas fases: uma, a da ação coletiva propriamente dita,
destinada a obter sentença genérica a respeito dos elementos que
compõem o núcleo de homogeneidade dos direitos tutelados (an
debeatur, quid debeatur e quis debeat); e outra, caso procedente o
pedido na primeira fase, a da ação de cumprimento da sentença
genérica, destinada (a) a complementar a atividade cognitiva
mediante juízo específico sobre as situações individuais de cada
um dos lesados (= a margem de heterogeneidade dos direitos
homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum
debeatur), bem como (b) a efetivar os correspondentes atos
executórios. [...] (RE 631.111/GO, Relator o Ministro Teori Zavascki,
Tribunal Pleno, DJe 29/10/14)

Sobre esse tema, a doutrina abalizada do Eminente Ministro do STF, Teori


Albino Zavascki, em sua obra Processo Coletivo, publicada no ano do seu trágico
falecimento (2017), 7ª Ed., Revistas dos Tribunais, pg. 229, elucida os limites de atuação do
Ministério Público na defesa dos interesses individuais homogêneos, como supedâneo teórico
do RE 631.111/GO, acima transcrito, verbis:

Mas é importante acentuar que a legitimação do Ministério Público deve


ficar restrita às medidas judiciais para tutela dos interesses sociais e
somente a elas. É apenas nesses limites, como antes se fez ver, que se
pode justificar, constitucionalmente, a atuação do Ministério Público em
demandas cujo objeto (ainda que mediata e indiretamente) estão
aqueles interesses, mas cujo objeto imediato e direto é constituído, na
verdade, de direitos individuais disponíveis. Tais limites estão
demarcados pelas linhas antes referidas, já traçadas pelo legislador
para as hipóteses de direitos homogêneos tutelados pelo Código de
Defesa do Consumidor: as demandas devem buscar sentença genérica,
que faça juízo sobre o chamado núcleo de homogeneidade dos direitos
demandados, estabelecendo a responsabilidade do causador do dano.
Incluem-se, também, certamente, as demandas de natureza
preventiva, tendentes a evitar a ocorrência de danos e buscando o
desiderato, medidas inibitórias, tais como as previstas no art.497
do CPC. (destaque nosso)

Preclaros Desembargadores, o peso dessa doutrina supracitada é incontestável,


bem como o reconhecimento de que o Ministério Público tem sim legitimidade, inclusive, na
fase executiva, para propor demandas centradas no “núcleo de homogeneidade”, como
demonstra a medida cautelar de protesto, cuja causa de pedir teve como alcance evitar a
ocorrência da prescrição da pretensão executiva dos milhares de consumidores
atingidos pela sentença coletiva da ACP nº 1998.01.1.016798-9, ajuizada pelo IDEC em
face do Banco do Brasil (processo de origem).

Muito diferente seria se o Ministério Público propusesse a liquidação de


sentença/cumprimento de sentença, com a finalidade de individualizar o crédito,
pretensão que caberá somente ao respectivo interessado/poupador.

Então, a pedra de toque desse julgamento é entender que a natureza jurídica da


medida cautelar de protesto, por mais que tenha sido proposta na fase de liquidação, não teve
o condão de individualizar o quantum debeatur, mas apenas proteger da ocorrência da
prescrição, uma gama de consumidores/poupadores atingidos por aquela sentença coletiva, os
quais, por falta de boa-fé processual do executado, mesmo sendo clientes/poupadores,
deixaram de ser comunicados pelo apelado da eficácia executiva da sentença coletiva,
demonstrando-se assim sua natureza preventiva tendente a evitar danos aos direitos
individuais com dimensão coletiva4.

É exatamente com fulcro nessa teoria estruturante do direito coletivo que diversos
Tribunais de Justiça corroboram a tese do apelante, conforme segue abaixo a jurisprudência
atualizada da matéria ora debatida:

 TJSP

CADERNETA DE POUPANCA - EXECUCAO INDIVIDUAL - CONCESSAO


DOS BENEFICIOS DA JUSTICA GRATUITA - SUFICIENCIA DA SIMPLES
AFIRMACAO DA POBREZA PELO REQUERENTE - INTELIGENCIA DO
CAPUT, DO ARTIGO 98 C.C. O PARAGRAFO 3º, DO ARTIGO 99, AMBOS
DO NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL - JULGAMENTO LIMINAR DE
IMPROCEDENCIA DO PEDIDO - DESCABIMENTO - PRESCRICAO NAO
CONFIGURADA - APLICACAO DA SUMULA Nº 150 DO SUPREMO

4
GIDI, Antonio. Coisa Julgada e litispendência em ações coletivas. P.20
TRIBUNAL FEDERAL E DO INFORMATIVO Nº 0484 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTICA - ACAO PROPOSTA APOS O PRAZO QUINQUENAL
- EXISTENCIA, TODAVIA, DE CAUTELAR DE PROTESTO INTERRUPTIVO
DO LAPSO PRESCRICIONAL - LEGITIMIDADE ATIVA DO PARQUET PARA
O AJUIZAMENTO DA MENCIONADA MEDIDA CAUTELAR - INTELIGENCIA
DA ALINEA "C", DO INCISO VII, DO ARTIGO 6º DA LEI COMPLEMENTAR
Nº 75/1993 C.C. OS ARTIGOS 82 E 83 DO CODIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR - RECURSO PROVIDO” (TJSP. Recurso de Apelação – Proc.
1131551-24.2016.8.26.0100. Publicado em 06/06/2017. Apelante: Jose
Mamedio Ferreira - Apelado: Banco do Brasil S/A)

EXECUÇÃO INDIVIDUAL – EXTINÇÃO – Prescrição não configurada –


Aplicação da Súmula nº 150 do Supremo Tribunal Federal e do informativo nº
0484 do Superior Tribunal de Justiça – Ação proposta após o prazo
quinquenal – Existência, todavia, de cautelar de protesto interruptivo do
lapso prescricional – Legitimidade ativa do parquet para o ajuizamento da
mencionada medida cautelar – Inteligência da alínea "c", do inciso VII, do
artigo 6º da Lei Complementar nº 75/1993 c.c. os artigos 82 e 83 do
Código de Defesa do Consumidor – Recurso provido. . INTERESSES
TRANSINDIVIDUAIS – EXPURGOS INFLACIONÁRIOS – Julgamento com
fulcro no parágrafo 3º, do artigo 1.013 do Novo Estatuto Adjetivo Civil –
Eficácia erga omnes da r. sentença proferida na ação coletiva –
Desnecessidade da comprovação da associação da poupadora ao IDEC –
Prescindibilidade da prévia liquidação do julgado – A apuração do quantum
debeatur depende de meros cálculos aritméticos – Cabimento dos honorários
advocatícios, no percentual de 10% (dez por cento) sobre o montante
exequendo– Incidência da Súmula nº 517 do Superior Tribunal de Justiça –
Depósito não efetuado no prazo previsto no artigo 525 do Novo Código de
Processo Civil – Recurso provido, para os fins de desconstituir a r. sentença e
julgar improcedente a impugnação ao cumprimento da sentença (TJ-SP - APL:
10044222920168260361 SP 1004422-29.2016.8.26.0361, Relator: Carlos
Alberto Lopes, Data de Julgamento: 11/10/2016, 18ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 14/10/2016)

 TJDF

APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EXPURGOS


INFLACIONÁRIOS. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PROTESTO.
INTERRUPÇÃO DO PRAZO. SENTENÇA CASSADA. PROVIMENTO DO
RECURSO 1. Em ação de cumprimento de sentença de ação coletiva, o
prazo prescricional é quinquenal, conforme entendimento consolidado do
Superior Tribunal de Justiça. 2. Não está prescrita a pretensão, se o
cumprimento de sentença foi ajuizado dentro do prazo prescricional,
diante da interrupção do prazo prescricional pelo protesto. 3. Deu-se
provimento ao apelo para cassar a r. sentença. (TJ-DF - APC:
20150111328447, Relator: JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS, Data de
Julgamento: 18/05/2016, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no
DJE : 23/05/2016 . Pág.: 335)

 TJMG

APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE SENTENÇA. AÇÃO


COLETIVA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.
CAUTELAR DE PROTESTO. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO. - O prazo
prescricional para o ajuizamento de cumprimento individual de sentença
proferida nos autos de ação civil pública foi interrompido em razão da
propositura de medida cautelar de protesto com a finalidade de
interrupção do prazo prescricional para os consumidores. (TJ-MG - AC:
10151150040658001 MG, Relator: Alexandre Santiago, Data de Julgamento:
27/09/0016, Câmaras Cíveis / 11ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
06/10/2016)

 TJES

EMENTA APELAÇÃO CÍVEL – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA –


SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO COLETIVA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA N.º
1998.01.1.016798-9 – 12ª VARA CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL
JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA⁄DF – PRONÚNCIA DA PRESCRIÇÃO –
PROTESTO JUDICIAL INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO AJUIZADO EM
DEPENDÊNCIA À AÇÃO CIVIL PÚBLICA – SUSPENSÃO DO FEITO
DETERMINADO PELO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
(STJ) – SENTENÇA ANULADA – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1 –
O Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, com o objetivo
de interromper a prescrição para os poupadores brasileiros, ou seus
sucessores, a fim de que promovam a liquidação⁄execução da sentença
da Ação Civil Pública nº 1998.01.1.016798-9, ajuizada pelo IDEC contra o
Banco do Brasil SA¿, ajuizou ação cautelar de protesto na 12ª Vara Cível
da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília⁄DF. 2 – Com a
interrupção da prescrição, anula-se a Sentença na qual o Juiz
pronunciou a prescrição da pretensão deduzida na petição inicia l,
devendo, ademais, restar observada a determinação de suspensão do feito
procedida pelo c. STJ no REsp 1.438.263⁄SP. 3 – Sentença anulada. 4 –
Recurso conhecido e provido. ACÓRDÃO (TJ-ES - APL:
00020183620148080056, Relator: ARTHUR JOSÉ NEIVA DE ALMEIDA, Data
de Julgamento: 15/08/2016, QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
22/08/2016)

Ora, ao decidir pela não interrupção da prescrição, a sentença deixou de indicar


com base em que dispositivo de norma estaria fundamentando-se para assim decidir.

Não há dúvida que a Medida Cautelar aqui discutida é meio processual adequado.
O caso em tela, indubitavelmente, afeta relação de consumo de grande relevância nacional,
visto que diz respeito à diferença de correção monetária advinda de implementação do
Plano Verão, reconhecida em sentença transitada em julgado (ACP), na qual milhares de
poupadores/consumidores terão seu direito ao ressarcimento prescrito, de modo que é
inegável a legitimidade do Ministério Público para propor a referida medida cautelar.

Além disso, o próprio Código Civil aponta que qualquer interessado poderá dar
causa a interrupção, nos termos do artigo 203.

A solércia precisa manifestar-se através de uma das maneiras enumeradas nos


primeiros incisos do art. 202. Caso isso ocorra, a prescrição se interrompe para reencetar seu
curso no minuto seguinte ao da interrupção. A prescrição interrompida também pode correr da
data do último ato do processo para a sua interrupção (CC. art. 202, parágrafo único).

O artigo 203 mostra que a prescrição pode ser interrompida por qualquer
interessado, no presente caso, a interrupção foi suscitada através da 1ª Promotoria de Justiça
de Defesa do Consumidor (PRODECON), pelo MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITORIOS.

De outra banda, considerando do fato de que o Juiz de Direito da 12ª Vara Cível da
Circunscrição Especial Judiciária de Brasília-DF, recebeu a Medida Cautelar de Protesto
(processo 2014.01.1148561-3) e, reconhecendo o motivo relevante, expediu a notificação, sem
ter resistência do Banco do Brasil, é crível que o melhor entendimento é aquele que firmado na
apreciação do motivo relevante (legítimo) pelo juízo onde fora proposta a medida cautelar.

Insta também salientar a falácia da parte apelada ao dizer que, caso seja acatada a
matéria da interrupção do protesto, estar-se-ia ofendendo a segurança jurídica, ante a
perpetuação dos direitos. Ora, isto não é verdade, pois, em que pese o Código Civil reconhecer
a possibilidade da interrupção, como é o caso do protesto, tal interrupção só possível por uma
única vez, de modo que resta impossibilitada a realização de um novo protesto, ou qualquer
outra causa de interrupção. (artigo 202, inciso II caput).

Desta forma, ante tudo o que foi aqui exposto, necessário se torna a reforma da
sentença de piso para que seja afastada prescrição, haja vista a sua interrupção com a Medida
Cautelar de Protesto nº 2014.01.1148561-3 proposta pelo MPDFT.

V. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Em se tratando de direitos individuais homogêneos o Ministério Público é parte


legítima para a propositura da Medida Cautelar de Protesto nº 2014.01.1148561-3 para
interrupção do prazo prescrição da Ação Civil Pública nº 1998.01.1.016798-9, com o fito de
defender tais interesses.

Não obstante, a defesa de direitos dessa natureza compete ao Ministério


Público, que tem por dever a defesa de interesses difusos e coletivos.

É válido ressaltar o disposto nos arts. 81 do Código de Defesa do Consumidor,


Lei 8.078/90, que independentemente da matéria, configura verdadeiro norte para as ações
coletivas:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das


vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título
coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se
tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos


deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias
de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos


deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com
a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos


os decorrentes de origem comum.

Logo, resta expressamente definida a legitimidade do Ministério Público para


ajuizar a chamada Medida Cautelar de Protesto para a defesa de interesses individuais
homogêneos dos consumidores, cuja finalidade de interrupção de prazo foi acolhida pelo
Juízo da 12ª Vara Cível de Brasília – DF nãos autos de nº 2014.01.1148561-3.

Ademais, foi devidamente comprovado na Medida Cautelar de Protesto o fumus


bonis iuris e o periculum in mora, razão pela qual foi deferida a interrupção pelo D.
Magistrado.

Nesse contexto, em razão de sua destacada atuação, o MINISTÉRIO PÚBLICO


aparece, hoje, como autêntico representante da sociedade brasileira na defesa de seus
interesses, dentre eles o de conservar e o de proteger os consumidores.

Por isso, a Constituição Federal, pelo seu artigo 127, em conúbio com os artigos
1° e 5° da Lei 7.347, consagraram definitivamente a legitimidade ativa do MINISTÉRIO
PÚBLICO para a defesa de interesses transindividuais, sejam eles coletivos, difusos ou,
ainda, os tidos por direitos ou interesses individuais homogêneos tratados coletivamente.

Nota-se que a presente ação tutela beneficia não um único consumidor, mas
todos os consumidores em âmbito nacional que detinham conta poupança as quais não
receberam a correção monetária advinda da implementação do Plano Verão, que
devidamente reconhecido o direito na sentença da Ação Civil Pública 1998.01.1.016798-9.

VI. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer seja dado CONHECIMENTO E PROVIMENTO ao


presente RECURSO DE APELAÇÃO, para ANULAR A SENTENÇA DE PISO, por ausência
de fundamentação, exatamente pela inexistência de cotejo analítico entre a racio
decidendi do RESP N. 1.273.643/PR (invocado na sentença) com as peculiaridades do
caso concreto, a destacar, os efeitos da medida cautelar do processo 2014.01.1148561-3,
fato processual que não existiu no referido precedente, conforme determina o art.489,
§1º, V do CPC. Nessa hipótese, pela teoria da causa madura (art.1013, §3º, inciso IV do
CPC), este R. Tribunal estará autorizado a decidir o mérito recursal, devendo assim,
afastar o reconhecimento da prescrição alegada, haja vista a interrupção ocasionada
pela Medida Cautelar de Protesto nº 2014.01.1148561-3 proposta pelo MPDFT,
retomando-se, o prosseguimento da ação de origem, com o julgamento de mérito.

De forma subsidiária, caso não seja acolhido o argumento do error in procedendo


acima ventilado, seja REFORMADA A SENTENÇA, ratificando o mesmo pedido de julgamento
do mérito recursal formulado no parágrafo acima, qual seja, o afastamento da prescrição, pelo
reconhecimento da causa interruptiva decorrente da Cautelar de Protesto.

Para fins de prequestionamento, registra a violação dos seguintes dispositivos de


Lei Federal: art. 202, inciso II, 203 do Código Civil; arts.81, 82, inciso II e 83 do CDC; art. 6º,
inciso VII, alínea “c” da Lei Complementar nº 75/1993 e o art. 489, §1º, V do CPC.

Termos em que,
Pede deferimento.

Recife/PE, terça-feira, 28 de março de 2023

Evandro José Lago


OAB/PE 1253-A

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