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CONCEITO

O Princípio do Não Confisco é a garantia constitucional de que a carga


tributária não recaia de maneira esmagadora sobre o contribuinte. Em outras
palavras, trata-se da garantia de que a tributação será razoável e de que a
Administração não irá utilizar os tributos para violar o direito de propriedade do
contribuinte ou seja, ao Estado é imposto um impedimento, para que diante do
argumento de cobrar tributo, não se aposse indevidamente de bens dos
contribuintes.
O princípio da vedação do confisco tem como finalidade apontar e
informar ao intérprete e ao julgador que se houver confisco há uma proporção
danosa, e sobretudo o confisco não pode se esconder no tributo, logo o efeito de
confisco sendo vedado.

PREVISÃO NORMATIVA E INTERPRETAÇÕES DO PRINCÍPIO

Fundamentação: Artigo 150, IV, da Constituição Federal

Existe certa dificuldade em definir o que é o confisco, porque a


Constituição Federal traz um texto vago sobre o tema, nos seguintes termos:

Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

O texto constitucional não explora de maneira mais específica os aspectos


do confisco, apenas impõe uma vedação. Não existe na norma qualquer
definição das características que configuram o confisco, como o grau da carga
tributária ou os fatos geradores que se enquadram nesta hipótese.
Diante desta dificuldade em delimitar o que é o confisco, cabe ao Supremo
Tribunal Federal exercer a função de intérprete da Constituição e dar o devido
sentido ou significado para este princípio.
Com relação ao art. 150, inciso IV, é necessário interpretar qual seria o
limite da atividade tributária lícita do Estado, que não configura o confisco.
A Constituição não admite imposto que resulta em confisco - CF/88, artigo
150, inciso IV.
Por imposto confiscatório devemos entender aquele que absorve grande
parte do valor da propriedade ou de sua renda, havendo uma diferença apenas
entre o imposto constitucional e o confiscatório.
Desta forma, o confisco se caracteriza quando a alíquota efetiva, sobre
uma operação, resulte que mais de 50% do seu valor econômico líquido (preço
menos tributos) seja destinado ao fisco.

CARACTERÍSTICAS:
• Proíbe a instituição de quaisquer tributos com caráter de absorção
substancial da propriedade privada, dos bens do contribuinte, sem a
proporcionada indenização. Contudo, o texto constitucional admite que se
dê tal apropriação sem indenização em duas situações: pena de
perdimento de bens (artigo 5º, XLVI, b, da CF) e expropriação de glebas
destinadas a culturas de plantas psicotrópicas e trabalho escravo (artigo
243, parágrafo único, CF).

• A vedação ao confisco busca manter o contribuinte com o mínimo


essencial para suas necessidades

• A vedação ao confisco, além de impor limites, é uma garantia e cláusula


pétrea

• Foi aplicado às multas tributárias pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na


ADI 1075 MC/DF.

• Tem a função de impedir que a tributação deixe de azeitar e construir o


direito de propriedade para inviabilizá-lo, pelo excesso de exação.

• Que a onerosidade excessiva do valor total exigido para determinada taxa


em relação ao custo da atividade estatal configura ofensa à cláusula
vedatória constitucional do não confisco.

• Que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios


utilizar tributo com efeito de confisco.

• Que a vedação ao não confisco é uma limitação constitucional


explícita/expressa ao poder de tributar.

• Que a vedação ao não confisco é um conceito jurídico indeterminado.

• Os tributos são determinados pela identificação do efeito confiscatório que


deve ser feita em função da sua totalidade da carga tributária em relação
ao contribuinte.

• Que a vedação ao não confisco rege todas as espécies tributárias.

• Que o princípio da vedação do tributo confiscatório impede a utilização de


imposto com efeito de confisco, / mas não há percentual que estabeleça
previamente os limites do tributo confiscatório.

• O art. 150, IV, da Constituição Federal, impõe a vedação ao confisco.


Pode-se concluir que o conceito "efeito de confisco" permite que o Poder
Judiciário o reconheça em sede de controle normativo abstrato, ainda que
se trate de multa fiscal.
• Que as multas aplicadas em face da sonegação ou do não recolhimento
dos impostos, quando superem o valor do bem, em princípio ofendem
tanto o princípio da proporcionalidade quanto o da proibição de tributos
com efeito de confisco.

• Os impostos sobre o patrimônio podem ser confiscatórios, quando


considerados em sua perspectiva estática.

• O princípio do não-confisco ajuda a dimensionar o alcance do princípio da


progressividade, já que exige equilíbrio, moderação e medida na
quantificação dos tributos

A VEDAÇÃO AO CONFISCO E A JURISPRUDÊNCIA

O princípio da vedação ao confisco tem sido alegado como defesa de


contribuintes em ações judiciais que buscaram a solução de controvérsias em
matéria tributária nos tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal
(STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ). A doutrina possui um entendimento
de que o princípio da vedação ao confisco possui uma abrangência
complexa: não basta estabelecer um percentual e pronto.
Mais do que a questão de um tributo isoladamente, é necessário conferir o
efeito das incidências de forma geral, como um todo, no patrimônio do
contribuinte. Também é necessário observar, de acordo com a doutrina, os
efeitos do confisco de forma estática e dinâmica. A forma estática se refere ao
confisco quando ele ocorre de uma vez só. Já a forma dinâmica trata de
como sucessivas ocorrências podem diminuir consideravelmente o patrimônio
do contribuinte.
Não há uma jurisprudência consagrada sobre os limites ou definições
sobre o que poderia ser considerado ofensa ao princípio da vedação ao
confisco. No STF existem algumas decisões que tratam de maneira tangente
questões isoladas referentes às multas tributárias.
No que se refere às multas moratórias, o Supremo possui um raciocínio
prolatado em algumas ações de que o patamar de 20% do valor do tributo não
ofenderia o princípio da vedação ao confisco (STF - ADI 551 / RJ - DJ 14-02-
2003 PP-00058), por outro lado, em outras situações compreende que a multa
de 200% em multa moratória seria confiscatória (STF - ADI-MC 1075 / DF - DJ
24-11-2006 PP-00059).

JURISPRUDÊNCIA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. §§ 2.º E 3.º DO ART. 57


DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. FIXAÇÃO DE
VALORES MÍNIMOS PARA MULTAS PELO NÃO-RECOLHIMENTO E
SONEGAÇÃO DE TRIBUTOS ESTADUAIS. VIOLAÇÃO AO INCISO IV
DO ART. 150 DA CARTA DA REPÚBLICA. A desproporção entre o
desrespeito à norma tributária e sua conseqüência jurídica, a multa, evidencia o
caráter confiscatório desta, atentando contra o patrimônio do contribuinte, em
contrariedade ao mencionado dispositivo do texto constitucional federal. Ação
julgada procedente. – STF - ADI 551 / RJ - DJ 14-02-2003 PP-00058.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI Nº 8.846/94


EDITADA PELA UNIÃO FEDERAL - ... A TRIBUTAÇÃO
CONFISCATÓRIA É VEDADA PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
- É cabível, em sede de controle normativo abstrato, a possibilidade de o
Supremo Tribunal Federal examinar se determinado tributo ofende, ou não, o
princípio constitucional da não-confiscatoriedade consagrado no art. 150, IV,
da Constituição da República. Hipótese que versa o exame de diploma
legislativo (Lei 8.846/94, art. 3º e seu parágrafo único) que instituiu multa fiscal
de 300% (trezentos por cento). - A proibição constitucional do confisco em
matéria tributária - ainda que se trate de multa fiscal resultante do
inadimplemento, pelo contribuinte, de suas obrigações tributárias - nada mais
representa senão a interdição, pela Carta Política, de qualquer pretensão
governamental que possa conduzir, no campo da fiscalidade, à injusta
apropriação estatal, no todo ou em parte, do patrimônio ou dos rendimentos dos
contribuintes, comprometendo-lhes, pela insuportabilidade da carga tributária,
o exercício do direito a uma existência digna, ou a prática de atividade
profissional lícita ou, ainda, a regular satisfação de suas necessidades vitais
básicas. - O Poder Público, especialmente em sede de tributação (mesmo
tratando-se da definição do "quantum" pertinente ao valor das multas fiscais),
não pode agir imoderadamente, pois a atividade governamental acha-se
essencialmente condicionada pelo princípio da razoabilidade que se qualifica
como verdadeiro parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos atos
estatais. ... STF - ADI-MC 1075 / DF - DJ 24-11-2006 PP-00059.

https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/2220/Principio-da-vedacao-
ao-confisco

https://www.migalhas.com.br/depeso/321018/o--esquecido--principio-
constitucional-da-vedacao-ao-confisco

https://jus.com.br/artigos/29581/o-principio-da-vedacao-do-confisco
Conceitos Iniciais

Ao longo da antiguidade, eram comuns situações decorrentes de guerras, em


que a economia dos povos sofria demasiadamente – seja porque seus
soberanos eram derrotados nas contendas, ou porque quando tais soberanos
venciam, poderiam impor pesados tributos a seus súditos, com o objetivo de
manter a ofensiva em suas guerras, espoliando-os de seus haveres e posses.

A primeira situação provavelmente aconteceu com vários impérios na


antiguidade: os assírios, os persas, os gregos, os romanos, os mouros, em que
os vencedores tomavam as riquezas dos povos conquistados, escravizavam-
nos e com isso reduziam os vencidos a praticamente nada. Mas havia também
o reverso da moeda: povos invasores também podiam perder e serem
conquistados.

Entre essas situações, guerras poderiam durar muito tempo, e sua manutenção
é tão cara como o tempo que pode durar a campanha. E durante este período,
os reis precisavam buscar fundos para manter o esforço de guerra através do
aumento dos impostos sobre seus súditos. E um destes casos envolveu o rei
João Sem Terra – que resultou numa revolta que uniu nobres e o povo, na qual
houve um documento – a Carta Magna – que impôs limites a este poder até
então absoluto.

Em decorrência da Carta Magna, há o conceito claramente da legalidade,


exposto através da máxima “no taxation without representation” (não à
tributação sem representação), indicando que não haveria a imposição de
tributos sem a definitiva concordância de todos, por meio de leis votadas por
representantes eleitos para isso. É praticamente lógico que este princípio
busca limitar o poder de tributar, que pode destruir o patrimônio do
contribuinte, se não houver limites ao seu exercício. E entre as limitações o
poder de tributar está o princípio da vedação ao confisco.

A Vedação ao Confisco e seu conceito no Brasil

A interferência estatal na vida das pessoas possui uma motivação que sempre
busca justificar o bem estar da coletividade face ao bem
estar individual. Nesse raciocínio, é permitido ao Estado requisitar bens de
seus cidadãos, como uma forma de colaboração – só que geralmente há
uma contraprestação por esses bens, ou posteriormente eles retornam para
a posse de seu proprietário original, e com indenização, se houver
dano. Em regra, há sempre uma reciprocidade.

O confisco ocorre quando o particular perde seus bens perante o Estado –e


essa relação de reciprocidade é quebrada. Ou seja, o cidadão perde todo o
seu patrimônio ou uma parte considerável dele, sem qualquer retribuição
econômica ou financeira por essa perda sofrida.
Do lado contrário, existe o princípio do mínimo essencial – que representa
e expressão econômica mais básica, em que o patrimônio do indivíduo é
o suficiente somente para garantir sua própria dignidade
humana. Como expressão mínima que é, não pode ser taxada, sob pena de
retirar as condições que garantem à pessoa sua dignidade humana.

Desta forma, é apropriado analisar a questão da tributação na renda das


pessoas como uma linha imaginária de progressão patrimonial: do zero
absoluto ao mínimo essencial; acima do mínimo essencial até o mais alto
grau de capacidade contributiva; e do confisco propriamente dito.

O primeiro intervalo demonstra um valor sobre o qual não pode haver


tributação, pois qualquer taxação sobre estes valores retira as possibilidades
de sobrevivência do contribuinte como um cidadão normal. Ele não pode
contribuir por não possuir ainda a capacidade contributiva.

O segundo intervalo expõe um intervalo em que há espaço para uma taxação


que, embora retire algo do contribuinte – não retira suas condições normais
de sobrevivência, permitindo que a pessoa pague o tributo de acordo com
suas capacidades patrimoniais. Neste intervalo atuam todos os tributos –
mais eficazmente os impostos progressivos.

O terceiro intervalo é quando o ente estatal “pesa a mão”: a tributação possui


um excesso, que subtrai as condições patrimoniais da pessoa, deixando
efetivamente com patrimônio consideravelmente menor – ou até
mesmo sem patrimônio.

A vedação ao confisco e as Constituições brasileiras

O princípio da vedação ao confisco está presente desde a primeira


constituição do império, a Constituição de 1824, em seu artigo 179: “A
inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem
por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela
Constituição do Império, pela maneira seguinte. (…)

XX. Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente. Por tanto não haverá
em caso algum confiscação de bens, nem a infâmia do Réo se transmittirá
aos parentes em qualquer gráo, que seja.”

Depois, o tema reaparece na Constituição de 1934, nos artigos 184, em seu


parágrafo único: “As multas de mora por falta de pagamento de impostos ou
taxas lançados não poderão exceder de dez por cento sobre a importância
em débito. “, bem como no artigo 185: “Nenhum imposto poderá ser
elevado além de vinte por cento do seu valor ao tempo do aumento.”
A Constituição de 1946 também aborda o tema em seu artigo 141: “A
Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes:

(…)

§ 31 – Não haverá pena de morte, de banimento, de confisco nem de caráter


perpétuo. São ressalvadas, quanto à pena de morte, as disposições da
legislação militar em tempo de guerra com país estrangeiro. A lei disporá sobre
o seqüestro e o perdimento de bens, no caso de enriquecimento ilícito, por
influência ou com abuso de cargo ou função pública, ou de emprego em
entidade autárquica,”

A Constituição de 1967 prossegue abordando o tema da mesma forma que a


Constituição de 1946, só que em seu artigo 150, §11: “Não haverá pena de
morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo nos casos de
guerra externa psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva nos termos
que a lei determinar. Esta disporá também, sobre o perdimento de bens por
danos causados ao Erário, ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de
cargo, função ou emprego na Administração Pública, Direta ou Indireta.”

Finalmente, na Constituição Federal de 1988 (CF/88), em seu artigo 150: “Sem


prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (…)

IV – utilizar tributo com efeito de confisco;”

Vale ressaltar que, à exceção da CF/88, todas as outras constituições


brasileiras trataram do princípio da vedação ao confisco em seus respectivos
capítulos de direitos e garantias individuais ou em temas análogos.
Provavelmente por esta razão os tribunais superiores consideram que, apesar
do tema se encontrar no capítulo da tributação e do orçamento, o tema trata
de garantias e direitos do contribuinte, considerando inclusive tal dispositivo
como cláusula pétrea.

E cabe aqui diferenciar dois tipos de multas: moratórias, que se referem


ao atraso de pagamento de tributos, e multas punitivas – que tratam
de sanções ao não cumprimento de obrigações do contribuinte.

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