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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª

VARA CÍVEL E COMERCIAL DA COMARCA DE ILHÉUS

Processo nº: 0780271-21.2013.0.00.3386

Ricardo Alves Santos Carvalho, inscrito no CPF sob nº


122.493.885-20, residente e domiciliado na Rua Benedito
Pereira Leite, Centro, nº 38, na Cidade de Jandira, São
Paulo, CEP: 06600-055, devidamente qualificado nos
autos do processo de número em epígrafe, vem tempestiva
e respeitosamente à presença de Vossa Excelência, nos
termos do art. 1.022 e 1.025 do Novo CPC, opor

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

em face de decisão de fls. 56 e 57, que indeferiu o pedido


de restituição de veículo e designou audiência de
conciliação em Ação de Busca e Apreensão movida por
ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIO UNIFISER,
empresa privada, inscrita no CNPJ/MF sob nº
45441789000154, com sede na V. DR. AUGUSTO DE
TOLEDO 493/494 – São Caetano do Sul – SP, CEP:
09541-520

DA TEMPESTIVIDADE

Dispõe o artigo 1.023 do NCPC que os embargos de declaração serão opostos no


prazo de 05 dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro,
obscuridade, contradição ou omissão. A venerada decisão de fls. 56 e 57 ora
embargada foi publicada em 2 de abril de 2014, consoante certidão de
publicação de fls. 58 e 59. Sendo assim, os presentes embargos foram opostos de
forma tempestiva, dentro do prazo legal de 05 (cinco) dias do caput do Artigo
1.023 do NCPC.

#4778493 Sat Jun 26 13:18:39 2021


BREVE SÍNTESE PROCESSUAL E DA DECISÃO EMBARGADA

O Embargante é réu na ação de busca e apreensão de coisa móvel


baseada no Dec. Lei nº 911/69, sob a alegação de inadimplência da Ré no que
diz respeito a contrato de financiamento de veículo com garantia de alienação
fiduciária. A Demandada, dentro no prazo de 05 (cinco) dias contados da
citação e da apreensão do veículo, pediu a sua restituição alegando pagamento
da quantia reclamada na inicial (R$2.039,83), juntando o respectivo
comprovante de depósito (páginas 47 a 49). Em sede de despacho, o MM.
Magistrado proferiu decisão, no seguinte teor:

"Defiro à Ré o benefício da gratuidade de Justiça. A Demandada,


dentro no prazo de 05 (cinco) dias contados da citação e da apreensão do
veículo, pediu a sua restituição alegando pagamento da quantia reclamada na
inicial (R$2.039,83), juntando o respectivo comprovante de depósito (páginas
47 a 49). Em atenção ao princípio do contraditório, intimei a Autora para se
pronunciar sobre o pedido, tendo ela pedido "prazo suplementar de 30 (trinta)
dias para que possa dar prosseguimento ao feito com exatidão" (página 53).
Retornou a Ré reiterando o pedido de restituição do veículo (páginas 54/55).
Pois bem. A ação de busca e apreensão foi ajuizada em 13 de junho do ano
passado e ali já se noticiava a existência da uma dívida no valor de
R$2.039,83 (dois mil, trinta e nove reais e oitenta e três centavos), valor
apurado até 22 de abril do ano passado (v. página 03). O despacho inicial foi
prolatado em 27 de junho, o mandado foi expedido em 03 de setembro de 2013,
mas a busca e apreensão e a citação da Ré só foram efetivadas no dia 17 de
fevereiro deste ano. A quantia reputada devida pela Ré foi por ela depositada
no dia 21 de fevereiro, comprovado nos autos por petição datada de 24
daquele mesmo mês. O entendimento consolidado Superior Tribunal de
Justiça é no sentido de que, após o advento da Lei nº 10.931/2004, que deu
nova redação ao art. 3º do Decreto-lei nº 911/1969, não há mais que falar em
purgação da mora, haja vista que, sob a nova sistemática, após decorrido o
prazo de cinco dias contados da execução da liminar, a propriedade do bem
fica consolidada com o credor fiduciário, devendo o devedor fiduciante, no
prazo de 05 (cinco) dias, efetuar o pagamento da integralidade do débito
remanescente, considerando nesse caso, as parcelas vencidas e vincendas, a
fim de obter a restituição do bem livre de ônus. Todavia, o depósito efetuado

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pela Ré (R$2.039,83) aparentemente satisfaz o pagamento apenas de parte
incontroversa da dívida, uma vez que a quantia depositada não contempla os
acréscimos de juros de mora sobre a própria dívida originária, tendo em vista
que o valor nominal devido indicado na inicial diz respeito ao débito apurado
até 22 de abril do ano passado (v. Página 03), isto é, não satisfaz à exigência
de "pagamento da integralidade da dívida". Em sendo assim, o próprio STJ já
assentou que "O bem dado em garantia fiduciária pode ser mantido na posse
do devedor, desde que ele deposite em juízo a parte incontroversa da dívida"
(STJ - 3ª Turma, REsp 921.194 - AgRg, Ministro Gomes de Barros, j. 19.12.07,
DJU 8.2.08), a despeito de ter decidido, em outro julgado que "Não indicada
concretamente qualquer abusividade, o depósito em desacordo com o contrato
não é suficiente para afastar a presunção de inadimplemento das prestações,
restando inviabilizada a manutenção de posse do bem" (STJ - 4ª Turma, REsp
1.050.479 - AgRg, Ministro João Otávio Noronha, j. 2.6.09, DJ 29.6.09).
Alguns julgados de outros tribunais têm assentado que não deve o veículo
permanecer com o devedor fiduciante, porque evidente, no caso, o prejuízo ao
credor, tendo o inevitável desgaste e a depreciação do veículo dado em
garantia, além da ausência de demonstração de interesse no inadimplemento
da dívida, o que se caracterizaria pelo pagamento apenas do valor nominal
devido até 22 de abril do ano passado. Pelo exposto, indefiro o pedido de
restituição do veículo e marco audiência de conciliação a ser realizada no dia
18 do mês curso, às 14: horas, à qual deverão comparecer as partes, ou seus
advogados habilitados a transigir. Ilhéus (BA), 31 de março de 2014. Cleber
Roriz Ferreira Juiz de Direito"

No entanto, pela simples leitura da decisão, observa-se que há uma


omissão no diz respeito à análise da matéria do adimplemento substancial, para
além da existência de uma contradição na decisão proferida, haja vista que o
valor alegado em sede de despacho se demonstra incompatível com o requerido
pela parte Autora em petição inicial, devendo tais equívocos, portanto, serem
sanados.

Deste modo, não restou alternativa ao embargante senão a


oposição dos presentes embargos declaratórios.

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DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO

Pelo que se depreende da decisão recorrida, o pedido inicial foi


negado considerando o único argumento de que ________ .

Entretanto junto à ________ , foi requerido expressamente que


________ , sob o argumento de ________ , o que sequer foi analisado.

Ou seja, não há completa fundamentação que ampare a decisão do


Juiz pelo indeferimento do pedido. A ausência da devida fundamentação afronta
diretamente a Constituição Federal:

Art. 93 (...). IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder


Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar
a presença, em determinados atos, às próprias partes e a
seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação;

Nesse mesmo sentido é a redação do CPC/15:

Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder


Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade.

Por tal razão que a decisão não fundamentada configura nulidade,


nos termos do Art. 1.013, §3º, in IV do CPC, amplamente reforçado pela
doutrina:

"O dever de fundamentação das decisões judiciais é


inerente ao estado Constitucional e constitui verdadeiro
banco de prova do direito ao contraditório das partes.
Sem motivação a decisão judicial perde duas
características centrais: a justificação da norma
jurisdicional para o caso concreto e a capacidade de
orientação de condutas sociais. Perde, em uma palavra, o

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seu próprio caráter jurisdicional. O dever de
fundamentação é informado pelo direito ao contraditório
como direito de influência -não por acaso direito ao
contraditório e dever de fundamentação estão previstos
na sequência no novo Código Adiante, o art. 489, §§ 1º e
2º, CPC, visa a delinear de forma analítica o conteúdo do
dever de fundamentação."(MARINONI, ARENHART e
MITIDIERO CPC Comentado. 2ªed.rev.atual.. RT. 2016-
ref. artigo 11):

A fundamentação da decisão, portanto, não é uma faculdade, uma


vez que inerente e indispensável ao pleno exercício do contraditório e da ampla
defesa, razão pela qual artigo 489 do CPC corrobora o entendimento, expondo
taxativamente a fundamentação como requisito essencial da sentença:

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


(...)
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de
fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões
principais que as partes lhe submeterem.
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer
decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença
ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de


ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a
questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem


explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar


qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no

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processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de


súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes
nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência


ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.

Razão pela qual, se uma decisão judicial não é fundamentada,


carece dos requisitos legais de eficácia e validade, pois ilegal! Este entendimento
predomina nos tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL. REINTEGRAÇAO DE POSSE.


SENTENÇA NÃO FUNDAMENTADA. NULIDADE. 1) A
Constituição da República de 1988, no artigo 93, IX, prevê
o princípio da motivação das decisões judiciais, segundo o
qual "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade". Logo, é nula a sentença quando
inexistente a fundamentação e sem a observância
dos requisitos legais (art. 489, CPC). 2) O
acolhimento do pedido autoral de forma genérica, sem
apontar qualquer elemento fático-jurídico para tanto,
consubstancia-se em ausência de fundamentação,
impondo-se a nulidade do julgado. 3) Sentença cassada ex
officio. (TJ-AP - APL: 00250322420158030001 AP,
Relator: Desembargador ROMMEL ARAÚJO DE
OLIVEIRA, Data de Julgamento: 30/04/2019, Tribunal)
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DIREITO DO TRABALHO. SENTENÇA NÃO


FUNDAMENTADA. NULIDADE DA SENTENÇA POR

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NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
Vislumbrando-se nos autos a ausência de
fundamentação da sentença quanto à totalidade
dos pleitos formulados na exordial, bem como o
não enfrentamento dos argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador, evidencia-se a
negativa da prestação jurisdicional ante a violação
ao disposto nos arts. 93, IX da CF/88 e 489 do
CPC. O retorno dos autos ao MM. Juízo de origem para
novo julgamento é medida que se impõe. Recurso
ordinário a que se dá provimento. (TRT-6 - RO:
00004602020165060006, Data de Julgamento:
06/02/2019, Quarta Turma)

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. BUSCA E


APREENSÃO. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO. SENTENÇA SEM FUNDAMENTO VÁLIDO.
OFENSA AO ART. 489, II, CPC. NULIDADE. PRIMAZIA
DO JULGAMENTO DE MÉRITO. COMPROVAÇÃO DE
MORA DO DEVEDOR. OPORTUNIDADE. SENTENÇA
CASSADA.1. (...)1.1. Constatação de que o único
argumento que embasa a sentença é estranho à lide, pois a
autora sequer é assistida da Defensoria Pública.2. De
acordo com o art. 489, do CPC São elementos
essenciais da sentença: (...) II - os fundamentos,
em que o juiz analisará as questões de fato e de
direito. 2.1. É nula a sentença que contém
fundamentos que não se aplicam ao caso
concreto.3. (...). 6. Sentença cassada. Recurso provido.
(20170210001702APC, 2ª Turma Cível, DJE:
12/09/2017).5. Sentença cassada para que se profira uma
outra. (TJDFT, Acórdão n.1083204, 20170710019228APC,
Relator(a): JOÃO EGMONT, 2ª TURMA CÍVEL, Julgado
em: 14/03/2018, Publicado em: 20/03/2018)

#4778493 Sat Jun 26 13:18:39 2021


Ao dispor sobre a fundamentação, a doutrina complementa:

"Fundamentação. A fundamentação das decisões


judiciais é ponto central em que se apoia o Estado
Constitucional, constituindo elemento inarredável de
nosso processo justo (art. 5º, LIV, CF). (...) A
fundamentação deve ser concreta, estruturada e
completa: deve dizer respeito ao caso concreto,
estruturar-se a partir de conceitos e critérios claros e
pertinentes e conter uma completa análise dos
argumentos relevantes sustentados pelas partes em suas
manifestações. Fora daí, não se considera fundamentada
qualquer decisão (arts. 93, IX, CF, e 9º, 10, 11 e 489, §§ 1º
e 2º, CPC)." (MARINONI, ARENHART e MITIDIERO CPC
Comentado. 2ªed.rev.atual.. RT. 2016- ref. artigo 489)

Razão pela qual, considerando que a decisão não se mostra


devidamente fundamentada, seve ser considerada nula para que seja
devidamente revista.

DA OMISSÃO

A omissão ocorre quando a decisão deixa de considerar matéria


(fática ou de direito) trazida e amplamente debatida nos autos.

Nos termos do Art. 1022, parágrafo único do Novo CPC, cabem


embargos de declaração por omissão para sanar "decisão que deixe de se
manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento", bem
como o disposto no Art 489 do NCPC:

§ 1 Não se considera fundamentada qualquer decisão


judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a
questão decidida;

#4778493 Sat Jun 26 13:18:39 2021


II empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem
explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão;
IV não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;
V se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula,
sem identificar seus fundamentos determinantes nem
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência
ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.

Neste caso, nota-se que a decisão sequer menciona ________ ,


desconsiderando todo arrazoado sobre o tema trazido na peça ________ , fl.
________ .

Dessa forma, a decisão embargada deixou de analisar matéria


indispensável à correta análise do direito pleiteado.

DOS PEDIDOS

Portanto, requer que seja sanada a omissão e contradição


cometidas pelo magistrado com o recebimento do presente embargo de
declaração, para fins de que seja ________ .

Nestes termos, pede deferimento.

Ilhéus, 04 de abril de 2014.

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