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LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR

PROF. ESP. ADIVE CARDOSO FERREIRA JÚNIOR

1. Introdução.

Este assunto é, sem dúvida alguma, um dos principais a ser estudado no direito
tributário, necessitando, portanto, de muita atenção!

A competência tributária é o poder constitucional de instituir ou majorar tributos.


A Constituição Federal - CF dá aos entes o poder de tributar por meio de leis. Contudo,
tal poder não é ilimitado, daí surgem as limitações ao poder de tributar.

As limitações constitucionais ao poder de tributar são direitos fundamentais


positivados pela CF, portanto, configuram, para grande parte da doutrina, cláusulas
pétreas, que criam barreiras/empecilhos ao livre poder de tributar dos Entes Federativos,
impedindo, assim, criação de tributos de forma e valores abusivos que possam
surpreender ao contribuinte; proporcionar o acesso a determinados bens ou garantir a
existência de determinadas entidades.

São tratadas pela CF a partir do art. 150, dividindo-se em princípios e imunidades


tributárias.

Em síntese, as limitações ao poder de tributar são entraves à competência


tributária dos entes federativos, também chamadas por parte da doutrina de
incompetência tributária.

Apenas a Constituição Federal terá o poder de instituir as limitações ao poder de


tributar, contudo, o art. 146 da Carta Magna prevê que a lei complementar poderá
regular as limitações já trazidas pela CF. Vejam que não dá à lei complementar o direito
de criar novas limitações, apenas de já regular as já existentes.

Assim, uma vez que já conseguimos compreender do que se tratam as limitações,


passemos ao estudo delas. Começaremos com os princípios.

2. Princípios tributários.

2.1. Princípio da legalidade – art. 150, I.

Trata-se da garantia dada ao contribuinte de que apenas a lei crie ou aumente um


tributo.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;


Perceba que o dispositivo constitucional traz duas nuances quanto ao princípio
da legalidade: instituição do tributo e aumento do tributo.

2.1.1. Instituição do tributo.

A instituição é a criação do tributo, quanto a essa, não há maiores dificuldades,


pois TODO, repito, TODO, tributo deve ser criado por meio de lei, sem exceção alguma.

Em regra, a lei que instituirá o tributo será uma lei ordinária (cabível também
medida provisória, afinal, ela tem força de lei), contudo, existem quatro tributos que só
podem ser instituídos por lei complementar. São eles: Contribuição social residual;
Empréstimo compulsório; Imposto sobre Grandes Fortunas; Imposto residual.

Difícil decorar assim só com os nomes, né? Então, vamos usar um mnemônico:
CEGI:

Contribuição social residual

Empréstimo compulsório;

IGF

Imposto residual.

Agora ficou mais fácil, né?

2.1.2. Alteração do tributo.

A alteração do tributo é a possibilidade de o ente tributante aumentar ou reduzir


a alíquota do tributo.

A regra geral é que a alteração do tributo se dê por meio de lei. Assim, em regra,
quase todos os tributos dependerão de lei para a alteração da alíquota.

Contudo, a própria Carta Magna já nos traz exceções, pelas quais o ente
tributante poderá alterar a alíquota por meio de decreto.

Vejamos elas:

• Majoração/redução de alíquotas de Imposto de Importação – II; Imposto de


Exportação – IE; Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI; Imposto
sobre Operações Financeiras – IOF – art. 153, §1°.
Esses são os tributos denominados de reguladores de mercado, assim, quem mais
teria conhecimento sobre a realidade do mercado que o poder executivo? Por esse
motivo, os tributos reguladores de mercado podem ter suas alíquotas alteradas por meio
de decreto!

• Redução e restabelecimento das alíquotas do ICMS sobre os combustíveis.

Percebam que não é qualquer ICMS, apenas o ICMS sobre os combustíveis. Nesse
caso, as alíquotas serão alteradas por convênios no âmbito do CONFAZ. Para esse
tributo, é apenas a redução e o restabelecimento da alíquota (explicarei no próximo
tópico o que é isso) que poderão ser reguladas por decreto.

• Redução e restabelecimento da Contribuição de Intervenção no domínio


econômico – CIDE sobre os combustíveis.
Nesse caso é apenas a redução e o restabelecimento. Veja que não é majoração, é
restabelecimento, ou seja, retorno ao patamar anterior, a majoração dependerá de lei.
Ficou complicado? Então, bora de exemplo.
Suponhamos que a alíquota da CIDE sobre os combustíveis seja de 1%. Assim, o
ente tributante poderá reduzir para 0,5%, 0,8%, 0%, por decreto. Posterior a isso, poderá
voltar para 1% também por decreto. E se na volta ele quiser estabelecer a alíquota de
1,2%? Aí configurará aumento e dependerá de lei!

• Atualização de valor monetário da base de cálculo.

Nesse caso, apenas estamos corrigindo monetariamente a base de cálculo, não é


um aumento real. Contudo, o STJ já estipulou um limite para tanto por meio da Súmula
160:

Súmula n° 160 - É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante


decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária.

2.2. Princípio da Isonomia – art. 150, II.

Por este princípio, os entes federativos são vedados de instituir tratamento


desigual em contribuintes que se encontrem em situações equivalentes.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem


em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de
ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente
da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
Aqui a busca é pela isonomia material, tal qual narrada por Rui Barbosa na oração
aos moços, pela qual, tratamos igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na
medida da sua desigualdade.

Em virtude deste princípio, por exemplo, o Imposto de Renda – IR tem várias


faixas de alíquotas a depender da renda, sendo um tributo progressivo, quanto maior a
renda, maior a alíquota.

Também baseado neste princípio, o Supremo Tribunal Federal – STF entendeu


que servidor público não pode ter alíquota diferente na aplicação de seus tributos.

2.3. Princípio do não confisco – art. 150, IV.

Também chamado de princípio da vedação ao tributo com efeito confiscatório.


Por este princípio, é proibido aos entes federativos estipularem tributo com valores tão
altos que acabem gerando um efeito confiscatório e inviabilizando o direito de
propriedade.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

O conceito de efeito confiscatório não foi definido pela CF, assim, é um conceito
jurídico indeterminado, cabendo, pois, ao poder judiciário estabelecer em cada caso o
que seria o efeito confiscatório.

O STF já esclareceu, por meio da ADC 8/DF, que para analisar o que seria um
efeito confiscatório não deve ser levado em consideração cada tributo, mas sim a
totalidade da carga tributária e que deve ser verificada a capacidade tributária de cada
contribuinte.

2.4. Princípio da anterioridade – art. 150, III.

Este princípio é denominado também de princípio da não surpresa.

Por este princípio, a Constituição veda que os entes federativos instituam ou


majorem tributos “de uma hora para outra”, devendo dar ao contribuinte um prazo hábil
para que ele possa se preparar.

É dividido em dois: anterioridade anual e anterioridade nonagesimal.

2.4.1. Princípio da anterioridade anual – art. 150, III, b.


Por ele, é vedado que os entes federativos cobrem tributos no mesmo exercício
financeiro (ano) em que foi criado ou majorado. Assim, um tributo criado ou majorado
em 2020 só pode ser cobrado a partir de 2021.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

III - cobrar tributos:

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que


os instituiu ou aumentou;

A lei poderá estar em vigor, mas não poderá cobrar o tributo, sendo, portanto,
requisito de eficácia da lei e não de vigência.

Essa é a regra geral, comportando, pois, exceções.

Assim, todo tributo estará sujeito à anterioridade anual, exceto (ao final colocarei
uma tabela de exceções a ambos princípios):

• II; IE; IOF; IPI – Tributos extrafiscais (são reguladores de mercado);


• Imposto Extraordinário Guerra e Empréstimos Compulsórios (guerra e
calamidade pública) – Situação de emergência;
• Contribuição Social
• Redução e restabelecimento de ICMS combustíveis e CIDE combustíveis.

2.4.2. Princípio da anterioridade nonagesimal – art. 150, III, c.

Imagine a seguinte situação: no dia 31 de dezembro de 2020 o Congresso


Nacional, no apagar das luzes do ano, aprova uma lei que crie ou majore determinado
tributo e o Presidente da República a sancione em tempo recorde, no mesmo dia. Dessa
forma, esse tributo poderia ser cobrado já no dia seguinte, afinal, respeitou a
anterioridade do exercício ao não ser cobrado no mesmo ano.

Desse modo, não estaria sendo respeitada a função de não surpresa do princípio.

Por isso, a CF foi emendada a incluir a alínea “c” do art. 150, III, pela qual, além
da anterioridade do exercício deve ser respeitado o prazo de 90 (noventa) dias desde a
criação ou majoração do tributo até que ele possa ser cobrado.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

III - cobrar tributos:


c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada
a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b.

Portanto, o dever de aguardar noventa dias e não poder ser cobrado no mesmo
exercício, são regras cumulativas.

Essa é a regra geral, assim, todo tributo estará sujeito à anterioridade


nonagesimal, exceto (ao final colocarei uma tabela de exceções a ambos princípios):

• II; IE; IOF (perceba que ao IPI se aplica a nonagesimal, não sendo, portanto,
exceção);
• Imposto Extraordinário Guerra e Empréstimos Compulsórios (somente
guerra e calamidade pública);
• Imposto de Renda;
• Base de cálculo de IPTU e IPVA – apenas a base de cálculo, não se aplica à
alíquota.

2.4.3. Tabela de exceções.


Só demonstrando as exceções fica difícil de compreender, né? Então, segue uma
tabela tentando deixar mais fácil a compreensão.

PRINCÍPIO DA NÃO SUPRESA OBS: 4 exceções em cada (para facilitar a


compreensão leve “base de cálculo” do
último como se fosse uma)
Não respeita nenhum dos princípios II; IE; IOF; GUERRA ou calamidade
pública (Imposto ou Empréstimo
compulsório)
Respeita apenas 90 dias IPI; Redução e restabelecimento de CIDE
Combustíveis e ICMS combustíveis;
Contribuição Social
Respeita apenas do exercício IR; base de cálculo de IPTU e IPVA

2.4.4. Observações especiais sobre a anterioridade.


Para encerrar, duas observações sobre o estudado princípio.
A primeira é que não é necessário respeitar o princípio para extinguir o tributo,
para reduzir a alíquota ou para conceder benefício fiscal, afinal, são benesses ao
contribuinte, ele não precisa se preparar para ter dinheiro sobrando! $$$$$
Não se aplica também quando for apenas a mudança de prazo ou data de
pagamento.
A segunda é que para suspender ou extinguir benefício fiscal deve ser respeitada
a anterioridade (ambas), pois atinge negativamente o contribuinte.

2.5. Princípio da Irretroatividade – art. 150, III, a.


Visa impedir que os entes federativos cobrem tributo a fato gerador ocorrido
antes da vigência da lei que crie ou majore tributo.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

III - cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da


lei que os houver instituído ou aumentado

A regra da irretroatividade comporta exceções trazidas pelo Código Tributário


Nacional – CTN. Assim, será permitida a retroatividade da lei tributária quando:
a) Aludir à lei expressamente interpretativa, desde que não comine penalidade;
b) Discorrer sobre ato não definitivamente julgado:
• Deixar de defini-lo como infração;
• Comine penalidade (multa) menos severa.

2.5.1. Princípio da irretroatividade e anterioridade em face da súmula 584 do STF.


Uma grande polêmica doutrinária gira em torno dos princípios da
irretroatividade e anterioridade. É a súmula 584 do STF. Vejamos ela:
Súmula n° 584 - Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos
do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deva
ser apresentada a declaração

Dessa forma, o Imposto de renda é regrado pela legislação do ano da declaração.


Sabemos que o contribuinte aufere renda durante um ano para fazer a declaração
no ano seguinte, por exemplo, a declaração do IR de 2020 diz respeito à renda obtida em
2019, consequentemente um fato gerador de 2019.
Vimos que o IR segue apenas a anterioridade do exercício. Assim, uma lei
sancionada em 31 de dezembro de 2019, por exemplo, terá eficácia apenas no dia 01 de
janeiro de 2020.
Ao seguir a referida súmula, caso tenha havido uma majoração do IR na
mencionada lei, ocorreria uma retroatividade, ferindo, pois a CF. Veja que uma lei que
só entrou em vigor em 01 de janeiro de 2020 atingiu um fato gerador ocorrido em 2019,
retroagindo, portanto, uma vez que o fato gerador do IR ocorre em 31 de dezembro de
cada ano.
De mais a mais, feriria também a anterioridade, pois, na prática, a lei começou a
ter eficácia no mesmo exercício, já que estaria atingindo o fato gerador ocorrido naquele
mesmo ano, não respeitando a anterioridade do exercício.
Em que pese as críticas doutrinárias, o STF manteve a incidência e texto da
referida súmula, sendo, portanto, ainda válida.
2.6. Princípio da Liberdade de Tráfego – art. 150, V.
Visa impedir que haja limitações ao tráfego de pessoas ou de bens por meio de
tributos, salvo a cobrança de pedágio.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de
tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de
pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público

Assim, surgiu uma polêmica quanto à natureza jurídica do pedágio, pois, quando
a CF diz que é vedada a instituição de tributo nesses moldes e ressalva o pedágio, dá a
entender que esse tem natureza de tributo.
Para solucionar a polêmica, o STF julgou a ADI 800/RS e entendeu que o pedágio
não tem natureza tributária em razão da não compulsoriedade sendo, assim, um preço
público.

2.7. Princípio da uniformidade geográfica – art. 151, I.


É um princípio aplicável exclusivamente à União.
Por este princípio, veda-se que a União institua tributo de forma diversa em
relação a determinado ente federativo a fim de evitar preferência por parte da União.
Contudo, a própria CF diz que é admitido que haja incentivos fiscais, tal qual na Zona
Franca de Manaus, por exemplo.

Art.151. É vedado à União:

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional


ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a
concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do
desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País

2.8. Princípio da vedação à isenção heterônoma – art. 151, III


É aplicável exclusivamente à União.
Visa proibir que a União conceda isenção de tributos da competência dos demais
entes federativos.

Art.151. É vedado à União:

[...]
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios.

O STF afirmou, por meio do RE 229.096, que em celebração de tratados


internacionais é permitido que haja a concessão de isenção de tributos municipais,
estaduais ou distritais, pois tal celebração não é feita pela União, ou presidente enquanto
Chefe de Governo, mas pela República Federativa do Brasil, ou presidente enquanto
Chefe de Estado.

2.9. Princípio da capacidade contributiva – art. 145, §1°.


Visa trazer, sempre que possível, um caráter pessoal aos impostos, sendo
regulados e cobrados segundo a capacidade financeira de cada contribuinte.
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos:
[...]
§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado
à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a
esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos
termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas
do contribuinte.

2.10. MNEMÔNICO.
Para encerrar o estudo dos princípios, trago um mnemônico para ajudar na
memorização dos mais importantes princípios tributários.
Para lembrar dos princípios, basta pedir ajuda a nossa amiga LUCIIANA,
percebam que essa é “chique” e tem dois “i”.
E como a LUCIIANA vai nos ajudar?
Legalidade
Uniformidade geográfica
Capacidade contributiva
Isonomia
Irretroatividade
Anterioridade do exercício
Não confisco
Anterioridade nonagesimal
Salve, salve, nossa amiga “Lu”, rsrsrs.

3. Imunidades tributárias.

As imunidades tributárias tratam-se de proibições criadas constitucionalmente


para os entes federativos cobrarem tributos. Vejam que aqui o tributo já está criado, já
pode ser cobrado normalmente, mas a Constituição Federal proíbe que os entes cobrem
de determinadas pessoas ou objetos.
Não é o mesmo que isenção. A diferença básica entre esses dois institutos é que
a imunidade é advinda da CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ao passo que a isenção advém
de LEI. Ainda que a Constituição cite “isenção” em alguns dispositivos, trata-se, em
verdade, de uma imunidade.
Assim, a imunidade tributária é uma limitação constitucional ao poder de
tributar.
A imunidade tributária afasta apenas a obrigação principal, qual seja, a de pagar
o tributo. Contudo, as obrigações acessórias, como por exemplo, manutenção de livros
fiscais, continuam a existir.
Durante todo o seu corpo, a Constituição traz algumas imunidades, contudo, as
mais importantes estão no artigo 150 que constituem, basicamente, cinco imunidades:
subjetiva; objetiva; recíproca; templos de qualquer culto e música nacional. Difícil
lembrar de todos? Então vamos de mais um mnemônico que vai permitir que nos
lembremos, ao menos, dos quatro primeiros.
Lembre-se que quem tem imunidade tem SORTE na vida, SORTE de não ter que
pagar tributo.
Assim, SORTE nos faz lembrar de quais são as quatro primeiras imunidades:
Subjetiva; Objetiva; Recíproca; TEmplos de qualquer culto. Depois, basta lembrar da
música!!

Antes de passarmos a estudar cada uma delas, cabe uma observação final. As
imunidades podem tratar de qualquer espécie tributária, entretanto, as imunidades
decorrentes de SORTE e música, ou seja, aquelas que estão no art. 150 só dizem respeito
aos IMPOSTOS, incidindo, portanto, as demais espécies de tributos.
Passemos à análise de cada uma delas.

3.1. Imunidade subjetiva – art. 150, VI, c.


Denominar a imunidade de subjetiva cria a ideia de que determinados sujeitos
são imunes aos impostos.
Assim, serão imunes aos IMPOSTOS o patrimônio, renda ou serviço: dos
partidos políticos; sindicatos dos trabalhadores; instituições de educação e assistência
social sem fins lucrativos.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI - instituir impostos sobre:
[...]
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas
fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições
de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei;
Os imóveis dessas pessoas alugados a terceiros também são abrangidos pela
imunidade, desde que os recursos sejam destinados às atividades essenciais das
entidades.
Esse é o entendimento da Súmula Vinculante n° 52:
Súmula vinculante n° 52 - Ainda quando alugado a terceiros,
permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das
entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição Federal, desde
que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais
entidades foram constituídas.

Os sujeitos desta imunidade são alcançados também pela imunidade do art. 195,
§7° da CF que regula sobre as contribuições sociais.

3.2. Imunidade objetiva – art. 150, VI, d.


Denominar a imunidade de objetiva cria a ideia de que determinados objetos
serão imunes aos IMPOSTOS.
Nesse caso, a imunidade objetiva alcançará os livros, jornais, periódicos e o papel
destinado a sua impressão.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI - instituir impostos sobre:
[...]
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

O objetivo dessa imunidade é proporcionar e baratear o acesso à cultura, motivo


pelo qual é denominada também de imunidade cultural.
Percebam que os livros, os jornais e os periódicos, independentemente da sua
natureza, serão imunes. Por exemplo, o STF considerou que o álbum de figurinhas é
imune. Todavia, o papel só será imune se for destinado à impressão daqueles outros
objetos imunes, assim, é exigida a finalidade específica para que o papel seja imune.
O STF entendeu que essa imunidade não abrange a tinta para a impressão dos
livros, jornais ou periódicos.
O dispositivo constitucional que criou as imunidades do art. 150 foi incluído no
ano de 1993. Assim, nessa época não era vislumbrada a ideia de termos livros digitais e
aplicativos exclusivos para a leitura de livros eletrônicos, por exemplo. Por isso, o STF
entendeu que os livros eletrônicos e os suportes exclusivos para a leitura de livros, como
o Kindler, serão também imunes, uma vez que visam proporcionar o acesso à cultura.

3.3. Imunidade recíproca – art. 150, VI, a.


A imunidade recíproca impede que os entes federativos cobrem IMPOSTOS uns
dos outros, ou seja, o município não pode cobrar IPTU de um imóvel da União, por
exemplo, ou o Estado não pode cobrar IPVA de um carro do município, ou a União não
pode cobrar IR do Distrito Federal.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI - instituir impostos sobre:
[...]
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
A imunidade não alcança apenas os entes federativos, alcançando também as
autarquias e fundações públicas de direito público instituídas e mantidas pelo Poder
Público.
Assim, em regra as empresas públicas e as sociedades de economia mista não
possuem a imunidade recíproca. Contudo, quando exercerem serviço público
obrigatório e exclusivo do Estado, poderão ser abrangidas. A título de exemplo, o STF já
reconheceu a imunidade recíproca à Infraero; à Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos e à Casa da Moeda do Brasil.
A imunidade alcança o ente federativo apenas quando for contribuinte de direito,
não alcançando quanto estiver na qualidade de contribuinte de fato.

3.4. Imunidade dos templos de qualquer culto – Art. 150, VI, b.


Em busca de assegurar o direito à liberdade de culto, a Constituição Federal
instituiu a imunidade dos templos de qualquer culto. Assim, qualquer igreja
reconhecida no país não possui a obrigação de pagar IMPOSTOS.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI - instituir impostos sobre:
[...]
b) templos de qualquer culto;

Esta imunidade abrange apenas o patrimônio, a renda e os serviços relacionados


diretamente com as finalidades essenciais das entidades religiosas. Assim, por exemplo,
o padre tem a obrigação de pagar IR sobre sua renda e o IPVA sobre o seu veículo
particular.
Nesse sentido, algumas jurisprudências são necessárias para podermos
compreender esta imunidade.
O STF entendeu que a imunidade abrange também os imóveis alugados a
terceiros, desde que a renda desse aluguel seja revertida para as finalidades essenciais
da entidade.
A Suprema Corte entendeu também que a imunidade abrange os cemitérios
administrados pela entidade religiosa.
O Pretório Excelso julgou que a imunidade religiosa não atinge a maçonaria, pois
entendeu que a maçonaria não é religião, mas apenas uma ideologia de vida.

3.5. Imunidade da música nacional – art. 150, VI, e.


Recentemente, com a Emenda Constitucional 75 de 2013, foi incluída a
imunidade da música nacional aos IMPOSTOS.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
VI - instituir impostos sobre:
[...]
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil
contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou
obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os
suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na
etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.

O objetivo desta imunidade é baratear a produção e o acesso ao conteúdo musical


produzido no Brasil e que tenham obras de autores brasileiros ou interpretadas por
brasileiros.
Percebam que a etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser
não goza de imunidade. Mas o que é isso, Professor?
É a cópia do CD para a venda. Mas por que foi criada essa ressalva, Professor?
Para que a Zona Franca de Manaus possa ser preservada. Lá na Zona Franca de Manaus
já há esse benefício, caso ele fosse estendido para todo o território nacional, iriamos
correr o risco de as empresas começarem a sair da Zona Franca.

4. Considerações finais.
Assim, encerramos nosso curso sobre as limitações constitucionais ao poder de
tributar. Conseguimos aqui perceber a importância da existência delas a fim de evitar
possíveis arbitrariedades por meio do poder tributante dos entes federativos,
constituindo, dessa forma, direitos fundamentais dos contribuintes e sendo, portanto,
cláusulas pétreas, ao ver da doutrina majoritária.

Quaisquer dúvidas sobre o tema, sinta-se à vontade para entrar em contato:

Telefone: (73) 98807 0470


E-mail: adivejunior@outlook.com

Instragram: adivejunior

Agradeço a participação e companhia durante o curso.


Grande Abraço!

Prof. Esp. Adive Cardoso Ferreira Júnior.

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