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2. Em que sentido a expressão “crédito tributário” foi utilizada no art. 151 do CTN? Essa
expressão congrega também liames decorrentes da prática de atos ilícitos (e.g. multa
por desrespeito aos deveres instrumentais)?
Primeiramente é importante ressaltar que o sentido da norma contido no texto do art. 151
do CTN carece de adequação ao ordenamento tributário como um todo, para que a expressão
do texto reflita à realidade que a norma busca abranger, nesse sentido, Fabiana Del Padre
Tomé faz considerações criticas sobre o anacronismo da expressão “suspensão do crédito
tributário” e suspensão da “exigibilidade’’, vejamos o trecho a seguir:
Situado no Livro Segundo do Código Tributário Nacional, o Capítulo III do Título III
intitula-se “Suspensão do crédito tributário”. Sabemos, porém, que o legislador
emprega linguagem técnica, aproveitando algumas palavras e expressões do
domínio científico, mas edificando seu discurso com suporte na linguagem natural.
Isso leva à inevitável presença de equivocidades redacionais, cabendo ao
intérprete suplantá- las. Nesse sentido, e seguindo a lição de renomada doutrina
brasileira, concluímos que não é o “crédito tributário” que se suspende, mas sua
“exigibilidade”. O próprio art. 151 do Código Tributário Nacional, ao disciplinar o
assunto, relaciona as hipóteses que “suspendem a exigibilidade do crédito
tributário”, dispondo sobre os efeitos das situações fáticas que indica: moratória,
depósito do montante integral do crédito tributário, concessão de medida liminar
em mandado de segurança, concessão de medida liminar ou de tutela antecipada
em outras espécies de ação judicial e parcelamento. Tais fatores não atingem o
crédito em si, em quaisquer de seus elementos existenciais, mas somente sua
exigibilidade.
Esse entendimento acima dá o caminho para a compreensão da pergunta inicial, ou seja, a
expressão crédito tributário no art. 151 do CTN foi utilizada no sentido de que se suspende
apenas a obrigação principal, não atingindo as obrigações acessórias. No mesmo sentido F.
Tomé, corrobora nosso entendimento sobre o tema:
A suspensão da exigibilidade do crédito tributário consiste na inibição do
processo de positivação das normas jurídicas veiculadoras do direito de o
credor postular o recebimento do valor devido a título de tributo. Não inibe,
contudo, a aplicação das normas prescritivas de deveres instrumentais. Estes
permanecem exigíveis, conforme estipula o parágrafo único do art. 151 do
Código Tributário Nacional.
Portanto, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, via de regra, atinge apenas a
obrigação principal, a qual consiste o crédito tributário em si, porem, as obrigações acessórias
permanecem validas, pois tais normas que estipulam regras prescritivas de deveres
instrumentais visam dar operabilidade ao sistema tributário.
Em princípio o rol de hipóteses do art. 151 do CTN são taxativas e exaustivas. Esta
interpretação pode ser extraída da leitura do art. 141 do CTN que traz a seguinte prescrição:
Art. 141. O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua
exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser
dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas
garantias.
No mesmo sentido, o art. 111 do mesmo CTN reforça tal perspectiva hermenêutica, conforme
seu texto que diz:
Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I – suspensão ou exclusão
do crédito tributário;
II – outorga de isenção;
III – dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.
Portanto, é possível extrair da hermenêutica do ordenamento tributário sua
taxatividade no que se refere à suspensão da exigibilidade do crédito tributário.
Entretanto, dentro de cada possibilitada do rol taxativo, existe a possiblidade de
expandir a literalidade do texto dentro dos limites semânticos do próprio ordenamento. Nesse
sentido, com o advento do Código de Processo Civil de 2015, as possiblidades do inciso V do
art. 151 do CTN sofreu ampliação do seu alcance. Pois, com a nova sistemática processual
promovida pelo CPC/2015, houve avanços na temática das tutelas provisórias. Sobre este
assunto, Camila Vergueiro Catunda, faz as seguintes considerações:
Como apontamos, no CPC/2015 as tutelas provisórias são subdividas em duas
categorias, a tutela de urgência e a tutela de evidência, que se diferenciam em razão do
fundamento jurídico que autoriza a sua concessão: a tutela de urgência está baseada na
ideia de perigo; - a tutela de evidência não está abalizada na ideia de perigo, mas, sim,
na de incontroversibilidade fática provada documentalmente (na evidência do direito)
e/ou na existência de precedente repetitivo ou Súmula Vinculante, ou no intuito
protelatório da parte. Bem, se o processo tributário toma como pano de fundo a relação
jurídica material tributária, as tutelas provisórias previstas no CPC/2015 devem
respeitar as peculiaridades da relação tributária e os efeitos que decisões desse quilate
podem produzir no âmbito do direito material tributário. [...] Isto significa que o
requerimento de tutela provisória no processo tributário dependerá da constatação da
existência de perigo, ou da evidência do direito invocado pelo sujeito passivo, ou do
intuito protelatório da Fazenda Pública, no caso concreto, tal como exige o CPC/2015,
mas, o efeito promovido pela concessão da tutela provisória fundada no perigo ou na
evidência do direito nas regras condutoras do processo de aplicação da regra-matriz de
incidência tributária será o mesmo: suspender a exigibilidade da obrigação tributária nos
termos do artigo 151, V do Código Tributário Nacional.
Assim, as novas possiblidades de tutela provisória podem ser incorporadas ao direito
tributário e em especial, no inciso V, do art. 151 do CTN, tal possibilidade é possível, apesar do
texto do inciso falar apenas em tutela antecipada, contudo, a elaboração conceitual do código
visou se adaptar as especificidades da realidade vivida pela sistemática processual e garantir a
melhor proteção aos direitos discutidos no, e pelo processo.
Esse mesmo raciocínio hermenêutico se aplica também as hipóteses de substituir a
penhora por outros meios de garantia, hipótese dada pelo §2o do art. 835 do CPC/2015. Vale
aqui a mesma premissa que abre as possibilidades para o alargamento dos incisos observando
o caso sob judice e o contexto fático que cerca a aplicação dessa condição para a suspensão da
exigibilidade do crédito tributário.
Portanto, o rol de incisos do art. 151 do CTN é taxativo quanto aos gêneros possíveis,
mas a análise de cada inciso pode expandir os sentidos destes em espécies a fim de adequar o
ordenamento tributário ao direito como um todo, bem como à Constituição. A análise,
portanto, deve se pautar por critérios e deverá ser feita caso a caso.
4. Sobre o depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória proposta antes da
constituição do crédito tributário, pergunta-se: (a) trata-se de faculdade do contribuinte?
(b) Há distinção entre depósito judicial para fins do art. 151, II do CTN e prestação de
caução?
(c) O levantamento do depósito judicial vincula-se ao êxito (com trânsito em julgado) da
ação proposta pelo contribuinte ou o juiz pode a qualquer tempo autorizar o
levantamento? (vide anexo VI).
De acordo com art. 300 do CPC: "A tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo".
Assim, tem-se que a tutela de urgência se divide em duas espécies i) cautelar e ii)
antecipada.
A tutela provisória consiste em uma técnica processual que visa a tutela do direito no
curso do processo, sem que a parte autora suporte todo o ônus do tempo, em outras palavras,
a tutela provisória visa garantir que o direito em discussão, ou a tutela principal, sejam
protegidos até o provimento final, seja de forma cautelar (protetiva), seja de forma
antecipada(adiantamento dos efeitos do provimento final). A tutela provisória é uma proteção
que é marcada pelo signo da futura transformação de provisória para definitiva.
Assim, a diferenciação entre tutela provisória antecipada e a tutela cautelar estão
contidas nos requisitos para a concessão de cada medida, bem como nos seus efeitos. Nesse
sentido, a tutela cautelar pretende conservar o direito, possuindo como requisitos o recurso
processual contra um dano irreparável ou de difícil reparação e detém o caráter temporário,
por outro lado, a tutela antecipada visa satisfazer o direito da parte, contra o perigo da
demora e detém a característica de provisoriedade.
Uma das diretrizes do CPC/2015 é distribuir isonomicamente o tempo do processo
como meio de equiparar as forças no, e pelo processo e garantir que este instituto seja uma
disputa marcada pela igualdade entre as partes. Com isso, o novel instituto normativo
processual distribuiu as tutelas provisórias em duas grandes espécies. Conforme Camila
Vergueiro Catunda, temos a seguinte consideração sobre a tutela de urgência e a tutela de
evidência (arts. 294; 300 e 311):
Nos termos do CPC/2015, a concessão da tutela de urgência, seja ela cautelar ou
antecipada, depende da demonstração pela parte requerente (i) da probabilidade do direito
invocado; e (ii) ou o perigo de dano ao bem da vida que se pretende proteger com a
provimento final; (iii) ou o risco de dano ao resultado útil do processo.
Dessa forma, a tutela de urgência, cautelar ou antecipada, se fundamenta da
demonstração do perigo e pretende a proteção do direito em disputa para o regular curso do
processo até a decisão final. Por outro lado, sobre a tutela de evidência dispõe:
Ainda que pareça, a tutela de evidência não é uma novidade no processo civil, pois,
partindo-se de suas hipóteses de concessão, constata-se que duas delas (“a” e “b”) estão
fundadas na existência de prova documental de plano do direito invocado, ou seja, na
incontroversibilidade fática promovida pela parte mediante prova documental, e uma delas
(“c”) na hipótese de condução do processo pela parte de maneira protelatória, situações essas
já positivadas antes do CPC/2015.
Assim, a tutela de evidência é uma espécie de tutela provisória que visa assegurar o
direto e garantir a isonomia a distribuição do tempo entre os litigantes, ou seja, essa tutela é
mais fundada nas questões de direito do que nas questões de fato, pois, sua análise parte de
fatos jurídicos, como por exemplo, força probatória, alegações infundadas e a observação do
direito jurisprudencial, considerando o seu descumprimento nos casos taxativos no inciso II do
art. 311 do CPC de 2015.
6. Dado o seguinte caso concreto: Gênesis Waves Ltda. obteve liminar em Mandado de
Segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário que posteriormente foi
“cassada” pela sentença de denegação da segurança. Pergunta-se:
7. Antes de responder a esta pergunta aponte a distinção entretutela antecipada e tutela cautelar
tal como colocada na resposta à questão “5. a)”. Fixados esses conceitos, responda à seguinte
pergunta: diante do novo cenário das tutelas provisórias do código de processo civil de 2015, a
ordem judicial suspensiva da exigibilidade da obrigação tributária, tenha fundamento na
urgência ou na evidência, assume natureza antecipada ou cautelar?